ONGWEVA - EM ANGOLA É SAUDADE - Férias na Humpata
As escolhas de T`Chingange
Por Eduardo Torres – Um Xicoronho de 3ª geração - Deus quando nos permitiu a faculdade de pensar garantiu-nos também o uso dessa liberdade …
Nos meus tempos de criança, quando ia passar férias na Humpata, na casa dos meus avós, havia na entrada para a sala um caramanchão de roseiral de rosas brancas, duas grandes amoreiras e depois seguia-se um grande jardim, com muitas açucenas, lírios, roseiras, dálias e outras espécies de plantas cujas flores espalhavam um aroma que perfumava o ar.
Dava prazer respira-lo sentindo aquele aroma entrar pelas narinas e perder-se nos pulmões para apaziguar a alma. O Jardim era separado da vala de água que corria junto à rua por uma vedação de arame que ligavam prumos de madeira separados igualmente em dois ou três entre si, e em cujos arames se desenvolvia uma silva de amora silvestre, que pretas ou vermelhas eram sempre saborosas.
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Longitudinalmente desenrolava-se um pomar, com um caminho pelo meio a dividi-lo, e quem caminhasse para o fim dele, iria encontrar uma grande área de terreno destinada exclusivamente à sementeira de trigo, aveia ou centeio. No pomar havia quase toda a qualidade de árvores frutíferas, desde as saborosas pêras do Natal, que maduras duravam apenas uma semana, pois logo ficavam bichadas, tipo de pêras que nunca comi em mais nenhum lugar, a não ser na Humpata e no Lubango.
Havia os damascos, os pêssegos, brancos, amarelos e de salta-caroço, as ameixas brancas e vermelhas os figos brancos pingo de mel e os a que chamavam lampos, com a passarada a chilrear dando alegria ao ambiente, com as chiricuatas e os papa-figos sempre à espreita de uma oportunidade para saciarem o seu apetite.
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Depois, mais à tarde pegava na minha pequena bicicleta Ralley e pedalava pela rua, que terminava junto da igreja de S. Sebastião, numa bifurcação que era a saída para Sã da Bandeira ou para o outro lado onde ia apanhar a rua que passava à frente da propriedade do meu tio Torrinha, duas ruas paralelas que delimitavam a zona mais povoada da vila.
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Na parte de cima ficava a escola, o Posto Administrativo, a casa e o moinho do Camaco, a propriedade do Zé Pio, um cego que indicava com a precisão possível o lugar de cada árvore, os castanheiros dos ouriços, o comércio do Abrunhosa, enfim…
Tempo que figurará sempre na minha memória, porque não é possível apagá-lo... A família Nóbrega era numerosa, e espalhava-se desde a fazenda de S. Januário, o Café para o fogo, a fazenda do Bartolomeu de Paiva junto dos eucaliptos. À entrada da vila havia um grande lago; recordações de hoje, como se as tivesse vivido ontem...
EDU
HUMPATA –Do tempo das carroças bóer…
Por
Ainda muito criança, quando a Europa era fustigada pelos efeitos devastadores da segunda grande guerra mundial, costumava o meu pai levar a família, uma vez por mês, no mínimo, à vila da Humpata, distante da cidade, cerca de vinte e dois quilómetros. Lá residiam os meus avós maternos, e grande parte da família. Os meus avós eram agricultores, e tinham também comércio tradicional, quer na vila, quer na Serra das Neves, para onde se deslocavam em carroça, tipo "bóer", puxada por uma junta de bois, e naquele lugar se mantinham isolados, no mínimo uma semana. Havia pessoal nativo, de confiança, que guardava a casa fechada, e algum gado, pois só com a presença dos meus avós é que se estabelecia contacto pessoal e comercial com a gente radicada naquele local.
Angola, distante do mundo de então, situada numa parta de África vista de uma forma própria do tempo e do afastamento existente da civilização, era uma terra difícil, doentia, com excepção das zonas planalticas, onde o clima era ameno e saudável, mas simultaneamente tranquila, onde reinava a paz e só se sabiam os horrores da guerra, pela B.B.C. através da voz do Fernando Pessa, uma vez por dia e cerca das nove da noite. Nessa época a gasolina era importada dos Estados Unido, em latas de cinco litros, ou tambores de cinquenta litros. Lembro-me, que à data, a carrinha do meu pai ainda nem tinha indicador, para se saber a quantia de gasolina, havia necessidade de mergulhar no depósito, uma vareta em madeira, com indicações espaçadas igualmente, que correspondiam a cinco litros. Por a gasolina ser racionada, embora na época as viaturas não fossem muitas a circular, recordo-me, de o meu pai, para a poupar, nas descidas fechar a ignição, deixar a viatura descer livremente, e depois meter a terceira ou segunda, consoante a necessidade, e voltar a colocar o motor em rotação. A caixa de velocidades, tinha unicamente primeira, segunda e terceira, além da marcha-atrás.
A estrada, de piso razoável, permitia uma boa média, embora lenta para não elevar o consumo. Era um sistema usado, mesmo em viagens mais longas, levando a viatura sempre uma ou duas latas de gasolina, para socorrer no caso de surgir qualquer emergência. Mas o automóvel dos meus amores de criança, foi uma "limusine" Nash, que antecedeu a carrinha Chevrolet, e que me causou um profundo desgosto ao ser vendida. O meu avô deslocava-se, quando tinha necessidade, a pé, da Humpata ao Lubango, e negava-se peremptoriamente a ser conduzido de automóvel, no regresso, porque segundo ele, quem tinha vindo a pé, podia regressar da mesma maneira. E quando o conheci, já não era novo...
Quantas histórias reais da vida, eu vivi neste meu ciclo já longo de vida. As transformações a que assisti, a evolução lenta ou rápida, o desenvolvimento da tecnologia que me permite hoje escrever num iPad algumas das imensas histórias que fizeram parte do nosso dia-a-dia, com a inerente saudade que acompanha a descrição disso...
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