Sexta-feira, 15 de Fevereiro de 2019
MU UKULU – XIV

MU UKULU...Luanda do Antigamente15.02.2019

Entre Monomotapa e Catanga corriam entre as classes dominantes dessa região uns lingotes de cobre com o nome de HANDA…

Por

soba0.jpeg T´Chingange – No Nordeste do Brasil

luis0.jpgLuís Martins Soares – No Rio de Janeiro - Brasil

Mu Ukulu26.jpg Tomando como base o livro de Mu Ukulu de Luís Soares, aqui se irá falar das moedas correntes desde o ano de 1641 a 1693, moedas-mercadoria que vigorariam desde a chegada dos portugueses à Ilha da Mazenga ou das Cabras e, que nos dias de hoje se chama somente de a ilha de Luanda. Será por assim dizer uma adenda a complementar o que se sabe daquele sistema monetário controlado pelos reinos de N´Dongo e Kongos e outros, em África.

Mu Ukulu25.jpg Em sequência temos os zimbos, n´jimbu, pequenas conchas, propriedade do rei do Congo que apareciam por toda a costa de N´Gola mas com os mais belos exemplares colhidos na ilha de Loanda pelos m´bikas às ordens dos chefes m´fumos. Estes, mergulhavam na contra costa da ilha retirando-os por meio do arrastamento com cestos estreitos e compridos chamados “cofos”. Dos mesmos eram recolhidos os zimbos que podiam totalizar em média e por cofo, uns dez mil.

No correr do tempo foram surgindo outros meios de permuta tais como o sal, a cera, o cobre, os panos ou libongos, marfim, mel silvestre, as cruzetas e os escravos saídos das guerras entre tribos e depois entre estes e mercadores negreiros. Mas, sabe-se por ensaios numismáticos-arqueológicos que entre Monomotapa e o Catanga corriam entre as classes dominantes desta região uns lingotes de cobre com o nome de HANDA, (ref.ª de Octávio de Oliveira na revista Notícia do ano de 1966).

Mu Ukulu27.jpg A palavra banta HANDA significa clã entre os ovimbundo e outros povos de Angola; por outro lado, Octávio de Oliveira refere que Leo Frobenius, explorador e fundador da etnografia belga, chamava aos mesmos objectos “handacreuse”, que poderá ser heterografia da palavra flamenga handelkruis, “cruzeta de comércio” ou “cruzeta de cobre”, uma provável origem deste termo.

Quanto ao sal era retirado das minas com o auxílio de escopros e cinzeis nas regiões de entre o baixo Kwanza e o médio Cuango aonde viviam os ambundos, falantes de língua kimbundo. Extraiam este cloreto de sódio das terras da Kissama, do Libolo, da baixa de Cassange e junto aos rios Quionga e Lutoa. Estas minas que eram controladas por chefes, sobas locais, consideravam o sal da Kissama como sendo de qualidade superior aos dos baixios da costa.    

Mu Ukulu28.jpg Teremos de falar de cruzetas ou lingotes indo à raiz da palavra Jimbamba - Palavra crioula e, referida pelo autor, Octávio de Oliveira como formada de jimbo, o nome dado em kimbundo à cíprea angolana (o zimbo, que corria até ao Catanga como moeda) - quantidade de zimbos, coisa de valor. Acrescente-se que o termo perdura no português falado em angola como “imbamba”, os pertences de alguém. Jimbo – do kimbundo yimbu, do Quioco N´zimbu, moeda; palavra que deu origem a jimbamba.

Curioso é o de referir que quando o governador Henrique Jaques de Magalhães fez circular esta primeira moeda em Angola, já ali corriam moedas de 20 e 10 reis – situação que originou um motim entre a soldadesca brasileira situada na guarnição de Luanda. Os luchazes eram hábeis na confecção de manilhas, usavam o cobre que os lobares lhes levavam da Lunda para permutar com cera.

Mu Ukulu29.jpg O mais característico destes objectos foi a “lucana-bua-mwano” que circulou em N´Gola e no Kongo, peça com configuração da Cruz de Santo André com tamanho e espessura variadas. Foram produzidas e usadas a partir do século VIII e, utilizadas como moeda de troca em permutas comerciais, pagamento de impostos, tributos ou alambamento por uniões matrimoniais de umbigamento. Circularam por toda a África até finais do século XIX.  

Depreende-se do trabalho de pesquisa em referência que o lingote de cobre africano ocorre em três formas: a barra cilíndrica, o “H longo” em forma de astrágalo – o “jogo das pedrinhas” – o objecto monomotápico assim denominado por Theodore Bent em The Ruined Cities of Mashonaland, e a cruzeta. E, nesta busca surge o Lerali - uma barra cilíndrica de 45 cm de comprimento com um cone de 160º tendo numa extremidade decorações protuberantes em forma de chifres.

Mu Ukulu23.jpg Libongo foi o nome que veio a ser dado em kimbundo ao “paninho” tecido originário do Loango ou palmeira-bordão, semelhante ao “paninho do congo” ou likutu que circulou como moeda no princípio do século XVII; acrescente-se que é palavra do kimbundo calunda lu m´bongu,”moeda – m´bonge”. Um libongo valia 5 réis em 1695. O libongos de N´Gola dividiam-se em “bongós, sangos e infulas” enquanto os do Kongo eram chamados de “panos lim´kundis. Os panos conhecidos por sambu ou nollolevieri, tinham a condição de objecto-moeda e serviam apenas para vestir os nobres africanos.  

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 21:23
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Quarta-feira, 13 de Fevereiro de 2019
N´GUZU. XXVIII

ANGOLA E OS QUILOMBOS DO BRASIL13.02.2019

Angola e os Quilombos - Na Cerca dos Macacos…

Por

soba15.jpgT´Chingange – No Nordeste do Brasil

aqualtune.jpg Estive lá no dia 14 de Março de 2009 (há dez anos atrás), na Serra da Barriga e, do que vi e li, concluí o que antes e a seguir descrevo. O termo de Muxima que é a saudade dos mwangolés - quimbundos, pode ler-se no quadro de entrada na Serra da Barriga: “Muxima dos Palmares é uma homenagem aos Comandantes-em-Chefe que formavam o Conselho Deliberativo do Quilombo dos Palmares - São eles: Acaíne, Acaiuba, Acutilene, Amaro, Andalaquituche, Dambrabanga, Ganga-Muiça, Ganga-Zona, Osenga, Subupira, Toculo, Tabocas, e seus principais lideres: -Aqualtune, Ganga-Zumba e Zumbi, Banga, Camoanga e Mouza, que resistiram depois da morte de Zumbi, aqui também são homenageados, assim como todos os negros e negras, guerreiros e guerreiras.

Todos aqueles que ao longo de quatro Séculos lutaram (e ainda lutam) pela liberdade racial”. Uma outra placa com fundo preto e letras salientes reconhecido no final pelo Governador Alagoano, Engenheiro Ronaldo Lessa a 20 de Novembro de 2002: -“Homenagem aos Heróis Quilombolas que tombaram lutando pela liberdade em 06 de Fevereiro de 1694: Ganga Zumba, Dandaro, Acotirente, Andalaquituche, Aqualtune, Gana Zona, Ganga Muiça, Acaiúbo, Toculo”.

arau44.jpg A SERRA DA BARRIGA - “CERCA DOS MACACOS” O termo Sanzala ou Senzala em Angola é um povoado normal enquanto que no Brasil está conotada com as casas de tortura, da canga, dos grilhos, da chibata, da bola, da máscara de sino e correntes. Kimbo é o nome de sanzala na região de fala Umbundo em Angola, planalto Central com suas casas, libatas como montar uma loja virtual ou embalas.

Todo este trabalho de pesquisa, foi objecto de promessa minha ao fiel depositário do Guardião da cultura em União dos Palmares e Zelador do Museu de Maria Mariá, Senhor Paulo de Castro Sarmento Filho, que teve amabilidade de me mostrar o actual mocambo de Muquém, a Serra da Barriga e descrever o seu trabalho ainda em esboço duma Cartilha Pedagógica, um projecto de cultura viva. Acompanharam-me nesta visita que durou todo um dia, a Dra Rosa Casado, natural daquela cidade de União, e filha de um dos últimos prefeitos de União dos Palmares  de quem me prezo ser amigo. Ficou a promessa de uma futura visita aos mocambos de Cajá dos Negros e Palmeira dos Pretos, povoados em que ainda são visíveis os costumes antigos trazidos de África.

zumbi7.jpg Vivem da agricultura, da venda de artesanato, potes em cerâmica, feitos de forma manual. Estar ali, é o mesmo que estar em qualquer sanzala de Angola nos dias de hoje. Por todo o interior de Pernambuco, perto Guaranhuns e Alagoas em União e Palmeira dos Indios, as características levam-nos à África longínqua

Sintetizo aqui, o essencial com algumas e poucas introduções de meu foro - “A África revelada por Arnon de Mello” e publicado no jornal Gazeta de Alagoas. No século XVII, Alagoas oferece reduto para os negros formarem os inúmeros quilombos que prosperavam em todo o território brasileiro, mas que tiveram na Cerca dos Macacos da Serra da Barriga, nos Palmares, sua maior simbologia. O Brasil foi o país com a maior concentração de escravos negros do mundo com dados indicadores de 3,5 milhões. A liberdade, por meio de fuga, consolidava-se pela anormalidade da vida administrativa e económica da capitania de Pernambuco.

araujo179.jpg Palmares, perdurou por 64 anos, capitulando no ano de 1696. O governador da capitania relata ao rei D. Pedro II, o pacífico, a morte de Zumbi dos Palmares. Senhor - O Governador de Pernambuco Caetano de Melo de Castro em carta de 25 de Março deste ano de 1696, dá conta a Vossa Majestade de como se houve a certeza de haver conseguido a morte de zumbi. Para que nenhuma dívida se fizesse, para aquietação dos povos e para exemplo dos negros que o julgavam imortal, e para demonstração do que se diz se envia cópia da acta feita pelos oficiais da câmara de Porto Calvo e, por ela se sabe que o grosso das tropas paulistas na pessoa do Capitão André Furtado de Mendonça que conseguiu a morte do negro no sumidouro que este artificialmente fizera na serra dos dois irmãos.

O corpo que se apresentou aos ditos oficiais, pequeno e magro, em cujo exame se viram quinze ferimentos de bala e muitos de lança vendo-se que o membro da virilidade do dito negro se havia cortado e enfiado na boca, também lhe faltando um olho e se lhe cortara a mão direita; que perante os oficiais da câmara juraram as testemunhas pertencer o cadáver ao negro Zumbi, a saber, um cabo maior que se apanhara vivo na companhia do dito, os escravos Francisco e João, o senhor do engenho António Ponto e o lavrador de partido António Souza, que todos haviam conhecido em pessoa o açoite daqueles povos; que se lavrou na acta do reconhecimento do cadáver do negro Zumbi, e que para que se pudesse isso mostrar ao governador de Pernambuco Caetano de Melo de Castro deliberou-se levar ao Recife somente a cabeça ( Nesse então, era habitual esta prática).

araujo158.jpg Pela impossibilidade de levar o corpo todo; que no pátio da câmara presente todos os oficiais, um negro decepou a cabeça a qual se salvou com sal fino, o que tudo se faz constar na mesma acta, que assim pode ele governador Caetano De Melo e Castro à vista da cabeça e da acta, da câmara ter a certeza da morte do negro que tantos danos fizera à Real Fazenda e aos moradores das capitanias de Pernambuco. Este documento será assinado em Lisboa a 2 de Setembro de 1696 pelo Conde de Alvear, por João de Sepúlveda e Matos e José de Freitas Serrão.

É este, um modesto contributo a juntar à história dos países Lusófonos intervenientes, Angola, Brasil e Portugal. E, para que conste na “Torre do Zombo do Kimbo” aqui ficam os agradecimentos a Paulo Sarmento, Governador Assistente do Rotary Internacional, Distrito 4390 e Rosa Casado, Advogada aposentada, que me proporcionaram horas de encanto e convívio.

Ilustrações de Costa Araújo (Mano Corvo)

Referência Bibliográfica: A África Revelada, ensaio de Arnon de Melo.

Da lavra (n´Nhaca) – 14 de Março de 2019

Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 07:22
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Domingo, 27 de Janeiro de 2019
MISSOSSO . XXX

N`ZINGA MONTADA NUM CAVALO ALADO1ª de Várias Partes

- A onze mil metros de altitude em um Boing A.340 - 27.01.2019

Não há palavras para vos descrever o que senti quando vi a assombração lá no alto - sobre as nuvens…

Por

soba15.jpg T´Chingange (No Nordeste brasileiro)

A bordo de um avião A.340 andando a mais de 800 quilómetros à hora e, já nos céus do Brasil, risco meu itinerário no caderno amarelo número onze; tudo isto a fim de manter viva a gravura da memória. Com uma esferográfica bic vermelha, destaco aqui o pensamento para me recordar que afinal, não sou o fim de mim. Quissondeando sobre muitas picadas e com o nascimento de meus dois rebentos em anos já distantes, revejo-me neles na continuação.

E, porque não sou só ossos dispersos, sem o sono a pegar, luzes enfraquecidas, penso em kimbundo da Luua recordando as falas de nossa terra, também da deles, meus filhos e filhos dos outos também; assim repeti “ki tuexile tu ngó ifuba iatujunkura” - ainda não somos só ossos dispersos, “ifuba yetu iokune kala jimbuta” - Nossos ossos serão semeados como sementes…

favla1.jpg Recordando assim as falas de Luandino Vieira no Livro dos guerrilheiros, fortalecido nas almofadas dos tempos que virão, mancho a palavra nas pintas da pele de onça, porque nelas, a chuva não as tirará. Sinto-os na sombra da minha frente e, no escuro de mim mesmo, tenho a lâmpada da asa piscando o escuro do céu lá fora, num acende e apaga com uma temperatura de menos 45 graus centígrados.

Assim no quizango, feitiço no livro de capa amarela, recordo os mwadiés camundongos fingindo ser sapientes e, que só mostram o Sputnik de Agostinho Neto num jeito de perfumar seu ranço seboso, engraxando as cores de seu aparos sem conseguir dizer nada que relembre sua caligrafia de verdade.

ximbica2.jpg Sem saber explicar como é o cheio do peixe podre, da fuba azeda e até azeite de palma feito por um branco cangundo, mesmomesmo de ordinário sem educação. Assim muxoxando feito mabuba, com o indutor a queimar o induzido, afagando minha onça, libambo minhas jimbumbas de guerra pra libertar meu ilundo. Como é então? Pergunto-me!

Assim só mesmo sou uma árvore cheia de música que caminha e assobia todos os pássaros de sua folhagem – Assim, assobiando nos passarinhos vi fora da vigia, janela do Boing A.340 fazendo raviangas ao redor das luzes de Minas Gerais um cavalo branco no alvorecer dum dia coberto de nuvens brancas. Será? Foi? Disse assim só no pensamento.

luandino2.jpg Era um cavalo branco alado, branco como as flores do cafeeiro, também como todas as outras nuvens. Nele, no cavalo, vinha escanchada a rainha N´Zinga feita palanca. Nas penas longas das asas podia ler TAAG - Transportes aéreos de Angola. Sacudi meu sono, minha penumbra de sonho e perguntei ao meu parceiro Sundinho de nome, o tal agente turístico da Star que leva curiosos a ver os chimpanzés dorso de prata na Republica Centro Africana, e Quénia.

Será possível!? O quê? Fala Sundinho estremunhado! Vi a rainha N´Zinga montando um cavalo alado aqui ao lado, disse! Caramba - teus sonhos são perigosos, disse ele. O que tu viste, foi uma miragem com a contraluz do dia a nascer! Dorme, que o teu mal é sono, disse assim de forma quase definitiva. Olha, olha, falei para ele afastando-me um pouco do buraco janela.

hoji1.jpg Só vejo a luz deste Boing a pestanejar, nada mais! Olhei e também desta feita, nada mais vi do que isso! Como é que isto foi acontecer, logo comigo que sempre sou tão verdadeiro! Foi quando Sundinho veio com uma nova ainda mais surpreendente: - N´Zinga ainda não morreu, quersedizer disseram-me que vive nas Arábias e, que de vez em quando vai até ao Rio de Janeiro fazer palestras a incitar ou conciliar os moradores do morro. Hum! Será?... Fiz assim como o RF, que se diz um genuíno kaluanda!

Vive sim! Rodeada de xi-colonos, fiotes e fiéis kicongos fingindo serem os Boko Haram, afirmou definitivamente Sundinho… Agora sim, posso apagar meu desenho, dormir e esquecer as falas do seminarista camundongo RF, me coloco no desenho, lá onde ele me mandou. E, assim sacudido, saltei do coxilo em salto de onça.

n´zinga.jpg E, foi quando estevávamos para levantar as malas no carrocel três que reparei na figura de três homens e uma mulher esperando malas no carrocel quatro vindo do Além. Só poderia ser! Assim admirado cutuquei meu companheiro de tranças rosqueiras. Estás a ver o mesmo que eu? Perguntei em voz pequenina de medroso e apontando para o grupo não distante de nós. Não são quem eu penso que são, serão!? N´Zinga, Hoji-ya-Henda, Monstro Imortal e um outro matulão desconhecido de mim.

Não pode ser! Resposta imediata mas de todo inconclusiva. Sundinho afinou a vista; semicerrou o assombro juntando-o ao espanto e falou: Mas, que parecem ser, lá isso parece! Claro que só poderiam ser fantasmas pois que em períodos bem diferentes tiveram destaque na história de Angola.  Assim meio aturdido relembrei seus nomes: José Mendes de Carvalho, mais conhecido pelo nome de guerra Hoji-ya-Henda, um comandante das FAPLA morto em combate e Jacob João Caetano, popularmente conhecido como Monstro Imortal que fez parte do chamado Fraccionismo do 27 de Maio. O outro personagem, era-nos totalmente desconhecido.

congo00.jpg Afinal, parece que os mujimbos que ouvimos lá teriam razão de ser: Que um grupo organizado de famosos chefes e guerrilheiros de Angola estavam a incutir vontades independentistas nos morros do Rio e nas demais favelas do Brasil. Isto, teremos de averiguar! Disse assim neste tom a Sundinho! Pois! Lá terá que ser - retorquiu. Tal como Luandino, muitas vezes, anestesio-me de incultura para entender a sapiência dos outros! Atiçar as labaredas - Não se admirem de ler vulgaridades saídas de mim porque é assim que nos desentendemos! Mesmo a dormir, ué … a onça continua a mexer a cauda…

(Continua…)

HPIM1302.JPG GLOSSÁRIO:

Quissondeando: - busca, fazer zig-zag como a formiga kissonde; Quizango: - feitiço; Mwadié:- Senhor com poder de decisão; Camundongo: -, natural de luanda, rato; Muxoxando: - fazendo estalidos entre a língua e o palato, trejeito de expressão; Cangundo: - branco ordinário ou sem educação; Libambo: - Corrente, escravos em fila, presos na mesma corrente; Jimbumbas: - tatuagens, marcas de reconhecimento do uso gentílico; Mabuba: Cachoeira, água em queda, figurativo de muito choro; Ilundo: - espírito; Ravianga: esquindiva, finta, fuga habilidosa; Boko Haram: grupo de guerrilheiros de cariz muçulmano, radicais perigosos; Coxilo: De cochilar, dormência, sonâmbulo.

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 02:23
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Terça-feira, 15 de Janeiro de 2019
MU UKULU – XII

MU UKULU...Luanda do Antigamente15.01.2019
Luanda era Angola e o centro do mundo era a Mutamba! Háka…
Por

soba0.jpegT´Chingange – No M´Puto

luis0.jpg Luís Martins Soares – No Brasil 
África e particularmente Angola, tem de escrever a sua própria narrativa, precisa de se pensar ancorando-se em dados credíveis e coerentes, fazer uma triagem do que está mais aquém ou além do real, excluindo os característicos inchaços de quem está no mando, de quem coloca as virgulas no texto alterando o contexto. É sabido que África cresceu num cenário de crise global, que Angola passou por uma história de permanentes sobressaltos na fase de Colónia, ou Província Ultramarina do M´Puto mas, seu crescimento foi visível nesse entretanto - cresceu!
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É sabido que da turbulência Colonial, das rusgas com cipaios, do agarra preto, das filas de gente descalça e, em fila, levados à força ao trabalho gerido pelas administrações, administradores e chefes de posto ficaram marcas dolorosas; dos contractos para as roças de café ou algodão e, que após a guerra dos cipaios, veio a guerra das matas com G3 e kalashnikoves com Luanda sempre em crescimento. Da psico ou psicossocial, da guerra do kwata-kwata até à das matas e das catanas, veio a libertação com monacaxitos, bazucas, canhões com e sem recuo e o tundamunjila - t´chindere. 

mux1.jpg  Em todo este trajecto com muitas mortes, muitas armas poderosas, Loanda, Luanda ou a Luua, foi a charneira de tudo e de todo o comando, de todas as tragédias, convulsões e, de todas as sequelas para nela sobreviver. E, porque cada um tem sua própria visão, que muitas vezes até é ficcionada, para se chegar ao miolo substancial de cada lugar, musseque, bairro de cada cidade ou qualquer kimbo, teremos de somar ou subtrair narrativas defensoras de interesses que lhe são adjacentes, justapostos adjectivados nas fantasias empoladas que por vezes, muitas vezes, são alheios à fidelidade dos factos. 
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Queiramos ou não, foi em Luanda que mais se sentiram as mudanças; também é verdade que esse crescimento não foi nem é, ainda, qualitativo. Luanda, não é só mutamba! Não se tem gerado empregos suficientes, os níveis de pobreza continuam elevados e a dependência das matérias-primas contínua em alta. No Mu Ukulu, Luís Martins Soares descreve Luanda como a sentiu, como a viveu, sem aumentar ou diminuir as lentes de sua objectiva.

luanda4.jpg Falando dos usos e costumes da sua, nossa Luanda, Luís Soares diz assim: - ainda me recordo da mulher negra luandense sentada na esteira de loandos ou de mateba, no banquinho feito de galhos de mulembeira junto à porta, catando piolhos da cabeça do candengue ou mesmo de adulto. Estendendo a vista pelos arredores via as aduelas de barril num arranjo de quase átoa a definir seu quintal, intercalando esta foto de grande angular, gente com falas em kimbundo, passam-se horas e horas na cavaqueira, dizendo nada, mesmo!
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Junto, as roliças crianças de peito luzidio brincam nos loandos com carros feitos de coco, com latas de sardinha de rodas de caricas de cerveja cuca ou casca de múkua ou mesmo de pau-binga trazido por seu pai da lagoa do Lifune aonde pesca cacussos. O loando é assim um tapete de junco de caule macio de espessura de mais ou menos de dois centímetros entrelaçados, que eram depois ligados uns aos outros com fio de matebeira ou de sisal trazido lá da fábrica da Cotonangue.

maful1.jpg  Esse mesmo de amarrar a farinha de bombó, fuba ou do saco de batatas doces trazidas de Belas. Pois! Era assim uma arte feita tapete espalmado num rectângulo de um metro e meio de comprimento por oitenta centímetros de largura. Háka, era mesmo um acessório sempre presente nas nossas reuniões de quintal logo a seguir ao jantar, botando conversa fora com os vizinhos, mujimbos que corriam na boca de muita gente.
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Enquanto isso com falas esdrúxulas de sundiameno, sacana mesmo ou topariobé e muitos muxoxos intercalados de asneiras com comentários de roubos e falcatruas, que até entrava o árbitro comprado lá no futebol do M´Puto. Com nomes variados de filho-da-caixa e muitos edecéteras chamando de bois aos quadrúpedes e cabrões; os candengues de chinelas de dedo enfiadas no pé e descalços até ao pescoço, ranhosas e com o umbigo saído das barrigas inchadas, esgaravatavam no pó a fazer vrrruuummm para desenterrar.

luua11.jpg O mais velho cozinheiro do senhor Ildefonso, só ali quietinho no seu canto, ouvia na sua serena idade dando longas chupadas no seu matope. Ele, mais-velho, só biscatava as falas com um cachimbo feito de nó de tamarindo e, ria de vez em quando, baforando pró ar sua sapiente sabedoria de século. O kota misterioso que não contava as coisas direito, para não ser chamado nas razões do patrão gordo saído dum lugar chamado de Porca Da Murça. 

massau5.jpg Ele não podia falar assim átoa do patrão que tanto de guloso só comia mesmo lagosta suada ou garoupa das pedras … dizia com frequência depois de nada dizer: - Vou dizer mais o quê? Luanda, aiué… Com a certeza de que a verdade se irá impor por si, ainda que por algum tempo impere o discurso fantasioso, o que queremos por ora e aqui na Luua, é esquecer os aspectos das guerras…
(Continua…)
O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 21:07
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Temos um Hino, uma Bandeira, uma moeda, temos constituição, temos nobres e plebeus, um soba, um cipaio-mor, um kimbanda e um comendador. Somos uma Instituição independente. As nossas fronteiras são a Globália. Procuramos alcançar as terras do nunca um conjunto de pessoas pertencentes a um reino de fantasia procurando corrrigir realidades do mundo que os rodeia. Neste reino de Manikongo há uma torre. È nesta torre do Zombo que arquivamos os sonhos e aspirações. Neste reino todos são distintos e distinguidos. Todos dão vivas á vida como verdadeiros escuteiros pois, todos se escutam. Se N´Zambi quiser vamos viver 333 anos. O Soba T'chingange
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