NAS FRINCHAS DO TEMPO
DOS TEMPOS DE DIPANDA* - RESENHA DA BATALHA DO CUITO-CUANAVALE E RETIRADA CUBANA
- Crónica 3609 – 06.08.2024
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto
As divergências entre cubanos e soviéticos agudizaram-se quando, em 1984, as tropas sul-africanas lançaram fortes ataques contra a SWAPO não só na Namíbia, mas também no Sul de Angola… «O adversário realizou movimentações de tropas de grande envergadura (como mais tarde se veio a saber, tratou-se de uma irritação, era preciso aumentar o medo).
Esta situação provocou o aumento da tensão nos quartéis e nos pontos de comando das tropas governamentais de Angola, bem como nas guarnições das tropas cubanas. É possível que a difusão de boatos tenha sido obra do inimigo que certamente tinha adeptos seus na mais alta esfera do poder de Angola... ou a complexa situação no sul do país aterrorizou realmente todos» - recorda Valentin Varennikov.
Chegados aqui, convém recordar quem era Iko Carreira: Henrique Alberto Quádrios Teles Carreira, que era mais conhecido pela alcunha Iko Carreira. Foi um militar, político, diplomata, escritor e ideólogo anticolonial. Desertou das tropas portuguesas na "Fuga dos 100", em 1961, juntamente com Pedro Pires (posteriormente Presidente de Cabo Verde) e Joaquim Chissano (posteriormente Presidente de Moçambique).
Era considerado o terceiro em comando no partido e no Estado angolano durante a década de 1970, atrás somente de Agostinho Neto e Lúcio Lara. Na chefia do ministério liderou o processo de formação da Polícia Nacional e de outros órgãos militares. A partir de 1974 foi um dos responsáveis por reorganizar as Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA). Em 1974 e 1975, foi designado a participar das negociações que culminaram nos Acordos de Alvor.
Após a declaração da independência angolana, assumiu o cargo de Ministro da Defesa da República Popular de Angola a 12 de Novembro de 1975. Actuou em estreita cooperação com a Força Expedicionária Cubana e, assessores militares soviéticos. Em 27 de maio de 1977 ocorreu o golpe de Estado falhado nitista em Luanda. O Ministro Carreira, passou a ser identificado como o principal representante da "elite branco-mulata"(***), despertando um ódio particular nos líderes da rebelião, que se posicionaram como "porta-vozes dos interesses dos negros pobres".
Como Ministro da Defesa desempenhou um papel importante na repressão ao movimento do Fraccionismo. Liderou o tribunal militar que sentenciou à morte os participantes da rebelião. Foi um dos principais organizadores das repressões em massa de 1977 a 1979. Em 1980, foi afastado do cargo de Ministro da Defesa alegadamente para receber treino militar para graduar-se, uma vez que era somente coronel.
Foi enviado para a União Soviética, onde estudou na Academia Militar K. e. Voroshilov do Estado Maior das Forças Armadas Soviéticas, tornando-se, em 1982, o primeiro oficial militar africano a receber um diploma de formação como general. Em 1983 foi nomeado comandante da Força Aérea Popular de Angola, cargo em que permaneceu até 1986.
Nos últimos 13 anos de sua vida ele viveu com o lado esquerdo paralisado. Foi tratado em França e nos Estados Unidos; depois, mudou-se para Espanha. O governo angolano nomeou-o adido militar em Espanha. Escreveu dois romances com um dedo, em um computador especial, além de memórias políticas e de outras obras: "O Pensamento Estratégico de Agostinho Neto", Publicações Dom Quixote e. "Memorias", publicadas em Angola por N´zila.
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Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota 2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange, do Blogue História da Guerra Civil de Angola, da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto e Wikipédia…
Nota 3: ***Pode daqui deduzir-se, de novo. quanto tinham de racistas os efectivos do MPLA. Retirar o branco de toda ou qualquer gestão militar ou civil, foi-o mais que evidente e, tudo sordidamente silenciado pelos mídias mundiais e, por Portugal, fruto de uma descolonização enviesadamente esquerdoida…
(Continua…)
O Soba T'Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA*“ - Crónica 3572 – 27.04.2024
“DO CUELEI ATÉ KAPRIVI” – Na Faixa de Kaprivi, com Savimbi…
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto
A Jamba, “Estado Livre de Angola”, estava a ser preparada para em segurança, receber seu líder e seu Estado Maior no firme propósito de ali permanecer sem o serem bombardeados pelas chamadas forças governamentais coadjuvados por cubanos e assessores russos. A Jamba, que se tornaria numa dimensão mítica, estava a ser instalada. Neste meio tempo, a ausência de Savimbi prolongava-se por períodos que poderiam ir até três meses.
Na ausência de Savimbi, Eugénio Manuvakola assumia interinamente o cargo de presidente, tendo Abel Chivukuvuku como seu secretário. A partir de meados de 1979 Savimbi iria instalar-se em JAMBA, a base que já tinha todos os requisitos para funcionar com os requisitos técnicos optimizados e as infraestruturas básicas como por exemplo os misseis do tipo Sringer .
No tempo que medeia entre a formação militar dos enquadrados instruendos da UNITA nos campos Delta, Quadado e Ómega e, até se dar o início das actividades na Jamba em 1979, a inteligência militar da UNITA sabia tudo sobre cada unidade das forças armadas do governo do MPLA e aquartelamentos cubanos - a logística, por meio de seus oficiais formados em vários países com o aberto beneplácito dos EUA estava afinada e refinada…
Os novos oficiais da UNITA, eram já conhecedores das mais modernas e diversificadas tecnologias de guerra, nomeadamente da Segurança do Estado Stasi da polícia secreta da Alemanha Oriental, mas e também Israel, Marrocos entre outros afectos aos estados Unidos da América. Aos formandos foi-lhes proporcionado saber qual o melhor modo de pensar do MPLA e das forças expedicionárias comunistas.
Eram conhecidas as comunicações internas do regime de Luanda e até do próprio presidente Agostinho Neto e Eduardo dos Santos; Conheciam ao pormenor os relatórios da CIA e sabiam ao momento, vendo imagens de satélites espiões. Havia assim um perfeito conhecimento entre os movimentos do Galo Negro na interacção e utilização de armas estratégicas que lhes haviam sido fornecida tais como os misseis FIM – Stinger.
Qualquer disparo saído da Jamba, e outras bases estratégicas moveis, feito pelas FALA, acto continuo haveria comunicação de dados excênciais, do como e porquê segundo os parâmetros obrigatórios tai como coordenadas UTM entre outros meios criptografados com os Serviços de Inteligence Militar Sul-Africano e, com o Estado Maior das FALA. Isaias Samakuva era o oficial responsável situado na base Quadrado – Rundu.
A base “Quadrado”, era um lugar de máximo secretismo algures situado na Faixa de Kaprivi e, inserido na logística global das bases Delta e Ómega. As actividades de Abel Chiukuvuku que estava à frente dos Serviços de Inteligência, Informação e contra-informação, fazia-se notar pela lucida aptidão e ligeireza optimizada. Com valentia, o general Arlindo Pena (Ben-Ben), coadjuvado pelo general Demósthes Amós Chilingutlla sobresaiam em logística moderna na confluência entre os rios Lomba e Cuzumbia.
As actuais e futuras gerações aprenderão também lições da história política dos mais-velhos, militar, administrativa, de resistência em Angola e sequente trabalho de opinião e influenciação das individualidades e mentes públicas efectuada na diáspora, gente incógnita que na dissimulação tal como passarinhos que apagam com gotas de seu suor, incêndios na mata. Saberão como, uma parte de Angolanos que começaram em Fevereiro de 1976 numa caminhada para Sul, construíram uma capital dum Estado invicto e funcional - JAMBA…
Nota1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota2: Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e do livro de Vidas e Mortes de Abel Chivukuvuku de José Agualusa
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA*“ - Crónica 3571 – 23.04.2024
“DO CUELEI ATÉ KAPRIVI” – Na Faixa de Kaprivi, com Savimbi…
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto
Antes de tudo isto… Naqueles longínquos anos de entre sessenta e setenta do século passado, o XX, todo eu estava metido na Mata do Maiombe, tropeçando na força das circunstâncias e num entretanto que só durou quatro anos, a guerra foi um conjunto de acidentes suados a paludismo. De um para outro lado, subindo e descendo rios procurando rastos de turras, com o soba Mateus, também preto já condecorado com ida grátis ao M´Puto….
Mateus, o soba e guia ocasional, à frente, ia barafustando com o ar, cortando capim à catanada, mastigando uma bolunga escura e pestilenta, pisando charcos infestados de sanguessugas, larvas com milhões de patas e escorpiões pretos e pré-históricos a fingir de lagostins. Buscando turras num secalhar perdido entre a bruma e o cacimbo, o gozo da liberdade, corria como se a vida fosse um jogo de poker…
Um jogo de poker duma azarada toma de pastilhas vermelhas para anular maleitas com micróbios fosfóricos na única água estraganada. Com as costas das mãos afastávamos as bicharias visíveis e, em seguida engolíamos aquilo escorrendo da mão ou numa qualquer folha verde a jeito. Guardando soberania da pátria do M´Puto, camuflados ensopados até o tutano, assim seguíamos em fila de pirilau, duas granadas presas ao peito, uma G3 em riste e uma cartucheira repleta de balas para o que desse e, viesse procurando o MPLA.
Mas, agora é tempo de relembrar a formação em comunicação e técnicas de controlo aéreo de Abel Chivukuvuku com seus companheiros Aniceto Cavala e Jardo Muekalia na base secreta de Delta ou Ómega na Faixa de Kaprivi da actual Namíbia, antigo Sudoeste Africano. No Rundu, esses três jovens iriam receber formação em tráfego aéreo. Muito mais tarde, eu, o T´Chingange, viria a saber outros pequenos detalhes…
Pisando os mesmos caminhos, vendo as mesmas acácias e aquele capim do Okavango com o qual se cobrem as casas dos kimbos e das cidades e, com João Miranda, um próspero comerciante do Mukwé, Andara, Nyondo e Divundu, pois por ali andei, na secreta “Missão Xirikwata” com as credenciais da UNITA escondidas no forro daqueles calções de zuarte, mais um colete muito farto de bolsos para meter balas de matar jambas (elefantes) - tudo a fingir…
Fazendo futurologia sem bola de cristal e auto-risco, com o conhecimento descomprometido de José Pedro Cachiungo representante do Movimento em Lisboa, assim ia fazendo turismo de guerra como se o fosse, um espião de craveira - uma suave adrenalina regada com Windhoek lager e empatia de toda a família Miranda, sempre à beira do Cubango, que aqui só conhecem por Okavango - vendo Angola, sua gente e gado pastando ao alcance de um grito.
Relendo o livro de Agualusa fica-se a saber que em Abril de 1977, fica concluída a formação no Rundu na Faixa de Kaprivi; Chivukuvuku foi colocado no aeroporto da Mapunda junto à fronteira com o Sudoeste Africano - o tráfico deste aeroporto era usado quase exclusivamente pelos aviões que vinham de Kinshasa e do Sudoeste Africano.
Neste então, as insígnias da UNITA ainda mantinham as palavras de Socialismo, Negritude e Democracia. Nos anos de reestruturação da UNITA, a principal base do movimento foi a base secreta Delta, do outro lado da fronteira, mais propriamente na Faixa de Kaprivi do Sudoeste Africano. Era necessário em primeiro lugar ter-se a suficiente eficácia na defesa do principal bivaque da UNITA, a Jamba, já em fase de construção…
Nota1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes, durante os longos anos da crise Angolana…
Nota2: Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e do livro de Vidas e Mortes de Abel Chivukuvuku de José Agualusa
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA*“ - Crónica 3570 – 22.04.2024
“A 2ª MARCHA – DO CUELEI ATÉ KAPRIVI” – Na Faixa de Kaprivi, com Savimbi…
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto
Respirando a noite, metido em calções de caqui, o bafo quente de África contorcia-me a mente como num remoinho de orgasmo. O encanto do mato, seus cheiros e ruídos, em África, são tão especiais que ofuscam a mente com espíritos. As vozes rugosas entrecortadas com choros de hiena e latidos de mabecos arrepiavam ao cair da noite.
Sem pálpebras no olhar, o escuro da Faixa de Kaprivi era mais inebriante que qualquer outro, a lua feita um risco com nome de nova; o cacimbo miudinho fazia levantar um aroma extasiante, a luz difusa do xipefo vulgo candeeiro de petróleo, tracejava-o ondulante para além do mato cerrado da margem do Okavango. Para lá desses matos a cagufa latejava nas temporas amargando a boca de gosto rançoso de minha antiga guerra, no lugar aonde também andou esse tal de Ché…
Ali e, naquele agora cada burro poderia carregar entre trinta a cinquenta quilos, resistindo bem ao calor e à sede. Foi desta forma que passados uns largos dias, cinquenta por aí, os guerrilheios de Savimbi chegaram à base de Cuelei, acarinhados por cânticos e danças fazendo renascer o Galo Negro das cinzas. A ajuda Sul-africana, foi a partir daí bem substancial, permitindo à UNITA tornar-se mais forte que nunca.
Em Dezembro de 1976, tendo já o apoio do regime do apartheid, da China e dos Estados Unidos, algures na base de Malengue e, tendo Jonas Savimbi recuperado das longas marchas, preocupado que estava em reagrupar e reorganizar o que restava da UNITA, tendo a seu lado Samuel Chiwale, N´Zau Puna,Tito Chingungi e Altino Sapalalo, conhecido por Bock, dirige-se aos dois jovens corajosos que proporcionaram o encontro destes com os Bóhers na Faixa de Kaprivi dizendo:
- Depois do feito destes jovens por sua determinação, estou verdadeiramente convencido de que vamos sim, formar um exército! Tratava-se dos jovens saídos da Missão do Dondi, Abel Chivukuvuku e Vituse que fizeram um primeiro contacto com as autoridades Bóhers da fronteira sul de Angola, a chamada Ovoboland, entre a cidade do Rundu e o Divundu.
De forma eufórica, Sabimbi, levantando seus braços afirmou: Dentro de quinze anos a revolução trunfara! Os jovens guerrilheiros ficaram bem taciturnos, bem dismilinguidos de frustração com esta firmação, do mais-velho! Tanto tempo, assim! Nesse entretanto, ali na base de Malengue, em um outro dia, foi lido aos soldados um conjunto de despachos. Chendovava era promovido a major tendo como adjuntos os capitães Bock e Tito Chingungi.
A Companhia dos “jovens intelectuais” que entretanto tiveram três meses de instrução e especialidades, é dissolvida. A cada soldado é dado o específico destino como soldado da UNITA. Uns irão para o Rundu, mais propriamente para as bases Ómega e Delta da Faixa de Kaprivi, na Namibia adquirir formação em explosivos.
Ouros, terão formação em comunicações, logística militar de defesa antiaérea, formas de disciplinas militares e outras tecnologias modernas em uso de armas inteligentes. Formas de informação, de desinformação e controlo aéreo. Outros, têm a missão de prosseguir os estudos em países africanos e europeus. A Chikukuvuku foi-lhe destinado ir para a base secreta do Rundu, a secreta Delta na Faixa de Kaprivi num dos acampamentos, juntamente com Aniceto Cavala e Jardo Muekalia.
Nota1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes, durante os longos anos da crise Angolana, e após o Acordo de Paz e Reconciliação Nacional. Corresponde à diáspora de angolanos e afins espalhados por esse mundo.
Nota2: Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e do livro de Vidas e Mortes de Abel Chivukuvuku de José Agualusa
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA*“ - Crónica 3569 – 18.04.2024
“A 2ª MARCHA – DO CUELEI ATÉ KAPRIVI” – Na Faixa de Kaprivi, com Savimbi…
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto
Não sei precisar o dia do ano de 1997 em que me encontrei de forma esporádica com Pedro Rosa Mendes, creio que isto aconteceu no mês de Agosto mas, foi útil ter uma visão diferente do que se estava a passar no terreno; no entanto pareceu-me tendencioso demais em seu livro “Baia dos Tigres” no julgamento de Miranda o militar ex-búfalo e, agora comerciante do Okavango, de quem me tornei amigo.
Rosa Mendes, retractou Miranda como um brutamontes, um mercenário por ter pertencido à companhia militar Sul-Africana “Os Búfalos”. João Miranda do Mukwé - o mesmo que invadiu Angola no ano de 1975. Eu, seguiria para Vitória Falls no Zimbabwe, retrocederia mais tarde até Divundo e seguiria o rumo de Joanesburgo passando pelo Delta do Okavango…
Assim foi com uma paragem de dois dias em Maun. Enquanto Rosa andou 10.000 km, eu percorri 13.000. Quanto a Rosa, vi-o como um verdadeiro repórter comunista do M´Puto pago por encomenda. Posto isto entro de novo na recordação da descrição da 2ª Marcha de Savimbi entre Cuelei e a Faixa de Kaprivi no lugar de Divundu…
Nos dias que se seguiram após aquela fome junto à grande tenda mandada montar por Philip du Preez num lugar bem próximo de Mahango - Base Ómega 3, de instrutores Sul Africanos e recrutas de especialidades várias da UNITA, aquela delegação de guerrilheiros, nos dias que se seguiram, receberam centenas de quilos em armas…
Receberam munições, fardamento e mantimentos segundo o descrito nas memórias de Chivukuvuku no livro de José Agualusa** - Uma biografia para Angola… Para mim e, nestas andanças de “Xirikwata” em determinadas alturas, tal como Rosa Mendes, também o foram «Viagens sem bilhete, sem horário, sem transporte público, sem "vouchers" com pequeno almoço incluído», comento pão duro rusks e bolachas com marula por conta própria. No Divundu e Mukwé tive a protecção total de Miranda e D. Elisabete sem dispender um tostão que fosse, pelo que, sempre estarei grato a tanta hospitalidade - e, aconteceu por quatro vezes em anos distintos…
No Mahango da faixa de Kaprivi, os guerrilheiros da UNITA, para além de muitas e variadas armas de tiro tenso e curvo com munições, receberam fardamentos, mantimentos e variados medicamentos de primária necessidade. A questão seguinte que se punha naquele agora, era a de carregar todo aquele material para as bases da UNITA nas áreas do Cuelei e Jamba. Havendo ali várias gerações de pastores nómadas Cuvales, Himbas e Koisans, os primeiros entre os demais, foi sugestão unanime, utilizarem burros para levarem todo aquele material bélico e demais caixas, caixinhas e caixotes de géneros diversificados e material sanitário.
Cada burro poderia carregar entre trinta a cinquenta quilos, resistindo bem ao calor e à sede. Foi necessário arranjar redes, cordas, cintas e almofadas para ajustar os volumes e sacos à anatomia dos animais, carga tão diversificada poderia ferir ou causar transtornos para além do admissível os quadrupedes; ter em conta que eram uns 1200 quilómetros a percorrer, podendo levar uns cinquenta dias a percorrer tal distância, quase dois meses e, se tudo corresse dentro do planeado e sem ataques aéreos…
Entretanto, a norte, a coligação governamental MPLA-Cuba, praticava uma politica de terra queimada, a conhecida por “Ofensiva Ngouabi”, de Marien Ngouabi, presidente do Congo e que, em Setembro de 76, visitou oficialmente Angola. Entre as aldeias mártires desta “Ofensiva Ngouabi”, contam-se Quissanquela, Capango, T´Chilonga, T´Chiuca e Mutiete. Nesta última, foi sumariamente executada toda a população masculina. O MPLA atribuiu á “UNITA” a responsabilidade pelo massacre quando, na verdade, a UNITA se encontrava desmantelada para Sudeste no Cubango…
Nota1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes, durante os longos anos da crise Angolana, e após o Acordo de Paz e Reconciliação Nacional. Corresponde à diáspora de angolanos e afins espalhados por esse mundo.
Nota2: Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e do livro de Vidas e Mortes de Abel Chivukuvuku de José Agualusa e de “Baia dos Tigres” escrito por Rosa Mendes
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3567 – 10.04.2024
“A 2ª MARCHA – DO CUELEI ATÉ KAPRIVI” – No Cuelei, com Savimbi…
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto
Mais tarde e kota, andei pela picada de macadame encrespada de ondinhas já para lá do Divundo, dos vários cuca-shops e cola-colas dos chineses, passamos locais de kimbos dispersos e lodges junto ao rio como o Rainbow Lodge, Nunda River, Ngepi Camp ou Ndhovu Safari. Mas foi no Mahango Safari Lodge escondido no denso arvoredo verde e bem na margem do rio que subimos numa barcaça.
E, passeando ao longo do Kavango até quase o Botswana; visitámos depois os rápidos e remansos, já com as águas do Kuito, águas que inundam o Delta do Okavango a jusante; um mar muito antigo a dar vida aos muitos n´dovus ou jambas que conhecemos por elefantes, entre hipopótamos búfalos e outras muitos espécimes.
Em idos tempos, disse João Miranda apontando a margem: Savimbi esteve por ali; um lugar que serviu de acampamento, lugar aonde bivacaram as forças que formaram o Batalhão Bufalo, lugar chamado de Omega. Naquela outra já distante noite na segunda metade do ano de 1976, e, nesse lugar de Mahango, Savimbi e seus oficiais mais próximos, dormiram ao relento em um céu aberto, estendidos na lama seca.
Despertaram na manhã seguinte, com o ruido de outro helicóptero… O militar que saltou do aparelho, com um sorriso no rosto e braços abertos, era um já conhecido de todos: Philip du Preez, coronel das Forças de Defesa Sul-Africana, SADF e, que nos últimos meses tinha servido de elo de ligação entre as forças da UNITA e da FNLA com o regime do apartheid.
O coronel du Preez, depois de cumprimentar cada um dos dirigentes da UNITA, ordenou a seus subordinados que montassem ali uma enorme tenda. Dentro daquela enorme tenda foi disposta uma mesa larga e longa muito farta de géneros; pão com chouriço, queijo, cerveja e refrigerantes. Eduardo Agualusa em seu livro de “vidas e mortes de Abel Chivukuvuku” descreve o encontro.
Diz que o coronel bóher Philip du Preez explicou a Savimbi que precisava visitar algumas bases militares situadas ao longo da fronteira com Angola e que voltaria mais tarde. Esta inusitada falta de atendimento a quem estava sob tensão, deve ter sido usada sob pretexto de poder ter o tempo necessário para falar com seus superiores, talvez o primeiro-ministro Vorster.
O mais previsível neste proceder aparentemente torpe, justificar-se ia em obter as directivas acertadas para comunicar ao guerrilheiro Savimbi; comunicar na volta, a decisão optada, falando com maior certeza e serenidade; é este o meu entendimento. E, porque a fome daqueles guerrilheiros era mais que muita, na ânsia de comer, ouve.se: vamos comer! Savimbi gritou: -Não toquem na comida.
Esses bóhers são racistas, todo o cuidado é pouco e, além do mais não nos disseram que comêssemos, então, não vamos comer! Será melhor esperarmos. Um suplicio para quem estava tão carecido de meter algo no bucho. E, assim esperaram ouvindo os rugidos dos estômagos carecidos – rugidos esfomeados depois de 1200 quilómetros caminhados entre secas espinheiras, secos capins. Esperaram…
Nota: Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e do livro de Abel Chivukuvuku de José Agualusa…
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O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3566 – 07.04.2024
“A 2ª MARCHA – DO CUELEI ATÉ KAPRIVI” – No Cuelei, com Savimbi…
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto
Já em Cuelei e, após o 28 de Agosto do ano de 1976, Jonas Savimbi compreendeu que a UNITA só se conseguiria reorganizar e fortalecer, a partir do apoio do governo sul-africano, o regime bóher do apartheid que governava a Namíbia, nesse então, um protectorado saído a partir da ausência dos alemães, por sua derrota na Segunda Guerra Mundial, o chamado Sudoeste Africano.
Assim e depois de acalorados debates no bivaque provisório de Cuelei pelos dirigentes disponíveis, os mais destacados da UNITA, decidiu-se pedir apoio às autoridades sul-africanas. Numa primeira decisão, Samuel Chiwale, foi o escolhido a chefiar um pequeno grupo de guerrilheiros na missão de cruzar a fronteira da Ovoboland do Sudoeste Africano - Namíbia, na designada Faixa de Kaprivi a fim de conversar com os chefes militares bóhers.
Este projecto, rápidamente foi suplantado por outro perante a evidência de que só o próprio Jonas Savimbi conseguiria convencer os sul-africanos. Os oficiais do Movimento queriam em realidade poupar seu Mwata em mais um novo esforço, uma nova marcha de 1200 quilómetros até aos limites do território angolano, fronteira nas terras do fim do mundo. Lugares distantes entre si, algures entre a cidade do Rundu e o rio Cuando, bem no extremo Sul, o canto que liga Angola com a Zâmbia e a Faixa de Kaprivi, santuário de elefantes. Relembrar aqui a frase de “Andaram e andaram e andaram” proferida por Philip du Preez, o oficial superior sul-africano que estabeleceu o contacto com esta delegação da UNITA.
Posto isto, àquele pequeno grupo inicial de Samuel Chiwale, grupo defensor de flancos, juntava-se-lhes a Delegação constituída por Savimbi, N´zau Puna, Jaka Jamba e António Dembo. Haveria antes de demais diligências, enviar alguém com a missão de alertar a policia de fronteira da chegada desta delegação.
Para o efeito foram enviados os ainda jovens guerrilheiros saídos da Missão do Dondi, Epalanga Chivukuvuku e Vituse. Estes dois jovens, penosamente chegaram à região do Rundu através de anharas secas com milhares de espinheiras; lugares por onde a delegação de Savimbi e seus notáveis companheiros também tiveram de passar até alcançar o lugar aprazado…
Ali pararam algures num vasto capinzal, numa anhara não distante de Andara do Divundu, lugar aonde o rio Cubango passa a ter o nome de Okavango. Lugar cercano, aonde o rio atravessa a Faixa de Kaprivi, que se espraia em lagoas repletas de cacussos e hipopótamos e, cujo curso viram rápidos antes de chegar ao Botswana.
Ao entardecer surgiu um helicóptero que os acolheu no capinzal raso; meia hora depois seriam largados em um outro terreno deserto junto a uma daquelas lagoas, não muito distante daqueles rápidos do Okavango, um lugar conhecido por Mahango… Muito mais tarde, fins do século, andei por ali fardado de caçador de elefantes. A vida faz pouco das previsões e coloca palavras no lugar de silêncios.
Naquele, Epopa Falls do Okavango, sem presunção, era um desses lugares quem que o vento frio surge sem ser convidado. Ali, bem perto, ficava o Omega 3 - um antigo bivaque da UNITA. Enquanto observava os hipopótamos, pescando peixe tigre, pude ainda ver os telhados de capim preto por entre amarulas e embondeiros majestosos; lembro-me de sonhar - da muita saca-saca e mopane com pirão e jindungo, que por ali, não comi.
Nota: Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e do livro de Abel Chivukuvuku de José Agualusa…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3565 – 05.04.2024
“APÓS A LONGA MARCHA ” – No Cuelei, com Savimbi…
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto
A UNITA, que no seu auge (ao final dos anos 1980) apresentou uma estrutura militar composta de 65.000 soldados, incluindo 28.000 soldados regulares, foi um dos maiores movimentos políticos do continente africano… No primeiro trimestre de 1976, a UNITA foi obrigada a se retirar para zonas mais seguras, bivacando-se em Cuelei a 28 de Agosto desse mesmo ano - 1976.
Cuelei, nome que ficou na história de Angola, situa-se na província de Kuando-Kubango, lugar inóspito até aí e, aonde, com o apoio da África do Sul, a UNITA, iniciou sua reorganização. Em 1979, o movimento já se consolidara outra vez, estabelecendo uma sede permanente na região, a chamada República da Jamba –Terras Livres de Angola.
A UNITA, até aos anos 1980, expandiu seu controle territorial estabelecendo uma estrutura organizacional muito semelhante a de um Estado, dispondo de uma burocracia, exército convencional, e governo. Sua estrutura de liderança assemelhava-se à do próprio MPLA, consistindo de um Bureau Político e um Comité Central.
No fim dos anos de 1980, a população da Jamba era estimada entre 8.000 e 10.000 pessoas, e 80.000 a 100.000 pessoas no sistema de aldeias vinculadas ao movimento. Chegados aqui e, antes de seguir o rasto da UNITA depois da “Grande Marcha” até Cuelei, teremos de recordar aqui, que em 14 de Outubro de 1975 (um ano antes), os Sul-africanos iniciaram oficialmente a Operação Savana embora já estivessem ocupando esta região sul de Angola desde Agosto desse ano.
Um ex-agente da CIA posteriormente afirmaria: "houve uma estreita ligação entre a CIA e os sul-africanos"… Era forçoso não deixar avançar os comunistas em território angolano - África. Isto levou a África do Sul do apartheid que apoiava a UNITA, a invadir Angola a 9 de Agosto de 1975.
Os cubanos, a pedido de Otelo Saraiva de Carvalho com anuência do Presidente Costa Gomes do M´Puto (que disse sempre, não reconhecer…) Também com a anuência revolucionária de toda a nomenclatura do C.R. (Concelho da Revolução) que formatava o M.F.A. (Movimento das Forças Armadas), os cubanos não tardaram em desembarcar em Angola, o que aconteceu a 5 de Outubro de 1975.
Aquela Força Operacional Zulu da África do Sul, cruzou da Namíbia para o Kuando-Kubango na fronteira da Faixa de Kaprivi na conhecida Ovoboland afecta ao grupo de guerrilheiro SWAPO sob o comando de Sam Nujoma. Esta operação previa a eliminação do MPLA da zona da fronteira sul angolana, depois o sudoeste, a região central e finalmente a captura de Luanda, o que não veio a acontecer…
Otelo Saraiva de Carvalho, o estratego do 25 de Abril, agora (2024), com cinquenta anos de estória, na altura comandante do COPCON e governador militar de Lisboa empenhou-se a fundo na entrega de Angola ao MPLA, conseguindo-o em absoluto! Assim, falando do tempo conturbado de reestruturação da UNITA após Cuelei, se irá recordar a participação dos jovens saídos da Missão do Dondi no comando do capitão Vinama Chendovava com a designação de “jovens intelectuais”, fazendo renascer a UNITA das cinzas, com destaque para Abel Chivukuvuku, nesse então com 19 anos e, dando novas perspectivas ao Galo Negro…
Nota: Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange com consulta a publicações de Jéssica da Silva Höring e José Agualusa…
(Continua…)
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