NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3475 – 12.09.2023
- Escritos boligrafados da minha mochila, em CASANE, às margens do Chobe – No Shoba Safari Lodge de Kasane
Entre os anos de 1999 a 2018
PorT´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Saltando no tempo, vejo-me debruçado sobre os funis feitos na terra pela formiga-leão, os nossos conhecidos fuca-fucas de Angola. Pois, assim debruçado no Shobe Safari Lodge bem na margem do rio Shobe, concertávamos ideias sobre o que fazer e ver nesta parte norte do Botswana. Os alojamentos dos principais módulos, estavam todos ocupados e restou-nos ir para as tendas com os requisitos de um chalé normal com água, energia e chorrasqueira brai, e seviço de hotel…
O nome da região Shobe, deriva do rio que corre ao longo do norte do parque aonde ficamos; em verdade é uma continuação do rio Cuando que saindo do estremo do Leste de Angola, atravessa a faixa de Caprivi passando a formar fronteira entre a Faixa de Caprivi da Namíbia e Botswana que passa a formar fronteira com a Zâmbia e que toma este nome de Shobe.
Proseuindo o Cunene/Shoba, dá encontro em Kazungula a escassos quilómetros de Casane com o rio Zambeze fazendo aqui, fronteira a Leste com o Zimbabwé. O rio Cuando é um rio que nace no Planalto Central de Angola e corre para sueste, formando parte da fronteira entre aquele país e a Zâmbia de uma forma caprichosamente ondulada e, formando ilhas na envolvência de muitos charcos, tal como o Delta do Okavango do rio Cubango…
Durante este percurso, o leito do rio Cuando, ainda em Angola, é formado por ilhas e canais, com uma largura que varia entre cinco e dez quilómetros. O rio Cubango/Shobe, tem 800 km de comprimento. até encontrar o rio Zambeze; aqui também de uma forma muito tortuosa formando à semelhança do Leste de Angola muitas ilhas e, tendo muito fartura de animais, destacando-se os elefantes, hipopótamos e crocodilos…
E assim feito, menino de alegria suburbana, descalço como um candengue de musseque com aduelas de barril do M´Puto, baptizado com água do Bengo, limpo, arrumadinho e de colarinho ajeitado na hora de berridar a ver paquidermes, hipopótamos, javalis, jacarés e veados à centena senão milhares. Na volta sou todo feito em pó asombroso . A alegria de contemplar e de compreender é a linguagem a que a natureza me excita, na preocupação pela dignidade com a saúde num quanto baste e, com o suficiente dinheiro para poder comprar as alfaces ou o paio defumado saído dum pata-negra.
Feliz de quem atravessa a vida prestativa sem o medo estranho à agressividade e ao ressentimento, capiangando a necessária felicidade, porque para se ser membro irrepreensível de uma comunidade de carneiros é preciso antes de tudo, também ser carneiro. O esforço para criar uma comunidade neste meio, sem a qual não podemos viver nem morrer neste mundo hostil.
E, de forma íntegra, tornar-se em um sofrível no meio dum impossível. Para seres favorável a alguém, tens de descartar outro alguém. É uma regra que sempre me provoca rebeldia. Tivemos batata frita, biltong e tostas rijas rusk que nem paracuca que depois se dissolviam nas humidades. Um grande balde com gelo, servia para nele meter todas as bebidas por forma a mantê-la frescas durante o esplendor.
Foram mais de três dias divertidos aqui no Shobe Safari Lodge de Casane - olhando até pelos pés e cotovelos: boligrafar também a boa forma de preencher o tempo sobrante, sempre à coca do surgimento de um facochero feito javali ou porco ou um bambi dócil com macacos a querer roubar sabão e barafustar mais álem, por aquilo não ser o weetabix, a farofa do seu breakfast. Neste então esperávamos a hora do seguinte dia para, a partir daí, darmos a volta em barcaça a uma áfrica como se assim fosse, a primeira vez – no rio Cubango ou Shobe …
(Continua...)
O Soba T´Chingange
Botswana, território que começou a ser desvendado por exploradores a partir do século XVIII, deram-lhe o nome de Bechuanaland mas, após a sua independência em Setembro de 1966, toma o nome de Botswana com junção do prefixo "bo" que quer dizer homem em língua Bantu a de "Tswana", nome da tribo mais numerosa daquelas paragens
Realizando regulares eleições ao invés de outros muitos povos de África, é considerado um exemplo de estabilidade política. Botswana é um grande planalto árido situado bem no interior de África meridional. É daqui que saem para o resto do mundo os mais puros diamântes dando ao povo um modo de vida melhor equilibradao do que a grande maioria dos países do continente negro.
Os principais grupos étnicos são os Tswanas, Kalangas, Khoisan entre outros dos quais os brancos nativos dali e indianos que para ali foram idos do Quénia, Zâmbia, Tanzânia, Ilhas mauricias, África do Sul e principalmente do Zimbabwé aonde a instabilidade ditada por Robert Mugabe (já falecido) a isso obrigou.
Aquela osga era-me familiar, dei-me conta de que só ela sabia alguma coisa da minha origem, minhas andanças. Sim! Quase percebi, chamar-me de Niassalês – sentia-me reduzido a um ponto de interrogação; acho mesmo que aquela gorda osga via pessoas que mais ninguém via ou conseguiria ver. Nesta questão de instantes o tempo murchou-me a vontade de entender se o pior era eu não suportar o balanço das potholes (buracos) ou as quezílias do tipo de entre gémeos.
O Botswana em 1966, era a segunda nação mais pobre do mundo. Desde então, transformou-se numa das economias mais consistente, com um alto rendimento nacional dando ao país um padrão de vida modesto. Apesar de sua estabilidade política e considerável prosperidade, o país está entre os mais atingidos pela epidemia do HIV/AIDS; estima-se que cerca de um quarto da população, seja seropositiva.
NAS FRINCHAS DO TEMPO – UM CACTO CHAMADO XHOBA (HOODIA)
- "DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3456 – 04.08.2023
- Boligrafando estórias em Sossusvlei - Em direcção a Ondundozonanandana a Norte… Foi no ano de 1999
PorT´Chingange (Otchingandji) – Em Amieiro do M´Puto
As noites neste deserto de Naukluft – Sossusvlei, aliás, como em todos outros, ficam frescas assim que o sol desaparece no horizonte. Aqueles montes enormes de areia deixam em nós a sensação estranha do quanto somos pequenos. Tivemos de preencher uns papéis para recebermos autorização de entrar no parque dos diamantes. Não nos era permitido afastar-nos do trilho com outras recomendações a cumprir. Iriamos sair ainda de noite para chegarmos ao nascer do dia á Duna da Milha nº 45.
Recordar que NAMIBIA, em dialecto Ovambo significa terra do nada. Foi aqui que vi as melhores paisagens nas minhas viagens por África. Pois assim, saindo de Luderitz atravessei com o clã T´Chingange todo o Naukluft Park para chegar às grandes dunas do Sossusvlei, aonde me encontro. Bolas! Outra vez! Nesta viagem deve haver um anjo da guarda que me persegue mas, em qualquer momento falha sua visão e entro nos cadafalsos da penumbra do telefone e outros edecéteras.
Estou assim a pensar como irei restituir-me em outro António mudando o Lopes para Costa ou vice-versa – Pópilas... Lá terei de largar isto e fazer meu brai com o boerewors com carne de bovino e especiarias, sementes de coentro torradas, pimenta preta, noz-moscada e cravinho. Depois disto veio um vazio, estavam a estudar meu problema pois que mandaram o código de seis números para um telefone que nem era meu embora tivesse o mesmo nome. Creio que era um bafana muzungu destas lonjuras e eu, esperei dois dias soprando ventanias.
Acampamos em duas tendas e, em um espaço próprio no início da zona interdita; activamos uma fogueira comunitária e deliciamos o ouvido com os sons da noite. Saímos ainda noite em comboio de carros, jeeps 4*4 e, turismos como o nosso, um Toyota 1600. A claridade do lusco-fusco ia surgindo e, apanhamos o nascer do sol a meio da subida nessa duna da milha quarenta e cinco.
Em fila indiana gente de muitas latitudes, falando línguas diferentes estavam ali, tal como nós para saborear a natureza em toda a sua plenitude. O sol com o seu disco grande e amarelo ia subindo no horizonte do lado esquerdo; uns mundos de sombras movíveis rodeavam-nos como coisa galáctica; o amarelo e alaranjado das dunas contrastava com o preto carregado das sombras.
As figuras sinuosas das dunas a mudarem muito lentamente, a todo o instante por efeito do vento - algo nunca antes visto e em um palco de grande espaço, aonde também parecia nos movermos como numa ilusão sem infinito. Naquele dia casei com Sossusvlei; a fina cortina de areia desprendida pelo vento mais parecia uma seda ondulante de noiva roçando o meu rosto, os meus olhos, a minha boca.
Beijei a areia feita um véu, como se fora um deus menor e os sinos das cigarras disseminadas em esqueletos de árvores perpetuaram para sempre ao meu ouvido aquele som. Ali era um bom sítio para entregar a alma ao criador. Foi sem dúvida a mais bonita catedral que já visitei. Se por ventura viver 333 anos, quero lá voltar na segunda metade do meu percurso. Ali, o feitiço tem mais encanto, coisas que não se apagam da retina.
É esta, uma das imagens que afagamos nos dias de indulgência, nos dias de amarguras involuntárias, nos dias impregnados de incontidas revoltas. Valeu a pena subir aquele morro de areia ondulante – figuras sobre milhões de grãos de areia ora amarela ora amarelada ou avermelhada; levou talvez uma hora a chegar ao topo, dois pés para a frente deslizando um e meio para trás.
(Continua...)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO – UM CACTO CHAMADO XHOBA (HOODIA)
- "DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3453 – 01.08.2023
- Boligrafando estórias em Krabbehoft Guesthouse and Catering. Estávamos ainda em LUDERITZ … Foi no ano de 1999
Por T´Chingange (Otchingandji) – Em Amieiro do M´Puto
Necessitando de renovar minha paz por mais uns dias em país que não o meu, insurgia-me contra essa maçada de pagar expedientes ou emolumentos numa terra com padrões de meus ancestrais situados um pouco mais a Sul e no lugar de Elizabeth Bay. Foi quando vimos as duas hienas esgueirar-se na esquina salitrosa dum prédio roído pela maresia.
Chafurdavam em um conjunto de bidons fazendo de contentores com restos de comida, sobras do pasto de gentes, pasteis roídos de fartura com natas de engordar há mistura com salitrosos guardanapos empapados de óleo e espinhas de pescada. Neste encanto de desespero entre o mar e o deserto, rendilhamos nossos sonhos com muitas pedras roliças, daquelas que já andaram e desandaram milhares de vezes a recordar que somos uns nada comandados por mistérios…
Mesmo que rumine uma harmonia que me favoreça a dormir embalado pela mão de Deus, esta paz fica-me cara porque, aqui na terra, os homens pagam-se bem pelos expedientes. Regressando à teoria do pessimismo, terei de concordar que é certo o que se diz de que o que tiver que acontecer, acontece, e neste caso aproveitarei rever um oceano de quilómetros de acácias - longe do mar, desertos e bichos na firme vontade de não ser extorquido como um qualquer turista para ver pedras e ou atravessar uma curta ponte construída pelos colonos e ter de pagar pedágio, portagem ou sacanagem de coisas descolonizadas (roubadas).
Assim de como quem vai ao mercado das calamidades, feira da ladra para compra nossas coisas desviadas no furto, capiango da necessidade. Um escambau - Em áfrica, tudo é possível, tudo é da TIA - That Is África. Coabitando com este gozo de incertezas, preencho a inspiração sem doçura, um veludo negro cuspilhando-me num desconsolo na alma.
Mas, como “há males que vêem por bem” acoitei minha curiosidade em ver cavalos selvagens por esta grande área aonde as areias foram tomando conta das casas – cavalos que relincham em alemão porque foram eles que os deixaram por aqui; porque o eram em tempos, cavalgaduras deles, até que um dia em que os diamantes de sonho deixaram de aparecer a brilhar, Também a Guerra Grande que chegou até aqui destroçou vidas com brilhos cintilantes como as estrelas do céu que aqui, de noite, são aos triliões.
Sem me assustar com a calma tremeluzente que carrego, trotarei como aqueles cavalos a sobreviver alvoroços e daqui, segui, seguimos para Windhoek feito um naco grande de sabão p´ra macaco com almofadinhas de chita branca, carteira com dólares verdes numa forma de amaciar minha rigidez branca. Em terras de gente que, só parecem querer meu kumbú, irei rever meu Rundu, meus amigos fujões do outro lado chamado de Calai de Angola no Okavango.
Ver um rio de maravilha que desagua numa lagoa grande chamada de Delta. Outra corrida - Outra viagem! A vida é assim mesmo, como um carrossel. Recordar a estória do final do ano de 1975 de, quando um General de Pretória num dia intercalado das guerras independentistas, chega um indivíduo sem nome a Grootfontein; Este senhor levando um visto de trabalho em nome de João Miranda saído às pressas de Angola.
Do General que viu em João Miranda, o Tuga do Dírico, com o perfil certo para ser integrado no Batalhão Búfalo por falar a língua dos estalidos, bosquímanos, os Khoisans. Da companhia Búfalo que estava a ser organizada para intervir em Angola contrariando as investidas comunistas. Foi lá no Hotel Safari que me instalei em diferentes fases da independência de Angola. Lugar por onde irei passar de novo, rever o amigo Pimenta se ainda for vivo, enfim, lugar aonde pela primeira vez comi ostras no gelo e gelado dom pedro com Marula…
(Continua...)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO – UM CACTO CHAMADO XHOBA
- "DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3447 – 26.07.2023
- Verdade ficcionada
Por T´Chingange (Otchingandji) – Em Amieiro do M´Puto
(…) - Chegados à casa do Senhor Bicho, não muito longe dali e, após as habituais apresentações mostrou-me o quarto disponível; foi-me dizendo que ainda estava em obras e que teria de ficar em um colchão ainda embrulhado em plástico, recomendando-me não o tirar em virtude de poderem vir a ser vendidos como novos. Assim foi mas, durante a noite a restolhada do plástico e a quentura não me proporcionou um absoluto descanso. Bem cedo, um empregado do Senhor Bicho comunicou-me que podia ir até a varanda situada por detrás do último quarto logo após o corredor que dava ao pátio interior para tomar o mata-bicho.
Chegando lá encontrei o senhor Bicho dando ordens a uma gorda senhora que logo se adentrou na cozinha de onde se podia sentir o odor do café e, logo se sentou a meu lado cavaqueando sobre os muitos afazeres daquela hospedaria. E, falamos da sua distante terra, a Ponte do Charuto do M´Puto, bem perto de Mexilhoeira Grande no Concelho de Lagoa.
Mostrei admiração pela beleza das portas quase maciças da entrada para os quartos com baixos-relevos dos cinco grandes animais de África. A minha porta era uma cabeça de búfalo; em realidade era uma obra de mestre. Bicho, sem saber da minha vontade em ir ao Rundu, do outro lado do Calai foi-me inteirando que a pessoa com quem eu tinha em mente encontrar.
João Miranda, já não estava na grande base de Grootfontein. Isso despertou-me curiosidade pelo que recolhi os detalhes possíveis; da triagem dos muxoxos falados e escutados na casa restaurante de Rocha já me tinham alertado de que assim era. Pois é, continua Bicho: - a mando dum General de Pretória um dia chega um indivíduo sem nome, em Grootfontein em um Hércules C-130., levando-lhe um visto de trabalho em nome de João Miranda…
Levou a família inteira para Pretória. E, porque tinha todos os seus bens em Dírico, não queria por nada ir para Portugal; além do mais sua senhora Elizabete só conhecia mesmo as terras do fim-do-mundo de Dírico, pois ali teria nascido. Deram-lhe um apartamento do tipo T4 totalmente equipado; o General viu nele o perfil certo para ser integrado no batalhão Búfalo por ser um bom conhecedor do terreno e falar a língua local e, dos bosquímanos.
A companhia Búfalo estava a ser organizada à já algum tempo no intuito de intervir em Angola salvaguardando possíveis investidas terroristas e comunistas. Ovoboland seria um território tampão àquele avanço. Bicho perante a minha incerteza, com a cabeça muito cheia de “nadas” para o futuro aconselhou-me ir até Windhoek antes de tomar qualquer decisão; dizia-se que estavam ali os recrutadores de possíveis militares a integrar naquele batalhão
Tudo dependeria da aptidão e vontade de vir a ser um soldado da fortuna, vulgo mercenário. Indicando-me o Safari Motel para me instalar. Ali, iria recolher elementos junto a muitos refugiados, alguns deles, agentes da PIDE que tinham uma noção exacta das movimentações em curso. Um dia depois, segui em boleia com o tal Rocha de Oshakati, que me fez o especial favor de me levar ao Safari Motel do Pimenta…
Esta estória tem continuação em um outro contexto pois que num repente, o que era para ser já o não foi; tudo por um macaco que teve a ousadia de me roubar a mala que continha apontamentos de minhas odisseias da Ovoboland. Posso explicar: estando eu e família em um parque nos arredores de Windhoek, Daan Viljoen Game Reserve, acreditem ou não, o raio do macaco cão, babuíno, grande e possante, levou meu caderno de apontamentos pensando serem bolachas. Escafedeu-se na mata levando para lá dos arames, importantes apontamentos de minhas andanças. Só por isso e, para não friccionar minhas moléculas cerebrais, darei um salto literário boligrafando outras alvissares das mesmas paragens do cacto xhoba. É a vida!
Glossário: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes, durante os longos anos da crise Angolana, e após o Acordo de Paz e Reconciliação Nacional. Corresponde à diáspora de angolanos e afins espalhados por esse mundo.
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO – UM CACTO CHAMADO XHOBA
- " DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3446 – 25.07.2023
- Verdade ficcionada
Por T´Chingange (Otchingandji) – Em Amieiro do M´Puto
Oshakati, ficava na direcção contrária à faixa de Kaprivi, uma faixa de linha recta saída do Divundo junto ao rio Cubango (Okavango) até o rio Zambeze com cerca de 405 km de comprimento e 30 km de largura. Tem a forma de frigideira e fica situada no nordeste da Namíbia formando as duas regiões namibianas denominadas de Kavango e Kaprivi.
Tinha indicações que havia um tal senhor Rocha que fugido do Sul de Angola ali se estabeleceu com um restaurante e uma fiada de casas térreas que eram alugadas a baixo custo a refugiados; foi para ali que me dirigi e aonde me refastelei com uma caldeirada de cabrito. Enquanto a família comia, uns quantos olheiros miravam e ouviam atentamente o que se passava entre nós; gente deslocada de Angola que vivia de expedientes e bufaria…
Rocha era ainda um rapaz novo; sentou-se em nossa mesa e conversamos um longo tempo, fruto da minha insistência na recolha de informações. Rocha falou abertamente do sonho em se fazer rico, construir um hotel em condições e negociar com diamantes quando lhe fosse possível. A empatia foi tal que não se coibiu de falar o que quer que fosse…
Aconselhou-me a ficar num dos quartos de Bicho da Ponte do Charuto (Estômbar do M´Puto) logo no fundo da rua, pois que ele estava com os alojamentos repletos de gente saída de Angola. Em África parece tudo ser perto pois que tudo se sabe; carências de notícias levam à união e a fraternidade dando a isto, uma característica única no mundo; Em nenhum lado do grande globo se encontra esta postura e este facto é a razão do porque, ninguém se esquece desses locais aonde a vida tem socalcos diferenciados assim como se estivéssemos num permanente mundo de Indiana Jones, coisa de cinema com senas a correr numa mina do tipo de kimberly …
Daqueles aromas, do som do mato, do chorar da hiena, do uivar do mabeco e até o cacarejar das capotas com o “tou-fraca, tou-fraca…” mais o por do sol atrás duns chinguiços, cassuneiras ressequidas e mato estéril. Rocha estava a par da odisseia de João Miranda do Mukwé e acabei por ouvir um pouco mais da sua fuga das terras do fim-do-mundo, zonas do Calai, Dírico e do Rundu: …
Quando Miranda chegou ao Mucusso e passou a fronteira para o Sudoeste Africano, as autoridades sul-africanas actuaram com rapidez. O comando Sul-africano do Rundu, enviou prontamente tropas para receber a família no Calai. A família Miranda estava salva. O comandante da polícia local, o inspector Erasmos, instalou os Miranda numa “guest house” do Governo, nesse tempo Namíbia, ainda estava debaixo da alçada Sul-africana.
Nessa mesma tarde apareceu o general Loots, reformado, combatente da II Guerra Mundial, acompanhado por um oficial português, madeirense, o tenente Silva. João Miranda foi entrevistado e no final informaram-no de que receberia no fim do mês um ordenado, relativo ao primeiro dia em que fugira de Angola. Para a Intelligence Sul-africana era de grande valor ter um homem que dominasse a fala por estalidos dos khoisan (bosquímanos), que fosse conhecedor da área e tivesse tido um agraciado valor militar – era o caso.
A família foi depois transferida para Grootfontein, já no interior norte da colónia, para maior protecção. - Julgo que é ali que eles estão agora! Afirmou Rocha. Com esta informação a minha odisseia teria outro rumo; Teria toda a noite para pensar como prosseguir no dia a seguir; agora iria à procura do senhor Bicho para me instalar. O Okavango seria nosso destino, Mukwé, não muito longe do Rundo cidade, eram os rumores mais aproximados de seu bivaque (“acampamento”) - Não seria assim tão difícil encontrar um comerciante branco junto ao rio Cubango…
(Continua…)
Glossário: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes, durante os longos anos da crise Angolana, e após o Acordo de Paz e Reconciliação Nacional. Corresponde à diáspora de angolanos e afins espalhados por esse mundo.
O Soba T´Chingange
MALAMBAS NAS FRINCHAS DO TEMPO – No rio OKAVANGO, dou-me conta do quanto meu sovaco cheira a catinga…
Crónica 3444 – 23.07.2023 - MALAMBA: É a palavra.
Por T´Chingange (Otchingandji) – Em Amieiro do M´Puto
Em busca da verdade, muitas vezes acontece-nos não fazermos perguntas por ainda não estarmos preparados para ouvir as respostas e nem sempre o é assim porque simplesmente, por vezes sentimos medo a elas; podemos enumerá-las ou até suspirá-las mas, todo o ser humano em alguns momentos de sua vida têm coisas boas e outras más que se enfileiram ao jeito de missangas atrás uma das outras.
Um rosário do tempo e através dele que como um terço, rezamos ou fingimos rezar porque como se diz, atrás do tempo vem o tempo e depois da tempestade vem a bonança. E, porque se diz que a justiça é cega, surda e muda, pelo que se sabe também anda meia calçada e meia descalça para fingir que agrada a humildes descamisados e ricos encoirados.
Mas, pelo sim pelo não, usamos amuletos da sorte para nos enganarmos nas figas, no corno, na meia-lua, na estrela de David penduradas ao pescoço ou uma ferradura velha de burro ou cavalo, pendurada do lado detrás da porta de entrada de nossas casas.
Por via de duvidas também usamos amuletos da sorte na forma duma nota de dólar, um santinho, uma qualquer nossa senhora da aparecida mais responsos escondidos em forros de malas e maletas. Até uma vagem envernizada de feijão maluco serve para o efeito! O místico junta-se com a Cruz e o Cristo numa caixa, asfixiando-O o tempo todo.
E, sempre picado em sua coroa de medonhos espinhos com um credo na ponta das falas, um cuzcredo (!?) com interrogação juntas na exclamação. No meio da algazarra das palavras, dos apelos, dos gritos ou cânticos, haverá sempre uma insatisfeita curiosidade, perguntas sem respostas ou maneiras mentirosas de dizer a verdade…
Verdade que nem sempre achamos lógica ou patética nem sempre merecedora de ser levada ao cutelo ou ao fogo da veracidade porque, simplesmente nós não somos guardiões nem usamos beber do crime no rio da vida. Amolecendo a preguiça num chinchorro (rede), a trinta metros do rio Okavango ou Cubango, do outro lado Mucusso.
Dou-me conta do quanto meu sovaco cheira a catinga, odor em tudo igual a todas as outras catingas dos negros corpos de África. E, assim, aqui estou de livre e espontânea vontade como um emigrante e muito enfeitiçado pelas gentes acolhedoras; gentes que como eu, saíram dessa imensidão dos matos de Angola, de lonjuras percorridas em velhos Dodges, GMC, Willis, land-Rover, Fords ou Chevroletes, terra de onde se parte sem querer partir e já partindo, arrependido depois por não ter ficado.
Um homem e uma mulher, sexagenários andando através do mato, savanas de África sem fim, um mar de acácias, espinheiras em montes ardentes, campos sem cultivo intensivo, lugares habitados por kudus, búfalos, zebras e leões, sabendo de antemão, que o deserto não é só aquilo que a nossa mente se costumou a interiorizar, pelo que se lê ou pelo que se ouve, sempre na vontade e na natureza nas coisas de Deus. Como vamos nós próprios destrinçar a verdade dentro da nossa própria imensidão, nos assuntos de crenças e impiedades de bens tão profusos nas regras do Mundo.
O Soba T´Chingange
CASSOALÁLA – ANGOLA - Outros tempos (1924)
Crónica 3439 – 18.07.2023 - HISTÓRIAS DA TZÉ-TZÉ . 1ª Parte
Tempos de quitanda e tipóia
Por T´Chingange (Otchingandji) – Em Arazede do M´Puto
Naquele dia de véspera natalícia o dia estava húmido em Coimbra do M´Puto. Busquei coisa não encontrada e, perdido o autocarro sete com destino ao Tovim, decidi-me já cansado a subir a ladeira; após a avenida da Republica, passo a Cruz de Celes e mais acima, não muito longe de Santo António dos Olivais o cheiro da Petisca de Celas tentou-me a entrar.
Petisca é uma das muitas casas de meio pasto, meio tasca, aonde se juntam uns quantos resistentes da vida; já velhotes, cruzam conhecimentos na conversa da palavra malamba. Serve de sedativo à vida, vida regada com um carrascão de Cabriz que, nem é mau.
Pedi um pratinho de arroz de sanchas (míscaros) com uma carne que desfiava em gostura e, sentei-me em frente daquele senhor; por falta de lugar solicitei àquele tal que aparentava ter uns quase setenta anos e, o faça o favor veio logo a seguir.
Estava desejoso de companhia. Não foi necessário muita conversa para logo me fazer a pergunta se, se tinha vindo de Angola. Talvez pela pronúncia ou a forma trópico-cordial da minha abordagem, assim começou o inesperado diálogo da qual é objecto desta escrita na forma de malambas (palavras). Este senhor tinha o nome de Conceição Muralha…
Muralha fala-me com paixão dos tempos em que no Lobito e, sendo despachante oficial, levava uma vida restingada naquela falsa ilha de que tanto se recordava e… que já o seu avô cronista de tempos idos falava. Eram tempos de tipóia, disse ele. Lá por volta de 1924 em terras de Benguela de onde era natural, o seu avô teve de ir em tipóia de Quipupa até Dombe Grande.
Na companhia de João Lara e, numa extensão de sete léguas, tiveram de atravessar o rio Caporolo aos ombros daqueles fortes mondombes; mondombes, diz em esclarecimento, eram os indígenas naturais do Dombe e, continuou recordando feitos! Feitos dele próprio, mas mais de seu avô que em missão oficial tinha ido a Angola no navio Pátria recolher informações de várias actividades - Um repórter da escrita, acentua!
- Quem foi o seu avô? Pergunto curioso, a fim de recolher mais dados sobre este tema. E, a isto respondeu: - Pedro Muralha!... E, se quiser, uma vez que o vejo tão interessado, posso ceder-lhe o livro que editou há setenta e oito anos. Deixe ver?! Isso mesmo, em 1935 nasci eu em Benguela, tinha o meu pai uns vinte anos mas isso, não importa para o caso. Fiquei curioso!
A.ROXO ... Quem diria!? Na normal ocorrência, um desvio na rota e eis que deparo com este inesperado encontro. A completar o senhor Conceição emprestou-me o dito livro, cópia que ele prezava em que todos tivessem conhecimento. Ainda não li aquelas crónicas todas mas alcançada a página 149, não resisto transcrever alguns trechos desta leitura que descreve na margem do Cuanza as ambiências duma Quitanda (mercado), os jacarés e a tzé-tzé…
O Soba T´Chingange
CASSOALÁLA - ANGOLA. Outros tempos
Crónica 3438 – 17.07.2023 - TEMPOS DA DIPANDA*
- Estávamos em Junho de 1975; tinha 30 anos de idade…
Por T´Chingange – Em Cantanhede do M´Puto
Cheguei ao M´Puto ainda a tempo de diligenciar junto ao hospital de Torres Novas a fim de tirar a dita cuja bala ao meu pai, num tempo que só o foi no posterior e no ano de 1997; o meu pai, “o Cabeças” tinha sido bem apetrechado de porrada no após rapto junto ao largo da Maianga, junto aos Correios pelos homens do Nito Alves, foi o que disseram e, parece mesmo ter sido combinação para mandar o velho kota branco meu pai, para a sua terrinha.
Mesmo passado algum tempo “o Cabeças” parecia o mapa-mundo em manchas de sangue pisado, havia pouco espaço por cobrir; deram-lhe um tiro no escuro, algures num sítio quase fatal e, desandaram deixando-o espernear por detrás do então aeroporto Craveiro Lopes ou de Belas e, como quase morto, assim ficou contornado de capim; arrastou-se toda a noite até que, numa picada e já de dia, uma patrulha mais governamental emepelista o levou para o hospital Maria das Pias.
Um hospital abarrotado de gente esperando tratamento em todos os espaços. Dizem as crónicas que morreram nesse então mais de 30 mil angolanos que, decerto, não seriam todos fraccionistas. O kota meu pai, pela descrição posterior teve por demasiada sorte em sobreviver no meio de tantos moribundos; obrigado doutor Boavida do Banco de Angola! Se não fosse o senhor metê-lo no avião ainda hoje estaria imaginando o seu estatuto vivente, envolto numa teia de dúvida entre os muitos abatidos no 27 de Maio de 977.
Esta estória sem direito a “h” foi uma verdade a setenta e cinco por cento, com os restantes vinte e cinco, de inventação para suavizar o quase impossível ou inacreditável mas, eu continuei sendo o mano da UNITA do Kalakata da Caála; desconvocado da guerra, acantonei-me voluntariamente nos mugimbos do degredo da diáspora. Agora posso recordar de quando candengue, ouvir várias histórias passadas nessa terra inóspita, exigente nas suas relações, terrivelmente perigosa, mas simultaneamente atraente e amada.
Lembrar os comerciantes do mato, que viviam absolutamente isolados, originando a criação de alguns Postos Administrativos criados para disciplinar a soberania colonial. Que no tempo, foram surgindo estradas na forma de picadas que, pouco a pouco apareceram as carreiras mistas de passageiros e de carga depois do desenvolvimento de carros Ford, Chevrolet, Dodge e outras mais, como o Nash. Timidamente, a partir de 1920, o M´Puto já sem o Brasil independente já há 98 anos, viraram-se para ali - Angola, terra de onde nunca saímos em lembrança.
Havia as ligações com o interior a partir da costa mas, de ínfima ocupação humana a partir de Sá da Bandeira, Ambriz, Luanda Novo Redondo ou Moçâmedes. Era um problema chegar ao Huambo, atravessar o rio kwanza e de Benguela ao Humbe indo de carroça bóher, lá para as terras do fim do mundo numa eternidade. Só havia transportes lá de longe-em-longe para entrega de produtos, os necessários ao comércio tais com como enxadas, picaretas e ferramentas forjadas em Luanda ou na Metrópole chamada de M´Puto.
Mas, havia aventureiros funantes que se arriscavam a montar um boteco lá no cú de judas, levando sementes para suas lojas originando lavras; introduziram o milho e, com sementes de mandioca levadas do brasil começaram a fazer farinha de funje; levaram laranjas do oriente, abacates da índia introduzindo assim disciplina no uso e amanho da terra. Foram surgindo núcleos de gentios que permutando coisas com os funantes fubeiros mestiços ou brancos melhoravam sua maneira de vida. Ambos prosperaram trocando cornos de elefantes e mel com cachaça ou vinho do M´puto, viveres novos como o arroz a massa e a batata trazida do Peru.
O negócio com o nativo era tão intenso que, essa rude gente rápidamente aprendia por necessidade seus dialectos. Mais tarde formaram Postos Administrativos, e com seus cipaios coordenavam as várias actividades; iniciou-se a cobrança de impostos de cubata e. outros que foram surgindo com o lento progresso. As administrações sem sobrecarregar a autoridade do reino do M´Puto geriam os lugares, os kimbos, as insipientes infraestruturas das povoações. Abriram Delegacias de saúde, centros de sanidade animal e novas linhas férreas.
Glossário
Bandalheiros – sem ordem; Imbambas – coisas, bikuatas; maka – rixa, briga, barulho, confusão; emepelá – movimento popular de Angola; banguista - vaidoso, com estilo; camundongo - rato, natural de Luanda ou arredores; fubeiro – negociante de fuba, tasqueiro de mato em Angola; Pópilas – expressão de admiração; flor-de-congo – eczema na zona das virilhas, parecido com psoríase; esquindivado – escondido de forma fintada; caxinde – erva-do-chá príncipe (Angola); mugimbos – diz-que-diz, boatos, mexericos, conversa por conversar; NT – Nossas Tropas – Militares portugueses; kamba – amigo, conhecido de infância; Catetense – natural de Catete; cazucuta – que vive de expedientes, bandalheiro, dado a embustes; mabanga – bivalve; funje – farinha de mandioca; marufo – vinho, seiva de palmeira fermentada; bazar – dar o fora, fugir; haca! – Exclamação por admiração, espanto em Umbundo (generalizado por toda a Angola); T’ximbicando – acto de navegar com pau longo ou bordão, em zig-zag; candengue – criança, jovem; Porrada – pancada;
O Soba T´Chingange
CASSOALÁLA – ANGOLA - Outros tempos
Crónica 3436 – 16.07.2023 - TEMPOS DA DIPANDA* - Estávamos em Junho de 1975; tinha 30 anos de idade…
PorT´Chingange – Em Cantanhede do M´Puto
No ouvido ficou em fundo aquele ruído de rumba cubana. Os trilhos do comboio eram a minha referência, deslocava-me penosamente a caminho do Dondo; não sabia ao certo para onde ir, caminhava para me manter inteiro e ocupado, tinha em mente chegar a um sítio no sentido do mar kalunga, aonde pudesse confiar em alguém que me levasse a Luanda descendo o rio Kwanza até à Muxima, em canoa que ainda teria de roubar ou descolonizar.
Ali, com alguma sorte, iria encontrar o camundongo Zacarias, um ajudante de fubeiro conhecido desde candengue e, a quem salvei da morte numa dessas andanças em descoberta por terras de Cambambe; Naquele enquanto, eu era um estagiário de montador electricista recém-saído da Escola Industrial de Luanda, hoje Instituto. Não esquecer que estamos agora em 2023.
Descrever o que se passou na salvação daquele desinfeliz Zacarias levava muito mais tempo que escrever esta pequena crónica mas, o certo é que o salvei de morrer electrocutado; foi a minha maior façanha, como electricista, salvar Zacarias de uma morte certa com a fase a atravessar seu coração; Agora, ele levar-me-á a sítio de segurança, pois sempre foi bem visto entre os emepelás de Catete, amigos de escola do próprio Agostinho, o sofrível poeta que respirava cachaça assim fosse kimbombo.
A flor-do-congo, com a caminhada, tornou o andamento muito por demasiado penoso, tive até de recorrer a uma pêra abacate para besuntar as partes dolorosas, o certo é que melhorou um pouco pela gordura que este fruto tem. Fazia calor pra burros tossir asneiras, uma humidade de escorrer suor salgado, bichezas zangadas com a vida delas, picando só átoa e até se metendo nos olhos – um inferno; Um inferno de calor, antigo cemitério de brancos, chamado de Dondo.
Já junto ao rio Kwanza pude ver mais abaixo no sentido da corrente umas canoas presas a uns arbustos pendentes na água. Deduzi... Estava em Massangano! Longe, mas não tanto podia ouvir bafos esfarrapados de rumba e merengue; eram extintos ou fugidos guerrilheiros afogando-se em mágoas, dançando em bolero crueldades transpiradas, libertações sem sucesso das restolhadas revoltas de guerra ou daqueles tais cubanos que já ali estavam na tarefa de cooperação internacionalista do projecto Rosa ou Otelo, os vermelhuscos da revolução dos cravos importados por estes e outros generais da mututa, de aviário do M´Puto.
Esfarrapado por entre um ermo de coisa nenhuma, muita verdura e água barrenta, deslocava-me com o máximo dos cuidados assim como uma gazela perseguida por onça. Fechei a boca para não me denunciar e, os dentes nem se deram conta da minha mão que a tapava, por vezes para ouvir os sons além da ofegante respiração. Conduzindo o medo através dum cacimbo cerrado, de árvore em árvore, sentia o próprio bafo de fome; o peixe-seco, a cerveja, o funje em um equívoco de pensamento.
Massangano, haka!... Ai-iu-é; já estava mais, por detrás. Esquindivado entre capim cortante parecido com caxinde, vi (talvez a uns cinquenta quilómetros de Massangano), rio abaixo, homens gesticulando mujimbos. Já todo xuxado, riscos de sangue, só pedia mesmo ao meu tio Nosso Senhor que não aparece-se um jacaré. Na medida da vista mais aproximada pude ver equilibrando-se na jangada, o kamba Zacarias Catetense, bem me parecia pela voz mas, estranhei a falta de uma perna pois, tinha em seu lugar, uma de pau tipo capitão “charuto” do baleizão (gelado de chupar da Luua)…
T’ximbicando um bordão ajustado no sovaco e, naquela borda do kwanza, repito, parecia até um corsário como nos livros dos desenhos animados do Emilio Salgari ou fugitivo Tirado do livro papillon esqundivado da ilha do inferno. Quando lhe gritei o nome, fez-se um silêncio silencioso medido de medo mas, no despois um grande abraço, aperto de mano katé e, quis saber das makas de N´Dalatando e dos kazucutas penetras do sistema... Eu bem que te avisei naquele entretanto lá na Samba, te lembras de quando fomos apanhar mabanga, te lembras? Sim, lembro! Graças ao meu Tio, estou salvo, bem-haja …
Glossário
Bandalheiros – sem ordem; Imbambas – coisas, bikuatas ; *Dipanda: acontecimentos após o onze de Nov.1975, sociais, políticos, das makas e posterior guerra; Maka – rixa, briga, barulho, confusão; emepelá – movimento popular de Angola; banguista - vaidoso, com estilo; camundongo - rato, natural de Luanda ou arredores; fubeiro – negociante de fuba, tasqueiro de mato em Angola; Pópilas – expressão de admiração; flor-de-congo – eczema na zona das virilhas, parecido com psoríase; esquindivado – escondido de forma fintada; caxinde – erva-do-chá príncipe (Angola); mugimbos – diz-que-diz, boatos, mexericos, conversa por conversar; NT – Nossas Tropas – Militares portugueses; kamba –amigo, conhecido de infância; Catetense – natural de Catete; kazucuta – que vive de expedientes, bandalheiro, dado a embustes; mabanga – bivalve; funje – farinha de mandioca; marufo – vinho, seiva de palmeira fermentada; bazar – dar o fora, fugir; haca! – Exclamação por admiração, espanto em Umbundo (generalizado por toda a Angola); T’ximbicando – acto de navegar com pau longo ou bordão, em zig-zag; candengue – criança, jovem; Porrada – pancada; Esquindivar: fugir com astucia…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
TAMBULACONTA CABINDA
-La vitória és cierta! La lucha continua! Cumcamano, o Gurigula tinha sido um companheiro de Ché Guevara…
Crónica 3430 – 21.06.2023 -– “Maianga, é lugar de muitas e boas águas”
Por T´Chingange – Na Pajuçara
As revoluções acontecem em um qualquer intervalo de tempo ficando num foco, num documento, num pestanejar de olhos e, normalmente, de forma alheia aos nossos anseios, vontades ou mesmo pensamentos. Pode-se assim afirmar que nenhum terrorista nutre algum sentimento de dúvida acerca de sua nobreza nas convicções. Naquele exacto momento, ele, o terrorista, achava estar certo porque tinha um apego sentimental a uma crença, a uma causa.
Depois daquela experiência, assente em ideias mais engravidadas, poderia levantar dúvidas de se valeu a pena lutar, matar e actuar com risco de morte por aquela causa por via de ser esclarecido no tempo certo do amadurecimento. Na ilusão da mente, por sedução ou obrigação nossa vida trambolha-se, confunde-se ou procede confusamente perante a obrigação de lutar por algo. Andei quatro anos lutando por algo que afinal vim a saber que nem era a minha pátria, pensando sim, que o era! Um território que ainda continua lutando para se tornar independente porque o foi, uma anexação, fruto de um tratado que não o foi respeitado – Simulambuco de Cabinda.
Por motivo de força maior e a bem da nação, fui mobilizado por recrutamento a servir o exército regular dum território designado por Província Ultramarina de Angola. Politicamente estava em causa defender o território dito nacional e, prestadas as provas fiz a devida instrução passando de soldado a cabo miliciano e depois furriel. Já como furriel fui enviado para Cabinda para ser integrado numa Companhia de Infantaria do M´Puto (calhou ser a CC 1734 de Beja). A partir daqui, de vestimenta camuflada ou em zuarte amarelo, comecei a ter práticas terroristas. Armado e em fila de pirilau procurava outros terroristas para aniquilar ou aprisionar.
Da incorporação de Angola, fomos quatro furriéis; éramos dois brancos, um de Luanda (eu) e outro de Moçâmedes, um mestiço mais um negro, ambos de Luanda, e meus ex-colegas de estudo da EIL e Escola Comercial. Nosso destino foi a norte – Maiombe! Por ali andamos nas filas de pirilau com o soba Mateus à frente cortando o capim e naquela mata cerrada (a segunda do Mundo) aonde havia e ainda há gorilas. Para além de cuidar em me preservar isso da dignidade, do ideário, da ética eram edecéteras longínquos só ouvidos.
Um e mais outro dia de G3 às costas, umas quantas granadas ofensivas seguras á cintura junto com os cartuchos suplementares, fiscalizávamos soberania ao longo da fronteira com o Congo Braza e o Congo Zaire, em movimentos medrosos no meio de um mar de muitos verdes; no meio de órbitas cósmicas só desejávamos que uma qualquer mira de tiro certeiro não nos mandasse para outra Galáxia, Saturno ou Plutão.
Estas operações de jogar às sortes nosso destino, repetiam-se regularmente a nível de pelotão ou de companhia, com ou sem apoio de helicópteros… No fundo eu era sem dúvidas um terrorista buscando outro terrorista, gente buscando gente. Simplesmente ficou uma memória isenta em valor último, de uma dignidade em cada um de nós terroristas de lá, e terroristas de cá, sem definirmos as razões da mudança, do porquê porque já foi.
Mas, há um mas, fiz amizade com um gorila sim! Um gorila com quem até joguei cartas num lugar de Aníbal Afonso, uma antiga serração bem perto da fronteira com o Congo Braza. Uma amizade que depois de tanta afeição aconteceu um inesperado. Ele e eu guinchávamos amizade e por este acontecido dei ao Felizmino o sobrenome de Gurigula. Fora de portas d´armas e arame farpado eu e Gurigula fomo-nos isentando de medos, conservando gestos subservientes de baixar a cabeça procurando um afago de catar amizade.
Um dia apareci com um baralho de cartas e, na mesa improvisada espalhei os paus, as copas, os ouros e catanas e, num repente surpreendemo-nos a jogar sem regras; entre paus cambalhotava-se como um doidão e, eu gesticulando graças sem coreografia como só mesmo para espantar suprimentos da fala. Algures no Buco-Zau nas Bitinas da Serração do Aníbal Afonso. O gajo, de uma das mãos lançou um ás de copas que baloiçou até meus pés e ouvi mesmo: La vitória és cierta! La lucha continua! Cumcamano, o Gurigula tinha sido um companheiro de Ché Guevara…
O Soba T´Chingange
CONHECER MELHOR O BRASIL
– CANDOMBLÉ
4ª Parte - Crónica 3414 – 05.06.2023 - N´Guzu é força (Kimbundo)
Por T´Chingange (Otchingandji) – Na Pajuçara de Maceió
Ainda sobre candomblés e, para terminar, sempre relacionando estes fenómenos sociais às tradições de raiz bantu, recordar-se agora que na cidade de Rio de Janeiro, a presença deste povo de N´Gola foi preponderante na primeira metade do século XIX, aonde a expressão candomblé teve mais evidência.
Nas últimas décadas desse século, um número expressivo de escravos baianos chegam ali pelo tráfico interno esclavagista. Isto, não significa que “casas de fortuna, zungus, cangerês e casas de feiticeiros”, como eram chamados, não reunissem adeptos para cerimonias religiosas afro-brasileiras próximas aos candomblés da Bahia.
Repare-se na novidade de apresentar estas culturas na progressão de afro-africanas para afro-brasileiras, mais-valias de origem da costa africana e mais propriamente dos reinos de N´Gola de Matamba, Muxima e Benguela. Entre muitos feiticeiros da cidade do Rio de Janeiro no século XIX destacou-se na década de 1870 um famoso curandeiro e adivinho com o nome de Juca Rosa.
Este, em suas cerimónias, estavam presentes práticas de diferentes origens, iorubás, católicos e bantus. Recorde-se que em Angola em meados do século XX sobressaiu o nome de Sambo, um ervanário, raizeiro e curandeiro do planalto central de Angola. Eu, que saí de Angola no ano de 1975, ainda tomo chás que ele indicou para tomar a fim de atrapalhar o avanço de vária malazengas; habitualmente tomo os chás de “caxinde e de brututo” para estabilizar meu esqueleto. E, a ele devo a prática de comer a terra antes que ela me coma - a argila verde…
Mas, e quanto a Juca, a casa dele, era frequentada por muitas pessoas, em geral negros pobres mas, também representantes da elite e até nobreza. Em redor de seus ritos e cânticos, havia animais a serem sacrificados, havia velas e um altar disposto para teatrar a imagem de Nossa Senhora e do Senhor do Bonfim.
Havia muitos tambores chamados de macumbas, fumos com cheiros de ervas com arruda e outras de tranquilizar espíritos mais o preparo de banhos e feitura de amuletos, uma verdadeira parafernália de poderes defumados e perfumados. Em outras partes do Brasil oitocentista, o chamado candomblé seria conhecido por outras designações como: Batuque no rio Grande do Sul, e xangô em Recife e Alagoas.
Para além desses locais de cultos organizados, a vida religiosa dos descendentes de africanos, escravos ou libertos do período Imperial, era fortemente marcada pela crença do sobrenatural e no poder de determinados objectos para protecção, sorte e felicidade. Por isso, a força de tantas festas religiosas, do culto aos santos, das promessas, das bênçãos e responsos, betinhos e patuás e bolsas de mandinga.
Mandinga, era a designação de um grupo étnico de origem guineense, praticantes do Islão, com o hábito de carregar junto ao peito pendurado em um cordão, pequeno pedaço de couro com inscrições de trechos do Alcorão, que negros de outras etnias denominavam patuá (pópia). Do outro lado do Atlântico, em Angola, podem ser verificadas as mesmas práticas só que, mudando nos nomes tais como kazukuteiros e gente dada ao trambique, raizeiros ou curandeiros que fazem milagres…
FIM
O Soba T´Chingange
FRINCHAS DO TEMPO
– HOJE É O MEU DIA – Crónica 3413 – 04.06.2023
MINHA SINGULARIDADE ACONTECEU A 04.06.1945 - “T´CHINGANGE”
PorT´Chingange (Otchingandji) na Pajuçara de Maceió
Toda a forma de governo legítimo é por norma mediadora e, por assim ser, não o será objecto de história definitiva. O que sabemos e bem, é de que a política, promete! Pois é da natureza da política prometer. Em uma falível definição filosófica, a política tem a ver com a transição entre experiencias concretas e o espaço de todos ao perder de vista a horizontalidade de espectativas futuras.
Nossa presença concreta neste mundo de todos os dias, é sintetizada em duas realidades: passado e futuro. E, não haverá passado nem futuro sem a participação na memória da esperança em surgir alguém que o seja um definitivo libertador; nosso imaginário tem de ter fé para que assim o seja. Quanto ao meu futuro, estou bem firme na HORA EXTRA.
– O que vier, já o será de mais-valia se não inventarem para aí uma especial eutanásia temporal ou me obrigarem a devolver algo da minguada aposentação… E, aquele definitivo libertador, segundo um conceito religioso presente no cristianismo, encarnar-se-á no verbo, assim o seja, enfatizar-se em Deus ficando homem como o Jesus descrito da Bíblia; um recurso a superstições, emergindo só de consciência numa estória.
E, como um presente iluminado em sonho, que numa o será numa verdadeira história – só plausível num entendimento igual ao turbilhão que levou Elias para o céu ainda em vida…Dessa forma projectar-se das coisas passadas para as coisas que virão. Aos limites impostos pelas ilusões com periclitãncias do presente, sempre haverá uma fé, mesmo que escassa, de que as coisas mais cedo ou mais tarde, irão melhorar.
Nossa presença, numa qualquer actualidade, consiste em se manter em erro lógico de espírito de contradição, permitindo à política ser a condição moderada e, pendente de conduzir a comunidade para uma criação possível.
Entre memórias de espectativas, recordações e esperança ou entre passado e futuro, o poder indicará a dependência originária de nossa entrega, porque o âmbito da política, não parte da noção de harmonia ou homogeneidade tendo de se conter no conceito de definir entre amigo e inimigo!
Acho que li algures uma máxima de sabedoria grega, que convêm até não se perder de vista ou esquecimento que diz: “quando se é mortal é preciso pensar como mortal” e, terem forçosamente de ir mais além disso acrescentando: “é preciso agir como mortal”, saber e manter presente que o homem insuficiente só pode gerar formas de governo provisório.
Na natureza humana, a mente totalitária, será preciso modificar. E, porque estamos a vivenciar isto em nossos dias, interessa apelar à perfeição politica porque sabemos bem que uma pessoa tomada pela imaginação totalitária, não admitirá a ideia de representatividade indirecta. É isso justamente que fractura nossa insuficiência na participação directa com implicação no abandono da lei (leia-se lei constitucional). Aqui nunca haverá essa utopia da já falada “mediação”. Resumo: a maior parte dos países do globo está sim, a ser governada por “homens insuficientes”
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DA GLOBÁLIA
Crónica 3403 de 25.05.2023 - Na Pajuçara do Brasil
Um homem sem a liberdade de ser e agir, por mais que conheça ou possua, não é nada…
O PERIGO É AMARELO – Vêm lentos e, com DISSIMULAÇÃO… 3ª Parte
PorT´Chingange (Otchingandji)
Dos mais de trinta países devedores à CHINA, maioritariamente africanos, sobressaem: 1º- Angola com US$ 42,6 bilhões: 2º - Etiópia com US$ 13,7 bilhões; 3º- Zâmbia com US$ 9,8 bilhões e Quénia com US$ 9,2 bilhões. Não demorará que parte de seu património passem a ser geridos directamente pela China…
(…) A vingança! Isso só por si, é ruim no suficiente. Mas o Partido Comunista Chinês muitas vezes não para por aí; ele não pode parar por aí se quiser permanecer no poder - por isso usa sua influência ainda mais perniciosamente. Se a campanha de influência mais directa e ostensiva da China não surtir efeito, eles às vezes se voltam para esforços indirectos, dissimulados e enganosos de influência. Para continuar com a ilustração da autoridade americana com planos de viagem que o Partido Comunista Chinês não quer, a China trabalhará incansavelmente para identificar as pessoas mais próximas a essa autoridade - as pessoas em quem ela mais confia.
A China trabalhará então para influenciar essas pessoas a agir em nome da China como intermediários para influenciar a autoridade. Os intermediários cooptados poderão então sussurrar no ouvido do oficial e tentar influenciar os planos de viagem ou posições públicas do oficial sobre a política chinesa. Estes intermediários, é claro, não estão dizendo à autoridade americana e as demais Ocidentais, que são instrumentos do Partido Comunista Chinês - e pior ainda, alguns destes intermediários podem nem perceber que estão sendo usados, porque, também eles foram enganados. Em última análise, a China não hesita em usar a fumaça, os espelhos e a má condução para influenciar os americanos e os demais pelo Globo. Da mesma forma, a China frequentemente empurra académicos e jornalistas à autocensura, se eles quiserem viajar para a China.
E vimos o Partido Comunista Chinês pressionar a mídia global e, em especial a americana e, os gigantes do desporto a ignorar ou reprimir as críticas às ambições da China em relação a Hong Kong ou Taiwan. Este tipo de coisaS está acontecendo repetidas vezes, em todo o Mundo. Infelizmente a pandemia não conseguiu impedir nada disso - de facto, ouvimos de autoridades federais, estaduais e até mesmo locais que os diplomatas chineses estão insistindo agressivamente no apoio à China para lidar com a crise da COVID-19.
Sim, isto está acontecendo tanto em nível federal quanto estadual. Não há muito tempo, tivemos um senador estadual americano que, recentemente foi até solicitado a incluir uma resolução apoiando a resposta da China à pandemia. Ameaças ao Estado de Direito na América - O ponto principal é este: Todas essas pressões aparentemente inconsequentes somam-se a um ambiente político no qual os americanos se vêem à mercê do Partido Comunista Chinês. Durante todo esse tempo, o governo chinês e o Partido Comunista violaram descaradamente normas bem estabelecidas e o Estado de Direito.
Desde 2014, o secretário-geral chinês Xi Jinping, tem liderado um programa conhecido como “Caça à Raposa”. Agora, a China descreve a Caça à Raposa como um tipo de campanha internacional anticorrupção – e, não é assim. Em vez disso, a Caça à Raposa é uma oferta abrangente do Secretário-geral Xi para atingir cidadãos chineses que ele vê como ameaças e que vivem fora da China, em todo o mundo. Estamos falando de rivais políticos, dissidentes e críticos que procuram expor as extensas violações dos direitos humanos na China. Centenas de vítimas da Caça à Raposa que eles visam moram aqui mesmo nos Estados Unidos e muitos são cidadãos americanos ou portadores de “Green Card”.
Bem!? Em Portugal será o “Golden Card” com direito a cidadania sem sequer saberem dizer um “Bom Dia” ou “Obrigado”. O governo chinês quer forçá-los a voltar à China e as tácticas chinesas para conseguir coisas chocantes. Quando não for possível localizar um alvo da Caça à Raposa, o governo chinês envia um emissário para visitar a família do alvo aqui nos Estados Unidos ou lá aonde o seja, por esses países, seja na Europa ou África. Qual a mensagem que eles mandaram transmitir? O alvo tinha ou tem duas opções: voltar à China imediatamente ou cometer suicídio. E o que acontece quando os alvos da Caça à Raposa se recusam a retornar à China? No passado, seus familiares, tanto fora quanto na China, foram ou são ameaçados, coagidos e os que voltarem à China são até presos para serem usados como influência ou enviados para um campo de reabilitação.
Christopher Wray, Director do Departamento Federal de Investigação Instituto Hudson: -Vou aproveitar esta oportunidade para observar que, se você acredita que o governo chinês está visando você - que você é uma vítima potencial da Caça à Raposa - por favor, procure o escritório do FBI mais próximo de você. Compreendendo como uma nação poderia se engajar nestas tácticas, chego à terceira coisa que o povo americano precisa se lembrar: que a China tem um sistema fundamentalmente diferente do nosso - e está fazendo tudo o que pode para explorar a abertura do nosso, ao mesmo tempo em que aproveita seu próprio sistema fechado. Muitas das distinções que têm grande significado aqui nos Estados Unidos são ténues ou quase inexistentes na China - estou falando de distinções entre o governo e o Partido Comunista Chinês, entre os sectores civil e militar e entre o estado e o sector “privado”.
Por um lado, um grande número de grandes empresas chinesas são empresas estatais - literalmente de propriedade do governo e, portanto, do Partido. E, mesmo que não sejam, as leis da China permitem que seu governo obrigue qualquer empresa chinesa a fornecer qualquer informação que solicite - inclusive dados de cidadãos americanos. Por certo o mesmo acontecerá pelos países da América do Sul, África e Europa. Além disso, as empresas chinesas de tamanho significativo são legalmente obrigadas a ter “células” do Partido Comunista dentro delas para mantê-las alinhadas. Ainda mais alarmante é o facto de que células do Partido Comunista têm sido estabelecidas em algumas empresas americanas que operam na China como um custo de fazer negócios lá…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
CONHECER MELHOR O BRASIL – CORTIÇOS
1ª Parte - Crónica 3390 – 11.05.2023 - N´Guzu é força (Kimbundo)
Por T´Chingange (Otchingandji) – Na Pajuçara de Maceió
C.A. CORTIÇOS – Era como se chamava às habitações colectivas que de forma desordenada faziam um conjunto de casebres, aonde viviam os segmentos mais pobres da população, sobretudo nos aglomerados existentes no centro do Rio de Janeiro a partir de meados do século XIX. Num cortiço de abelhas, havia melhor organização! Nesta época o aumento populacional vinha-se incrementando desde 1808 com a chegada da Corte portuguesa tornando-se cada vez mais expressiva, pela ampliação crescente dos fluxos migratórios, sobretudo de portugueses e italianos.
Emigrantes portugueses que na metrópole, já faziam trabalhos para os senhores do reino, em trabalhos auxiliardes como costureiras, padeiros, cozinheiras e condutores de coches ou cuidadores de animais domésticos dos nobres. Eram os chamados condomínios de hoje só que, sem as condições de boa habitualidade pois que nem havia os instrumentos de lei, nem humanos, para tal; tudo era feito ao jeito e necessidade de cada um, puxadinhos anexos, desenrasca com os materiais mais díspares, normalmente mais económicos.
Já no século XX, pude vivenciar em jovem, esta forma de trabalhadores sem formação especial, que assim viviam na Luanda em expansão, do outro lado do Atlântico, a capital de Angola e, que em tudo se parecia com o Brasil. Mais tarde também verifiquei haver cortiços em Argentina em um lugar conhecido por “Barrio el Caminito” junto ao porto de Buenos Aires. Todo colorido, alegre, com construções diferentes e inusitadas. Antigo lugar de bodegas aonde se dançava o tango na gesta italiana. Em todas estas áreas de cortiço viviam imigrantes analfabetos. Ser-se pedreiro, calceteiro ou marceneiro era já de um razoável estatuto social.
Mesmo com a tendência à diminuição do número de escravos por motivo da extinção do tráfico africano, ano de 1850, apesar da crescente ampliação na estrutura urbana, mantendo ainda, as oportunidades de emprego reduzidas; isto, agravava as condições de vida da maior parte da população. Para álem das dificuldades no acesso à alimentação, o problema habitacional tornava-se cada vez mais grave. O relatório do Ministro dos Negócios do Império relativos a 1868, registou a presença de 642 cortiços na cidade do Rio de Janeiro distribuídos por várias paróquias sendo a de Santana a que tinha maior número delas, 154 almas, seguida da Glória com 107,
Havia muitas mais em várias paroquias que funcionavam em paralelo com estalagens ou cómodos, casas de pasto e barracas de livres, libertos pobres e também escravos ao ganho, que vendiam seu trabalho como carregadores, recolectores, artesãos, ambulantes camelós, ficando obrigados a pagar por percentual ao seu proprietário ao qual haviam obtido de seus senhores a autorização de “viverem sobre si”- fora do tecto de seus senhores.
Em realidade ainda hoje existem estes tipos de cortiços na maior parte das cidades e de Norte a Sul, estando a maioria incridos em favelas ou musseques ou bairros de lata e bidonvilles - (Brasil e Angola, Portugal e França), aonde os camelós entre outros trabalhadores como empregados de baixas tarefas, vivem; lugar bem perto das grandes urbes como São Paulo ou Rio de Janeiro ou uma qualquer outra cidade aonde vivem outros cidadãos mais cotados e recebendo melhores vencimentos mas, necessitados de alguém para as várias tarefas domésticas.
Na Europa há nos dias de hoje cortiços sofisticados para turistas designados de AL – Alojamento Local e AT – Alojamento turístico. Tudo adaptado às normas de vida moderna com exigente regulamentação com fiscalização de organismos estatais ou municipais que dão garantias de segurança tendo para o efeito passado por um crivo apetado de normas como sistemas de aquecimento, águas correntes e esgotos, protecção contra ruidos e efeito térmico funcional e, segundo normas de higiene e segurança com piscinas colectivas individuais ou colectivas vigiadas; tudo sujeito a impostos de imoveis entre outras alcavalas que garantem o andamento das muitas actividades circunscritas ao efeito do turismo.
Os governos sempre encontram uma pernafernália de instrumentos para no fim do ano levarem à vontade 50% dos eventuais ganhos; os políticos sempre se encarregam de juntar mais uma vírgula com cheiro a dinheiro vivo. Mas no Cortiço original que surgiu no Brasil, não tendo nesse então uma esmerada atenção por parte do fisco, havia contacto entre vizinhos, entreajuda com solidariedade que hoje é bem rara. Raras porque, em blocos de habitação da urbe, nem se cumprimentam; fogem de contactos encharcados na televisão. Passam-se anos sem se relacionarem ou com uma saudação de bom dia e edecéteras arrancados à pressão…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DA KIZOMBA – “SONHAJANDO A VIDA”
CHERNOBYL . 2 - Crónica 3389 – 10.05.2023
A democracia portuguesa está a ficar uma imperfeita equação atómica a copiar o E=mc²
– Estado está igual a Marcelo.Costa elevado ao quadrado…kiákiákiá
Por T´Chingange (Otchingandji) Na Pajuçara de Maceió
Não fui lá mas, também não quero ir a cuspir fogo - torna-se perigoso manusear ali, factos em artefactos vaporizados. Poderei fazê-lo como “nómada digital” informado que estou que, por ali a quietude é fantasmagórica. Mesmo antes do desastre na central nuclear, o facto de haver letreiros a dizer “carne”, “leite”, “queijo”, entre outros – não queria dizer que os houvesse.
Tratava-se da União Soviética ou URSS, onde o fosso entre a imagem projectada pela propaganda governamental e a realidade, só era ultrapassada pelas anedotas. Uma delas dizia: “Se quiseres encher o frigorífico de comida, liga-o á telefonia”. A rádio espalhava a estória em como o nível de vida melhorava constantemente enquanto a geleira vazia mostrava uma outra estória, bem diferente.
Nos dias de hoje este tipo de falas mentirosas, passam nas televisões lá na Rússia em substituição das rádios por escritos de vendedores de assinatura pagos a preço de oiro. “Quer ter a casa cheia, ligue a TV directamente ao frigorífico”. Comentadeiros mentirosos, que mesmo fora desta URSS/ Rússia e, também no Portugal de Costa & Selfito, Isso! Com as canetadas esquerdistas de jornaleiros pseudo resilientes que só o são para serem custeados pelo Fundo de Recuperação do Banco Central – É assim como uma pescadinha de rabo na boca.
Os de lá e os de cá, os jornaleiros, são pagos ao tal preço de oiro para serem bons pintores. E, ou é da minha vista ou este processo de usar falácia nos meios de informação, generalizou-se por muitos nómadas digitais, jornaleiros que cospem fogo até pelas orelhas, consagrando-se no progressismo dito socialista, talqualmente como os comunistas - é moda ser-se assim, esquerdista. Artistas de “cospe fogo” só consagrados na arte de defraudar a sociedade em proveito próprio.
Quando tudo está mal, só pode ficar pior, é quando se dá o caso de aparecerem legiões de desmilinguidos vendendo a alma ao diabo.Torna-se lamentável que nos dias de hoje não haja uma verdadeira RD - Revolução de Dignidade que acabe com essa ilusão, de que sim! Ser-se de esquerda é subir na cotação; não vejo em quê, juro! Estou sim incomodado! Porque Democracia portuguesa está a ficar uma imperfeita equação atómica a copiar o E=mc² – Estado está igual a Marcelo x Costa elevado ao quadrado…kiákiákiá
Como é possível que todos se calem desses secretismos, das muitas manigâncias nascidas do KGB, amachucando nossos valores, escamoteando factos. Valores pisoteados que adulteram as constituições instituídas; E, feito executada com gente que deveria ser guardiã da lei e da ordem, mantendo cativas ou açambarcadas a justiça que sempre se propuseram ser céleres.
O permanente uso da máquina estatal para nos plastificarem o pensamento, coisas inauditas a serem vivenciadas no mundo Lusófono. Tudo o dito, usando influenciadores, também uma forma de proporcionarem radiações que tal como reactores causam no tempo, problemas de tiróide, e formas outras imprevistas que inevitavelmente sacrificam nossa saúde, uma fusão com profusão de maleitas congénitas.
Nas minhas narrativas de vida sempre haverá uma perspectiva de desastre nestes efeitos nefastos sociais e culturais desses ventos de Leste. O peso dessas ideologias colectivas tendem para o ódio, o desprezo pela vida alheia como o que se observa nessa guerra da Ucrânia, vencer a qualquer preço, eliminando aleatoriamente gente inocente de todo, sem um pingo de humana compreensão, disfunção feita barbárie gratuita, uma imperfeita equação…
Nota*: E=mc² é uma equação da física moderna utilizada como parte da Teoria ou Princípio da Relatividade, desenvolvida pelo físico alemão Albert Einstein.
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DA KIZOMBA – “SONHAJANDO A VIDA”
Crónica 3367 – 14.04.2023 - PAJUÇARA - Em Maceió como Zelador-Mor do Zumbi de N´Gola…
Por:T´Chingange (Otchingandji) – No San Lorenzo da Ponta Verde.
Já sentado na cadeira emprestado pelo Conde do Grafanil, olho o buraco-casa do meu amigo cirí e, nada de ele aparecer. Só mesmo o buraco aberto, escancarado e virado ao céu com um montículo de areia mais avermelhada retirada bem do fundo da sua caverna e, disposta em volta do buraco como se o fosse uma cratera de vulcão.
Coloquei um bago de jinguba bem na entrada, fui fazer no mar a minha ginástica habitual e, quando regressei o bago de jinguba estava bem no sopé exterior da escarpa da cratera – rejeitou-o, simplesmente; sundiameno! De vez em quando olho o buraco bem do lado direito e tudo está igual. Neste entretanto e por acaso passa a mulher caranguejo, explico: na ginástica dela percorre alternadamente e repetidamente para trás; anda de marcha-a-ré para fazer recuar a velhice.
Assim, mesmo sentado vou lambendo a fantasia dela de afinal quando é que a velhice começa surgindo de dentro da mocidade. Descaminhando ginástica de para trás, ela que já é um pouco kota, agarra a juventude nesta prática exercitada. Eu sou o que sou mas ela, mesmo andando à ré, continua a ser ela… A mulher caranguejo já nem me via há dois anos mas, reconheceu-me; quis saber notícias das balelas que todos já sabem.
Quis saber da senhora Ibib, quedê ela? De novo aos olhos da minha vazante, a maré já começava a subir, falei que minha senhora ficou no M´puto disse, em tratamento de paludismo. Falei só assim por falar pois já quase eram horas de regressar ao meu mukifo, passar na farmácia e comprar um negócio de eliminar a flor-do-congo que já dava coceira nas partes de entre o saturno e plutão e também nos braços, minha herança de Angola; eu saí dela mas ela, não saiu de mim…
Acho que é uma filária que anda passeando férias no meu corpo como se estivesse em Acapulco e até por vezes desce às matubas do meu descontentamento perturbando o plim-plau do Kwanza. Ela, a mulher Caranguejo após minha intrincada explicação com edecéteras muito periclitantes acabou por dizer: A vida é mesmo assim…
As melhoras para ela, inté! Agradeci-lhe com a convicção de que nem sabia o que era isso de paludismo; isso pouco interessa pois que nem havia verdade na conversa de simpatia… Chegado ao mukifo do conde do Grafanil, tomei o meu café da manhã “santa clara” e provei a canjica de milho branco com umas sementes de girassol com erva-doce porque a memória que Deus me deu não foi para palavrear às arrecuas; andando assim como a mulher caranguejo.
Todos iremos morder o pó ou o fogo consoante a forma como desejarmos dispor do nosso bem-amado esqueleto. E falo isto agora, porque ainda me é permitido, porque eventualmente, em um futuro próximo já não me permitirão mais dizer o que penso. A vida anda muito perigosa; minha mente não rebuscou os estudos escatológicos da marca da besta que para mim é a mesma coisa.
Comecei esta crónica sem saber como ia acontecer e lendo um artigo de Majo Sacagami fiquei a saber que não é bom fazer amizade com um caranguejo e, assim matutando desconsegui concluir meu raciocínio perturbando até meus fios de cabelo já extintos do cocuruto da cuca. É bem verdade, o buraco negro está a cinquenta anos-luz, que se lixe… Pelo sim pelo não, o Sundiameno cirí, amanhã está prometido: vai ser tooparioba (com dois ós para se ler u) Como o mexilhão do mar, dentro duma concha dura, tenho de viver entre pedras, como a escolopendra (que deve ser caranguejo, lagartixa ou bicho com mil pés) entre as fendas da lava. Que até tem pedras a toda a volta, de lado e por cima. Fui!
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DA VIDA
Crónica 3356 de 28.03.2023Na Pajuçara do Brasil
Um homem sem a liberdade de ser e agir, por mais que conheça ou possua, não é nada…
Por T´Chingange (Otchingandji) - No Nordeste Brasileiro
O destino da humanidade repousa irremediavelmente e, cada vez mais que nunca, sobre as forças morais do homem. Se se quiser uma vida livre e feliz, forçosamente haverá necessidade de se restringir ao essencial e renunciar a muitas tentações; daqui dizer-se estar-se sempre na mesma - só que com outros nomes! As maneiras de estar no mundo mudaram, ou foram forçadas a mudar - seus hábitos, atitudes ficaram algo periclitantes por força de novas imposições sociais, maneirismos, vaidades ou futilidades.
Uma grande parte de nós mente a si mesmo por conveniência, laxismo ou “deixa andar” e, nem se dá conta disso. Em tempos idos (tenho quase 78 anos) havia criados, contínuos, serventes, ajudantes, acessoristas ou aprendizes de qualquer coisa. Hoje o destino da humanidade repousa sobre os valores morais que conseguem suscitar em si mesma por indução, por convicção, por instrumentalização ou por coisas ordeiras no ponto de vista sindicalista.
Nessa forma de estar com “Maria, vai com as outras”, no descaso da prática, nada mudou – só sofisticações para criar escalões de coturno ou por maluqueira dum qualquer visionário político que se ache, que “quer mudar o mundo” com as inaltecências e edecéteras bizarronas. Aos criados chama-se desde algum tempo, cuidadores com múltiplas variantes como apoio da terceira idade. Aos contínuos, auxiliares da acção escolar e, técnicos ecológicos aos antigos varredores ou qualquer outra função segundo uma escala de ascensão e parâmetros de carreira com exclusão da 3ª classe porque esta é altamente vexatória.
Ser-se assim duma tamanha desclassificação não pode! Assim, vem auxiliar de segunda classe que sobe para primeira, segue-se técnico de 2ª, depois 1ª, depois principal, especialista e edecéteras que por aí vai. Ora um ascensorista que só tem de saber carregar um botão com um único dedo, como então, vai seguir na subida da vida chegando a especialista funcionário! Isto traz-me muita confusão ao ponto que, até me tem fundido as lâmpadas do meu ego cerebral.
Todos, ou quase, percebemos que o livre jogo das forças económicas, governos e governistas com afins circunscritos, interesse da causa, o esforço desordenado e sem freios dos indivíduos para dominar e adquirir a qualquer custo um poleiro digno - problema que, simplesmente deveria ser de cacaracá. Um barbeiro sempre será um fulano que corta cabelos nué? Tanto roubo, tanta hipocrisia e corruptela têm de ser misturados nestes entretantos que ocupam montes de psicólogos, psicanalistas e desclassificados a fingir que o são: Competentes ou comentadores; também estes, especialistas; se for assuntos de guerra sempre vai aparecer um major general de nem sei quantas estrelas. O mundo está doidão!
Um apanhador de lixo não pode ser um técnico superior de ecologia nué? Ou Noé? O estado deverá ser permanentemente inovador nas áreas de educação na pesquisa séria e com substância. Será com novas áreas de modernidade e novos paradigmas que se alcançará o bem-estar social. Só que não basta mudar o nome da treta para mudar-se a atitude. Também se na vida económica de um povo, o egoísmo e corrupção persistirem - o “monstro”, inevitavelmente derrotará a democracia a papelocracia, a burocracia e coisas inúteis tal como a conhecemos e concebemos.
A política tornar-se-á tão nefasta que no dia-a-dia perigará a condição em se ser um cidadão honesto. Os estragos serão cada vez mais atrozes ao entendimento da gente que cada vez mais detestará a política e os políticos. Detestará também os sindicatos e sindicalistas manobradores. A menos que os homens descubram e bem depressa, os meios de se protegerem deste desequilíbrio ético, caminhando rapidamente para guerras internas…
E, a dúvida de todos ou de uma grande parte subsistirá porque, quando se trata de ser ou não ser, as regras e compromissos, nada valem. Sei-o por experiência própria em um tempo não tão distante: 1975 – Um tal de acordo de Alvor – lugar do M´Puto! Aonde então, se meteram os estadistas? Diriam como salvaguarda posterior serem medidas revolucionárias! A evolução dos últimos anos põe em foco o facto de termos muito poucas razões para confiar nos governos; em confiar na ética e responsabilidade desses tais de gente impoluta – 5 estrelas.
As dispersões de opinião serão cada vez mais vincadas, originando uma incerta forma de governo e, proporcionando, o aparecimento de associações do tipo geringonça. Estas terão pela certa jogos de sociedade respeitando escrupulosamente sua visão ideológica, suas regras, suas normas, seus interesses. A confiabilidade dissolver-se-á assim, em permanentes duvidas e, nisto de assim ser, não há objectores de consciência. Na verdade trata-se de uma prática desigual ou ilegal; um combate pelo direito real dos homens contra seus governos já que estes, exigem de seus cidadãos actos criminosos de demasiados e injustos impostos, demasiadas e desadequadas leis.
O Soba T´Chingange
O Mundo actual tornou-se um espaço muito complicado. A justiça, é uma treta…
Crónica 3354 - a 10.03.2023.
Por T'Chingange (Otchingandji) no AlGharb do M´Puto
Os cidadãos hodiernos são fartos de valores; o difícil é a aplicação desses valores num mundo globalizado complexo. Mesmo que fique quietinho no meu canto sempre haverá um socialista muito perfumado em valores a perturbar a minha quietude, retirando cotação à minha tranquila vida, sem ter nada a ver com essa tal de exploração infantil, ou actos violentos cometidos por soldados do tempo colonial.
Os defensores dos direitos dos animais lembrar-me-ão que dar ossos ao cão pode ser perigoso, bem como dar espinhas de sardinha ou sargo ao tareco, porque podem causar ulceras; os naturalistas irão insistir com persistência que devo lavar os dentes com seiva filtrada de aloé vera feita baba-de-camelo e por aí vaí, sem mencionar as lambisgóias oferecidas que surgem do nada na minha página escancaradas a oferecerem alvissaras – Cruzes credo!
Os activistas de esquerda lembrar-me-ão que minha reforma foi criada a custo de exploração de alguém e sem mais nem menos, lembrarão a exploração de gente desmilinguida com crimes hediondos da História incluindo-me no rol de engravidados de fortuna arregimentada no exercício de cargos, cargos dum tal de sistema que nunca exerci. E, afinal que culpa terei eu? Não é fácil desfazer o conceito pois que minha existência depende de uma grande rede de ligações económicas e politicas nas ideias causais com ideais que outros formataram por mim, mesmo sem delegação firmada .
E, uma vez que essas ideias causais do mundo se misturam tanto, é-me difícil responder às perguntas simples, tais como de onde veio o meu jantar ou de quem fez as minhas botas que tenho calçadas. Também se metem com a minha minguada aposentação querendo saber qual o fundo financeiro e a cor dele, do meu pecúlio. Já velho, pois quase sou do tempo em que as pessoas só tinham um fundo de pensões chamado de “filhos”, dá voltas ao cerebelo. Hoje que há escritórios repletos de advogados conciliando os cofres do estado estudam parâmetros, redescobrem furos da lei e modos de fanar, de como fazer no esmiuçar matemático das taxas para suprirem suas necessidades governamentais, uns finórios…
Esmiuçando um tal e um qual, até querem saber qual o destino das galinhas de cujos ovos comi ontem ao jantar. Estruturam o esquema da economia estatal do modo de quem não faz esforço de investigar o quanto gastei na chocadeira sem averiguar as reais dificuldades. Depois de tudo só poderei ter alguma ganho se criar aos fiscais as certas dificuldades em descobrirem a verdade. Penetram na minha casa ajustando-a e dando fins ao modo de como posso explorá-la a contento dos “lóbis hoteleiros” como se o fossem, donos dela! Estalinistas!
E, então como é possível evitar o roubo ou lucro quando o sistema nacional tabelado com a economia mundial, estar constantemente a roubar em meu nome e sem o meu conhecimento. Como é!? O mandamento que nos dita que não devo roubar, dizem que vindo de Deus, acredito piamente, foi formatado num tempo em que roubar significava apoderarmo-nos fisicamente de algo que não nos pertencia. Hoje, porem, as discussões importantes sobre os roubos dizem respeito a cenários bem diferentes pois que com chancela do governo retiram de nosso pecúlio somando milhões para dar vida a uma CP – Comboio de Portugal ou de uma TAP – Transportes Aéreos de Portugal, mantendo legiões de advogados ajustados com políticos dados à corruptela para protegerem os deslizes.
Posso então ser eu o responsável pelo roubo, pelo desvio, pelo despifarrar, corruptela ou compadrio!? E, como podemos agir moralmente, com sucesso e sem custos, se não temos forma de conhecer todos os factos de traquinices?
A amarga verdade é a de que o mundo se tornou demasiado complicado para o nosso cérebro de cidadão, gente de pé-de-chinelo. E, afinal todos seremos cúmplices por acreditarmos nos valores daqueles tais senhores, daquele grupo político, do presidente rolha, da chusma de gente com rabos-de-palha que nunca deve nada ao fisco, gente de falsa “Ficha Limpa”. Não vale a pena! A elite que nos comanda, que domina o discurso, torna-se quase impossível ignorar suas perspectivas. Eles, os grupos políticos, têm subgrupos, labirintas barreiras, critérios e ambiguidades e até insultos a nozes (plural de nós); insultos mesmo, codificados com discriminação institucional. Eles, sempre irão fazer de nozes: Totós.
O Soba T´Chingange
ENTRE OS PINGOS DA CHUVA
Crónica 3353 de 06.03.2023 no AlGharb do M´Puto
PorT´Chingange (Otchingandji)
Nos dias de hoje, como poderemos descobrir a verdade acerca do mundo e evitar cair nas garras da propaganda dos Fake News e de desinformação - notícias falsas ou informações mentirosas que são compartilhadas como se fossem reais e verdadeiras, divulgadas em contextos virtuais, especialmente em redes sociais ou em aplicativos para compartilhamento de mensagens. O termo, embora largamente usado, ainda não foi formalmente integrado à lista de palavras da Língua Portuguesa, tratando-se portanto de um estrangeirismo.
E, sempre iremos ficar com a incómoda sensação de que tudo é demais para nosso cabal conhecimento pois decerto, não iremos assimilar tudo; acho mesmo que ninguém o irá conseguir sem recorrer à inteligência artificial. A democracia, baseia-se na ideia de que o eleitor é que sabe, que o capitalismo de mercado livre considera que o cliente tem sempre razão e, que o sistema educativo ensina os alunos a pensarem pela própria cabeça.
Em verdade, é um erro depositar tanta confiança no individuo racional. Este suposto individuo pode muito bem ser uma fantasia que glorifica a autonomia e o poder dos homens de classe alta ou de suposto alto coturno. O Mundo anda frustrado e ninguém sozinho, sabe tudo o que é preciso para fazer uma catedral gótica ou romana, assim como uma bomba nuclear ou um avião supersónico.
Pude mais ou menos, ler estas dissertações nas 21 lições pra o século XXI de Yuval Harari que um caçador da idade da pedra sabia fabricar sua própria roupa, seu sapatos, fazer fogo, caçar javalis e fugir dos leões mas hoje, pensando que sabemos muito mais, como indivíduos, em realidade sabemos muito menos. Dependemos dos conhecimentos especializados dos outros no que diz respeito a quase todas as nossas necessidades.
Todos temos a ilusão de conhecimento embora individualmente saibamos muito pouco pois tratamos o conhecimento nas mentes dos outros como se fosse nosso. Numa perspectiva evolutiva, confiar no conhecimento dos outros trouxe evolução ao homem mas, e porque o Mundo está a tornar-se cada vez mais complexo, os seres humanos não conseguem compreender a extensão de sua ignorância quanto ao que se passa em seu redor, das leis de seu governo e amolgadelas em seu cofre económico com taxas subterfugias.
Por sequência, técnicos genuínos que nada sabem de metereologia ou biologia, propõem políticas sobre as alterações climáticas, advogados falam sobre os alimentos transgénicos ou genéticamente modificados, ao passo que outros, sempre classificados como especialistas, ou graduados peritos militares, têm pontos de vista muito fortes sobre o que se deve fazer no Iraque, no Irão ou na Ucrânia em guerra. É raro as pessoas (algumas), contemplarem a sua ignorância pois que se fecham numa caixa-de-ressonância de amigos que pensam como eles ou canais noticiosos que reforçam suas convicções mesmo sem o serem questionados. Alguns propalam-se no sentido de se alcandorarem a cargos mais altos no gabarito da gestão pública.
A maioria de nossos pontos de vista é moldada pelo pensamento de grupo e, não pela individualidade racional; convém dizer que também nos agarramos ao erro, narrativas ou perspectivas devido à lealdade ao grupo. Mutas vezes caímos no logro deste ou daquele personagem e, ficamos defraudados com tal figura decepcionante, gente que deveria ter o porte de estadista e sai um vulgar pé-de-chinelo com truques de cacaracá e até falsidades. A maioria dos seres humanos não gosta de factos em excesso e, certamente não gosta de se sentir estupidamente enganado.
As democracias modernas estão cheias de multidão a aplaudir e a seguir como ovelhas, gente supostamente sábia e que só diz besteira para bode dormir. E, todos repetem: “o eleitor é que sabe!”, “o eleitor é que sabe!”. Explorando becos sem saída aparente crio muitos esparadrapos de fricção de muita dúvida. Surge daqui o tédio em sempre esperar que as pequenas sementes de lucidez cresçam e floresçam. Agora, mais velho, sei que o poder em grande quantidade (muitas paletes), isso da maioria absoluta, distorce a verdade inevitavelmente e, muito repetidamente! É um Ai Jesus nos acuda. Quando temos uma marreta na mão tudo nos parece um prego. Bem! O poder engravidado funciona como um buraco negro que distorce todo o espaço ao seu redor. Para além do Acosta, o Selfito põe-me CAFUZO…
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
Crónica 3352 – 25.02.2023 em AlGharb do M´Puto
PorT´Chingange (Otchingandji)
Pude ler e, agora transcrevo ao meu jeito, que todos os mamíferos em sociedade como macacos, golfinhos ou lobos, têm códigos éticos adaptados pela evolução, para se promoverem na cooperação de um grupo. Os mamíferos humanos também têm esses códigos mas, ao longo de milénios foram sacrificando sua prática usando inverdades para subirem de estatuto no grupo social usando derivações e modos de falar com sofismas e maneirismos nada comparáveis com o aprumo dos demais animais ditos irracionais.
Uns serão safados, bestas, ladrões mas todos, em geral, aspiram subir na escala, mesmo que seja atrapalhando os outros. Usam a mentira ou a fraude acomodando-se quando têm descaramento, lata ou dialéctica para se superarem perante a tibieza dos demais. Enquanto os lobos usam regras de “jogo limpo” os homens mordem o adversário com agressivos dizeres, acções de pintar e bordar julgando em casa própria e até (quando políticos), refazem as leis a seu contento com a satisfação inerente ao seu ego. Todos serão iguais mas, sempre há uns mais diferentes…
A democracia tão badalada fica assim eivada de truques enganadores com falácias recobertas em creme doce ou baba-de-camelo. Entre os macacos nem o alfa-macho retira a banana que um outro encontra para se alimentar. “Não matar” e “Não roubar” eram principios bem conhecidos dos códigos legais e ética das cidades estado sumérias do Egipto faraónico e do Império babilónico. Lembrar Hamurabi que dizia ter recebido dos grandes deuses a instrução: “demonstrar-se justiça sobre a terra, destruir-se o mal e malevolência, e impedir os fortes de explorarem os fracos”.
Ao invés de tudo isto a corrupção oficial sufoca-nos com entupimento de taxas e muitas mais alcavalas entupindo-nos as narinas, olhos e orelhas secando-nos os bolsos. Em verdade, entre os judeus já havia mandamentos para amar o próximo não havendo qualquer mandamento para amar os gentios.
A Bíblia ordenava (e ainda ordena aos judeus) que exterminar certos povos como os amalaquitas, e os cananeus - "Contudo, nas cidades das nações que o Senhor, o seu Deus, dá a vocês por herança, não deixem vivo nenhum ser que respira”; “Conforme a ordem do Senhor, o seu Deus, destruam totalmente os hititas, os amorreus, os cananeus, os ferezeus, os heveus e os jebuseus – assim o diziam: como Deus seu senhor, ordenou”… Podemos ler isso em Deuteronómio, 20.16-17.
Putin, o senhor da Rússia, deve ter esta passagem bem por debaixo de seu travesseiro pois que segue a descrição desse “Velho Testamento. Testamento que detesto com dentes rilhados, sendo em verdade o primeiríssimo registo da história humana e, em que o genocídio foi apresentado como um dever religioso. Vejamos: O cristianismo divergiu do judaísmo exactamente por isso! Tudo mudou com o surgir do apóstolo S. Paulo em sua Epistola aos Gálatas - Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Jesus Cristo (Gálatas 3:28)
Pópilas! Caramba…ainda bem que surgiu S. Paulo que pela primeiríssima vez afirmou que como um ser humano, pregou uma ética universal. Desta feita e em consideração a esta postura santa, deduzo por reflexão que a Bíblia está, ela também, longe de ser uma fonte exclusiva de moralidade humana. Confúcio, São Tomé, Buda e Mahavira estipularam códigos éticos em outros moldes e muito antes de S. Paulo e Jesus, sem nada saberem sobre a terra de Canaã ou sobre os profetas de Israel.
Pelo dito, não tem qualquer sentido atribuir ao judaísmo e aos seus descendentes cristãos e muçulmanos a criação da moral humana. Por via disto não venero ninguém para não ser apodado de preconceituoso! Só sei que ainda ando a reconstruir-me revendo a moral como uma utopia.
O Soba T´Chingange
Hoje as munições de precisão são comandadas por computadores mas, os kamikazes eram aviões banais cheios de explosivos, comandados por pilotos dispostos a morrerem nessas missões suicidas. Era um espírito de sacrifício levado à morte pela crença Shinto; quem sabe se os russos nesta guerra actual com a Ucrânia não obrigarão prisioneiros a enveredar por esta versão de sacrifício humano. Tudo pode acontecer! Nas guerras nunca se sabe como vai ser seu fim.
Convém recordar que o Shinto estatal japonês deriva do cristianismo ortodoxo praticado na Rússia, pelo cristianismo da Polónia, pelo islão xiita do Irão e pelo judaísmo de Israel. Pela lei da vida ou obrigado a relembrar que o mesmo oxigénio que nos dá a vida, também nos leva à morte por oxidação; é uma questão de tempo. O mesmo oxigénio necessário para fazer o vinho, o torna ácido em contacto com o ar; o mesmo sucede com o ferro que em escassos anos se desfaz em ferrugem.
Os terroristas kamikazes e gente comum forçados por rapto em um grande avião, demoliram as torres gémeas nos EUA, no World Trade Center, foi uma prática terrorista com intenso efeito audiovisual. A actual guerra na Ucrânia por invasão russa, tem como função macabra mudar o equilíbrio do poder político através da destruição maciça de pontos de infraestruturas civis. É o medo levado ao extremo sacrificando o comum cidadão.
Centenas de organizações terroristas foram extintas nas últimas décadas mas, o mundo nunca se deparou com um estado terroristadestruindo aleatoriamente infraestruturas não militares, vitimando o povo a não poder fazer uma vida normal, não se aquecer, a sequente fome e todos os transtornos inimagináveis. O líder Putin, a todo o custo tem de ser abatido com um tiro certeiro. Esta besta tem-se revelado como um jogador de poker, que tem na mão um conjunto de cartas e que tenta a todo o momento convencer com bluff os rivais no embaralhar das cartas.
A CAMINHA DA RECESSÃO – De cada 100 euros de PIB, 39% vão para o estado
Crónica 3345 – a 15.01.2023, em um Domingo
PorT'Chingange (Otchingandji) no AlGharb do M´Puto
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Winston Churchill afirmou que a democracia é o pior Sistema político, à excepção de todos os outros. Nesta e em muitas outras situações, as emoções humanas sobressaem às teorias filosóficas. Quantos cristãos, judeus ou budistas estarão imunes às singularidades do ego amando em realidade o próximo como a si mesmos!?
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Seres humanos, zangados, raivosos ou anciosos matam milhões de outras pessoas em desavenças, guerras ou acidentes rodoviários. Recentemente morreu um pensador nascido Joseph Aloisius Ratzinger e tornado Papa com o nome de Bento XVI; teremos de reflectir de vez em quando, pelo menos, em como depurar nossos programas de vida para nos livrarmos dos muitos e variados preconceitos humanos.
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Ao longo da estória, a dificuldade em fazer cumprir as leis foi uma boa protecção contra os preconceitos e erros dos legisladores. Se assim não acontecer, deve o estado intervir regulando o código de ética?
:::::4 -
Sim! Pois queremos um sistema em que as decisões de políticos falíveis, se tornem inexoráveis! Que não cedam a rogos nem a lágrimas se tiverem curriculum de FICHA LIMPA! Caso contrário será melhor ficarem no seu canto gerindo seu galinheiro. Que o seja como prescreve a Lei de Peter ou como o é a lei da gravidade de Murphy. Pude ler isto de outro jeito no livro de Ywal Harari em seu livro das 21 lições para o século XXI.
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E, também li algures que não estamos a fazer grande coisa para investigar e desenvolver as capacidades humanas, segundo as necessidades do sistema económico e político em detrimento de favores e benesses indevidas…
:::6
Pode aperceber-se assim, que será possível que toda a riqueza de uma Nação e todo o poder fiquem concentrados nas mãos de uma elite ínfima, um Governo de Maioria Absoluta, famílias e afins, enquanto a maioria das pessoas, os cidadãos, sofrem não de exploração mas, algo muito pior: -De Irrelevância…
O Soba T´Chingange
A TEORIA DA MENTIRA
Crónica 3344 – 14.01.2023 em AlGharb do M´Puto
Por T´Chingange (Otchingandji)
Pesquisando vários pensadores acerca do tema da mentira, facilmente cheguei ao cerne da pesquisa: Mentir é dizer algo que não é certo, ou algo que é parcialmente certo de acordo com uma parcela muito pequena da realidade que a pessoa escolhe para discutir. Quando a estratégia de comunicação deliberada é baseada neste tipo de argumento para construir relacionamentos, constitui-se uma mentira através de manipulação, o que constitui uma grave violação à ética no trabalho (Pedace, 2011, p.109).
O mentiroso, antes de tudo, omite a verdade e, em seguida, elabora uma declaração alternativa plausível para o ouvinte, ao mesmo tempo em que oculta os sinais do nervosismo. Tal processo implica em um maior uso dos recursos cognitivos do que quando se diz a verdade (Williams, Bott, Patrick, & Lewis, 2013). Para filtrar as inverdades os novos candidatos a fazer parte do governo português, estes, ficarão sujeitos a um escrutínio por formulário composto de 37 perguntas ao qual responderão com um sim ou não. Isto não vai aquecer nem arrefecer e será simplesmente um mecanismo interno para poder ilibar o Primeiro-ministro nas responsabilidades de escolha co-responsabilizando de certa forma o Presidente Marcelo.
A proposta do tal formulário foi discutida na reunião semanal do Governo, em Conselho de Ministros, aprovada pelo Partido da Maioria Absoluta sem avançar detalhes sobre este mecanismo de escrutínio, dos nomes escolhidos para o elenco governativo com muitos edecéteras e por forma a “tapear” a opinião pública já tão saturada de inverdades, arranjos e práticas incestuosas no uso da palavra. O PM Costa socorreu-se da interpretação do "constitucionalista" Marcelo Rebelo de Sousa para clarificar os poderes dos órgãos de soberania.
"Devemos ser muito rigorosos nas competências próprias de cada órgão de soberania, a Constituição é muito clara", lembrando que os "membros do Governo são nomeados pelo Presidente da República sob proposta do Primeiro-ministro". E recorreu à interpretação de Marcelo Rebelo de Sousa sobre o facto de o Presidente da República ter nisto "um poder substancial". Tudo indica que as futuras comissões parlamentares deverão, anunciar quais os géneros de mentiras que aceitam por parte dos convocados e quais os géneros de mentiras que, por parte dos convocados, não aceitam.
Tudo indica que aqui, vai funcionar um ardil para que o PM se iliba das escolhas sob o risco de serem elas, as comissões parlamentares, responsáveis por falta de adequada sinalização, e de o serem por elas convocados vítimas de um logro. Mas, lendo a teoria da mentira segundo Marcelo Rebelo de Sousa: As mentiras são substanciais e insubstanciais. Dividindo-se, porventura, as mentiras substanciais em mentiras muito substanciais, mentiras medianamente substanciais e mentiras pouco substanciais. E, porventura, dividindo-se as mentiras insubstanciais em mentiras muitíssimo insubstanciais, mentiras medianamente insubstanciais e mentiras quase substanciais. Pelo que as comissões parlamentares não deverão exorbitar. Será justo colocar todas as mentiras ao mesmo nível? Por exemplo, dizer que as mentiras muito substanciais valem o mesmo que as mentiras medianamente substanciais e as mentiras pouco substâncias?
Relendo o artigo de Artur Portela, escritor e jornalista chega-se à dúvida: “Não é justo. E será justo, por exemplo, dizer que as mentiras insubstanciais valem o mesmo que as mentiras muitíssimo insubstanciais e que as mentiras quase, mas só quase, substanciais? Que Eu (Artur Portela) permito antecipar-me ao meu querido e velho amigo desde os anos 70 e poucos, arriscando que, para ele, são aceitáveis, em sede de comissão parlamentar, quase todas as mentiras insubstanciais. Vamos, todas. E arriscando que são inaceitáveis, para ele, boa parte das mentiras excessivamente substanciais. Embora, porventura, não todas. Deixando passar as mentiras medianamente substanciais. E as mentiras pouco substanciais. Há que ser generoso. O Povo é sereno. E importa que a verdade não exagere”.
Metido neste molho de brócolos mais me certifico que a Mentira reina sobre o Mundo, digamos que é a frase que paira neste espectáculo encenado por António Costa, o dono do pedaço chamado de PMM - Partido da Maioria Absoluta. Hoje a mentira tem vários nomes, utiliza o utilitarismo, ordem social, senso prático. Ela, a mentira, como ordem social, pode praticar impunemente, todos os assassinatos; é preciso estar alerta… Onde estão então os limites entre a verdade e a mentira? Não são só factos que as caracterizam, mas a maneira como são vistos ou apreendidos, neste espectáculo que vivenciamos.
RESUMO: No contexto da interacção interpessoal, no qual são utilizados recursos comportamentais como gestos, expressões faciais, postura corporal e modulação de voz, destaca-se o fenómeno da mentira, que é caracterizada pela dissimulação de ideias, sentimentos e emoções. Mentir é um processo psicológico pelo qual um indivíduo deliberadamente tenta convencer outra pessoa a aceitar aquilo que o próprio indivíduo sabe que é falso, em benefício próprio ou de outros, para maximizar um ganho ou evitar uma perda (…). A mentira é um acto instintivo e funciona como uma arma de preservação social, no entanto, do ponto de vista jurídico, ela é avaliada por seu dolo, ou seja, pela intenção e pelo prejuízo moral ou material que causa (Castilho, 2011). Um indivíduo pode mentir por ocultação, quando omite informações verdadeiras, mas não apresenta informações falsas, e também por dissimulação, quando apresenta falsas informações como se fossem verdadeiras, retendo aquilo que sabe que é verdade… Fui!
O Soba T´Chingange
T’XIPALA DO M´PUTO - FÁBRICA DE LETRAS DA KIZOMBA
Candengue da Maianga - Mau-olhado – Xicululu – Crónica 3342 – 09.01.2023
PorT´Chingange (Otchingandji) no AlGharb do M´Puto
Desengrenando o meu disco a fim de dar arrumo a todas as mokandas, na rapidez, desconsegui acompanhar a velocidade do pensamento. No espaço de lembranças com odor de tamarindo e gajaja, o branco kandengue que era eu, teria os meus seis anos quando fui tirar a minha primeira fotografia no largo Serpa Pinto. Minha mãe Arminda da Maianga reparou que tinha um escuro de tição no rosto e, ali, entre as acácias da minha rua da Maianga, tirou um lenço de linho de sua bolsa, molhou na língua para amaciar e esfregou este no meu rosto como se eu fosse um gato
Uma gata a lamber seu filhote que era eu. Lembro-me de ter barafustado com coisa tão díspar e chorei de raiva até chegar ao fotógrafo que se situava no largo de Serpa Pinto. A fotografia tirada naquela máquina caixote, com manga preta de esconder susto, parece agora, ter andado num tornado castanho de fúria amarela, pontilhada a cagadelas de mosca.
O relâmpago daquela coisa susteve-me os últimos soluços. Desconsegui saber que já era hiena antes de saber que bicho era esse – um puto reguila da mulola do Rio Seco. Depois foram os apitos roucos dum barco que chegava a um cais, muitas casas compridas e homens em tronco nu segurando um saco com malas de chapa pintadas, bikwatas e cacarecos vários. Gritando ordens e, entre eles dizendo palavrões mais um mwadié branco como eu gesticulando ao homem aranha pendurado numa coisa chamada de guindaste; deveria ser o capataz.
Era um tio que estava chegando do M´Puto. Grandes máquinas circulando com luzes a piscar na água; muita água balouçando o azul na linha de horizonte mostrando uma ilha que mais tarde vim a saber ser a ilha da Mazenga; uns peixes brincavam voando ao redor duma cabeça e tripas, talvez dum roncador ou mariquita. Por força das circunstâncias, coisa que me transcendia, meu tio Zé, o Nosso Senhor topeto teve de atravessar o atlântico num vapor de nome Uíge.
Meu tio chegou assim calças largachonas, um chapéu palhinhas muito usado na época, de um branco besugo avermelhado pelo sol do equador. Recordo agora as fotos com ele sentado junto à mandioqueira que dava sombra ao tanque de lavar, uma selha feita de uma metade de pipo de vinho, aduelas do tintol do M´Puto baptizado com água do Beno na loja do Senhor Rente Cruz, o tio do Tony Melo, mais uma tábua ondulada aonde a Dona Arminda esfregava as flanelas da família.
Aquela foto era para entregar no Colégio João das Regras junto ao Martal – Martins e Almeida para compor meu livro de aluno. Até sobraram para mais tarde, um outro colégio chamado de Moderno que ficava bem junto da estação de Caminho de Ferro da Cidade Alta. Lembro-me de ter lido algures que o vapor transatlântico Uíge, tinha escrito numa bandeira, Companhia Colonial de Navegação.
Naquele tempo que pensava ser um kamundongo, percorria os bairros desde a Maianga até o Bairro do Café, com os pés entrançados na grande bicicleta do meu tio Zé Nosso Senhor; assim mesmo feito chambeta, calcorreava a Luua, as encostas dos musseques com o Pica mulato que mais tarde virou oficial superior do glorioso MPLA. Isto de glorioso era ele que dizia, mas o tempo escondeu-nos do convívio, tal como o Aninhas das motas, seu irmão, mais o preto Batalha do Catambor.
Sem sabermos, construíamos todos os dias uma descolorida amizade, impregnada duma vivência que o tempo dissolveu por ideias ou ideais mas Luanda estava ali mesmo, ai-iu-é! Naquela foto de menino, eu não tinha verdadeiramente uma cor de gente; era assim como um boneco com umas calças de ganga grosseiras, sarapintado de manchas a descair sobre uns sapatos quedes da macambira.
Vendo-a, a foto amarelecida, podia passar por uma cor de pele das que os meus amigos tinham. Podia muito bem ser cafuzo, matuto ou mameluco mas, só era mesmo um mazombo, filho de colonos saídos do M´Puto com uma carta de chamada. Até Pica e Batalha, duvidavam que eu fosse mesmo branco! Subia ao coqueiro com a mesma agilidade deles, matava sardões com a mesma pontaria de fisga tiradeira e tinha o mesmo jeito para apanhar rabos-de-junco, plim-plau, xiricuatas, celestes e januários nas lagoas do Futungo ou um qualquer charco de Belas.
Íamos lá longe por detrás do aeroporto de Belas, Craveiro Lopes apanhar pássaros na rede. Mais tarde num dia de inspirada arte, com muito jeito, pintei de branco a minha t’xipala mas, não se parecia. Só Necas me levava a sério chamando-me de Mandrak. Um dia após uma investida de valentia no quintal do Malhoas às maças da índia, gajajas e goiabas, mostrei a dita foto à turma dos “salta muros”; a minha turma! Ué… Seguiram-se risadas desconformadas - Foi um chinfrim que trespassou o silêncio muito para além do Almeida das Vacas, o rio seco, as bananeiras.
Aquele riso não era verdadeiramente de alegria; era, isso sim, um misto de valentia lambuzada na gozação pois que parecia ser mesmo um besugo. Pica, pulou de macaquice, chamando-me de T’Chingange da Manhanga. T’chingange?! Naquele tempo perfumávamo-nos de ignorância atrás do carro da tifa chamando de monangamba aos trabalhadores da recolha do lixo. Mais tarde, fiquei a saber que aquela figura, T’Chingange, era gente de verdade; pintados com argila branca ou cal, no terreiro do kimbo, pulavam como que possuídos de katolotolo…
Glossário:
T’Chingange - um misto de feiticeiro, justiceiro, advogado do diabo (de quem se tem medo); mokanda - carta; M´Puto - Portugal; kandengue - moço, rapaz; kamundongo: Kaluanda - natural de Luanda, rato; rabo-de-junco - pássaro; t’xipala - fotografia (de rosto); besugo - labrego ou simplório, chegado do M´Puto - (gíria de Angola); monangamba - trabalhadores sem classificação especial (pejorativo); kimbo – sanzala (planalto central de Angola), povoado; Carro da tifa - desinfestação de ruas ou quintais para matar o mosquito e outras pragas; selha: Meio barril feito de aduelas; quedes: sapato simples de ténis, em pano; Manhanga: o mesmo que maianga, charco ou poço de água; catolotolo: Zuca, mal da cabeça, maluca, passado dos carretos, com feitiço…
O Soba T´Chingange
A GRANDE TRAGÉDIA - Depois da QUINTA vem a SEXTA-FEIRA...
Mau-olhado – Xicululu – Crónica 3340 – 05.01.2023 na Meditação do T'Ching
Por T´Chingange (Otchingandji) no AlGharb do M´Puto
Harmonizar a existência do sofrimento com a realidade é talvez, o mais antigo dilema da mente humana. Em busca de respostas, mergulhamos em especulações que resultam normalmente em dúvida e descrença. Com o pensamento voltado na busca de satisfação de alguma coisa pequena, alargamos sua importância de forma desmedida. Calma! Tudo irá passar...
Epicuro, filósofo grego, não entendia o que lhe parecia ser a inércia de Deus diante do sofrimento humano. Hoje, perante esta pandémica situação covidesca, que ainda por aí anda, muitos apelam a Ele como recurso e, as respostas não chegam como se pretendia! Numa amostra de descrença e irreverência em uma argumentação na qual se questiona o poder, a bondade e a existência do Senhor, adentram-se em considerações que nada têm de humilde seguidor...
Cá por mim, já estou comendo terra antes que ela me coma. Verdade! Argila verde com radioactividade e, que tem zinco entre outros minerais espaciais. De facto, não podemos entender plenamente todas as nuances do sofrimento, pintando-O como injusto e até tirano, mandando às urtigas os ensinamentos; isso é com os outros, digo eu ao diogo. Se o sofrimento continua a magoar não será causa de inércia, conivência ou impotência da parte da Natureza porque as perdas e singularidade são-nos inerentes; teremos de ser nós a cuidar-nos com a integridade e confiança possível ou admissível. O mesmo ar que respiramos com seu oxigénio, oxida-nos no tempo como se o fossemos um tubo de ferro.
Por mais cruel que seja o sofrimento com todas as suas perdas, a maior tragédia é sempre deixar de confiar nessa fé que sempre dizem mover montanhas... Ou mato, ou morro! Para onde ir? Como é? Como foi? Pois se até o ferro que é duro enferruja! Mas sempre consciente ou não, levaremos a Ele as cargas que nos oprimem, enquanto aguardamos... Quantos pára-brisas de carro, pau de arara, camião TIR têm pintado: "Deus, é fiel"
Malembemalembe! Cada qual tem de esperar na beira da vida pelo seu machimbombo. Quer se dizer: devagar se vai ao longe... Hoje ou amanhã sempre haverá aquele momento em que, “desde o minúsculo átomo até o maior dos mundos, todas as coisas, animadas e inanimadas, em sua serena beleza sucumbirão". Sempre irá ser assim! Na imperfeita alegria, na leveza do ser, teremos de encarar normal esse conflito - Nem grande, nem pequeno! Sempre foi assim… Amanhã será SEXTA-FEIRA, teremos futebol, depois virá mais bola até fim do campeonato! Vamos aproveitar o Sol, a chuva e um dia novo que como missangas lhe seguirá um outro. É a vida...
O Soba T'Chingange
Porque depois de amanhã! Depois de Amanhã?! Pois será outro dia…
DPOIS DE AMANÃ, SERÁ OUTRO ANO - 30.12.2022
Crónica 3338 em Amieiro de Arazede do M´Puto
Por T´Chingange
Como à cinco anos atrás, de novo aqui voltei. Levantei-me tarde, eram horas de tomar banho, vi-me ao espelho sem óculos e fiquei espantado com minhas sobrancelhas! Nem Álvaro Cunhal as tinha assim tão desaklinhavadas. Procurei uma tesoura para as cortar, busca e rebusca e só encontrei um corta unhas. Bom! Estava em casa de Mfumomanhanga e, era até normal desencontrar o pretendido. Mas um corta unhas serve pró efeito! Aproximei o rosto ao espelho e mais parecia ver uma cratera com riscos e, lá estava bem junto ao olho esquerdo um senhor cabelo preto e grosso com um quilómetro de extensão, salvo as proporções da mirada. E cortei o dito-cujo ouvindo-se um estalido e, depois ouvi-me mesmo dizer em vos alta: Já está!
Numa busca mais apurada e, já tinha pelos e cabelos dinossáuricos em tudo quanto era buraco, orelhas com pretos encaracolados e, brancos e grossos das sobrancelhas que foram cortados num pisca-pisca, as pestanas a tremer de medo e a menina dos olhos a engrossar-se de receios. Mas convém dizer aqui que Mfumomanhanga Xkalibur é meu filho – vulgo Marco! Vim a casa dele passar o Natal e acabei por ficar até o fim de ano porque é neste dia último que fará seus 50 anos de idade. Bem! Quando começou a fazer parte da Kizomba dos mais-velhos foi-lhe dado esse nome que vem de m´fumo que quer dizer chefe e Manhanga que era a velha forma de se chamar a Maianga, sítio de nascentes com água boa para se beber lá na Luua. O grande problema gora é que ainda continua chefe de nada… enfim!...
Tomando banho com água bem quentinha, saída da serpentina, meio-dia mesmo, os pensamentos vieram assim procurar-me para dizer que minha vida me fazia escorregar só assim gordote, careca e tisnado nos contrafortes, mataco balofo e chocho, minha vida afinal não era mesmo como antigamente. Háca! Já não ia sempre nas farras nem kizombava meus merengues naquela banga swinguista kaluanda, mesmo nada, só mesmo deixar o tempo passar, comer e beber. Aiué menino Tonito naqueles tempos te conhecia logologo mas agora xiii, nem mesmo, só pensando, digo navegar os olhos naquele tempo de Lifune e cassoneira, botar fuba na água pra chamar peixinho dos cacussu, mesmo de fazer biala de zuza. Tu tás mesmo velho, patrão, diria agora o Chiquinho Pernambuco.
Pópilas! Nem sempre homem, nem sempre jovem, já mais velho, nos intervalos, aprendi a aprender, a ser grande. Hoje mesmo, vou-me ensinando a ser gente tomando aqui e acolá, por onde calha, o saber dos mais sábios para ficar esperto, dos amigos mais simples aos meus insuspeitos inimigos também. Já sem cabelo, rapo o que resta ainda mais curto até ficar zero que nem a monaliza e mão-na-liza. Li-me no espelho e fiz-me gaifonas vendo as rugas enquadradas num diferente tempo de pó de variadas espessuras, nem sempre alegres, nem sempre tristes, por vezes vaidosas. Vesti lãs frescas, despi-me de calor e desabotoei o único botão.
Calcei pantufas quentes, ultima oferta de natal, pisei descalço os ladrilhos de verde esperança e azul-turquesa. Fui ao computador ocupar o tempo, escrever a mokanda, li poemas do Zeca e do Edu, reli baladas e muitas tretas de fazer caretas; ouvi cantigas, muitos gostos, li desaforos, coisas choradas, lamuriadas, cânticos gospel humedecidos, vídeos foleiros, alguns brejeiros e fui à China comer baratas. Verdade, mesmo! Ouvi as balelas vulgares do rolha presidente e a saída do Nuno da TAP, da desgovernamentação do Costa com Marcelo e Companhia e, da tomada do Lula como presidente no Brasil…
Mas a confiança ficou periclitante com as demais noticias da Ucrânia, a morte do Pelé e também da Linda de Susa, uma cantora bem conhecida em Paris, a segunda cidade portuguesa, A confiança aui neste porém, tinha fugido mesmo no antigamente com os pássaros pírulas a continuar gritar assim como nos braços do imbondeiro gordo. Enaná ué-ué! Melhor ficar assim mesmo e falar com meus kambas nas falas de Bom Natal 22 e um 2023 com muita bangula. Ver amanhã da janela, o fogo dos artifícios e na TV o fogos do Funchal acima dos 18 graus centígrados.
Darei meus dez dedos de parabéns a meu filho Mfumomanhanga Xkalibur, vulgo Marco, não lembrarei o que queria e deixava de querer – cada qual é que vai saber, que ele não esquecesse de bombar seus cinquenta anos com enxurradas de luz. Pra passar o tempo, comi bolinhas de suspiros, sonhos de abobora, gelado de sape-sape e tamarindo, mangaba só de pensamento! Sol malé! Ceu tapado de frio. Pensando no Chico Honório, meu cunhado que muito mal, está no hospital. Caté botei missangas de vida pra ele com magalas, malas e gente com galões mais brasões; comboio fumaça, vapor que apita, trópicos e equador.
Parti para outro e, mais outro e outro lugar, sem me encontrar. Teci-me na linha dum destino só meu. Criei a teoria do esquecimento, burilei-me nela e voei entre nuvens turbinadas de sucção, aspiração, compulsão e impulsão, vida de cão. No calor do tempo queimo cansaços, fracassos vazios, decepções e até solidões, também! Criei projectos, levantei paredes, agora nem quero saber, só mesmo comer! Depois de manha será outro dia e novo ano. Mais nada! Mungweno…
O Soba T´Chingange
A CAMINHA DA RECESSÃO - Os mecanismos de manipular o cérebro
Crónica 3337 – Em Coimbra do M´Puto a 29.12.2022
Por T'Chingange
Divididos entre a nossa alma eterna e nosso corpo efémero, teremos de definir o que vai ser importante saber, até se ter um tal de doutoramento e ser-se lançado à feroz competição social com lutas politicas até alcançar os luxos não básicos. Em verdade, tudo anda muito baralhado no que concerne à racionalidade humana. No tocante a países e lembrando a Grã-Bretanha em recentes episódios do tal chamado de Brexit, nunca o cidadão comum deveria ser chamado para se decidir escolha entre o SIM e o Não.
À esmagadora maioria destes, gente comum, faltava-lhes as necessárias bases de economia e o devido conhecimento de ciência política para serem chamados a votar! A iliteracia nesta área é voraz, até para quem se julga saber tudo… Esse livre arbítrio profundo e misterioso da liberdade, viu-se que nem Boris Johnson tinha a afincada aptidão para interpretar a Europa. Pode agora concluir-se que o tal de referendo sempre se prendeu aos sentimentos humanos omitindo ou não observando com acuidade a racionalidade humana em questões económicas ou em políticas específicas.
E, sendo assim, se um profissional recolector de lixo tiver esse tal de livre arbítrio, em todas as matérias, poderá dizer-se que a política democrática irá transformar-se paulatinamente em um espectáculo de marionetes; a fonte de autoridade muito rápidamente mudou das divindades para os homens de carne e osso e, tudo indica estar a mudar-se dos humanos para os Algoritmos.
A revolução tecnológica progressivamente irá instituir o ALGORITMO como a autoridade máxima; assim e em breve, a partir de antes de ontem, os algoritmos informáticos dar-nos-ão melhor concelhos do que os sentimentos humanos, destituindo o “livre arbítrio” destronando nosso mecanismo bioquímico. O nosso reino interior irá para o espaço porque o algoritmo biotecnológico será capaz de monitorizar e melhor compreender nossos sentimentos; melhor do que nós próprios.
O “livre arbítrio” irá desintegrar-se à medida que as instituições, governos, empresas e sindicatos condicionem nossas vontades, nossas escolhas. Isto já está a acontecer! Falando do nosso mundo envolvente relembro as falas de António Lobo Antunes. “Agora sol na rua a fim de me melhorar a disposição, me reconciliar com a vida. Passa uma senhora de saco de compras: não estamos assim tão mal, ainda compramos coisas, que injusto tanta queixa, tanto lamento.
“Isto é internacional, meu caro, internacional e nós, estúpidos, culpamos logo os governos. Quem nos dá este solzinho, quem é? E de graça. Eles a trabalharem para nós, a trabalharem, a trabalharem e a gente, mal-agradecidos, protestamos”. Eles, os políticos, deixam de ser ministros e a sua vida vira um horror, suportado em estóico silêncio. Veja-se, por exemplo, o senhor Mexia, o senhor Dias Loureiro, o senhor Jorge Coelho, coitados”.
“Não há um único que não esteja na franja da miséria. Um único. Mais aqueles rapazes generosos, que, não sendo ministros, deram ao litro pelo País e só por orgulho não estendem a mão à caridade. Tenham o sentido da realidade, portugueses, sejam gratos, sejam honestos, reconheçam o que eles sofreram, o que sofrem. Uns sacrificados, uns Cristos, que pecado feio, a ingratidão”.
“O senhor Vale e Azevedo, outro santo, bem o exprimiu em Londres. O senhor Carlos Cruz, outro santo, bem o explicou em livros. E nós, por pura maldade, teimamos em não entender. Claro que há povos ainda piores do que o nosso: os islandeses, por exemplo, que se atrevem a meter os beneméritos em tribunal”. Por hoje chega meus amigos…Fui!
O Sob T´Chingange
NUMA ZUELA BURUNDANGA NA TEORIA DA INVEJA
- Mau-olhado – Xicululu – Crónica 3336 – 20.11.2022 – Republicação a 28.12.2022 em Arazede do M´Puto
Por T´Chingange (Otchingandji)
TEORIA DA INVEJA … A inveja segundo o dicionário é um substantivo feminino com origem latina. Ela vem da palavra “invidere“, que significa “não ver”. Assim, de entre seus significados vemos o sentimento de cobiça à vista da felicidade, da superioridade de outrem; sensação ou vontade indomável de possuir o que pertence a outra pessoa, o objecto, os bens, as posses que são alvos de inveja. A inveja é um fenómeno humano universal e intemporal. Faz parte da estrutura do psiquismo humano e actua sobre a cultura humana e a organização social. Ela é um dos maiores tabus da humanidade. Proibida pela Bíblia, como pecado (na tradição católica, a inveja é um dos sete pecados capitais).
Pessoalmente nunca soube lidar com a experiência emocional da inveja; nem da minha, nem da dos outros, negada por quase todos e exteriorizada com toques de ressentimento e rejeição. Consultando alguma literatura, verifica-se que a inveja é pouco estudada e, acerca dela, pouco se tem escrito. Na generalidade refere-se que não há dignidade neste sentimento. A raiva e o ódio extremos podem ser explicados por uma razão nobre qualquer, mas a inveja sempre representa um sentimento obscuro, sem justificativa legal, mesquinho e isolado, fútil, escondido como convém aos bandidos, ladrões e assassinos. Nos dias de hoje, a inveja surge refinada nos padrões de comportamento na gente de alto coturno, dirigentes de nações. E, surgem iminências pardas detrás de ideologias que pregam a igualdade, motivados crimes, políticas e revoluções. Pois bem, diferentes, somos todos e, haverá que aprender a lidar com estas diferenças. Será que isto é possível?
Entre os vários conceitos de Inveja pode também ser definida como o sentimento de frustração e rancor gerado perante uma vontade não realizada. Aquele que deseja as virtudes do outro é incapaz de alcançá-la, seja pela incompetência e limitação física, seja pela intelectual. Álem do mais, a inveja pode ser considerada um sintoma em certos transtornos de personalidade. É possível encontrar esse sentimento em pessoas que possuem o “transtorno de personalidade passivo” e, também em quem tem o “transtorno de personalidade narcisista”.
Como se aprende a lidar com as diferenças? Como se convive melhor com a injustiça primordial da existência humana? O que fazer quando eu sinto inveja? Como lidar com a inveja alheia? Será que eu provoquei inveja alheia? Quem me inveja pode fazer-me mal, o famoso "olho gordo"? Estas são as questões que me motivam a pensar neste tema. Por isso posso propor não nos calarmos sobre temas vergonhosos, percorrendo este árido caminho antes de supostamente se começar a conceber um terrível plano de vingança tendo como objectivo arruinar seus inimigos.
Não obstante, atire a primeira pedra, quem nunca a sentiu! Se nunca desejou mal a alguém por algum atributo que nele você admirava. Se jamais evitou situações que o confrontariam com aqueles que exibem qualidades que você não tem, ou nunca tomou partidos apenas para não favorecer aqueles que possuíam aspectos que você cobiçava etc. "Praticamente, tudo o que traz felicidade estimula a inveja" dizia Aristóteles. E talvez você também nunca tenha pensado que sem a inveja, e a consequente capacidade de sempre estarmos nos comparando e nos vigiando mutuamente, talvez não tivéssemos o desenvolvimento dos sistemas sociais a que todos pertencemos.
Porque ela, a inveja, jaz soberana, como eminência cinzenta, por detrás das políticas sociais e económicas e de quase todos os movimentos revolucionários da história da humanidade. Vive-se este lema da inveja com grande intensidade todos os santos dias e, ao mais alto nível, em todas as latitudes lançando por terra essa tão apregoada "igualdade, fraternidade e liberdade"…
Ainda a título de curiosidade nós habitualmente não invejamos os reis e rainhas e suas fortunas acumuladas sem trabalho braçal, mas podemos invejar nosso vizinho de porta, porque ele comprou um carro novo. A história de Caim e Abel parece ser a metáfora certa para ilustrar este sentimento. A inveja é em verdade o maior tabu humano não falado, todos a sentem, mas poucos admitem, o que torna o seu estudo difícil e indirecto. Curiosamente, entretanto, quando honrosamente revestida desta carcaça ideológica da igualdade, ela se torna o baluarte da justiça humana. Pude ler no brilhante livro de De La Mora (1987) a "Inveja igualitária", o argumento pela saudável necessidade da diferença e pelo absurdo de se imaginar que a igualdade possa ser conquistada pela coerção ou demagogia.
O Soba T´Chingange (Otchingandji)
Mau Olhado – Xicululu – Crónica 3335 – 12.11.2022 - Republicada a 27.12.2022
- NUM ZUELA BURUNDANGA ASSIM SÓ NOS BAZA INSPIRAÇÃO AMI! Mokanda antiga do meu Kamba ZEKA MAMOEIRO da MAIANGA DA LUUA
PorT´Chingange (Otchingandji)
Kamba Kiami Ami Tonito! Tuas fala doeu nos meu Muxima: "ter virado intelectual das mulolas do katekero" que virou poeta no integralmente, quersedizer pirou no katotolo"!!! Kamba Kiami Ami! Te digo só no verdadeiro, estão nos quieto dos esteira das minha kubata! Ué! Mazé bwé descansam, nos recuperação dos gigler dos inspiração...!!!
Tambula conta! Lello faço essas mistura..., o quê? Ah!!! O Iogurte metido nos cabaça, com os painço e os massambala, tudotudo no n´guzo do pilão, assim de massemba, como nos chão riscado dos Marítimo de Loanda! N´ga! Sakidilá! Lagartinha Mopane, dos teu envio caixinha cartão dos Mu Ukulu!
Sim os teu milongo dos Lagartinha, os teus torresmo medicinal, que soeu dos meu medo, recusou bwé Matumbu!!! Te digo que foi os papel receita (acima) do Doutor dos Maria Pia, dos especialidade dos motricidade dos dieta com os cereal que pra soeu recomendou, por caso dos intestinos precisar romper os câmara d'ar, assim, num precisar sequer, os prego fininhos, que bota nos ar os quixotes de carnaval!
Intão, como é...! Xé! Como nesse mesmomesmo dia dos alegria de bwé estouro de cheirinho de bombinhas...,no corso patrício da uuabuama Marginal...
KATÉ MINGU – ZECA, na minha kubata
Explicação do Kamba T´Chingange: Faz tempo, mandei uma caixa de mopane (catato) para o Zeca que comprei no Zimbabwé. Era para ele matar saudades pantagruélicas da nossa terra de áfrica mas, sucede que ele ficou com muita cagufa de comer aquelas lagartinhas.
Vai daí, escreveu-me esta carta mokanda da qual só eu mesmo consigo interpretar… Mayanga ai-iu-é, que tanto berridei por esse tempo de paixão que enricou meu coração no uuabuama, chão colonial, disse ele. Desde esse tempo de miúdos candengues, assim vivemos coleccionando fugas com fisgas, como quando descalço, chutávamos a bola, trumunos de trapos no chão das barrocas, da mulola do Rio Seco, de quando subíamos na mulembeira a retirar visgo…
Ilustrações de Costa Araújo
O Soba T´Chingange
O INÚTILISMO HUMANO – A CAMINHA DA RECESSÃO - A ditadura digital e os mecanismos de manipular o cérebro
Crónica 3333 – No AlGharb do M´Puto a 25.10.2022 – Republicação a 24.12.2022
Por T'Chingange – Em Arazede do M'Puto
É interessante saber-se que o Algoritmo pode excluir ou adicionar emoções segundo o nosso batimento cardíaco e assim, ser-nos transmitido em algum momento, somente aquilo de que gostamos alterando-nos os níveis de oxitocina; segundo os nossos dados biométricos é alterado nosso mundo de relações, coisas íntimas que só nós conhecemos! Um qualquer sistema bioquímico humano poderá passar a ser uma figura pública como o Tarzan, Mandrak, Fantasma ou Putin, algo trabalhado sem que o próprio se visione.
A inteligência artificial pode perfeitamente ajudar a formar melhores jornalistas, melhores políticos, soldados e banqueiros com essa ajuda de robots inteligentes. O ano de 2017 foi esse marco, esse hiato decisivo com a victória da inteligência artificial pela disputa de um jogo de xadrez. Kasparove, o campeão mundial da modalidade perdeu uma partida com um robot. Lá para meados do presente século XXI à falta de consistência mental humana, aparecerão “classes inúteis” incrustadas na robotização.
Infelizmente e devido à guerra da Ucrânia que já vai com oito meses, ( hoje já passa dos 10) estamos assistindo à substituição da mente humana com requintes de generalizada destruição; generais, líderes mundiais, políticos e especialistas, estão sendo substituídos por drones inteligentes com a possibilidade de escolher o alvo, optar por um plano A, B ou C fugindo à perseguição de outras máquinas voadoras, pensantes, arrasando as infraestruturas necessárias a uma vida normal de um humano. Apetece-me chamar de inúteis a todos esses militares de craveira que com uma subestimação persistente não o são, capazes de encontrar meios de os anular, os drones.
O impacto do uso de computadores nas muitas variantes será neste século XXI muito mais avassalador do que a era da industrialização e mecanização do século XX. Os cérebros das tácticas de guerra irão ser substituídos, subestimados por máquinas concebidas para matar. Eles, os generais falam, falam mas só supõem pensando nas trincheiras, nas emoções, nos calibres, nas hipóteses, no alcance; parece-me a mim que qualquer desvirtuador ou desfibrilhador de um GPS lançado ao ar por onda curta, onda modulada, ou outra onda artesiana poderia suprir carências de logística, de táctica e proporcionar um chapéu de defesa…
Cuidado com as palavras que outros usam, pois as hipotéticas falas na roda dentada e em um lugar e tempo previamente pensados por norma à nossa revelia, haverá um salto no contexto indiciando os possíveis utentes, consumidores, tornando-nos sensíveis a um conjunto de termos alterando o contexto das frases. É um pouco como se verifica em televisão, cortarem por apitos as aneiras inconvenientes ditas por alguém. Podem bem sair mentiras como se o fossem verdades. Estamos a assistir a algo assim na campanha presidencial do Brasil, na guerra da Ucrânia, no Reino Unido, em Angola e no dia-a-dia das peripécias políticas do governo de Portugal, folgado que está na maioria absoluta…
Por algum razão no nosso dia-a-dia verificamos a preocupação dos governos criarem na sociedade condições para que haja um rendimento mínimo de qualquer cidadão, uma cesta básica de dar ânimo aos pé-de-chinelo, por forma a que, os eleitos não percam o poder, A Nobel da literatura Yuval Harari, de forma interessante, refere: “…uma vez que os bebés de seis meses não pagam salários às respectivas mães, terá de ser o estado a assumir esse papel; uma mãe deveria ter um salário por cuidar de um futuro cidadão caso se mantivessem em casa nessa exclusiva tarefa”.
O cidadão, futuro trabalhador ou dirigente, governante ou CEO (Chief Executive Officer - Conselheiro delegado ou Director executivo - o responsável máximo pela gestão e direcção administrativa da empresa.) sempre surgirá entre os milhares, no seio da família que no mínimo terá de ter um rendimento básico em detrimento dum subsídio temporário. Deveríamos assim ter: educação gratuita, transporte gratuito, serviços de saúde garantidos e, por aí… É discutível se será melhor dar às pessoas um rendimento básico, um paraíso capitalista ou os serviços universais segundo os modelos de matriz comunista porque ambas as opções podem bem ser vantajosas e também, inconvenientes.
Nos países do oriente médio onde o petróleo jorra pelo tubo ladrão e tendo uma densidade populacional baixa é garantido ao cidadão viver bem sem ter que saber o que é isso de apoio básico ou de universal. Se formos a Qatar ou Kwait ou, outro estado daquela zona do hemisfério o apoio está garantido pelo estado. Com o aparecimento da inteligência artificial de robots e impressoras 3D a mão-de-obra, mesmo qualificada, tornar-se-á muito menos importante. Com a alta tecnologia cada vez mais surgirá a super riqueza como a actual Silicon Valley nos EUA enquanto em países de terceiro mundo, empresas sucumbem por falência; a política democrática vira um pouco por todo o lado do hemisfério em espectáculo de marionetas…
Ilustrações de Assunçõ Roxo
O Soba T´Chingange
O INÚTILISMO HUMANO – A CAMINHA DA RECESSÃO - A ditadura digital e os mecanismos de manipular o cérebro
Crónica 3332 – No AlGharb do M´Puto a 21.10.2022 na Lagoa do M'Puto; Republicação a 23-12.2022 em Arazede do M´Puto
Por T'Chingange
CA - Em meados do século XX o surgimento da mecanização resultou no desemprego de muita gente, tempos em que o ganha-pão no amanho das terras era quase o único meio de subsistência das famílias, Poucos eram os que tinham suas próprias terras, retirando o sustento trabalhando para um patrão latifundiário. Para o sustento da casa teria quando muito, um quintal de onde retirava suas couves, alfaces, um galinheiro ou até esporadicamente uns bácoros no fundo da courela quando fora ou, nos arredores de povoados para sustento próprio.
No tempo as máquinas foram substituindo o trabalho braçal nas lavouras, no plantio, na ceifa, recolha de cereais e toda a espécie de produtos, até mesmo tubérculos enterrados como as batatas, rizomas e frutas das árvores, retiro de azeitonas das oliveiras fazendo surgir por todo o lado as alfaias diversas e centros de fabrico destas mesmas. Paulatinamente o homem inserido num grupo social foi-se reciclando e mudando até com frequência sua actividade. A força física foi progressivamente sendo irradiada no correr dos dias.
CA - Agora que estamos no século XXI, são as máquinas de inteligência artificial que mudam as regras do trabalhos substituindo a rusticidade das antigas em elaborados zingarelhos de sensores, câmaras e pequenos circuitos eléctricos que fazem actuar num dado momento o movimento certo para apertar, soldar, furar ou estirar, máquinas que semeiam, que recolhem, seleccionam, calibram, lavam e encestam tudo numa rapidez estonteante, multiplicando por cem ou mais, a simples tarefa humana de usar uma chave, aperto de uma porca ou torneando até chegar ao produto final em cadeia de montagem…
A capacidade intelectual e tecnológica, em suma a inteligência humana foi sendo substituída pelo computador. O uso do conhecimento através de Universidades e escolas técnicas aperfeiçoando computadores introduziram a robótica, os circuitos integrados, os chipes, os códigos de acesso e num rápido todas as áreas profissionais desde o costureiro ao condutor, dos advogados, gestores, banqueiros foram sendo e continuam a ser substituídos por máquinas que usam milhares de fios e chipes substituindo os neurónios humanos, sem erros para uma dada função.
CA - Elas, as novas máquinas fazem cálculos de probabilidade em fracções de segundo e, usando a teoria dos erros entre outras produzem vinte e quatro horas sobre vinte e quatro horas sem questionar o patrão com as horas extras, subsídios, férias ou regalias sociais com creches para seus descendentes e muitos outros edecéteras. Acabam-se os sindicatos, as mordomias, os jeitos e resmungos mais chantagem e corrupção. Então, qual é o patrão que não opta por esta mordomia de fazer fortuna de papo para o ar, dando quatro dias de laboração aos seus empregados mais fieis…
Eliminando os erros humanos deitando por terra a falibilidade da dita “intuição humana” entre outros interesses e emoções com compadrios, a máquina comandará não só o cidadão como as instituições, governos e reinados banalizando a acção do homem por isenção de morbidez, ambição, mau uso dos dinheiros públicos, actuando na economia com seus milhões de neurónios artificiais triando os artificialismos tão usados pelo homem; mantendo registos progressivos e permanentes, evitando desfalques, incompatibilidades, o manuseio das leis com proveito próprio, juntando acórdãos com despachos e aplicando no certo o labirinto infindável de variantes, probabilidades e emoções. Extirpando os erros do homem e usando com mestria o tal de ALGORITMO separando o trigo do joio, o falso do verdadeiro, o manobrador do manobrado, dos que acreditam em Deus e dos que acham ser balela…
CA - Para além da democracia que temos, das suas incongruências, suas falhas e palpites, as máquinas irão sim, substituir os governos e principalmente no campo económico aonde a mentira é eivada de cativações, grosseiros cálculos, falsa teoria dos erros intuitivos e outos de lesa pátria, lesa família, também bluffs grosseiros de sabujos com escondidos interesses, coisas costumeiras, costumes das praxes e soturna tradição. Uma máquina assim, feito dum grande cérebro conseguirá fazer melhor e mais rápido os cálculos da economia global sem a criatividade falível do rigor que por vezes, muitas vezes o é paranóico ou trabalhado, torpe ou que nos cria reptícia dependência.
Que nos cria gastura, dívidas com taxas e sobretaxas misturando coisas do foro familiar como o aborto, quando nascer ou viver, identidade do género; fragilidades democráticas com escrutínios duvidosos, condicionando nossas capacidades, banalizando actos com corta fitas, selfies, subornando os agentes da concertação social e, o escambau…
CA - E, surgem acordos em um fim de semana, falácias com aditamentos de fingimento, transferindo seu querer, seu parecer num facto de regime, a loucura de boicotar até a automatização em áreas de saúde. O regime não pode em caso algum ser representado por um partido; de crise em crise sempre e desta forma, nos levarão indubitavelmente para fracassos em cima de fracassos, activando a recessão por falta de estratégia a um cada vez de menos longo prazo, cativados. Mas, quem sou eu, um pé-de-chinelo para o dizer – FUI!
Ilustrações de Costa Araújo
O Soba T´Chingange
KAZUMBI DE BURUNDANGA... I
Crónica 3328 - Republicação a 18.12.2022 - Chorando em inglês pelo desfalecimento da Rainha Isabel II
Por T'Chingange - no M'Puto
Desmilinguido de pesares, ando até a esquecer o passado - Será que tomei essa coisa de burundanga - Uma droga extraída da Datura Stramonium, uma planta ornamental de flores brancas em forma de sino, vulgarmente conhecida como trombeta ou trombeteira... Óh folha do diabo...!
O Mundo necessita de nós para respirar e por isso as autoridades de saúde pública fazem a lei de forma rápida na mira do boteco das bifanas abrir quanto antes, pois que a economia tem de correr, também porque o socialismo é muito bom a lidar com o dinheiro dos outros – o nosso!
Recordar agora o exercício de minha mãe Arminda equilibrando o orçamento do lar, fazendo comícios às galinhas na capoeira coberta a zinco lá na Rua José Maria Antunes numero vinte e dois na Maianga da Luua, propriedade de João Lourenço e seus muchachos. Um prédio com arcos construído no rigor da salubridade colonial, na casa dos fundos a dar para o pátio da cantora Sara Chaves, quase mesmo no início do Catambor. Lugar que nem sabíamos que não era nosso porque eramos brancos de pele e colonos de condição.
AR - O tempo tratou de nos dar a seguridade dos hipócritas filósofos que falam com as latitudes e algoritmos dos rumos de cada qual como se fossem os senhores dos outros, que tu não és daqui, vai para a tua terra fazer semeaduras e tratar da casa do senhor teu feitor… Ué! Tudo na mesma como a lesma! Afinal a luta CONTINUA. "Juro, Sangue de Cristo". Ela, a luta anda passando pelos pingos do medo, SUNDIAMENO! O povo é quem mais ordenha - mentira descarada do MPLA...
Dona Arminda, minha mãe, sozinha falando com rispidez com as poedeiras pedreses num canto do fundo do quintal, logo a seguir ao tanque de selha e depois da mandioqueira que só dava sombra: - Ou vocês põem ovos ou corto-vos o pescoço - vão prá panela fazer de cabidela! E, elas, com cagufa, punham ovos grandes! A vizinhança só queria os ovos da dona Arminda porque pareciam mamões da Luua. Sim! Isto decorria numa rua do bairro Maianga com cheiro a acácias rubras e zumbido permanente de cigarras, um calor do caraças!
O dinheiro que Dona Arminda, minha mãe, fazia, dava decerto para comprar um peixe-espada kixibi à quitandeira que sempre parava naquele número de rua e, aonde apregoava do seu jeito jeitoso, chamamento do peixié sinhola – tá fresquinho, compra só! A vida assim gerida de toma lá-dá-cá compara-se aos governantes do M´Puto que não também não fazem milagres sem ovos; Eles, vindouros daqueles outros descolonizadores, andam cansados…
AR - Numa de recuperação da economia, Inventando regras a definir como e por onde andar por forma a agradar à velha carência dos recursos nacionais, incentivam o pessoal a ir ao café, ao teatro, aqui e ali e até à praia notando-se que estimulam da forma que julgam mais certa para e, como as galinhas começarem a chocar ovos, fazer omeletes, pataniscas e trespassá-las em dinheiro porque senão ficamos à rasca - Já estamos nela! Ainda se tivéssemos uma colónia, se tivéssemos colonos, se e, mais se…
Num esforço para desentorpecer a apatia amarelada dos rostos encafifados num desespero entorpecido dos galináceos - eu, tu, ele, nós, vós, eles – todos! A realidade que ninguém conhecia é bem complexa ao ponto de tornar rapidamente os cabelos brancos por tantos ansiolíticos tomados por quem tem esse cariz de ambição – de ser governante; com tanto nada e tão pouco incerto, muito fica por explicar na inactiva justiça, na improvisação da educação, nas falácias de aumento de aposentação e edecéteras... Todo mundo a mentirar-nos...
AR - Tudo isto com comentadores cambutas, longos e oblongos a zurzir à perna inflacionando sortes e azares como se tivessem o futuro na ponta dos dedos ou o tivessem comido por inteiro com arrotos de carapau frito bebido com morganheira tinto ou verde Casal Garcia… Foi neste então que recordei aquele mítico provérbio africano ”a chuva bate na pele do leopardo, mas não lhe tira as suas manchas” aonde para além da onça, do leopardo e da chita existem a hiena e o mabeco que também as têm.
Bom! Agora que sou zebra noto ocorrer-me o mesmo fenómeno em manter as riscas mas agora, mesmo que chova ou faça sol, acontece um outro pormenor – também me embranqueceram no decorrer do tempo… As riscas irregulares das verdadeiras zebras são para fazer com que o leão fique tonto ao persegui-las perdendo a noção e desequilíbrio. O facto de todas correrem em simultâneo causa o efeito psicadélico e, o que era, fica turvo com tantas riscas a se moverem. Às tantas as ordens variam conforme o desequilíbrio das ondas! O Costa é zebra, zebrum de caipira - bode velho e fedorento... A natureza ensina muito a quem se detém a observar os mistérios tão perfeitos dela…kiákiàkiá
AR - É por estas e outras que uma grande parte das pessoas com quem vou tendo contacto, sentir-me desiludido! Posso até perguntar ao mundo e para quem me lê, que interesse poderá ter no dizer de lindas ou ortodoxas de alguém com falas tão cheias de façanhas agigantadas - Para quê? Fica tudo assim como uma nítida imagem de uns tantos petulantes que não perdem a oportunidade de afectar as minhas sensibilidades, os meus cheiros, as minhas impressões como se fosse um desmilinguido. Termino como comecei, bufando àtoa...
Ilustrações de Assunção Roxo da Roxomania
O Soba T´Chingange
ANGOLA, TERRA DA GASOSA : Parte XVI
-CORRIA O ANO DE 2002 – NA TERRA DE MATRINDINDES
- Crónica 3327 - 01.08.2022 – Republicada a 17.12.2022
“Angola, quanto tempo falta para amanhã? Háka!” - Escritos antigos - Em Julho de 2002 (quatro meses após a morte de Jonas Savimbi - 22 de Fevereiro de 2002) - "O futuro anda empenhado ao diabo”...
Por T´Chingange – No AlGharb do M´Puto
Escrevo agora: Aqui me encontro na Diáspora! A batota continua em Angola e, tudo é do MPLA: É a Comissão Nacional de Eleições, é o Tribunal Constitucional, são as Forças Armadas, é a Polícia Civil, são os Kazukuteiros, é sua opinião, são os Tribunais, é o escambau, como dizem nossos manos brasileiros. Angola deveria mudar o nome para “Terra da Batota”, “Terra do M” ou “Terra dos Matrindindes”; Também “Terra dos Marimbondos…Háka!
Depois deste interlúdio em dois compassos de raiva rilhada, feito prefácio assobiado em graves e gravíssimos tons aonde se vislumbram muitos jogos de luzes, telões que mudam o cenário, fogo e fumaça com os neurónios do povo a arder, surgem as poses estudadas dos DDT (Donos Disto Tudo), coreografias milimetricamente ensaiadas por assessores da mututa pagos em milhões.
Há, vídeos e silêncios que servem de interlúdio duma batuta única para manterem a mesma farpela. Ali o texto governamental, não tem contexto, não há prefácio nem postfácio; tudo é como eles querem, sem notas, sem sumário, sem introdução, nem capítulos. Lembro a minha empregada de Kampala, a Mery falando: - Patrão, aquilo mesmo vai ser só de faz-de-conta, rematando “This is áfrica”
Mary estava Certa! Escrevo agora: Ali continua a ser a terra da bagunça, terra do J.L. Sesse Seko Nkuku Ngbendu wa Za Banga. Háka… Naquela viagem de 2002, a Benguela mulata salientou-se de forma diferenciada. Em casa de gente mulata fiquei; a Dona Adelaide foi o máximo de carinho que nos reservou, seu fino trato em um escasso fim-de-semana.
Por imperativos mútuos só ali ficamos o tempo que se quis mas, naquela casa do Amor (nome de família) o almoço de muamba, o saca-saca com gimboa, o muzungué e os bolinhos de fabrico próprio deram tempo para matar as falas antigas com ongweva animando aqueles sábado e domingo de Julho (…há vinte anos atrás). Os mosquitos, também eles nos acariciaram de amores e, tantos eram que, tivemos de nos refugiar no quarto, exactamente o do dono da casa, no primeiro andar, janela a dar para o grande adro da catedral de Benguela na forma de V invertido. E, no canto da casa lá estava uma arma kalashnikov, municiada para qualquer contratempo – mosquitos de duas pernas. Amor esfacelou sua perna em luta com um ladrão de quintal, perna que agora, não tem!
A muleta substituiu a pena – os tempos condicionaram a vida da família amores ao rubro. Naquele quintal havia uvas, gajajeiras, sape-sape, tamarindo e goiabeira; também havia uma maça-da-índia. Os cubanos nada puderam levar daqui mas, foi dito que as lápides em mármore dos cemitérios despareceram sim! Recordei em falas que quando da minha ida a Cuba vi uma carrinha fechada aonde ainda se podia ler de forma sumida “Futebol Club do Lobito”.
Em nossas conversas de fundo do quintal relembramos o tempo sem aprofundarmos em exagero porque cada qual, naturalmente teria suas próprias periclitãncias e, não convinha recordar cacimbos defuntados. A última vez que tinhamos estado com a família Amor tinha sido em um almoço no João do Grão, ali bem perto do Rossio de Lisboa. Formando frases curtas e sinceras rematávamos nas voltas certas, driblando de certo jeito nosso passado. Sim! Porque de outro qualquer modo ele, o passado podia, reconhecer-nos.
Tivemos de aprender com as formigas grandes, kissondes que em andamento seguro arrastam pelo pó do chão seus ventres escuros sem discutir com Deus por assim andarem, sempre se arrastando. É a vida, dizia o homem que mais tarde foi para a ONU; que ainda lá está… Se pudéssemos adivinhar o futuro sem o ter de deslocar, tê-lo-íamos beijado, sugar-lhe as energias, deixando-lhe um montão de problemas, porque cada vez que se respira agora, torna-se tudo mais caro e, nossa escrita que até podia ser criativa, fica lodosa; um pântano languinhento com taxas e taxinhas mais a água, a luz, revisão do carro ou pagamento ao jardineiro que quer ganhar como se o fora o primeiro-ministro…
Nossa vida, nossa prosa fica assim como um deserto, estendendo-se até ao horizonte da kúkia, sem nada acontecer; fica só uma vida de estórias com partidas e chegadas. É por isso que me regalo com as estórias alheias como a da minha empregada de Kampala chamada Mery. Na manhã de antes de anteontem disse-me que sua mãe mandou-lhe por correio expresso um pacote de formigas fritas, embrulhadas numas folhas de bananeira… Ele há coisas…Lá teremos de papar formigas.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
ANGOLA, TERRA DA GASOSA – Crónica 3326–24.08.2022 – Republicada a 16.12.2022
CORRIA O ANO DE 2002 . XIV – NA TERRA DE MATRINDINDES - “Angola, quanto tempo falta para amanhã?” - Escritos antigos. Em Julho de 2002 (quatro meses após a morte de Savimbi - 22 de Fevereiro de 2002
N´Nhaka: - Do Umbundo, lameiro, plantação junto aos rios, horta…
Por T´Chingange – (Otchingandji) – No Al.Gharb do M´Puto
Já no Alto Liro do Lobito - De um qualquer lado, bancas de bolos de batata-doce e mandioca desprendiam odores fortes mas, do lado esquerdo, estava uma escura e abandonada ruína que em tempos tinha sido bloco de apartamentos. Talvez! Neste redor de muitas coisas e dúvidas senti uma náusea, uma multidão de gente barafustando ou incitando, rodeava um negro de aspecto encorpado, que tombado, rolava no chão ensanguentado.
Não sei o que teria originado aquele bate e chuta de alguns ou de todos mas, correu-me um calafrio pela tardoz coluna e, os senhores dois polícias que ali estavam, a escassos trinta metros se tanto, nada pareciam ver; ali havia coisa de roubo mal sucedido porém, o nosso guia “Bien” (Beto), também de acostumado, continuou sem nada dizer; conclui que a justiça popular estava a seguir as normas ao jeito do antigo “Tira Biquíni da Luua”, lugar aonde aconteceu queimarem supostos ladrões com pneus envoltos na cintura. Até dói, relembrar gente a morrer literalmente regados, nas chamas de gasolina.
Daquela parte e do envolvente não gostei e, quando olhei para trás as barrocas estavam apinhadas de cubatas eclecticamente construídas com os mais diversos materiais – plásticos, chapas de zinco, madeiras e remendos com latas de tinta, latas de azeite galo do M´Puto ou leite Nido, tipo patrocínio da Nestlé. Seguiram-se as lagoas de imundas margens, os barracões armazéns de todo o género de mercearia e bebidas, controlados pelos Libaneses e Sírios; todo o grande armazém dizia-se ser de uma destas castas, gente de resiliência permanente.
A dona Andresa esperava-nos de refeição posta; sabendo das carências nos caminhos ultimou um repasto de muitas iguarias e as frias e gulosas cervejas; A restinga, o barco no ar, o porto, o clube náutico, as casuarinas e os bares da pontinha estavam de melhor agrado do que tudo o visto anteriormente; dou nota positiva a este istmo a que chamam ilha mas o resto sempre ficará amachucado na lembrança sem a ongweva peculiar de um qualquer que queira ver progresso.
Noite entrada e já para lá da Catumbela a polícia fez alto ao nosso carro, ou melhor o zingarelho do Bien e, eu nem saí pois sabia que teria de forçosamente de haver uma conversa longa de convencimento e respectiva gasosa. Bem! Os motivos eram por demais evidentes. Da parte de trás o carro era fantasma, só tinha o escuro da noite e fuligem de má combustão, luzes, nem uma.
Luz de stop nunca tinha sido necessária mas, agora o polícia não saía das más conclusões e só a promessa de arranjo e o cuidado a ter com a outra patrulha mais à frente, fez deslizar o desejo em vontade e, o agrado ficou registado com uns quantos kwanzas. Entretanto, a meia hora perdida passou-nos à frente e deu-nos luz; a aventura estava a decorrer.
CA - Depois do canavial da cana-de-açúcar da Catumbela vimos a antiga fábrica de whisky “Sbel” enferrujada por abandono, ferros retorcidos a suportar chapas feitas catavento, rugidos agudos e penetrantes dando vida aos zingarelhos, vento do oceano guinchando desmazelo. Eu que fiz minha festa de casamento com aquele whisky na estalagem Leão de Luanda, fiquei abanando o cérebro penumbrado de muita tristeza. Seguiu-se no trajecto uma ponte que já o tinha sido em Rio Cavaco; contornámo-la antes de entrar em Benguela.
Aquele contratempo de não haver ponte forçou-nos a um pequeno desvio pela mulola seca mas, num repentemente, aí estava a cidade das acácias, Benguela aiué… Aqui os crioulos mazombos em rebeldia de afazeres e dizeres e ao rubro, reforçavam seus valores de mwangolés e, com algum aprumo, não permitiram aos cubanos levarem suas acácias para a sua ilha do desespero. Pois nesta cidade mestiça, fiquei bem ao lado da linda catedral em forma de bivaque de magala, na casa do Amores… Aqui o caldeamento do mundo negro num predisposto protesto com os t´chinderes brancos, os Silvas e os Ferreiras mais Pereiras, nunca atingiu a negritude plena – ficou mestiça com ongweva, estímulos e sentimentos… Escrevi então: Aqui me encontro – isto continua a ser Benguela!
O Soba T´Chingange
ANGOLA, TERRA DA GASOSA -.XII -" Alto Liro. Lobito à vista" - Crónica 3325 - 03.08.2022 – Republicada a 15.12.2022
CORRIA O ANO DE 2002 - CANTINHO DO INFERNO – TERRA DE MATRINDINDES
“Angola, quanto tempo falta para amanhã?” - Escritos antigos - Em Julho de 2002 (quatro meses após a morte de Savimbi - 22 de Fevereiro de 2002
N´Nhaka: - Do Umbundo, lameiro, plantação junto aos rios, horta…
Por T´Chingange – (Otchingandji) – No Al.Gharb do M´Puto
Rumo a Sul, na geografia natural, segue-se o rio Evale, fronteira do Quanza Sul e não muito longe o rio Colango aonde paramos e provamos cocoto, fruto da matebeira; cá para mim aquilo de tão rijo só dá mesmo para enfeitar centros de mesa ou chapéus de dama exótica e, brasonada. Foi aqui, no Colango que vimos indicação de minas em tabuletas vermelhas de caveiras brancas.
Havia pedras pintadas de branco a dar indicação do lado ruim além berma em ambos os lados da ponte. Aqui compramos aos acantonados da UNITA umas quantas perdizes por 50 kwanzas cada e, mais uma tua; estes faziam por ali desesperos de nada recheados de moleza rota e mal paga. Mais à frente - muitos buracos... Os táxis e candongueiros das "piruas" passavam por nós desafiando a gravidade, como batiscafos. Alguns ultrapassaram as indefinidas bermas e desmantelaram-se nos capins e cajueiros.
Os condutores das “piruas” andam que nem louco; estes chapas kazukuteiros trabalham no futuro condicional, juro, vai correr tudo bem “tio”- falam só assim com os mais velhos; vimos vários nos capins ainda cheirando de desastre fresco. Foi a partir do rio Balombo ou, melhor, lá atrás na Kanjala, aonde começou a dança, aonde parámos para provarmos as frias Nocal, Eka ou Cuca à sombra de uma grande mulembeira; mesmo ao lado do hotel aonde o Jimba (Peixoto, já falecido) passou a sua lua-de-mel e, do outro lado do rio lá estava o bananal do Setas.
Demoramos seis horas contornando buracos nos 180 quilómetros, sendo os últimos oitenta os piores. A cassete enquanto desprendia música na perplexidade de tanto solavanco e, no recordar de palavras memorizadas de sal sujo, com as matubas (testículos) pisadas o “havemos de voltar “ incubava-se de vontade.
Entretanto as canções dos Irmãos verdade “Deixa eu entrar no teu coração “ ou o “Ka Bu Fronton“ do Jota Neto e mesmo “Os amigos da Onça” do D.J. Rafa e Isidora, perturbavam-me, juro mesmo!... Talvez pelo fumo do petróleo que entrava pela chapa do zingarelho –lastro do fundo sem fundo, misto de carrinha com ximbeco colado com chwingame nos muitos buracos do escape e periferias.
Carro chinguiço do engenheiro de Matanças, o Bien, francês de faz-de-conta. E, também com adjacências estranhas e estrambólicas que talvez, de certeza, perturbava nossos sete sentidos virados num oito de indefinida duração. Se não morrer por aí lá chegarei – aiué. Passado o cruzamento da estrada que liga ao planalto central através do Bocoio via Bailundo segue-se o desvio para a barragem do Biópio no rio Catumbela a montante dali, o Alto Liro do Lobito já estava próximo.
Era um era num era neste caminho de destino às acácias rubras e buganvílias de Benguela. Se Deus quiser, vamos chegar; pelo menos uma vez, olhe pelas nossas carcaças Tio do Ceu, viu! Sem saber se viu ou ouviu, lá fomos, sem ter chegado à nascente do Nilo ou Zambeze, tal como Livingstone e, ressalvada a lonjura no tempo e no espaço, também parte do meu coração foi ficando por ali em dedicação com fidelidade canina a África, terra de largos gestos! Saí de Angola mas ela nunca saiu de mim... Bien?... Prego no fundo que já cheira a maresia.
“Benguela, terra das acácias rubras". O lixo era por demais naquela descida para o sapal do Lobito, era-o de um lado e outro nas encostas do morro que nos levava lá abaixo. A estrada no final não se distinguia do resto e a gente era mais que muita no meio de uma suja poeira e fumo desmaiado de tendas mal-amanhadas; ali bem perto e do lado esquerdo corriam umas águas vindas do Alto Liro, dos esgotos claro! Ou, nem tanto, pois que talvez estivessem filtradas pela terra ou então, uma rotura nas águas domésticas porque estava a ser recolhida em baldes e já se via um Jeep luzidio da lavagem! Tudo indicava ser de um Libanês – aqui tem gente daí pra caramba. Até Sírios, tem…
(Continua...)
O Soba T´Chingange
ANDAMOS A VIVER DIAS MENTIROSOS
Crónica 3324 de 27.07.2022 – Republicada a 14.12.2022, em Lagoa do M´Puto
Por T´Chingange (Otchingandji)
Andamos a viver dias mentirosos. Acho que Deus Nosso Senhor, não quer consertar nada a não ser pelo completo contrato da morte pois permite que seus súbditos na terra descumpram a palavra dada sem que o Sol se ponha, uma espada muito cheia de ranhuras de aflição. Dou conta disto por ver o que se descumpre quebrando qualquer regra de bom entendimento – cuspir repetidamente no próprio verbo.
Numa de diabo contra satanás, Putin contra o cidadão comum que nada fez para ficar arruinado com pontaria GPS de um míssil, dum obus que aleatoriamente manda um tiro curvo a cair aonde calha. Quantos de nós estão consumindo a palavra piedade, sofrendo com a urgência de não entender a dor.
Qualquer, um pacato cidadão lá no lugar de sua moradia, no dar dois passos no eirado que lhe resta repentinamente a morte surge; do nada e na forma de fuzilamento esvai-se da vida varado com muitas balas, muitos estilhaços, restos de destruição, uma outra Guernica que ninguém acreditava acontecer de novo e, por nada, ou talvez dum quase nada…
E, quem somos nós para excomungar Nosso Senhor e os chefes da Guerra, se nós nem escapulário temos para tornar os olhos avessos, sem púlpito nem qualquer poder de estilhaçar um Não! Os donos da Guerra sem temor a Deus, sem justiça no coração que surgem a judiar o Mundo, a estragar e rasgar o que há de rasgável na alma das gentes. Tiros altos, revoantes, que surgem como pássaros de balas a cair num aleatório lugar.
Coisa nunca vista ou prevista, bombas caindo ao calhas, também em sítios prévios, um sítio destinado, matando conforme o querem, matança de genocídio de arruinar, só por arruinar; e, atiram nos bois, nas vacas, no gado tão manso. Nesta hora a gente força um escape, pode ser que sim, que se tenha sorte mas, mesmo assim sofrendo muitas mortes…
Sim! Pode ser até que tenhamos sorte, pode ser porque estamos longe! O pensar caladíssimo do Ocidente perturba-me mesmo que elas as balas, não façam zumbido revoado em minha cabeça. E, se afinal todos estamos condenados à morte porquê omitirmos as dos outros. Escrevo esta missiva feita crónica para o Senhor Oficial, o Comandante em Chefe das Forças Armadas.
Não vale a pena ficar na retaguarda porque a morte não tem alçado frontal, nem tardoz – vem num aí, num ui e, juro, careço de querer calma. Os cacos continuam caindo do alto! Ando sofrido a espiar o desdém do Mundo. O Sol Kukia, não tem como se abraçar a nós, nem se pode esperar isto. O tempo escasseia-me muitas vezes, para poder redigir histórias escondidas, antigas, chamar nomes feios a gente que tem dois olhos, duas pernas e até duas orelhas como eu.
Nessas alturas de revolta subitamente levanto voo, plano como um albatroz e por aí vou fora, sem parágrafos ou pontos finais, com diálogos dinâmicos, que só o serão na ficção! Falo para o boneco! Creio que também aqui “ a guerra, que mata e estropia tantos, alimenta um punhado de pessoas, que se tornam ou tornarão insultuosamente ricas e prepotentes” – São estes que agora governam o Mundo (Ainda…)
O Soba T´Chingange
ANGOLA, TERRA DA GASOSA . X
CANTINHO DO INFERNO – TERRA DE MATRINDINDES
“Angola, quanto tempo falta para amanhã?” Escritos antigos - Em Julho de 2002 (quatro meses após a morte de Savimbi - 22 de Fevereiro de 2002)
Crónica 3310 de 02.05.2022 na Lagoa do M´Puto – Republicada a 01.12.2022 no Alentejo do M´Puto
N´Nhaka: - Do Umbundo, lameiro, plantação junto aos rios, horta…
Por T´Chingange - (Otchingandji)
Na contingência de estar a falar para o boneco de coisas passadas, dos tempos de escândalos e dinheiro escondido na cueca, enterrado nos jardins ou até esquecidos em contentores ao sol impiedoso e, no meio de gente que sofre de resiliência e coisas ao desbarato pós colonial, lá teremos que contar sempre com essa gente do sistema que não obstante serem estupidamente fanatizadas no partido da governação, o são também por conveniência despiedosamente vazias de raciocínio na humanidade.
Por isso terei de falar banalidades do dia-a-dia de então sem me imiscuir a fundo nas debilidades de N´Gola e no seu imberbe sistema caducado, passados que são muitos anos e, desde então sem ver o emprego crescer, sem ver uma boa ordenação do território com os governantes a só fazerem banga com o que lhes é alheio, dinheiro oriundo do petróleo caindo do céu e a rodos como se o fosse chuva a cair só no seu quintal, sua n´nhaka ou fazenda. Não obstante tudo ter um início, só senti o permanente cuspir cacofonia de palavrões na sorte do colono.
Cristo continua a assobiar para o purgatório na mira de não desagradar aos olheiros da justiça, da educação, na ética e, por aí; como tal não nos cabe pretender agradar a alguns esquecendo a todos! Teremos de omitir falar de venenos especiais, críticas eventualmente justas, desoxigenando o nosso EU na defesa de torpes brutamontes; o importante é não alimentarmos ódios ou desejo de vingança porque isso, só torturará nosso bom censo, nossa liberdade. Nem é preciso estudar-se psicologia avançada para se concluir que o ódio ou desejo de vingança como um bumerangue, só deformará nossa personalidade.
Naqueles idos tempos e ali, Cantinho do Inferno, centro produtor de algodão havia muita gente dependente a não ganhar fortunas, mas, até havia cinema e salão da ferrunfunfa, forró aonde se curtiam danças de farfalho, lugares aonde se esgotava parte do salário, dinheiro da jorna desbaratado em álcool de cerveja e outras afinidades à bebedeira; segunda-feira era dia certo de se comunicar as falsas mortes lá de casa por via de se justificar a não ida ao trabalho. Não levava muito tempo para se matar a família todo e até os tios morriam duas e três vezes. A arte da mentira era bem conhecida do patrão, coisa corriqueira até.
Os filhos do patrão Cunha, subornavam com frequência os condutores subalternos com umas Cucas, Nocais ou Ekas e até Mission, para os deixarem conduzir o tractor, a alfaia ou a carrinhas Bedford ou Ford e, era um gozo do caraças. Foi bem assim que Chiquinho, Zito e Toninho aprenderam a fazer esquindivas com as máquinas. Mais tarde e ainda naquele agora relembraram as finfias que faziam. Neste entretanto da visita verificamos as muitas carências em que viviam naquele ano de 2002. Eu, Zito e Chiquito resolvemos voltar àquela aldeia. Decidimos ir à Cruz Vermelha local pedir um fardo de roupa a fim de o distribuirmos àquela gente; os candengues andavam com trapos nos corpos meio desnudos.
Assim pensamos e assim o fizemos. Junto do representante da Cruz vermelha depois de muitas falas no convencimento de que não havia negócio em nossa vontade, compramos um balão de roupa, fardo como nós conhecíamos do antigamente. No desenrolar de conversas ultrapassadas e pagamento de 100 dólares, pedimos ao senhor Setas o Land Roover e lá fomos conduzidos por seu filho Cado de nome. Passadas todas as instâncias, cuvas e buracos, chegamos á dita aldeia.
Chegados cedo encontramos o padeiro que também chegava naquele momento e partindo de mim, disse ao Zito que compraria todo o pão para oferecer àquela gente. Pois foi dia de festa: nós mesmo distribuímos todo o pão segundo a ordem da fila e entregamos ao Soba o fardo de roupa para distribuir pelos necessitados que em verdade eram todos. Recordo que distribuímos o pão sendo a unidade ao preço de cinco kwanzas. Os mais velhos conheciam a Dina, o Zito, o Chiquinho e as festas de ongweva, foram mais que muitas. Bebemos marufo em latas amassadas e sem rótulo oferecido por um deles, sabor que já conhecia por via da guerra do Maiombe; foi esse dia, pelo dito, um bonito dia de bênção.
Deram-me um canguixe, utensilio de pisar grãos de milho em cima das locas, penedos já lisos de tanto uso; foi um agradecimento que preservo como se o fosse de oiro em minha sala e num lugar nobre em cima da estante. Esta ferramenta de trabalho chamam também de “huim” – é usado só com uma mão, enquanto com a outra, normalmente as mulheres batem e batem, sequentemente ajustando o monte e, até tudo ficar em farinha. Tem a forma de um braço curto, feito de pau-ferro e, sendo uma das extremidades com o formato de cabo anatómico e ajustado à mão. Linda, era o nome da mulher que me ofereceu tal instrumento. Quiseram que trouxéssemos, imaginem, gente carecida de tudo, um cabrito e galinhas mas, rejeitamos ficando de voltar mais tarde para os comprarmos. Resta dizer que ainda nesse então havia sim, paredes de pé, havia sim sinais de bazucadas jogadas a eito. Concluindo: Os matrindindes continuam livres como sempre se viram!
(Continua…)
O Soba T´Chingange (Otchingandji)
ANGOLA, TERRA DA GASOSA . IX
CANTINHO DO INFERNO – TERRA DE MATRINDINDES
“Angola, quanto tempo falta para amanhã?” Escritos antigos - Em Julho de 2002 (quatro meses após a morte de Savimbi - 22 de Fevereiro de 2002)
– Crónica 3307 de 27.05.2022 (45 anos depois da morte de mais de 30.000 Nitistas – a matança)- Republicação a 28.11.2022 na Lagoa do M´Puto
N´Nhaka: - Do Umbundo, lameiro, plantação junto aos rios, horta…
Por T´Chingange – (Otchingandji)
Em terras de matrindindi! Matrindindi é uma carocha de perfil pré-histórico, talvez um normal insecto coleóptero do género do escaravelho, só que este é muito mais extravagante, de cor escura, dorso azul e com muitos picos e patas longas; mais parece obra duma formatada bruxa ruim promovida a grilo, salvo seja. O Land Rover do Cadinho do Sumbe, pisava-os sem alternativa, eram muitos a passear descuidadamente na picada, sucedendo-se os estalos como o de castanhas a rebentar ao calor do fogo.
Era suposto falar hoje do 27 de maio de 1977 mas o tema ainda é “quase tabu” em Angola, desconhecido por muito jovens e, porque não quero hoje tocar em coisas nefastas vou passear pelos matos; o que mudou mesmo foi o ressurgir de novas formas de roubar ao erário público destroçando paulatinamente a economia angolana, levando o povo ao desemprego, usando formas tristes de rebuscar nas lixeiras os desperdícios dos ricos que mantêm o sistema…
A serra do Chamaco via-se ao longe como teta saliente na cordilheira e, no caminho de Seles com uma vasta região de floreta de espinheiras, acácias de picos medonhos, babosas, newas, matebas, uma ou outra cassuneira, lengues, lungwengué da qual se fazem cordas de muita resistência. Em terras e N´Gunza Kabolo, soba antigo que deixou bom nome, avançamos pelo matagal, por onda a guerra se fazia sentir escassos meses atrás; a comprovar lá estavam as carcaças enferrujadas de camionetas, machimbombos, Ifas e Urais de fabrico russo.
Calcorreando desvios, contornando maboques, upapas e lenwenue de bagas curativas das feridas de matacanhas, cheiramos a braveza da natureza a contornar o rio Lua e o Caçosso com n´nhacas de belas hortas até se chegar ao rio Cubal. Não vi os macacos pulando entre as bimbas, coisa normal de tempos idos mas, que a guerra decerto os fez correr para não serem comidos.
Havia sim goiabeiras mangueiras e gajajeiras que ainda serviam para alimentar as acantonadas tropas da UNITA. Num tom de saudosa lembrança a voz esganiçada de Vitória* tipo cana rachada fazia-se ouvir: Vou ti bater minina; pertencente à OMA – Liga da Mulher Angolana afecta ao MPLA foi sobrevivendo com o slogan de victória ou morte; ali estava ela anafada e impregnada de bolunga feita em álcool de caporroto, de casca de banana, mandioca ou batata mas, no entanto lembrava-se das tareias que levou por causa da menina Dina, filha do patrão Cunha.
Um grande abraço selou a saudade, daqueles tempos em que perseguiam os macacos e metiam matrindindes em frascos de nescafé. Isso de quando iam apanhar minhocas do rio Caçosso colocando-as em latas de leite Nido para o tio Francisco ir à pesca lá na foz do Cubal. Apanhamos sape-sape (graviola) tirando deles as sementes, dispusemos em uns frascos de azeitona para plantar no M´Puto e também umas melancias gentias chamadas de tanga – vi estas em grande quantidade quando andei pelo Kalahári…
Os Bushmen usam-nas para fazer o “Kalahári thirstland Liqueur”. Aqui usam-nas para fazer de xuxú nos variados cozinhados: aproveitamos trazer uns cambungues (papaia) e ukeluá-muflé – folha de abóbora para fazer esparregado e, no regresso junto ao Caçosso apanhámos as tais bagas vermelhas que no tempo passado servia para colar os selos nas cartas - por isso ainda as conhecemos por árvore da cola.
Da aldeia do Caçosso só existiam ruínas (não vem no mapa) mas, a mulembeira ainda lá estava, menos imponente porque a cortaram parcialmente. Dali seguimos até ao Cantinho do Inferno; o porquê deste sítio se chamar assim deve-se ao facto de numa baixa pantanosa as camionetas mercedes, chevrolletes, magiros e Fordes ficarem ali atascadas dias e dias na via que vinha do Planalto Central. A escassos quinhentos metros lá estava a casa mãe da fazenda de algodão (em abandono) que dava guarida a todos aqueles camionistas que por ali vinham com suas cargas e, ali tinham parada forçada pela chuva e atoleiro. Cantinho do Inferno, funcionava pois como pensão, restaurante e a boa-atenção do Patrão Cunha (Já falecido) … * Nota: Vitória, entusiasta da OMA, morreu encharcada em cachaça no ano de 2004 - dois anos após esta odisseia…
(Continua…)
O Soba T´Chingange (Otchingandji)
*PRIORIDADE MÁXIMA*
- Crónica 3302 em 16.05.2022 – Republicada a 22.11.2022 em Lagoa do M´Puto
Por T'Chingange em Arazede de Coimbra do M'Puto
Introdução: - Cada um de nós deveria ter uma BAZUCA sem a ilusão e, COMPADRIO carunchosamente facilitado pela fricção corrupta...
Mergulhados em um mundo mediático, publicista e consumista, corremos todos os dias o risco de priorizar o que é secundário. Governo e vendedores de fantasias enchem-nos a paciência sem dó. Muitas coisas são importantes, mas é fundamental estar-se constantemente vigilante na avaliação do topo da lista. Somos sempre estimulados a desejar aquilo que não é realmente necessário, a criar falsas necessidades.
Não podemos viver autocentrados quando o alerta nos torce a mente enganando nossas urgências e necessidades. Assim, o que é mais importante na vida assume uma posição secundária e passamos a trabalhar, lutar e investir nosso tempo e energias a correr atrás daquilo que é supérfluo ou ilusório...
Sabemos que precisamos priorizar o que é autenticamente importante. O problema é que dar prioridade àquilo que é mais importante, nem sempre brotará espontaneamente de nós. Normalmente, o que em nós pulsa, é o desejo de auto realização correndo o risco de virarmos marionetas.
Queremos afirmação e pensamos que sejam o fruto de nossas conquistas: “Minha beleza, minha inteligência, minha casa, meu celular, meus diplomas, minha profissão…” E, quanta decepção se encontra quando priorizamos o que não nos é assim tão necessário…
Nossa única prioridade real na vida deve ser o de "viver com dignidade e liberdade". No fim de tudo, o que importa é se você colocou a sociedade, seu próximo ou vizinho e família em primeiro lugar...
Com fé, a prioridade surge; e, até encontrará forças e sabedoria para enfrentar qualquer tipo de circunstância! Ao dar o primeiro, o melhor e o mais importante é esse lugar de seu lado positivo no pensar; e, verá assim que tudo o mais se encaixará, naturalmente...
Sua realização e afirmação não estão no que dizem as vozes deste mundo cheio de propagandas vazias, mas no que diz a palavra da sua humilde e honrosa postura. Sempre é tempo para tomar um novo início com o rumo certificado em mente de progresso.
Comece agora a buscar o reino de seu templo, seu pensar como PRIORIDADE MÁXIMA. Faça disso seu maior interesse e veja cumprir-se em sua vida a promessa com o verbo certo, em um qualquer novo dia: “Essas coisas lhes serão acrescentadas” sem a necessidade de se esquecer...
O Soba T'Chingange
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