Segunda-feira, 4 de Março de 2024
VIAGENS . 145

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3556 – 04.03.2024

 “A LONGA MARCHA  COM SAVIMBI” – Segundo Fred Bridgland

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

mavinga1.jpg Recordando a “Longa Marcha” no ano de 1976, terei de relembrar que tive e continuo a ter com orgulho de exibir, um galo em cerâmica que sempre ficou agarrado à lapela do meu terno de azul diplomático, oferta como se assim o fosse: um louvor medalhado, por essa gentil pessoa, diplomata e guerrilheiro da UNITA com o nome de Alcides Sakala que anos depois, representaria a UNITA em Portugal, sendo eu coordenador da Zona Sul do M´Puto por ele indigitado…

Nesta descrição, andarei um pouco à frente e atrás para inserir o essencial dos problemas que afectavam milhares de seres como eu e, em iguais circunstâncias; gente que quis esquecer e, que acabou mesmo por assim o ser… Perturbado com os punhos no ar e assembleias a toda a hora, em terra de Otelo Saraiva, zarpei, bazei, fugi de licença ilimitada rumando para a Venezuela de Andrés Peres até ao ano de 1982

mavinga4.png Mas, lá longe, a “Grande Marcha” em terras do Moxico, em Agosto de 1976, já quase no fim, tinha sua continuidade. A causa pela qual Savimbi combatera durante mais de uma década, parecia perdida. Durante seis meses, ele fora perseguido e incessantemente acossado través destas vastas matas e savanas de Angola pelas tropas cubanas, por aviões e helicópteros: O inimigo aproximava-se ao entardecer, enquanto ele confortava o soldado moribundo.

Savimbi perdera o contacto com os demais grupos do seu fragmentado exército. Os seus aliados do exterior, em África e noutros continentes, tinham-no abandonado… Savimbi parou de confortar o soldado doente para verificar o estado do resto de seu exército. Uma hora depois de ele ter partido, um oficial de ordens, deu-lhe a notícia de que o jovem guerrilheiro morrera. Pouco depois morreram mais dois guerrilheiros.

paracuca27.jpg A travessia dos quatrocentos metros do canal principal do rio, fora muito má. Os hipopótamos, que reclamavam mais vidas humanas do que qualquer outro animal da selva, tinham ameaçado voltar a única canoa que fazia a travessia em vai-e-vem: apesar do risco de as explosões poderem ser ouvidas por patrulhas inimigas, preciosas granadas de mão tinham sido lançadas à água no intuito de assustarem as feras que resfolegavam.

Contudo a parte mais difícil da travessia, fora feito a pé, mergulhados até à altura do peito, através de trezentos metros do pântano inundado que ladeava a margem leste do rio Cuito. As temperaturas geladas e o avanço penoso a pé esgotaram as últimas reservas de energia dos três homens falecidos. «Não podíamos movermo-nos. Não tinhamos escolha. As minhas tropas estavam exaustas após a travessia e alguns estavam já a morrer», recorda Savimbi.

cuamatos0.jpg«A minha gente estava separada, uns na margem ocidental e outros na margem oriental, e Mulato continuava perdido. Disse-lhes que deveríamos adoptar posições defensivas e, se os encontrássemos no nosso caminho, lutaríamos. Quando o combate começasse, poderíamos ter já recuperado forças; então, a maior parte da coluna poderia fugir para a mata, enquanto os outros procurariam aguentar o inimigo».

Durante a tarde chegaram mais dois helicópteros e, deixaram mais homens, tendo um deles aterrado a cerca de quinhentos metros do piquete de segurança de Savimbi, na orla da mata. Desta maneira, haveria talvez entre sessenta a oitenta soldados inimigos a patrulhar os canaviais do rio. Antes do cair da noite, os cubanos começarem a tomar posições para emboscadas. Savimbi decidiu que a sua gente teria de se afastar da zona perigosa…

Nota: - Com “transcrições parciais de Fred Bridgland em “Jonas Savimbi: Uma Chave para África”.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 17:43
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Terça-feira, 13 de Fevereiro de 2024
VIAGENS . 138

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3549 – 13.02.2024

 “A LONGA MARCHA  COM SAVIMBI”Segundo Fred Bridgland

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

valdir5.jpg (…) Em Gago Coutinho - Algumas pessoas ficaram terrivelmente feridas nos ataques, mas, milagrosamente, ninguém morreu. Nessa noite, já tarde, a coluna de Savimbi chegou ao Sessa, um pequeno centro florestal... Aí, Savimbi continuou a mandar dispersar o povo, tal como já havia começado na manhã desse dia, ao enviar 150 soldados e três camiões, de Gago Coutinho para Sul, a fim de organizar um comando regional no Ninda.

A partir do Sessa, Savimbi enviou 1.750 soldados, afim de se prepararem para a guerra de guerrilha dali em diante, para Norte, na direcção do Caminho de Ferro de Benguela. Disse-lhes que tentassem paralisar as estradas, armando emboscadas. Acima de tudo, porém, eles tinham de mostrar à população que a UNITA era capaz de desencadear, de novo, a guerra de guerrilha.

kifangondo 1.jpeg Alguns guerrilheiros foram mandados para trás, de volta a Gago Coutinho, para mobilizar a população rural das redondezas. Um grupo de cerca de 200, sob o comando do tenente-coronel Smart Chata, foi enviado com rumo ao Sul, para o Muié, a 70 quilómetros de distância, a fim de explorar a possibilidade de instalação de uma base na região, em alternativa à que estava sob o comando de N'Zau Puna, nos arredores de Serpa Pinto.

A 15 de Março, Savimbi ordenou que os veículos fossem regados com gasolina e incendiados, ignorando os apelos de alguns guerrilheiros que sugeriam que fossem escondidos para uso futuro. Savimbi estava perfeitamente consciente de que, durante muito tempo ainda, o seu exército teria de confiar inteiramente nos próprios pés.

valdir2.jpg A mudança de posição dos guerrilheiros demorou dez dias. A 24 de Março, Savimbi estava pronto para partir e a sua coluna, que deixou o Sessa a pé, era constituída por cerca de 2.000 resistentes. Uns 600 guerrilheiros e o resto civis, incluindo mulheres e crianças, alguns pastores protestantes africanos e três padres católicos....

Os primeiros dias de marcha através de morros arborizados, aparentemente sem fim, foram extenuantes. Bem depressa alguns dos caminhantes queriam abandonar tudo e Savimbi fez-lhes uma prelecção acerca da necessidade de escolherem o essencial e conservá-lo. Cada guerrilheiro transportava, pelo menos, duas armas e as respectivas munições, bem como o equipamento pessoal e alimentos, que incluíam fuba, feijão e algumas quantidades de carne e peixe enlatados.

guerra22.jpg Depois de duas semanas de marcha, a coluna foi localizada, quando atravessava uma estrada de terra batida, por uma patrulha de quatro homens do MPLA, que logo se retirou. Savimbi sabia, agora, que teria de forçar a marcha, porque os soldados do MPLA voltariam com reforços. Primeiro, porém, permitiu que a coluna descansasse numa aldeia abandonada, onde todos comeram mandioca que ali estava armazenada.

O MPLA, porém, voltou ao fim de meia hora, com uma força de 150 homens, cortando a rectaguarda à UNITA, que teve de retirar, só voltando a reunir-se a Savimbi muitas semanas depois. No momento em que o MPLA encontrou os piquetes da UNITA, Savimbi dividiu a coluna e o MPLA foi expulso da picada, após um breve tiroteio, durante o qual ninguém ficou ferido. Savimbi sabia, agora, que teria de forçar a marcha, porque os soldados do MPLA voltariam com reforços.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 14:54
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Domingo, 4 de Fevereiro de 2024
VIAGENS . 135

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3546 – 04.02.2024

 “Tropas cubanas para Angola, já!” - “O 11 de Novembro de 1975 em Luanda”

- Escritos boligrafados da minha mochila aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

zeka9.jpgVia Wikipédia:

Cerca de 12 horas da tarde de 10 de novembro de 1975, o Alto-Comissário português, Almirante Leonel Cardoso, realizou uma cerimônia solene no salão nobre do Palácio do Governador, onde declarou o fim da administração portuguesa e "entregava a soberania ao Povo Angolano". A passagem da soberania não teve um destinatário, facto que inclusive deu margem para a continuação da Guerra Civil Angolana…

O Alto-Comissário e os membros de seu gabinete retiraram-se do Palácio com destino à Fortaleza de São Miguel de Luanda, onde foi arreada a "última bandeira portuguesa em solo angolano". O Alto-Comissário, seu gabinete e o Comando Militar dirigiram-se para a Base Naval de Luanda, onde embarcaram nos navios "Niassa" e "Uíje", marcando o encerramento definitivo da colonização portuguesa.

ANGOLA7.jpg Na proclamação de independência o controle de Angola estava dividido pelos três maiores grupos nacionalistas — União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) e Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), pelo que a independência foi proclamada unilateralmente, pelos três movimentos em três diferentes lugares.

Proclamação oficial… O MPLA, que acabara de garantir o controle de Luanda, proclamou a Independência da República Popular de Angola (RPA) às 23h de 11 de novembro de 1975 no Largo da Independência (ou Primeiro de Maio), pela voz de Agostinho Neto dizendo, "diante de África e do mundo proclamo a Independência de Angola”, culminando assim o périplo independentista, iniciado no dia 4 de fevereiro de 1961, com a luta de libertação nacional, estabelecendo o governo em Luanda.

ANGOLA10.jpgCoube a Lúcio Lara, o presidente do "Conselho Revolucionário do Povo" (actual Assembleia Nacional), investir Neto no cargo de Presidente da República Popular de Angola no dia 12 de novembro de 1975, quando era cerca de meio-dia, numa cerimónia que teve lugar na Câmara Municipal de Luanda (actual Governo da Província de Luanda). Foi investido no dia 12 com efeitos retroativos ao dia 11, dado que já era o líder do processo revolucionário de independência.

O Presidente Neto, relativamente a Portugal, afirmava que a luta do movimento que liderava não era contra os portugueses: "Que pelo contrário, a partir de agora, poderemos cimentar ligações fraternas entre os dois povos". O Conselho Revolucionário do Povo aprovou, em sessão conjunta com o Comité Central do MPLA, o hino nacional…

ango0.jpgA bandeira e o emblema, bem como a Constituição Angolana de 1975, foi promulgada por Lara no mesmo acto solene de proclamação da independência. O Conselho Revolucionário do Povo aprovou, em seguida, a Lei da Nacionalidade em 1975. A República Popular de Angola é admitida na ONU e reconhecida por vários países. Portugal seria o 88º membro a reconhecê-la formalmente a 22 de Fevereiro de 1996

Mesmo sendo um dos intervenientes na batalha de Kifangondo ao lado da FNLA, com um total de 12 especialistas militares, o Brasil rapidamente abandonou a batalha e, o presidente general Ernesto Geisel decidiu reconhecer em 6 de Novembro de 1975, o MPLA como legítimo representante do povo angolano com as tropas das Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA) que defendiam Luanda comandadas por Agostinho Neto, estabelecendo relações diplomáticas com a nova República que se instalara unilateralmente. O Brasil fez isso antes mesmo de qualquer país do bloco socialista (cinco dias antes da proclamação a 11 d Novembro)…

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:45
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Sábado, 30 de Dezembro de 2023
VIAGENS 122

A CHUVA E O BOM TEMPO - NO M´PUTO

ENTRE O NATAL E O NOVO ANOCrónica 3533 - 30.12.2023

- No intervalo de viagens nem sempre é necessária a culpa para se ficar culpado…. Um chapéu de chuva, sempre dá geito…

Por: T´Chingange . Em Arazede do M´Puto

cangulo0.jpg Os sintomas do mal, revelam-se em características inquietantes pelas instabilidades politica e laboral na mistura do flagelo das guerras e da caristia da vida envolta em desemprego  prolongado. O mal fermenta-se na psicose gerada pela instabilidade apontada adicionada a outros males como a precaridade quase instituída; isto para não entrar no capítulo da educação, formação, investigação, assistência na doença e lóbis incestuosos nas várias frentes da governação.

Avós, pais e filhos têm de se organizar nestes inteiros condicionamentos de vida. Ninguém está certo da vitória no que concerne à nossa liberdade em nossa existência. Estamos sempre pendentes das medidas dos poderosos que por nossa mão (entenda-se o povo), alcançaram o poder; refiro-me aos políticos. No final, a culpa não é de ninguém e morre sempre solteira…

canguixe1.jpg Não poderemos libertar-nos dos sintomas conhecidos e de outros por conhecer, se não atacarmos a moléstia pela raiz sabendo que mesmo estas continuam a crescer de uma forma imprevisível! Nem sempre os diagnósticos estabelecidos pelos especialistas dão a necessária confiança à convicção de que um homem independente é honesto.

O clã familiar, cada vez mais tem de se organizar como e, para harmonizar sua existência humana tendo de partilhar sua reforma com um filho, com um neto, a um mais próximo a fim de se superar nas sucessivas crises. E uma crise não é singularmente diferente das precedentes porque dependem de circunstâncias novas. Isso! Condicionadas pelo fulgurante progresso da corrupção, da cunha e, aonde o homem, mulher, a família se vê neste tipo de economia dita liberal.

fifa3.jpg A lei da gasosa, sim! Obrigado/a no retirar migalhas ao salário sem sempre conseguir garantir as vitais necessidades. Dos ganhos, sessenta por cento, vão direitinhos para pagar a máquina estatal que subsidia partidos, fundações, observatórios e tantos outros afins de e a bem da nação… Balelas! Uma guerra de impostos taxas e sobretaxas; incestuosas atribuições…

O desemprego aumenta e a confiança no patronato diminui; diminui a confiança nos bancos, da participação pública nestes e depois… depois os bancos irão ser obrigados a sessar seus pagamentos, a diminuir os juros. E, dirão porque o público retira os depósitos, a economia fica bloqueada e edecéteras complicadíssimos de entender…

dia003.jpg Eles, os bancos convencionam-se em garantir seus fundos de prevenção dando-nos 0,01 por cento nos depósitos ao ano, cobrando-se de todas as tarefas inimagináveis. O que não nos dão, vai direitinho para o seu fundo de garantia, para pagar a trafulhices de venderem peidos de velha como se fossem ovos moles. Agora, dão-nos 3,5 por cento para tapar fendas da inflação que anda lá muito mais acima.    

As crises decerto darão dinheiro a alguém! Algum país, algum grupo ou contas de paraísos fiscais ficarão a abarrotar! Até no M´Puto há superávite - o termo genérico que se dá a uma conta de balanço de entidades com finalidades econômicas ou da administração pública que, em geral, corresponde à conta "lucro do exercício" dos balanços ....  E, andamos todos a chiar – que a vida está cara!?. As crises são preparadas de tempos, a tempos para nos esfriarem os bolsos. Os donos do Mundo, os donos disto tudo sempre estarão amparados pelos políticos eleitos. A inteligência é a capacidade de nos adaptarmos a tudo isto aceitando o roubo, a taxa, o imposto e alcavalas como coisa clara e instituída. Esforcem-se para não  ter um  Novo Ano periclitante! Fui…

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 17:02
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Sexta-feira, 6 de Outubro de 2023
VIAGENS . 87
NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3497 – 08.10.2023
-Às margens do Cubango - “Missão Xirikwata”
- Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

sacag2.jpg Em Angola, contornando medrosas angústias, febres palustres, jacarés e onças, entre várias molestias de paludismo cerebral, as guerras exigiram aos intervenientes, guerrilheiros, voluntários ou governamentais magalas da Metrópole, muito sacrifício. Assim o sejam no rumo da libertação ou seguindo a ideologia, de uma sentida crença ou por obrigação forçada por via de obrigatoriedade.

Assim o digo: Nações já formatadas em pleno, que exigiram dos homens um esforço extra na consolidação dum país ou de uma politica por imposição. Práticas de guerra levadas a cabo por combatentes que não o podem, ser esquecido pelos governantes de hoje, nos países dos PALOP´s, passados que são cinquenta anos da era colonial bem como das guerras posteriores de tundamunjila em Angola (guerra do vai embora branco…), que resultou na saída de quase um milhão de cidadãos. Também da guerra civil entre Movimentos em Angola, nomeadamente do MPLA e da UNITA.
 
Em reflexão, cheirando a brisa do rio Cubango, aqui em Mukwé, na companhia de João MirandaOliveira do Mucusso, e de vez em quando, Teles da Chibia, esporadicamente, reactivamos o quanto há hoje recalcados de tanta injustiça; todos estes ou esses que tiveram de perder o medo naquelas florestas, chanas, e anháras, numa Angola tão rica e tão ingrata a quem por ela ganhou uma “perna de pau”, “olho de vidro” ou “viajou para junto de N´Zambi”

pedras00.jpg Seguir directamente para o céu, directamente do produtor para o inferno feito fogo ou uma nuvem de algodão envoltos nessa kukia chamada de pôr-do-sol - fim de vida. Defenderam e mataram gente, construindo novas coisas, impondo regras sociais para conservar tal espaço. Fiotes, Kiokos, Kimbundos, Umbundos. Hereros, Ganguelas, Muilas, Mucubais, Bosquimanos, Magalas Tugas ou expedicionários do M´Puto.

Militares ou guerrilheiros que mudaram de alguma maneira, o modo de estar e de pensar, na sequência desses outros mais antigos magalas chamados de expedicionários da Metrópole e, que, aos milhares, também consolidaram um território dos Mwene-Puto e Mwangolés, morrendo por isso…

Quantas mortes para definir fronteiras de hoje. Angola ganhou condição de país quando na embala de Belmonte, Silva Porto, com 72 anos de idade se imolou envolvido à bandeira Portuguêsa. Aquilo, foi muito antes do arrastar da bandeira do M´Puto por muitos lados e pisoteada por gente que virou governante de alto coturno…

luua25.jpgGente que veio a presidir ao país e que também seguiu essa senda da vida defuntada na kukia da vida e, que também não ficou para semente. Todos, ou quase, percebemos que no livre jogo das forças, governos e governistas com afins circunscritos, hoje, interessa sim, adquirir a qualquer custo um poleiro digno governamentalista. O mundo está muito amalucado! Enquanto isso os resistentes daqueles tempos, lambem as feridas de catanas ou G-três da história.

Com as campanhas de submissão do sobado do Bié e, passados 85 anos, a 11 de Novembro de 1975, data em que Angola se concretizou num país cujas fronteiras foram delineadas por estes e aqueles combatentes que, paulatinamente o foram propositadamente, desprezados no tempo pelos seus países… E, tudo o foi desde o Mapa-Rosa africano que começou a ser desenhado a 11 de Julho de 1890. Data em que aquele chefe "O trovão", veio a sofrer represálias a 9 de Dezembro desse mesmo ano de 1890 por parte de Artur de Paiva, Paiva Couceiro e Teixeira da Silva com a ajuda do povo angolano Ovibundo, governado então pelo rei Ekuikui Segundo....
Ilustração de Costa Araújo
(Continua…)
O Soba T´Chingange


PUBLICADO POR kimbolagoa às 10:42
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Domingo, 1 de Outubro de 2023
VIAGENS . 86

NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3496 – 01.10.2023

-Às margens do Cubango - “Missão Xirikwata”

- Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

papoila2.jpg Hoje, aqui no Mukwé,  vou só relembrar coisas já ultrapassadas para me distrair na conversa: Naqueles muitos dias de dipanda aproveitava-se o espevitar da inteligência limpa de quem só tinha coração de ouvir. Nos tempos mangonhosos da idade maisvelha, sem precisar condicionantes de pôr mais minha conversa no ar, cada qual ouvia o que cada um tungava na sua maneira. Se der um tiro no passado, posso bem ser apanhado com uma bazuca do futuro e, deixando a sequência das coisas soterradas em uma cova sujeita à criatividade dos contadores muitas vezes fraudulentos. Também sujeito à critica de gente com os neurónios falaciosos num empenhamento de visão de Pilatos, senão coisa pior, assim do tipo Estalinista ou Leninista…

Cadavez, quando um ria, outro ria também só à toa. Agora, ali, Teles Ferrujado simpatizante do glorioso “Eme”, meu mais-velho amigo da Chibia, Capunda-Cavilongo das terras do fim-do-mundo. Contava seus dias de caça; tinha muito de esperto caçador e com muito mais de velhos anos, ainda estava vivo! Mentia também em suas calmas, esfregando sua barba rala e crespa, companheira de muitos segredos, de mentira, mesmo embrulhada por vezes em kafufutila de bombô com açúcar. E, eu até gostava de ouvir sem franzir o sobrolho.  Falava dos muxitos, das pacaças, desenhando aquela sua luz de verdecida vaidade de pontaria no centro do querer. Eu e mano Fernando Teles Ferrujado amigos do tempo do tundamunjila sabíamos que os espíritos antigos, depois de tanta guerra necessitavam de descansar .

Nós mesmo queríamos esquecer essa encruzilhada de muita maka e muito sangue. É que as lições da vida têm de ser sempre passadas a limpo, só nossa morte é quem pode ficar em rascunho - li isto nos guerrilheiros do Luandino. Teles me olhou muito mais macio, falar suave de caça de bichos não é o mesmo que a guerra do kwata-kwata e mata-mata de gente; Teles era bom e se via nos olhos dele, medo de acordar outros medos.

homologado.jpg Longe das anharas da Chibia, do Calai e Munhango de Angola, sentíamos então o cheiro do grande rio que descia ora barrento das chuvas, ora escuro na junção das chuvas com sombras. Só sentíamos mesmo o cheiro dos longínquos Québe, Cuito e Okavango. E, eu era de novo o Mazombo guerrilheiro gweta da Unita a afogar-me naquele cheiro de sol e mangue com o vento do mato e do zungal aonde cassumbulavamos com garimpeiros.  Assim contava coisas legitimamente enferrujadas, como que aproveitando pregos retorcidos de antigas tábuas de caixão ou porta duma administração de posto colonial.

Um, não era igual ao outro, nem um era como o outro ou contra o contrário do outro porque tudo o que se passava era só assim, mais nada, era como era, mais nada. De coração grande e espinhoso, esta cumplicidade, fugidos do mundo, nenhuma mata ia poder nunca lavar catinga de geração recordada nos encontros com o Fernando Teles da Chibia que sabia fazer biltong (carne seca com ou sem jindungo), como ninguém. Carne seca  para vender nos seus chimbecos, mukifos de taipa cobertos a zinco, espalhados por ali, sítios de gente dispersa…

edu42.jpg Teles o caçador, um conhecido dibengo, zebra, voltou à sua terra da Chibia na Quipungo, levando seus candengues Hugo e Carmita, faz tempo, nunca mais que soube da sua vida mesmo buscando no FB nada de nada! José Manuel Fernandes Teles, seu verdadeiro nome, bazou mesmo!  Num dia de mãos cheias nas falas de tempos lembrados ao sabor de uma moamba bem à maneira kaluanda, com os respectivos quiabos, gimboa, saca-saca da folha de mandioca e funge, escafedeu-se ué…

Tudo feito pelo ajudante de cozinheiro Tata kadinguila do Mukwé,  bem  à maneira de como os trabalhadores da construção faziam no meu antigo bairro da Maianga e Malhoas da Luua. Lembrei que em kandengue assistia curioso ao fazer daquela cola de sapateiro como minha mãe Arminda dizia. Agora, íamos fazer igual para relembrar. E, na hora de almoço sentados, em bancos de pau ferro  undianuno, e umas quantas tábuas grossas e soltas de kibaba a fazer de mesa, improvisávamos no quintal relembrando bem aquela forma de vidas biscateadas.

ama3.jpg Com os calos de nossas mãos fazíamos bolinhas de funge acinzentado e molhando na lata de dendem besuntávamos, levando à boca com prazer deglutindo, Aiué. Estávamos mesmo recordando nossas juventudes.  Amanhã vai mesmo ser peixe bagre ou tigre seco para matar saudades… Dona Elisabete  anuiu, quersedizer, disse que sim. Aqui, entre amigos e no lugar do Mukwé os dias iam passando falando coisas, umas àtoa e outras bem afincadas em nossa lembraduras (tempo atado nos fundilhos da memória)! Estavam reunidas as condições para falarmos da recente guerra de TUNDAMUNJILA, cada qual falando suas furúnculosas recordações …

Glossário: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes, durante os longos anos da crise angolana, e após o Acordo de Paz e Reconciliação Nacional, Tundamunjila: mandado embora, sair à força em contra-vontade; bazar: Cassumbular: - ser matreiro e ligeiro em tirar algo de outrem; kazucutar: viver de expedientes, viver à toa; Zungal: - capinzal, erva áspera de charco ou pântano.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 16:42
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Sábado, 23 de Setembro de 2023
VIAGENS . 82
NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3492 – 23.09.2023
– Em Catima Mulila no Zambezi River Lodge
- Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, entre os anos de 1999 a 2018
Por:DIA73.jpgT´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

IMG_20170902_102754.jpg Ás margens do rio Zambeze no Zambezi River Lodge e Mudumo National Park Mudumo National Park revejo-me nos muitos dias insólitos, encontrando factos mágicos na revisão de amigos que me fazem medir o tempo com quartilhos e rasas como se feijões o fossem! Amigos, que nem todos o são na forma mais estrelada ou requintda por empatia, que na maior parte das vezes são traduzidos nos cheiros de África catingados só na suficiente rasura para parecer que não o sendo exóticos de todo, assim se tornam gente esquisita…

Amigos, que sempre se aparentam genuínos sem o serem, descomparados ao perfume e o cheiro das primeiras chuvas que salpicam na terra da savana no kalahári. Sincero, assim temos de o ser por vezes, mesmo que o seja aqui, a sul de Kongola bem no centro de Mudumo National Park aonde também me camuflei de guerrilheiro apócrifo circunscrito por uma mata de mopanes e amarulas…

kalu11.jpeg Lembrar-me aqui em terras agrestes de áfrica, que em Portugal após 75, o meu telefone estava grampeado pela Secreta Tuga - Foi o tempo de em Portugal se dar luta sem justificação plausível à UNITA durante aquela guerra na sequência do primeiro conflito de tundamunjila* e, que culminou numa outra guerra acabada na Batalha de Kuito CuanavalePortugal estava naquele então totalmente submisso ao governo do MPLA, movendo-se por interesses de lesa-pátria e por esquerdoidos que se perpetuaram no tempo. Sabiam de todos os nossos passos e, até mesmo em kizombas de amigos aonde  estranhos, pareciam a sondar tudo sobre nós e o Movimento UNITA que virou Partido de âmbito Nacional. Foram tempos espantados de inquietude.

Metido em apertos, apanhei boleia numa Dodge até Namacunde com o Administrador de posto do Dirico, o senhor Pinto. Uns pseudo militares feitos agentes governamentais (do MPLA) encostaram-nos à parede enquanto revistavam a camioneta partindo tudo, a fingir descuido num sem mais nem porquê. O próprio administrador não sabia como controlar aquele desrespeito com todo o seu desamor à revolução da tundamunjila de matriz CR – Concelho da revolução do M´Puto; segredou-me que não demoraria muito para largar tudo e, mudar-se para o Rundu.
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Naquele agora, não era a hora de pensar nos senhores do M´Puto e no que russos, americanos mais o povo desininformado - traidores patrícios com seus generais de aviário pretendiam fazer. Apareceu um mulato fintador, com divisas de tenente, ex-militar do exército dito colonial, saído da EAMA – Escola de Aplicação Militar de Angola, penteado de balas em diagonal. Com pinta de herói, e nome fictício de Fuka Dibengo, deu ordens à guarda para deixar passar aqueles t´chinderes – que éramos nós…

isabel lacuerda.jpg Ficou em fundo um ruído de música do Congo que os militares camaradas ouviam na rádio Mandumbe,... “Ai bábá ninique sala, táta rafael” Passados já uns largos anos sinto um frio nos pés no momento exacto em que um mabeco, sarapintado de castanho sujo, surge num repente por detrás da bissapa e acácias de picos medonhos. A vida faz pouco das previsões colocando por fim nelas, palavras no lugar de silêncios. Aiué

Aqui, Mudumu Mulapo, sem presunção, era um desses lugares, pelo menos àquela hora que o vento frio como brisa do Cubango também surgia, ainda bem. Naquele dia, bem perto do campo bivaque Omega 3 enquanto observava os hipopótamos, pude também ver os telhados de capim preto do Okavango por entre amarulas e embondeiros majestosos; assim lembrava, lembrando pois a muita saca-saca com pirão e, jindungo que outrora ali comi. Tempos de xirikwata´s (nome da minha missão, feito um espia, espiado)

sacag4.jpg Miranda, o ex oficial do Batalhão Bufalo, agora (naquele então) um conceituado comerciante do Mukwé, Andara e Shitemo apresentou-me ao presidente San Nujoma, que por ali andava em missão de soberania, pessoa simpática e simples Um helicóptero chegou bem perto da escola local do Shitemo no Ndonga Linena River Lodge, dele desceu este velho senhor de barba branca, alpercatas e um chabéu de palha já com falripas soltas. Também trazia um bastão, que julgo ser de distinto pau…; nem parecia ser um presidente. Gostei dessa pessoa simples - tinha sim, nos pés, umas alpercatas michelin de calcar matacanha. Mantenho ainda a imagem do encontro à margem desse Cubango em Shitemo na maior lucidez…

Nota* : Tunda a m´jila – Vai-te embora…
(Continua…)
O Soba T´Chingange


PUBLICADO POR kimbolagoa às 20:54
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Sexta-feira, 22 de Setembro de 2023
VIAGENS . 81

NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3491 – 22.09.2023

 – De Kasane a  Catima Mulila no Hotel Zambezi River Lodge

- Escritos aleatórios boligrafados da minha mochila – Antes e entre os anos de 1999 a 2018

Por tonito31.jpgT´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

pinto3.jpg Através da Wikipédia pude saber mais sobre o Mudumo National Park. Está situado a aproximadamente 35 quilômetros a sul de Kongola fazendo fronteira com Botswana a oeste, e com várias áreas de conservação comunitárias. Todo o parque é plano, com terras arenosas e sem morros ou montanhas. Um curso de rio fossilizado, o Mudumu Mulapo que fica no centro do parque; é um canal sazonalmente seco, que drena das águas as florestas de Mopane no interior, mais a leste. A estrada C49 atravessa o parque ligando as aldeias de Kongola e Sangwali.

Exuberante, natural, é uma aventura a ser feita com um 4x4, para enfrentar as picadas arenosas, sinuosasmente acidentadas. Local aonde o pôr do sol é incrivelmente belo, sentindo-se com agrado a brisa fresca do único amenizador de temperatura, o poderoso rio Cuando. Uma experiência inesquecível que deve ser feita com uso de repelente de mosquitos.

okavango02.jpeg Também, não esquecer levar protetor solar, um bom suprimento de água e, um jerricam com combustível extra. Lugar para  não nos escravizarmos, escondendo o medo no bolso posterior.  Aconcelho por isso serem dois veículos com tracção a fazer este trajecto de aventura pois que o lugar, é bem inóspito.

Pensar nas coisas ruíns, não é a filosofia certa para derramar por ali. Não adianta procurar o que o destino lhe reserva no futuro, porque é assim como ter a herança dum relógio roscófe embrulhado em papel besuntado de quicuanga e, que o rato roerá a qualquer momento.

Uns dias atrás um amigo meu fazia reparo àquilo que eu dizia; a de que nós sempre seremos um fruto de mudança. Bom! Com ou sem essa minha teoria de transitoriedade, nós seremos sempre os mesmos, só os pensamentos mudam. Neste nosso curso de enfrentar os conhecimentos, todos os dias serão uma prova à adaptabilidade humana, só que aqui, um descuido pode bem ser aproveitado por um tronco camuflado que num repente vira leopardo, ou um tufo de capim que se torna numa leoa em busca de alimento para suas crias. Nos paladares destes  predadores felinos, nós seremos um doce repasto.

sertão1.jpg E, sabendo que a curiosidade por vezes mata, pude rever-me assim em confronto com meus silêncios de viagem, subjugar-me a modificar meu carácter para subsistir à sabedoria vulgar, feito quase num monangamba. Claro que os sonhos duns não são realidades dos demais. O itinerário seria rumo ao acaso em primeira mão, omitindo a proposito, coisas para segurança do ocaso de gente ainda viva e, que são alguns dos meus heróis - gente incógnita que não abandonaram seus ideais de liberdade.

Digo isto porque me desloquei à Namibia em certa altura, numa missão secreta de observação da logistica em apoio ao Movimento ao qual pertencia – a UNITA e, a partir da Ovobolândia; percorri o rio Okavango em toda a sua extenção a partir de Ot´xakati, Ondângua, Rundu e Calai, Mukwé, Andara, Divundu, Faixa de Kaprivi, Ómega e Catima Mulilo aonde agora volto, despoluido de respeitabilidade e responsabilidade. Pouco a pouco irei retirando as pedras dos meus sapatos, estirpar os furúnculos escondidos num monte de salalé

salalé1.jpg Tive um contácto esporádico com San Nujoma ex-Presidente da Namíbia aquando de uma reunião com comerciantes nas margens do rio Okavango e fuga minha  a um encontro com um jornalista da Rádio Comercial do M´Puto que escreveu uma odisseia no livro “Baia dos Tigres”, um tal de nome Mendes. Baia dos Tigres livro de Pedro Rosa Mendes da Sá Editoras que descreve a odisséia na travessia de Angola em plena guerra. O não encontro foi em Divundu, num cruzamento de estradas que seguem para Botswana e Zâmbia / Zimbabwé através da faixa de Kaprivi. O livro reverêencia a Ana Maria Miranda, a pessoa que me convidou a tal encontro, que recusei… Ana - filha de Miranda, ex-oficial da Companhia  Búfalo da A. do Sul, o mesmo que sabe falar por estalidos…

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:27
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Quinta-feira, 21 de Setembro de 2023
VIAGENS . 80

NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3490 – 21.09.2023 – De Kasane a  Catima Mulila no Hotel Zambezi River Lodge

- Escritos boligrafados da minha mochila, – Aleatóriamente no após 1975 e, entre os anos de 1999 a 2018

PorBotswana 250.jpgT´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

Botswana 286.jpgA caminho de Katima Mulilo, cruzamos parte do Caprivi Game Reserve, uma faixa apresentanda no mapa como um dedo indicador apontando o Botswana. Com cerca de 180 Km de extensão com floresta de folha larga; a faixa, foi desenhada pelos britânicos em Berlim para poderem ter acesso a todas as suas possessões; Na sua maior extenção, esta faixa são duas linhas paralelas  com 32 km de largura. Eles, os britânios, tinham a pretenção de unir Cape Town ao Cairo.  

A faixa estende-se pela fronteira do Sul de Angola desde o rio Cubango ou Okavango  até o rio Zambeze em Catima Mulilo e, que  vai até Kasane de onde estamos saindo, lugar de encontro com o no rio Cuando, aqui chamado de Shobe.  Vamos em sentido contrário ao rumo de Vitória Falls. O Delta do Okavango fica já do lado do Botswana, com ilhas dispersas, desaguando por assim dizer,  naquilo que à séculos, foi um mar interior.

Botswana 019.jpg Já em Katima Mulilo resolvemos fazer compras no maior supermercado da cidade, pertencente ao Sr. Coimbra (já falecido), um refugiado Tuga ido de Angola logo após o 25 de Abril no M´Puto e sequente guerra do tundamunjila em N´Gola; parece que este senhor tinha uma qualquer ligação com a PIDE do M´Puto e numa primeira etapa de sua fuga assentou bivaque em Windohek, no Safári Motel do Sr Pimenta. Depois, rumou a Norte aonde se tornou aqui – em Catima Mulilo, um bem sucedido comerciante.

Tomamos contacto esporádico com a família Coimbra que tomava conta do negócio e depois dirigimo-nos até às margens do Zambeze aonde assentamos arraiais no Hotel Zambezi River Lodge de características tipicamente africanas e com acomodações para visitantes de mochila para camping, como nós. Foi bom ficar ali sentado na margem daquele Zambeze ainda manso cruzando pensamentos das terras do Fim-do-Mundo que no correr dos tempos pareciam ser só uma ilusão.

Botswana 240.jpgÉramos os exploradores bazungus, como diria a minha empregada Mery de Kampala:  modernos com algumas mordomias como um canivete macgyver  que tudo resolve e, seguindo as peugadas de Silva Porto, Serpa Pinto, Hermenegildo Capelo ou Roberto Ivens. E, como foi bom pisar aquelas terras, ver manadas de elefantes raspando a terra impondo poder abanando as grandes orelhas a meter medo. Ao cair da noite fizemos o nosso brai com aquela carne saborosa de caça.

Carne comprada no supermercado da familia Coimbra, carne que só ali existia por aquelas paragens. E, como gostaria de repetir no futuro esta volta e mais uma vez - pensava assim ali sentado na beira do Zambeze admirando a kukia (pôr-do-sol) e, olhando-me nas rugas espelhadas nas quietas águas do Zambeze. E, só para mim, recordava o passado, da guerra do Tundamunjila de N´Gola, uma rebalderia chamada indevidamente de descolonização

Botswana 280.jpg Recordava os Movimentos de Libertação, em particular da UNITA à qual pertenci e, que aqui descreverei de forma muito sintética, suficientemente sumária  para preservar personagens como Dachala, Alcides Sakala, Zé Kat´chiungo e Adalberto da Costa Júnior; um mano Coordenador, que se salientou em Portugal na defesa da Unita tonando-se por voto popular e, com elevado mérito, em Presidente da UNITA e Presidente de Angola segundo os fieis relatos de vários Observadores Internacionais e dados internos do agora partido do Galo Negro – dados fidedignos e aferidos… 

Isto de repetir o passado, acontece sim, porque o é necessário e, para no mínimo, ressarcir a verdade. Verdade que afeta bem mais de um milhão de gente maioritariamente boa e, indevidamente relegada ao esquecimento da razão - os chamados refugiados e retornados! Irei assim, decrevendo aos poucos, para não vulgarizar ou agudizar num só lote tal infortúnio e, inserindo-os nas várias viagens de agora e de mais tarde, aleatoriamente dum passado truculento e, até  faladas em sentido contrário como se o fora uma marcha-à-ré, pois que quase foi assim que percorri o caminho que não nos levou a Dar-es-Salaam na Tanzânia. Bom! Isto será de atemporal descrição e, numa posterior forma de odisseia que fragmentada, bem pode remoer um futuro, num agora!  

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 13:04
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Domingo, 17 de Setembro de 2023
VIAGENS . 78

NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3488 – 17.09.2023 No Shoba Safari Lodge de Kasane

- Escritos boligrafados da minha mochila, em KASANE. – Entre os anos de 1999 a 2018

Por:Botswana 055.jpgT´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

kuvale6.jpg Estamos a ficar longe no tempo para poder recordar todos os detalhes e, se não houve rascunhos daquele então, ainda mais difícil fica de desenhar a paisagem Landscape. Em um daqueles dias às margens do Shobe, rumamos por uma estrada de terra com piso em argila regularizado com brita que depois virou areia; estávamos no Shobe National Park, bem do outro lado da Namíbia.

Anotei a indicação lá no início do troço de, que nós bazungus, iriamos ficar à nossa conta e risco! Valeu a pena o susto de por vezes ficarmos enterrados porque, de repente lá estavam, um leão e uma leoa à sombra de uma grande árvore comendo ou guardando um elefante de pequeno porte, já todo esfalelado, coisa pouco usual tratando-se de um elefante.

orneb5.jpg Porventura  aquele paquiderma, estaria adoentado  ou teria sofrido um grave acidente.  A lei da vida e da morte ali, não contempla assistência da parte de qualquer instituição cinegética ou veterinária. Até nós corríamos esse risco de entrar na cadeia alimentar. Ao seu redor umas quantas hienas espeando o fim de repasto dos reis da selva. No ar, circundavam os abutres negros querendo também fazer parte do repasto; num lugar mais distanciado também havia mabecos – uma cadeia alimentar na lei da natureza nua e crua – o aviso lá de tráz, na entrada, tinha razão de assim o ser.

Quanto ao passeio de barco - passeio de aventura  terreste de muitas estrelas, com uma óptima relação no custo-benefício, sentimos  o conforto e a segurança de uma viagem organizada pela secretaria do Shoba Safari Lodge. Momento único, numa vontade sem certeza, certeza de voltarmos a ter uma tão grande oportunidade de criar memórias duradouras, que nos acalentam sonhos em voltar para ver mais.

dia61.jpg Nas longas horas de jornada ao longo de terra árida, chinguiços ressequidos, caímos em devaneios de profecias, falamos pelos cotovelos dizendo falas desprovidas de sentido ou fora do reino de aventura. Agora que já se passaram uns longos anos de estio literário, relembro o que alguém, não sei quem, o disse: Que a Inglaterra será totalmente aniquilada, até mesmo a sua terra irá queimar como uma invasão liderada pela Rússia que vai invadir a Europa, através da Turquia e usar armas terríveis.

Costuma ser assim, cada qual diz o que lhe vem nas falas avulsas porque leu e, ou com edecéteras de kazumbis repassados por adivinhos ou pastores que por norma sempre vão mais álem do que plantar batatas no meio do Karoo  e, mais se disse que a África do Sul também entrará em uma guerra civil em um ano de eleições, após a morte de um líder negro; que será exibido em um caixão de classe nos Edifícios da União. Líderes mundiais virão homenagear. Será!?

DIA 108.jpgEm Kasane, nas voltas e andanças tarde do dia, cheios de gases, corpos curvados e cheios de ideias com turbulências no cerebelo e fome, antes que fosse noite, fomos comer ao Pizza Coffee do paquistanês em Kuzungula. Já noite, na tenda “tipo Livingston” podia  rever-me nos muitos esboços coloridos gatafunhados, coisas que vi, quilómetros precorridos, sugestões e pagamentos a encontrar ao calhas e a cores, amarelo, azul e amarfanhado no descolorido, colados a shwingame (pastilha elástica).

zambeze1.jpg Uma escrita misturada de experiências em blocos boligrafados, esquecidas com contas de somar, subtrair e cambiar. É fundamental ter dólares! Sem isto, a apologia de se ir ao acaso tolhe o instinto, cega a fé, mesmo que se repita muitas vezes o valha-me Deus. Faço isto por vezes para ver quanto gastei em Euros, agudizando-me na curiosidade de ver contas de números altos em dólares, randes, kwachas, pulas e dólares zimbabwanos e deparei com as falas de lugares passados que terei de descrever  nas próximas crónicas e, aqui repostas, para não transtonar o cerebelo em minha sequência de escritas…

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 11:08
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Sábado, 16 de Setembro de 2023
VIAGENS . 77
NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA) 
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3477 – 16.09.2023
No Shoba Safari Lodge de Kasane
- Escritos boligrafados da minha mochila, em KASANE, às margens do Cunene/Shobe – Entre os anos de 1999 a 2018

Botswana 019.jpg Em África as viagens em camiões trucks, conhecidas como "Overland Tours" são muito famosas. Cruzei com estes grupos animados no Cruger Park da África do Sul, Ai-Ais a Sul da Namibia, no Fixe River - canyons, no Sossusvlei, na Costa dos Esqueletos, em kasane e Kazungula do Botswana no Etosha Pan e em Victoria Falls. Sossusvlei, na Costa dos Esqueletos, em kasane e Kazungula do Botswana no Etosha Pan e em Victoria Falls.

Essas viagens cruzam países dando a oportunidade de se conhecer mais a fundo as realidades dessas terras, povos e países, fazer safáris a ver animais, ou passeios turísticos por lugares aprazíveis e exóticos. Muitas empresas fazem essas viagens de camião pela África numa agradável aventura por terra abrangendo muitos conhecimentos nos destaques culturais, paisagísticos e vida selvagem.

Botswana 294.jpg Muitas vezes, cruzando fronteiras proporcionando uma experiência verdadeiramente profunda, vendo muitos lugares fora dos roteiros mais conhecidos, sua forma de vida, sua alimentação, bem como os exotismos pantacruélicos que você quer conhecer porque alguém falou. Enfim: coisas positivas e algumas até bem deprimentes pela má gestão dos dirigentes de topo. Tive essa experiência através de inúmeras viagens em carros alugados.

As empresas especializadas neste tipo de turismo, usam veículos Trucks confortáveis, totalmente equipados e especialmente projectados para isso, proporcionando aos muzungos (brancos), só mesmo aos bazungus (turistas) que gostam mais dos animais do que das pessoas! um excelente ponto de vista para apreciar a paisagem e a vida selvagem. Todos os camiões possuem carregadores de telemóvel e, levam dois ou três tripulantes experientes que irão dirigir, guiar e cozinhar para você durante todo o passeio.

Botswana 261.jpgEssas empresas, condicionam o número de pessoas em cada passeio relativamente baixo, mantendo acomodados satisfatoriamente de 12 a 18 pessoas, o que significa terem o espaço necessário nas janelas tendo sempre a atenção pelo contacto pessoal com seus guias. Embora os arranjos dentro de cada passeio variem um pouco, em princípio, oferecendo esses passeios de duas maneiras: em acampamento ou “alojados” sendo o primeiro, a opção menos onerosa e, da que mais gosto.

Falando de nós, que iríamos ver as terras rasas do Shobe em barco e, porque houve falhas no planeamento nosso, tivemos de alugar um extra por 1420 Pulas; assim, um barco que normalmente leva 25 pessoas ia servir aos cinco bazungus que éramos nós: Ibib, Ricar, Marco, Isabel e o Je-T´Chingas- o cicerone condutor! Grosseiramente os Pulas pagos, correspondiam a 1917 Rands ou 112 €; valeu bem a pena porque vimos muita variedade de antílopes, centenas de elefantes, jacarés, hipopótamos e springboks; muitos búfalos e até cudus (Olongues)

Botswana 176.jpg Nas vistas largas das terras planas e verdes que bordeiam os canais do Rio Cuando e Shobe, e no chamado Shobe National Park, vimos bem mais do que 200 elefantes e muitos antílopes como olongos, gungas, facocheros, búfalos, impilas, jacarés e vários hipopótamos entre outros e, também aves de grande porte como o peru africano, várias espécimes de patos e pássaros multicolores. Pudemos avistar no meio de uma vasta e plana ilha, no meio do nada verde, uma bandeira enorme do Botswana em um gigantesco mastro. Esta ilha, só recentemente foi considerada por um tribunal internacional como pertencente ao Botswana…

Com nossos coletes de muitos bolsos como caçadores de elefantes, carregávamos anseios; estamos junto, companheiro – cada um é como cada qual! De facto, pelo observado aqui, sempre caía no estremo de dizer o quanto os angolanos deveriam estar gratos por terem os Tugas como colonos pois que aqui verifica-se que para além do mato, dos empresários levando bazungus, pouco mais há para mostrar.

Botswana 281.jpg Sempre caía naquela satírica forma de dizer: - Os angolanos estão cheios de razão, os Tugas deveriam não só ter levado para o M´Puto (Portugal) as suas estátuas, Diogo Cão, Maria da Fonte, Norton de Matos entre outras mais e, também os prédios, escolas, pontes, hospitais, estradas, igrejas e barragens pois que sempre, sempre o são rebaixados; ter deixado Angola exactamente como a encontrou Diogo Cam, 500 anos antes do achamento! E, assim andarmos, para a frente e para trás que nem Kiandas feitas salalé tresmalhado, por via da intuição feita cinco estrelas duns caçadores caçados por traição sabuja, vilipendiados até, para não dizer roubados. Também traídos, até pelo povo enganado pelos generais de aviário e a mídia esquerdoida do M´PutoActos nunca ressarcidos...

(Continua...)
O Soba T´Chingange


PUBLICADO POR kimbolagoa às 14:07
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Quinta-feira, 14 de Setembro de 2023
VIAGENS . 76

NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA) Shoba

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3476 – 14.09.2023,  No Shoba Safari Lodge de Kasane

- Escritos boligrafados da minha mochila, em CASANE, às margens do Cunene/Shobe

– Entre os anos de 1999 a 2018

Por  safaris03.jpgT´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

safaris10.jpg Estas tendas do Shobe Safari Lodge de Casane, até tinham chave electrónica para nelas entrar, uma coisa de cinema composta por duas camas, mesinhas de cabeceira, uma pequena mesa de centro, uma outra com espelho no topo e ainda outra para guardar malas e coisas menores. Também havia um ventilador que, nos  foi bastante útil porque o calor aqui é para fazer de sauna.

De noite, o tempo arrefece a ponto de termos de nos tapar pelo frio. Na gaveta da cómoda havia cinco preservativos. Sukwama! Exclamei - era isto mesmo que me fazia falta, aiué! A tenda tinha um avançado por cima do sobrado a fazer de varanda com mesa e cadeiras para seis pessoas mas tinhamos de ter cuidado com os babuínos, e outros macacos mais javalis facocheros pois que afoitamente nos vinham roubar as coisas do seu agrado.

safaris01.jpg Para fazermos nossos assados na churrasqueira brai, tinhamos de estar com um olho na carne e outro nestes caçadores furtivos. E, como gostavam de batatas fritas! Até os javalis vinham quase às nossas mãos para comer, embora houvesse avisos no sentido de nada se dar aos animais. Ao nosso redor surgiam facocheros, macacos babuínos, saguins, bâmbis, capotas e perdizes.

Os elefantes faziam-se ouvir por perto. Os kwés-kwés, uns pássaros pretos e grandes lançavam piares agudos ainda o dia não o era, só lusco-fusco. Também os turistas, homens e mulheres e gente outra auxiliar dos camiões super truck apetrechados para fazer safaris, que se dispunham a sair cedo, começavam a falar alto, desmontar tendas, agrupar ferros, juntar panelas, cadeiras, mesas e toldos entre outros corotos, imbambas e chuveiros de lona como os usados por funantes, comerciantes e exploradores do tipo de Hermenegildo Capelo ou Robert Ivens.

safaris6.jpg Pois assim, não tínhamos como não acordar lá pelas cinco e pouco! Talvez um dia me inscreva numa destas odisseias – em Espanha há especialistas em atravessar África desde o Cairo ou Madrid a Cape Town,  nesta forma de estar no mundo. Assim que o sol nascia lá no horizonte, o calor começava a ondular o cacimbo; podíamos apreciar isto nas luzernas entre a vegetação alta e empoeirada. Bem do outro lado das bissapas muito cheias de chinguiços podíamos ver a azáfama dos bafanas auxiliares dos carros apetrechados para a áfrica profunda. Desarmavam ferros, juntando-os de forma ordenada na parte inferior do machimbombo Truck-safari.

safaris12.jpg Carros com camas, farmácia, pratos e tudo o que compõe uma cozinha, frangos e carne para assar, maças da cidade do Cabo e feijões do Quénia, vários tipos de pão, café e arcas frigoríficos para atulhar isto mais verduras e, do outro lado, ferros de armar suas tendas; grupos de gente que depois tomam assento lá no alto do machimbombo truck para ver a vida do mato passar, os condomínios de pássaros suspensos nas acácias.

Ao peito dos coletes de zuarte amarelo suave de muitos bolsos, pendiam seus binóculos, suas camaras fotográficas e outros zingarelhos próprios de verdadeiros bazungus (turistas). Era bom andar mastigando chwingame, uma pastilha elástica que depois de mastigada era um bom vedante para tapar furos do radiador mas, agora as tecnologias de ponta são outras; não mais é necessário levar umas borrachas extras e arames para encurtar tubos de refrigeração ou pendurar argolas e chapas desprendidas com o sacolejar dos ripados da picada, ao jeito de tábua de lavar em selha, coisa desesperante.

safaris13.jpg Só para lembrar: As lonjuras complicam-nos o mataco que a dado momento já nem tem posição certa tornando o excesso de profiláctico em olfáctico dando comigo a abanar as orelhas e engolindo cacos de vidro como um faquir.  Estas paragens na aventura, odisseia, tonam-se necessárias. O zelo da quilometragem conjugando a hora com o dia, da noite que cai e da luz que se esvai. É fundamental termos um bom lugar para pernoitar, consultar no telemóvel ou perguntar por um aceitável sítio aonde pousar. A seguir, iremos ver os elefantes às centenas.

(Continua...)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 16:07
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Terça-feira, 12 de Setembro de 2023
VIAGENS . 75

NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3475 – 12.09.2023

- Escritos boligrafados da minha mochila, em CASANE, às margens do Chobe – No Shoba Safari Lodge de Kasane

Entre os anos de 1999 a 2018

Porfrancistown03.jpgT´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

Botswana 264.jpgSaltando no tempo, vejo-me debruçado sobre os funis feitos na terra pela formiga-leão, os nossos conhecidos fuca-fucas de Angola. Pois, assim debruçado no Shobe Safari Lodge bem na margem do rio Shobe, concertávamos ideias sobre o que fazer e ver nesta parte norte do Botswana. Os alojamentos dos principais módulos, estavam todos ocupados e restou-nos ir para as tendas com os requisitos de um chalé normal com água, energia e chorrasqueira brai,  e seviço de hotel…

O nome da região Shobe, deriva do rio que corre ao longo do norte do parque aonde ficamos; em verdade é uma continuação do rio Cuando  que saindo do estremo do Leste  de Angola, atravessa a faixa de Caprivi passando a formar fronteira entre a Faixa de Caprivi da Namíbia e Botswana que passa a formar fronteira com a Zâmbia e que toma este nome de Shobe.

okavango3.jpeg Proseuindo o Cunene/Shoba,  dá encontro em Kazungula a escassos quilómetros de Casane com o rio Zambeze fazendo aqui, fronteira a Leste com o Zimbabwé. O rio Cuando é um rio que nace no Planalto Central de Angola e corre para sueste, formando parte da fronteira entre aquele país e a Zâmbia de uma forma caprichosamente ondulada e, formando ilhas na envolvência de muitos  charcos, tal como o Delta do Okavango do rio Cubango…

Durante este percurso, o leito do rio Cuando, ainda em Angola, é formado por ilhas e canais, com uma largura que varia entre cinco e dez quilómetros. O rio Cubango/Shobe, tem 800 km de comprimento. até encontrar o rio Zambeze; aqui também de uma forma muito tortuosa formando à semelhança do Leste de Angola  muitas  ilhas e, tendo muito fartura  de animais, destacando-se  os elefantes, hipopótamos e crocodilos…

torres14.jpgE assim feito, menino de alegria suburbana, descalço como um candengue de musseque com aduelas de barril do M´Puto, baptizado com água do Bengo, limpo, arrumadinho e de colarinho ajeitado na hora de berridar a ver paquidermes, hipopótamos, javalis, jacarés e veados à centena senão milhares. Na volta sou todo feito em pó asombroso . A alegria de contemplar e de compreender é a linguagem a que a natureza me excita, na preocupação pela dignidade com a saúde num quanto baste e, com o suficiente dinheiro para poder comprar as alfaces ou o paio defumado saído dum pata-negra.

Feliz de quem atravessa a vida prestativa sem o medo estranho à agressividade e ao ressentimento, capiangando a necessária felicidade, porque para se ser membro irrepreensível de uma comunidade de carneiros é preciso antes de tudo, também ser carneiro. O esforço para criar uma comunidade neste meio, sem a qual não podemos viver nem morrer neste mundo hostil.

fuca0.jpgE, de forma íntegra, tornar-se em um sofrível no meio dum impossível. Para seres favorável a alguém, tens de descartar outro alguém. É uma regra que sempre me provoca rebeldia. Tivemos batata frita, biltong e tostas rijas rusk que nem paracuca que depois se dissolviam nas humidades. Um grande balde com gelo, servia para nele meter todas as bebidas por forma a mantê-la frescas durante o esplendor.

prado0.jpgForam mais de três dias divertidos aqui no Shobe Safari Lodge de Casane - olhando até pelos pés e cotovelos: boligrafar também a boa forma de preencher o tempo sobrante, sempre à coca do surgimento de um facochero feito javali ou porco ou um bambi dócil com macacos a querer roubar sabão e barafustar mais álem,  por aquilo não ser  o weetabix, a farofa do seu breakfast. Neste então esperávamos a hora do seguinte dia para, a partir daí, darmos a volta em barcaça a uma áfrica como se assim fosse, a primeira vez – no rio Cubango ou Shobe …

(Continua...)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 18:56
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Segunda-feira, 11 de Setembro de 2023
VIAGENS . 74

NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3474 – 11.09.2023

- Escritos boligrafados da minha mochila, “de Maun a Francistown - Botswana ” – Entre os anos de 1999 e 2010

Por francistown02.jpgT´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

Botswana 200.jpgAqui em Botswana,  Estrada Nacional A1, com colares massai de contas azuis e bagos de feijão maluco de Angola penduradas ao pescoço, escrevo no imaginário, coisas loucas a condizer com o não menos chanfrado Ernest Emingway, salvo as proporções, claro! Sou um homem do mundo. Já viajei e vi muitas coisas nos anos e meses que passei noutros lugares, assim como missangas, conto-os enfiados em um fio de náilon a fazer de pai-de-santo.

Formando frases curtas e sinceras, tento rematar-me nas voltas certas para driblar de outro jeito meu passado. Sim! De outro qualquer modo ele, o passado pode reconhecer-me. Aiué! Aprendo com as formigas grandes, kissondes que em andamento seguro, arrastam pelo pó do chão seus ventres escuros sem discutir com Deus por assim andarem, sempre se arrastando.

Botswana 239.jpgÁfrica de exotismo quanto baste com coisas e animais incomuns aonde a adrenalina delira em pavores loucos, inundados e imundos de situações fatídicas, substituindo o ar dos pneus por capim cortante de chá caxinde. A coragem indomável de conhecer a África profunda, surgia-me naturalmente desde que ainda moço me tornei kandengue de N´Gola, ao devorar um cacho de bananas oferecido por meu tio “Nosso Senhor” chegado do M´Puto, ao som do apito grave e  longo do vapor “Uige” da Companhia Nacional de Navegação.

Com meu pai colono de papel passado e creditado na tal CNN e, assim, crescido na idade, não foi necessário beber kat´chipemba com pólvora, uma mistela incendiária que deixa as entranhas em chamas para enfrentar os matos com coragem. Nestas voluntárias tarefas de aventura com aflição ou maka, os vómitos de radicais experiências foram surgindo entre bichos cambulando cacimbos com marufo de kassoneira,

Botswana 205.jpg Pois! Ofertas de N´zambi e gente com vestes de loando, amuletos reluzentes, tilintando seus toucados e penduricalhos nos artelhos; de muitos, por demais, zingarelhos. Então, falando com meus botões nas longas viagens, nas frinchas dos tempos e das falas, neste mundo confuso, serei sempre um genérico cidadão ou um sem-terra por não me poder definir como genuíno nessa escolha; assumidamente, não pertenço a lugar nenhum. Serei pois um Pai de Santo sem mukifo permanente.

Lendo na Wikipédia, Francistown aparece como a segunda maior cidade da Botswana, com uma população de cerca de 114 mil habitantes,  descrita como a "Capital do Norte". Está localizado a cerca de 400 km a norte da capital  Gaborone, na confluência dos rios Inchwe e Tati,  perto do rio Shashe (afluente do Limpopo) e a 90 km da fronteira internacional com o Zimbabwe.

Aqui, região do Delta do Okavango, a adrenalina delira loucos pavores, inundados e imundos de situações fatídicas, renovando o ar da coragem de conhecer a África profunda, surgindo-me naturalmente, sem o uso de uma bomba pneumática desde que ainda moço me tornei kandengue maduro conduzindo uma biscicleta aos solavancos da pequenez, um pé atravessando o quadro  do zingarelho para adultos mas, que eu dominava como se o fosse um matrindindi, feito gafanhoto, num vaivem de pernas sem concluir o curso do circulo.

Botswana 297.jpg As provas de habitação por humanos aqui em Francistown, remonta ao tempo de N´Debele, um M´Fumo (chefe) que surgiu na área em 1820 com sua cultura de Bulawayo e, trazendo o conhecimento  para o Kalanga, área do nordeste do Botswana. Reportado, Nyangabgwe, foi a aldeia mais próxima para Francistown de ter sido visitado pelos europeus, para prospector ouro, ao longo do rio Tati. A actual cidade foi fundada em 1897, como um assentamento perto da mina Monarch. Foi aqui exactamente que  me relembrei de ter renascido como Niassalês no bojo de um vapor que o tempo também enferrujou – NIASSA Francistown foi o centro da África Austral do primeiro ouro, encontrando-se ainda  rodeada  de antigas minas abandonadas.

(Continua...)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 14:44
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Sábado, 9 de Setembro de 2023
VIAGENS . 73
NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3473 – 08.09.2023
- Escritos boligrafados da minha mochila, “de Maun a Francistown - Botswana ”
Entre os anos de 1999 e 2010
Por sertão2.jpgT´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

Fracistown1 Hoje, o certo é de que quanto mais se sabe mais se sofre. Há fastio de inteligência! Há tédio! Há vontade de mandar tudo fora e partir vidraças, emudecer brilhos, despedaçar bocejos. Mas, desde quando um carneiro tem orgulho? Tão abarrotado de civilização, espreito os meses farejando raças sob o abrigo de suas telhas ou, carraças em suas orelhas.

Telhas vãs no calor da lareira, panela atestada de couves tronchas, frigideiras com unto branco de porco, uns chouriços de pendão, panelas tisnadas, trempes de ferro sempre aquecidas entre troncos de oliveira e borralho esparramado: Nestas visões passadas de meus ancestrais, revejo como todos os dias se processam milhares de pensamentos como estes, aonde pequenas decisões determinarão através de mecanismos intrincados que, tudo o que os sentidos captam (odores, sons, imagens) causam impressões indeléveis na mente.
Com destino à cidade de Francistown, lá prosseguimos viagem a partir de Maun do Botswana, por estrada pavimentada, pisando o Kalahári, quilómetros na savana, vendo de quando em vez, aglomerados de kimbos no meio de muxitos, tufos verdes e palmeiras com folhas acerosas. Com o planeado destino, rolamos quilómetros na savana, observando o já dito, burros atravessando a estrada sem rumo, abanando as orelhas a saudir moscas, abutres fazendo círculos aqui e mais além. Bebendo água mesmo sem ter sede para não desidratar e, para alimentar as glândulas dos olhos e garganta, falavamos e viamos pelos cotovelos, miragens virarem paisagens de água.

Fracistown2 Muita água feita oceano com barcos à vela e vapores… Andamos assim, somando falas ao longo da distância, coisas que ocorreram antes e durante os longos anos da crise Angolana, após o Acordo de Paz e Reconciliação Nacional; assuntos correspondendo à diáspora de muitos angolanos e afins chamados de refugiados, retornados e transtornados, espalhados pelo mundo, como se o fossem salalé tresmalhado, pontapeados por ideários gravadas à exaustão no excepcional computador - nosso cérebro.

Verdade: - Na Dipanda, nossas vidas têm muitos kitukus (mistérios). A roleta da vida dá muitas voltas, quando por vezes sentimos o peso do mundo que carregamos às costas, como se fosse um embondeiro; noutros, mercês de circunstâncias inesperadas, haverá o privilégio de estarem sentados confortavelmente no topo dele, usufruindo em ter ao seu redor um batalhão de servos pagos para adivinharem e satisfazerem todos os caprichos ou fantasias sonhadas – os funcionários da nomenclatura…

francistown01.jpg A cada ai, a cada ui, aparecerão centenas de comentadeiros a decifrar porque assim tossiu, assim baliu, assim mugiu, lendo nas entrelinhas e supondo ter nas cuecas maços de falsas notas verdes, feitas dinheiro… Neste deserto que atravesso, Botswana, vejo figuras rarefeitas entre bandos de estorninhos migrantes, diluídas na essência ondulada dum ar que tremelica no calor da miragem, também do que se pode ver em uma falha, na textura de uma velha casca de árvore com um lagarto pré-histórico camuflado de fenda. Pode!?

São formas escorregadias da realidade guardadas em meus armários, baús, que preenchem o quase-tudo do grande nada de minhas vivências. Observá-las com verdadeira atenção, transformando-se em centenas de momentos sagrados, só meus. E, sempre na busca de uma vida interessante, aventureira, apaixonada e diferente, trilhando trilhado por África procuro-me entre anharas, savanas e desertos de longas e altas dunas, lugares do cu-de-judas ou terras do fim-do-mundo sem os banais pormenores das urbes, cheias de semáforos…

francistown03.jpg Lugares de sermos confundidos como caçadores de elefantes por tanto pó salobro das tortuosas picadas, expostas ao sol impiedoso; ao calor abrasador dos dias e dos frios cacimbos húmidos a envolver noites com manto de espesso escuro; bem perto uma hiena parece chorar ao redor de uma carcaça fedorenta, carniça de vida sobrevivente. Lugares longinquoas de grandes metrópoles, com gente empoleirada até ao céu. A caminho de Francistown– Vou – Vamos! O sol tem ondas de ferroadas quentes que machucam na ida da vinda de nossos dias…

(Continua...)
O Soba T´Chingange


PUBLICADO POR kimbolagoa às 14:42
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Quinta-feira, 7 de Setembro de 2023
VIAGENS . 72

NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3482 – 07.09.2023

- Escritos boligrafados da minha mochila - Em Maun Rest Camp, cidade de Maun no Delta do Okavango…

 Poraraujo10.jpgT´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

maun6.jpg Nas terras do fim-do-mundo do Botswana, não se olham os prazos; é só deixar correr o tempo, tomar uns quantos cafés, à tardinha gim com rum ou cachaça e antes do deitar para retemperar um chá rooibos ao redor da grande fogueira situada ao centro do terreiro e roer biltong de olongue (Kudu) – os contornos da cubatas viam-se difusos com  noite adentrada pintada nos contornos das luzes parcas.

Um milhão de insectos a tremelicar ao seu redor como uma aurea despegada dum anjo negro imaginado no contorno do céu estrelado; Aqui, como em qualquer outro sítio de áfrica, convém que o anjo seja negro para tornar tudo genuíno. É natural  conveniente que os santos por aqui sejam negros, noé!? Estivéssemos nós no Atlas de Marrocos e tomariamos chá de menta saudando em Salame Alikan, Alikan Salame…

Cada terra tem seu uso, cada gente tem seu fuso. Em Maun, na paz de espírito desta áfrica profunda disse para mim mesmo: - Vou ter que me gramar desta forma, para o resto da minha vida. Agora, com ou sem pecados, travamos um combate incessante contra os poderes das trevas - um vírus .  A mente é o campo onde a batalha será decidida para o bem ou para o mal.

maun07.jpg Mas, o problema que vem sempre dos outros é aí que estamos tramados, mesmo sabendo que a hipotenusa é a raíz da soma do quadrado dos catetos... Isto pró vírus, já era... Estas impressões que comandam os sentimentos e medos, ditarão nossas escolhas direcionando as decisões... Impressões que comandam hoje os sábios que, queiramos ou não, ditam  a actual Intoxicação digital no Mundo... E, é a noite que chega com sonhos assombrosos.

Pensando na espera do sono, a noite é assim mesmo, dá para pensar e, o tempo não passa pela amargura mas, a amargura passa pelo tempo. É preciso segurá-la enquanto existe! Alguns idosos, como eu, em outro fuso horário, vão á janela algures num dos tantos lugares a despedir-se do tempo vazio tendo como vizinho próximo a árvore, talvez um carvalho mas aqui, no Botswana,  será um imbondeiro chamado de baobá ou uma acácia de espinhos medonhos.

De dentro do imbondeiro, alguém pergunta: - Para onde estás a olhar? Para a árvore - é a reposta. E o que vais fazer agora? Olhar para o imbondeiro? Quem é esse imbondeiro? – É essa árvore gorda! No sonho num entretanto meu amigo Santos, natural de Pé-na-Cova, um ferrenho benfiquista, lá na Lagoa do M´Puto,  corre sua maratona entre os correios, a padaria do venezuelano e a peixaria junto da igreja matriz e, todos os santos dias repete a dose do anterior dia… Enfastiado, adormeço…

maun10.jpg Maun - Surge um outro dia. Há que lavar os dentes, banhar-me no WC dos caniços, cheirar o cacimbo da manhã, acompanhar-me do café com leite numa caneca de  esmalte e comer aquele pão biscoito duro chamado de rusk, meter as imbambas (bikwatas) na mochila, binóculos, o canivete e câmara fotográfica e contornar os hipopótamos da lagoa do Delta, uma entre muitas e,  bem de longe, o suficiente para não se sentirem perturbados segundo plavras do guia fardado de zuarte, com um lindo bordado com flexas, colorindo a manga esquerda.

Há dias e dias! Há dias de um irritado pessimismo e outros de tão naturalmente optimistas que como um carneiro jogamos orgulhos contra obstáculos de repetidas coisas, eternas repetições de males antigos, males de imaginações insatisfeitas, amargas desilusões sem fermento na tristeza. Sem vontade de tormentos, certo! E, aquelas muitas pedras na beirada verde mexem-se, levantam as cabeças e saúdam-nos com um fiquem longe que sou perigoso. Eram eles, os hipopótamos em dezenas, marcando seu território, literalmente cagando para nós – espargidos na água meia turva… Pelo anos deles, sai sua personalidade e, por fim, o dia na lagoa Xaxaba, acabou

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 21:06
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Segunda-feira, 4 de Setembro de 2023
VIAGENS . 70
 
NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 348004.09.2023
- Escritos boligrafados da minha mochila - Em Maun Rest Camp, cidade de Maun no Delta do Okavango…
Por tonito11.jpg T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

maun07.jpg Botswana, território que começou a ser desvendado por exploradores a partir do século XVIII, deram-lhe o nome de Bechuanaland mas, após a sua independência em Setembro de 1966, toma o nome de Botswana com junção do prefixo "bo" que quer dizer homem em língua Bantu a de "Tswana", nome da tribo mais numerosa daquelas paragens

Realizando regulares eleições ao invés de outros muitos povos de África, é considerado um exemplo de estabilidade política. Botswana é um grande planalto árido situado bem no interior de África meridional. É daqui que saem para o resto do mundo os mais puros diamântes dando ao povo um modo de vida melhor equilibradao do que a grande maioria dos países do continente negro.

maun8.jpg Os principais grupos étnicos são os Tswanas, Kalangas, Khoisan entre outros dos quais os brancos nativos dali e indianos que para ali foram idos do Quénia, Zâmbia, Tanzânia, Ilhas mauricias, África do Sul e principalmente do Zimbabwé aonde a instabilidade ditada por Robert Mugabe (já falecido) a isso obrigou.

Deitado de barriga virada ao tecto de lona da tenda, a osga gorda estuda-me com seus olhos oblíquos – também aqui há osgas gordas, indicação de que também aqui há mosquitos. Acena por várias vezes, parece cuspir qualquer coisa e depois refugia-se no escuro ficando a espreitar entre a costura do tecto e o pau avermelhado da espia tecto de sisal. Ainda não eram horas de dormir mas estava relaxando do almoço feito de chocos e mexilhões “apanhados” no supermercado Spar de Maun…

maun05.jpg Aquela osga era-me familiar, dei-me conta de que só ela sabia alguma coisa da minha origem, minhas andanças. Sim! Quase percebi, chamar-me de Niassalês – sentia-me reduzido a um ponto de interrogação; acho mesmo que aquela gorda osga via pessoas que mais ninguém via ou conseguiria ver. Nesta questão de instantes o tempo murchou-me a vontade de entender se o pior era eu não suportar o balanço das potholes (buracos) ou as quezílias do tipo de entre gémeos.

Convêm saber: -A Republic of Botswana, em tsuana é um país sem ligação ao mar. Sua capital é Gaborone, que é também a maior cidade do país; seu relevo é plano com o Kalahári ocupando 70% de seu territário. Sua fronteira com a Zâmbia ao norte, perto de Kazungula no rio Zambeze, com travessia feita por ferry-boat por onde já passei, é um lugar que destaco pela diversidade e beleza que marca a fronteira com este país.

IMG_20170720_104337.jpg O Botswana em 1966, era a segunda nação mais pobre do mundo. Desde então, transformou-se numa das economias mais consistente, com um alto rendimento nacional dando ao país um padrão de vida modesto. Apesar de sua estabilidade política e considerável prosperidade, o país está entre os mais atingidos pela epidemia do HIV/AIDS; estima-se que cerca de um quarto da população, seja seropositiva.

Lendo descrições antigas dos khoisans, revejo-me em Silva Porto a descrevê-los: Magros, ossudos, envoltos em peles de leopardos ou chitas e com os cabelos penteados em tranças longas. Também aqui, são os grandes caçadores desta parte de África; dóceis e selvagens no aspecto como sempre são referidos descendo e subindo ao longo das linhas de água aonde só corre água quando chove. Mulolas que lhes mata a sede com seus charcos (água do subsolo, a pouca profundidade). t´chimpacas naturais com nomes de t´chicapa e, em terra de mwene-mãe nos sertões com nomes de Lubuco ou Lubo, distantes do principal rio, o Cassai, aonde as manadas de elefantes são às centenas.
(Continua…)
O Soba T´Chingange


PUBLICADO POR kimbolagoa às 20:34
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Sábado, 2 de Setembro de 2023
VIAGENS . 68

NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3478 – 02.09.2023

- Escritos boligrafados da minha mochila - no “Estado Livre de Fiume” em Grootfontein – com palavrório erudito.…

 Por roxo135.jpg T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

soba0.jpeg O que importa mesmo reter é o revelar de relações entre as coisas, mesmo partindo de hipóteses falsas, premissas incertas. Na minha leitura diária pude verificar que segundo Mário Bunge um entendido em filosofia da física, que todo o coro de ideias científicas, serão avaliadas à luz de resultados a partir de tipos de testes a saber: 1-metateóricos, 2-interteóricos, 3-filosóficos e 4-empíricos. E, não se faz nenhum exame empírico a uma teoria senão depois de ela ter passado no crivo dos três primeiros testes. Estes carolas torram nossos neurónios a começar pelo palavrório da sua função erudita.

Nessa conjugação, o metateórico apoia-se na forma de conteúdo da teoria, particularmente a sua consistência interna. O teste interteóricos procura analisar a compatibilidade da nova teoria com outra. Só depois virá a prova filosófica situada no campo da respeitabilidade metafísica e epistemológica dos conflitos e pressupostos da nova teoria à luz de algum sistema filosófico. Cada um destes palavrões requer pesquisa apurada para penetrar nos neurónios e, de forma acertada, ser arrumada nos gavetões certos da compreensão. Mas, aqui em áfrica. o melhor mesmo, é termos os pés de Bohér com os olhos bem abertos para não nos espetarmos em qualquer espinho que atinja o coração.

maun0.jpg Voltando à odiseia estória que nos dá voltas à mioleira, podemos saber lendo que depois da Segunda Guerra Mundial, a 3 de Maio de 1945 as tropas alemãs de ocupação foram substituídas pelas tropas do Exército Popular de Libertação da Jugoslávia. Nos primeiros dias do novo governo, vieram acompanhados do fuzilamento em massa dos ativistas do Movimento Autonomista.

O símbolo da cidade, a águia bicéfala, retornou ao uso apenas em 1998. No final do ano 2004, um grupo de fiumanos fundou a "organização virtual Estado Livre de Fiume" com a ideia de reunir os fiumanos pelo Mundo numa identidade própria.  Como se pode concluir em história, quando tudo chega até nós já passou por um filtro e, muitas vezes tem a respeitabilidade “Ad Hoc” e de forma arbitrária.

Só depois e com as críticas de entendidos na matéria, é que surgirá o tal de “racionalismo” de pretensão universal com um simples “A priori”. Por hoje fico-me por aqui sem entrar no campo da logicidade plausível. Não fiquem assim matutando e, tentar entender as dificuldades da interpretação das coisas  com a suprema “Teoria da Incerteza” ou um simples “Só sei que nada sei” para se refastelar nas palavras com frustrados sonhos.

maun01.jpg Teremos sempre de ter em conta que os homens e mulheres com projecção viram monumentos da história; nestas  projecções se acoitarão bichezas menores e qualquer animal inferior que por ali ande, fará suas necessidades aonde quer que calhe, porque as bitacaias feitas matacanhas, sem conceitos de alma penetram sim, nos olhos dos pés. Mas, sempre voltando à base daquele espaço, sabe-se que entre os cidadãos de Fiume de etnia italiana, um grande número emigrou por motivos étnicos já quase nos finais da segunda guerra mundial.

Aconteceu assim, fugir-se às ideologias de Hitler e suas perseguições aos judeus com outras razões ideológicas, que hoje nos causam forte repulsa. E, tendo sido a Namíbia, um território colonial alemão, aqui fundaram suas "Comunas Livres de Fiume no Exílio" e, à qual aderiram muitos fiumanos; surgir assim daqui, um território colonial mais brando nas questões politicas, penso eu, neste nome e, num lugar tão distante.

maun3.jpg Para terminar esta estória bem intrincada, é deveras curioso encontrar assim, vastos territórios com uma aparente autonomia especial! Já deparei com isto às margens do Orange - Um território chamado de Orândia com moeda própria, bandeira e outros requisitos de gestão diferente do resto do país – África do Sul; também do espaço Casino de Sun City e Pilanesberg com um estatuto especial e do espaço e,  Farm Parys- Free State às margens do rio Vaal perto de Potcheftsroom.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 18:06
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Quarta-feira, 30 de Agosto de 2023
VIAGENS . 66

NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3476 – 30.08.2023
- Escritos boligrafados da minha mochila - no “Estado Livre de Fiume” em Grootfontein – No Otjozondjupa da Namíbia…
Por FK2.jpgT´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

fiume02.png Aconteceu em paz, divorciar-me de mim, dando a chave do cofre ao mestre da charrua da vida, pensei assim aqui e, neste lugar preciso aonde judas perdeu as botas. Às vezes fico meio periclitante com Ele, o Nosso Senhor. Mas, adicionando casos e acasos, coisas miúdas, estendo minhas quinambas, mexo os dedos grande e o pequeno do pé revendo-me no equilíbrio da realidade tão bem fabricada: com a destreza bóher de fugir intuitivamente aos espinhos das acácias dum tamanho quilométrico, um exagero de 99,999%! Isso, de uns bons 10 cm…
Até já estou ganhando olhos nos pés, talqualmente como o homem que teimou em plantar batatas no deserto e, que por via dum sonho, teve-as – um milagre feito em toneladas de tubérculos a que os cientistas não têm a devida competência opinativa para o subtrair – o milagre.
E, porque foi que viemos aqui, se não era necessário afastarmo-nos tanto, a um lugar tendo por testemunho absoluto o céu que nos cobre, para onde quer que se vá. Para provar, que o que tiver que acontecer acontece, haverá sempre o lema: um milagre em que as pessoas, não escolhem os sonhos que têm; foi em duas noites passadas em Windhoek seguindo um destino dormido na Guest House Willtotop de Vanda Potgieter, esperando assim seguir o rumo ainda por escrever.

fiume8.jpg E, numa singular legitimidade, partilho só um pouco de um reino emprestado, aonde todos são presumíveis herdeiros e arrendatários. Quem não acreditar que assim o é, que se lixe! Pois! Reino, aonde o tempo, também passa igual para todos - Segui na direcção de Okahandja, Otjivarongo, Otavi, Grootfontein com paragem neste Fiume Rust Camp de Otjikango com o rumo do Rundu no Okavango.
Pois foi a Vanda Kikas Miranda que amavelmente marcou minha reserva de estada no Rest Camp Fiume, o lugar que aqui descrevo com a surpresa de reavivar uma estória desconhecida. Bem! Aqui estou neste estado LIVRE de FAZ-DE-CONTA em África, em um lugar longe de tudo, Fiume Rust Camp situada na área administrativa de Otjikango.

khoisan02.jpg Pesquisando a Wikipédia pude assimilar: Os cidadãos de Fiume lá da Croácia actual, de etnia italiana, um grande número emigrou por motivos étnicos ou razões ideológicas, fundando aqui, como em outros lados, "Comunas Livres de Fiume no Exílio". Numerosos fiumanos e, não sómente italianos, surgiram aqui e, desta forma, montaram bivaque após a Segunda Guerra Mundial
Tenho a dizer que a todas as perguntas que me possam fazer, não poderei dar todas as respostas porque nem sempre as estórias e lendas, conservam alguma relação com os factos, transformando-se até em puras fábulas. Será o caso de uma “Croácia de 14 km 2” em pleno mato da terra do nada, para satisfazer um sonho de alguém. As guerras provocam estas diásporas; alguns estabelecem-se algures, outros procuram algo que nunca irão encontrar, como no meu caso… Eu, que saí de Angola também tive este sonho: acampar-me na foz do Amazonas…

fiume12.jpg E, assim ungido de guerra "tunda munjila" (branco, vai embora), agora era o tempo de me ver no principio do nada, nada que resvalou num sempre. Tomamos o breakfast às sete horas do seguinte dia confirmando o legitimo cuidado de Jorn Gresssmann, o zelador-mor do Free State, uma simbólica herança, um perfeito sonho de um primogénito em terra de nome bizarros como Omatako, Okavarumendu, Otjssondu, Okakamara, ou Otjinoko. Já só restavam 440 km para chegar à Andara do Okavango. Mas antes, terei de descrever pela via da cábula Wikipédia, essa terra de Fiume, lá na Europa, no Mar Adriático…
(Continua…)
O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 09:39
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Terça-feira, 29 de Agosto de 2023
VIAGENS . 65
NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3475 – 28.08.2023
- Escritos boligrafados da minha mochila - no “Estado Livre de Fiume” em Grootfontein
– No Otjozondjupa da Namíbia…
Por:

fiume6.jpgT´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

fiume10.png Ainda em terras da Namíbia e antes de chegar ao Rundu, um destino base em minhas, nossas andanças, pernoitamos em uma fazenda quase tão grande como o original Fiume, uma terra situada na Europa, que já foi Italiana e uma cidade estado. Já foi Croata e, desde 1947, pertence à Jugoslávia. Pois isto parece irreal em África mas aconteceu!

Dado que os homens para tudo querem explicações, eu também quis saber um pouco da história do lugar aonde passei e ali permaneci por dois dias em duas vezes e, em diferentes datas.Surpreendi-me com tudo o que ouvi, que vi e do que pesquisei, pois que a este lugar com 14 km2 foi dado o nome de Fiume Rust Camp situada na área administrativa de Otjikango.

Fiume11.png Como disse, Fiume, foi uma cidade-estado da história contemporânea, entre 1920 e 1924, na actual cidade de Rijeka, na Croácia. Este Fiume Lodge e game farm, mantêm sua excêntrica soberania ostentando a bandeira da Croácia de forma simbólica.

Com metade da área daquela ex-parcela europeia tem (ou tinha) Jorn Gresssmann como zelador-mor de uns quantos habitantes khoisan residentes e uns quantos turistas ocasionais que por ali vão chegando. Os demais habitantes são bichos tais como girafas, elands, kudus, orixes, zebras, springboks, hartebests, e avestruzes entre outros, de mais pequeno porte.

fiume0.jpgTive de abrir três portões até chegar ao conjunto de lapas, chalés bem ornamentados e cobertos a capim do okavango formando um complexo de apartamentos em circulo e, um outro conjunto formando a recepção, bar, restaurante e cozinha. Nas duas entradas controladas por vídeo, existem duas fiadas de arame sendo a interior alta e com fios ligados a corrente continua para evitar fugas de olongues por via de salto ou encosto.

 
Entre o bloco de serviços e os chalés lapa em forma oval está disposto um agradável jardim com grama e plantas exóticas ornamentais enfeitando o conjunto com piscina, d´jango de descanso, lugar de braseiro e árvores de porte bonito autotnes. Em realidade é um oásis no meio de um nada, oceano verde de espinheiras.

FK5.jpgAté este núcleo habitacional, tive o cuidado de ir a passo de morrocoi tendo-me desviado de um cágado e um sengue (lagarto grande) passeando ao longo da picada. A receber-nos lá estava Jorn desfiando seu austero calendário; deu-nos escassos minutos para inicio do jantar que impreterivelmente era servido às sete horas, inicio da noite, e dali deliciando-nos entre outros acepipes, carne de gnu e de eland fechando com creme de manteiga escocesa, assim ao jeito de baba de camelo. E. dali podíamos ver através das janelas de vidro e rede anti-mosquito os muitos kudus que ali vinham beber entre avestruzes e springbokes como se sentissem obrigação de se exibirem a nós, antes da noite. Foi mais um fim de dia com surpresa inesperada, um “enjoy you stay” no requinte da sempre agradável Windhoek lager.

(Continua…)
O Soba T´Chingange


PUBLICADO POR kimbolagoa às 06:16
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Domingo, 27 de Agosto de 2023
VIAGENS . 64

NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3474 – 27.08.2023 - Foi no ano de 1999

- Escritos boligrafados da minha mochila - dois himbas fotografavam a morte da minha infância…

Porkunene.jpgT´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

ARAUJO216.jpg Ainda nas margens do rio Cunene, para lá da picada pedregosa, sentados em penedo elevado, com uma expressão de circunstância infantil sorriam com naturalidade ao meu espanto. Eu, um turista t´chindere, nas terras do fim-do-mundo a ser fotografado por pastores hereros de tanga. Aqui há coisa! Estou a ficar chanfrado! Passado dos carretos! Háka. Himbas - cafecos do kunene.

Pressentia-se vagamente o aparecer da tarde aonde a calma esmorecia um pouco a sombra dos troncos retorcidos de embondeiro alongando-se pela terra gretada e poeirenta. No horizonte desenhavam-se seios erectos reluzindo fogo entre pedregulhos de onde nasciam cactos em forma de candelabros. O silêncio da planura ondulava uma aprovada expectativa impassível, estirando labaredas num céu incendiando o horizonte.

edu59.jpgAs narinas arfavam nervosamente o suave cheiro de capim que de pontas viradas ao céu davam término em abrupta falésia; lá em baixo, na margem fustigada pelas ondas de águas rápidas farfalhavam mornices de verão pisoteadas por “nemas” chifrudas em movimentos leves, até graciosos. Era o rio Cunene.

Naquele instante e depois – em todos os instantes, sentia que me afastavam de tudo de quanto amava, e chorei disfarçadamente como se nunca mais ali voltasse. Dissimuladamente, limpava-me assim, como se finge limpar o suor.  De novo e agora, a nostalgia das terras do fim-do-mundo transcenderam no tempo fantasmagórico longos bocejos feitos admiração.

A partir dali iria passar por Fiume – um pedaço de estado livre, depois o “Epupa Falls do Okavango em Sepupa)” já no Botswana mais o Delta do Okavango. O rio Cubango ou Okavango que em seu curso, passou a a desbravar aventuras ora seguindo mansamente, ora rápidamente entre desenhadas figuras em  rochas com espuma branca e, mais longe não pude ir, nem voar

ÁFRICA18.jpgFaltava um todo o terreno ou um ultra leve para prosseguir a ver as quedas feitas rápidos,  deslumbrantes deste rio que vai para o Delta. Demasiado descuidado no agora, tempo de regenerações, usando pensos higiénicos fosforescentes dando bufadelas coloridas como os carroceiros boéres mais a sul; dos hábitos quase secretos que só eu mesmo abençoo entre as porcarias pálidas que se evaporam nas notícias mentirosas poluidoras  do Mundo.

Não se deve abandonar o nada de que se goste, e por amor amarrámo-nos às coisas da natureza como se ama alguém que nos é querido. Naquela universidade ou diversidade, aprendemos que as plantas comunicam entre si, por isso o elefante tem de andar muito, e contra o vento para que a coisa apetitosa, deixe de o ser.

epupa01.jpg Eu explico: - As plantas saborosas ao elefante são devastadas até ao extermínio e estas por feromonas lançadas ao vento, avisam as demais da mesma espécie que rápidamente passam a ter um sabor desagradável, expelindo ou misturando na sua seiva fluidos repugnantes ao sabor; o paquiderme “Jamba” predador, tem assim de contornar a selva ocupando um grande espaço da mata. E. fiquei a saber da importância que tem o salalé na limpeza da floresta eliminando troncos e folhas em decomposição, criando nutrientes para outras espécies se desenvolverem com mais pujança.

(Continua)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 19:07
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Sábado, 26 de Agosto de 2023
VIAGENS . 63

NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3473 – 26.08.2023 - Foi no ano de 1999

- Escritos boligrafados da minha mochila - Aquele Bóere* das batatas do Vaal deveria ter mesmo olhos nos pés!

Por baú de coiro1.jpgT´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

BATATAS4.jpg Aqui há diamantes? Perguntei à suricata empinada numa pequena elevação que nada me disse, pudera! Sem se importar com essa brilhante pedra que ofusca gentes, fugiu para um dos muitos buracos ali espalhados; terra fresca denotando trabalho árduo para assim se refrescar daquele calor tórrido; calor que chega a ir a mais de cinquenta graus no pico do verão. Coisa para se dizer, Pópilas!

Pois aqui, damo-nos conta de que afinal, sempre há povos a descrever teorias ou filosofias novas clareadas por meio de metáforas que a natureza lhes ensina. Aquela de os pés dos bóeres têm olhos vuzumunava minha kuca com lantejoulas rupestes. Nestes espaços abertos dissociamo-nos dos conflitos sociais; das metáforas criadas pelo homem a justificar coisas sempre compreendidas numa forma de agradar.

BATATAS6.jpg As artes criativas dos homens continuarão a florescer com brilhantes expressões saídas da imaginação; novos níveis de conflito ou sedução e, porque a arte por vezes é a mentira a nos mostrar a verdade. Ué… Lembrei-me do professor Souares, um espiritualista com manias de mwata a enfeitar minha testa com unguentos de salsaparrilha e xixi de guaxinim fedorento, tentando resolver meus problemas de mau-olhado.

Este eterno conflito foi-nos legado pela inteligência que tende a evoluir no tumulto com velhas ou novas criticas - velhas teses ou teorias diferentes deste mwata Kimbanda da mututa que me quer desfrisar uns kumbús como assim, na saúde, na doença e o escambau… Um teste de vida de tendência evolutiva legada por Deus, porque pensar o contrário disto, será decerto uma imperdoável heresia. Nos vínculos efectivos do antes, agora, depois e, enquanto gente, vamos rever humanidades antigas de quando passamos de animais quadrupedes a pessoas com mais de 600 centímetros cúbicos de capacidade craniana. Se agora temos 1.500 centímetros cúbicos de capacidade, tudo leva em crer que no futuro, nossas cabeças serão tão grandes que só se nascera de operação cesária.

BATATAS5.jpg Este problema sempre presente e cada vez mais remanescente, não reside na natureza nem na existência de Deus mas, nas origens biológicas que pela mente cataloga o auge evolutivo na biosfera. Poderá dizer-se nesta pequena imagem de vida real que cada homem está por assim dizer num estreito nicho como numa burocracia de curral. A parede deste nicho esmaga-nos individualmente a personalidade levando-nos a não poder extravasar nossa euforia como se fossemos bois confinados só a mugir até serem defuntados com um urro levado na ponta dum facão. Por ali, entre os khoisans, busquimanos, que se saiba, nunca andou  sequer um profeta escrevendo na areia qualquer mandamento…

As nossas atitudes em relação às coisas, reflectem critérios de valor fundamentais tornando a relação homem-coisa em algo cada vez mais transitório. Se eu fosse professor catedrático teria de vasculhar os termos para não falar tão fora dos parâmetros convencionais. A ideia de usar um produto-coisa uma única vez ou durante um curto espaço de tempo, substitui-lo ou deitá-lo ao lixo, contraria a sociedade ou os indivíduos com uma herança de pobreza.

batatas8.jpg As gentes do meu tempo, septuagenárias, que nasceram antes da invenção do plástico e do aparecimento do transistor, muito antes de haver computadores e inteligência artificial e ajuda dos algoritmos, não estão tão habituadas a produtos de utilizar e deitar fora; até conservam seus casamentos para lá dos cinquenta ou mais anos; preferem reciclar a vontade de fazer querer, em detrimento do só querer. Hodiernamente já nem vou a casamentos para não me sentir defraudado com a curta duração do umbigamento; quando muito, mando um pouco do meu laço de solidariedade com umas escassas centenas de kumbú para não o ser ovelha ranhosa na família… 

Comecei esta em querer falar no homem das batatas da África do Sul mas tudo escorregou na ladeira mais fácil a fim de não perturbar as mentes, pois sempre ouvi dizer que a fé move montanhas. E, num lugar ermo como este do Calahári, aonde o estio é brutal, um homem semeou batatas no deserto e, porque acreditou em Seu Senhor, foi abençoado com toneladas de tubérculos. Contaram-me, vi até um filme que mostrava aquela arides. Ao seu redor havia descrença e a surpresa apanhou-os de boca aberta; Também eu  fiquei confuso vendo tanta batata saída da terra. Terra que, com  vento, só leventava pó. Este bóere do Vaal devia ter mesmo, olhos nos pés!

khoisan04.jpg Bibliorafia: Bóere: Na África do Sul, os bôeres (africânderes) foram a base social principal do regime do apartheid, que durante muitas décadas vingou na África do Sul. Ao mesmo tempo, foram o grupo chave para o desenvolvimento económico da África do Sul e a posição de vantagem deste país na economia mundial… (Dados da Wikipédia…)

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 08:34
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Sexta-feira, 25 de Agosto de 2023
VIAGENS . 62

NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3472 – 25.08.2023

- Escritos boligrafados da minha mochila - Foi no ano de 1999

Por vazio1.JPGT´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

jindungo4.jpg Os conhecimentos milenares dos Khoisans, estão sendo estudados ao pormenor em algumas universidades da África do Sul por forma a conhecerem melhor sua tradição de estórias verbais com lendas e, dando a estes benefícios na forma sustentável sem os viciar. O Xhoba cacto inibidor do apetite vai através de convénio governamental contribuir para lhes criar hábitos de sedentarismo.

Labotórios, por todo o mundo, estão aprofundando formas de por via de cremes e milongos, colmatar a crise crescente de obesidade entre os cidadãos e, também para de certa forma, anular subtâncias provocadoras de adiposidades. Desconheço se os exploradores Tugas de outros tempos, davam importância a alguns factores relecionados com este povo bosquímano; se o fizeram ficaram relegados para segundas núpcias de estudo.

swakop5.jpg É provavel que estejam guardados em cadernos coloniais po via das explorações de Serpa Pinto (entre outros), pois que este recebeu a missão de estudar no Alto Chire a construção de uma linha de caminho de ferro que assegurasse a ligação do lago Niassa (Moçambique) com o mar. Nesse então, a coluna expedicionária era apoiado por uma forte coluna militar, com a finalidade de mais tarde se ligar no Baixo Catanga a uma outra coluna portuguesa ida do Bié, sob o comando de Paiva Couceiro.

Portugal deu início a várias acções de ocupação: entre 1887 e 1890; Artur de Paiva ocupou o Bié e Paiva Couceiro foi enviado para o Barotze com numerosos sobas prestando vassalagem a Portugal. Tendo isto em vista, os ingleses começaram a aliciar os chefes indígenas das regiões visadas, incluindo aqueles que já tinham prestado vassalagem a Portugal como os Macololos e os Machonas e até o célebre régulo de Gaza, Gungunhana.

cacto xoba1.jpg O envio de tropas e de funcionários para as colónias de Angola e Moçambique, para todos os lugares onde se fazia sentir a sua falta era, porém, virtualmente impossível para Portugal. Por outro lado, o acordado na Conferência de Berlim dizia respeito fundamentalmente aos territórios junto á costa, já que o “hinterland” africano era muito mal conhecido. Daí as numerosas expedições organizadas de reconhecimento por parte de Portugal, Bélgica, França e Inglaterra no intuito de a estes, lhes  ser reconhecida a soberania.

Os resultados da Conferência de Berlim, despertaram Portugal para a realidade. Se bem que o esforço estratégico tivesse sido orientado para África após a perda do Brasil, pouco se tinha feito por via da instabilidade na vida político-social da Metrópole, M´Puto e das extensas vulnerabilidades existentes. Aqui, no Karoo, na Ovobolândia, no Okavango e Kalahári de África, apaziguo rijezas adversas, relembrando a singularidade com sonhos do mundo.

berlim1.jpgNão existe ninguém que encontrando um espinho em seu pé não o retire após as primeiras dores; um amigo próximo disse-me que os pés dos bóeres têm olhos. Só entendi essa fala quando observei in situ um farmeiro de kimberley a andar de sandálias de pano colorido no meio do capim repleto de aranhas, centopeias, cobras e um sem fim de outros bichos rastejantes sem contar com os muitos picos espalhados a esmo pela terra barrenta.

Percorrendo o mato do Karoo africano, milhares de acácias com espinheiras do tamanho dum lápis, posso ver ao longe, morros suaves de um e outro lado dos rios Orange e Vaal. Nestas condições de apaziguar rijezas adversas do mundo, relembro a singularidade ainda não totalmente definida, fazendo-me num seixo redondo do Vaal. Seixo embrutecido que rebola no tempo só quando levado pela enxurrada desta mulola aonde me situo. Aqui há diamantes, dizem!

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 08:35
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Domingo, 20 de Agosto de 2023
VIAGENS . 59

NAS FRINCHAS DO TEMPO – OTJIKOTO LAKE na terra do NADA

- "DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3469 – 18.08.2023

- Boligrafando estórias de OTJIKOTO, perto do ETOSHA PAN - Foi no ano de 1999

Por dy15.jpgT´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

otjikoto6.jpgOtjikoto é um lugar aonde as musas lambem rochas - A poucos quilómetros a Norte de Tsumeb, na Namíbia, encontrei o angolano M´c Giver, zelador do buraco de sonho Otjikoto e tocador de baladas enlatadas, também anestesiadas de bolungas extracurriculares. Foi um fortuito encontro de amizade desértica. M´c Giver, tinha uns olhos visgosos tocando com gula a vida de simpatia numa velha viola feita em lata de azeite galo.

Aquele artefacto à qual chamou de “viola galo cantou” na qual fez aplicações com madeiras de cacto e buracos encantadores de assobios espaciais, havia sim, sonoridades extra particulares. Tanto assim que que ele, o M´c Giver teima em dizer terem sido trazidos do Kuito de Angola pois que, até exalavam cheiros de pólvora duma guerra que se extinguiu demasiado catingada É uma coisa assim nunca vista. Esta tecnologia de ponta deixou-me bem embalado em nostalgia na recordação do “Corimba show da Luua” – Um tocador ex-militar acantonado na vida …

OTJIKOTO5.jpg Os turistas, saídos do Etoscha pela estrada longa B1, porque eram escassos, requeriam atenção desdobrada pelo tocador de baladas. Ali, num lugar distante de tudo, na terra do nada, um poço com água de fundura desconhecida, sobe e desce ao sabor dos quadrantes da lua, zuni uma pedra nas suas águas e por três vezes chispou na toalha lustrosa - xim-trás-pum. Estava parcialmente satisfeito o desejo do encontro com aquele, um especial buraco num vulgar dia e invulgar lugar a caminho e regresso do Etosha Pan. Pude averiguar ser o "Otjikoto", derivado da língua Otjiherero que significa "um buraco profundo". Os Khoisan chamavam o lago de "gaisis", que significa muito feio, porque tinham medo de pura cagufa desse grande buraco.

O Lago Otjikoto desempenhou um papel importante como posto comercial antes da chegada dos primeiros europeus tendo sido uma grande caverna de dolomita na área de Karstveld. O lago ficou exposto quando a cúpula da caverna, que agora fica no fundo do lago, desabou (uma teoria). Sua profundidade varia entre 62 mts nas laterais a 71 mts ao centro, embora haja locais onde a profundidade medida ultrapassa os 100 mts; até hoje, ninguém viu sua parte mais profunda.

IMG_20170721_112726.jpgO diâmetro é de aproximadamente 102 mts, com a superfície cobrindo 7 075 mts quqdados. O lago tem o formato de uma cabaça e, o que o visitante vê, é a cauda da cabaça. Até agora o que se sabe sobre o Lago Otjikoto, baseia-se no que foi retirado de suas águas - uma conquista de mergulhadores profissionais que, em seu tempo livre e às próprias custas, passaram inúmeras horas debaixo d'água para determinar o tamanho exacto do lago e descobrir os demais mistérios que ele contém.

OTJIKOTO1.jpgOs mergulhadores estão actualmente com equipamentos modernos, ocupados na pesquisa do lago mistério e, suas cavernas subaquáticas, muitas das quais ainda são desconhecidas. O ambientalista Siegfried Agenbag compilou dados e factos sobre sua história, fauna, flora e sua infraestrutura técnica contemporânea nas proximidades, em análise aos rumores e segredos sobre aquelas águas escuras e sem fundo. Dizem até que, é sim um canal subterrâneo que liga ao mar por via de as águas subirem e descerem como se o fora  maré habitual nos mares, por influencia da lua…

maun8.jpgDespedimo-nos assim do M´c Giver angolano (eramos cinco) das areias e pedras de Otjicoto, do camaleão pré-histórico com picos ferozes e do louva-a-deus escandalosamente verde com a balada seguinte:

Num deserto cheio de vento - Espinheiras resistindo a tudo - A areia longa e solta na limpeza do ar - Da língua envolta em secura; …Na cabeça muitos sonhos - O tempo sem ida nem chegada - Moldura de gente, gente feita zebra - Fluidez imperfeita de uma vida…

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 06:49
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Sexta-feira, 18 de Agosto de 2023
VIAGENS . 57

NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO ”ETOSHA PAN”

- "DOS TEMPOS DE MU-UKULU*“ - Crónica 3467 – 17.08.2023

- Boligrafando estórias em NAMUTONI do Etoscha

–Ondundozonanandana -  Foi no ano de 1999

Por:khoisan01.jpg T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

khoisan001.jpg Para terminar a breve descrição da relação entre Namutoni do Etosha Pan na Damaralândia (hoje Ovambolândia, na Namíbia actual) e, a Batalha de Naulila no sul de Angola, acrescenta-se que este forte, também serviu de campo de prisioneiros resultantes da Batalha (Desastre) de Naulila entre os anos de 1914 e 1915.

O incidente de Naulila, influenciou profundamente a opinião pública de Portugal. Os defensores da entrada de Portugal na guerra contra a Alemanha ganharam esta causa por via deste acontecimento na África colonial. Naulila foi o grande catalisador do processo que levaria Portugal a entrar na Grande Guerra a 9 de Março de 1916.

Namotoni5.jpg As tropas metropolitanas (M´Puto), mal preparadas para a secura da savana, foram obrigadas a fazer centenas de quilómetros em marcha forçada em direcção à fronteira da Damaralãndia no rio Cubango, atravessando um território cada vez mais inóspito e habitado por povos crescentemente hostis.

Esta falta de preparação para repelir o ataque e, a falta de resistência das forças portuguesas em Cuangar e nos postos ao longo do rio Cubango foi explicada numa das sessões secretas que a Câmara dos Deputados do Congresso da República dedicou em 1917 à participação portuguesa na Grande Guerra.

Nessa sessão, o deputado Brito Camacho, fundador do Partido Unionista, afirmou que a chacina de Cuangar fora motivada por não ter o respectivo comandante recebido notícia do incidente de Naulila, e ter confiado numa informação de Portugal, expedida directamente de Lisboa, dizendo-lhe que estávamos em estado de neutralidade.

khoisan04.jpg A colonia de Angola levou ao fecho da única fronteira ainda aberta da colónia alemã, já que pelo sul e pelo leste as forças britânicas da União Sul-Africana já a sitiavam desde a declaração de guerra britânica de 5 de Julho de 1914 e, por mar, a poderosa marinha britânica impunha um apertado bloqueio.

Com as comunicações cortadas e, sem rotas de reabastecimento, em Julho de 1915 a Damaralândia rendeu-se às forças da União Sul-Africana sob o domínio Britânico. O incidente de Naulila, de que resultou o corte do reabastecimento a partir de Angola, foi factor determinante na sua rendição. Em verdade, o Desastre de Naulila acabou por determinar a perda da colónia alemã, passando a ser um protectorado Sul-Africano.

É curioso recordar isto fazendo uma comparação com a recente independência de Angola, e as lutas que se travaram a sul entre a UNITA com a ajuda Sul-Africana e o MPLA naquela que foi a maior batalha em território Africano - a Batalha do Cuíto, que forçou à governação unilateral do território angolano pelo movimento MPLA ajudados pela Rússia, Cuba e Portugal-C.R. (Concelho da Revolução). E, tudo isso, resultou na independência da Namíbia com a entrega incondicional à SWAPO de San Nujoma em fins do século XX…

Notas: * MU-UKULU - de antigamente…

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 23:34
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VIAGENS . 58

NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO ”ETOSHA PAN”

- "DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3468 – 18.08.2023

- Boligrafando estórias de RUACANÁ FALLS a Waterberg Prateou National Park. – Ondundozonanandana -  Foi no ano de 1999

Porkhoisan01.jpgT´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

khoisan00.jpg Das quedas do Ruacaná, fronteira de Angola com a Namíbia, só vimos o penedo escuro na forma de falésia escorrendo pequenos fios de água envolvendo árvores retorcidas, estendendo aqui e além suas raízes; ao nível da margem aonde nós estávamos estendia-se um lago manso irregular entre tufos de vegetação. Não muito longe do gado beberricando aproveitamos refrescarmo-nos nas águas do Cunene, o mesmo que há muitos milénios desaguava no agora seco lago do Etoscha.

Foi no regresso que tivemos a feliz sorte de ver uma mulher Himba, toda pintada de ocre vermelho com tiras de couro cruzando o peito desnudo e seus carrapitos de cabelo enlameado de barro. Foi um contacto fugidio á beira da picada que liga à povoação Ruacaná mas, no registo das retinas de todos nós ficou aquela figura de gente agora quase em extinção.

otchicoto1.jpg Foi neste percurso e a caminho de Ondangwa que tentamos abraçar um embondeiro majestoso mas, os quatro da tribo não conseguiram chegar à metade. A t´xipala amarelecida relembra a euforia daqueles dias mas que agora estão confinadas à caixa de sapatos do mukifo do soba; O mofo foi lá deixado para preservar o espírito das terras do Fim-do-Mundo junto às petrificadas árvores das terras de Kaokoland, Namíbia Twifelfontein. Rumando a norte para o Okavango, seguimos a direcção de Grootfontein, uma singela cidade no meio da grande chana de África e após o almoço, na revisão de mapas, julgamos de interesse ficar por ali a fim de conhecermos o Waterberg Plateou National Park.

E, porque gostamos do lugar, acabamos por alugar um chalé bem junto à falésia colorida do Plateou entre acácias e, porque não podíamos percorrer com o nosso 4x4 o planalto, inscrevemo-nos no safari da reserva; por lá andamos toda a manha desfrutando paisagens alargadas. O Cudu, Olongue, do buraco de observação, deu um pulo descabido ao clique da máquina fotográfica e desenfreou-se entre capim e pedras.

khoisan03.jpg Já no Camp, o brai de carne estava melhor que nunca e, após tão suculento repasto veio a soneca de passar pelas brasas o tal cochilo. A tarde daquele dia, terminou com uma ascensão entre rochas de escorrida pintura natural em jeito de arco-íris e, seguindo a pista, fomos e viemos já ao cair da noite, de papo cheio de vistas soberbas. A contornar o chalé amiudadamente recebíamos a visita de saguins, bâmbis, capotas e um sem fim de pássaros, bicos de lacre, viuvinhas, celestes e o sempre presente monteiro´s ornebil com seu grande bico amarelo e, adunco.

O Park Nacional de Waterberg com sua bonita meseta, é um espaço protegido, situado bem no centro da Namíbia, ficando a 69 Km a este da povoação de Waterburg. Destaca-se pela sua elevação, bem acima da planície do Kalahári. Com os 405 Km quadrados de terreno circundante, foram declarados Reserva Natural no ano de 1972.

WATER1.jpg A meseta é em grande parte inacessível, pelo que, na década de 1970 várias das espécies em perigo de Namíbia, foram para ali trasladadas para assim as proteger de depredadores da caça furtiva. Em 1904, nas encostas da meseta, teve lugar a batalha de Waterberg, um marco de genocídio dos povos herero e namas (namaquas), perpetrado pelos alemães entre 1904 y 1907. A batalha saldou-se com a derrota dos hereros, muitos dos quais morreram no deserto. Esta zona faz ainda parte da Grande Namaqualândia, escassamente povoada pelo povo khoisan (bosquímanos) que tradicionalmente ali habita - região do semiárido chamado de Succulent Karoo…

 (Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 23:21
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Quarta-feira, 16 de Agosto de 2023
VIAGENS . 56
NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO ”ETOSHA PAN”
- "DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3466 – 16.08.2023
- Boligrafando estórias em NAMUTONI do Etoscha
–Ondundozonanandana - Foi no ano de 1999
Por:Namotoni01.jpg T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

Namotoni03.jpg Não posso deixar de descrever sucintamente o forte Namutoni pois que faz parte do Park Etoscha, lugar aonde se bivacaram as tropas da Alemanha durante a segunda guerra mundial e que também teve uma forte acção durante as batalhas do sul de Angola quando da consolidação da fronteira com a Namíbia, do tempo em que para ali foram enviados muitos expedicionários portugueses. Teremos de recordar ao de leve esses tempos do início do século XIX, do que foi a batalha de Naulila e a leva de militares nesse então - Alguns, foram considerados, sim! Outros morreram desclassificados até ao tutano que virou cinza…

O Combate de Naulila, ou Desastre de Naulila, é a designação dada na historiografia portuguesa à batalha travada a 18 de Dezembro de 1914 em Naulila, sul de Angola, entre forças portuguesas e alemãs, inserido na Campanha alemã em Angola, da Primeira Guerra Mundial. O combate terminou com a derrota dos militares portugueses, com cerca de 70 mortos da parte portuguesa, entre oficiais e praças. As forças portuguesas foram então obrigadas a abandonar temporariamente o Cuamato e Humbe, territórios na fronteira entre a então colónia portuguesa de Angola e a colónia alemã do Sudoeste Africano.

Namotoni04.jpg Em consequência da perda de prestígio das forças portuguesas as populações de Huíla revoltaram-se contra a ocupação portuguesa. A crise instalada resolver-se-ia com o envio de uma força expedicionária por Portugal sob o comando do general Pereira d'Eça. A Grande Guerra, originou um conjunto de conflitos com raízes na corrida à ocupação da África que se seguiu à Conferência de Berlim de 1884-1885. Por via da entrada de novas potências coloniais em África, a obrigação de ocupação efectiva do território, colónia de Angola, levou às campanhas de pacificação, as quais se prolongaram por décadas.

Portugal assistiu com grande desconfiança e desagrado à ocupação de enormes extensões de território por outras potências dando origem ao conflito com o Império Britânico, que desembocou na ultimato britânico de 1890 em torno do Mapa Cor-de-Rosa, as Guerras Bóhers com o consequente avanço para norte dos bóhers sul-africanos e, por se tratar do surgimento de uma potência sem tradições coloniais em África, criando as colónias alemãs adjacentes – leia-se Namíbia.

Namotoni1.jpg A colónia do Sudoeste Africano Alemão a sul de Angola que impôs novas fronteiras, limitando as pretensões portuguesas naquelas regiões interferiu na missionação portuguesa com o aparecimento de missões protestantes suportadas por organizações alemãs. As razões para a desconfiança mútua que se sentia eram sérias: em causa estavam as fronteiras entre as colónias de Angola e do Sudoeste Africano Alemão (Damaralãndia). Um consenso alargado na classe política portuguesa sobre a necessidade de defender as colónias africanas, traduziu-se no envio, em Setembro de 1914, de forças expedicionárias para Angola.

Para Angola partiu um contingente de 1600 homens, comandado pelo tenente-coronel José Augusto Alves Roçadas, um militar africanista que entre 1904 e 1907 se distinguira no sul de Angola na campanha do Cuamato, uma longa e difícil campanha de pacificação contra os povos cuanhamas. Conhecedor daquele território, em 1914, regressou com a missão de guarnecer a região de fronteira com a colónia alemã da Damaralãndia, incumbido de evitar levantamentos indígenas e de proteger a fronteira.

naulila1.jpg As forças comandadas por Alves Roçadas desembarcaram em Moçâmedes a 27 de Setembro e a 1 de Outubro daquele ano. Em Novembro de 1914, já após os incidentes de Naulila e Cuangar, foram enviados mais 2800 homens para Angola e em Dezembro outros 4300 militares. Nos anos seguintes, o efectivo continuou a ser reforçado. Dos eventos anteriores que levaram ao confronto de Naulila iniciou-se a 18 de Outubro de 1914, quando um pelotão comandado pelo alferes Manuel Álvares Sereno, em patrulha junto à fronteira com a Damaralândia, um território integrado no Sudoeste Africano Alemão, encontrou a uma dúzia de quilómetros do posto de Naulila uma pequena força alemã, capitaneada pelo Dr. Hans Schultze-Jena, juiz e administrador do distrito de Outjo, que tinha entrado em Angola sem prévio aviso às autoridades portuguesas.

naulila3.jpgDe incidente em incidente, a indignação na colónia era enorme e os apelos à vingança sucederam-se. E, deu-se assim o ataque a Cuangar a 31 de Outubro de 1914. A primeira retaliação alemã surgiu logo a 31 de Outubro, quando uma força alemão, sob o comando do comissário de polícia Oswald Ostermann, do posto de polícia de Nkurenkuru, atacou Forte de Cuangar, um posto fronteiriço a leste de Naulila, destruindo o forte e matando, com recurso a metralhadoras, todo o pessoal que ali se encontrava e que não conseguiu fugir para o mato. Este incidente, que ficou conhecido como o "Massacre de Cuangar", marca o desencadear das hostilidades entre as forças portuguesas e alemãs ao longo da fronteira com a Damaralãndia, actual Ovambolândia e, tendo o forte de Namutoni como um lugar bivaque de base à retaguarda… Lugar que, por isso, requer um avivar da história Lusa-Tuga…

(Continua…)
O Soba T´Chingange


PUBLICADO POR kimbolagoa às 14:03
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Terça-feira, 15 de Agosto de 2023
VIAGENS . 55

NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO ”ETOSHA PAN”

- "DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3465 – 15.08.2023

- Boligrafando estórias em Okaukuejo do Etosha

–Ondundozonanandana -  Foi no ano de 1999

Por 4 DE JUNHO.jpgT´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

etosha1.jpgVer África nesta sustentabilidade de Reserva Natural como o Etosha Park, requer não perder o bom senso e, sair  do carro para acariciar um leão; já muitos ficaram por lá, descuidadamente esqueceram-se que fazem parte da cadeia alimentar e podem até servir-lhe de pasto. “Dizem os leões” que a carne do humano é doce e uma vez degustada, volta a quere-la; é por isso que, leões que comam gente terão de ser abatidos porque algures, voltarão a atacar…

A noite, aqui no Okaukuejo do Etoscha desce rápido; no lusco-fusco das 18 horas os portões encerram e só em caso de força maior se autoriza a saída pela noite. O buraco de observação de animais ficava relativamente perto, e bem pouco tempo depois, deram indicação de que uma manada de elefantes sequiosos estava a chegar; todos os restantes animais e até dois rinocerontes deram espaço ao verdadeiro rei do Etoscha.

nauk16.jpg O quadrado do “Camp” é todo cercado e tem um único portão por onde se sai e entra. Foi bom termos ficado nas duas tendas porque nessa noite os leões, provavelmente os mesmos que estiveram a beber no buraco, através das lonas da tenda podemos ouvir os rugidos misturados com choros de hienas, tudo isto se estava a passar não muito longe de nós e do arame farpado, o que perturbou na forma de medo as mulheres da nossa tribo, Isabel e Ibib.

Aquele barulho de mato zunindo o silêncio estrelado em escuro céu, não permitiu que as donas, dormissem tranquilas que, só falavam em víboras, escorpiões, aranhas, cobras de todo o formato, grandeza e perigosidade, centopeias e nos chacais comendo moscardos, borboletas e bichezas rastejantes de milhentas patas, junto às luminárias do camp.

Foi um alívio passar a seguinte noite num chalé moderno envolto em espinheiras de grande porte. Estes chalés têm boas acomodações; Têem cozinha apetrechada com pratos, panelas e frigideiras e todos os demais requisitos como travessas. Há normalmente uma mesa para o preparo de ligeiras refeições com cafeteira eléctrica, pacotes de açúcar, chá e café solúvel com os demais acessórios para o preparo de café normal.

nauk13.jpg Existe em um lugar central do Park um pequeno mercado que tem viveras para as necessidades básicas; fruta, legumes, massas, conservas e molhos de lenha ou carvão para quem quiser fazer churrasco de “Brai”. Há gelo à venda, cervejas e carne seca “biltong” de boi ou antílopes como o kudu e outros antílopes que, creio serem provenientes do abate local, assim feito como controle no número de machos e do tamanho nas manadas.

Logo ao romper do dia, após as seis horas e já matabichados, constatamos que aqueles dois leões que rugiram toda a noite, tinham morto uma jovem girafa e de recente, ainda por ali estavam deitados guardando a presa enquanto hienas e chacais circulavam nervosos ao seu redor. Foi este ruido que ouvimos toda a noite, não muito longe da cercadura do recinto aonde estávamos.

nauk2.jpg Nunca tinha visto tanta espinheira junta como aqui nas vastas áreas planas da Namíbia, terra das acácias um semideserto a que chamam de grande Calahári Aquela, não seria a única noite passada quase ao relento com chacais ensombrando tremuras de ventos medrosas entre candeeiros e farejadas sobrevivências. Despedimo-nos do Camp pelas seis horas da manhã com a abertura do único portão “main camp”, fazendo já conjecturas para a próxima paragem em Otjikoto lake e Waterberg Plateau National Park

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 21:36
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Domingo, 13 de Agosto de 2023
VIAGENS . 54

NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO ”ETOSHA PAN”

- "DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3464 – 13.08.2023

- Boligrafando estórias em Okaukuejo do Etosha

–Ondundozonanandana -  Foi no ano de 1999

Por negro3.jpg T´Chingange (Otchingandji) – Em Amieiro do M´Puto

Namotoni2.jpg Assim foi: Pai António T´Chingange (condutor), mãe Ibib, dois filhos “angolanos” e Isabel a mãe de Lara, a caçula que ontem fez 22 anos (estamos em 2023 - o tempo ruge…). De Sul para Norte depois do Orange River, descansando no “Ai-Ais” e subindo o Canyon do “Fiche River” procurou-se pinturas rupestres, pegadas de dinossauro e vestígios de meteoritos.

No meio de triliões de anos petrificados, “rosnávamos em muxoxos” ininteligíveis admirações brilhando argumentos tirados à pressão duma nuvem feita visão. Há noite, entre zunidos e guinchos vindos da negra escuridão em assalto nocturno, olhávamos as fagulhas saltando da fogueira explodindo térmitas; improvisando jantar, assamos carne de “Orix” e “Biltong” que gulosamente deglutimos com rega de cerveja “Ansen”, “Whindooek Laager” e chá “Rooibos”.

No majestoso deserto do “Karoo”, um fragmento do Calahári. Já tinhamos passado por isto, mas num pois, e foi assim, e assado sempre recordávamos Upington, Augrabies e Moon Roc no Orange River: E aquilo! E, foi! Aconteceu! Assim repetíamos uma e outra vez o já muito descrito. E, dito e feito - fomos a caminho de Etoscha de Ondundozonanandana e Oshakati passando pelos buracos de Otjikoto lake bem ao lado da Estrada Nacional B.1 e, perto de Tsumeb – Por aqui andávamos…

monteiro6.jpg A vida em África desperta com o nascer do sol e, é nas primeiras horas matinais que deveremos buscar os vários antílopes e os “big five” tais como o gnu, girafa, elefante, rinoceronte, zebra, kudu (olongue), impala, macacos, hiena e até mabecos. Com sorte, assistiremos ao banho de terra dos elefantes que junto aos buracos (bebedouros) quase fazem um teatro de coreografia divina, cores de pó em múltiplas facetas e contrastes com o sol do poente com os cheiros fortes que deles tresandam.

Já dentro do Etoscha, no Buraco Okaukuejo  -  só gente do staff pode sair da área do arame farpado depois do cair da noite. Não havia chalés disponíveis para aquela noite e o recurso foi montar as duas tendas que levávamos na mala do “four bay four”, no espaço disponível entre a cercadura da reserva e os balneários do campismo e caravanismo. O buraco de observação de animais ficava relativamente perto.

aug12.jpg Pouco tempo depois deram indicação de que uma manada de elefantes sequiosos estava a chegar; todos os restantes animais e até dois rinocerontes deram espaço ao verdadeiro rei do Etoscha; cansado que estava da viagem não demorei muito a adormecer feito um cepo e fiquei muito indignado de não me terem acordado quando apareceram os leões a beber lá pelas dez horas da noite. O “Okaukuejo Camp“ em forma de quadrado deve ter uns 800 metros de lado, um agrupamento de chalés para turistas, uma zona de residências com telhados em capim para funcionários, e bem ao centro uma torre de onde se divisa o horizonte, ora mata, ora chana aberta em forma de clareiras.

Das várias vezes que por ali passei vi sempre os místicos leões, quase sempre em grupos de três ou quatro em lugares de vegetação rasteira. Em África, o sol põe-se depressa e de forma abrupta pelo que, convêm não se arriscar andar muito afastado do acampamento nas horas de quase fecho de portão escolhido para pernoitar, Okaukuejo, Halali ou Namotoni. Tenho ainda na retina, a planura de Okaukuejo, bem perto do acampamento base “main camp”, a agilidade de uma cheeta na perseguição de uma springbok

aug6.jpg Gazela que de rabo a abanar e orelhas atentas a qualquer ruído pastava; bem atrás, sorrateira, uma cheeta, pata ante pata, avançava com todos os cuidados de visão e barulho normalmente contra o vento; num dado momento e já muito perto da presa lança-se em correria; em simultâneo a gazela pula e pula em saltos coordenados ziguezagueando a linear corrida do felino. Desta fez a correria deu em nada pois o antílope soube sobreviver. Ali, a quebra de vigilância significa uma morte rápida.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 11:32
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VIAGENS . 53

NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO ”ETOSHA PAN”

- "DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3463 – 12.08.2023

- Boligrafando estórias em Okaukuejo do Etosha – Ondundozonanandana -  Foi no ano de 1999

Por:tonito16.jpg T´Chingange (Otchingandji) – Em Amieiro do M´Puto – (Dia da Lara)

xavier 01.jpg Passeando na paisagem dos silêncios em sonho do “Naukluft”, sigo, seguimos todos e, até perseguimos as ilusões. Fora dali, nem tudo é justo e nem tudo é falso mas o que em mim perdura além das rugas, é o deserto, juro mesmo! Numa sociedade em que já ninguém tem tempo a perder, no deserto, foi e, é ali que eu me preencho longe dos atropelos, mensagens, redes Net e Facebook e o escambau, onde e aonde se oferecem amigos a granel; paletes, como dizem esses 10 mil amigos que  nunca vi, só alguns pucos e, os que vi: esvoaçam ou esvoaçaram-se…

No Etosha, lugar de feitiço completo, pelas vinte e três horas apareceram os leões na poça de Okaukuejo; saí ensonado da tenda para de novo assistir ao majestoso mundo natural duma verdadeira África. O Etosha Pan, é um lago seco de 120 quilómetros formando o chamado Parque Nacional Etosha, um dos maiores parques da vida selvagem da Namíbia.

luua38.jpg A vasta área é principalmente seca, mas após uma chuva forte, ela adquirirá uma fina camada de água parecendo uma miragem, que é fortemente salgada pelos depósitos minerais na superfície. O Etosha Pan é principalmente lama de barro seco dividida em formas hexagonais que à medida que seca, racha, e raramente é vista com essa fina camada de água cobrindo-a.

Foi aqui, no Etoscha, que vi a maior diversidade de animais – um lago seco que quando chove cria uma ténue camada de água que se esvai rápidamente deixando a referida superfície como uma grande panela salgada. No entanto, os rios na forma de mulolas, Ekuma, Oshigambo e o Omurambo Ovambo, são as únicas fontes sazonais de água para o lago. De tempo a tempos, sucede sim, chover chuva molhada na forma de milagre. No ar, fica um cheiro diferente de todos os outros, como pestanas torriscadas em cinza quente …

Timidamente, a natureza forma pequenas águas em charcos dos rios mulolas com sedimentos atingindo o lago seco que penetra no leito do mesmo ou se espraia em véu como já dito… As vastas zonas de poucos declives formam as chamadas planícies africanas, chanas ou anharas de clima extremamente seco. E, o curioso é de que a esta mesma latitude e para o lado poente temos os desertos junto à costa do Sul de Angola e Norte da Namíbia que são banhadas pela tão mencionada corrente fria de Benguela.

nauk1.jpg No Oshakati, paredes de pau-a-pique quase nas margens do Cunene agreste coabitamos com uma raça em extinção chamada himba. Naquele outro um dia, vesti-me de lama numa gordurosa cor ocre e dei um rápido mergulho no popa falls do fim do mundo, Ruacaná. Do outro lado, estavam as terras dos Kwanhamas mas, por ali fui ficando com os Ovambos lambendo feridas com “castle lager” (cerveja local).

Sentado num cepo de madeira petrificado, senti-me o senhor com a maior dor d´alma do mundo. Foi o preciso lugar e momento de começar a esquecer e ser esquecido. Pasmado assim no tempo, só continuo mais-velho. Naqueles dias de correria louca num quatro por quatro ou em um Toyota 1600, éramos donos do que víamos; tudo era nosso na vastidão. Da doce vista das pedras eternas entrecortadas com tufos de capim sobrevivente do nada, havia em nós um misto de atracção e raiva carregada de adrenalina.

Namotoni3.jpg O medo protector balançava alegria escondida, também curiosa tranquilidade impregnada de um silêncio pacificador; a coisa nunca sentida fora deste mundo, empolgava-nos a existência num esmagador pórtico num além sem fronteiras, de para além-de-tudo ou as terras do Fim-do-Mundo. Éramos uma mini-tribo procurando experiências de vida num ermo só nosso. Éramos cinco despeitados “Tugas mazombos de N´Gola” da diáspora. Todos sequiosos, desbravando o nada como se, se nos procurássemos ali, naquele agora…

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 11:06
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Sexta-feira, 11 de Agosto de 2023
VIAGENS . 52

NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO ”ETOSHA PAN”

- "DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3462 – 11.08.2023

- Boligrafando estórias em Okaukuejo do Etosha - Em Ondundozonanandana  -  Foi no ano de 1999

Por himba3.jpgT´Chingange (Otchingandji) – Em Amieiro do M´Puto

div3.jpgDa tenda para o buraco de observação e, um céu carregado de estrelas que nos tremelicavam olhares, de entusiasmo, nem nos apercebemos. Era a tranquilidade da natureza envolta em muitas coisas a serem descobertas. Nos dias que se seguiram, percorremos as picadas assinaladas e, de forma a ver o maior número de animais, que íamos registando num prospecto.

O leão era sempre o mais procurado e, quando alguém os descobria assinalavam-nos aos demais colocando também um pionés (percevejo) no quadro-mapa (placard) da base Okaukuejo. Esta base era em verdade um buraco com água rodeado de disfarçadas bancadas aonde o visitante turista observava em segurança os animais da savana que ali iam beber.

himba7.jpg É em verdade um conjunto de chalés e locais de campismo aonde os visitantes podem andar em segurança pois que está rodeado de duas fiadas de arame farpado e rede com corrente continua para os Big Five (Os quatro grandes animais) e qualquer um outro, que possa atacar o animal homem; É como se o fosse um galinheiro grande no meio de um deserto savana só que, neste caso eram os observadores (nós) que se mantinham encerrados entre as seis da tarde e as seis da manhã.

A adrenalina escorregava-nos a partir dos olhos, atentos a qualquer movimento ou montículo estranho no meio do capim. E, demos as voltas de Namotoni e Alali parando em um e outro para descansarmos, relaxando à sombra fresca das acácias, tomarmos um café ou comer-se qualquer coisa rápida porque, não havia tempo a perder.

etosha1.jpgEsta reserva do “ETOSHA PAN” foi há muitos anos atrás um lago abastecido pelas águas do rio Cunene que aqui as vazavam, trazidas do planalto central da Angola - à semelhança das águas do rio Cubango (Okavango) que desaguam no Delta do Botswana, um lago interior que também iremos visitar por terra e por ar. Por um acidente cósmico, o rio Cunene foi desviado do seu curso para o Oceano Atlântico.

Este antigo lago do Etoscha é agora uma das grandes reservas aonde se podem ver um grande número de espécimes, suplantando a meu ver, a Reserva do “kruguer Park” na África do Sul. Este é o melhor destino para quem quiser ver animais em quantidade e em curto espaço de tempo. É claro que temos o Quénia, N’Goro-Goro, Delta do Okavango, e muitas outras mais pequenas reservas mas, como o Etoscha não há igual.

rundu1.jpeg Tínhamos ainda um longo percurso a percorrer em terras da Namíbia e, o nosso próximo destino era a casa do Mais Velho Miranda Khoisan e da Dona Elisabette (falecida recentemente – em 2023) na margem direita do Okavango no lugar do Shitemo. Sucede que a caminho do Rundu a maioria da tribo T´Chingas que era agora composta de Ricar Manhanga, Isabel Manhanga, Ibib - sobeta, Marco M´fumo Manhanga, todos decidiram variar o azimute ao rumo. Por vontade aplaudida do Soba, todos quiseram ir até às Quedas do Ruacaná em terras de gente Himba

deserto04.jpg Com medo de estragarmos as recordações dum mar de areia fina já passado, movemos todos finas camadas de nostalgia ainda recente, adormecidas na memória fresca, de forma aleatória. Da muita coisa dum cada olhar de duna ondeando a nossa própria sombra como rugas conformadas com o tempo que não pára nunca. Ouvimos também, às vezes, estalidos numa estranha argola, as estrelas do nosso templo (nossa testa) e, a areia escorregando na ampulheta das nossas vidas…

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 08:14
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Quinta-feira, 10 de Agosto de 2023
VIAGENS . 49

NAS FRINCHAS DO TEMPO – UM CACTO CHAMADO XHOBA (HOODIA)

- "DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3459 – 07.08.2023

- Boligrafando estórias em Swakopmund - Em direcção a Ondundozonanandana mais a Norte… Foi no ano de 1999

Porsoba0.jpegT´Chingange (Otchingandji) – Em Amieiro do M´Puto

socie1.jpg Sei que tudo em minha vida resulta de guardar sempre comigo a esperança monandengue, de espiá-la com olhinhos de a ver balouçada no arco de minha sobrancelha. Hoje mesmo, primeira metade de Agosto de 2023, envolto nas visões da Jornada da Juventude Cristã, tive de as cortar, as sobrancelhas – sobressaiam para além e por cima dos óculos cor de tartaruga, cor de pobre, a lembrar o Lenine ou Álvaro Cunhal.

Gente de sabedoria que torceu as ideias dos outros sem antever que cada qual tem o seu próprio faro, sua forma de lançar caganitas como as cabras, kiákiákiá (minha forma de rir com soluços…).  Ouvi o Papa nesses sete dias anteriores e até que gostei das alvissaras junto ao Tejo e Trancão com a ponte Vasco da Gama surgindo na majestade do acontecimento.

swakop1.pngNesta frescura Atlântica via rio, recordo a outra, uma corrente fria chamada de Benguela, que sempre esteve presente em minhas viagens pela áfrica subsariana. Nesse então, a corrente fria, já se fazia sentir há quase quinhentos e cinquenta anos atrás quando por aqui passaram os navegadores portugueses a caminho da Índia das especiarias (isto já foi dito). Ibib já dormia há quatro horas; eram horas de aproveitar ver arredores.

Iremos lanchar no Spur de Swakopmund, ver também o quanto já cresceu esta terra dum nada e como dizem os muitos cartazes, a visita não ficará completa sem uma visita ao famoso Café Anton com seu “coffe and cake” e seus clássicos e deliciosos como Schwartzwalder Kirsahtorte , Florentier e Apfelstrudel, a condizer com estes nomes nada usuais nas nossas dietas feitas com salsaparrilha e  beldroegas

swakop2.pngCom a gimboa na cabeça em pensamento da moamba de chuço ou capota do rust camp iremos a seguir e nas calmas ver nas calmas Walvis Bay, ver a waterfront e regressar pela tarde depois de vermos os voos em asa delta feito em pano de pára-quedas mais os elegantes flamingos nas lagoas que se situam entre Welvis Bay e o aeroporto da cidade.

Podemos assim ver de novo a área da lagoa, com um elevado número de flamingos que ali se juntam alimentando-se de crustáceos que ali se desenvolvem em natural maternidade. Às vários espécimes residentes que ali se abrigam, junta-se um elevado número de aves migrantes do intra-africano e Palearctic, uma das eco regiões constituídas na superfície terrestre a juntar às oito conhecidas da Europa.

Também da Ásia do Norte no sopé dos Himalaia, Norte da África e partes do norte e centro do Península Arábica que estes frequentam em suas respectivas águas tranquilas. De novo, posso aqui fazer-me todas as perguntas sem obter todas as respostas pela simples razão de que, nada pode acontecer sem que o tivesse querido Deus, correndo o risco de escutar outras opiniões que não estas e, na qual nenhuma autoridade tenho para lhes chamar de blasfémias. 

swakop9.jpg Convem de novo recordar que o Kalahari, apesar de ser popularmente conhecido como um deserto, tem uma variedade de ambientes, alguns localizados em áreas verdejantes e tecnicamente não desérticas. Um deles, conhecido como o Succulent Karoo, é o lar de mais de 5 mil espécies de plantas, quase metade delas endémicas; aproximadamente 10% das suculentas de todo o mundo; elas, são encontradas aqui, no Karoo. Li algures que a razão por trás dessa alta produtividade e endemismo pode ser a natureza relativamente estável das chuvas.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 08:48
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Quarta-feira, 9 de Agosto de 2023
VIAGENS . 51

VIAGENS . 51

NAS FRINCHAS DO TEMPO – UM CACTO CHAMADO XHOBA (HOODIA)

- "DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3461 – 09.08.2023

- Boligrafando estórias em Swakopmund e Cape Cross - Em direcção a Ondundozonanandana mais a Norte… Foi no ano de 1999

Por cross1.jpgT´Chingange (Otchingandji) – Em Amieiro do M´Puto

cross2.jpgE, foi aqui neste fim de mundo paradisíaco de Swakopmund, mais exactamente no Café Anton da cidade de Swakopmund, que vim encontrar-me com o amigo ET – Eduardo Torres que para aqui veio trabalhar depois da saída de Angola no ano de 1975; ele, um Angolano de terceira geração que muito desenhou na obra do Cristo Rei do Lubango. Era importante que o encontro fosse aqui neste café, tantas vezes ponto de partida para expedições desbravadoras desta terra do nada em língua Ovambo.

O espaço do Café é muito agradável e bem decorado, acolhedor e com uma equipa de excelência. Nosso encontro era mesmo para tomarmos o café com acompanhamento de bolinhos e biscoitos que são ali uma iguaria diferente. É um ponto quase obrigatório para quem visita Swakopmund, para quem tem a intenção de chegar a algum lugar pois que, desde tempos idos, aqui se juntam as comitivas de desbravamento dum continente mal conhecido.

swakop02.jpgO poeta ET foi prestável em suas indicações e tirei até apontamentos para o que desse, e viesse, locais, nomes, telefones e pontos de interesse. Acho sim Eduardo Torres, um santo de pau carunchoso, com salalé, muito bondoso, amigo do amigo e poeta que exprime toda a sua majestade; calmo no falar, no comer, no caminhar, parecendo até ser tudo premeditadamente calculado para não dizer o que pensa, mas não diz – simplesmente quis esquecer partes de seu passado; também de sua casa que ficou para um general governamental…

Com ele atravesso em pensamento estes desertos que se estendem muito para lá do horizonte e, aonde parece nada acontecer. Afinal, escreve, escreve figas onduladamente poéticas como todos os poetas, rimando “bonitos nadas” – um nadista retintamente genuíno. Ele, é o top do Nadismo… Lendo-o sempre fica a sensação de que nem o pai morre, nem a gente almoça.

edu001.jpg Mas ET, é de uma leitura supimpa em que quase sempre o amor rima com tambor. Ele e eu, do nosso jeito, amamos aquela excentricidade de Swakop. Ambos gostamos do café e, vai daí um chau-chau que se faz tarde - Mas ainda houve tempo para se ficar a saber, depois de tantos anos que ele nunca se deu conta de que os negros eram pretos; de que seus progenitores já o eram também e, nem se deu conta que estes sempre têm demasiada família, demasiados filhos, tios, tias, irmãs e avós. E, que se ele fosse preto, não sairia de sua casa, de sua terra, de sua pátria! Nem o Cristo Rei do Lubango a quem tanto se dedicou, lhe valeu (isto, sou eu a dizer)

Por bondade intrínseca nunca referiu que estes, os pretos faltavam ao trabalho todas as segundas feiras porque sempre havia o óbito duma avó, dum primo ou tio; uma família que nunca acabava. Esta é uma mokanda especial referente à terra do NADA cuja capital fica em Swakopmund, lugar aonde o coração do EDU, se prendeu nas ondulações das miragens do Naukluft.

café da avó1.jpgLembrei-me então de contar a ET a estória daquele velho senhor em Luanda: Um senhor fardado com um pijama às riscas, sentado num sofá de orelhas olhando para o infinito, babando-se pelo canto esquerdo descaído, insensível ao cérebro abanado por uma trombose. Com a lentidão das coisas graves e titubeadas com muxoxos – Hum, pois, não sabe; a kalashnikov, os turras, a febre do poder… E, eram bolas de trapos, meias surripiadas do pai a cheirar a sulfato de peúga! Mas, o que é que tem a ver o cú com as calças? Estão a ver o filme!?

café anton1.jpg E, tu ET, indiferente ao caruncho, que escreves poemas como quem cospe flocos de aveia a um periquito que já deu às de vila diogo, que deu o fora da gaiola. Uma coisa desconcertante sobre tuas vividas vivências. Gosto de ti assim bonitinho que nem um Santo Eduardo, assim saltitante no Naukluft por via de refrescar as glândulas lacrimais, pérolas de maldizer que são o fruto da muita encardida amizade, feitas para reactivar as antigas feituras de escarnio e maldizer à tua tão engenhoso maneira de suprires ou suprimires o tempo das verdades…

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 08:58
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Terça-feira, 8 de Agosto de 2023
VIAGENS . 50

NAS FRINCHAS DO TEMPO – UM CACTO CHAMADO XHOBA (HOODIA)

- "DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3460 – 08.08.2023

- Boligrafando estórias em Swakopmund e Cape Cross - Em direcção a Ondundozonanandana mais a Norte… Foi no ano de 1999

Por gettyimages-1162778255-612x612.jpgT´Chingange (Otchingandji) – Em Amieiro do M´Puto

gettyimages-97389630-612x612.jpg Viver assim num perfeito NADISMO titubeando versos amarelados ou mesmo cobertos de pó, envolto assim num mukifo de aposentos forrados com ele e, como se o fossem azulejos enquadrados na estória duma estação de caminho-de-ferro do M´Puto desactivada – Um NADA numa estação aonde já não passam comboios, faz muitos anos. Nestas viagens pensa-se e fala-se em coisas longínquas como que para preencher o espaço-tempo.

Naquela estrada de terra batida com sal, dura, do nada, verificamos haver muitas gaivotas voando; elas subiam e desciam bruscamente até esta estrada dura de sal escurecido. Achamos que havia qualquer coisa de diferente em essas manobras de voo e, observando mais atentamente podemos ver a elas, as gaivotas, deixarem cair qualquer coisa de seus bicos e, em seguida em voo picado descerem também acompanhando o pedaço de coisa.

gettyimages-94975018-612x612.jpg Em realidade havia manchas no piso com umas cascas destroçadas. Vai daí paramos para ver o que era aquilo e eis que deparamos com dezenas de manchas húmidas que afinal, eram caracóis do mar com uma ou outra ostra. Aí estava nossa incógnita, um mistério. Eram gaivotas lançando bem do alto aqueles pequenos animais para assim se desfazerem no choque em contacto com o piso da estrada C34, quase na milha 72 do Dorob National park. Mistério bem interessante.

Assinalamos o rumo de sua procedência e metemos por uma picada de piso seguro até chegar ao mar. Deparamos logo com muitas algas lançadas ao mar com a maré e, tendo nelas esses caracóis com mais de cinco centímetros. Iam e vinham com a ondulação. Aquilo era um pitéu grátis e, assim foi: apanhamos o quanto podemos desses burriés gigantes para mais tarde cozinharmos no Dolfim Park.

gettyimages-520307596-612x612.jpg Andávamos a medo pois que vimos bastantes marcas de bichos que o deveriam ser de chacais mas, a imaginação galgava para outras bestas como a hiena e o leopardo. Até confrontamos as pegadas com um livro que levávamos mas, nada o foi em definitiva certeza. Claro que ficamos vigilantes perante aquela vastidão e aonde as miragens era permanentes, cansando literalmente os olhos pois que até víamos nas dunas em terra, lagos de água bem azulinha; coisa nunca vista – muitas miragens…

E, afinal aonde nos encontrávamos. Bem! Estávamos já além da milha 72, perto de Cape Cross. Chegos ali, espanto - podemos ver milhares de focas, umas com crias outras cuidando delas lançando uivos guturais em tons variados. Guinchando suas forças. Uns chacais que espreitavam o descuido das mães focas para atacarem suas crias – algumas de nascimento recente. Vimos este acontecimento na mais tranquila função e, a mãe, correndo desajeitadamente para a tentar salvar, não o conseguiu…

gettyimages-521401248-612x612.jpg O mais destacável, depois das miragens, depois dos medos, era o cheiro forte que já se sentia a um quilómetro deste promontório. Promontório muito farto de pedras roliças, grandes – penedos! Penedos em que, os corpos destes animais se confundiam com elas, as rochas escurecidas. O cheio era um misto de peixe apodrecido com gordura de sebo exalado de seus corpos.

swakop16.jpg É essa gordura que as protege do frio e lhe dão melhor agilidade para deslizar na água, fugir a tubarões e baleias que por aqui, as visitam com regularidade. Passados tantos anos, ainda posso sentir aquele cheiro. Mais à frente e já na via D 2301, podemos ver os esqueletos de barcos e peixes de grande porte – Talvez baleias. Entre o macabro e o belo, a Costa dos Esqueletos é o nome também conhecido como "As Portas do Inferno", repleta de ossos de baleias e até gente pirata que deram à costa…

– Lugar assombroso…

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 17:19
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Domingo, 6 de Agosto de 2023
VIAGENS . 48

NAS FRINCHAS DO TEMPO – UM CACTO CHAMADO XHOBA (HOODIA)

- "DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3458 – 06.08.2023

- Boligrafando estórias entre Welvis Bay e Swakopmund - Em direcção a Ondundozonanandana mais a Norte… Foi no ano de 1999

Por:swakop20.jpgT´Chingange (Otchingandji) – Em Amieiro do M´Puto

swakop19.JPGO vento sopra forte do lado de Dorop National Park trazendo areias por quilómetros e eu, galgava-os com receio de haver ali um furo de pneu, o carro teimava em desviar-se para a esquerda mas, em realidade era a força do vento quente que me forçava a preocupação – As nossas palavras são como sombras que nunca podem explicar por inteiro a luz de medos ou ansiedades que sempre transportamos connosco.

Nunca isentos de culpas e formulando nossos destinos, assim o deixávamos derramado, nosso ADN, na mistura do vento, do pó e quenturas com adrenalina; culpados de muitos nenhures ou pequenas coisas, assim formando grandes castelos. E, íamos sim, soprado vida na terra do nada na direcção de Walvis Bay, o principal balneário da Namíbia e um dos mais bem preservados exemplos da arquitectura colonial alemã no mundo.

Walvis Bay, foi fundada em 1892 como sendo o principal porto do Sudoeste Africano Alemão; um dos poucos lugares da África onde uma minoria considerável da população fala alemão e tem raízes germânicas. Fica no trajecto da Rodovia B2 e da Rede Ferroviária Transnamibiana, que vai Windhoek e a Walvis Bay. Tem seu próprio aeroporto e prédios notáveis, bonitos, um espanto no meio duma vastidão de areia.

swakop18.jpg Neste descobrir de novas coisas ficamos num aprazível mas modesto conjunto de bungalows situado junto ao mar e margem dum rio de areia, mulola de nome Swakop, o que deu origem a este nome à cidade tipicamente alemã aonde morou o ET, um amigo extraterrestre de nome Eduardo Torres. E, assim atirando palavras desprendidas, recordamos terras com vazios aonde a verdade e a mentira passam pela mesma boca como rastos de picada que viram lendas.

Aqui e ali no meio da secura do Karoo íamos pendurando como tufos de teias nas espinheiras do tempo nossos medos e angústias e coisas do mundo sem saber se tudo era o que parecia ser. Diz-se de que, quem quer falar de assuntos sigilosos vai para o deserto mas, nós, não arriscávamos limpar o lacre dos actos e pensamentos porque já tinhamos o coração endurecido na vulgaridade vivida.

swakop17.jpg Um pouco antes de chegar a Welvis Bay deparamos com lagoas repletas de flamingos – o Bird Sanctuary na estrada M36. O Naukluft e Sossusvlei com suas dunas mágicas foram ficando distantes, mais a Sul. Uma volta rápida a Welvis Bay, umas compras indispensáveis para curtirmos sobrevivência na noite que se aproximava e já a caminho de Swakopmund, assentamos arraial no Dolfim Park – um conjunto de chalés, bem confortáveis.

Da varanda deste chalé podíamos admirar a imensidão do Oceano Atlântico vindo saudar-nos com bátegas chapadas nas rochas – um recife que se estendia ao longo da costa, um cheio intenso a mar – um lugar bem aprazível aonde ficamos duas noites.

swakop13.jpg Esta frescura do Atlântico é devido à corrente fria de Benguela que já se fazia sentir há quase quinhentos e cinquenta anos atrás quando por aqui passaram os navegadores portugueses a caminho da Índia das especiarias. Por ordem do rei D. João II, Diogo Cão passou por aqui deixando padrões como o de Cape Cross, construído lá pelo ano de 1482 e, que fica a uns escassos 130 quilómetros mais a norte de onde agora nos encontramos…

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 11:17
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Sábado, 5 de Agosto de 2023
VIAGENS . 47

NAS FRINCHAS DO TEMPO – UM CACTO CHAMADO XHOBA  (HOODIA)

- "DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3457 – 05.08.2023

- Boligrafando estórias em Sossusvlei - Em direcção a Ondundozonanandana mais a Norte… Foi no ano de 1999

Por busq9.jpgT´Chingange (Otchingandji) – Em Amieiro do M´Puto

etosha2.jpg Naquele momento, aquilo era o céu. Envoltos em azul vivo, escorregávamo-nos no vermelho longínquo tremelicando a cércea no horizonte das terras altas, o amarelo ouro das dunas e o preto das sombras, cada um de nós se sentia "um senhor do mundo". Sossusvlei ficou para sempre gravado na nossa memória.

Para trás (dias antes), ficava aquele pedaço de coisa caído do céu, uma bola de fogo rija como o titânio; um tal de Meteorit caído no meio do nada, como que uma pequena recepção feito bolo num imenso Calahári e aquele funil vulcão chamado de Brukkaros com cactos feitos árvores em paisagem lunar…

koisan10.jpg Na Namíbia a distância não se mede em quilómetros, mas em tempo e, percorrer todas aquelas distâncias é como completar uma missão impossível. Após pagarmos uns poucos "randes" a um homem fardado, entramos no tal lugar no meio de uma descampada savana de tufos secos de capim, chinguiços com picos medonhos. Lá estava aquela coisa pegada ao chão com 60 toneladas, uma liga de fusão vinda do Universo, dum infinito lugar.

Meteorit era o nome indicado com a referência de Hoba West, não muito longe de Grootfontein (em África tudo fica perto, é ali mesmo patrão, mwadié). Por falta de rede tenho de recordar agora, aqueles dias atrás… Toquei aquele titânio rijo e frio, embasbacado sentei-me observando-o por algum tempo. Sentado na duna recordava os anteriores dias anoitecidos num universo de estrelas – ali a noite cai rápido.

na

nauk13.jpgPosso imaginar quantos fotógrafos desejariam estar ali no Sossusvlei sem ninguém à volta por dezenas de quilómetros, sem qualquer ruído e acompanhados apenas pelo último raio de sol, pelas primeiras estrelas no céu imaculado da Namíbia e, o brinde no topo deste cenário, numa noite de lua cheia…

Entretanto a rede via telefone chegou; o telelé dava sinais de vida. Fui assim ao computador ocupar o tempo, li poemas, reli baladas e muitas tretas de fazer caretas; ouvi cantigas, li desaforos, coisas choradas, lamuriadas do M´Puto, cânticos gospel humedecidos, vídeos foleiros, alguns brejeiros e fui à China comer baratas, grilos e gafanhotos. E, eis que num dado momento o écran do maldito computer surge a perguntar-me se este senhor “sou eu”? Estou feito ao bife – de novo! Mas, aquele era sim, o respectivo e, a um sim tudo se normalizou…

bruno28.jpg De novo, juntei umas madeiras; preparei a carne e as argolas de borrabôs, aquele chouriço bóher, ali bem junto às lareiras que existem para esse efeito. Dispus a carne e as argolas de elevado teor de gordura e o cheiro despertou a fome no clã T´Chingange. Com tudo já torriscado no brai, passa-se para uma improvisada tampa a servir de bandeja e, cada qual se serve com uma papa de milho típica daqui - o milhipap…

No calor do tempo queimo cansaços, fracassos vazios, decepções e até solidões, com Windhoek Premium Lager (cerveja namibiana)! Obrigado a mim, a ti e a tu também (o ti é um, o tu é um outro)… Estou feito ao mataco de afundear em sofás e, lá tenho de o conservar com sal e vinagre na forma enrolada numa espiral contínua porque tudo quanto acontece, é na terra que sucede, num céu eterno e pacífico cumprindo-se na ordem natural aonde quer que estejamos…

(Continua...)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 08:21
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Sexta-feira, 4 de Agosto de 2023
VIAGENS . 46

NAS FRINCHAS DO TEMPO – UM CACTO CHAMADO XHOBA  (HOODIA)

- "DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3456 – 04.08.2023

- Boligrafando estórias em Sossusvlei - Em direcção a Ondundozonanandana a Norte… Foi no ano de 1999

Poretosha6.jpgT´Chingange (Otchingandji) – Em Amieiro do M´Puto

etosha4.jpg As noites neste deserto de Naukluft – Sossusvlei, aliás, como em todos outros, ficam frescas assim que o sol desaparece no horizonte. Aqueles montes enormes de areia deixam em nós a sensação estranha do quanto somos pequenos. Tivemos de preencher uns papéis para recebermos autorização de entrar no parque dos diamantes. Não nos era permitido afastar-nos do trilho com outras recomendações a cumprir. Iriamos sair ainda de noite para chegarmos ao nascer do dia á Duna da Milha nº 45.

Recordar que NAMIBIA, em dialecto Ovambo significa terra do nada. Foi aqui que vi as melhores paisagens nas minhas viagens por África. Pois assim, saindo de Luderitz atravessei com o clã T´Chingange todo o Naukluft Park para chegar às grandes dunas do Sossusvlei, aonde me encontro. Bolas! Outra vez! Nesta viagem deve haver um anjo da guarda que me persegue mas, em qualquer momento falha sua visão e entro nos cadafalsos da penumbra do telefone e outros edecéteras.

aug14.jpg Estou assim a pensar como irei restituir-me em outro António mudando o Lopes para Costa ou vice-versa – Pópilas... Lá terei de largar isto e fazer meu brai com o boerewors com carne de bovino e especiarias, sementes de coentro torradas, pimenta preta, noz-moscada e cravinho. Depois disto veio um vazio, estavam a estudar meu problema pois que mandaram o código de seis números para um telefone que nem era meu embora tivesse o mesmo nome. Creio que era um bafana muzungu destas lonjuras e eu, esperei dois dias soprando ventanias.

Acampamos em duas tendas e, em um espaço próprio no início da zona interdita; activamos uma fogueira comunitária e deliciamos o ouvido com os sons da noite. Saímos ainda noite em comboio de carros, jeeps 4*4 e, turismos como o nosso, um Toyota 1600. A claridade do lusco-fusco ia surgindo e, apanhamos o nascer do sol a meio da subida nessa duna da milha quarenta e cinco.

aug16.jpg Em fila indiana gente de muitas latitudes, falando línguas diferentes estavam ali, tal como nós para saborear a natureza em toda a sua plenitude. O sol com o seu disco grande e amarelo ia subindo no horizonte do lado esquerdo; uns mundos de sombras movíveis rodeavam-nos como coisa galáctica; o amarelo e alaranjado das dunas contrastava com o preto carregado das sombras.

As figuras sinuosas das dunas a mudarem muito lentamente, a todo o instante por efeito do vento - algo nunca antes visto e em um palco de grande espaço, aonde também parecia nos movermos como numa ilusão sem infinito. Naquele dia casei com Sossusvlei; a fina cortina de areia desprendida pelo vento mais parecia uma seda ondulante de noiva roçando o meu rosto, os meus olhos, a minha boca.

swakop04.jpgBeijei a areia feita um véu, como se fora um deus menor e os sinos das cigarras disseminadas em esqueletos de árvores perpetuaram para sempre ao meu ouvido aquele som. Ali era um bom sítio para entregar a alma ao criador. Foi sem dúvida a mais bonita catedral que já visitei. Se por ventura viver 333 anos, quero lá voltar na segunda metade do meu percurso. Ali, o feitiço tem mais encanto, coisas que não se apagam da retina.

É esta, uma das imagens que afagamos nos dias de indulgência, nos dias de amarguras involuntárias, nos dias impregnados de incontidas revoltas. Valeu a pena subir aquele morro de areia ondulante – figuras sobre milhões de grãos de areia ora amarela ora amarelada ou avermelhada; levou talvez uma hora a chegar ao topo, dois pés para a frente deslizando um e meio para trás.

(Continua...)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 14:57
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Quinta-feira, 3 de Agosto de 2023
VIAGENS . 45

NAS FRINCHAS DO TEMPO – UM CACTO CHAMADO XHOBA  (HOODIA)

- "DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3455 – 03.08.2023

- Boligrafando estórias em Hardap Game Park. – Em direcção a Ondundozonanandana a Norte…

Foi no ano de 1999

Porsoba40.jpgT´Chingange (Otchingandji) – Em Amieiro do M´Puto

nauk16.jpg A árvore quiver - O Aloidendron dichotomum popularmente conhecido como aloé-aljava ou simplesmente de quiver, é uma espécie de aloé arborescente da família Xanthorrhoeaceae. Está presente na natureza numa restrita área árida, que vai do noroeste da África do Sul até o centro-sul da Namíbia, revelando-se uma espécie muito resistente à seca e às variações climáticas, podendo acomodar-se em terrenos rochosos e secos e chegar à idade com mais de quatrocentos anos.

A quiver, pode atingir os nove metros de altura e seis de envergadura, crescendo num tronco único, produzindo folhas longas de vinte a trinta centímetros, carnudas e espinhosas nas bordas. Floresce no inverno, apresentando vistosas flores amarelas que podem ser ingeridas, tendo um gosto que se assemelha ao espargo. O tronco é revestido por uma película branca que ajuda a repelir os raios solares, formando pequenas escamas afiadas e cortantes.

nauk14.jpg Os pássaros tecelões aproveitam-se deste facto para nidificarem em seus ramos, ficando assim, ao abrigo de predadores. Quando não conduzo ou visito algo, esmiúço o viver da sociedade hodierna no tempo, para saber da verdadeira razão dos paradoxos entre um e outro tempo na mente das gentes, uns com fúteis caprichos duma vida cheia de multiplicidade bacoca e, muitos outros que só se limitam a ver os demais, criticando-os…

E, a vida que passa rápida fica muito preenchida de eventos efémeros em que gastam o que não tem em felicidade de cacaracá; Sim! Neste mato de capim tombado pelo vento, tiro daqui e dali umas fotos com uma Canon A1 já com saudades de avizinhar o futuro que cá por mim que rezo cristão, católico e apostólico, só fico no rascunho apócrifo na certeza da incerteza. Que sim, que não! Porque tudo fica difícil com as pessoas desigualando-se por mero capricho ou moda…

aug7.jpgE, porque estou aqui por querer, averiguo o saber na deriva dos vocábulos bohere e wors, oriundos do africânder que significam respectivamente "agricultor" e "salsicha". Vi-me na foto do meu android e fiz-me gaifonas vendo as rugas enquadradas num diferente tempo, redondo e elástico, nem sempre alegre, nem sempre triste. Caramba, talvez aquele chá tenha posto umas três gotas de canábis (comprado na farmácia do M´puto) para encurtar pesadelos e restituir-me a lucides.

Enfim, tenho tido essa preocupação: de me equilibrar em meu esqueleto, mantendo-o ligado aos espirito. Entretanto e já no escuro da noite preparo um caldo verde para dar consolo ao apetite fora de portas, na varanda do chalé do Hardap Game Park, ouvindo os barulhos de fora, chiados dos macacos, os choros das hienas e muitos outros indefinidos gunchos intercalados que, creio serem de girafas.

spring1.jpgAqui, de noite todo o bicho canta para chamar a fêmea ou o macho, para saber a que distância por matemática ressonante ou, está dum qualquer abismo dando indicações a outros. Irei experimentar adicionar ao caldo verde o boerewors, aquela supra dita salsicha fresca tradicional bóher, em substituição do chouriço do M´Puto.

Ontem comi frango frito esfarelado com arroz integral e aquecido no forno e, para variar, gelado regado com amarula no final – o melhor licor do mundo. Comi biltong de kudu, de boi, ou olongo, e bebi suco de goiaba e massala de Moçambique – faltou-me o kimbombo de massambala, uma bolunga agradável que um moçambicano me ofertou no lugar de Benoni, (arredores de Johannesburg) há dias atrás

nauk3.jpg Percorro os dias assim, um caminho com gente chegando e partindo dizendo good morning só mesmo assim, sem muito mais dizer, sem muito mais saber; missangas de vida com malas atafulhadas de coisas: coisas que podem ser úteis tais como: o canivete Mike Giver, a lanterna no meio das cuecas para não quebrar, os cremes de amaciar a flôr-do-congo mais o pincel de amaciar as carunchosas unhas … E, assim lá no cú de Judas, eis que num dado momento o écran do maldito computer surge a pergunta de se; se este senhor “era eu”? Estou feito ao bife – de novo! Lá terei de dizer que não sou um robô e confirmar uns arabescos apócrifos. Amanhã vou tentar subir a duna da Milha 45, chau – mungweno!

(Continua...)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 13:07
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Quarta-feira, 2 de Agosto de 2023
VIAGENS . 44

NAS FRINCHAS DO TEMPO – UM CACTO CHAMADO XHOBA  (HOODIA)

- "DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3454 – 02.08.2023

- Boligrafando estórias em Brukkaros e Hardap Game Park. – Em direcção a Ondundozonanandana mais a Norte… Foi no ano de 1999

Por Brukkaros1.jpg T´Chingange (Otchingandji) – Em Amieiro do M´Puto

brukkaros01.jpg Já que ficava em caminho fizemos um desvio para ver um vulcão extinto que o mapa indicava com o nome de Brukkaros. Devido à ausência de água potável e ao difícil acesso rodoviário, houve um certo receio em ir àquela montanha que se avistava de longe naquelas infindáveis rectas mas, aventurámo-nos; a viagem à Montanha do Vulcão Brukkaros também é difícil por ser demasiado pedregoso. Qualquer avaria, forçar-nos-ia a regressarmos a pé pois que ali não havia telefones e, os celulares ainda nem existiam; bola para a frente e, vamos ver no que dá.

A montanha é um grande vulcão extinto, um cone vulcânico com um diâmetro de cerca de 4 km2 tendo sido formado por uma explosão quando o magma ascendente encontrou as águas subterrâneas e as superaqueceu. É formado por uma pequena brecha castanha, acentuadamente avermelhada com leito indistinto e, composta por rochas fragmentadas que foram ejectadas daquela chaminé vulcânica de há cerca de 80 milhões de anos.

brukkaros02.jpg Eu, Ricar, Marco e Tilinha, tivemos de alcançar o topo do anel na forma de montanha, uns quinhentos metros verdadeiramente escalados até bufar todas as asneiras conhecidas mas, com dificuldade lá chegámos. A cavidade é drenada por um riacho que corre para o sul através da montanha circular até um vale estreito – quando chove. À sua cabeceira encontra-se uma cascata seca sobre a qual o ribeiro desce cerca de 45 metros.

Isto só imaginado pois só o é coisa real após a chuva, acredito que sim, sendo o leito do rio imediatamente abaixo da cascata a principal fonte de água (água que não vimos) mas, notou-se um brilho de humidade sim! E, porque avistamos macacos deduzimos que ali, haverá água; só que não descemos. Já chegava a loucura de subir até quase ao céu para vermos penedias pintadas a ferrugem e umas soltas árvores a que chamam de Quiver´s que crescem ao longo da base da cratera na forma circular tipo funil invetido.

café anton1.jpg Já refastelados nas instalações da barragem Dam Hardap Game fico atento á chaleira que fumega por cima do fogão eléctrico. O sol entra pela janela da kitchenette que liga à sala aonde estou sentado, melhor, afundado numa poltrona cuja tábua deve ter fundeado no acostamento de matacos de um quilómetro quadrado. Aqui há muita gente gorda e o melhor mesmo é nem repararmos porque, senão os contratempos surgem de soslaio vindos dum desconhecido lugar cheio de biltong, boerewors e coldrinks de coca-cola…

Os vapores do meu chá trazido do M´Puto serpenteiam até ao tecto de pinho em desenhos enrolados e fazendo uma cortina com raios digitalizados. Trata-se de uma velha cura legada pelo meu tio avó de nome Guerra, um composto de barbas de milho, pés de cereja, ipê-roxo, também conhecido como pau de arco e rooibos indígena. Curiosamente, a osga gorda instalada no canto do tecto lambuza-se de contentamento pois que é suposto os mosquitos aparecerem para se banharem no vapor quente, que ali se concentra.

aug9.jpg Num espaço etéreo de virtual roxismo, o fumo enlaça visões de índios sioux, astecas ou apaches. O termo roxismo derivada de Roxo, o nome de uma senhora que pinta seus sonhos no computador metendo as pestanas em escandaloso verde e fazendo de óculos com adjacências estapafúrdicas, com madeixas de cabelo ruivos como se todos fossemos assim, vindos duma galáxia distante muito cheia de bolinhas translucidas e, numa forma espantada de arco-íris a condizer exataqualmente com a ideia de que efectivamente, somos uma ilusão.

Hoje mesmo, vou-me ensinando a ser gente tomando aqui e acolá, por onde calha, o saber dos mais sábios para ficar esperto. Nem sempre homem, nem sempre jovem, já mais velho, nos intervalos, aprendo a aprender a ser grande graças a esta aguda perspectiva de também ver e ler as coisas da frente para trás e tal como o camaleão, ter um olho aqui e outro mais longe para poder fazer selfies de mim mesmo (isto é só imaginação futura porque, a selfie surgiu anos depois…), bem ao jeito de Picasso. Lá fora as árvores têm formas de cactos pré-estóricos, aloe dichotoma (as tais Quiver´s)…

(Continua...)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 10:02
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Terça-feira, 1 de Agosto de 2023
VIAGENS . 43

NAS FRINCHAS DO TEMPO – UM CACTO CHAMADO XHOBA  (HOODIA)

- "DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3453 – 01.08.2023

- Boligrafando estórias em Krabbehoft Guesthouse and Catering. Estávamos ainda em LUDERITZ Foi no ano de 1999

Por luderitz13.jpgT´Chingange (Otchingandji) – Em Amieiro do M´Puto

etosha5.jpg Necessitando de renovar minha paz por mais uns dias em país que não o meu, insurgia-me contra essa maçada de pagar expedientes ou emolumentos numa terra com padrões de meus ancestrais situados um pouco mais a Sul e no lugar de Elizabeth Bay. Foi quando vimos as duas hienas esgueirar-se na esquina salitrosa dum prédio roído pela maresia.

Chafurdavam em um conjunto de bidons fazendo de contentores com restos de comida, sobras do pasto de gentes, pasteis roídos de fartura com natas de engordar há mistura com salitrosos guardanapos empapados de óleo e espinhas de pescada. Neste encanto de desespero entre o mar e o deserto, rendilhamos nossos sonhos com muitas pedras roliças, daquelas que já andaram e desandaram milhares de vezes a recordar que somos uns nada comandados por mistérios…

Mesmo que rumine uma harmonia que me favoreça a dormir embalado pela mão de Deus, esta paz fica-me cara porque, aqui na terra, os homens pagam-se bem pelos expedientes. Regressando à teoria do pessimismo, terei de concordar que é certo o que se diz de que o que tiver que acontecer, acontece, e neste caso aproveitarei rever um oceano de quilómetros de acácias - longe do mar, desertos e bichos na firme vontade de não ser extorquido como um qualquer turista para ver pedras e ou atravessar uma curta ponte construída pelos colonos e ter de pagar pedágio, portagem ou sacanagem de coisas descolonizadas (roubadas).

busq4.jpg Assim de como quem vai ao mercado das calamidades, feira da ladra para compra nossas coisas desviadas no furto, capiango da necessidade. Um escambau - Em áfrica, tudo é possível, tudo é da TIA - That Is África. Coabitando com este gozo de incertezas, preencho a inspiração sem doçura, um veludo negro cuspilhando-me num desconsolo na alma.

Mas, como “há males que vêem por bem” acoitei minha curiosidade em ver cavalos selvagens por esta grande área aonde as areias foram tomando conta das casas – cavalos que relincham em alemão porque foram eles que os deixaram por aqui; porque o eram em tempos, cavalgaduras deles, até que um dia em que os diamantes de sonho deixaram de aparecer a brilhar, Também a Guerra Grande que chegou até aqui destroçou vidas com brilhos cintilantes como as estrelas do céu que aqui, de noite, são aos triliões. 

aug8.jpg Sem me assustar com a calma tremeluzente que carrego, trotarei como aqueles cavalos a sobreviver alvoroços e daqui, segui, seguimos para Windhoek feito um naco grande de sabão p´ra macaco com almofadinhas de chita branca, carteira com dólares verdes numa forma de amaciar minha rigidez branca. Em terras de gente que, só parecem querer meu kumbú, irei rever meu Rundu, meus amigos fujões do outro lado chamado de Calai de Angola no Okavango.

Ver um rio de maravilha que desagua numa lagoa grande chamada de Delta. Outra corrida - Outra viagem! A vida é assim mesmo, como um carrossel. Recordar a estória do final do ano de 1975 de, quando um General de Pretória num dia intercalado das guerras independentistas, chega um indivíduo sem nome a Grootfontein; Este senhor levando um visto de trabalho em nome de João Miranda saído às pressas de Angola.

luderitz26.jpg Do General que viu em João Miranda, o Tuga do Dírico, com o perfil certo para ser integrado no Batalhão Búfalo por falar a língua dos estalidos, bosquímanos, os Khoisans. Da companhia Búfalo que estava a ser organizada para intervir em Angola contrariando as investidas comunistas. Foi lá no Hotel Safari que me instalei em diferentes fases da independência de Angola. Lugar por onde irei passar de novo, rever o amigo Pimenta se ainda for vivo, enfim, lugar aonde pela primeira vez comi ostras no gelo e gelado dom pedro com Marula…

(Continua...)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 11:28
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Temos um Hino, uma Bandeira, uma moeda, temos constituição, temos nobres e plebeus, um soba, um cipaio-mor, um kimbanda e um comendador. Somos uma Instituição independente. As nossas fronteiras são a Globália. Procuramos alcançar as terras do nunca um conjunto de pessoas pertencentes a um reino de fantasia procurando corrrigir realidades do mundo que os rodeia. Neste reino de Manikongo há uma torre. È nesta torre do Zombo que arquivamos os sonhos e aspirações. Neste reino todos são distintos e distinguidos. Todos dão vivas á vida como verdadeiros escuteiros pois, todos se escutam. Se N´Zambi quiser vamos viver 333 anos. O Soba T'chingange
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