Sexta-feira, 6 de Setembro de 2024
BOOKTIQUE DO LIVRO . XL

A ORDEM MUNDIAL  VII“Contradições do Império”

FRIVOLIDADES CONTEMPORÂNEAS

- Escritos boligrafados na desordem actual - Crónica 3622 - 06.09.2024

Por: T´Chingange (Otchingandji) - O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto

boia2.jpg EXPANSÃO DA AMÉRICA - A Compra da Louisiana, concluída em 1803, foi negociada por Robert Livingston, durante a presidência de Thomas Jefferson, o território foi adquirido da França por US $ 15.000.000. Uma pequena parte deste território foi cedida ao Reino Unido em 1818 em troca da Bacia do Rio Vermelho.

Mais desta área foi cedida à Espanha em 1819 com a compra da Florida, mas depois foi readquirida pela anexação do Texas e a Cessação Mexicana. Para terminar haverá a tecer duas importantes considerações a levar em conta: Fé e política, não se impõe nem se prescrevem porque mesmo recomendadas, ter-se-á em conta que ninguém que esteja privado de as possuir representará a verdade. É isto a democracia!...

booktique31.jpgA 30 de Abril de 1803 mais de 1300 quilómetros quadrados, duas vezes maior do que a França, passa ao controle dos Estados Unidos. Napoleão Bonaparte vendeu por 15 milhões de dó lares esse vasto território da Louisiana. Este vasto território inclui os estados actuais de Louisiana, Arkansas, Oklahoma, Missouri, Kansas, Iowa, Nebrasca, Dakota do Sul, Wyoming e Minesota.

Os Estados Unidos com Thomas Jefferson, dobrou a extinção do país sem queimar uma só libra de pólvora. Um ano depois daquela compra a Napoleão, num Maio de 1804 no rio Wood, os Capitães William Clark e Lewis, com mais de trinta homens formando o “Corps of Discovery“ desbravam o Noroeste alcançando o grande Oceano Pacífico em Janeiro de 1806.

Desta expedição resultou a anexação dos estados de Oregon e Idaho por conversações com os índios em troca de bugigangas e promessas. Os estados de Washington e Montana foram-lhes cedidos por seus primos Canadianos, tudo acordado com a Grã-Bretanha pais colonizador; um começo grandioso…

booktique34.jpgA expansão gringa com o tal “sonho Americano” vem desde 1806 quando Aarom Burr à revelia de Thomas Jefferson queria conquistar o México. Burr, o homem que queria ser rei pois, “ele tinha um sonho” recrutou uma numerosa milícia em Ohio mas foi barrado em seus intentos pelas forças da União a mando de Jefferson que não desejava nesse então problemas com as guarnições Espanholas da Nova Espanha.

Aquela ambição de Aaron Burr, veio a ser concretizada em 1844 que, a pretexto de proteger o Texas de Pancho Villa, num aberto repúdio ao decreto do General Santa Ana do México, que abolia a escravidão em terras mexicanas, o invade. Assim, os EUA são um país com 50 estados que cobrem uma vasta faixa da América do Norte, com o Alasca ao noroeste e o Havaí no Oceano Pacífico, estendendo a presença do país.

booktique35.jpg As principais cidades da costa atlântica são Nova York, um centro financeiro e cultural global, e a capital, Washington, DC. Chicago, uma metrópole do centro-oeste, que é conhecida por sua importante arquitectura, enquanto Los Angeles, na costa oeste, é famosa pelas produções cinematográficas de Hollywood

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Nota*: Com alguns extractos do livro “A Ordem Mundial” de Henry Kissinger e consulta em Wikipédia…

Bibliografia consultada: América - A história e as contradições do império por Voltaire Shillings  e na Google

(Continua, com intercaladas Viagens …)

O Soba T'Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 21:57
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Segunda-feira, 2 de Setembro de 2024
VIAGENS . 204

NAS FRINCHAS DO TEMPO

DOS TEMPOS DE DIPANDA* . ELEIÇOES - “OS 3 DIAS DAS BRUXAS”

- Crónica 3621 – 02.09.2024

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto

araujo176.jpg Números que Mário Pinto de Andrade, do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), contesta: “Acho que, às vezes, a comunidade internacional empola. Houve uma manipulação desses resultados. Eventualmente fala-se das pessoas que morreram pela UNITA, mas também morreu muita gente pelo lado do governo. A UNITA quando ocupou o Uíge matou muita gente do MPLA e quando ocupou o Huambo, fez o mesmo.”

Uns, declarados opositores, são pressionados, coagidos ou assediados, outros desaparecem misteriosamente e ainda outros são presos por se expressarem em desfavor do MPLA que se protagoniza como sendo eles, o país. Nas eleições parlamentares, a UNITA obteve uma votação de mais de 30%, portanto expressiva, mas que ficou aquém das suas expectativas.

Nas eleições presidenciais, os cerca de 42% obtidos por Jonas Savimbi impediram que José Eduardo dos Santos, presidente em exercício que reuniu 59% dos votos, obtivesse na primeira volta a maioria absoluta, do modo que, pela legislação então em vigor, teria sido necessária uma segunda volta.

araujo179.jpg Neste meio tempo, Luanda (e todo o país) estava pejada de um dispositivo policial desmesurado, como se tratasse de um estado de sítio - coisa a que os luandenses já não queriam acreditar – preocupados, justificavam tal, dadas as preocupações com o acto eleitoral dos dias 29 e 30 de Setembro; pensava-se que, o facto de ser feito assim, o era  para que tudo corresse bem.

E correu. Correu muito bem, dada a afluência às urnas ter ultrapassado os 70% só no primeiro dia. O povo queria a paz e acreditava que a poderia conseguir pelo voto. Mas Angola, não era só Luanda e, Luanda não era só a Mutamba, não era só a marginal e a sua baía que paulatinamente ia sendo mudada no visual para gaudio dos adoradores de cenários pomposos, futilidades.

araujo180.jpg Em uma exortação sobre a Sexta-Feira Sangrenta, Muana Damba publicou a 24 de Janeiro no recente ano de 2013: História do Reino do Kongo - Você é um N'kongo, filho desta terra legada pelos nossos antepassados. Se podemos considerar esta Angola um país de Cabinda ao Cunene, é porque nela estão inseridas todas as etnias do país.

Todas as etnias, assim sejam os arianos, todos os cafusos, os mazombos como eu, besugos, matutos ou mamelucos do M´Puto, europeus e, também os filhos destes,  incluindo os Bakongos sejam eles de Cabinda, do Soyo, do Uíge, M'Banza Kongo e outros que falam com estalinhos mas, se essa realidade deixar de ser considerada, Angola deixa de ser aquilo que é, portanto. todos teremos de reflectir...

Luanda, nem tão pouco era o kinaxixe que viria a ser defenestrado, derrubado  por obtusas mentes, obscuras  e corruptas ganâncias  do sistema instalado no seio do governo. Pelo tubo ladrão corria muito petróleo, muito ódio às obras virtuosas que faziam lembrar o colonialismo… E “a guerra, que até aqui, matou e estropiou tantos, alimentou uma nomenclatura, gente que se tornou insultuosamente rica e prepotente” – Os mesmos que agora governam (Ainda…)

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Ilustrações de Costa Araujo

Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos  espalhados pelo mundo.

Nota2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e, da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto

 (Continua…)

O Soba T'Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 10:42
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Sábado, 31 de Agosto de 2024
VIAGENS . 203

NAS FRINCHAS DO TEMPO

DOS TEMPOS DE DIPANDA* . ELEIÇOES - “OS 3 DIAS DAS BRUXAS”

- Crónica 3620 – 31.08.2024

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto

valentina2.jpg Recorde-se: De 29 e 30 de Setembro de 1992 diz Filomena Lopes líder do Bloco Democrático, partido da oposição angolana: “foram naturalmente três dias horríveis", data em que se interrompeu o processo de paz em Angola. Fui apanhada de surpresa, sobretudo numa altura em que se tentava encontrar soluções políticas para o problema.

Filomena diz: - “Matava-se tudo. Matavam-se todos os que tivessem alguma ligação com a oposição. ”Milhares de apoiantes e dirigentes da União Nacional para Independência Total de Angola (UNITA) são assassinados em Luanda e em outras localidades do país. Também há vítimas da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA). “É a primeira vez, na história da guerra civil angolana, que políticos morrem em combate”, escreve o jornalista Emídio Fernando no livro Jonas Savimbi, “No Lado errado da História”.

Savimbi chamou a situação de "crise mais profunda" da UNITA desde a sua criação. Estima-se que talvez 120 mil pessoas tenham sido mortas nos dezoito meses após a eleição de 1992, quase metade do número de baixas dos dezasseis anos anteriores de guerra. Ambos os lados do conflito continuaram a cometer violações generalizadas e sistemáticas das leis de guerra.

unita28.jpg A UNITA, em particular, foi culpada de bombardeios indiscriminados de cidades sitiadas, o que resultou em um grande número de mortos civis. As forças do governo do MPLA usaram o poder aéreo de maneira indiscriminada, provoando muitas mortes de civis…

O tema ainda é tabu em Angola e até desconhecido por muito jovens. Daí a importância de uma boa estratégia de reconciliação, desde que não se branqueie a verdade, defende Orlando Castro: “Estes massacres são os mais visíveis, quer os de 27 de Maio de 1977, quer os de 1992; são os mais visíveis pelo número de vítimas, mas o MPLA tem muitas outras histórias porque ao longo da guerra – embora a UNITA obviamente também tenha cometido grandes erros – o MPLA, até pelo poder militar que tinha, massacrou muita gente inocente.

“Foi uma nova tentativa de decapitar a UNITA”. Orlando Castro conta: "Na história do MPLA, os massacres, ou as purgas, ou o que se lhe quiser chamar, são uma regra estratégica do regime, mesmo até para os próprios simpatizantes do MPLA”. Essa prática vem-se verificando até aos dias de hoje (2024) segundo muitas versões contadas aqui e ali, em livros ou crónicas nos jornais e redes sociais.

unita21.png Contadas até por gente fugida ao sistema, que sempre acusam o MPLA na utilização de venenos para eliminar parceiros ou amigos considerados insuspeitos. Quem lê o “Fórum de Liberdade” nas redes sociais de Fernando Vumby exilado na Alemanha, um antigo elemento da DISA - a polícia política do governo de Agostinho Neto, fica com os cabelos em pé...

Até hoje – ano de 2024, permanece por esclarecer quem ordenou o massacre após s eleiçõea. O número de vítimas também nunca foi confirmado, mas estima-se que tenham morrido entre 10 mil e 50 mil pessoas. Outros gráficos, baseadas em números da Igreja Católica, estimam que foram mortos de 25.000 a 40.000 partidários da UNITA e da FNLA

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Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos  espalhados pelo mundo.

Nota2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e, da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto …

 (Continua…)

O Soba T'Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 10:47
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Quinta-feira, 29 de Agosto de 2024
VIAGENS . 202

NAS FRINCHAS DO TEMPO

DOS TEMPOS DE DIPANDA* - ELEIÇOES ; “A TRAGÉDIA  NOS 3 DIAS DAS BRUXAS”

- Crónica 3619 – 29.08.2024

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto

vazio1.JPG As eleições gerais angolanas ocorreram nos dias 29 e 30 de Setembro de 1992 para eleger o Presidente da República e a Assembleia Nacional. Foram as primeiras eleições multipartidárias, supostamente democráticas e livres realizadas no país. Ocorreram na sequência da assinatura dos Acordos de Bicesse de 31 de maio de 1991, que pretendia pôr fim ao impasse militar com mais de dezassete anos.

O MPLA ganha as eleições. Nem o candidato do MPLA, José Eduardo dos Santos, nem o seu adversário, Jonas Savimbi, da UNITA, conseguiram maioria absoluta nas presidenciais. Os oito partidos de oposição, em particular a UNITA, rejeitaram os resultados como fraudulentos, o que se veio a verificar posteriormente segundo relatos de ocorrências, por impedimentos de fiscalização, destruição de urnas ou, por trâmites inconsequentes.

Uma vez que nem o candidato do MPLA nem o candidato da UNITA obtiveram a maioria absoluta requerida nas eleições presidenciais, uma segunda volta seria necessária de acordo com a constituição mas, à medida que ambas as partes intensificaram a retórica da guerra, o MPLA ataca posições da UNITA em Luanda.

unita25.jpg A UNITA, questionou a equidade das eleições, apresentando provas das anomalias mas, a Comunidade Internacional e os países dos PALOPS assobiaram para o lado; assim era no Mundo, o início do barlavento esquerdista com a postura moderada de pseudo socialista! Seguiram-se combates que levaram à morte de muitos membros proeminentes da UNITA como Jeremias Chitunda, Elias Salupeto Pena e Aliceres Mango Alicerces, que foram retirados do seu veículo e mortos a tiros.

Milhares de eleitores da UNITA e da Frente Nacional de Libertação de Angola, FNLA,  foram massacrados em todo o país pelas forças do MPLA ao longo de três dias… Esses três dias que ocorreram de 30 de Outubro a 1 de Novembro de 1992 em Luanda, ficariam conhecidos como o MASSACRE DO DIA DAS BRUXAS,

unita26.jpgO massacre dizimou muitos membros dos grupos étnicos Ovimbundu e Bakongo, historicamente tidos como adversários do MPLA. O jornalista e analista político Orlando Castro afirmaria que, nessa altura, o MPLA tentou “neutralizar todos os que pensavam de maneira diferente do regime”.

Um observador oficial viria a escrever que nestas primeiras eleições em Angola, havia pouca supervisão da ONU, que 500 mil eleitores da UNITA foram embargados ao voto e, que havia 100 assembleias de voto clandestinas. Em um atentado no Huambo, é assassinado o poeta Fernando Franco Marcelino. Neste atentado é ferido com gravidade a poetiza Zaida Daskalos.

unita27.jpgO “Terra Angolana” – o jornal da UNITA, em sua edição de 31 de Outubro, atribui ao MPLA a autoria deste crime, o que é duvidoso pois que eram pessoas muito conhecidas em Angola e, desde sempre ligadas ao MPLA. Neste meio tempo é também assassinado no Huambo o médico e escritor David Bernardino, homem ligado à esquerda pelo Movimento Democrático do Huambo – um apêndice do MPLA desde o seu nascimento

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Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos  espalhados pelo mundo.

Nota2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e, da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto …

 (Continua…)

O Soba T'Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 16:36
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Terça-feira, 27 de Agosto de 2024
BOOKTIQUE DO LIVRO . XXXIX

A ORDEM MUNDIAL  VI - Henry Kissinger*

FRIVOLIDADES CONTEMPORÂNEAS

- Escritos boligrafados na desordem actual - Crónica 3618 - 27.08.2024

Por: T´Chingange (Otchingandji) - O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto

bordalo5.jpg Todos se lembram do Aiatolá  Ruhollah Musavi Khomeini, falecido em Teerão a 3 de Junho de 1989; que foi essa autoridade religiosa xiita iraniana, líder espiritual e político da Revolução Iraniana de 1979 e, que depôs Mohammad Reza Pahlavi, na altura o Xá do Irã, Xá Reza Pahlavi até a sua morte.

Existe porém a diferença entre Xeque, aquele que estudou a Xaria em uma universidade islâmica, e o Aiatolá. Este último, Aiatolá significa "sinais de Alá" ou "sinais de Deus". Ou seja, o Aiatolá é o expoente do conhecimento dentro do Islã Xiita. Xeque ou sheik é um "ancião; chefe, soberano" é um fórmula honorífica em língua árabe, com o significado de "líder" ou "governador".

Normalmente, uma pessoa é conhecida por Xeique quando se especializou nos ensinamentos do Islão, podendo ter à sua responsabilidade os cuidados de uma mesquita, conduzir orações, realizar casamentos e outras funções. "Xeque", com este significado, é uma pessoa versada no Islã, um erudito.

booktique26.jpg Xeque é comumente utilizado para designar o chefe de uma tribo que herda esse título de seu pai, ou um estudioso islâmico, que alcança esse título depois de se formar na escola básica islâmica. Seu papel, do Xeque ou Xeique, nas antigas tribos de beduínos era a de um líder espiritual-político e, em certos casos, militar (equivalente a um capelão).

Dando um salto em frente, temos o “imperativo de revolução islâmica” que em Teerão, a capital e principal cidade da República Islâmica do Irão, de forma a permitir cooperação transfronteiriça entre Sunitas e Xiitas em nome de interesses antiocidentais mais amplos, nomeadamente o armamento pelo Irão do grupo Sunita, jihadistas Hamas contra Israel e, também segundo alguns relatos, dos Talibãs do Afganistão.

O Al-Qaeda também encontra aqui margem para actuar a partir do Irão. Sunitas e Xiitas estão geralmente de acordo em derrubar a ordem mundial vigente. Ao longo do século XXI em todo o Médio Oriente, os ideários são idênticos ao que é proposto pelos aiatolas políticos do Irão. No Irão as ideias dos políticos sempre se reconfiguram como fonte da revolução religiosa.

booktique28.jpg No discurso do aiotolá Ali Khamenei, sempre descrevem que «o futuro pertence ao islão». A enfâse destas posturas não deverão ser postas nas disputas ideológicas, mas na conquista ideológica e, sempre se colocam como sendo os campeões dos povos oprimidos mantendo o que afirmam ser uma luta épica contra a “América, o saqueador mundial”… E, contra o “sionismo e Israel”.

Nestas narrativas, sempre afirmam «A paz é só para aqueles que seguem o caminho da verdade». Maomé, o profeta, já assim o dizia no século VII. Todos seremos vitimas da guerra santa islâmica, assim é dito, abertamente mas, os ocidentais, para alguns observadores, tentam passar-nos a mensagem de como sendo só de cariz “metafórico”…

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Nota*: Com alguns extractos do livro “A Ordem Mundial” de Henry Kissinger e consulta em Wikipédia…   

(Continua, com intercaladas Viagens …)

O Soba T'Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 09:34
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Quarta-feira, 21 de Agosto de 2024
VIAGENS .199

NAS FRINCHAS DO TEMPO

DOS TEMPOS DE DIPANDA* - A RECONCILIAÇÃO – TENTATIVAS…

- Crónica 3615 – 21.08.2024

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto

zem2.jpg Com vista à transição de um Estado de partido único para uma democracia multipartidária iria realizar-se no ano de 1992. eleições em Angola destinada a escolher um chefe de Estado, um presidente e uma legislatura. Durante a campanha, notou-se alguma moderação em Eduardo dos Santos que assumiu  alguns erros de má governação, passando a defender o regresso de invetidores estrangeiros, privilegiando desta feita as relações com Portugal.

A Assembleia Nacional (que substituiria a Assembleia do Povo) seria composta por 220 membros, eleitos para um mandato de quatro anos, 130 por representação proporcional e 90 em distritos provinciais. A UNITA representada por Jonas Savimbi, optou pelo endurecimento na defesa de “uma Angola autentica” ameaçando os netos dos portugueses e dos mafulos holandeses e até, do próprio Dos Santos chamando-o de “sãotomense”.

No processo de Paz, Savimbi acusou Portugal e seus dirigentes de estar má-fé, bem como a Butrus-Galhli e Margaret Anstee - ambos “comprados com diamantes”, descurando-se  num efectivo apoio ao processo de paz através das eleições. (nota-se neste artigo do Expresso do M´Puto uma excrescente descrição a beirar a pura inventação, uma postura habitual na mídia de então – uma desacreditação "ad hoc" do candidato ***)

selos7.jpg Entre as referências à colonização e missionação  efectuadas no Congo a Norte, referiu os funantes aventureiros, que a Sul ousaram fazer comércio entre o mato, o kimbo e no batuque, desafiando a malária, as bilioses mas, e também, fabricando mulatos. Savimbi afirmaria que só a partir das primeiras décadas do século XX, com Norton de Matos, se iniciou a real colonização do Sul angolano. 

E, que mais tarde, o foi incrementada por Oliveira Salazar com a criação de colonatos a saber; da Sela, Sá da Bandeira e Matala entre outras. Refere que salvo raras excepções, e devido ao envio de famílias inteiras do M´Puto para esse locais agrícolas,  não houve a Sul  tão grande miscigenação como efectivamente,  o foi mais a Norte.

Quem veste e fala como os brancos são os “sãotomenses”, genericamente  gente do Norte,  também chamados de “calcinhas”. Os insultos a Eduardo dos Santos aliados às noticias de crimes contra os direitos humanos cometidos na Jamba, já relatados pela Amnistia Internacional, dizem os fazedores da estória e a mídia global, custaram talvez, a Savimbi e à UNITA a derrota das urnas (uma narrativa nebulosamente confusa).

za5.jpg E, num talvez, a UNITA tenha motivos para contestar as eleições e, por pressões variadas, o Dr. Malheiro Savimbi acabará por aceitar a segunda volta eleitoral. O Papa João Paulo II visitou Angola e São Tomé, em 1992. A visita começou a 4 de Junho e se estendeu até ao dia 10 de Junho, altura em que deixou Luanda para regressar ao Vaticano.

Desta visita foi criada uma profecia com os dizeres deste: “ Que tenha definitivamente terminado para ti, querida Angola, o tempo do teu desamparo” … Logo no dia a seguir à partida do Papa João Paulo II de Angola, MPLA e UNITA, envolvem-se em violento combate verbal, só apaziguado com interferência de Herman Cohen.

poluição.jpg

Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos  espalhados pelo mundo.

Nota 2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e, da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto e Wikipédia…

Nota 3: ***”Ad Hoc” - Um meio acadêmico, o revisor "ad hoc" tão comum nesse então, que é o pesquisador ou pseudo “qualquer coisa” que executa a revisão de um trabalho submetido para publicação em um periódico ou revista sem, contudo, participar como membro permanente do corpo editorial ou de revisores. Um tendencioso influenciador

(Continua…)

O Soba T'Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:08
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Segunda-feira, 19 de Agosto de 2024
BOOKTIQUE DO LIVRO . XXXVIII

A ORDEM MUNDIAL  V - Henry Kissinger*

FRIVOLIDADES CONTEMPORÂNEAS

- Escritos boligrafados na desordem actual - Crónica 3614 - 19.08.2024

Depois de uma larga ausência (desde 17.03.2020), volto de novo ao range rede, da minha preguiça!

Por: T´Chingange (Otchingandji) - O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto

cinismo01.jpg Um calvário de angústia com repúdio à aceitação de coexistência, conducente a um futuro incerto. Tudo porque duas gerações de árabes foram educados na convicção de que o  Estado de Israel é um usurpador  ilegítimo do património muçulmano.  Anwar Al-Sadat em 1979 teve uma visão de estadista com base em um interesse nacional egípcio: Olhar mais além desse confronto e, celebrar um acordo de paz com Israel.

Anwar, por este motivo, pagou com a vida dois anos mais tarde às mãos de radicais islamitas das forças armadas – O mesmo destino estava reservado a Yitzhak, um rabino e primeiro chefe do governo israelita a assinar um acordo de paz com a OLP – Organização de Libertação da Palestina. Foi assassinado por um estudante  radical israelita, decorridos que estavam 14 anos após a morte de Sadat.

BORUNDANGA3.jpg Hoje, os territórios palestinos e, particularmente na região de GAZA, os grupos  Hezbollah e Amas, mantêm o poder politico e militar proclamando a JIHAD como dever religioso de pôr fim à “ocupação sionista” como sempre o disseram… A questão fundamental resume-se à  possibilidade de coexistência de dois estados – Israel e Palestina. Dois conceitos de Ordem Mundial em um espaço exíguo, situado entre o rio Jordão e o Mar Mediterrâneo.

Uma ordem regional que só floresceu aquando as principais partes tiveram narrativas convergentes, das questões que lhes respeitavam, definitivamente, uma convergência ilusória no Mádio Oriente.  Quanto à Arábia Saudita, tem mostrado uma postura de disfarçada vulnerabilidade, recorrendo à opacidade, mantendo um distanciamento da chamada linha da frente dos conflitos.

E, contribuindo também para  o processo de paz no Médio Oriente, deixando a outros, o trabalho das negociações. Mantêm assim amizade com os Estados Unidos e seus primos espalhados no Globo, especialmente os inseridos na Europa. Convém relembrar que Al-Qaeda é uma organização terrorista, fundamentalista islâmica internacional, que tem a sua atuação principalmente baseada em ataques terroristas…

booktique28.jpg Isso! Al-Qaeda  que mataram milhares de pessoas pelo mundo. Uma forma de pressionar governos ocidentais a desocupar áreas ricas em petróleo, ouro, diamantes, cobre, turmalina em alguns países do oriente médio. Foi o responsável pelo pior ataque aos Estados Unidos da América em 11 de setembro de 2001 e que culminou com uma caçada sem precedentes ao terrorista chefe Osama bin Laden.

Organização fundamentalista Islâmica que foi fundada em meados de Agosto de 1988 por Osama Bin Laden, Abdullah Azzam, e vários outros combatentes da guerra soviética-afegã, constituída por células colaborativas e independentes infiltradas na Europa, Estados Unidos e Ásia, entre estudantes universitários simpatizantes doutrinados por esse regime terrorista e, visando disputar o poder geopolítico no Médio Oriente e, até constituir bases na Europa e América.

booktique27.jpg Todo este imbróglio de grupos e organizações surgem como tendo a figura do Aiatola como o maior, considerando as leis do Islão xiita - o mais alto dignitário na hierarquia religiosa. É um título dado apenas àqueles que têm merecimento, quer seja por aclamação ou nomeação de outro Aiatola ou indicação de um xeque. Para ser um aiatola, além de conhecimento e discernimento, ele deve ser descendente directo de Maomé. Tretas….

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Nota*: Com alguns extractos do livro “A Ordem Mundial” de Henry Kissinger e consulta em Wikipédia…   

(Continua, com intercaladas Viagens …)

O Soba T'Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 18:34
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Sábado, 17 de Agosto de 2024
VIAGENS .198

NAS FRINCHAS DO TEMPO

DOS TEMPOS DE DIPANDA* - RESENHA DA BATALHA DO CUITO-CUANAVALE E RETIRADA CUBANA

- Crónica 3613 – 17.08.2024

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto

cuba18.jpg …«Claro - continua o general soviético - que eu compreendia o estado dos meus amigos que certamente viam em mim um homem que estava categoricamente contra a retirada de tropas. E, de súbito, fazia tudo ao contrário. Mais, até incentivava a fazer isso mais rapidamente.»

Após longa retórica, Valentin Varennikov apresenta o seu plano, que não passa de uma espécie de compromisso entre soviéticos e cubanos: «A defesa deve ser profundamente escalonada. Para que o adversário, concentrando realmente grandes forças na direcção escolhida e, desse modo, conseguindo uma superioridade três ou quatro vezes maior do que os angolanos, não rompa a unha defensiva e depois dela não haja nenhuma resistência.

Por isso é que o camarada Fidel nos diz que é preciso fazer recuar - tem-se em vista uma parte determinada das tropas - para a retaguarda até ao Caminho de Ferro de Benguela***. Consideramos que poderíamos deixar cinquenta por cento das tropas a defender as linhas que ocupam agora e a outra metade destas tropas poderíamos deslocar em pontos de apoio, nos caminhos até à linha do Caminho de Ferro de Benguela inclusive.

cuba17.jpg Além disso, na zona da frente e nos flancos deverão ser amplamente colocados obstáculos de engenharia. Por fim, ter uma reserva para manobras. E todas as forças situadas na retaguarda em posições preparadas devem ser prontas a manobrar.

Desse modo, fazendo recuar uma parte determinada de tropas para a retaguarda, até à linha onde se encontram as tropas cubanas, instalando-as em pontos de apoio e preparando-as para manobrar, teremos uma defesa activa profundamente escalonada, na linha final da qual intervirão as tropas cubanas.

Se o adversário quiser avançar, afundar-se-á nesta defesa e jamais conseguirá o seu objectivo». Os cubanos aceitaram este plano e, no fim da reunião, «o camarada Risket - escreve o general soviético - disse-me: "Eu sabia que tudo acabaria bem.

cuba16.jpg Os camaradas soviéticos sabem encontrar saída mesmo onde ela não existe".» Este plano estratégico permitiu estabilizar a situação na frente de combate, mas a guerra continuou. Para os conselheiros militares soviéticos que combatiam em Angola, o pior estava ainda para vir. «Semelhante coisa não aconteceu, nem no Afeganistão»,

O «estalinegrado angolano» - afirmam os soviéticos que já tinham passado pela guerra do Afeganistão sobre a batalha por Cuito-Cuanavale, que começou em Julho-Agosto de 1987. É agora tempo de se falar nas múltiplas tentativas de reconciliação, em uma altura em que elementos do governo de Luanda, já cansados, assumiam alguns erros de governação e,  defendiam abertamente num governo de consenso nacional

guerra19.jpg

Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos  espalhados pelo mundo.

Nota 2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange, do Blogue História da Guerra Civil de Angola, da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto e Wikipédia…

Nota 3: *** Caminho de Ferro de Benguela, também chamada de Caminho de Ferro Catanga-Benguela, é uma linha ferroviária que atravessa Angola de oeste a leste,...

 (Continua…)

O Soba T'Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 19:10
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Quinta-feira, 8 de Agosto de 2024
BOOKTIQUE DO LIVRO . XXXVII

A ORDEM MUNDIAL  IV - Henry Kissinger*

FRIVOLIDADES CONTEMPORÂNEAS

- Escritos boligrafados na desordem actual - Crónica 3610 - 08.07.2024

Depois de uma larga ausência (desde 17.03.2020), volto de novo ao range rede, da minha preguiça!

Por: T´Chingange (Otchingandji) - O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto

crimeia11.jpgA União Europeia instituiria em 2002 uma moeda comum - o Euro, apresentando-se como uma estrutura politica formatando em 2004 uma europa unida, inteira e livre, disposta a dirimir divergências mediante mecanismos pacíficos, controlando sua moeda e suas fronteiras, e corporizando o conceito dominante de Ordem Mundial.  Neste meio tempo, o mundo muçulmano continua a viver uma situação de inevitável conflito com o mundo exterior.

Mantendo o conceito de “jihad”, tentam espalhar a mensagem do Islão como busca espiritual para glorificar seus princípios religiosos legados pelo profeta Maomé. Como um dever indiscutível, vinculam seus fieis a expandir sua fé pela guerra. Fazem-se ouvir em gritos de união congregando minorias armadas do Líbano, da Síria, do Iraque, da Líbia, do Iémen, do Afeganistão e, do Paquistão. Hodiernamente vivenciamos esta realidade…

crimeia17.jpg Por todo o mundo, grupos terroristas, tentam impor sua ideologia; pouco a pouco, assentam arraiais nas principais cidades da Europa alterando e adulterando regras de imperativos religiosos afastando cidadãos indígenas que, paulatinamente o vão sendo, arredados de sua normalidade no meio de uma apatia governamental. Paris, Lisboa, Madrid entre outras cidades europeias veem-se confrontadas com crimes em plenas praças e alamedas parecendo ser um parque de campismo anárquico com latrinas a céu aberto…

Enquanto ao longo do tempo a cristandade se torna em um conceito filosófico e histórico, no mundo árabe, invasor tolerado pela imigração descontrolada, originam um princípio operacional na estratégia de alterar a ordem regional e internacional, não distinguindo o “que é de César” ou “o que é de Deus”. Este debate de como é ou de como vai ser, está muito longe do seu fim; em verdade está começando!

O mundo muçulmano continuará a viver numa situação de inevitável conflito com o resto do mundo – dos não seguidores de Maomé; O resto do mundo Ocidental! As elites do mando, nunca irão conseguir compreender essas paixões revolucionárias; pode pressupor-se até que essas posturas extremistas o são, meramente metafóricas, ou ditas a título de poderem chegar a negociações.

crimeia14.jpg Em verdade, estas e aqueloutras ideias dos fundamentalistas islâmicos, representam verdades que sempre se irão sobrepor às regras e normas da Ordem Global Internacional… Servirão de toque de chamada para radicais jihadistas, principalmente do Médio Oriente tais como: Al-Qaeda, Hamas, Hezbollah talibãs, Hizb ut-Talmir e, ainda os Boko Haran da Nigéria.

E, ainda as várias milícias extremistas da Síria Jabhat  al-Nusra ou pelo Estado islâmico do Iraque - os seguidores dos radicais egípcios que assassinaram o presidente Anwar al-Sadat. Recorde-se que Anwar al-Sadat foi assassinado por via de este ter celebrado a paz com Israel. Para que conste, o jihadistas acham-se no dever de transformar o “dar al Harb” no mundo dos infiéis num conceito de ordem interminável de um “dar al-Islam”...

crimeia16.jpg E, entre si, muçulmanos deflagram velhas tensões, coisas de séculos que despertam conflitos milenares entre xiitas e sunitas multiplicando-se em atrocidades e, aonde os sobreviventes se refugiam em enclaves étnicos e sectários. A actualidade faz querer saber que a existência de Israel e os seus feitos militares têm sido sentidos como uma humilhação para todo o mundo árabe; e claro, segue-se as ambições palestinianas de autodeterminação e prossecução pelos governos árabe vizinhos.

Nota*: Com alguns extractos do livro “A Ordem Mundial” de Henry Kissinger e consulta em Wikipédia…   

(Continua, com intercaladas Viagens …)

O Soba T'Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 10:28
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Terça-feira, 6 de Agosto de 2024
VIAGENS .195

NAS FRINCHAS DO TEMPO

DOS TEMPOS DE DIPANDA* - RESENHA DA BATALHA DO CUITO-CUANAVALE E RETIRADA CUBANA

- Crónica 3609 – 06.08.2024

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto

iguana4.jpgAs divergências entre cubanos e soviéticos agudizaram-se quando, em 1984, as tropas sul-africanas lançaram fortes ataques contra a SWAPO não só na Namíbia, mas também no Sul de Angola… «O adversário realizou movimentações de tropas de grande envergadura (como mais tarde se veio a saber, tratou-se de uma irritação, era preciso aumentar o medo).

Esta situação provocou o aumento da tensão nos quartéis e nos pontos de comando das tropas governamentais de Angola, bem como nas guarnições das tropas cubanas. É possível que a difusão de boatos tenha sido obra do inimigo que certamente tinha adeptos seus na mais alta esfera do poder de Angola... ou a complexa situação no sul do país aterrorizou realmente todos» - recorda Valentin Varennikov.

iko6.jpg Chegados aqui, convém recordar quem era Iko Carreira: Henrique Alberto Quádrios Teles Carreira, que  era mais conhecido pela alcunha Iko Carreira. Foi um militar, político, diplomata, escritor e ideólogo anticolonial. Desertou das tropas portuguesas na "Fuga dos 100", em 1961, juntamente com Pedro Pires (posteriormente Presidente de Cabo Verde) e Joaquim Chissano (posteriormente Presidente de Moçambique).

Era considerado o terceiro em comando no partido e no Estado angolano durante a década de 1970, atrás somente de Agostinho Neto e Lúcio Lara. Na chefia do ministério liderou o processo de formação da Polícia Nacional e de outros órgãos militares. A partir de 1974 foi um dos responsáveis por reorganizar as Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA). Em 1974 e 1975, foi designado a participar das negociações que culminaram nos Acordos de Alvor.

Após a declaração da independência angolana, assumiu o cargo de Ministro da Defesa da República Popular de Angola a 12 de Novembro de 1975. Actuou em estreita cooperação com a Força Expedicionária Cubana e, assessores militares soviéticos. Em 27 de maio de 1977 ocorreu o golpe de Estado falhado nitista em Luanda. O Ministro Carreira, passou a ser identificado como o principal representante da "elite branco-mulata"(***), despertando um ódio particular nos líderes da rebelião, que se posicionaram como "porta-vozes dos interesses dos negros pobres".

iko5.jpg Como Ministro da Defesa desempenhou um papel importante na repressão ao movimento do Fraccionismo. Liderou o tribunal militar que sentenciou à morte os participantes da rebelião. Foi um dos principais organizadores das repressões em massa de 1977 a 1979. Em 1980, foi afastado do cargo de Ministro da Defesa alegadamente para receber treino militar para graduar-se, uma vez que era somente coronel.

Foi enviado para a União Soviética, onde estudou na Academia Militar K. e. Voroshilov do Estado Maior das Forças Armadas Soviéticas, tornando-se, em 1982, o primeiro oficial militar africano a receber um diploma de formação como general. Em 1983 foi nomeado comandante da Força Aérea Popular de Angola, cargo em  que permaneceu até 1986.

lua55.jpg Nos últimos 13 anos de sua vida ele viveu com o lado esquerdo paralisado. Foi tratado em França e nos Estados Unidos; depois, mudou-se para Espanha. O governo angolano nomeou-o adido militar em Espanha. Escreveu dois romances com um dedo, em um computador especial, além de memórias políticas e de outras obras: "O Pensamento Estratégico de Agostinho Neto", Publicações Dom Quixote e. "Memorias", publicadas em Angola por N´zila.

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Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos  espalhados pelo mundo.

Nota 2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange, do Blogue História da Guerra Civil de Angola, da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto e Wikipédia…

Nota 3: ***Pode daqui deduzir-se, de novo. quanto tinham de racistas os efectivos do MPLA. Retirar o branco de toda ou qualquer gestão militar ou civil, foi-o mais que evidente e, tudo sordidamente silenciado pelos mídias mundiais e, por Portugal, fruto de uma descolonização enviesadamente esquerdoida…  

(Continua…)

O Soba T'Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 13:03
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Sexta-feira, 2 de Agosto de 2024
VIAGENS .193

NAS FRINCHAS DO TEMPO

DOS TEMPOS DE DIPANDA* - RESENHA DA BATALHA DO CUITO-CUANAVALE E RETIRADA CUBANA

- Crónica 3607 – 02.08.2024

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto

cuito2.jpg O general Varennikov escreve: «A principal tarefa consistia em estudar o estado das coisas no local e elaborar, juntamente com os representantes cubanos e a direcção militar angolana, medidas para o posterior reforço da capacidade de combate das Forças Armadas da República Popular de Angola, para o aumento da eficácia das acções militares com vista à derrota das formações do grupelho contra-revolucionário da UNITA e rechaçar a agressão da República da África do Sul no sul do país

É importante assinalar os retratos que o general soviético faz dos dirigentes angolanos com quem contactou. O primeiro encontro realizou-se com o ministro da Defesa de Angola. «A meu ver, o encontro com o ministro da Defesa, general Pedale, foi demasiadamente oficial.

As minhas tentativas de tirar alguma afectação, frases gerais não receberam o apoio devido e a posição de Pedale provocou no general Kurotchkin (comandante da missão militar soviética entre 1982 e 1985) uma perplexidade legítima. Mas, depois, compreendemos que Pedale queria fazer figura de pessoa importante, por isso pavoneava-se um pouco. Tinha quarenta anos, era baixo e gordo.»

van05.png Valentin Varennikov encontrou-se também com o novo Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos: «Já antes sabia muito sobre dos Santos. Quando jovem estudante destacava-se por capacidades invulgares, tinha um intelecto tenaz, vivo. Era bem desenvolvido fisicamente: jogou na equipa de futebol da primeira liga "Neftchi" (Azerbaijão).

Isto porque estudava na URSS. No nosso país ele casou com uma russa, que lhe deu uma filha (Isabel dos santos), e eles os três foram viver para Angola. As tempestades políticas levaram-no à liderança do MPLA - Partido do Trabalho e, ao mesmo tempo, Presidente.

Claro que ele não podia pertencer a si próprio. Ele tornou-se um dirigente popular.» - «Mas a sua vida pessoal - continua o general russo - desenvolveu-se de forma bastante dramática. Sob pressão das tradições nacionais, teve de deixar a esposa branca e a filha e formar uma nova família: a esposa do Presidente deveria ser negra***.

iko1.jpg Dos Santos sujeitou-se aos costumes do seu povo, mas comportou-se de forma bastante nobre em relação à sua família anterior: deu-lhe uma vila, concedeu à antiga esposa uma pensão e um subsídio à filha. A filha foi autorizada a ir ter com o pai à residência em qualquer tempo livre.»

Não escaparam à atenção do general soviético as divergências existentes na direcção do Governo angolano, nomeadamente a questão da «despromoção» do general Iko Carreira de ministro da Defesa para chefe do Estado-Maior da Força Aérea de Angola: «Sendo um homem orgulhoso e extremamente ambicioso, claro que Iko Carreira ficou ofendido. Ele não expressava isso externamente, mas mantinha-se afastado e independente, como se a Força Aérea não fizesse parte das Forças Armadas de Angola.

iko3.jpg

Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos  espalhados pelo mundo.

Nota 2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange, do Blogue História da Guerra Civil de Angola, da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto e Wikipédia…

Nota 3: ***Pode daqui deduzir-se o quanto tinham de racistas os governantes de então, com efectivos do MPLA. Retirar o branco de toda ou qualquer gestão militar ou civil, era mais que evidente – tudo escandalosamente silenciado pelos mídias mundiais – fruto de uma descolonização enviesadamente esquerdoida…  

(Continua…)

O Soba T'Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 21:00
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Quarta-feira, 31 de Julho de 2024
BOOKTIQUE DO LIVRO . XXXVI

A ORDEM MUNDIAL III - Henry Kissinger*

FRIVOLIDADES CONTEMPORÂNEAS

- Escritos boligrafados na desordem actual - Crónica 3606 - 31.07.2024

Depois de uma larga ausência (desde 17.03.2020), volto de novo ao range rede, da minha preguiça!

Por: T´Chingange (Otchingandji) - O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto

crimeia7.jpg Surge assim por contribuição dos Estados Unidos – USA, o Plano Marschall em 1948; foi uma ajuda financeira dos Estados Unidos para reconstruir a Europa após o final da Segunda Guerra Mundial. Os principais objectivos desse plano eram garantir o apoio dos países da Europa Ocidental ao lado norte-americano e evitar o avanço da União Soviética sobre o Ocidente.

E, é criado o Tratado do Atlântico Norte que deu origem à OTAN (NATO), assinado em Washington, a 4 de Abril de 1949. E, os doze países que o assinaram originalmente, tornaram-se os membros fundadores da OTAN/NATO; foram eles: Bélgica, Canadá, Dinamarca. Estados Unidos, França, Islândia, Itália, Luxemburgo, Noruega, Países Baixos, Portugal e Reino Unido.

Àqueles doze países juntaram-se-lhes mais 20, totalizando assim 32 e, dos quais o último aconteceu no actual ano de 2024 - a Suécia. Chega-se assim aos dias de hoje assentes na reconhecida capacidade nuclear dos Estados Unidos após as duas grandes guerras devastadoras da Europa e não só. Começou aqui, o verdadeiro sentido de identidade histórica mantendo de um lado o Ocidente e, do outro lado,  a União Soviética.

crimeia6.png Sobrepôs-se a tudo, o desejado equilíbrio do poder Ocidental, alicerçado na igualdade de seus membros. No entanto surge na balança de relacionamento civilizacional  dos dias actuais um dragão! Dragão que muito rápidamente desponta em uma nova força de um poderio dissuasor militar muito compenetrada em seu sombrio  e disfarçado poder económico - a China.

A China que não o é mais aquela fábrica de “imitação” de  há uns escassos anos a esta parte. E, agora interrogamo-nos: - Será a China mais perigosa do que a Rússia? Seja qual for a resposta, pela certa, nos irá abalar e obrigar a reflectir-se sobre o mundo em que vivemos e os perigos que dai, surgirão. Essa parda civilidade a que designamos perigo amarelo, vai pela certa avermelhar-nos ou escarnecer-nos… 

crimeia11.jpg A França e a Grâ-Bretanha, constituindo pequenas forças nucleares, irrelevantes para o equilíbrio geral, ressurgem pelo estímulo da queda do muro de Berlim no ano de 1989. As nações da Europa do Leste, esmagadas que estiveram durante quarenta anos ou mais, ressurgem assim para uma real independência, reassumindo as suas personalidades, paredes meias com o monstro vermelho  sempre ameaçador, a União Soviética.

O colapso da URSS mudou a tónica da diplomacia por via da transformação no contexto político social deixando de existir no seio da Europa uma ameaça militar séria. Esta situação iria durar escassos anos entre a dissolução da  US, União Sovietica  e a invasão da Crimeia em 2014. Boris Nicoláievitch foi o primeiro presidente da Rússia após a dissolução da União Soviética.

crimeia12.jpg Boris Iéltsin foi também o primeiro líder de uma Rússia independente desde o Czar Nicolau II. Em seus anos como líder da oposição no Soviete Supremo são lembrados com glória, mas seu governo, lembrado com frustração por conta das grandes expectativas; ficou marcado na história por reformas políticas e económicas fracassadas e, pelo caos social.

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Nota*: Com alguns extractos do livro “A Ordem Mundial” de Henry Kissinger e consulta em Wikipédia…   

(Continua, com intercaladas Viagens …)

O Soba T'Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 17:34
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Sábado, 27 de Julho de 2024
VIAGENS .190

NAS FRINCHAS DO TEMPO

DOS TEMPOS DE DIPANDA* - RESENHA DA BATALHA DO CUITO-CUANAVALE E RETIRADA CUBANA DE ANGOLA

- Crónica 3603 – 27.07.2024

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji)** O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto

cuito9.jpg Numa declaração oficial, os Estados Unidos revelam a presença de tropas cubanas em Angola desde 1975, com o envio inicial de cerca de 15 mil homens. Três meses depois, durante uma visita breve a Caracas, Henry Kissinger disse em particular ao presidente Carlos Andrés Pérez: “Parece que nossos serviços de informação estão muito deteriorados porque só soubemos que os cubanos iam para Angola quando já lá estavam”.

Contudo, nessa ocasião corrigiu que a cifra enviada por Cuba era de 12 mil homens. Naquele momento em Angola havia muitos soldados, especialistas militares e técnicos civis cubanos, muito mais do que Henry Kissinger supunha. O primeiro contingente era composto de 4.000 homens que aumentaram rápidamente para 18.000.

Em 1976 já eram 36.000 e em 1988 já totalizavam 55.000 quando da Batalha de Cuíto Cuanavale, o maior confronto militar da Guerra Civil Angolana, ocorrido entre 15 de Novembro de 1987 e 23 de Março de 1988. O local da batalha foi na região do Cuíto Cuanavale, província de Cuando-Cubango, onde se confrontaram os exércitos de Angola (FAPLA) e Cuba (FAR) contra a UNITA e o exército sul-africano.

cuito7.jpg Os cubanos saíram em 1991, enquanto a Guerra Civil Angolana teve continuidade até o ano de 2002. As baixas cubanas em Angola totalizaram cerca de 10.000 mortos, feridos ou desaparecidos. Mas, vamos agora escalpelizar novas falas tendo José Milhazes como perito em assuntos de URSS que sobre a Batalha de Cuito-Cuanavale – o  «Estalinegrado angolano» adiantou: Àqueles que desejarem saber detalhadamente o que se passou na Batalha de Cuito-Cuanavale na versão da antiga URSS, sugere-se a leitura seguinte:

Sim! É de um livro, que  tendo copyright, que pelo seu conteúdo polémico para o MPLA certamente não poderá ser vendido em Angola e, por isso, solicitamos a benevolência do autor e da editora pela transcrição que faremos de partes do texto para dar assim, conhecimento aos angolanos e não só, da realidade desta batalha. Desde já os nossos agradecimentos! As partes do texto em "bold" são da nossa autoria para chamar a atenção das partes mais polémicas.

cubango4.jpg A substituição de Agostinho Neto por José Eduardo dos Santos à frente do MPLA e da República Popular de Angola foi recebida em Moscovo, mas a sucessão foi acompanhada por uma nova espiral de confrontos armados entre as FAPLA e a UNITA. O general soviético Valentin Varennikov liga esses dois factos: «Na realidade, o sinal para o reinicio das suas acções agressivas (EUA) foi a morte de Neto.

Considerava-se que a sua morte faria cair a bandeira do MPLA - Partido do Trabalho e que todos os que tinham lutado sob essa bandeira e os que o apoiavam poderiam alterar a sua política, bastando para tal apenas pressionar.» - «Porém - continua o general soviético -, os dirigentes do MPLA- Partido do Trabalho elegeram um companheiro de Neto da luta pela independência do país, Eduardo dos Santos (a propósito, ele terminou a universidade na URSS: frequentou o Instituto Estatal de Petróleo de Baku).

Ele tornou-se também presidente do país e comandante supremo. Isto acabou por fazer perder a paciência ao Ocidente. Além de provocações frequentes, organizadas pela UNITA, FNLA e África do Sul, começou a preparação de acções de grande envergadura, de que estávamos ao corrente "em primeira mão":": os nossos oficiais espiões, agindo nos destacamentos da SWAPO no território da Namíbia e no Sul de Angola, tinham contactos directos com os militares da UNITA (Savimbi) e adeptos da África do Sul contratados por pouco dinheiro, mas capazes (também por dinheiro) de fornecer dados exclusivamente precisos sobre as tropas da África do Sul.»

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Nota1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos  espalhados pelo mundo.

Nota2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange, da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto, RTP-Notícias e Wikipédia…

(Continua…)

O Soba T'Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 18:00
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Quarta-feira, 24 de Julho de 2024
VIAGENS .189

NAS FRINCHAS DO TEMPO

DOS TEMPOS DE DIPANDA* - RETIRADA CUBANA DE ANGOLA

De Gbadolite a Bicesse - 1988/1991 - Crónica 3601 – 24.07.2024

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto

bicesse5.jpg Os países observadores, EUA e URSS, comprometeram-se igualmente a pôr termo ao abastecimento de material bélico às facções envolvidas no conflito. Todas as forças beligerantes seriam integradas nas Forças Armadas Angolanas, cabendo ao Estado Português, através das suas próprias forças armadas, ministrar a formação necessária.

Este Acordo permitira um armistício temporário na Guerra Civil de Angola entre MPLA e a UNITA. No entanto, os efeitos de Bicesse nunca se sentiram e a paz foi ténue e incompleta, para além de efémera, pois os conflitos logo em 1992 rebentaram numa espiral de violência ainda maior, não mais cessando. Seriam necessários mais dez anos para se pôr termo à guerra…

O ”CESSAR-FOGO” - “A guerra, que matou e estropiou tantos, alimentou um punhado de pessoas da LUUA, que se tornaram insultuosamente ricas e prepotentes” – A independência seia para isto!? Era a pergunta que corria feita muxoxo…  Após 15 anos de permanência em Angola, o último soldado cubano retorna à ilha no mês de Maio de 1991.

Ochoa1.jpg Convem aqui. fazer-se um curto desvio para descrever seu regresso e, de forma sucinta dar detalhes do que então se passou: Na madrugada de 14 de julho de 1989, o general Arnaldo Tomás Ochoa Sánchez o herói chefe das forças expedicionárias em Angola, a terceira figura militar mais poderosa da ilha de Cuba, depois do Comandante em Chefe Fidel Castro e do General Raúl Castro é fuzilado pelo crime de traição.

O que se esperava ser uma verificação de antecedentes de rotina antes do anúncio, o governo acusou Ochoa de corrupção, na venda de diamantes e marfim de Angola e a apropriação indevida de armas na Nicarágua. Há quem afirme que seu comportamento no campo de Batalha em Cuito-Cuanavale foi-o em permanente oposição às ordens de Fidel e, que tudo o demais foi um pretexto…

Voltamos assim aos anos de oiro da diplomacia portuguesa comemorando em Março de 1990 a independência da Namíbia. Durão Barroso tem o primeiro encontro a sós com o presidente Dos Santos. Começa a desenhar-se o papel mediado de Portugal (M´Puto) na placa giratória que conduziu a Bicesse.

O Prof. Cavaco Silva vai a S. Tomé encontrar-se com Eduardo Dos Santos e desloca-se a Paris para dialogar com Jonas Savimbi. Durão Barroso inicia viagens a Luanda e Washington; dois elementos do seu gabinete, António Monteiro e José Queirós de Ataíde, desdobram-se em contactos e esforços.

bicesse3.jpg Em 24 e 25 de Abril de 1990, dá-se o primeiro encontro das partes sob mediação portuguesa em Évora. De 16 a 18 de Junho de 1990 dá-se a segunda ronda negocial, no Forte de S. Julião da Barra, Oeiras. Discute-se a formação do futuro exército único de Angola e fiscalização do cessar-fogo. Durão Barroso afirma na altura: “Os méritos ou desaires das negociações cabem exclusivamente aos angolanos”.

A 23 de Julho de 1990, Jeffrey Davidow, subsecretário do gabinete de Cohen, encontra-se com Dos Santos. Logo a seguir, o governo angolano desencadeia uma ofensiva diplomática encabeçada por Venâncio de Moura e, pela primeira vez, em mais de quinze anos, fala da UNITA empregando a expressão “nossos irmãos”, em vez de “fantoches”.

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Adenda: Por um leitor do Facebook - Carlos Alberto Martins Tavares

Os Cubanos além de cobrar mais de US$ 10.000,00 por soldado ao governo de Angola, roubaram tudo o que encontraram pela frente. Roubaram toda a estrutura de máquinas da Usina de Açúcar da Catumbela!!! Levaram todos os autocarros da EVA e de outras empresas de viação de Angola, Levaram todos os carros dos Portugueses que estava nos portos para embarcar para Lisboa. Levaram todos os aparelhos de procedimentos médicos dos Hospitais de Luanda!!! Roubaram as pedras de mármore das campas dos cemitérios. Além de ladrões sequer deram qualquer colaboração efetiva ao desenvolvimento de Angola!!! Uma maravilha!!!

araujo173.jpgC.A,

Nota1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos  espalhados pelo mundo.

Nota2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange, da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto, RTP-Notícias e Wikipédia…

(Continua…)

O Soba T'Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 22:32
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Sexta-feira, 19 de Julho de 2024
BOOKTIQUE DO LIVRO . XXXIV

A ORDEM MUNDIAL - Henry Kissinger*

- Escritos boligrafados na desordem 

-Crónica  3598 - 19.07.2024 

Depois de uma larga ausência (desde 17.03.2020), volto de novo ao range rede, da minha preguiça! Já kota, balouço-me na estória da história sem esse tal de Pitu, mas com ciriguela na goela…

Por: T´Chingange (Otchingandji) - O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto

booktique26.jpg A Rússia desencadeou no Mundo, mais guerras do que qualquer outra potência contemporânea mas, impedindo também o domínio da Europa por uma única potência, opondo-se fortemente a Carlos VII da Suécia, a Napoleão Bonaparte de França e a Adolf Hitler da Alemanha, quando o já tinham sido elementos do equilíbrio continental. De Pedro, o Grande a Vladimir Putim, o aventureiro, as circunstâncias mudaram, mas o ritmo manteve-se com alguma coerência. 

O absolutismo, a vastidão, as ambições de expansão mundial e as inseguranças, tudo na Rússia se ergue implicitamente como desafio ao conceito europeu de ordem internacional. Kiev, capital e centro geográfico do Estado de Ucrânia, continua a quase ser considerado unanimemente pelos russos como parte integrante e inalienável de seu património.

Numa encruzilhada de civilizações e rotas comerciais, a Rússia sempre se viu tentada a se expandir por medos contraditórios e, tendo convivido neste Império com os intrusos Vikings a norte, com o Império Árabe a sul, em expansão, e as Tribos Turcas a leste, metida neste permanente imbróglio enquanto a Europa Ocidental acolhia em sua sociedade, as novas perspectivas tecnológicas e intelectuais.

booktique27.jpg Forçosamente a Rússia que é mantida neste pendor oriental é também submetida por dois séculos e meio, à soberania Mongol entre os anos de 1237 a 1480. Enquanto isso, Portugal que já o era país bem definido, colocado no extremo Ocidental à entrada do Mediterrâneo, dá início à globalidade do Mundo - Os descobrimentos. E. em busca do conhecimento lança-se aos oceanos sem saber o que estaria mais álem.,

Numa epopeia de carregar a cruz de Deus em busca de glória, torna-se conhecedor dos ventos, das correntes e das marés proporcionando riqueza e nobreza às gentes ao redor do Mundo. Neste meio tempo, em que o Ocidente segue a via do renascimento, revolução científica e do iluminismo a Rússia formata-se na geopolítica de sua dura escola das estepes…

O saque, a escravidão dos povos, muitas tribos nómadas em um terreno vasto, aberto e sem fronteiras, as incursões em sua normalidade de vida, leva a Rússia a sempre se manter em um poder absoluto sobre seus vizinhos. As invasões, guerra civis e fomes, ceifaram literalmente um terço da população russa.

ara3.jpg O expansionismo foi sempre uma constante de Moscovo; sua filosofia pode comparar-se a um rolo que tem de esmagar tudo o que lhe barre o caminho. E, surge um místico russo Grigori  Rasputin em São Petersburgo, a Janeiro de 1869 que autoproclamado homem santo e filósofo aproxima-se da família do Czar Nicolau II, tornando-se uma figura politicamente influente no final do período imperial.

Aquele rolo ditatorial avançou primeiro para a Ásia Central, depois para Cáucaso e os Balcãs, a seguir vem a Europa Oriental, Escandinávia, mar Báltico e o Oceano Pacifico até às fronteiras  da China e do Japão. A Rússia, em média expandiu-se 100.000 Km quadrados anualmente e, entre os anos de 1552 a 1917. A Europa, não pode por isso, ficar indiferente à Historia nem tao pouco pendente de outros – Os americanos da USA…

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Nota*: Com alguns extractos do livro “A Ordem Mundial” de Henry Kissinger     

ADENDA : Por Josué Pedrosa

Política, aprendi ser "a arte de gerir consensos". Embora seja ligeiramente diferente, o sentido é o mesmo. Mas, não sabia que foi Bismarck, quem o disse. Quanto à relação Europa-EUA, mais tarde ou mais cedo os europeus vão aprender uma dura lição, eles não são confiáveis. Bill Clinton prometeu aos ucranianos que, se entregassem á Rússia as armas nucleares instaladas na Ucrânia, para serem destruídas, que os EUA defenderiam a Ucrânia contra qq agressão. A Rússia também o fez e a França e o RU, fizeram o mesmo, tendo a China mais tarde, também assinado esse documento/acordo/compromisso.

Desde que Putin chegou ao poder, logo no 1° encontro com A. Merkel, deixou claro que o desmembramento da URSS, tinha sido a maior tragédia do século XX, sua (dele) douta opinião, sendo certo que ninguém ligou "boia" ao que ele disse - europeus ou americanos.

Pouco depois foi posto em marcha o projecto de retomar a Crimeia e as quatro províncias ucranianas onde estava uma grande comunidade de origem russa, apesar de o seu número ser sensivelmente igual ao dos ucranianos. Ainda assim, quando do referendo sobre a independência da Ucrânia da URSS, a maioria - o que incluía a comunidade de origem russa - manifestou-se maioritariamente pela independência, o mesmo acontecendo com a Crimeia, aqui maioritariamente de população russa.

Ocupada a Crimeia e como o Ocidente fingiu que nada se passou, Putin mandou avançar com a estratégia para recuperar as províncias ucranianas, começando então o conflito. Ocupação dos parlamentos regionais e exigências de autonomia e referendos para a independência/integração na Rússia.

Os ucranianos sem forças armadas capazes, viram-se representados por inconformados nacionalistas - os Azov, que com a colaboração do exército ucraniano, iam resistindo como podiam. O derrube do avião da Malaysia Airlines, por um míssil russo já identificado por vários meios, incluindo a bateria que o disparou e quem a comandava, são provas irrefutáveis da actuação do exército russo naquela época. Uma vez mais o Ocidente fingiu que não viu, até que chegámos a Fevereiro de 2022 e á invasão da Ucrânia pela Rússia.

Os países que assinaram o documento de compromisso com a defesa da Ucrânia, não só não foram defender a Ucrânia, como, embora tendo vindo a fornecer algum equipamento militar, escondem e não dão o melhor e proibindo o melhor que dão de ser utilizado além das fronteiras ucranianas. É como dizer a uma das equipas: não podem atirar a bola para lá da linha do meio campo.

Entretanto, a Rússia investe tudo o que pode (o que não é pouco) em novo equipamento e substituição do que vai sendo destruído e, perante o olhar indiferente dos "aliados europeus" a Ucrânia vai-se defendendo como pode, perdendo homens cada menos substituíveis e território.

E assim vamos vivendo, preocupados com as medalhas que se vão ou não ganhar nos jogos olímpicos e com as incidências burlescas do Trump e da Kamala.

(Continua, com Viagens …)

O Soba T´Chingange        



PUBLICADO POR kimbolagoa às 17:51
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Sábado, 13 de Julho de 2024
VIAGENS .184

NAS FRINCHAS DO TEMPO

DOS TEMPOS DE DIPANDA* -  XIII  CONGRESSOS DA UNITA

- Crónica 3595 – 13.07.2024

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto

144.jpg

  1. XIII CONGRESSO

Este Congresso Ordinário teve lugar em Viana, Luanda de 13 à 15 de Novembro de 2019 com cinco candidatos: José Pedro Kachiungo, Raúl Manuel Danda, Adalberto Costa Júnior, Abílio Kamalata Numa e Alcides Sakala, tendo sido eleito Adalberto Costa Júnior à Presidente da UNITA.

Através da agencia  Lusa a 07 de Outubro de 2021 fica a saber-se que o Tribunal Constitucional (TC) angolano anulou o XIII Congresso da UNITA, em que foi eleito Adalberto da Costa Júnior, invocando a violação constitucional, devendo o partido manter a anterior liderança de Isaías Samakuva.

unita002.jpg O acórdão do TC, que foi publicado muam quinta-feira, dia 07 de Outubro na sua página oficial, dá razão a um grupo de militantes da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), que requereu a nulidade do congresso invocando várias irregularidades. Entre as alegadas irregularidades consta a dupla nacionalidade de Adalberto da Costa Júnior à data de apresentação da sua candidatura às eleições do XIII Congresso.

O acórdão é assinado por sete juízes conselheiros que não foi unânime, tendo votado vencida a juíza Josefa Neto. A juíza destaca na sua declaração de voto que o apuramento da candidatura de Adalberto da Costa Júnior, por parte do comité permanente da UNITA, "além de não materializar qualquer violação ao princípio da legalidade, encontra acolhimento pleno à luz do princípio da autonomia, corolário da liberdade de organização e funcionamento das formações políticas".

adalberto junior unita.jpg A juíza considerou ainda que a decisão sobre esta matéria configura "não apenas violação ao referido princípio de autonomia, mas também ao princípio de intervenção mínima do Tribunal Constitucional, igualmente necessário para salvaguardar a autonomia dos partidos políticos".

Mesmo antes da confirmação do TC sobre a anulação do XIII Congresso da UNITA, Adalberto Costa Júnior afirmou-se "absolutamente tranquilo", lamentando "interferências nos órgãos judiciais” questionando o "estranho silêncio" das autoridades, com a inerente morosidade. “Nós, estamos a aguardar que haja a publicação do eventual acórdão para depois podermos pronunciar-nos", afirmou Adalberto Costa Júnior, quando questionado pela agência de notícias Lusa.

unita04.jpeg O líder da União Nacional para a Independência Total de Angola considerou estar-se perante uma "circunstância muito séria em relação à credibilidade das instituições", bem como em relação à "função para a qual estas instituições existem". A UNITA, anuncia assim que o seu XIII Congresso, em que será escolhido um novo líder para o partido, será realizado até 04 de dezembro de 2021.

Adalberto Costa Júnior que foi eleito o terceiro presidente do partido, em 15 de Novembro de 2019, conquistou mais de 50% dos votos num universo de 960 eleitores e vencendo quatro candidatos: Alcides Sakala, Raul Danda (falecido este ano), Kamalata Numa e José Pedro Catchiungo. A marcação de um novo congresso que surge na sequência da anulação daquele XIII Congresso, de novo, é eleito Adalberto da Costa Júnior, entre 09 e 11 de Dezembro de 2021

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Nota1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos  espalhados pelo mundo.

Nota2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange, da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto, Isaías Dembo e, RTP - Notícias

(Continua…)

O Soba T'Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 10:54
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Quinta-feira, 4 de Julho de 2024
VIAGENS .180

NAS FRINCHAS DO TEMPO

DOS TEMPOS DE DIPANDA* - I e II CONGRESSOS DA UNITA

- Crónica 3591 – 04.07.2024

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto

unita21.png  Regressando ao carrocel do tempo e estando eu em vias de seguir então para a Venezuela, tomo conhecimento do IV congresso da UNITA realizado de 23 a 28 de Março de 1977 em Benda. Posto isto, irei recordar todos os Congressos da UNITA para daqui se tirarem conclusões no percurso de Movimento a Partido e, a partir de Muangai, seu primeiro bastião…

1 I CONGRESSO (Constitutivo)

Muangai que se tornou celebre, é o nome de um serpenteado subafluente do rio Lunguebungu. Os portugueses baptizaram-no com este nome, o antigo posto colonial situado na floresta densa do Moxico e, que viria ser abandonada nas primeiras acções de guerrilha.

Nessa histórica localidade teve lugar, no dia 13 de Março de 1966, o Congresso Constitutivo que marcou o nascimento da UNITA – União Nacional Para a Independência, na presença de dirigentes acabados de chegar da China Popular, autoridades tradicionais e populares da região.

unita11.jpg Com a presidência do Dr. Jonas Malheiro Savimbi, assistiu-se à entrada em cena política angolana, desta nova força; força esta que veio dar novo impulso à luta de libertação nacional com a participação directa de seus dirigentes no interior do país.

2 - II CONGRESSO

Teve lugar entre 24 e 30 de Agosto de 1969 o seu II Congresso Ordinário, sob a presidência do Dr. Jonas Savimbi, Aconteceu em Sachimbanda, Província do Moxico, com a presença de 80 delegados (55 civis e 25 militares). Neste evento, tomaram parte dirigentes do Partido a vários níveis e representantes do povo da região.

Foi definida a linha política interna e externa da UNITA e, estabelecida a orgânica do Partido e das FALA (Forças Armadas de Libertação de Angola). Foi constituído um Comité Central de 30 elementos dos quais, os primeiros 12 faziam parte do Bureau Político. O Dr. Jonas Savimbi foi confirmado como Presidente do Partido.

unita12.jpg  N’Zau Puna foi o escolhido para Secretário Geral, Samuel Chiwale como Comandante Geral e Samuel Piedoso Chingunji "Kafundanga" como Chefe do Estado Maior. Neste II Congresso, a UNITA reafirmou a sua linha política de não alinhamento aos grandes blocos.

Assim, por um lado, condenou a «continuação da agressão americana contra o Povo Heróico do Vietname», por outro lado, insurgiu-se contra a «descarada invasão da Checoslováquia pela União Soviética». Miguel N'Zau Puna - afirmaria que foi nesse II Congresso em que se confirmou a bandeira da UNITA.

unita20.jpg Foi um tempo difícil em que a UNITA aceitou continuar a lutar pela libertação nacional e, numa altura em que estava desprovida de meios para fazer a luta. É de louvar o espírito de entrega dos militantes da UNITA nessa fase muito difícil da luta armada. Este II Congresso, teve a participação do jornalista Steve Valentine que trabalhava para o Times of Zambia.

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Nota1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos  espalhados pelo mundo.

Nota2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e de anotações de Isaías Dembo.

(Continua…)

O Soba T'Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 19:42
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Sábado, 29 de Junho de 2024
VIAGENS . 179

NAS FRINCHAS DO TEMPO

DOS TEMPOS DE DIPANDA* - ONGWEVA É SAUDADE EM DIALETO AMBUNDO

- Crónica 3590 – 29.06.2024

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - Missão Xirikwata” em interlúdio

Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto

araujo65.jpg Assim só mesmo sou uma árvore cheia de música que caminha e assobia todos os pássaros de sua folhagem – Assim, assobiando aos passarinhos vi fora da vigia, janela do Boing A.340 fazendo raviangas ao redor das luzes da grande Luua, um cavalo branco no alvorecer dum dia coberto de nuvens brancas. Será? Foi? Disse assim, só no pensamento.

Em saber explicar como é o cheiro do peixe podre, da fuba azeda e até azeite de palma feito por um branco cangundo, mesmomesmo de ordinário sem educação. Assim muxoxando feito mabuba, com o indutor a queimar o induzido, afagando minha onça faço um interlúdio, ilibambo minhas jimbumbas de guerra pra libertar meu ilundo com musica de marimbas. Como é então? Pergunto-me!

araujo69.jpg N´Gola aiueé… A lei da gasosa, sim! Obrigado/a no retirar migalhas ao salário sem sempre conseguir garantir as vitais necessidades – um fenómeno unipartidário de quasequase cinquenta anos. Dos ganhos, sessenta por cento, vão direitinhos para pagar a máquina estatal que se subsidia, fundações, observatórios, kazucuteiros e tantos outros afins de e, a bem da nação, N´Gola da lusofonia… Balelas dos PALOPS! Uma guerra de impostos taxas e sobretaxas; incestuosas atribuições suportadas por sapatos JL caros, feitos de pele de jacaré do Lifune…

Hoje, muita gente desentendida a propósito, por cagufa ou prosápia, pergunta a este e aquele, porque estão saindo agora de Angola, do porquê, gente identificada com sua terra. Se a amam ou nela mamaram, porque fugiram? Do porquê de abandonarem a terra que tanto dizem querer? E, talvez com a leitura dum funil de lembranças, possamos reflectir das impossibilidades de ali permanecer,

araujo30.jpg As luzes do jeep viam-se ao longe e, o ruido rouco do motor com altos e baixos invadia a quieta mata do Kaprivi; Caputo, o marido umbigado com minha empregada Mary de Kampala, chegou chegando, batendo com o chapéu no joelho levantando o pó da picada. Com um gesto rasgado de amizade saudou-me enquanto lançava ordens ao cozinheiro para retirar as bikwátas trazidas de Catima Mulilo. Cheiravam a bosta de jamba (merda mesmo, de elefante)…

Lembrar-me hoje daquele Agosto de SETENTAECINCO. No aeroporto da Portela, recente Humberto Delgado, as senhoras prestimosas das Caritas e Cruz Vermelha (não todas, felizmente), iam despejando desaforos como muxoxos soprados subtilmente ou não: “Só nos faltavam estes ranhosos”. Eramos nós, dismilinguidos da vida, roubados e vilipendiados …

araujo51.jpg Eramos nós, sim! Retornados, Refugiados, Recambiados, assim mesmo murchinhos da silva, despidos de preceitos, ouvindo calados o desaforo de irmãos, de patrícios, de gente com nosso sangue! Gente do M´Puto - Isso doeu muito! Só não se lembra disto quem não quer lembrar! Num repente passamos a ser uns SEM-TUDO, uns sem-terra ou sem-nada,  manobrados daqui práli até se partir a canga, cangados sem relinchar (tratados como cavalgaduras…)

E, Portugal, o tal de M´Puto, acabaria por dar guarida a carrascos e fujões do MPLA, (desculpem-me a expressão) que de forma enrolada, misturada, se foi acomodando aqui e ali, salvando os hotéis e concebendo arranjinhos de safadeza, explorando os refugiados, ditos retornados – esquerdoidos a querer mudar-nos  através dum tal de PREC, Reformas Agrária de destelhar montes alentejanos e fazer comezainas com os bois do dono exilado no Brasil, ou no escambau (que nem sei aonde fica – coisas dum outro mundo…). Seguidamente e, antes da Grande Batalha do Cuíto,  vai recordar-se os Congressos da Unita…

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Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos  espalhados pelo mundo.

Nota 2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e comunicados da Jamba - Agência Kwacha UNITA Press (KUP)

Ilustrações aleatórias de Costa Araújo

 (Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 20:49
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Quinta-feira, 27 de Junho de 2024
VIAGENS. 178

NAS FRINCHAS DO TEMPO

DOS TEMPOS DE DIPANDA* - A HISTÓRIA DA JAMBA

- Crónica 3589 – 25.06.2024

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto

ROXO192.jpgComando e Direcção - Haviam três estruturas: as Forças Armadas, o Partido e o Governo. A figura principal era o velho kota Jonas que na linhagem das Forças Armadas tinha na hierarquia N´zau Puna e o Estado Maior General das FALA e todas as suas dependências orgânicas.

Pelo Governo respondia o Vice-Presidente Jeremias Kaluanda Tchitunda cuja sede estava depois da Praça do Canhão da Liberdade e o Secretariado Geral (estrutura política e comités coordenadores de bairros). Destacam-se os Ministérios da Educação e Cultura (Valentim e Jaka Jamba e Bunju), Saúde (Ruben Sikatu), Administração do Território (N`zau Puna)…

vazio1.JPG Ministério dos Recursos Naturais (Torres Kapiñala, Dias, João Tchitende, Jó Marcolino Prata) , Agricultura e Pecuária (Elias Salupeto Pena e Dario Katata), Informação (Jorge Valentim, Jaka Jamba), etc. Na Jamba o rigor e a disciplina superavam a inteligência, por isso construi-se uma sociedade onde a pontualidade, proteger o bem público e o respeito aos mais velhos eram itens sagrados…

Era proibido ingerir bebidas alcoólicas (só em ocasiões especiais, artigo 140 do código penal), o respeito pela mulher do companheiro, a protecção a crianças, idosos e diminuídos físicos, o estímulo aos melhores (alunos, militares, técnicos) eram uma DIVISA SAGRADA;

unita002.jpg Pelo exemplo da Jamba a Nova Angola há a obrigação de procurar inspiração ao empreendedorismo - disciplina forjados na Jamba, os que lá passaram tenham a coragem de se organizarem, resgatando a sua história base, em uma sempre presente Fundação Muangai.

Adicionar-se-ão  outras que criem e resgatem espaços antigos, que o Ministério do Turismo e todos agentes, a fim de coloquem nesta localidade Escolas de Turismo.  Uma vertente de preservar reservas naturais e ecológicas  com afins de historiadores e académicos de ali, alicercem seus conhecimentos, pesquisas que preservarão  as fontes orais e, antes que  desapareçam.

Termino a descrição sumária da JAMBA, Sem a preocupação gramatical, com o sujeito cutucando o verbo mais o predicado…, uma emergência confusa destes tempos conspurcados na metáfora, o quanto baste e, por vezes de alma torturada…, assim mesmo, jogando búzios na zuela do feitiço do tempo.  Com algum esforço, remexo nas panelas do esquecimento de uma  N´Gola cada vez mais distante do desejável progresso omitindo sistematicamente a UNITA!

t´chassamba3.jpg E, porque não sou só esqueleto, penso em kimbundo da Luua e Ambundo,  recordando falas de nossa terra, “ki tuexile tu ngó ifuba iatujunkura” - ainda não somos só ossos dispersos, “ifuba yetu iokune kala jimbuta” - Nossos ossos serão semeados como sementes… Assim no quizango, feitiço do livro de capa amarelecida e, recordando aos mwadiés camundongos que sempre fingem ser sapientes…

Falei! Seguir-se-ão outras sagas, recordar os Congressos e novas batalhas com o actual líder Adalberto da Costa Júnior, Presidente da UNITA….

Claro que haverá muito mais estórias para se boligrafar!

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Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise angolana e, na diáspora de angolanos  pelo mundo.

Nota 2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e relatórios da Jamba - Agência Kwacha UNITA Press (KUP)

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 18:24
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Sexta-feira, 21 de Junho de 2024
VIAGENS. 177

NAS FRINCHAS DO TEMPO

DOS TEMPOS DE DIPANDA* A HISTÓRIA DA JAMBA

- Crónica 3588 – 21.06.2024

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji)** O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto

luua27.jpg Organização Administrativa e territorial da Jamba: BI (Batalhão de Instrução militar) - começou por ser o local aonde eram treinados militares para os primeiros batalhões; lugar aonde se faziam as principais demonstrações públicas internas e, ou viradas para o diálogo com o mundo. Passou mais tarde a ser habitado por famílias ligadas à instrução, preparação e ensino de tropas (parecido ao actual Cabo Ledo)…

Centro Integral de Formação da Juventude – CENFIN: Lugar onde eram recebidos, formados e educados jovens/adolescentes órfãos ou que não tivessem familiares directos na região da Jamba - Era dirigido pelo ex-deputado, ex-Secretário-geral da JURA Piedoso Tchipindu Bonga; - Foi dos melhores sítios onde foram formados ilustres cidadãos que hoje são políticos, oficiais das FAA e professores… O destaque vai para o Mestre e Professor Álvaro Tchikuamanga, David Tchipassu (Professor Universitário), Nataniel N´Dondo (Engenheiro em empresas de Petróleo e ex-bolseiro na Costa do Marfim).

unitao1.jpeg VORGAN - Era neste local onde eram emitidos em ondas curtas a voz da resistência do galo negro (com equipamentos sofisticados para época e concorrente da RNA); - Toda a acção de comunicação e propaganda era feita na VORGAN com destaque na rádio, boletins informativos, agência Kwacha UNITA Press (KUP) que era a concorrente da Angop

Muitos destes profissionais estão hoje a trabalhar em Angola e na diáspora. Destaque para Clarice Kaputu, Deolindo Kaputu, Inês Cardoso (TPA), N´Guida Paulo (RNA), Manuela Kazoto (Despertar), Bela Malaquias (Ex-Administradora da RNA), Raul Danda (RNA, actor e Deputado), Emanuel Kapanda (ex-locutor infantil e agora na Assembleia Nacional);

Esquadra de Polícia - Como qualquer estado, a esquadra de polícia servia para ajudar e disciplinar eventuais condutas fora da lei; havia o código penal e regras claras para todos. Dirigiram a polícia pública destacáveis profissionais como o Comissário Madaleno Tadeu, os falecidos Evaristo Ramon Tchitumba  e o Comissário Isaías Tchingufu  (co-fundador em 1975 do primeiro corpo de Polícia de Angola Independente e, que chegou a ser nos anos 90, Director Nacional de Ordem Pública da Polícia Nacional de Angola).

swakop10.jpg Hospital Central da jamba - Já falou dele; também o OFICENGUE que eram as oficinas Centrais que ajudavam a reparar material de guerra e outros artefactos; Alfaiataria Central - Dirigidas pelo mítico Trinitá que tinha a obrigação de confeccionar vestuário e fardamento para TODOS; Aeroporto Internacional Comandante Kazombuela que cumpria com os objectivos dum aeroporto permitindo a entrada e saída de bens e pessoas para o diálogo com o mundo.

Quartel General – QG: Era a estrutura administrativa principal onde funcionava o Governo, o Liceu Nacional da Jamba, as TRMS (comunicações militares), os Serviços de informação militar e civil, O Estado Maior General das FALA, a UIREAL, o SINTRAL, o Secretariado Geral do Movimento/Partido e suas organizações de Massa LIMA e JURA…

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Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos  espalhados pelo mundo.

Nota 2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e relatórios da Jamba - Agência Kwacha UNITA Press (KUP)

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 05:24
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Terça-feira, 18 de Junho de 2024
VIAGENS. 176

NAS FRINCHAS DO TEMPO

DOS TEMPOS DE DIPANDA*A HISTÓRIA DA JAMBA

- Crónica 3587 – 18.06.2024

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto

namibia36.jpg No sistema escolar da Jamba, o domínio de Francês e Inglês era obrigatório, por isso TODOS os ex-alunos pelo menos, falam e escrevem uma língua nacional, escrevem e falam bem português e falam pelo menos uma língua estrangeira; Um aspecto importante: Era obrigatório nos liceus a escolha pelo aluno duma língua nacional e a obrigação de apreender sem titubear matemática e português.

Havia um ensino mais ovacionado para relações internacionais e,  para isso, tinham em seu curriculum outras incidências técnicas dirigidas para o esforço militar sobretudo. Para o efeito, alguns eleitos, por via de suas capacidades,  iam para Bona (Alemanha), África do Sul, Marrocos, Portugal, França, Inglaterra, EUA e lá onde existia cooperação firmada.

namibia35.jpg No tocante à saúde, todos os lugares e comunas, tinham postos médicos tendo no  topo o hospital central da Jamba dirigido por médicos Angolanos; estes hospitais funcionavam tanto para civis, crianças como militares e dependentes dum Ministro da Saúde que coordenava a estrutura de saúde em todo país, gratuitamente. Dos médicos destacam-se Anastácio Sikatu (foi Ministro em Luanda e actualmente deputado), Manassas (foi Ministro em Luanda), Albertina Hamukuaya (foi Ministra em Luanda);

Serafina Gama Paulo (irmã do cantor Mário Gama), Raimundo (foi deputado), etc.; . - Destaca-se ainda o grande cirurgião de nome Tenente que formou grandes cirurgiões e, que são hoje, dos melhores nas FAA e, em vários hospitais públicos e privados. Também Carlos Morgado, antigo médico pessoal de Jonas Savimbi, que morreu em Outubro de 2013, em Lisboa   Ex-militante e dirigente da UNITA, Carlos Morgado acompanhou Abel Chivukuvuku, na saída da UNITA e que  esteve envolvido na fundação da coligação eleitoral Convergência Ampla de Salvação de Angola (CASA-CE), terceiro maior partido angolano.

namibia37.jpg O paludismo não matava crianças e era impossível existir endemias porque para além do aspecto sanitário os programas de vacinação e saúde preventiva sempre funcionaram. Aspectos sociais: Como os recursos eram escassos, a administração dos mesmos eram feitos com disciplina, sem desvios/roubos, distribuição equitativa, entre outras boas práticas.

Roupas, detergentes e bens materiais eram distribuídos protegendo os mais desfavorecidos (crianças, órfãos, velhos, doentes) premiando a excelência; . Desporto e cultura - O desporto com destaque ao futebol eram obrigatórios e existia campeonato nacional onde se destacavam os clubes Estrela Negra, Estrela Vermelha, Mártires da Liberdade, UREAL, etc.

Ainda vivem muitos destes protagonistas como o Genial Wambu (Chegou a Presidente da Federação de futebol), Lito Kandambu (actualmente Deputado e antigo jogador do Estrela Negra, Vermelha e UREAL), Tito Marcolino (Jornalista do Folha , Félix Miranda, Jessé, Zé Manel, Camilo, Satchiambo (Quadro Do Mirex), Tchituku, Beto Tchindombe, Tony Tchivemba, etc;

namibia38.jpg Havia o Movimento Sindical e Estudantil - Destaque para o SINTRAL (sindicato dos trabalhadores de Angola Livre) cujo primeiro presidente é Franco Marcolino Nhany (actual Deputado e Secretário Geral da UNITA), da UREAL (União Revolucionária de Angola Livre) cujo primeiro Presidente é o actual Deputado Estevão José Pedro Katchiungo e antigo bolseiro em Portugal e, por algum tempo representante da UNITA no M´Puto…

namibia39.jpg

Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos  espalhados pelo mundo.

Nota 2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e relatórios da Jamba - agência Kwacha UNITA Press (KUP)

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 09:02
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Sexta-feira, 14 de Junho de 2024
VIAGENS. 175

NAS FRINCHAS DO TEMPO

DOS TEMPOS DE DIPANDA* A HISTÓRIA DA JAMBA

- Crónica 3586 – 13.06.2024

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto

roxo170.jpg Do ponto de vista Administrativo a JAMBA funcionava como capital como qualquer Estado do mundo com estruturas que atendiam a Defesa e Segurança, economia, agricultura, pecuária, indústria, educação, saúde, etc. Na Defesa e Segurança, por se estar em período de guerra, todos os seus habitantes tinham a noção clara de que a sobrevivência colectiva dependia basicamente da  instrução  militar com o adequado uso das diferentes armas.

Assim sendo todos os jovens do sexo masculino ao atingirem a idade adulta tinham de ter preparação militar e política para que pudessem ser úteis a si próprios com a necessária cidadania, prontos para integrarem os mais variados órgãos de defesa, diplomacia e segurança se necessário , aprendendo técnicas de comunicação,  informação e contra-informação.

mulola2.jpg Sua estrutura social que tinha pendor militar e paramilitar exigia que usassem vestimenta adequada ao seu enquadramento e, segundo suas aptidões e funções; assim, todos os homens poderiam ou deverem estar fardados dos pés à cabeça. Os dirigentes, tinham por norma graduações militares, podendo andar armados… Eu próprio (T´Chingange), na diáspora,  caso fosse para a Jamba, teria o tratamento do posto de Major…

Como qualquer estado, existiam as polícias (secreta, ordem pública e outras), forças especiais (comandos), batalhões regulares e semi-regulares e forças especiais de guerrilha, etcOs sistemas de comunicações e intercepções militares que em áfrica, poderiam até superar África do Sul, tinham para além dessa, a Israelita, Alemã e Norte Americana. Tinha a VORGAN, rádio resistência das terras Livres de Angola que tinha por missão dar a informação e esclarecer a forma diabólica de como Luanda fazia passar a noticia - com muita deturpação…   

vorgan1.jpg O factor de disciplina e rigor era primordial. A UNITA teve o condão de  introduzir códigos feitos por angolanos, usando parcialmente e, de forma conjugada, usando línguas nativas angolanas. Falando de comunicações e intercepções por exemplo, não havia nenhum plano operativo das FAPLA e da sua força aérea, que não fosse conhecido o que, permitia aos chefes militares delinearem planos de ataque e defesa eficazes…

No tocante ao ensino – foram criadas  escolas do ensino geral e profissionais essencialmente dirigidas por antigos professoras da Administração Colonial,  das missões protestantes e católicas e gente entretanto já formada na Diáspora, em universidades de variados países principalmente europeus e africanos. O Liceu Nacional da Jamba era dirigido pelo Padre Justo Félix.

vorgan2.jpg Leccionavam nos liceus e não só, os melhores quadros que transitaram da administração colonial e do estrangeiro com conhecimentos académicos e científicos certificados. Passam assim à memória os Professores/as: Francisca Prata, Eugénio Manuvakola, Bunju (chegou a ser Ministro da Geologia e Minas de Angola), Elias (vinha dos EUA), Heitor Simões, Toya Tchivukuvuku, Kapapelo, Padre Bongo, Simões Bernardo, Bela Malaquias, Joia Wassuka, Madre/irmã Maria, entre muitos outros e outras.

Na área de ensino de Transmissões Militares por exemplo, não haviam férias e, num ano civil era possível fazerem-se dois anos lectivos, permitindo assim ter em pouco tempo mais letrados e prontos para as tarefas intelectuais. Os melhores alunos (média igual ou superior a 15 valores) eram seleccionados para continuarem a estudar na Costa do Marfim, Senegal, França e Portugal, entre outros…

ARAUJO248.jpg

Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos  espalhados pelo mundo.

Nota 2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 07:21
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Sábado, 8 de Junho de 2024
VIAGENS. 174

NAS FRINCHAS DO TEMPO

DOS TEMPOS DE DIPANDA* A HISTÓRIA DA JAMBA

- Crónica 3585 – 08.06.2024

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto

helder12.jpg A história da Jamba tem como seu fundador o Dr. JONAS MALHEIRO SAVIMBI no ano de 1979. É esta a génese da independência dos Ovimbundo em seu  ramo político. Jonas Savimbi, o Presidente do Movimento de União Nacional para a Independência Total  de Angola – UNITA, decidiu que era fundamental a Direcção do Movimento ficar SEMPRE em território Angolano (só a partir da Grande Marcha e, após a fuga  do território angolano, esteve na região do Delta do Okavango na Namíbia).

Para a construção da Jamba contribuíram angolanos que levaram experiência por via da Administração Colonial Portuguesa - Noções de Administração e planeamento do território. De destacar  os angolanos autóctones e muitas figuras míticas como por exemplo o falecido Capitão N´djeke (da etnia Kamussekele). Realça-se o Capitão N´djeke e, sua etnia porque ,mesmo sendo minoria, trazia com ele um conhecimento ancestral e lições de como tornar possível o respeito pelo ambiente, seus equilíbrios e usos dos donos da terra, temas obrigatórios que hoje, o  são prática comum nos meios urbanos e, em países ditos avançados.

guerra40.jpg Por seu valor histórico, político e económico a JAMBA, deverá ser transformada em um Município, ser uma das Capitais do Turismo, MUSEU do MUNDO. Isto porque, será a partir deste lugar que se possibilitará ver em estado selvagem a melhor e maior reserva de elefantes do planeta. Mas, entre outros animais destacam-se  zebras, cangurus africanos, palancas, chimpanzés ou macacos

Neste ambiente natural, existem  variadíssimas espécies da flora, algumas ainda nem catalogadas; é o lugar por excelência de África, ainda virgem para entusiasmar pesquisadores, botânicos e cientistas em geral. Estes recursos naturais terão de ser o verdadeiro suporte promovendo o bem estar para TODOS e, no mais curto espaço de tempo.

guerra6.jpg Por ora (naquele então), haveria que resistir e sobretudo “contar essencialmente com as nossas próprias forças” transformando “todos os braços e cabeças” em prol da comunidade, mantendo a resiliência possível perante tanta adversidade estimulada e incentivada pelos notáveis resistentes, inventando, muito para além do imaginário.

E, assim tornando possível a vivência a partir do plausível, teremos de rever os heróis que todos foram, cada qual do seu modo singelo ou capaz de entre  os mais hábeis, os melhor apetrechados de saber, a dirigirem seu povo civilmente ou militarmente.  Assim conhecerão de foram exaustiva nomes  que fizeram saber querer.  Angolanos como Jonas, Rússia, Tchiyuka, Tchiwale, Jaka Jamba, N´zau Puna, Samakuva…

guerra19.jpg E,Tchilingutila, T´Chipilika, T´Chitunda, Valentim, Hamukuaya, Tchata, Danda, Antoninio, Liberty, Ekuikui, N´gamba, Kanutula, Camundongo, Tembi-Tembi, Katchiungo, Sakala, Pena, N´dachala, Numa, Kandambu, Assobio da Bala, Tchingundji, Kahombo, Makanga, Morgado, Puna, Tony Fernandes, Hamukuaya, N´delitumbula ou Chivukuvuku…

A lista é grande e, alguns ficarão no rol de esquecidos, somente  por omissão. Temos assim, Kavulandungue, Calakata, Vituzi, Kalunga, Tarzan, Vakulukuta, Vahikeny, Tchindandi, Prata, Kalhas, Sanguende, Cinco Reis, Epalanga, Kalinoni , Cachiungu e, tantos ilustres. Por ultimo o actual Presidente da UNITA, Adalberto da Costa Junior. Angolanos e outros anónimos que acreditando nos seus ideais e resistindo a tudo dentro ou na diáspora, colocaram no mapa do mundo a futura capital do turismo mundial: JAMBA.

Acácia rubra1.jpg

Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos  espalhados pelo mundo.

Nota 2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 15:25
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Quarta-feira, 29 de Maio de 2024
VIAGENS . 172

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA*“ - Crónica 3583 – 29.05.2024

“FRACCIONISTAS DO MPLA DA LUUA – O 27 DE MAIO DE 1977”- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto

guerra14.jpg Justino Pinto de Andrade, elemento da Revolta Activa, preso antes do 27 de Maio, conta na primeira pessoa, “Na noite de 23 de Março levaram, para nunca mais voltarem, inúmeras pessoa: Ademar Valles, irmão de Sita Valles, o engenheiro Rosa, que nada tinha a ver com o 27 de Maio, o Cachimbo, um laranja do MPLA que havia assassinado o engenheiro Betencourt  Faria, em seu Observatório da Mulemba…

Também o comandante Bogalho, combatente do MPLA, que se juntou a Chipenda em Lusaka… O Bogalho foi trespassado pelas balas ou então, como se ouviu dizer, pelas baionetas dos seus algozes. Foi uma verdadeira “noite das facas longas”. Para muitos e em demasia, foi mesmo o fim! E,, só depois de se localizar o local do enterramento de  seus corpos, só então, se poderá cicatrizar essa ferida de tamanho descomunal…

faria1.jpeg A frase proferida por Agostimho Neto que ficou para os vindouros foi a de: “amarrem-nos aonde forem encontrados”. Manuel Ennes Ferreira um preso político do processo OCA, torturado,  relembra: “Às 07h 30 do dia 27 daquele Maio, cheguei ao liceu N´Zinga M´Bandi  para dar aulas. As movimentações na rua e os tiros, colocaram os alunos e os professores em polvorosa”.

Dali por três dias, voltei e fui à cantina da universidade para almoçar. O general N´Donzi chegou e, da porta apontou para o Fuso e o Jorge Basófias; como estava na mesma direcção, gelei! Alguns dias depois segui o mesmo caminho, São Paulo e Campo do Tari”

faria2.jpeg As mulheres detidas eram alvo de violência psicológica e sexual. Nos interrogatórios os agentes e guardas apareciam e, “sobre os seus corpos desnudos despejavam a mais torpe violência” revela Américo Cardoso Botelho, em “Holocausto em Angola”. A comandante do Batalhão Feminino, que tinha conduzido o ataque à cadeia de São Paulo para libertar os apoiantes de Nito Alves, que impedira depois o fuzilamento dos militares da Revolta Activa  e da OCA pelas forças revoltosas, acabou por ser detida.

Quando a situação mudou e as tropas fieis a Neto passaram a controlar os acontecimentos,  deixaram que aquela , porque estava grávida, tivesse a criança mas, depois, espancaram-na durante três dias e três noites, segundo o livro “Purga em Angola no 27 de Maio de 1977” de Dalila e Álvaro Mateus .  Disseram: “ Ela cantava sem parar – a voz enlouqueceu-lhe mas, nunca parou de cantar  até ser fuzilada”

araujo 25.jpg Os interrogatórios eram feitos com as detidas nuas ou seminuas . Usavam os mais variados instrumentos para penetrar as vaginas das detidas. A uma portuguesa branca, obrigaram-na a despir-se para limpar com a roupa o sangue nas selas onde decorriam os interrogatórios. Os guardas voltavam a atirar aquela água suja para o chão , obrigando a limpar de novo.

Enquanto isso lançavam impropérios e davam-lhes pontapés aonde quer que fosse. A uma das prisioneiras, massacraram-lhe tanto os joelhos com uma tábua que doente meses ficou desvalida, quasequase sem conseguir andar. Outra foi colocada no centro de um grupo de agentes e militares, inteiramente nua, sob uma forte iluminação, “sendo alvo dos piores insultos com apreciações jocosas de seu corpo, seguida de agressão física”– conta Américo Botelho…

ARAUJO248.jpg

Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos  espalhados pelo mundo.

Nota 2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange, de outros referidos em texto e da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto…

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 20:00
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Sábado, 25 de Maio de 2024
VIAGENS . 171

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA*“ - Crónica 3582 – 24.05.2024

“FRACCIONISTAS DO MPLA DA LUUA – O 27 DE MAIO DE 1977” - Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto

chicor4.jpg Herminio Escórsio continua sua descrição quando da visita à Fortaleza de São Miguel: “O único que não veio falar comigo, envergonhado, foi o David Aires Machado (Minerva), até então Ministro do Trabalho. O Zé Van-Dunem perguntou-me pelo pai e, disse-lhe que o velho Mateus estava desfeito, que nem ele, nem ninguém, esperavam que ele, Zé, se metesse numa encrenca tão grave. O Zé, por fim, pediu-me para, ao menos, olhar por seu filho”.

Sou eu a falar: Neste entretanto o rapto de meu pai, (gente simples e alheia a tudo como tantos outros), estava a ser efectuado junto aos Correios da Maianga, um modesto “segurança nocturno do Banco de Angola” e que, em exercício, por ali passou fardado, como sempre fazia, noite após noite. Não foi no sítio errado, mas numa hora de azar,

lua1.jpg Aconteceu quando por toda  a Luanda se faziam altercações com fuzilamentos sumários nas ruas, nos largos, nos hospitais e cadeias. Meu pai Manuel Monteiro, recorda que a uma pergunta feita, deu uma resposta, ao qual logologo o meteram amordaçado em uma carrinha do tipo toyota hiace. A pergunta foi a, de se estava bem com o presidente Agostinho!?

E, a resposta dada foi Sim! Mal sabia ele que aquele  era um grupo afecto a Nito Alves (deduziu isso, por via das falas que se lhe seguiram). Bem! O resto já foi contado lá atrás e o caso, nem é relevante para o contexto geral e neste acontecido de tanta projecção nacional e internacional (fim da minha fala…).

an2.jpeg A repressão estende-se ao ano de 1978. Nas muitas petições a Agostinho Neto feitas por notáveis é referida a violência. dos guardas, as péssimas condições de alimentação e higiene nas prisões, com ratos, baratas, aranhas e outras bichezas coexistindo com os presos e, em celas superlotadas.

A comida é servida em pratos de alumínio já retorcidos e, sujos como se o fossem cachorros. O arroz e feijão tinha gorgulho e em alguns casos, são obrigados a beber água das latrinas. Nos campos para onde eram levados os presos, a vida era duríssima. No campo do Tari, “passávamos fome, tinhamos muito frio.

PUXASACO.jpg A saudade morava dentro de nós com a permanente incerteza; a raiva era mais que muita e o medo demasiado teimoso. “As ratazanas que mais pareciam coelhos aguardavam nossos descuidos para nos ratarem as orelhas dos pés. Nos sonos inquietos havia gritos”; é José Reis, um ilustre desconhecido que sim o conta, mais tarde.

Com tanta falação interna e internacional, Neto distancia-se da DISA, de seus métodos com excessos cometidos levando-o a extingui-la em Julho de 1979. No ar de boca em boca, na vizinhança sempre se ouvia alguém dizer: “O meu filho desapareceu”. E, era forçoso assim, acabar com as testemunhas incómodas. Com a lei 7/78, Neto institui na prática, oficialmente, a pena de morte para quem cometia crimes lesivos à segurança do Estado…

diogo3.jpg

Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos  espalhados pelo mundo.

Nota 2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto…

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:50
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Quarta-feira, 22 de Maio de 2024
VIAGENS . 170

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA*“ - Crónica 3581 – 22.05.2024

 “FRACCIONISTAS DO MPLA DA LUUA – O 27 DE MAIO DE 1977” - Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto

ARAUJO237.jpg CHE com 47 anos de idade (ano de 2024), filho de José Van Dunem e Sitta Valles, sobrinho de Francisca que foi Ministra da Justiça e da Administração Interna do XXII governo do M´Puto (Portugal) e,  com quem foi educado, descreve assim sua estória de vida: “Nasci em Luanda em Fevereiro de 1977, três meses antes do 27 de Maio. Com o desaparecimento de meus pais, de outros familiares e amigos próximos, fui levado para o M´Puto…

Perante a falta de informação sobre o paradeiro de meus progenitores, estando Luanda em contexto de caça aberta ao homem com fuzilamentos em grande escala por todo o território de N´Gola, meus avós maternos decidem levar-me para Portugal em Outubro desse fatídico ano, juntando-nos à minha tia Francisca.  Por fases, fui descobrindo essa parte do meu passado…

Araujo2251.jpg Durante a minha infância contavam-me apenas o indispensável. A partir da minha adolescência, o meu tio João, um irmão mais novo de meu pai, desempenhava um papel importante na revelação dos acontecimentos. Também ele, tinha estado preso, detido em Cuba e levado para Luanda, sobrevivendo à chacina. Regressei a Luanda pela primeira vez em 2005, com 28 anos…

Tinha noção que o meu retorno seria uma questão de tempo. Tinha a consciência que os meus pais se tinham em Angola, batido com dignidade e determinação pela edificação em Angola para uma sociedade justa, em que a solidariedade pudesse substituir o egoísmo e ou a exclusão…

ARAUJO254.jpg Entendi que não fazia sentido não lutar pelo mimo projecto de sociedade na terra onde nasci. Em 2009, decidi que não devia protelar mais e que era chegado o momento certo para voltar  a Angola. Parece-me importante desmistificar a versão criada pelo poder…

Cabe aos especialistas trazer alguma luz sobre o 27 de Maio e fazer também a avaliação do papel histórico que a minha mãe Sita, também o meu pai e, muitos outos camaradas seus, como Juca Valentim, Nito Alves, Monstro Imortal, Bakalov e tantas outras figuras tiveram no período da luta pela independência e neste processo do 27 de Maio em particular”.

Sabe-se que Sita naquele momento de desvario, tentou enviar uma carta à missão soviética através da mulher de seu  irmão Ademar. Onambwé, um dos chefes da DISA, sabe e diz à mulher de Ademar que se lhe tivesse entregue essa carta, o marido seria poupado. Entretanto, Sita e José Van-Dunem são capturados. Entram no Ministério da Defesa de mão dada sendo de seguida levados para a Fortaleza de São Miguel.  Sita é ali violentada, violada, e selvaticamente torturada.  Recusa ser vendada na altura do sumário fuzilamento.

COSTA3.png Herminio Escórsio, chefe do protocolo da presidência nesse ano de 1977, afirma:- Fui à Fortaleza de São Miguel aonde encontrei o Zé Van-Dunem descalço e coberto por um lençol, o Juca Valentim  e o Nado.  Ainda falei com o Jacob João Caetano (o Monstro Imoral), chefe do Estado-Maior-adjunto da FAPLA e outros quadros…  AGORA FALO EU: COM A MINHA KIZOMBA!  EU ME ENGANEI, TE DOU RAZÃO. EU SABIA – SEI, MAS TU VÊ SÓ MERMÃO (salvo o seja), MINHA KIZOMBA TEM TUJI DE SALALÉ, NO MUTUÉ AMI DO ESQUECIMENTO DE MUITOS, MAZÉ TAMBÉM DE MUITOS ANOS - CADAVEZ JÁ É DOCUMENTO

llutrações de Costa Araujo

Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos  espalhados pelo mundo.

Nota 2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto…

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O Soba T´Chingnge 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 22:47
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Domingo, 19 de Maio de 2024
VIAGENS . 169

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA*“ - Crónica 3580 – 19.05.2024

“FRACCIONISTAS DO MPLA DA LUUA – O 27 DE MAIO DE 1977” - Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto

monstro3.jpg A um deixe para lá senhor TC (de Tenente Coronel), descanse, ele reclamava: Foi assim mesmo, dizia isto para nózes (plural de nós) com duas lágrimas estancadas no rosto, que secavam em seguida. E, desse jeito continuou: - «Presos atirados pelas escadas e, no pátio, espancados só átoa. Berravam e pediam por amor de Deus, não fiz nada…

Quase sem vida eram atirados para dentro de viaturas. Até um mercenário norte-americano, lembro bem, comentou no pormenor: Yes yes, era em um bairro chamado de Bungo bem à beira mar. Você não colabora - vejo-me obrigado a entregá-lo aos militares. «Os detidos passavam para os militares, e para as torturas.» baia de S. Pedro da Barra, uma faixa de terra entre a linha do Caminho-de-Ferro e o mar.

255.jpg «Carlos Jorge, Pitoco e Eduardo Veloso chicoteiam o Costa Martins, batem-lhe com um pau com espigão de ferro, massacram-lhe as costas com correias de uma ventoinha de camião. Ao chicote chamavam Marx e, ao espigão, Lenine. Também o puseram numa sala, junto a uma máquina de choques eléctricos. Só cheirava a carne queimada.»

Este Tenente-Coronel estava mesmo nas últimas; nem sei se estes nomes existem mesmo. Junto com o ranho e as excrescências tossicadas pude ver grossas pastas de sangue. Os cuidados esmerados daquele grupo de gente já não alcançariam êxito de vida para aquele imortal.

monstro1.jpg Naqueles tempos ainda nem sabíamos que usavam a propaganda de forma exaustiva na falácia de tudo vir a ser uma liberdade linda em Angola! Não! Não conhecíamos as filosofias do mal… Nos intervalos dos lapsos de memória quase petrificado, posteriormente, este velho Tenente-Coronel, ex-vizinho, esfarrapado de mente falava no tempo desencontrado - os efeitos da Luua no quarto decrescente, penso eu-de-que!

Babando-se pelo canto esquerdo descaído, insensível ao cérebro abanado por uma trombose, com a lentidão na descrição das coisas graves, titubeava muxoxos – Hum, a kalashnikov, a febre do paludismo, dos malvados da UNITA… E, tudo era na mistura com bolas de trapos, meias a cheirar a sulfato de peúga, impregnando a desconversa!

monstro6.jpg Entre a vida e a morte, as diferenças estão nos pormenores pois algumas são demasiado trágicas e outras, por demais sofríveis… Ele teve a sorte de morrer num ai, repentinamente - a bala do monacaxito… Aquele senhor fardado com um pijama às riscas, sentado num sofá de orelhas, olhava para o infinito, definitivamente.

Saí daquele para um outro lugar, lugar de Chokola num jeep willis até Catima Mulillo aonde apanhei um voo até Lusaka. Ainda estou em crer que aquele velho senhor não era esse tal de Monstro Imortal do MPLA mandado matar por Agostinho Neto. Seja como for, para mim o Tenente-Coronel fardado de pijama às riscas deixou de ser Imortal, defuntando-se.

monstro2.jpg

Nota1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos  espalhados pelo mundo.

Nota2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto…

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O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 18:57
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VIAGENS . 168

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA*“ - Crónica 3579 – 17.05.2024

 “FRACCIONISTAS DO MPLA DA LUUA – O 27 DE MAIO DE 1977” - Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto

araujo154.jpg É verdade que Ele, o Nosso Senhor nos dá Sua paz, mas isso só se trata daquela espécie de paz que provém do espirito: “isso está certo? É isso mesmo o que eu devo entender?”. Será que em cada dia tenho de incentivar meu ânimo para resistir àquilo que sei estar errado!? E, claro, alegrar-me-ei no caminho cristão legado por meu pai Monteiro de sobrenome…

Lembrar-me agora daquele ex-vizinho, que feito Tenente-Coronel, se fardava com um pijama às riscas sentado num sofá preto de orelhas. Passado dos carretos, já kota, era alto em sua juventude mas agora curvado com o peso das traquinices  do seu MPLA, tornou-se num espeto seco, desmilinguido, invulgarmente marreco e bexigoso por tantas ruindades frutificadas na violência - vicissitude da política.

monstro1.jpg E, o tempo foi passando. Em um momento de lucidez perguntei ao TC por seu nome e veio de lá a resposta: Monstro Imortal! Ué? Fiquei de boca aberta pois que este figurão tinha sido morto na guerra dos fraccionistas naquele ainda recente ano de 1977, ano em que meu pai Manuel, foi para o M´Puto com uma bala no corpo.

Isto, há coisas que só acontecem acontecendo! Constava-se que o tinham cegado mas nada lhe perguntei porque o delírio da velhice pode bem dar para estas divagações; ele via mal, mas via! Sendo assim deixei-o a falar entre dentes; -Aquele cabrão do Pedalé (Pedro Tonha) nem teve coragem para me fazer perguntas.

monstro6.jpg Deixaram-me ali a gemer para um gravador, enquanto apertavam o garrote - Iam e vinham; iam e vinham. Atiraram-me ao mar de um avião mas sobrevivi! Será? A história coincidia com os muxoxos mas aqui, num lugar do cú de Judas, já ninguém lhe dava ouvidos. Todos sabiam que tinha chegado em uma avioneta trazido por um homem loiro; talvez uma ONG falsificadora! Pensei eu.  Deve ter sido salvo por um submarino soviético, só pode!

Agora que diz coisa sem coisa, todos os desculpam de coitado, nem sabe o que diz, nem sabe o que fala! Muito cheio de catolotolo a dado momento fica apontando a miragem do seu sonho referindo-se ao porto da Luua: aonde dinamizava homens para não carregar as bikwatas dos colonos brancos e mazombos- gente zebra…

monstro4.jpg Sobressaltado, com os olhos muito abertos falava pró vazio: Hoje vai haver maka! Repetia a  todo o instante. E, punha-se a rir no canto do beiço babado, contando centenas de mortos e ordens de carrega nos unimogues dos Tugas, ofertas do MFA - leva na vala. Nosso Coronel, fazemos como então, com os feridos? - Leva tudo junto e, bota neles cokteil molotov!

Esbufarado com as kinambas a tremer dava ordens. Ordens são ordens e,  rapidamente dali e acolá saiam frotas de carros goteando sangue nas ruas da Luua até chegar à casa mortuária da Avenida Craveiro Lopes ou Avenida de Lisboa. A lamparina dele acendia e apagava num repentemente junto à Delegacia de Saúde, ali bem perto da mortuária, assim com tecnologia nova, de correia de defuntação. Creio que era sim, muitos diabos a torcê-lo pelas maldades.

monstro3.jpg Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos  espalhados pelo mundo.

Nota 2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto…

 (Continua…)

O Soba T'Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 10:29
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Quarta-feira, 15 de Maio de 2024
VIAGENS . 167

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA*“ - Crónica 3578 – 18.05.2024

 “FRACCIONISTAS DO MPLA DA LUUA – O 27 DE MAIO DE 1977” - Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto

luandino2.jpgMeu pai Manuel, passou coisas inimagináveis em Angola e, já kota, teve de voltar ao M´Puto com a vontade de ficar, por força desse dia 27 de Maio no ano de 1977. Estava pintado de manchas já negras de sangue, guiado por duas canadianas. Assim o vi, no aeroporto da Portela de Lisboa (actual Humberto Delgado), perna pendurada e ainda com uma bala junto à rótula do joelho.

Lá na Luua os mortos eram tantos e, por tantos lados, que o médico Boavida do Banco de Angola o mandou para o M'Puto; não fossem os pseudo médicos cubanos cortarem átoa a mesma! E foi no Hospital de Torres Novas do M´Puto que tirou a dita cuja - a bala! Teve a sorte de não gangrenar!

monteiro1.jpg E li algures de que «As forças de segurança prenderam muita gente jovem que, na manhã de 27 de Maio de 1977, andava nas ruas de Luanda. Centenas deles foram levados para um Centro de Instrução Revolucionária na Frente Leste e os dirigentes locais assassinaram-nos friamente.» - Nas Faculdades desapareceram cursos inteiros. No Lubango, dirigentes e quadros da juventude foram atados de pés e mãos e atirados do alto da Tundavala

sorte2.jpg Os tamancos de pinho do M´Puto de meu pai, não eram suficientemente quentes para animar o dia que se seguia naquela terrinha chamada de Barbeita  e, vai  daí, meu pai tentou a Venezuela e o Uruguai mas as facilidades só lhe surgiram para a África - Terras Ultramarinas de Portugal. Deram-lhe passagem de colono após preenchimento de impressos timbrados com a esfera armilar.

Através da Companhia Nacional de Navegação zarpou no tal vapor Mouzinho de Albuquerque por volta do ano de 1950. Nós, família, ficamos a morar no Rio Seco da Maianga da Luua, início do Catambor. Nos fios de gastas crenças, tão corcovado, tão enrodilhado em suas macias filosofias de mineiro de volfrâmio, recordo meu pai Manuel, suspirando baixinho…

araujo100.jpg Revendo sua miúda indecisão de viver, vendendo volfrâmio para dar rijeza aos canhões de Hitler, assim - para sobreviver na “graça de Salazar”, guerra acabada, houve necessidade de mudar o rumo à vida. Um dia, com um trejeito de esforço, endireitou-se emperrado e cresceu! E, falou: - Amanhã vou à Companhia Colonial de Navegação inscrever-me - Vou para Angola! E, foi

Ora sucede que passados muitos anos, nesse 27 de Maio de 77, veio da Luua inchado de porrada e com uma bala nos joelhos. E, vêm agora tornar heróis os Otelos e tantos guedelhudos a fingir que nos libertaram no VINTICINCO. Não posso entender o significado de nossas vidas, fingindo ou imaginando ter sido assim como um colchão coberto de cravos vermelhos num caixão e rosas, porque Cristo nos chama para às mais exigentes e ousadas periclitãncias como a sempre desconhecida morte! E, as FP-25 - Que negócio foi esse?

colono31.jpg Esperei-o no Aeroporto. Seguro por duas muletas parecia um Cristo! Tirou essa bala e, não mais voltou… Impôs-se assim uma forçada regra de vida: - A liberdade de sermos saudáveis ou morrer por coisas impensáveis… Sim! Meu pai padecia  ser um matumbola (morto vivo) e, até me belisquei para ter a certeza de que isto não era só um suspiro. Em verdade, eu também sabia bem que João Jacob Caetano, o lendário Monstro Imortal, tinha morrido com um garrote do n´guelelo, um triste fim de um herói…

flor soba.jpeg

Nota1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos  espalhados pelo mundo.

Nota2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto…

(Continua…)

O Soba T´Chingange 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 14:57
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Segunda-feira, 13 de Maio de 2024
VIAGENS . 166

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA*“ - Crónica 3577 – 13.05.2024

 “FRACCIONISTAS DO MPLA DA LUUA – O 27 DE MAIO DE 1977” - Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji)O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto

monstro6.jpg Um novo livro escrito por Carlos Taveira detalha os horrores e o dia a dia na prisão de São Paulo de Luanda antes e depois do 27 de Maio de 1977. Quando o “autocarro do amor” chegava à prisão de São Paulo de Luanda os presos sentiam o terror e o medo de que eles poderiam ser os próximos a serem levados para a morte num local desconhecido.

Carlos Taveira, o autor do livro, que esteve ali detido mais de dois anos disse: Que recordou como os presos jogavam xadrez comunicando de cela para cela através das sanitas nas celas que eram buracos no chão e serviam de câmara de eco. Taveira foi preso em Dezembro de 1976 sob acusação de pertencer à Organização Comunista de Angola, OCA, que se opunha à presença soviética e cubana em Angola, portanto antes da tentativa de golpe de Nito Alves em 27 de Maio de 1977.

monteiro3.jpg A cadeia foi tomada de assalto por elementos ligados a Nito Alves para soltar os seus apoiantes que ali se encontravam presos.“vivemos debaixo de fogo quatro ou cinco horas”, recordou Taveira sublinhando que os apoiantes de Nito Alves apoiavam “ideias opostas da OCA” por se considerarem marxistas da linha soviética…

Os apoiantes de Nito, “quando entraram disseram-nos que nos iam matar nesse dia”. Membros da chamada Revolta Activa que ali se encontravam detidos foram também ameaçados de morte pelos aderentes de Nito Alves . “Quando nos puseram contra uma parede”, recordou – pareceu-nos ser o fim…

monteiro6.jpg “Todos os que entraram depois do 27 de Maio passaram pela sala de torturas; alguns foram barbaramente torturados e alguns morreram de tortura, enquanto outros eram levados simplesmente à noite para serem mortos”, recordou. O escritor disse:  Até ao 27 de Maio, “não havia tortura” na prisão porque o dirigente da policia politica DISA, que lá se encontrava, Helder Neto, “não acreditava nisso”

Helder Neto, preferia tentar “recuperar“ os presos para trabalhar com eles. “Helder, suicidou-se no 27 de Maio – só depois se deu início na tortura em cheio", contou. “Havia entre nós um grande medo. Cada vez que aparecia o tal “autocarro do amor” para levar gente para ser fuzilada havia um ambiente de terror”. Disse recordando que, numa noite foram levados 16 ex-políciais para serem fuzilados. “Foram levados debaixo de pancada até ao “autocarro do amor” e os 16 numa noite desapareceram”, recordou.

morgan3.jpgAgora, sou eu que digo: Meu pai Manuel - “o cabeças”, que foi para a praia errada chamada de Angola num vapor chamado de Mouzinho de Albuquerque no ano de 1950, como colono, ali ficou até este 27 de Maio de 1977. Na ida para o Banco de Angola aonde exercia a função de segurança noturno, foi desapossado de sua arma walther P99, raptado e levado para lá do aeroporto de Belas aonde o encheram de pancada, vulgo porrada; e, havia ali, uns quantos mais, amontoados, esperando o toque final – a morte… 

Ali, no chão, desmaiado, num magote, deram-lhe um tiro de rajada atingindo decerto os demais! Era noite. Teve a sorte de uma aleatóriria bala não lhe ter atingido órgãos vitais, alojando-se no joelho. Arrastou-se pela noite até se recolhido por uma  patrulha mista de cubanos e militares do MPLA. O médico do Banco de Angola (Boavida), não vendo possibilidades de Manuel ser socorrido ali, no Hospital Maria Pia e, por via de estar repleto de muita gente moribunda, deu-lhe uma licença a prazo, metendo-o no avião da TAP a caminho do M´Puto. . Dias depois fui esperá-lo no Aeroporto da Portela em  Lisboa, ainda com a bala no corpo…

Montemor1.jpg Nota1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos  espalhados pelo mundo.

Nota2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto…

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O Soba T´Chingange 



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Terça-feira, 7 de Maio de 2024
VIAGENS . 164

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA*“ - Crónica 3575 – 07.05.2024

 “FRACCIONISTAS DO MPLA DA LUUA – O 27 DE MAIO DE 1977” - Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto

nito1.jpg Nito Alves  foi ministro do Interior de Angola desde a independência em 11 de Novembro de 1975, até à data em que o presidente Agostinho Neto aboliu o cargo em Outubro de 1976. Fazia parte da linha dura do Movimento Popular de Libertação de Angola e tornou-se conhecido internacionalmente devido ao golpe de estado falhado, conhecido por Fraccionismo, de que foi mentor em 1977 .

Nito Alves opunha-se a Agostinho Neto nos temas da política externa de não-alinhamento, socialismo evolutivo e multirracialismo. O que mais parece chocar na repressão que se seguiu à alegada tentativa de golpe de Estado contra o primeiro presidente angolano após a independência, Agostinho Neto . é que as vítimas não foram inimigos do governo – mas sim membros do MPLA.

maio002.jpg MPLA, partido no poder e, assim, sendo da própria família política e da direcção do país. O desconhecimento sobre o que aconteceu às vítimas da repressão do regime do Presidente Agostinho Neto, nos dias que se seguiram ao que terá sido uma tentativa de golpe, corrói. O cálculo dos mortos varia. A Amnistia Internacional fala em 40 mil, o jornal angolano Folha 8, em 60 mil…

A chamada Fundação 27 de Maio calcula em 80 mil. Fontes da DISA (Direcção de Informação e Segurança de Angola) referem-se a 15 mil mortos. Se nos ficarmos pela média, pelos 30 mil, são dez vezes o número de mortos do Chile dos anos 1970 de Augusto Pinochet, na própria família política o MPLA. Sem julgamento.

maio05.jpg Saidy Mingas, fiel a Agostinho Neto, na madrugada de 27 de Maio de 1977 (sexta-feira), entra no quartel da Nona Brigada para tentar controlar as tropas de Nito Alves;  Foi a sua última missão. O então Ministro da Administração Interna sob a presidência de Agostinho Neto é preso pelos soldados fraccionistas e levado com Eugénio Costa e outros militares contrários à revolta para o musseque Sambizanga, onde são posteriormente queimados vivos.

Sita Valles é talvez a mais conhecida das vítimas da purga do MPLA – ela, o marido José Van Dunem, comissário político do Estado-maior e Nito Alves, ex-ministro do Interior. Mas, de uma forma ou de outra, a repressão que se seguiu ao 27 de Maio de 1977 deixou marcas na vida de grande parte dos angolanos, relata o jornalista independente William Tonet. “Directa ou indirectamente, a maior parte dos angolanos daquele tempo está envolvida no 27 de Maio.

maio9.jpg Ela, Zita Valles, deu ao horror seu rosto. Sita Vales foi fuzilada às 5 da manhã de 1 de Agosto de 1977. Um tiro em cada perna, um tiro em cada braço, o corpo caiu na vala previamente aberta antes de ser dado o tiro de misericórdia. O corpo, ou o que dele restava: Sita Valles havia sido torturada e violada múltiplas vezes pelos homens da DISA.

Rebelde até ao último minuto, recusou a venda e obrigou os homens do pelotão de fuzilamento a enfrentarem o seu olhar. A portuguesa, nascida em Cabinda, tinha então 26 anos e trocara uma vida confortável em Portugal e um curso de medicina para regressar a Angola, país que considerava ser o seu e para defender a ortodoxia soviética em supostos tempos de democracia.

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Nota1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos  espalhados pelo mundo.

Nota2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto…

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O Soba T´Chingange 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 10:02
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Sábado, 4 de Maio de 2024
VIAGENS . 163

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA*“ - Crónica 3574 – 04.05.2024

 “FRACCIONISTAS DO MPLA DA LUUA O 27 DE MAIO DE 1977” - Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto

maio002.jpg Hermínio Escórcio, chefe do protocolo da presidência, descreve mais tarde como sucederam as manobras dessa revolução: “ Na manhã do dia 27 estava em casa quando me apercebi que a Rádio Nacional de Angola - RNA, havia sido tomada. Fui para o meu gabinete no Palácio e de lá telefonei para o Futungo de Belas (Presidência da República).

De caminho pude avistar o Onambwé e o Delfim de Castro que, dentro de um tanque, se dirigiam para as instalações da RNA, onde já estava no ar o programa radiofónico “kudibanguela”. Depois da retomada da RNA fui o primeiro dirigente a lá entrar”.  Continuando: “saí da rádio e fui até à Avenida Lisboa para ver se havia rastos de sublevação. Liguei a Neto, disse-lhe que estava tudo calmo e, ele prontamente afirmou: “Então posso ir até aí!”

maio6.jpg Disse-lhe que por uma questão de segurança, talvez fosse melhor ficar pelo Futungo. Dito isto, acrescentou que ia chamar a imprensa para fazer o ponto da situação.  Mal sabia ele que o Saidy Mingas, o Eurico e o Garcia Neto já tinham sido mortos. Também desconhecia que alguns comandantes haviam caído em emboscadas montadas pelos Fraccionistas à 9ª brigada.

Neto, quando soube de tudo isto, ficou completamente transtornado”. Neto vai à televisão e proclama o salvo-conduto para o banho de sangue: “Não haverá contemplações… Certamente não vamos perder tempo com julgamentos”. Os fuzilamentos sumários passaram logo a ser norma. Convêm dizer aqui que os cubanos após retomarem a Rádio Nacional, abrem fogo sobre todos os amontoados de população que eventualmente estavam ao lado dos revoltosos e, acto contínuo retomam o controlo das cadeias.

maio7.jpg Mila Coelho, mulher de Rui Coelho fuzilado a 2 de Junho de 77 e, que na altura era chefe do gabinete do Primeiro-Ministro Lopo do Nascimento, conta assim: “Esperava Rui, vindo de Argélia e a 1 de Junho com a tragédia do 27 a decorrer, notei nele muita intranquilidade. No dia seguinte, dois de Junho, vieram buscar-nos a casa”.

“Dois soldados armados de metralhadora, exigiram que fôssemos com eles. Levaram-nos para o Ministério da Administração Interna aonde permanecemos toda a tarde, sentados em um banco corrido. Nessas horas falamos pouco; estávamos horrivelmente destroçados.

maio8.jpg Era já noite quando nos foram buscar; meteram-nos num cubículo escuro. Pela madrugada levaram-nos para a Cadeia de S. PauloA separação de homens para um lado, mulheres para o outro afastou-nos definitivamente um do outro para nunca mais nos virmos”…

Em causa estavam no fundo divergências ideológicas entre Agostinho Neto, adepto de uma via “terceiro mundista” para Angola, com características semelhantes à argelina, e Nito Alves, advogado da ortodoxia soviética. Em Angola não podia haver contra revolução popular e, por isso, Neto, o presidente poeta, foi irredutível: “Não haverá perdão para quem penssasse de forma diferente da linha oficial do MPLA”.

maio9.jpg Apesar da dimensão do massacre, o tema é tabu, explica José Milhazes: “É que alguns dos intervenientes ainda estão no poder. Quero recordar que o presidente José Eduardo dos Santos, naquela altura, era já um membro da direcção do MPLA e que participou directamente no conflito”, lembra o comentador e historiador português.

tukya13.jpg Nota1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos  espalhados pelo mundo

                            Nota2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto…

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O Soba T´Chingange 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 13:54
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Quarta-feira, 1 de Maio de 2024
VIAGENS .162

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"LUANDA NOS TEMPOS DE DIPANDA*“ - Crónica 3573 – 30.04.2024

 “FRACCIONISTAS DO MPLA – O 27 DE MAIO DE 1977” - Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto

maio1.jpg Cumcamano, disse eu depois de dizer um chorrilho de grossas asneiras  ao pisar bosta de elefante já meia desfeita; assim era este paradisíaco sítio cheio de coisas “good” e, logo a seguir às cubatas feitas de barro e capim entalado em chinguiços.   Paus tortos na vertical atados a mateba em outros paus tortos horizontais. Com dois por dois metros, dei-me a matutar de como caberia ali um par de gente sem ficar com os pés de fora.

Era só mesmo para dormir; as outras divisões eram um amplo mato a seguir à clareira avermelhada. Para ir ao cagadoiro, era só seguir o carreiro que levava ao buraco. Saltando um pouco no tempo sem definir datas ou horas exactas, o chefe  Miranda referia algumas agruras do mato do Calai, Dírico e Mucusso, posturas  antigas nunca esquecidas, a querer relembrar as surucucus de Angola, um pensamento, da  sua  fuga…

maio01.jpg Neste meio tempo de reestruturação da UNITA e construção da JAMBA, vamos desviar a atenção para a Capital Luanda aonde Agostinho Neto se vê em apuros com um suposto golpe de estado. O golpe que ficou conhecido como o Fraccionismo, teve uma data a memorizar esses eventos: - O 27 de Maio!. Quatro homens do MPLA lideram um suposto golpe de Estado contra Agostinho Neto.

Esses homens foram: Bernardo Alves (Nito), Jacob Caetano (Monstro Imortal), José Van-Dunem e o comandante Bakaloff. Situando-nos a 27 de Maio de 1977 e, após as insistências da URSS a Agostinho Neto a fim de aderir ao marxismo-Leninismo, veio a consumar-se com a criação do MPLA-PT. Não obstante, Neto continuava uma pedra no sapato do regime soviético, que na altura era chefiado pela “tróica” de Nicolau Podgorni/Kossinguine/Brejnev.

maio0.jpg O episódio é conhecido por Revolta dos Fraccionistas - “dos Frac´s” na linguagem popular. Num discurso após o golpe, Neto afirma que por detrás da rebelião, estivera “uma embaixada estrangeira em Angola”. Para os analistas políticos não restaram dúvidas em apontar de forma comedida o embaixador Kalilnini como sendo o autor intelectual do episódio.

Já dominando os pontos chaves na Capital – Luua, como a emissora de rádio, o golpe aborta, mercê da rápida intervenção militar cubana ao lado de Neto. “Monstro imortal”, armado com uma metralhadora, entra no Palácio da Cidade Alta de Luanda, com o propósito de dar ordens de prisão ao presidente angolano; assim não foi, porque Neto, estava no Futungo de Belas…

maio05.jpg Monstro Imortal é preso de imediato. Na onda posterior de repressão, são presos, torturados e passados pelas armas na forma sumária, seguindo-se-lhe milhares de pessoas, incluindo os mentores do golpe, depois de serem sujeitos a dolorosa tortura física. Conta-se que a Nito e o Monstro Imortal, lhes foram arrancados os olhos, ainda em vida.

O último relatório da Amnistia Internacional sobre o golpe de 27 de Maio relata o desaparecimento de prisioneiros – “Noite após noite, durante os meses seguintes, ambulâncias e outros veículos saíam da prisão de Luanda e de outras cidades”. Prisioneiros que foram enviados para o campo de reeducação em Calunga -Moxico, afirmariam que muitos outros prisioneiros foram sumariamente executados, morrendo à fome ou simplesmente, foram alvejados ao tentarem fugir…

maio4.jpeg Nota1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos  espalhados pelo mundo.

Nota2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto…

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O Soba T´Chingange 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 14:43
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Quarta-feira, 24 de Abril de 2024
VIAGENS . 160

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA*“ - Crónica 3571 – 23.04.2024

 “DO  CUELEI ATÉ KAPRIVI Na Faixa de Kaprivi, com Savimbi…

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto

jamba14.jpg Antes de tudo isto… Naqueles longínquos anos de entre sessenta e setenta do século passado, o XX, todo eu estava metido na Mata do Maiombe, tropeçando na força das circunstâncias e num entretanto que só durou quatro anos, a guerra foi um conjunto de acidentes suados a paludismo. De um para outro lado, subindo e descendo rios procurando rastos de turras, com o soba Mateus, também preto  já condecorado com ida grátis ao M´Puto….

Mateus, o soba e guia ocasional, à frente, ia barafustando com o ar, cortando capim à catanada, mastigando uma bolunga escura e pestilenta, pisando charcos infestados de sanguessugas, larvas com milhões de patas e escorpiões pretos e pré-históricos a fingir de lagostins. Buscando turras num secalhar perdido entre a bruma e o cacimbo, o gozo da liberdade, corria como se a vida fosse um jogo de poker…

unita1.jpgUm jogo de poker duma azarada toma de pastilhas vermelhas para anular maleitas com micróbios fosfóricos na única água estraganada. Com as costas das mãos afastávamos as bicharias visíveis e, em seguida engolíamos aquilo escorrendo da mão ou numa qualquer folha verde a jeito. Guardando soberania da pátria do M´Puto, camuflados ensopados até o tutano, assim seguíamos em fila de pirilau, duas granadas presas ao peito, uma G3 em riste e uma cartucheira repleta de balas para o que desse e, viesse procurando o MPLA.

Mas, agora é tempo de relembrar a formação em comunicação e técnicas de controlo aéreo de Abel Chivukuvuku com seus companheiros Aniceto Cavala e Jardo Muekalia na base secreta de Delta ou Ómega na Faixa de Kaprivi da actual Namíbia, antigo Sudoeste Africano. No Rundu, esses três jovens iriam receber formação em tráfego aéreo. Muito mais tarde, eu, o T´Chingange, viria a saber outros pequenos detalhes…

unita2.jpg Pisando os mesmos caminhos, vendo as mesmas acácias e aquele capim do Okavango com o qual se cobrem as casas dos kimbos e das cidades e, com João Miranda, um próspero comerciante do Mukwé, Andara, Nyondo e Divundu, pois por ali andei, na secreta “Missão Xirikwata” com as credenciais da UNITA escondidas no forro daqueles calções de zuarte, mais  um colete muito farto de bolsos para meter balas de matar jambas (elefantes) - tudo a fingir…  

Fazendo futurologia sem bola de cristal e auto-risco, com o conhecimento descomprometido de José Pedro Cachiungo representante do Movimento em Lisboa, assim ia fazendo turismo de guerra como se o fosse, um espião de craveira - uma suave adrenalina regada com Windhoek lager e empatia de toda a família Miranda, sempre à beira do Cubango, que aqui só conhecem por Okavango - vendo Angola, sua gente e gado pastando ao alcance de um grito.

jamba7.jpg Relendo o livro de Agualusa fica-se a saber que em Abril de 1977, fica concluída a formação  no Rundu na Faixa de Kaprivi; Chivukuvuku foi colocado no aeroporto da Mapunda  junto à fronteira com o Sudoeste Africano - o tráfico deste aeroporto era usado quase exclusivamente pelos aviões que vinham de Kinshasa e do Sudoeste Africano. 

Neste então, as insígnias da UNITA ainda mantinham as palavras de Socialismo, Negritude e Democracia.  Nos anos de reestruturação da UNITA, a principal base do movimento foi a base secreta Delta, do outro lado da fronteira, mais propriamente na Faixa de Kaprivi do Sudoeste Africano. Era necessário em primeiro lugar ter-se a suficiente eficácia na defesa do principal bivaque da UNITA, a Jamba, já em fase de construção…

maian6.jpg Nota1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes, durante os longos anos da crise Angolana…

Nota2: Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e do livro de Vidas e Mortes de Abel Chivukuvuku de José Agualusa

(Continua…)

O Soba T´Chingange 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:22
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Segunda-feira, 22 de Abril de 2024
VIAGENS . 159

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA*“ - Crónica 3570 – 22.04.2024

 “A 2ª MARCHA – DO  CUELEI ATÉ KAPRIVI”Na Faixa de Kaprivi, com Savimbi…

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto

jamba5.jpg Respirando a noite, metido em calções de caqui, o bafo quente de África contorcia-me a mente como num remoinho de orgasmo. O encanto do mato, seus cheiros e ruídos, em África, são tão especiais que ofuscam a mente com espíritos. As vozes rugosas entrecortadas com choros de hiena e latidos de mabecos arrepiavam ao cair da noite.

Sem pálpebras no olhar, o escuro da Faixa de Kaprivi era mais inebriante  que qualquer outro, a lua feita um risco com nome de nova; o cacimbo miudinho fazia levantar um aroma extasiante, a luz difusa do xipefo vulgo candeeiro de petróleo,  tracejava-o ondulante para além do mato cerrado da margem do Okavango. Para lá desses matos a cagufa latejava nas temporas amargando a boca de gosto rançoso de minha antiga guerra, no lugar aonde também andou esse tal de Ché…

jamba4.jpg Ali e, naquele agora cada burro poderia carregar entre trinta a cinquenta quilos, resistindo bem ao calor e à sede. Foi desta forma que passados uns largos dias, cinquenta por aí, os guerrilheios de Savimbi chegaram à base de Cuelei, acarinhados por cânticos e danças fazendo renascer o Galo Negro das cinzas. A ajuda Sul-africana, foi a partir daí bem substancial, permitindo à UNITA tornar-se mais forte que nunca.

Em Dezembro de 1976, tendo já o apoio do regime do apartheid, da China e dos Estados Unidos, algures  na base de Malengue e, tendo Jonas Savimbi recuperado das longas marchas, preocupado que estava em reagrupar e reorganizar o que restava da UNITA, tendo a seu lado Samuel Chiwale, N´Zau Puna,Tito Chingungi e Altino Sapalalo, conhecido por Bock, dirige-se aos dois jovens corajosos que proporcionaram o encontro destes com os Bóhers na Faixa de Kaprivi dizendo:

jamba3.jpg - Depois do feito destes jovens por sua determinação, estou verdadeiramente convencido de que vamos sim, formar um exército! Tratava-se dos jovens saídos da Missão do Dondi, Abel Chivukuvuku e Vituse que fizeram um primeiro contacto com as autoridades Bóhers da fronteira sul de Angola, a chamada Ovoboland, entre a cidade do Rundu e o Divundu.

De forma eufórica, Sabimbi, levantando seus braços afirmou: Dentro de quinze anos a revolução trunfara! Os jovens guerrilheiros ficaram bem taciturnos, bem dismilinguidos de frustração  com esta firmação, do mais-velho! Tanto tempo, assim! Nesse entretanto, ali na base de Malengue, em um outro dia, foi lido aos soldados um conjunto de despachos. Chendovava era promovido a major tendo como adjuntos os capitães Bock e Tito Chingungi.

jamba2.jpgA Companhia dos “jovens intelectuais” que entretanto tiveram três meses de instrução e especialidades, é dissolvida. A cada soldado é dado o específico destino como soldado da UNITA. Uns irão para o Rundu, mais propriamente para as bases Ómega e Delta da Faixa de Kaprivi, na Namibia adquirir formação em explosivos.

Ouros, terão formação em comunicações, logística militar de defesa antiaérea, formas de disciplinas militares e outras tecnologias modernas em uso de armas inteligentes.  Formas de informação, de desinformação e controlo aéreo. Outros, têm a missão de prosseguir os estudos em países africanos e europeus. A  Chikukuvuku foi-lhe destinado ir para a base secreta do Rundu, a secreta Delta na Faixa de Kaprivi num dos acampamentos, juntamente com Aniceto Cavala e Jardo Muekalia.

jamba11.jpgNota1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes, durante os longos anos da crise Angolana, e após o Acordo de Paz e Reconciliação Nacional. Corresponde à diáspora de angolanos e afins espalhados por esse mundo.

Nota2: Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e do livro de Vidas e Mortes de Abel Chivukuvuku de José Agualusa

(Continua…)

O Soba T´Chingange 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 21:20
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Domingo, 7 de Abril de 2024
VIAGENS . 155

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3566 – 07.04.2024

 “A 2ª MARCHA – DO  CUELEI ATÉ KAPRIVI” No Cuelei, com Savimbi…

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto

herero4.jpg em Cuelei e, após o 28 de Agosto do ano de 1976, Jonas Savimbi compreendeu que a UNITA só se conseguiria reorganizar e fortalecer, a partir do apoio do governo sul-africano, o regime bóher  do  apartheid que governava a Namíbia, nesse então, um protectorado saído a partir da ausência dos alemães, por sua derrota na Segunda Guerra Mundial, o chamado Sudoeste Africano

Assim e depois de acalorados debates no bivaque provisório de Cuelei pelos dirigentes disponíveis, os mais destacados da UNITA, decidiu-se pedir apoio às autoridades sul-africanas. Numa primeira decisão, Samuel Chiwale, foi o escolhido a chefiar um pequeno grupo de guerrilheiros na missão de cruzar a fronteira da Ovoboland do  Sudoeste  Africano - Namíbia, na designada Faixa de Kaprivi a fim de conversar com os chefes militares bóhers.

herero5.jpg Este projecto, rápidamente foi suplantado por outro perante a evidência de que só o próprio Jonas Savimbi conseguiria convencer os sul-africanos. Os oficiais do Movimento queriam em realidade poupar seu Mwata em mais um novo esforço, uma nova marcha de 1200 quilómetros até aos limites do território angolano, fronteira nas terras do fim do mundo. Lugares distantes entre si, algures entre a cidade do Rundu  e o rio Cuando, bem no extremo Sul, o canto que liga Angola com a Zâmbia e a Faixa de Kaprivi, santuário de elefantes. Relembrar aqui a frase de “Andaram e andaram e andaram” proferida por Philip du Preez, o oficial superior sul-africano que estabeleceu o contacto com esta delegação da UNITA.

Posto isto, àquele pequeno grupo inicial de Samuel Chiwale, grupo defensor de flancos, juntava-se-lhes a Delegação constituída por Savimbi, N´zau Puna, Jaka Jamba e António Dembo. Haveria antes de demais diligências, enviar alguém com a missão de alertar a policia de fronteira da chegada desta delegação.

cuelei3.jpg Para o efeito foram enviados os ainda jovens guerrilheiros saídos da Missão do DondiEpalanga Chivukuvuku  e Vituse. Estes dois jovens, penosamente chegaram à região do Rundu através de anharas secas com milhares de espinheiras; lugares por onde a delegação de Savimbi e seus notáveis companheiros também tiveram de passar até  alcançar o lugar aprazado…

Ali pararam algures num vasto capinzal, numa anhara não distante de Andara do Divundu, lugar aonde o rio Cubango passa a ter o nome de Okavango. Lugar cercano, aonde o rio atravessa a Faixa de Kaprivi, que se espraia em lagoas repletas de cacussos e hipopótamos e, cujo curso viram rápidos antes de chegar ao Botswana.

miran09.jpg Ao entardecer surgiu um helicóptero que os acolheu no capinzal raso; meia hora depois seriam largados em um outro terreno deserto junto a uma daquelas lagoas, não muito distante daqueles rápidos do Okavango, um lugar conhecido por Mahango… Muito mais tarde, fins do século, andei por ali fardado de caçador de elefantes.  A vida faz pouco das previsões e coloca palavras no lugar de silêncios.

Naquele, Epopa Falls do Okavango, sem presunção, era um desses lugares quem que o vento frio surge sem ser convidado. Ali, bem perto, ficava o Omega 3 - um antigo bivaque da UNITA. Enquanto observava os hipopótamos, pescando peixe tigre, pude ainda ver os telhados de capim preto por entre amarulas e embondeiros majestosos; lembro-me de sonhar - da muita saca-saca e mopane com pirão e jindungo, que por ali, não comi.

miran01.jpeg Nota: Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e do livro de Abel Chivukuvuku de José Agualusa…

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 20:27
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Sexta-feira, 5 de Abril de 2024
VIAGENS . 154

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3565 – 05.04.2024

 “APÓS A LONGA MARCHA ”No Cuelei, com Savimbi…

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto

guerri4.jpg A UNITA, que no seu auge (ao final dos anos 1980) apresentou uma estrutura militar  composta de 65.000 soldados, incluindo 28.000 soldados regulares, foi um dos maiores movimentos políticos do continente africano… No primeiro trimestre de 1976, a UNITA foi obrigada a se retirar para zonas mais seguras, bivacando-se em Cuelei a 28 de Agosto desse mesmo ano - 1976.

Cuelei, nome que ficou na história de Angola, situa-se na província de Kuando-Kubango, lugar inóspito até aí e, aonde, com o apoio da África do Sul, a UNITA, iniciou sua reorganização. Em 1979, o movimento já se consolidara outra vez, estabelecendo uma sede permanente na região, a chamada República da Jamba –Terras Livres de Angola.

jamba10.jpg A UNITA, até aos anos 1980, expandiu seu controle territorial estabelecendo uma estrutura organizacional muito semelhante a de um Estado, dispondo de uma burocracia, exército convencional, e governo. Sua estrutura de liderança assemelhava-se à do próprio MPLA, consistindo de um Bureau Político e um Comité Central.

No fim dos anos de 1980, a população da Jamba era estimada entre 8.000 e 10.000 pessoas, e 80.000 a 100.000  pessoas no sistema de aldeias vinculadas ao movimento. Chegados aqui e, antes de seguir o rasto da UNITA depois da “Grande Marcha” até Cuelei, teremos de recordar aqui, que em 14 de Outubro de 1975 (um ano antes), os Sul-africanos iniciaram oficialmente a Operação Savana embora já estivessem ocupando esta região sul de Angola desde Agosto desse ano.

jamba01.jpg Um ex-agente da CIA posteriormente afirmaria: "houve uma estreita ligação entre a CIA e os sul-africanos"… Era forçoso não deixar avançar os comunistas em território angolano - África. Isto levou a África do Sul do apartheid que apoiava a UNITA, a  invadir Angola a 9 de Agosto de 1975.

Os cubanos, a pedido de Otelo Saraiva de Carvalho com anuência do Presidente Costa Gomes do M´Puto (que disse sempre, não reconhecer…) Também com a anuência revolucionária de toda a nomenclatura do C.R. (Concelho da Revolução) que formatava o M.F.A. (Movimento das Forças Armadas), os cubanos não tardaram em desembarcar em Angola, o que aconteceu a 5 de Outubro de 1975.

kariba7.jpg Aquela Força Operacional Zulu da África do Sul, cruzou da Namíbia para o Kuando-Kubango na fronteira da Faixa de Kaprivi na conhecida Ovoboland  afecta ao grupo de guerrilheiro SWAPO sob o comando de Sam Nujoma. Esta operação previa a eliminação do MPLA da zona da fronteira sul angolana, depois o sudoeste, a região central e finalmente a captura de Luanda, o que não veio a acontecer…

Otelo Saraiva de Carvalho, o estratego do 25 de Abril, agora (2024), com cinquenta anos de estória, na altura comandante do COPCON e governador militar de Lisboa empenhou-se a fundo na entrega de Angola ao MPLA, conseguindo-o em absoluto! Assim, falando do tempo conturbado de reestruturação da UNITA após Cuelei, se irá recordar a participação dos jovens saídos da Missão do Dondi no comando do capitão Vinama Chendovava com a designação de “jovens intelectuais”, fazendo renascer a UNITA das cinzas, com destaque para Abel Chivukuvuku, nesse então com 19 anos e, dando novas perspectivas ao  Galo Negro… 

Nota: Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange com consulta a publicações de Jéssica da Silva Höring e José Agualusa

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 16:58
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Quarta-feira, 3 de Abril de 2024
VIAGENS . 153

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3564 – 03.04.2024

 “APÓS A LONGA MARCHA ” No Cuelei, com Savimbi…

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto

cuelei6.jpg O tenente general Philip du Preez, oficial sul-africano, representando seus militares, relembra anos mais tarde que, em Agosto de 1976 e, após a “Grande marcha”, estavam no Moxico, começando nesse então a cooperar com a UNITA. Era um pequeno número de pessoas e com poucas munições, mas tomando conta do grupo líder que até então estava sob o comando do major Katali. Acomodámo-los e treinámo-los", salientou o oficial sul-africano na reserva.

O tenente general Philip du Preez indicou ter estado na origem da formação de comandos africanos angolanos em Angola para combater as forças governamentais e, que começaram então a ser apoiados pelos soviéticos e cubanos, numa guerra civil que só terminaria em 2002. O mesmo oficial afirmou: Que em Angola e, "Após o final da grande guerra de  TUNDAMUNJILA 1975, que se estendeu até Fevereiro de 1976, quando parou.

cuelei5.jpg Os militares sul-africanos aconselharam Savimbi a não tentar avançar no terreno sem mais nem menos (para combater as forças governamentais), mas entrar sim num esquema de guerrilha. Savimbi preferiu flectir para o leste, para a província do Moxico, para descansar e preparar as suas tropas", sublinhou…  E, o tenente general Philip du Preez continua: "Depois enviámos uma mensagem a Savimbi a perguntar se queria a nossa ajuda, que nós enviaríamos pessoal para o Moxico.

Parece não ter sido bem nestes moldes mas, nas descrições que se seguirão serão percebidas as narrativas; veremos isso, quando se descrever o encontro na Faixa de Kaprivi no estão Sudoeste Africano - Namíbia. Disse que sim e enviámos cerca de 100 pessoas. Consegue imaginar o mapa da Angola de então?

cuelei4.jpg Do Moxico (Luena, base principal) para Catuiti (província do Cuando Cubango, próximo da Faixa de Kaprivi, na Namíbia) são cerca de cerca de 1.200 quilómetros. Andaram e andaram e andaram. Foi a verdadeira expressão … O oficial sul-africano lembrou que já não estava presente na criação do Batalhão 32 (ou Batalhão Búfalo), pois entregara a operação a um "jovem militar, muito bom", o então coronel Jay Breytenbach, militar de infantaria do exército sul-africano.

E, Continua: -"Pegou nesse grupo e foi para a guerra, não como Batalhão 32, mas como o “Grupo Bravo”, a que se juntariam, em fins de Agosto de 1976, vários outros elementos, maioritariamente da UNITA, que criaram o muito eficiente Batalhão Búfalo", explicou.

cuelei3.jpg Questionado pela  agência  Lusa sobre as razões de o exército sul-africano ter decidido envolver-se na guerra civil em Angola, lembrou que, na altura a palavra "comunista" era "muito, muito mal vista" na África do Sul e que a presença de militares soviéticos e cubanos nas proximidades do então Sudoeste Africano não agradava a ninguém do mundo ocidental.

Philip du Preez  em síntese disse: -"Trabalhámos muito com Savimbi, de 1975 até 1976 e, depois, até 1990", lembrou o oficial sul-africano, que considera o líder histórico da UNITA como um homem "muito carismático, um grande líder e adaptável". "Estive presente quando falava com os reis tradicionais locais, com os seus súbditos. Não se pode imaginar a impressão que causava. Falava sempre com uma linguagem popular e não havia nenhum chefe tradicional que se lhe opusesse. Nós, sul-africanos, gostávamos muito de Savimbi", realçou…

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 14:55
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Sábado, 30 de Março de 2024
VIAGENS . 152

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3563 – 28.03.2024

 “A LONGA MARCHA  DE SAVIMBI”Segundo Fred Bridgland

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto

jamba1.jpg Hodiernamente, não sei se voltarei a passar nas ruas da Luua que me viram crescer numa mulola chamada de Rio Seco da Maianga porque, também minha passada irá entristecer-se na recordação, do que foi e, já o não é. A sombra que preside aos tempos de agora (2024) e, que por dá cá aquela palha, se ateia a mente, queimando os fusíveis dos coiros, sempre lembrará o tempo em que o fui, feliz, na compreensão muda e queda, das muitas e, alheias infelicidades circunscritas.

Em 1975, embarquei para o M´Puto sem o querer, pela inquieta, medonha ou desolada guerra do tundamunjila. A terra do futuro ficou tardia, sarando-me das pústulas feitas vulcões  na diáspora, comendo sandes na “Tendinha” de Lisboa do Rossio do M´puto, um panado ou posta de bacalhau regada com um penalti. Mais tarde comendo arepas com carne mechada na Venezuela, biltong na África do Sul e coxinhas de galinha no Brasil.  Agora, recordo a odisseia da “Grande Marcha de Savimbi”, como uma prometida vontade a mim mesmo: sentir com a UNITA, essa nova era da mudança para Angola.

vermelho 04.jpg Algures na mata. «Estávamos preocupados com medo de que algum helicóptero pudesse sobrevoar-nos», disse Savimbi. «Disse-lhes que esta não era a maneira de conduzir uma guerra de guerrilha; não queremos riscos. O povo, porém, disse que não nos preocupássemos, que não fora ainda molestado naquele lugar. Numa aldeia, apenas a dois dias de caminho da base, estavam milhares de pessoas a dançar e a cantar. Disseram que nos acompanhariam até à base.

Respondi ao soba que isto  não seria bom, que se a população se portasse assim, não teríamos segurança. Um dia eles seriam descobertos e atacados pelo MPLA e pelos cubanos. Afirmei ao soba que não queria o povo atrás de mim. Chamá-los-ia dentro de uma semana, para um grande comício, já na base. Falhei porém, seguiram-nos sempre, a cantar durante todo o caminho.

jamba2.jpg Desisti e afirmei, vamos correr o risco. Por isso, eles vieram connosco até o Cuelei e foi  este o fim da longa marcha. A  base do Cuelei ficava a cerca de 150 quilómetros para sudeste do Huambo. Estava sob o comando do major Katali, que reunira nesse acampamento cerca de oitocentos guerrilheiros e, duzentas mulheres com crianças.

A “Longa Marcha” terminou com a entrada de Savimbi no Cuelei a  vinte e oito de Agosto de 1976, cerca de sete meses, com três mil quilómetros percorridos após a sua fuga do Luso, seguido por dois mil adeptos. Destes, apenas setenta e nove, incluindo 9 mulheres, estavam com ele, tendo os demais morrido, sido separados para outros locais ou, simplesmente, ficando para trás.

arau1.jpg Foram alguns meses trágicos; porém contra todas as probabilidades e contra todas as espectativas dos estranhos, Jonas Malheiro Savimbi, sobrevivera. A guerra que muitos comentadores anunciaram ter terminado com a victória cubana, em Fevereiro de 1976, iria continuar. Seguem-se agora entre estórias recolhida do baú de lata cravadas com ripas de pau kibaba, o desenrolar da odisseia de sobrevivência de um punhado de gente resiliente  com o espirito sempre presente da UNITA…

E, porque já em tempos disse de quem pensa que sabe tudo, um dia vem a saber mais um pouco, de novo o digo. E, para não ficar só no espírito,  volto à carga com a estória que me liga a uma felicidade estrangulada. Foi assim que arrumando meus cacifos de memória, achei ser justo neste espírito de letras e valores, passado que é meio século após o ano de setentaecinco,  retroceder aos itens de dignidade que persistem passeando um galo de cerâmica na lapela do terno diplomático…

Nota: - Com “transcrições parciais de Fred Bridgland em “Jonas Savimbi: Uma Chave para África”.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:00
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Quarta-feira, 27 de Março de 2024
VIAGENS . 151

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3562 – 27.03.2024

 “A LONGA MARCHA  DE SAVIMBI”Segundo Fred Bridgland

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto

ama3.jpg Pude ler recentemente - ano de 2024, que já estamos a viver no FUTURO. Que este VÍRUS MUTANTE, pode ser ALIANIGENA, um mecanismo preliminar de nosso salto genético espacial. Partir a gente feitos pedras parideiras  algoritmos, que exige especial atenção para descortinar os pensamentos de querer fazer rebelião como algo inerente às "torpes" eficácias cientificas e também duma covarde gravidade vinda de GOVERNOS formatados por gente igual a nós. Não podemos condescender com aqueles que bestializam um passado que já o foi PRESENTE…

Li também que, somos um projecto de bioengenharia e, que tudo começou algures há 75 mil anos atrás, muito antes de Cristo surgir e, muito antes de quando saímos das algas como micróbios alienígenas. A cultura e o conhecimento, elevando-a de parvidades nem consentir com tolices ou pecados, por assim andarmos cativados numa burlesca depravação e, também enfrascados numas quantas hipóteses de vontade libertadora...

jamba6.jpg Posto isto, relembro o passado, continuando a descrição da saga do  Mwata  chamado de Jonas“A grande Marcha de Savimbi”… Naquele dia, já em finais de Agosto de 1976, Savimbi queria dissipar qualquer ideia de que viria a ter ajuda do exterior, antes de o povo se ajudar a si próprio. Afirmou: «Teremos de lutar primeiro e, só depois, vocês verão que as pessoas do exterior quererão entrar de novo em contacto connosco».

O Presidente também afirmou que os cubanos detinham uma vantagem evidente, em termos de qualidade das suas armas e, da crueldade com que estavam habituados a actuar. E, acrescentou «Porém, estavam em total desvantagem em termos de conhecimento do território, da população e da língua».

jamba5.jpg Savimbi despediu-se do soba  e dos mais-velhos duas horas antes do romper do dia vinte e quatro de Agosto. Durante algum tempo, ainda, a coluna caminhou em direcção ao Norte, através da mata que ficava paralela e à vista da estrada. Às nove horas da manhã um comboio de blindados e camiões, transportando tropas cubanas e do MPLA, começou a passar rumo ao Sul.

Ao longo da estrada e à vista dos homens de Savimbi, era perceptível ouvirem o inimigo a cantar de forma descontraída. Os guias da aldeia  disseram à coluna que continuasse a avançar, assegurando a Savimbi que os seus homens não podiam ser vistos da estrada. Savimbi tencionava progredir  rápidamente em direcção à zona da nova base. Ele sabia que avançava por entre uma cadeia de camponeses pró UNITA.

jamba4.jpg Savimbi afirmou-se, nessa aldeia, com um  perfil  bastante mais elevado do que pensava. As patrulhas de guerrilheiros oriundos da área para onde se dirigia, a cerca de 120 quilómetros para oeste da estrada principal, vinham estabelecendo contactos com a coluna e espalhando a notícia, à medida que  avançavam, da sua chegada iminente. As pessoas vinham ao seu encontro, em plena luz do dia, com bandeiras, cantando e dançando.

Nota: - Com “transcrições parciais de Fred Bridgland em “Jonas Savimbi: Uma Chave para África”.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 11:04
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QUEM SOMOS
Temos um Hino, uma Bandeira, uma moeda, temos constituição, temos nobres e plebeus, um soba, um cipaio-mor, um kimbanda e um comendador. Somos uma Instituição independente. As nossas fronteiras são a Globália. Procuramos alcançar as terras do nunca um conjunto de pessoas pertencentes a um reino de fantasia procurando corrrigir realidades do mundo que os rodeia. Neste reino de Manikongo há uma torre. È nesta torre do Zombo que arquivamos os sonhos e aspirações. Neste reino todos são distintos e distinguidos. Todos dão vivas á vida como verdadeiros escuteiros pois, todos se escutam. Se N´Zambi quiser vamos viver 333 anos. O Soba T'chingange
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