T’XIPALA DO M´PUTO - FÁBRICA DE LETRAS DA KIZOMBA
Candengue da Maianga - Mau-olhado – Xicululu – Crónica 3342 – 09.01.2023
PorT´Chingange (Otchingandji) no AlGharb do M´Puto
Desengrenando o meu disco a fim de dar arrumo a todas as mokandas, na rapidez, desconsegui acompanhar a velocidade do pensamento. No espaço de lembranças com odor de tamarindo e gajaja, o branco kandengue que era eu, teria os meus seis anos quando fui tirar a minha primeira fotografia no largo Serpa Pinto. Minha mãe Arminda da Maianga reparou que tinha um escuro de tição no rosto e, ali, entre as acácias da minha rua da Maianga, tirou um lenço de linho de sua bolsa, molhou na língua para amaciar e esfregou este no meu rosto como se eu fosse um gato
Uma gata a lamber seu filhote que era eu. Lembro-me de ter barafustado com coisa tão díspar e chorei de raiva até chegar ao fotógrafo que se situava no largo de Serpa Pinto. A fotografia tirada naquela máquina caixote, com manga preta de esconder susto, parece agora, ter andado num tornado castanho de fúria amarela, pontilhada a cagadelas de mosca.
O relâmpago daquela coisa susteve-me os últimos soluços. Desconsegui saber que já era hiena antes de saber que bicho era esse – um puto reguila da mulola do Rio Seco. Depois foram os apitos roucos dum barco que chegava a um cais, muitas casas compridas e homens em tronco nu segurando um saco com malas de chapa pintadas, bikwatas e cacarecos vários. Gritando ordens e, entre eles dizendo palavrões mais um mwadié branco como eu gesticulando ao homem aranha pendurado numa coisa chamada de guindaste; deveria ser o capataz.
Era um tio que estava chegando do M´Puto. Grandes máquinas circulando com luzes a piscar na água; muita água balouçando o azul na linha de horizonte mostrando uma ilha que mais tarde vim a saber ser a ilha da Mazenga; uns peixes brincavam voando ao redor duma cabeça e tripas, talvez dum roncador ou mariquita. Por força das circunstâncias, coisa que me transcendia, meu tio Zé, o Nosso Senhor topeto teve de atravessar o atlântico num vapor de nome Uíge.
Meu tio chegou assim calças largachonas, um chapéu palhinhas muito usado na época, de um branco besugo avermelhado pelo sol do equador. Recordo agora as fotos com ele sentado junto à mandioqueira que dava sombra ao tanque de lavar, uma selha feita de uma metade de pipo de vinho, aduelas do tintol do M´Puto baptizado com água do Beno na loja do Senhor Rente Cruz, o tio do Tony Melo, mais uma tábua ondulada aonde a Dona Arminda esfregava as flanelas da família.
Aquela foto era para entregar no Colégio João das Regras junto ao Martal – Martins e Almeida para compor meu livro de aluno. Até sobraram para mais tarde, um outro colégio chamado de Moderno que ficava bem junto da estação de Caminho de Ferro da Cidade Alta. Lembro-me de ter lido algures que o vapor transatlântico Uíge, tinha escrito numa bandeira, Companhia Colonial de Navegação.
Naquele tempo que pensava ser um kamundongo, percorria os bairros desde a Maianga até o Bairro do Café, com os pés entrançados na grande bicicleta do meu tio Zé Nosso Senhor; assim mesmo feito chambeta, calcorreava a Luua, as encostas dos musseques com o Pica mulato que mais tarde virou oficial superior do glorioso MPLA. Isto de glorioso era ele que dizia, mas o tempo escondeu-nos do convívio, tal como o Aninhas das motas, seu irmão, mais o preto Batalha do Catambor.
Sem sabermos, construíamos todos os dias uma descolorida amizade, impregnada duma vivência que o tempo dissolveu por ideias ou ideais mas Luanda estava ali mesmo, ai-iu-é! Naquela foto de menino, eu não tinha verdadeiramente uma cor de gente; era assim como um boneco com umas calças de ganga grosseiras, sarapintado de manchas a descair sobre uns sapatos quedes da macambira.
Vendo-a, a foto amarelecida, podia passar por uma cor de pele das que os meus amigos tinham. Podia muito bem ser cafuzo, matuto ou mameluco mas, só era mesmo um mazombo, filho de colonos saídos do M´Puto com uma carta de chamada. Até Pica e Batalha, duvidavam que eu fosse mesmo branco! Subia ao coqueiro com a mesma agilidade deles, matava sardões com a mesma pontaria de fisga tiradeira e tinha o mesmo jeito para apanhar rabos-de-junco, plim-plau, xiricuatas, celestes e januários nas lagoas do Futungo ou um qualquer charco de Belas.
Íamos lá longe por detrás do aeroporto de Belas, Craveiro Lopes apanhar pássaros na rede. Mais tarde num dia de inspirada arte, com muito jeito, pintei de branco a minha t’xipala mas, não se parecia. Só Necas me levava a sério chamando-me de Mandrak. Um dia após uma investida de valentia no quintal do Malhoas às maças da índia, gajajas e goiabas, mostrei a dita foto à turma dos “salta muros”; a minha turma! Ué… Seguiram-se risadas desconformadas - Foi um chinfrim que trespassou o silêncio muito para além do Almeida das Vacas, o rio seco, as bananeiras.
Aquele riso não era verdadeiramente de alegria; era, isso sim, um misto de valentia lambuzada na gozação pois que parecia ser mesmo um besugo. Pica, pulou de macaquice, chamando-me de T’Chingange da Manhanga. T’chingange?! Naquele tempo perfumávamo-nos de ignorância atrás do carro da tifa chamando de monangamba aos trabalhadores da recolha do lixo. Mais tarde, fiquei a saber que aquela figura, T’Chingange, era gente de verdade; pintados com argila branca ou cal, no terreiro do kimbo, pulavam como que possuídos de katolotolo…
Glossário:
T’Chingange - um misto de feiticeiro, justiceiro, advogado do diabo (de quem se tem medo); mokanda - carta; M´Puto - Portugal; kandengue - moço, rapaz; kamundongo: Kaluanda - natural de Luanda, rato; rabo-de-junco - pássaro; t’xipala - fotografia (de rosto); besugo - labrego ou simplório, chegado do M´Puto - (gíria de Angola); monangamba - trabalhadores sem classificação especial (pejorativo); kimbo – sanzala (planalto central de Angola), povoado; Carro da tifa - desinfestação de ruas ou quintais para matar o mosquito e outras pragas; selha: Meio barril feito de aduelas; quedes: sapato simples de ténis, em pano; Manhanga: o mesmo que maianga, charco ou poço de água; catolotolo: Zuca, mal da cabeça, maluca, passado dos carretos, com feitiço…
O Soba T´Chingange
Mau Olhado – Xicululu – Crónica 3335 – 12.11.2022 - Republicada a 27.12.2022
- NUM ZUELA BURUNDANGA ASSIM SÓ NOS BAZA INSPIRAÇÃO AMI! Mokanda antiga do meu Kamba ZEKA MAMOEIRO da MAIANGA DA LUUA
PorT´Chingange (Otchingandji)
Kamba Kiami Ami Tonito! Tuas fala doeu nos meu Muxima: "ter virado intelectual das mulolas do katekero" que virou poeta no integralmente, quersedizer pirou no katotolo"!!! Kamba Kiami Ami! Te digo só no verdadeiro, estão nos quieto dos esteira das minha kubata! Ué! Mazé bwé descansam, nos recuperação dos gigler dos inspiração...!!!
Tambula conta! Lello faço essas mistura..., o quê? Ah!!! O Iogurte metido nos cabaça, com os painço e os massambala, tudotudo no n´guzo do pilão, assim de massemba, como nos chão riscado dos Marítimo de Loanda! N´ga! Sakidilá! Lagartinha Mopane, dos teu envio caixinha cartão dos Mu Ukulu!
Sim os teu milongo dos Lagartinha, os teus torresmo medicinal, que soeu dos meu medo, recusou bwé Matumbu!!! Te digo que foi os papel receita (acima) do Doutor dos Maria Pia, dos especialidade dos motricidade dos dieta com os cereal que pra soeu recomendou, por caso dos intestinos precisar romper os câmara d'ar, assim, num precisar sequer, os prego fininhos, que bota nos ar os quixotes de carnaval!
Intão, como é...! Xé! Como nesse mesmomesmo dia dos alegria de bwé estouro de cheirinho de bombinhas...,no corso patrício da uuabuama Marginal...
KATÉ MINGU – ZECA, na minha kubata
Explicação do Kamba T´Chingange: Faz tempo, mandei uma caixa de mopane (catato) para o Zeca que comprei no Zimbabwé. Era para ele matar saudades pantagruélicas da nossa terra de áfrica mas, sucede que ele ficou com muita cagufa de comer aquelas lagartinhas.
Vai daí, escreveu-me esta carta mokanda da qual só eu mesmo consigo interpretar… Mayanga ai-iu-é, que tanto berridei por esse tempo de paixão que enricou meu coração no uuabuama, chão colonial, disse ele. Desde esse tempo de miúdos candengues, assim vivemos coleccionando fugas com fisgas, como quando descalço, chutávamos a bola, trumunos de trapos no chão das barrocas, da mulola do Rio Seco, de quando subíamos na mulembeira a retirar visgo…
Ilustrações de Costa Araújo
O Soba T´Chingange
LUANDA DO ANTIGAMENTE
Crónica 3314 - 09-06-2022 – A2 - Recordando o Século Mwata Luís Martins Soares
– Republicação a 05.12.2022 no Alentejo do M`Puto
Por T´Chingange (Ot´chingandji)
Em sequência das falas recordadas do livro Mu Ukulu, ir-se-á transcrever o capítulo dos Sabores da Nossa Terra tendo como início uma síntese da estória. A cidade de Luanda foi fundada a 25 de Janeiro de 1576 pelo capitão Tuga chamado de Paulo Dias de Novaes após ter desembarcado na baia de Loanda com cerca de 700 homens (soldados, padres e almocreves). Em 1576 manda construir a igreja de são Sebastião na fortaleza aonde agora se encontra o museu das Forças Armadas Angolanas.
Antes da chegada dos portugueses, Luanda já era habitada pelas gentes do rei do N´Dongo concentrando-se no lugar seguro da ilha de Mazenga a que os portugueses chamaram de ilha das cabras por terem visto ali alguns destes caprinos. Viviam ali os Muxiloandas, oficiais do reino de N´dongo que recolhiam os n´zimbos para transaccioná-los como dinheiro. No ano de 1605 a Vila de São Paulo de Assunção de Loanda é elevada à categoria de cidade pelo governador Manoel Cerveira Pereira que exerceu seu cargo entre os anos de 1603 e 1606.
Não obstante estes dados históricos, o Rei de N´Dongo vassalo do rei do Kongo era o dono e senhor daquele espaço, pois que era ali seu banco central! Isto, depois de N'Gola Kiluanji Inene ter dado independência ao Reino de N'Dongo separando-o do poderoso Reino do Kongo! Quanto ao banco de N´gola da moeda n´zimbo: Seus zeladores Muxiloandas, cipaios e gente miúda laboravam na apanha e sequente selecção atribuindo às conchas o respectivo valor monetário. Relembra-se que quando os portugueses deram início ao processo chamado de colonização que originou na Angola hodierna, diferenciaram grupos sociais com identidades próprias.
Os factores de diferenciação entre as etnias foram: a linguagem, vestuário, formas de penteado, estilos de construção das cubatas, sua forma de expressão musical, práticas fúnebres, e suas comidas entre outros detalhes. Quanto à cozinha angolana ela teve ao longo dos anos alterações por via de produtos levados para ali pelos portugueses; produtos trazidos das américas da ásia e da metrópole - M´Puto. Houve por este motivo miscigenação nos hábitos. Do Brasil Imperial foi levada a mandioca que se tornou básica e generalizada por toda a África.
Com a introdução da mandioca levada pelos Tugas do Brasil os pratos de peixe eram acompanhados com fuba funje, um pirão espesso feito dessa fina farinha. Para alguns dos mwangolés esta nova, será uma surpresa - melhor seria que unissem sua sapiência repondo a verdade, não desconsiderando permanentemente o colonizador Tuga. Requer-se por isso mudanças futuras em sua Constituição e, por forma a reverem a lei da nacionalidade e tornarem as gentes brancas de pele da terceira e quarta geração em cidadãos de facto – Angolanos!
Com a chegada das traineiras abarrotadas de peixe, comerciantes brancos, juntavam-se no local de descarga e, ali, disputavam a compra do produto que era previamente separado de acordo com o destino a ser-lhe dado. Os peixes maiores eram destinados ao consumo de hotéis, pensões e casas de pasto. Lembro-me em candengue desta actividade no antigo porto de pesca situado bem em frente do Banco de Angola (1954/1955) e, aonde ia rebuscar sardinhas rejeitadas para utilizar como isco em minha pescaria na baia da Luua em companhia da minha turma da maré mansa da Maianga, Samba e Praia do Bispo…
Parte do peixe para venda ao público era levado para o mercado situado bem perto do Largo Bressane Leite, bem na baixa de Luanda; mais tarde mudou-se para o Kinaxixe, um belo edifício, património arquitectónico que os mwangolés ávidos de kumbú mandaram deitar abaixo, não sei se por parva retaliação ao colono, se só para encherem seus bolsos de dólares e, também agradarem a esses tantos generais de tugi do governo que surgiram por “feitos heróicos”. Bem! Falando do peixe, o de menor tamanho era arrematado para salgas de onde saía o preparo e seca do conhecido “Peixe Seco”, uma forma bem apreciada por nativos e brancos de segunda ou mazombos (filhos de colonos) como eu.
Este peixe-seco, tão apreciado pelos nativos grunhos (pretos) e gwetas (Brancos) e, pelo facto de se ter tornado um costume, por via de ser barato, espalharam-se salgas um pouco por todo o lado e ao longo da costa desde o Ambriz mais a Norte, passando por Luanda até Benguela e ainda mais a Sul na Baía Farta. O peixe depois de processado, estripado e escalado era posto a secar ao sol usando loandos normalmente elevados do solo por estacas. Este peixe já seco, era depois levado em camionetas por, maioritariamente “candongueiros” até aos lugares distantes do interior na forma de fardos atados com fio de sisal ou mateba. O itinerário destas carrinhas ou camionetas podia ser-se seguido horas e até dias mais tarde pelas picadas seguindo o rasto do cheiro característico que estes lançavam para o mato circundante…
(Continua…)
Recordando o Século Kota Mwata Luís Martins Soares com algumas adendas acintosas de minha lavra…
O Soba T´Chingange
A SAGA DO AÇÚCAR – AS AGRURAS DE OLINDA COM OS MAFULOS
FÁBRICA DE LETRAS DA KIZOMBA
Crónica nº 3313 de 07.06.2022 – Repetição a 04.12.2022 na falsa savana Alentejana do M´Puto
Por T´Chingange (Ochingandji)
Os Mouros e Mazagão – Brasil no tempo de D. João IV do M´Puto
O mundo hoje tornou-se uma ervilha com milhares de satélites a enviar dados do espaço para a terra; as notícias estão ao segundo em todo o lado mas, naqueles idos Tempos de Caramuru na América, Kaprandanda ou Silva Porto em África ou Mouzinho de Albuquerque na Ásia (índia), a vida era uma ousadia. Levavam-se meses para chegar da Europa à Tapurbana da Índia; as agruras eram muitas e tinham de ser destemidas, ao sabor do vento, das correntes, da sorte com milagres - por vezes tinham de cozer solas de sapato para dar alento à vida. Nem sempre os peixes voadores caíam nas amuradas do convés. É hoje inimaginável o trabalho com resiliência que os marinheiros Tugas tinham para fazer a globalidade que hoje temos.
As descrições da história aqui descritas, tem especial acuidade, por parte dos portugueses a fim de, se compreender o elo de ligação entre América (Brasil), Angola (África) e a Ásia num oriente tão distante. Nem sempre a estória refere esta muito importante relação nos tempos. Os heróis de uns sempre serão os heróis dos demais e é um erro os estadistas e afins de hoje não entrelaçarem na estória esta tão grande Gesta Lusa.
Não se dá a devida atenção às instituições de CPLP ou PALOP´s e, é um grave erro passar ao lado dos grandes feitos de então. O Brasil reconheceu em Guararapes o início de sua própria integridade. Angola demora a reconhecer os altos valores dos Tugas desprezando-os por despeito ou tonta hipocrisia. Quanto mais tarde o reconhecerem tanto maior serão as perdas de civilidade e identidade*. Posto isto, seguiremos a senda do conhecimento que legou grandeza a Portugal. Faltam-nos ESTADISTAS para cantarem bem alto esta mais-valia.
Continuando a Saga dos Mafulos e Guararapes, agora reforçados com os conhecimentos do terreno pelo mestiço Calabar, após o reforço de novas tropas elevadas nos efectivos para 5500 infantes e militares de armas, também apoiados por 42 embarcações conquistam a Capitânia de Rio Grande do Norte, Paraíba e Hamaracá. O Arraial do Bom Jesus, sitiado durante três meses e três dias, capitulou a 6 de Junho de 1635. Faltava nesse então tudo o que podia servir de sustento; consumiram-se cavalos, couros, cães, cobras, gatos, ratos e, porque não havia mais pólvora deram-se por perdidos.
Furtando-se ardilosamente ao cerco iniciaram uma marcha para a Bahia com uma tropa de 140 homens brancos, acrescidos dos negros de Henrique Dias e dos índios de Filipe Camarão com a qual a 19 de Julho de 1636, tomam a Vila de Porto Calvo situada a uns 30 quilómetros da praia de Maragogi, actual estado de Alagoas. Mesmo desfalecidos por tão penosa marcha, tiveram a força aliada à astúcia com ousadia de tomar tal praça com 4 companhias num total de 400 militares bem armados e municiados.
O comandante Mafulo Alexandre Picard, por ocasião da rendição (Porto Calvo), entregou como prisioneiro Domingos Fernando Calabar, o traidor mestiço que foi de imediato e sumariamente condenado à morte por garroteamento em 22 de julho daquele mesmo ano; o traidor pagou o preço certo e sem desconto para gaudio de toda a Gesta Luso-Brasileira no comando de Matias de Albuquerque. (Hoje, ao invés deste procedimento – no M´Puto, dão-se condecorações – um desaforo!...)
O Conde João Maurício de Nassau-Siegen chegando a 23 de Janeiro de 1637 trouxe consigo a mais importante missão cientifica que até então pisara em terras da América, ainda hoje é objecto de atenção de todos que se dedicam ao estuda das ciências e botânica daquele período. Em verdade a administração do Conde de Maurício de Nassau deu um surto de progresso estendendo fronteiras desde Maranhão à foz do Rio São Francisco.
A partir de 1640, quando da aclamação de D. João IV, diante da força armada da Companhia Holandesa das Indias Ocidentais, se torna evidente que o Império Colonial Português na Ásia era coisa do passado. Perdidos que estavam os territórios de Malaca, as feitorias e fortalezas na Índia como Mazagão, as ilhas de Colombo, Ceilão e os territórios Craganor, Cohim, e Bombaim e o abandono da Arábia e Golfo Pérsico com a mão “sempre amiga” dos Ingleses, o Arquipélago das Molucas, parte de Timor e o afastamento com massacre de missionários do Japão. Um despautério quase por completo…
*NOTA – Tendo como fomentadores e instigadores os generais de aviário após o VINTICINCO de SETENTA E QUATRO com o bando armado de cabeludos do MFA que até saquearam seus irmãos na debandada africana… Debandada FORÇADA …
(Continua…)
O Soba T´Chingange (Ochingandji)
KIANDA COM ONGWEVA - XX de várias partes…
– Crónica 3306 de 21.05.2022 – Republicação a 27.11.2022 em Lagoa do M´Puto
– MUXIMA NAS FRINCHAS DO TEMPO - Falar do futuro, até para as kiandas é tabu…
Ongweva é saudade
Por T´Chingange (Ochingandji) – Em Arazede do M´Puto
Falar do futuro, até para as kiandas é tabu - metem-no em sapatos quedes envolto em meias já debotadas e assim abandonados ali ficam na poeira do tempo como se estivessem arrumados num canto da arrecadação. Aos comuns viventes não se pode transmitir o amanhã, só o agora, lei básica da vida; caso contrário aparecem uns lacraus vindos do álem, misteriosamente oxorizados (coisas de Oxor). O Universo tem regras que por mais que queiramos, não estão ao nosso alcance engravidá-las. É aqui que surgem os mambos longínquos com soldados Mafulos, por via das falas da Kianda Januário Pieter também este, tio tetravô de Roxo, nascido às margens do lago Niassa, um meu antiquíssimo patrício…
E, os mambos de Januário, o Pieter, nem sabermos como, quando e aonde ia, ou vai buscar tantas falas sem medo de gastar seu reservatório das magias como se houvesse lá na cuca-armazém, uma fábrica de empacotar chwingames; fala do tempo, das revoltas da embocadura do rio Kwanza, das guerras dos Tugas e Mafulos de Loanda, n´gwetas e dos desentendimentos com a rainha N´Zinga, mais outros personagens do distante Kongo do Zombo, das terras de Kassange e da Matamba…
Parece que neste entretanto vazamos para outro lado que não era o tal de Museu do Prado. Estávamos no centro da antiga Madrid da época da Casa de Habsburgo em la Plaza Mayor, ladeados por pórticos. Nas proximidades ficavam o barroco Palácio Real mais o Arsenal Real, que exibe armas históricas mas, nem sei como do nada transladamos para aqui! Quem se mete com kiandas fica kiandado ou oxorizado.
O velho Januário Niassalês o tio das manas, descreve as festas axiluandas de então com kimbandas e t´chinganges pisoteando a terra, levantando poeira de encorajar kotas, jagas, sobas e m´fumos que iam chegando em alvoroço dos Dembos e de lá mais além do Kassange. Como se ali estivéramos senti que iam passando cabaças com malavo de cassoneira e, a cada grito dado pelos dançarinos guerreiros, o povo em uníssono gritava kwata mwana-pwó, kwata mwana-pwó. Arrepiei-me com medo como num repentemente estivesse rodeado de jacarés do kwanza, amarelados de muxima, pode!?
Era a preparação duma guerra contra os Tugas n´gwetas entrincheirados em Massangano por ordem dos Mafulos Holandeses. Morgan Tsvangirai o pai de Roxo ficou avençado pelos Mwana-Pwós com o posto de tenente de segunda linha; mandava os escravos m´bikas do kimbo fazer tarefas de manutenção e limpeza ao forte, zelar pelos n´dongos de pesca e translado de coisas para a Kissama e das patrulhas de soberania aos mares parados com lagoas até o Morro dos Imbondeiros e dos Elefantes da Maianga e Samba. Também tinham a caça e a pesca ao seu cuidado.
Assim transladado naqueles tempos vi M´fumos; iam chegando aos poucos como emissários da rainha N´Zinga M´Bandi da Matamba e do rei do Kongo Garcia II que, embora sendo cristianizado pelos Portugueses, com eles andava desentendido após a chegada dos Mafulos. Teriam estes prometido a eles poderes maiores com auxílio de armas do tipo de canhangulos ou pederneiras. Eram preparativos duma união para fazerem o grande e final assalto a Massangano. Só podia ser!
Naquela fortaleza os Tugas resistiam aos holandeses tapando-lhes as vias de comunicação ao mercado de escravos lá do interior fazendo emboscadas ou tocaias usando azagaias venenosas, um método aprendido com os índios do brasil, uma cana comprida que depois de soprada, dela saia um dardo mortífero. Por isso aquele mato metia demasiado medo aos Mafulos. É aqui que entra o Senhor Maurício de Nassau que desde o Recife Brasileiro mantia o negócio das peças m´bikas para os seus engenhos de assucar.
Neste arraial com a vida acontecendo muito de repente Redufina Kabasa mãe negra da Kianda Roxo estremava-se ensinando a sua filha maneiras de comportamento e era vê-la brincar com candengues brancos e pardos no átrio da missão! Bem cedo se destacou nas habilidades de colorir os jogos de desenho, os riscos da cabra cega; qualquer argila era motivo para dali sair pintura ou escultura bem à moda dos trabalhadores de talha do pequeno altar da igreja da muxima!
Ilustrações de Assunção Roxo
Glossário: Kianda: Calunga, fantasma; Muxima: saudade, lugar de romagem; quedes: sapatos de pano; da macambira; Mafulos: Holandeses; Mambos: Atitudes, procedimentos; Cuca: cabeça; Chuingame: pastilha elástica; N´gweta: branco; axiluanda: nascido na ilha de Luanda; Kimbanda: Médico tribal, curandeiro; T´Chingange: feiticeiro, secretário e cobrador do rei ou Mwata; malavo: vinho de palmeira; M´fumo: chefe da aldeia; Cassoneira: tipo de palmeira ; Kwata: agarra, Mwana-pwó: pombeiro branco, sertanejo, colonos; antigos taberneiros brancos; M´bika: escravo; N´dongo: canoa; Kissama: reserva animal, lugar com animais selvagens; Canhangulo: arma artesanal, de carregar pelo cano; Kiandado: enfeitiçado; Oxorizado: virado do avesso, vaporizado…
(Continua com “fricção”…)
Por: Soba T´Chingange (Ochingandji)
KILOMBO – NA FUNDAÇÃO DE ZUMBI DE N´GOLA
FALA KALADO NA SINGULARIDADE DOS KALUNDU**
"A história de um fracasso"- Crónica com ficção 3303 – 22ª de Várias Partes – 16.05.2022 – Republicação a 23.11.2022 na Lagoa do M´Puto
Por T´Chingange – Em Arazede de Coimbra do M´Puto
Voltando à singularidade do Nelito e de sua façanha em desviar um dacota da DTA para Brazaville na Republica Popular do Congo, diga-se: Numa altura em que Angola e os angolanos já não queriam mais viver sob domínio colonial português, não se compreende que o 4 de Junho de 1969 nunca tenha merecido a importância devida por parte da direcção do MPLA, porque foi uma iniciativa saída da sua base clandestina da Luua. Pois foi assim que apanhou completamente de surpresa os “camaradas” no bombom de Brazaville.
A PIDE fez circular nas instituições da governação Tuga, que “no dia 4/6/69, pelas 15.30, o avião C-3 matrícula CR-LCY, da DTA, da carreira Luanda/Sazaire, com 5 tripulantes e 12 passageiros a bordo, foi obrigado a mudar de rumo para Ponta Negra”. Aquela acção foi levada a cabo por três “criminosos armados”, a saber: -Luís António Neto, luandino, o “Lóló” Kiambata, luandino; Diogo Lourenço de Jesus, funcionário do Laboratório de Engenharia de Angola, Luandino e Manuel Caetano Soares da Silva, vulgo NELITO, luandino, solteiro e funcionário da Imprensa Nacional de Angola.
Dos três kamundongos nacionalistas que participaram nesta acção de luta contra o colonialismo português, apenas Luís Neto Kiambata se encontra vivo, tendo em Novembro de 2020 afirmado seu desencanto com o actual presidente João Lourenço subestimando-o com muxoxos no termo de matumbo; Diogo de Jesus e Nelito Soares, por ironia do destino, foram mortos pelas tropas Tugas, poucos anos depois e, em circunstâncias distintas.
O Diogo de Jesus, foi atingido por um obus no leste de Angola antes de 1974 e o segundo, Nelito Soares o FK* foi assassinado à queima-roupa na Vila-Alice pelos comandos Tugas já depois do 25 de Abril de 1974. Assim se pensava ter sido, até o misterioso encontro entre o T´Chingange Niassalês nos aeroportos Internacional e do Terminal Doméstico numero dois de Guarulhos. Foi, e ainda o é, graças ao “Morro da Maianga” que consegui descortinar um pouco mais a minha alhada… uma meia inventação saída do meu bairro…
Aqueles três Camundongos queriam vir a ser reconhecidos ao jeito de como o foi Ché Guevara na Ilha de Cuba. Também eu em candengue seguia de forma empolgada a estória quase épica duma tão lendária figura, descrita duma forma que o tempo desmanchou na verdade que conhecemos hoje; sabemos assim que de grandioso, este médico frustrado argentino só o foi na figura de livros de comiquitas tal como o foi “Lampião” do cangaço brasileiro, o Zé do Telhado do M´Puto ou o Bill Kid nos Estados Unidos da América.
E, é aqui que um ex-defunto de nome Nelito Soares e hoje, Ex-Coronel, recuperado em vivo como Fala Kalado se diz ter andado com o Che Guevara em um lugar perto de Ponta Negra com o nome de Luvungi da RPC- República Popular do Congo - lá para trás no tempo. E, foi exactamente no 25 de Abril de 65 que Nelito se encontrou nesse lugar com um grupo de 14 guerrilheiros; três dos quais, Ramón, Dreke e Tamayo saídos de Cuba com passaportes falsos e, desde Moscovo via Dar-es-Salam na Tanzânia com termino em Luvungi do Congo Braza.
Do grupo original formado pelos três idealistas internacionais Ramón, Dreke e Tamayo, nomes fictícios importados de Cuba por Fidel de Castro e a mando de Moscovo só “Dreke” liderou missões bem-sucedidas em África, a saber, nas guerras de libertação da Guiné/Cabo Verde e República da Guiné. Ficara acertado que, no início, Dreke se iria apresentar como o chefe; Guevara seria o "doutor Tatu", médico e tradutor…
Pois foi na chamada 2ª Região Militar, Zona B. que se deu o encontro de Ernesto «Che» Guevara com o MPLA de Brazzaville. Nelito aqui ficou, na designada “Base das Pacaças” - base guerrilheira do MPLA em território do Congo mas, supostamente designada de Cabinda - de 1965. Estavam lá, Henrique «Iko» Carreira, Daniel Chipenda, Jonas Savimbi, Tomás Medeiros, Nelito Soares, Jorge Serguera - o "Papito" e, o piloto cubano Samidey, Benigno Vieira Lopes «Ingo». Quanto a Ché e segundo um relato de Dreke: "Não ficou ali famoso como guerrilheiro, mas como médico. Como fazem os nossos na ilha em Cuba e outros países, saindo pela manhã, visitando os lugares e distribuindo os poucos medicamentos que tínhamos – kamoquina, rezoquina e bolachas amarelas de quinino"…
Notas: *Esta é uma estória inventada só no que concerne às mentiras…
**kalundu – É uma divindade ou espirito justiceiro, presente na natureza
(A entrevista com o Brigadeiro N´Dachala, continuará…)
O Soba T´Chingange
NO KILOMBO – NA FUNDAÇÃO DE ZUMBI DE N´GOLA…
NA SEDE BAOBÁ de FALA KALADO
– NA SINGULARIDADE DOS KALUNDU***
- Crónica com ficção 3301 – 21ª de Várias Partes – 15.05.2022 – Republicação a 21.11.2022 em Lagoa do M´puto
Por T´Chingange – Em Arazede de Coimbra do M´Puto
Rosa Casado, a chefe de protocolo da Fundação Zumbi de N´Gola na sede do baobá - lugar do Imbondeiro entre União dos Palmares e o Morro da Barriga, telefonou-me para o número da secreta dando-me indicações que o senhor Brigadeiro e Porta-Voz da UNITA, Marcial Adriano N´Dachala, iria estar à minha espera no d´jango do jardim Imbondeiro. Fiquei verdadeiramente ansioso por este encontro já agendado mas sem data prévia. Há bem uns trinta e dois anos que não nos víamos; era eu nesse então, Presidente do Comité da Lagoa do M´Puto na Diáspora…
Neste agora e, desde a morte de Jonas Savimbi que Marcial N´Dachala se encontrava distante da politica activa. Reapareceu na véspera do Congresso da UNITA como director da campanha do candidato Lukamba Paulo “Gato” de quem é muito próximo. Ao longo da sua trajectória política, N´Dachala, desempenhou funções diplomáticas como representante adjunto da UNITA em Portugal, depois de ter estado no Senegal como bolseiro. Regressou ao país (Angola), na sequência dos acordos de Bicesse, tendo sido colocado como Secretario Provincial do Huambo.
É agora o brigadeiro reformado e responsável da pasta da Informação na sua função de Porta-voz do Partido do Galo Negro que, fez saber recentemente ter valido a pena ter “fé” num desfecho realista: O parecer favorável por parte do Tribunal Constitucional ao seu 13º congresso que foi, apesar do “pouco” tempo que restou para início da campanha eleitoral, a saída lógica, após tanta insensatez, embargo e procedimentos inauditos dentro do que é a lógica institucional…
Ao som de marimbas tocadas por gente ao vivo que aprendeu seu manuseamento bem á maneira de Cangandala, demos um forte abraço; abraço de manos velhos que a estória desavisou no tempo de inquietude, na perseguição e outros contratempos a que agora chamam de resiliência – um colorido de romantismo de vulgar pieguice. Mais kotas, recordamos momentos passados, reuniões frutíferas, muitas falas e, resiliências propositadas!
Recordei-lhe assim, olho no olho como auto felicitação por chegarmos até aqui com um galo de cerâmica no peito cantando nossa margem de intervenção. Eu como um Major Niassalês dentro das instâncias honoríficas, e ele, muito justamente como Brigadeiro aposentado em exercício político… de todos os itens agendados em minha cabeça, por agora só lhe fiz quatro perguntas:
P1. de T´Ching…: - Apesar de o TC se ter desmarcado de um alegado projecto de acórdão que foi posto a circular nas redes sociais, a UNITA tenciona agilizar mecanismos de fiscalização à ética deste poder?
P2. do T´Ching…: - É sabido; “aliás, a exemplo do Congresso anulado, o TC levou meses até o anotar”, salientei… Isto tem alguma normalidade?
P3. do T´Ching…: - Dá para perceber que o companheiro está um refinado diplomata com essa contenção de impulsos sem chamar o nome certo aos bois?!
P4. do T´Ching…: - Nossas intervenções irão continuar mas, eu que tenho estado vendo o panorama de longe e coadjuvado por gente precavida como Fernando Vumby aconselho prudência à nossa UNITA…! Depois desse discurso à nação por Adalberto da Costa Júnior, o brutamontes de João Lourenço, ficou muito cheio de raiva. Provavelmente vai até recorrer ao CAP =Tribunal Constitucional, para se vingar do banho que levou do ACJ...! O Indivíduo é rancoroso e vingativo...! Nada de excessos de confiança nestas instituições de Angola…! Este regime do M é capaz de tudo!
***Kalundu: - Uma divindade ou espirito justiceiro, presente na natureza…
(A entrevista, pode continuar…)
O Soba T´Chingange
NO KILOMBO– NA FUNDAÇÃO DE ZUMBI DE N´GOLA…
COM FALA KALADO – NA SINGULARIDADE DOS KALUNDU
- Crónica com ficção 3300 – 20ª de Várias Partes – 13.05.2022 – Republicação a 20.11.2022 na Lagoa do M´Puto
Por T´Chingange – Em Arazede de Coimbra do M´Puto
AR - Na minha qualidade de Zelador-Mor da Fundação de Zumbi de N´Gola fiz uma visita relâmpago ao CDB - Centro de Documentações no lugar de Baobá (Imbondeiro) – lugar de entre União dos Palmares e o Morro da Barriga no estado de Alagoas do Brasil. O historiador Vizeu Antunes, responsável pelo sector, deu-me liberdade de poder consultar os arquivos da Fundação e assim, livre de outros deveres poder ver e analisar antigos dados para assim, prosseguir minha tarefa de entrevistar gente de nomeada na ainda estória recente de N´Gola. E, vasculhando cadernos de apontamentos entre múltiplas anotações recolhi dados ainda mal decifrados no contesto da semântica histórica. Fala Kalado, o agora Comendador - um Ex-Defunto de nome Nelito Soares e hoje, Ex-Coronel, recuperado em vivo e, que andou com o Che Guevara em um lugar perto de Ponta Negra chamado de Luvungi da RPC- República Popular do Congo lá para trás nos anos de 1964 ou 1965.
É aqui que ele encontra Jonas Savimbi, um negro bem negro e, os rumos, lentamente, viraram em novos azimutes. Ainda não tenho bem a exacta certeza de como tudo aconteceu mas e como diz Murphy em seu princípio, o que tiver de ser, assim será na convicção de que escrever o futuro dum morto matumbola* é bem periclitante, quase impossível. Nelito Soares era funcionário da Imprensa Nacional de Angola - Cidade Alta da LUUA… Para muitos é apenas o nome de bairro luandense; combateu, de armas na mão, contra o estado colonial, sem ter visto realizado o sonho da Angola independente, tendo sido morto pela tropa portuguesa no seu Bairro da Vila Alice. Tal como eu, foi estudante na EIL – Escola Industrial de Luanda e fez seu Curso de Sargentos Milicianos na Escola de Aplicação Militar de Nova Lisboa (EAMA)– Huambo.
AR - Bom! Nelito, um incorporado nas tropas regulamentares coloniais na região de Cabinda, tal como eu, T´Chingange, um seu colega de armas e, também incorporado na Companhia de Caçadores 1734 de Beja do M´Puto, protagonizou, com mais dois compatriotas, o desvio, para o Congo Brazzaville, de um avião comercial – um “Dacota da DTA” que seguia de Luanda para Cabinda, com passageiros a bordo no ano de 1969 (04 de Junho). O avião que deveria aterrar em Cabinda foi desviado para Ponta Negra. Longe estava, então, Nelito Soares de imaginar que, seis anos depois, num outro dia, com a Independência à porta, havia de ser morto por elementos Comandos das Forças do M´Puto – as únicas que dignificaram o M´Puto em Angola…
NELITO - Em frente à então sede nacional do MPLA, a cujos ideais aderiu numa altura conturbada de tomada do poder por este partido/movimento a maka, aconteceu! Ainda mal estruturado este Movimento do “M da vitória ou morte” aterroriza a população de Luanda às ordens “encapotadas” do General de Aviário Rosa Coutinho do MFA - um antigo prisioneiro da FNLA no rio Zaire. Nelito Soares, foi também no bairro da Vila Alice que cresceu e viveu até deixar o país para se juntar, em Brazzaville segundo a estória mal contada, à Luta Armada de Libertação Nacional, protagonizada pelo MPLA.
Era, então, funcionário da Imprensa Nacional. Eram tempos de clandestinidade, sem cartão de militante, nem discursos, muito menos promessas. Angola em um prazo muito curto, virou às avessas por força e graça do “glorioso MFA – salvo seja”. Havia falas surdinadas, salões de baile, ou bailes de jardim ou em locais de trabalho e, num repente depois dum VINTICINCO NO M´PUTO, tudo mudou – Cravos para uns, espinhos para outros, que num repente viram RETORNADOS. Mais tarde os boatos, os rebentamentos nos musseques, a rebelião SAIDA DO NADA, para trabalhar o medo, o apelo à fuga dos brancos…
AR - Manuel Soares de Silva, nome de registo, filho de Luís João Soares da Silva e de Isabel Severina da Silva, nasceu em Luanda, a 19 de Setembro de 1943, tendo falecido em 27 de Julho de 1975. Assim se pensava mas, pelo que já foi contado, saiu morto pela fronteira Sul de Namacunde com o beneplácito de segredo do médico Kimbanda Kassessa. A parti daqui as intermitências da morte sugere segredo de resiliência e, do nada (…) instala-se em Brasil negociando com armas aos traficantes dos morros ao redor de S. Paulo e Rio de Janeiro mas e, sempre com seu novo nome de Fala Kalado.
Seu estudo secundário fê-lo na antiga Escola Industrial de Luanda, onde funciona agora o Instituto Médio Industrial de Luanda (Makarenko), na Vila Alice. Um militar de “veia lusa” afirma que: Esse Filho da Puta foi abatido em 75 nas escaramuças “escaramuças, é favor” – aonde o MPLA emboscou e assassinou vários militares… E, vêem-me agora com panfletos de merda em ode a um terrorista mal fabricado. Malditos reaccionários - fodam-se! Fantoches travestidos em progressistas.
AR - Comuna, é mentiroso compulsivo, seja da URSS seja da CHINA, Coreia do Norte ou o raio que os parta! Foram eles sim, quem arregimentou e armou uns quantos candengues “PIONEIROS” que metralharam um Jeep de Comandos Tugas PELAS COSTAS (confirmo que assim foi! Eu estava na Luua neste então), matando logo dois e ferindo gravemente outros dois. Mesmo assim conseguiram levar o Jeep até ao Quartel dos Comandos do Cazenga! Ali, mal viram o resultado desta enorme COBARDIA do MPLA os COMANDOS, a seguir, deram a resposta. A chegada de 2 Companhias dos Comandos desde o Cazenga dignificou o acto de afronta da Vila Alice; esta é a verdade!…Bem! Menos mal que só ressuscito o morto NELITO nesta estória como um Ex-defunto MATUMBOLA!
*Matumbola: - Na superstição de gente bantu, é um morto-vivo - indivíduo ressuscitado por artes mágicas, que cumpre ordens dum suposto feiticeiro kalundu que o trouxe à vida - Uma divindade ou espirito justiceiro, presente na natureza…
Ilustrações de A. Roxo - AR
(Continua…)
O Soba T´Chingange
ANGOLA, TERRA DA GASOSA . VIII
CANTINHO DO INFERNO – TERRA DE MATRINDINDES
“Angola, quanto tempo falta para amanhã?” Escritos antigos - Em Julho de 2002 (quatro meses após a morte de Savimbi - 22 de Fevereiro de 2002)
– Crónica 3299 de 12.05.2022 – Republicação a 19.11.2022 na Lagoa do M´Puto
N´Nhaka: - Do Umbundo, lameiro, plantação junto aos rios, horta…
Por T´Chingange – Em Arazede de Coimbra do M´Puto
Passando o dia nas quedas da Binga e já quase noite, retornamos ao Sumbe, a casa do Sr. Pais da Cunha, pai de Balbina, nosso anfitrião e sogro do Jimba; pela noite teríamos os jogos do Mundial de Futebol 2002. Situada na rua da Resistência, sector impar; o kota Pernambuco estava nos fundos do quintal queixando-se de dores e tremuras - tudo indicava que fosse paludismo, tomara! Dormia ali no relento da sacada no anexo.
Pernambuco, sempre foi um dedicado serviçal mas, agora a idade tornou-o corcunda mais propriamente depois de ser submetido a uma intervenção no hospital de Luanda por pseudo médicos cubanos. A vida por ali andava testada no fastio de sem cerimónias de consciência, andava muito próximo da morte como se assim o fosse coisa normal. Este comportamento social estava muito mudado para pior e em relação aos anos que por ali vivi e até o 13 de Agosto de 1975, quando da minha saída na ponte “Lualix”.
Disse cá para mim nessa altura, que se calhar não voltaria a ver o kota Pernambuco e, em verdade, morreu pouco tempo depois envolto creio numa apatia de deixa andar para ver como fica, quando se sentia já o cheiro do além ainda em vida. Quando me lembro ainda fico triste. Jimba, marido de Balbina veio a morrer tempos depois e, após ter andado a ser tratado nos hospitais do M´Puto mas seu destino aligeirou-se entre fragilidades, fraquezas de coração e das bichezas cancerígenas…
Aquele velho de nome Pernambuco que tanto se dedicou lá na cozinha do Cantinho do Inferno, anos e anos a fio fazendo comezainas de gente fina como lagosta suada entre outras maravilhas pantagruélicas, ali estava que nem um enjeitado, definhando-se nas carnes dia após dia sem uma atenção mais esmerada pelos circundantes; aquela falta de atenção pelos demais fez-me ver a cruel postura da vida naquela angola acabada de sair da guerra dos misseis monacaxitos.
Apercebi-me que a morte chegava mais rápido ali do que em outro qualquer lado, coisa de pensamento ainda envolto naqueles tempos em que a Novo Redondo se chamava “o cemitério dos brancos” e sem aquela atenção dos demais, a morte já vulgarizada de comum como se assim fosse uns continuados descuidos de humanidade que num repentemente levou Pernambuco… Lá naquele quintal, vou continuar a vê-lo na insignificância dos fundos, para sempre. Mas e agora, o casula Xingu e a Fati também estavam com indicio de febre; foram ao hospital e deram-lhe medicação para a febre tifóide. Tive dúvidas de ser isso e, creio terem-lhe dado este medicamento pelas águas insalubres do rio Cambongo.
A febre tifóide é uma doença infecciosa, transmissível e desencadeada pela bactéria Salmonella Typhi. Isso deixou-me na altura preocupado pelo que beber água só mesmo engarrafada. A doença, que apresenta gravidade variável, está relacionada directamente com as condições de saneamento básico em uma região e com os hábitos de higiene de cada indivíduo. Assim sendo, sua incidência é maior em áreas associadas a baixos níveis socioeconómicos, ocorrendo num maior número de casos nas regiões quentes e sem o devido tratamento.
Numa destas noites Chiquinho saiu a ver novidades pelas ruas mal iluminadas do Sumbe e ao chegar teve a expressão: o holocausto está escuro! Nas noites que ali permanecemos, o galo do vizinho Cadinho cantou a todas as horas ímpares, começou à uma e terminou lá pelas cinco da manhã. Com o calor a apertar de noite tive de me levantar e banhar-me com o caneco de esmalte e, espreitando lá para o quintal do Cadinho pude localizar o galo cantor no meio de uns carros desarranjados com os motores descarnados, vielas soltas com os pistões a servir de varas aos galináceos, restos de geleiras, fogões e corotos vários todos caiados de neve saída dos galináceos, perus e patos…
Pude também ver já com o dia a despontar, no meio daquele conjunto de estralhos e zingarelhos o esqueleto de uma máquina de costura Oliva entre outras imbambas misturados com as baterias, cambotas, restos de macaco e chatarra de pneus, motores de arranque com muito fio enrolado em cima de uma mesa escura de óleo queimado, esqueletos de motorizadas e bicicletas e até um said-car. Também havia um fogão desmantelado, uma geleira que fazia de prateleira a latas besuntadas de óleos a granel. Enfim, todas as imbambas a um qualquer momento davam jeito e tanto que, em um dos dias o Bien, Humberto Cunha, foi lã buscar uma mola helicoidal para adaptar no seu carro hibrido, o mesmo talqualmente, que nos levou ao Lobito.
(Continua…)
O Soba T´Chingange (Otchingandji)
RECIFE – A SAGA DO AÇÚCAR – TOMADA DE LOANDA PELOS MAFULOS
FÁBRICA DE LETRAS DA KIZOMBA
Crónica nº 3297 de 10.05.2022,em Arazede do M´Puto – Republicação a 17.11.2022 em Lagoa do M´Puto
Por T´Chingange (Ochingandji)
A figura pública de Figueiroa foi contestada quando ainda era governador de Cabo Verde mas, na saga Atlântica, como herói na tomada de Pernambuco, passou a ter uma forte ligação com a história…
Na sua relação com Angola, interessa descrever o seu trajecto de vida. A vinte e dois de Janeiro de 1639, Filipe III, rei de Portugal sob o domínio de Castela, nomeou Pedro César de Mendonça Governador e Capitão-General dos Reinos do Congo e N´Gola. Francisco de Figueiroa que já era um destacado homem, reivindicador de seu posto de fidalgo da corte, foi nomeado Almirante, o segundo posto depois do de General e simultaneamente Ouvidor da Colónia, um alto cargo nesse então.
Nesta expedição a terras de África embarcou como soldado António de Oliveira Cadornega que mais tarde, entre 1860 e 1861, se reactivaria a história das guerras Angolanas escritas por si, em três volumes da Agência Geral do Ultramar. As duas naus “Rei Dadid e Santa Catarina” chegariam a Loanda em 18 de Outubro desse ano de 1639.
No dia 30 de Maio de 1641, parte do Recife uma expedição de 21 navios comandada por Cornelis Cornelis Zonjil com 3000 homens, marinheiros Mafulos (Holandeses) e infantes mercenários de várias nacionalidades da Europa de então a soldo da Companhia das Índias Ocidentais, todos eles experimentados nas guerras de Flandres e Alemanha.
Estas forças de guerra tinham por objectivo tomar Loanda, ocupar N´Gola e dominar o mercado de escravaria da região, importante mão-de-obra para os engenhos de Pernambuco em seu poder. Ao largo da baia de Loanda, a 23 de Agosto desse ano, esta esquadra é avistada de terra, do lugar sobranceiro de fortaleza de São Miguel e parte alta do insípido caserio daquele esboço de cidade já com quase 4000 almas.
Os moradores com seus governantes, arraia-miúda de desterrados e escravos evacuaram a cidade levando os haveres possíveis, refugiando-se no arraial de Kilunda do Bengo. Esta fuga teve redobradas dificuldades por terem à-perna os nativos descontentes flagelando os mwana-pwós e o governador Pedro Cézar. Este governador tinha-se revelado um homem de má índole, inepto no mando de gente e detendo haveres por corruptas e enganosas tramóias.
No dia 25 de Agosto de 1641 os Mafulos com toda aquela gente de olho azul, vestida de ferro, tomam posse de todo aquele caserio e fortaleza sem grande contratempo. Na manhã de 17 de Maio de 1643, dois anos depois, os Mafulos, contrariando acordos de relação comercial dúbia por parte de alguns portugueses, atacam por isso mesmo, de forma inesperada, o arraial do Bengo.
A usura do governador Pedro Cézar tinha transbordado em traquinices resultado daqui a morte de alguns dos defensores. O próprio governador e o Ouvidor Francisco de Figueiroa foram presos e levados para Loanda. Estes “ilustres desclassificados” na visão de pontos de vista dos cronistas de então, foram embarcados para o Recife; estes, com mais alguns destacados comerciantes negreiros, compraram a sua liberdade a troco dos seus baús carregados de jóias, ouro e património de indevida apropriação à igreja e seus pares, ricos negreiros não colaborantes.
A soltura de Figueiroa ficou-lhe em mais de 15 mil cruzados pelo que, pode assim regressar ao Brasil tendo-se instalado em Bahia de todos os Santos por algum tempo. Figueiroa regressa à Madeira em uma escolta de navetas a cinco navios que regressavam da Índia aportando no Funchal para reabastecimento. D. João IV, tendo notícias de que a holanda preparava uma armada destinada a reforçar as guarnições holandesas de Pernambuco e Bahia; sabendo disso, deu ordens musculadas para que Portugal enviasse tropas de infantaria para tais destinos pois que se estava a tornar demasiada tardia a ajuda solicitada por Pernambuco. Em Lisboa formaram-se 100 infantes em 2 caravelas; no Porto, outras tantas de Viana do Minho, Aveiro, Algarve, e Setúbal. Ao mesmo tempo dava ordens a Figueiroa que levantasse 500 infantes da ilha da Madeira e Açores para tal envolvimento militar…
GLOSSÁRIO: Mafulo: - Holandês em dialecto kimbundo de Angola
NOTA: A reconquista de Angola virá logo a seguir, pois que foi do Recife que saiu Salvador Correia de Sá e Benevides com uma frota de naus, que libertou Loanda do jugo Mafulo - * Pode agora entender-se a importância destas ligações entre a Metrópole, Brasil, Ilhas Atlânticas e Angola… Factos quase desconhecidos no mundo português da aqui referida Globália…
(Continua…)
O Soba T´Chingange (Ochingandji)
NO KILOMBO DO ZUMBI – NA FUNDAÇÃO DE ZUMBI DE N´GOLA…
COM FALA KALADO – A TRAIÇÃO DO ALVOR - Crónica com ficção 3291
– 18ª de Várias Partes – 25.04.2022 ,na Pajuçara do Nordeste brasileiro
– Republicação a 10.11.2022 na Lagoa do M´puto
Por T´Chingange
Aquele encontro em Lindoya com o General Kamalata Numa da UNITA, acabou em churrasco com a promessa de me dar uma entrevista sobre o tema Angola… Dizia então que se “Deus quiser como é de norma dizer-se entre cristãos” iriamos aqui estar de novo. Desta feita e, de comum acordo, falamos no exacto dia em que se comemora o Vinticinco de Abril no M´Puto (48 anos passados), o qual com todas as vicissitudes deu origem à independência de Angola. A entrevista começa assim do nada e, em uma data apelidada aqui de Vinticinco:
P**: - General, como pode ver agora essa data de Vinticinco de Abril de 1975 que foi tão marcante para a liberdade no espaço da Lusofonia?
G**: - O regime instaurado em Portugal a 25 de Abril de 1974, tudo tem feito para minimizar os crimes cometidos contra a nova nação Angola, traindo logo à partida o Acordo de Alvor e, que ainda tanto apregoam e, pelos quais é directamente responsável; promovendo a propósito, o mito de que a Revolução dos Cravos foi uma “revolução sem sangue”. Por outro lado, passados que são 48 anos, ainda não ouve um alto dignatário do Governo do M´Puto que mencionasse este desaire que culminou na entrega da governação ao MPLA.
P: - General, para além do mais, estão hoje (dia do Vinticinco) condecorando com a ORDEM DA LIBERDADE no M´Puto o vilão que tudo fez para desvirtuar todas as eventuais boas intenções do Concelho da Revolução, um oficial vermelho chamado de Rosa Coutinho?
G: - Em 15 de Janeiro de 1975 foi assinado esse acordo que refere, “Acordo de Alvor” que deveria corresponder à transição de poderes de Portugal para os três movimentos emancipalistas reconhecidos. Portugal, tomou logo partido pelo MPLA pois que já antes deste acordo, se tinham reunido em Argel para consertar os procedimentos a que viemos a assistir. As consequências são por demais conhecidas e, assiste-se a uma permanente campanha de imunda falsidade da história com branqueamento de crimes com o apoio da pseudo “elite de Abril”, infiltrada nas escolas, universidade, fundações e observatórios, em quase todos os meios de comunicação de massas e até na figura principal do Estado Português.
P: - Como General da UNITA, como vê o desenrolar de todo o processo em Angola após o Vinticinco?
G: - Quem levou a guerra a Angola foram os portugueses que logo buscaram os russos para os coadjuvarem na mudança fornecendo-lhes toda a “aptidão” na técnica de guerra de sublevação. Chamaram a seguir os cubanos que entraram em solo angolano muito ante da data estipulada para a independência, o 11 de Novembro de 1975. Fizeram do MPLA e à revelia do povo, o representante de toda a população residente no território. Temos assim o MPLA/Governo, como o agente do neocolonialismo em Angola. Por detrás de tudo estão as decisões tomadas em Argel pelos militares portugueses, de esquerda.
P: - Reconhece ter havido golpe baixo, senão traição, por parte de Portugal?
G: - É por demais conhecida a ida de Otelo Saraiva de Carvalho a Cuba a
solicitar intervenção armada e a figura sinistra de Rosa Coutinho que tudo fizeram para que o rumo de Angola resvalasse na guerra entre irmãos. E, estava escrito naquele acordo que em Angola se formaria uma Assembleia Constituinte no prazo de nove meses. Nada disto aconteceu!
P: - Em Abril de 1975 Jomo Keniata organiza a Cimeira de Nakuru no Quénia, na qual a UNITA, MPLA e FNLA acordam na formação de um exército nacional único. O que falhou depois disto?
G: -Bem! Nesse mesmo mês (Abril de 75) Savimbi chega a Luanda. Cerca de dois meses depois, o MPLA destrói um quartel da UNITA na capital., chacinando militares e civis ali bivacados – este episódio ficou conhecido por “MASSACRE DO PICA-PAU”, nome do bairro que albergou o quartel. Definitivamente o MPLA, pelas ordens de Rosa Coutinho, o cunhado de Agostinho Neto, não queria nenhum dos outros Movimentos intervenientes no “ACORDO DE ALVOR” em Luanda. Eu direi que este foi o mais escandaloso “DESACORDO” na estória recente que envolve países dos PALOPS.
P: Em Luanda, nesse então, havia provocações originando a fuga de brancos e assimilados, mazombos como eu. A lei, a ordem, a justiça eram coisas quase inexistentes ou anedóticas pela pior das negativas. Que tem a dizer a isto?
G: - Luanda ficou entregue a gente impreparada, gente racista como Lúcio Lara entre muitos outros e “miúdos pioneiros” que faziam querer tomar o controlo de tudo… Para o MPLA, era incontestavelmente seu líder Agostinho Neto, um medíocre poeta com formação universitária em Coimbra – O homem escolhido pelos generais e afins do MFA (dizem agora, ter sido o menos mau!). A UNITA também se retira de Luanda para o Huambo, antiga Nova lisboa. O MPLA fica dono e senhor da capital, a Luua.
P: - Muito antes do 11 de Novembro de 1975, desembarcam os primeiros cubanos que passam a apoiar o MPLA contra a FNLA tal como o combinado entre Fidel de Castro e Otelo Saraiva de Carvalho; hoje deve saber-se como tudo se processou?
G: - Assim foi! O pseudo-herói do VINTICINCO de Abril do M´Puto, conhecido pela rebelião dos capitães assim procedeu. Mas, em verdade já havia em Angola e Congo Brazaville cubanos em treinamento para ultimar sua entrada em Angola e, muito antes do 11 de Novembro. Esta força ajudou o MPLA contra a FNLA; força da FNLA que avançou para tomar Luanda, uma coluna na qual se incluíam mercenários de várias nacionalidades, portuguesas incluídas tal como Santos e Castro um oficial superior nascido em Angola; também havia um elevado número de zairenses - sete ingleses, dois americanos, um cipriota, um escocês e um sul-africano que são feitos prisioneiros e, que num julgamento sumário, mais tarde, foram fuzilados…
P: - Houve na África Portuguesa, uma limpeza étnica da população branca, promovida pela União Soviética com o total apoio dos partidos da esquerda portuguesa: - PCP e PS. Que tem a acrescentar a isto General?
G:- Em verdade, o Relatório Final da Comissão de Peritos estabelecido conforme a Resolução 780 do Conselho de Segurança das Nações Unidas* definiu a limpeza étnica como sendo: “Uma política propositadamente concebida por um grupo étnico ou religioso, para remover a população civil de outro grupo étnico de uma determinada área geográfica, através de meios violentos ou que inspirem terror”. Pois foi isto que aconteceu com Umbundos e Brancos… As evidências e as provas de crime são tantas que, não restam dúvidas de que a descolonização da África Portuguesa foi uma limpeza étnica da população branca, Quiocos e Umbundos, promovida pela União Soviética com o total apoio dos partidos da esquerda portuguesa: - PCP e PS.
Ver Nota***
Notas- 1*: Ver documenta – ORGANIZAÇÃO DAS NAÇOES UNIDAS – Relatório Final da Comissão de Peritos Estabelecido Conforme a Resolução 780 do Conselho de Segurança (1992). 27 de Maio de 1994; 2**: - P de pergunta, G de General; 3***: - Nesta data o M, movimento governo, continua no poder tendo sufragado João Lourenço como Presidente do MPLA/Angola, com fraude. Batota verificada mas não aceite pelos apêndices de Tribunal Constitucional e Eleitoral, tendo recusado as provas da victória, sem sequer as lerem. A prova de que foi ganhador Adalberto da Costa Júnior, Presidente da UNITA…
(Continua… Sobre Cuíto -Mavinga)
O Soba T´Chingange (Otchingandji)
ANGOLA, TERRA DA GASOSA . VI
CANTINHO DO INFERNO – TERRA DE MATRINDINDES
Lembranças de escritos antigos - “Angola, quanto tempo falta para amanhã?” – Em Julho de 2002 (quatro meses após a morte de Savimbi – 22 de Fevereiro de 2002)
– Crónica 3287 de 20.04.2022, em PortVille da Pajuçara de Maceió – Republicação a 05.11.2022 em Messejana do M´Puto
N´Nhaka: - Do Umbundo, lameiro, plantação junto ao rio, horta…
Por T´Chingange –(Otchingandji)
CA -Já estamos no Sumbe, terra do eclipse e da eleição de misse 2001, um ano atrás, mas ainda lá está o jardim que proporcionou mostrar a fantasia com lençol de água escorrendo em cascata e, muita luz de coloridos brilhos. Tudo para trabalhar pela televisão as invencionices de lavagem da governação sem os desmandos, roubos e superfacturamento que a nomenclatura vinha praticando. Agora está tudo seco, o fingimento de beldades já sem águas escorrendo, deu lugar à terra crua e vermelha no lugar da grama - as árvores definham por falta de água!
Água, aiué…foi aparecendo nas torneiras em alguns dias entre as cinco e seis horas da manhã, depois, adeus… Não deu para tomar banho de chuveiro; na casa do pai de Balbina, Pais da Cunha o caneco funcionou todo o tempo. A luz da lâmpada também só aparecia nos dias ímpares; com gasosa até podiam dar-nos uma fase por mais algum tempo. O mundial de futebol de 2002 (vinte anos atrás) estava a decorrer. Todos desejavam a victória do Senegal e, só depois o Brasil – Os Tugas já estavam de fora.
CA - Os grandes discos de antenas parabólicas proporcionavam aos mais abastados da cidade do Sumbe verem o canal de África – RTP Internacional entre outras e de todo o mundo. Xingú, o mais candengue da família Pais, nas falhas de energia lá ia a correr até à casa do gerente do gerador ligar a fase pirata da zona par; aconteceu até levar uma lata de gasóleo, o necessário para o gerador funcionar.
Era uma luta pelos vistos! É que nem sempre os vizinhos estavam nos ajustes indevidos para que o gerador funcionasse na borla devida. Mas, nestes dias a febre do futebol fazia milagres de luz para sempre se verem os gooolos. Em um dos vários dias comemos de vela acesa, talvez a gasosa do lado impar tivesse sido mais substancial. Até foi bom que acontecesse a escuridão porque tivemos oportunidade de assim entabular divagações com ajustes de posturas nos muxoxos e kazumbis.
CA - No meu sentido de inserir palavras nesta descrição, frases e estruturas sintácticas, fui acumulando palavras novas oriundas do kimbundo, do umbundo e outras maneiras de linguajar tendo sempre como base o português do M´Puto com as declinações e palavras novas, inventadas até e, u oriundas do tronco bantu. Sendo assim um misto de narração, inventação, conto ou testemunho de reportagem, coloco em meus próprios sonhos, as vontades de reconciliação com um profundo agradecimento a todos os que me proporcionaram dias tão diferentes.
Envolto em ideias díspares, quase psicografava em vontade, nas contradições, algumas das sanguinolentas, macabras até e, que sem o devido tato, poderiam resvalar para ressentimentos; acontecia assim ao falar com o filósofo Pipocas, um responsável do património local do MPLA que de tanto beber, se esqueceu dele mesmo – pifou em sabedoria!
CA - Pipocas era em verdade um símbolo kazukuteiro descartável, ágil e de falas suaves, peneirava-se na beleza das malambas, esperto, agressivo no beber, desconsiderado ou desclassificado por raiva, ciúme ou desdém, poucos o tinham em conceito concebido mas, tinha sim uma mente aguda: Ginasticando suas manigâncias da vida definhava-se na permanente curtição do álcool, vinho Camilo Alves, cerveja, cachaça e outras mistelas de bangasumo e capo-roto.
Pipocas, tinha sido comandante mas, por ter arrecadado o dinheiro dos mortos de guerra saiu dos mecanográficos e, por ali está agora comandando os imóveis, remexendo continuamente mugimbos almoxarifados, efémeros de quanto baste para encantar linguistas; isto, antes de rodopiar os olhos liambados de coisa ruim. É um personagem típico dum grande palco que é Angola, passando os dias num faz de conta divagando e bebendo frias cucas; e, assim sua cuca se adia, sempre adiado nas obrigações. (…Com ele, Pipocas sóbrio, tive conversas bem interessantes, senti-lhe uma arguta esperteza, ideais bem formulados, revelando ter principios de sábia concertação social de elevada erudição – acima da média …)
Ilustrações de CA -Costa Araújo
(Continua…)
O Soba T´Chingange (Otchingandji)
ANGOLA, TERRA DA GASOSA . V
CANTINHO DO INFERNO – TERRA DE MATRINDINDES
Lembranças de escritos antigos - “Angola, quanto tempo falta para amanhã?” – Em Julho de 2002 (quatro meses após a morte de Savimbi – 22 de Fevereiro de 2002) – Crónica 3283 de 16.04.2022 em PortVille da Pajuçara de Maceió – Republicada a 30.10.2022 na Lagoa do M´puto
N´Nhaka: - Do Umbundo, lameiro, plantação junto aos rios, horta…
Por T´Chingange
Neste lugar de encantos atarraxados, na área de serviço de Cabo Ledo, as cervejas são retiradas de grandes caixas de isopor, esferovite; dessas que se usam quando vamos para o campismo mas, de maiores dimensões. É dali que retiram as verdadeiras gasosas de beber, pepsi-cola, mission, cucas e taifal ou sagres do M´Puto. Ali perto há um aquartelamento militar; foi por aqui que entraram os primeiros militares cubanos que deram formação às primeiras tropas organizadas do MPLA. E, foi Carlos Fabião, Flávio Bravo e Agostinho Neto que acordam os pormenores da participação Cubana na Operação Carlota, a que ficou conhecida como a Batalha de Luanda.
Pois foi aqui que entraram e depois saíram entre Maio e Junho nessa Operação Carlota; oficiais que por ali passaram tais como: Abelardo Colomé Ibarra, Lopes Cubas, Freitas Ramirez, Leopoldo Cintras Frias ou Romário Sotomayor. Foram estes e os jovens da Academia Militar de “Ceiba del Água” que mais tarde deram os pormenores já descritos em várias fontes. Cabo Ledo teve uma forte intervenção naquela que ficou conhecida por “a Batalha de Luanda”.
No entretanto da observância vêem-se uns quantos militares roçando as donzelas; um deles, de patente rasa vem até nós pedir uma gasosa a fim de poder ir até Luanda visitar sua namorada; treta ou não, em seguida bazou de nós indo pela certa cravar outro, indícios firmes do pouco salário que recebem. Já perto do rio Calamba, começa a ver-se newas, maboqueiros, embondeiros e cassuneiras; podem ver-se muitas destas, altas e esguias palmeiras já em fase de vida terminal -alguém esclareceu que por tanto retirarem sua seiva para fazer marufo, elas definham até à morte.
Atravessamos a Reserva da Kissama sem ter visto uma simples capota, nem tampouco um camundongo ou mesmo um dilengo (coelho). Começamos a descer para Porto Amboim, um antigo e importante porto de pesca e início da linha de comboio que trazia em tempos o café da CADA, uma empresa exportadora de café robusta. Foi ali na “Boa Lembrança” da CADA, que passei minha lua-de-mel como soe dizer-se, no ano de 1970. O sol kúkia, descia já no horizonte valorizando a ampla baía com o mesmo nome.
Neste local de muita azáfama piscatória no tempo dos Tugas, podia ainda ver-se alguma movida na arte de secar peixe, pesca da lagosta e lá mais adiante, ao dobrar do promontório e na foz do rio Cuvo as deliciosas e grandes ostras. Compramos ao Tadeu Matrindindi um saco de ráfia, daqueles usados no transporte de carvão lá no M´Puto. Custou-nos cem kwanzas ou seja o equivalente a dois €uros e vinte cêntimos. E, se havia ostras! Dias depois voltamos ali, atravessamos em uma improvisada jangada de paus de binga, amarrados com mateba, numa lagoa da foz do rio Cuvo e nós mesmos, eu, Jimba, Zito e o vizinho Candimba apanhamos mais um saco daqueles.
À medida que espetávamos o bordão no fundo, sentíamos as ostras, um rochoso crocante, depois era só mergulhar e apanhar à lagardere… Foram dias de folgadas lembranças como se ainda candengue estivesse a apanhar na Samba da Luua as mabangas para o isco a usar na apanha das mariquitas ou roncadores. O banco de calcário ostrífero era impressionantemente vasto por ali. Fazendo uma fogueira na ilha de areia daquela foz, pudemos fazer abrir aquelas deliciosas ostras, meter-lhe uma porção de sumo de limão e, depois degluti-las. A acompanhar tivemos as frias, cervejas Hanson, Heineken, Sul Africanas e a Cuca angolana.
Recordo agora o Jimba (já falecido) a apontar uma farta planície, uma imensidão de capim, as terras de seu pai e aonde cultivavam algodão em idos tempos. Agora podiam ver-se umas quantas cabeças de gado nemas bem perto de um quartel com parque militar; estafadas Urais e Ifas soviéticas usadas na guerra recém terminada - há quatro meses…
Posso agora, 47 anos depois do 75 recordar: E, foi na Praia de Sangano um pouco a norte de Cabo Ledo que desembarcaram os primeiros homens comandados pelo General Raul Diaz Arqueles. Ali descarregaram os primeiros complexos móveis de defesa antiaérea “Strela”. Os instrutores deste equipamento sofisticado, estavam a ser coordenados pelo Coronel Trofimenko que a partir da Republica do Congo Brazaville enviavam numa primeira fase, pequenos aviões para aterrizar na pequena pista de aviação da Kissama em Cabo Ledo.
(Continua…)
O Soba T´Chingange (Otchingandji)
ANGOLA, TERRA DA GASOSA . IV
CANTINHO DO INFERNO – TERRA DE MATRINDINDES
Lembranças actuais de escritos antigos - “Angola, quanto tempo falta para amanhã?” – Em Julho de 2002 (quatro meses após a morte de Savimbi – 22 de Fevereiro de 2002)
– Crónica 3280 de 12.04.2022 – Republicada a 26.10,2022 na Lagoa do M´puto
N´Nhaka: - Do Umbundo, lameiro, plantação junto aos rios, horta…
Por T´Chingange – Em PortVille da Pajuçara de Maceió
A lufada de ar quente da chegada a Luanda foi há dias atrás; neste meio tempo li levemente a obra do sociólogo Paulo de Carvalho com o subtítulo desta crónica e que, só por si, revela a preocupação na mudança das coisas. O desejo de Kianda do Maurício dos Santos Pestana (Pepetela) também vem demonstrar que hoje as vivências fazem-se num confronto de ambivalência e das coisas confundidas no seio deste povo; o mesmo sol da secura e aridez que amadurece os produtos e, a chuva que tudo inunda, é a mesma que os rega.
A linguagem mitológica, a verdade das coisas é colhida entre o falso e o verdadeiro, baralhando o conceito da razão; no entretanto destas divagações de um Niassalês, que sou eu, vamos a caminho do Sumbe, (Ex Novo Redondo), lá aonde se situa o Cantinho do Inferno. Até ao Sumbe são 320 quilómetros. Passada a Samba, vem o Rocha Pinto, a Corimba, o Benfica, o Futungo, os Morros dos Veados e da Cruz. Aqui, a capela foi promovida a Museu da História da Escravatura.
Em verdade, a criação deste Museu tem razão de o ser pois que foi dali, pertença do reino de N´Gola que saíram milhares de escravos para o Brasil. Chegados aqui, que fique claro que quando o Diogo Cam chegou à foz do rio Kongo surpreendeu-se com a prática dos indígenas comercializarem as suas gentes; usavam os prisioneiros de outras tribos, das guerras constantes que mantiam entre si, transaccionando-os como uma qualquer mercadoria.
Esta prática usada entre as muitas tribos em África e particularmente em Angola, veio a calhar para colmatar a falta de mão-de-obra para nas muitas culturas em expansão no grande território do Brasil; os engenhos da cana-de-açúcar estavam carentes de gente no seu trato, no amanho das longas extensões de terras como o café, algodão ou cacau. A partir daqui surgiram empresários negreiros que sem controlo, fizeram fortunas tratando as gentes oriundas de várias partes, ocasionando riquezas desmedidas de agentes em Angola e Brasil. A palavra infortúnio ainda não estava inventada…
Foi esta disseminação de gente de tez negra para as américas que originou a grande diáspora alterando os conceitos de raça por via normal de miscigenação. Na escola básica, aprendi que no Mundo havia quatro principais raças, a branca, a negra, a amarela e a vermelha. Os sociólogos tiveram muita dificuldade em estabelecer padrões na sua classificação e, muito rápidamente o conceito de raça humanizou-se simplesmente em raça humana; nesta questão fica bem evidente a globalização com a forte participação portuguesa.
Continuando a viagem, usando a visível marcação do meio-fio e, quase sem buracos chegamos ao rio Kwanza. Aqui o controlo é mais refinado, mais pelos veículos do que propriamente pelos passageiros, a ponte suspensa tem alguma relevância mas, a destoar sucede o facto de alguns militares que por ali estavam espairecendo preguiça, nos terem abordado pedindo gasosa, a mesma pedinchice que sempre nos acompanhou por todo o lado e, desta feita perante o nosso semblante de surpresa, o militar de camuflado ao jeito explicativo e indicando os demais companheiros, encostado ao varão da ponte disse:
- Kota, ajuda só… é para levantar a moral! E, com este pretexto desinibido de vergonha escorregamos com cinquenta kwanzas correspondendo a duas frescas cucas e ainda sobram cinco kwanzas para o engraxador do Sumbe… Cabo Ledo fica em plena reserva da Quiçama mas, até aqui não vimos qualquer espécie de bicho. Acerca da área de serviço aonde paramos, a de Cabo Ledo, trata-se de um amontoado de chinguiços amarrados com mateba e cobertos a capim e, só simplesmente amontoado.
Estas estruturas da área de serviço, têm “empresárias de sucesso” que superintendem caixas térmicas com gelo e frias sagres, taifel, hansen ou cuca. A acompanhar há galinha assada no espeto, talqualmente e, umas batatas-doces assadas no fogo. É quase uma paragem obrigatória pois que o calor é intenso. As empresárias de sucesso, amigas de Bien e Xico seu primo, com rudimentos falíveis de higiene aprendidas no funaná Bye Bye My Love, cursadas em sobrevivência, transformam a fome em petico de espanto. O frango no espeto marchou sem entretantos e, com muito jindungo; deu para notar as onduladas conversas de sussurradas popias de muitos atarraxados encantos…
(Continua…)
O Soba T´Chingange (Otchingandji)
NO KILOMBO DO ZUMBI – NA FUNDAÇÃO DE ZUMBI DE N´GOLA…
COM FALA KALADO - Crónica 3277 – 16ª de Várias Partes – 08.04.2022 em Pajuçara – Republicada a 22.10.2022 em Lagoa do M´puto
Por A - T´Chingange – No nordeste brasileiro e AlGharb do M´puto (Com Aqualtune)
Chegada a hora do café e dos digestivos, era suposto haver discursos na forma de agradecimento mas, e devido ao facto do Exmo. Cidadão estar no estado já descrito e, porque sempre ficava apoquentado de irrequieto quando tudo ficava demorado, Rosa Casado, a chefe de protocolo, deu indicações que o senhor Comendador iria retirar-se a fim de dar andamento aos seus tratamentos e, que as individualidades presentes, (nós), iriam para o d´jango do jardim para e após ou durante o café serem estabelecidas as linhas programáticas da Fundação Zumbi de N´Gola para o tempo que restava, até se findar o ano civil.
Após Rosa Casado ter segredado algo propedêutico ao ouvido do Exmo. Comendador, este de novo levantou sua mão direita para dar homologação às palavras de sua muito distinta auxiliar, dona de muitos segredos oriundos de Garanhuns, Petrolina e Serra da Barriga por ser filha de um antigo prefeito da Cidade de União dos Palmares – António Ribeiro Casado. Todos de pé, assistimos à saída do filantrópico cidadão acompanhado daquela outra senhora com bata branca com uma cruz vermelha ao peito…
O gigante negro Lother, que até então se mantinha afastado, bem no canto e ao lado do tal chefe de cerimónias com laçarote, este, ao tocar de novo o sino como que dando por terminado o repasto, Lother caminhou na direcção da cadeira ergonómica que, com suavidade, rodou noventa graus, levando seu patrono ao seu mukifo … Estando eu atento em todo o tempo ao semblante do meu antigo companheiro de guerra do Maiombe pude reparar…
Pude notar duas lágrimas caindo por sua face; havia momentos de lucidez e, nesses momentos, era tomado pelas carências de perdoar o justo pelo certo e também porque não mais seu luar, poderia pôr a noite inchada. Por momentos até relancei a hipótese de estar a fingir para ludibriar a Intelligence secreta que sempre parecia estar presente em seus passos desde que saiu matumbola de Angola, seu país de origem… União dos Palmares é considerada uma das principais cidades de Alagoas e é conhecida por ser "A Terra da Liberdade", pois foi nela, mais precisamente na Serra da Barriga aqui descrita por vezes como Serra dos Macacos, aonde foi dado o primeiro grito de liberdade por Zumbi dos Palmares.
Em sua memória surgiu a festa da Consciência Negra festejada a 20 de Novembro, dia de sua morte. Tive esta lembrança na deslocação para o d´jango aonde iriamos estabelecer as tais linhas programáticas da Fundação. Do muito que ali se debateu, a mim, Zelador-Mor, conselheiro, fiquei de coordenar o vinte de Novembro, de coordenar toda a logística de convites às muitas personalidades do mundo dos PALOPS, cabendo a cada um dos outros nove membros eleger três figuras públicas internacionais nas áreas de governo, cultura e diplomacia global.
Não vou aqui entrar em detalhes do foro interno mas e, no que toca à minha escolha apontei os nomes de Marcial N´Dachala e General Kamalata Numa, ambos da UNITA*** e, José Eduardo Agualusa, escritor conceituado a nível internacional. Na altura certa se saberá publicamente os outros nomes num total de trinta, tendo várias correntes politicas e visões diferenciadas para e, em altura própria conferenciarem seus pontos de vista, da Paz e da guerra, dos pontos dentro e fora das quatro linhas que balizam os conceitos de democracia.
Também ficará a meu cargo a popularíssima Corrida Palmarina do Jumento Alagoano no último domingo de Dezembro de cada ano civil; uma cavalhada que entusiasmará por certo todos os tropeiros deste mundo. Esta festa de cariz popular terá decerto a filiação da autarquia e muitos aficionados das gestas heróicas dos tempos idos, das tropas de muares cruzando os lugares mais recônditos deste brasil. Esta terá também a participação das gentes dos actuais quilombos adstritos à governança de Paulo Sarmento, Assistente do Rotary Internacional, Distrito 4390.
No século XVII, Alagoas oferecia reduto para os negros formarem os inúmeros quilombos que prosperavam em todo o território brasileiro, mas que tiveram na Cerca dos Macacos da Serra da Barriga, nos Palmares, sua maior simbologia. O Brasil foi o país com a maior concentração de escravos negros do mundo com dados indicadores de 3,5 milhões. A liberdade, por meio de fuga, consolidava-se pela anormalidade da vida administrativa e económica da capitania de Pernambuco. Palmares, perdurou por 64 anos, capitulando no ano de 1696 e é o governador da capitania que relata ao rei D. Pedro II do M´Puto, o pacífico, a morte de Zumbi dos Palmares…
Nota ***: - Por via de altercações ao programa editorial acrescento agora – 22.10.2022 à lista de convidados Adalberto da Costa Júnior, o verdadeiro ganhador das eleições em Angola mas que por via de fraude grosseira não pode usar das prorrogativas de Presidente. O seu a seu dono: Kwacha!…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
ANGOLA, TERRA DA GASOSA . II
CANTINHO DO INFERNO – TERRA DE MATRINDINDES
Lembranças actuais de escritos antigos - “Havemos de voltar” – Foi em Julho de 2002
– Crónica 3273 de 05.04.2022 – Republicada a 16.10.2022 no AlGharb do M´Puto
N´Nhaka: - Do Umbundo, lameiro, plantação junto aos rios, horta…
Por T´Chingange
Voo TP, destino Luanda – Uma lufada de ar quente ao sair do Douglas no Aeroporto Internacional de Luanda, “Quatro de Fevereiro” em Belas. Momentos antes na acomodação da aterragem, já lusco-fusco, circunsobrevoavamos a Luua e, ali estava ela cheia de pontinhos de luz dando indicação do crescimento emancipado para mais além do que se poderia imaginar em 11 de Novembro de 1975 e, lá estava a ponta da ilha Mazenga e sua bonita baia de luz reflectida em nuances multicolores, os barcos, edifícios e, também uma nova coisa chamada de plataforma petrolífera, mesmomesmo na embocadura.
Do Morra da Cruz e em círculo, passando por Viana até quase ao Cacuaco, tudo é Luanda, não se distinguindo aonde acaba o musseque e começa a cidade; o centro perdeu-se numa imensidão de cubatas e, aí temos a grande metrópole com quase cinco milhões de habitantes (2002), a transbordar nas barrocas e linhas de água, que já o foram. A catinga sente-se no ar à mistura com estagnados descuidos de águas negras a céu aberto e, sem impedimento de se o notar; o costume habitua-se no urbanismo da normalidade…
Noutro dia e, à luz clara da manhã fresca deu para pisar o pó e as escorrências, sentir os cheiros fortes de mabanga e peixe frito em óleo de dendém, odores de lixo desentulhado com muita gente circulando, fazendo não sei o quê, talvez queimando o tempo e, cruzando arrepiadamente sobrevivências por todo sitio, ruas definhadas, esburacadas, ondulando o passeio, que o não é mais; asfalto malé, aiué…
Na encosta do Prenda cortava-se a carapinha num telheiro meio chapa, meio palha e pedaços de taipa quase que meio por fazer e, mais ao lado neste pseudo cabeleireiro, lá estava a tabuleta “Salão de senhoras Dona Xepa” e no letreiro podia até ler-se: desfrisam-se cabeças. Se havia cor no imóvel, tinha fugido, faz tempo!... Vou tentar cronicar o que vi e, fazer retrato do que me apercebi com as inerentes dificuldades dum branco de segunda, quase preto por defeito e ousadia, que não esquece o calor daquela terra de quando ainda candengue pisou todo aquele espaço.
Espaço que também me viu crescer amulatado de jeitos, crioulo mazombo de imperfeição. Mas, diga-se, o calor continua também naquelas gentes, com vontade de agradar; a amizade faz-se rápido, flui mais repentinamente num abraço de empatia como doença de querer. Desta feita assim ganhei mais um amigo de nome Humberto, rebaptizado de “Bien”. Foi ele o meu cicerone durante vinticinco dias e, é a ele a quem esta crónica é dedicada por agradecimento…
Foi ele, engenheiro Bien, formado em Cubano, natural do Sumbe, que me levou desde a foz do rio Dande, bem perto do Caxito, até ao dito Cantinho do Inferno. Aqui voltarei na descrição chegado seu próprio momento e, para não me perder no fio da meada dizendo do resto aonde me levou que, assim será na ordem cardial e para Sul com o Porto Amboim, Sumbe, antigo Novo Redondo, Canjála, Lobito, Benguela e Baia Farta.
Bien, ex-comandante, formado em Cuba, técnico de Construção Civil. Como tantos outros neste momento (2002) está no desemprego mas, sempre há um mas, desenrasca a vida peneirando diligências aqui e ali furando o esquema; comprou uma roulotte e, lá para os lados do Sambizanga tem uma catorzinha a vender peixe frito, banana assada, pasteis e cachorros quentes de pastas coloridas oriundas dos tomates e outras especiarias, mais cerveja cuca quando a há e, também quando calha, se acomoda com ela nas ternuras do farfalho…
Bien, o ex-comandante, engenheiro de desenrasca, diz que são necessidades fisioterapeutas. Só que lá no Sumbe e Benguela também tem mulher e filhos, pois! Mancomunou a vida aqui e ali soldando avarias pelas técnicas aprendidas em Havana e, ali nas facilidades acostumadas de suas terras, comunga tudo com as saias desprendidas e a isto, disse-me não ser de ferro. Em verdade, há trechos em que nossa vida amolece a gente, tanto, que até num referver de bom desejo, no meio da razão sempre vem um benefício…
Passados que são mais de vinte anos, recordo de novo nesta data para que conste na Torre de N´Zombo do Kimbo, a biblioteca base desta existência…
(Continua…)
O Soba T´Chingange (Otchingandji)
ANGOLA DA LIBERTAÇÃO - XXX
Ultima visão de Savimbi: “moscas pousando no rosto, feridas na cabeça e numa mão e, um buraco de bala na garganta”.
Crónica 3214 – 11.11.2021 - “A guerra, que matou e estropiou tantos, alimentou um punhado de pessoas, que se tornaram insultuosamente ricas e prepotentes” – São estes que ainda governam… Por T´Chingange, no AlGharb do M´Puto
Após o ano de 1994, haveria que manipular os espíritos inseguros, carregar nos botões certos das almas inocentes, com o fígado incompleto, candengues sem estrutura para os virar monstros desapiedados com o nome de pioneiros… Eram ideias desfibrilhadadas numa antiga dor e creio que se foi no tempo com um sentimento de culpa. Deveria iluminar-nos não é!? Amanhã será outro dia e, foi-se! O Sol não tinha como se abraçar a nós, nem se poderia esperar isto. O tempo escasseia-me muitas vezes, para poder redigir histórias escondidas, antigas, que até posso antever reais a tempo inteiro, real ou ficção. Nessas alturas subitamente levanto voo, plano como um albatroz e por aí vou fora, sem parágrafos ou pontos finais, com diálogos dinâmicos, que só o serão na ficção!
Fala o Soba, impõe as suas leis, fala o Luís que quer fugir aos ditames dos familiares próximos, subverte-se as leis, obtendo-se gozo nisso, e sabedoria, claro, que estas coisas, mesmo negativas são as que mais resultam e se aprumam na coluna vertebral de um indígena. O Protocolo de Lusaka de 1994 reafirmou os Acordos de Bicesse. Savimbi, não querendo assinar pessoalmente esse acordo, enviou o ex-Secretário Geral da UNITA Eugénio Manuvakola representando em seu lugar, o partido. Manuvakola e o Ministro das Relações Exteriores de Angola, Venâncio de Moura, assinaram o Protocolo de Lusaka em Lusaka, Zâmbia, em 31 de Outubro de 1994, concordando em integrar e desarmar a UNITA.
Ambos os lados assinaram um cessar-fogo como parte do protocolo em 20 de Novembro. Sob o acordo, o Governo e a UNITA cessariam os incêndios e desmobilizariam 5 500 membros da UNITA, incluindo 180 militantes, que se uniriam à polícia nacional angolana, 1 200 membros da UNITA, incluindo 40 militantes, que se uniriam à força policial de reacção rápida e os generais da UNITA, que se tornariam oficiais das Forças Armadas Angolanas. Mercenários estrangeiros retornariam aos seus países de origem e todas as partes parariam de adquirir armas estrangeiras.
O acordo deu aos políticos da UNITA casas e uma sede. O governo concordou em nomear membros da UNITA para chefiar os ministérios de Minas, Comércio, Saúde e Turismo, além de sete vice-ministros, embaixadores, governos de Uíge, Lunda Sul e Cuando Cubango, vice-governadores, administradores municipais, vice administradores, e comuna de administradores. O governo libertaria todos os prisioneiros e amnistiaria todos os militantes envolvidos na guerra civil. O presidente do Zimbabwé, Robert Mugabe, e o presidente sul-africano, Nelson Mandela, reuniram-se em Lusaka a 15 de Novembro de 1994 para aumentar o apoio simbólico ao protocolo. Mugabe e Mandela disseram que estariam dispostos a encontrar-se com Savimbi e Mandela. Pediu que ele fosse à África do Sul, mas Savimbi não foi. O acordo criou uma comissão conjunta, composta por funcionários do governo angolano, da UNITA e da ONU, com os governos de Portugal, Estados Unidos e Rússia como observadores, para supervisionar sua implementação.
As violações das disposições do protocolo serão discutidas e revisadas pela comissão. As disposições do protocolo, integrando a UNITA nas forças armadas, um cessar-fogo e um governo de coligação, eram semelhantes às do Acordo do Alvor, que concedeu a Angola a independência de Portugal em 1975. Muitos dos mesmos problemas ambientais, desconfiança mútua entre a UNITA e o MPLA, falta de supervisão internacional, importação de armas estrangeiras e ênfase excessiva na manutenção do equilíbrio de poder, levariam ao colapso do protocolo…
E, chegados ao ano de 2002, tropas do governo matam Jonas Savimbi a 22 de Fevereiro deste ano, na província de Moxico. Jonas Savimbi morre "de arma na mão", como "um militar", numa emboscada das Forças Armadas Angolanas (FAA), sexta-feira à tarde, junto ao rio Luio, sudeste da província do Moxico, ao fim de cinco dias de perseguição pelo mato. "Sete tiros foram suficientes para o abater". Foi assim que o brigadeiro Wala, na qualidade de dirigente da "força mista que matou o líder da UNITA", resumiu o fim de Savimbi aos jornalistas presentes no local em que o corpo foi exibido - Lucusse, a 79 quilómetros do sítio da emboscada. O relato é do repórter da Lusa, Miguel Souto. O destino de Savimbi, calculou Wala, era a fronteira com a Zâmbia, onde contava ser reabastecido pelos seus homens.
Acossado pelas tropas do Governo angolano desde o Andulo, Jonas Savimbi, dividiu a sua coluna em três. Seguiu com uma, e deixou o comando das restantes duas aos generais Abreu "Kamorteiro" (chefe de Estado-Maior das forças da UNITA) e António Dembo (vice-presidente do movimento do Galo Negro). A coluna de Savimbi iria ao encontro do General "Big Jo", que partira antes, em busca de víveres. Ainda de acordo com a versão das tropas angolanas, quando um ataque das tropas angolanas liquida "Big Jo", o líder da UNITA inflecte para norte, por uma mata densa que levaria ao rio Luio. "Deu muitas curvas e fintas, porque conhecia muito bem o terreno,pois que a UNITA nasceu aqui", lembrou o brigadeiro Wala, acrescentando que os seus homens andaram "dia e noite numa perseguição que durou cinco dias", até à emboscada final de sexta-feira.
Nas palavras de Wala: "quando Savimbi viu os seus homens mortos, pegou na arma". Além dos "vários oficiais" atingidos, avia um "total de 21 ". Os generais Dembo, "Kamorteiro", Abílio Camalata Numa e Samy terão escapado ao ataque, e as forças governamentais dizem estar no seu "encalço". O paradeiro do secretário-geral do movimento, Paulo Lukamba Gato, permanecia desconhecido. Segundo o embaixador português em Luanda disse ao PÚBLICO, as primeiras imagens do corpo de Jonas Malheiro Savimbi foram exibidas na televisão estatal angolana por volta das 17h00 locais (16h00 em Lisboa), sem terem ocupado mais do que "um espaço normal" nos telejornais. A reportagem do jornalista da RTP Alves Fernandes, que foi ao Lucusse, mostrava o corpo de Savimbi deitado numa prancha ao ar livre, à beira de uma árvore, rodeado por centenas de homens mulheres e crianças, misturados com militares.
Ninguém compusera o corpo para a última imagem: farda verde oliva desfraldada, deixando ver parte da roupa interior, os pés sem botas, só com meias, moscas pousando no rosto, feridas na cabeça e numa mão e um buraco de bala na garganta. Diz-se que Savimbi, ferido de morte teria sido o autor deste ultima tiro. Na sequência seguinte, o corpo, embrulhado na bandeira do Galo Negro, era levado da prancha para um caixão. Segundo o relato inicial deste jornalista, antes das imagens serem difundidas, Savimbi teria sido atingido sexta-feira à tarde não por sete mas por "quinze balas, duas na cabeça, as restantes no tronco, nos braços e nas pernas". Chegaram a correr versões que falavam em 52 tiros. A agência Reuters, por seu turno, ao princípio da tarde, citava fontes dos serviços secretos zambianos que contestavam a data da morte. De acordo com esses relatos, Savimbi teria sido morto já na segunda-feira, e as forças do Governo angolano teriam retardado a notícia da sua liquidação, de forma a poderem difundi-la, com outro impacto, nas vésperas da partida do Presidente José Eduardo dos Santos para Washington, onde dia 26 se reuniria com o seu homólogo norte-americano, George W. Bush.
As fontes zambianas sublinhavam que as tropas do Governo angolano tinham localizado a coluna de Savimbi no Moxico há duas semanas e que, tendo enviado reforços, se lançaram num ataque maciço no passado domingo. O vice-presidente da UNITA, António Dembo, assumiu o cargo, mas, enfraquecido pelas feridas sofridas na mesma escaramuça que matou Savimbi, morreu de diabetes 12 dias depois, a 3 de Março, e o Secretário-geral Paulo Lukamba torna-se naturalmente o líder da UNITA. A seguir a tudo isto, Angola viveu no descarado roubo de seus governantes, podendo por ora concluir-se: -“A guerra, que matou e estropiou tantos, alimentou um punhado de pessoas, que se tornaram insultuosamente ricas e prepotentes” – São estes, que ainda governam - ano de 2021 - (Ainda…)
(Fim…)
O Soba T´Chingange
ANGOLA DA LIBERTAÇÃO - XXIX
DEPOIS DE ”OS 3 DIAS DAS BRUXAS” – O VAZIO COM A 6ª FEIRA SANGRENTA DE 22 DE JANEIRO DE 1993
Crónica 3211 – 05.11.2021 - “A guerra, que matou e estropiou tantos, alimentou um punhado de pessoas, que se tornaram insultuosamente ricas e prepotentes” – São estes que agora governam (Ainda…)
Por T´Chingange, no AlGharb do M´Puto
A 6ª Feira sangrenta, 22 de Janeiro 1993 - o dia que angolanos do grupo linguístico Kikongo, foram assassinados por razões xenófobas. Com efeito, na manhã do dia 23 de Janeiro de 1993, os bairros da Petrangol, Mabor e Palanca e outros habitados maioritariamente por Bakongos, foram atacados por parte de habitantes de Luanda. O Governo de Angola teria reconhecido oficialmente 57 mortos, mas as organizações civis bakongos apontaram mais de mil vítimas e acusaram jornalistas angolanos de serem os responsáveis da chacina.
Estes ataques foram referidos como sendo ocasionados por motivos étnicos mas, em realidade, tratou-se de conflito pré-eleitoral. Os bakongos foram acusados pela imprensa oficial de ter apoiado o partido do Galo Negro. Depois da fuga do Jonas Savimbi, nos fins de Novembro de 1992 para o Huambo, este reorganiza o comando da sua ala militar e, no espaço de poucos meses depois das primeiras eleições em Angola, ocupa as cidades do Uige, Mbanza Kongo, N´dalatando, Soyo, Caxito e mais tarde, depois de uma batalha de 55 dias, a segunda cidade de Angola, Huambo, obrigando o governo a ficar na defensiva.
Nasce daí, a campanha mediática contra o Zaire de Mobutu, acusado de ter enviado tropas para auxiliar o braço armado da UNITA. No entanto, quando as ex- FALA's ocupavam militarmente uma das cidades, a Rádio Nacional de Angola, noticiava o que aqui se cita: "tropas zairenses e da UNITA, ocuparam a tal cidade", etc. Alguns jornalistas de Jornal de Angola imprudentes, assinam artigos que criticavam os supostos zairenses (na realidade, angolanos bakongos), com caricaturas, denegrindo-os de ser responsáveis da miséria do povo angolano.
Em meados de Janeiro de 1993, todos os órgãos de comunicação Social de Angola, citam fontes militares que foram capturados no campo de batalha, tropas zairenses, o que constituía prova suficiente da implicação de Mobutu no sucesso de tropas da UNITA no terreno. Prometeram apresentá-las numa conferência de imprensa. Na preparação desta, um jornalista corajoso questiona sobre as provas que os militares estrangeiros africanos capturados fossem zairenses; a resposta foi simples: falavam lingala! O jornalista insiste em saber se, nas forças armadas angolanas e da UNITA, não havia militares que falassem lingala, sendo logicamente, angolanos.
A reunião com imprensa foi anulada "in-extremis", por ordens superiores. Soube-se mais tarde, que os supostos soldados zairenses, na realidade eram angolanos bakongos que falavam lingala, ligados ao partido no poder e recrutados para este efeito. A campanha de difamação contra Mobutu e os zairenses era tão forte que obrigou o então general da UNITA, Demosthenes Chilingutila a desmentir na rádio portuguesa TSF, qualquer implicação das tropas do Zaire ao lado das suas tropas afirmando ainda que o próprio presidente do Zaire tinha problemas graves no interior de seu pais e, precisando ele sim, da ajuda da UNITA.
Nesse dia, 22 de Janeiro de 1993, um editorial da Rádio Nacional de Angola revela que os Zairenses infiltrados no seio da população angolana, preparavam um plano para assassinar o presidente da República, José Eduardo dos Santos. E, foi esta a razão que no mesmo dia incutiram e accionaram seu conhecido Poder Popular junto de seus seguidores entre a população de Luanda munidas de armas de fogos pelo MPLA a assaltarem, violarem e matarem à revelia e com toda a impunidade, os bakongos da capital do país – Luanda.
Dias depois, os bakongos, impotentes e frustrados, reúnem-se algures em Luanda, redigem o famoso Manifesto da Sexta-Feira Sangrenta, um memorandum dirigido ao governo de Angola, ao parlamento e às embaixadas acreditadas em Angola. Neste documento, os activistas “bakongo” relatam com pormenor o que se passou nestes dias. O então deputado do partido PDP-ANA, Nfulumpinga Landu Víctor, toma conhecimento do manifesto e interpela a Assembleia para condenar os massacres e levar à justiça os autores.
Em uma exortação sobre a Sexta-Feira Sangrenta, Muana Damba publicou a 24 de Janeiro no recente ano de 2013: História do Reino do Kongo - Você é um N'kongo, filho desta terra legada pelos nossos antepassados. Se podemos considerar esta Angola um país de Cabinda ao Cunene, é porque nele estão inseridas todas as etnias do país* incluindo os Bakongos sejam eles de Cabinda, do Soyo, do Uige, M'banza Kongo e outros, mas se essa realidade deixar de ser considerada, Angola deixa de ser aquilo que é, portanto vamos todos reflectir...
*Abro aqui um parêntesis para prosseguir este pensamento de Muana Damba, ressaltando que a etnia Branca desde seu processo libertador pelos autodesignados mandatários dum autopoder, na gestão do todo-poderoso MPLA na governação, sempre a excluíram, subtraindo-lhe direitos de gerações por nascimento. Algo incomum e xenófobo, do qual tanto se fala hoje pelo mundo com refugiados de um e outro lado, passados que são quase 46 anos daquele 11 de Novembro de 1975, verificando-se sempre um provocado desleixo ao lidar com a etnia Branca, relegando-a para um submundo de indiferença e menosprezo…
Muana Damba continuando seu MANIFESTO refere: Queremos que as autoridades, outros irmãos angolanos saibam que Angola é um mosaico de tribos ou mesmo junção de tribos, nós temos a nossa terra, espaço terra tal como outros, assim sejam Kimbundos, Ovimbundos entre outros que o tempo ditará terem também os mesmos direitos de jus soli (lei do solo -"direito de solo") irrestrito, ou o direito à cidadania a quem nasça em solo nacional, independente de quaisquer outras condições. Se alguma lei assim o refere, urge modificá-la para bem de Angola…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
ANGOLA DA LIBERTAÇÃO - XXVII
DEPOIS DOS ”OS 3 DIAS DAS BRUXAS” – CAMPANHA ELEITURAL CONFLITUOSA…
Crónica 3208 – 22.10.2021 - “A guerra, que matou e estropiou tantos, alimentou um punhado de pessoas, que se tornaram insultuosamente ricas e prepotentes” – São estes que agora governam…
Por: T´Chingange, no AlGharb do M´Puto
1 ::::: No Gabão, em Libreville, Jonas Savimbi, Líder da UNITA, União Nacional para a Independência Total de Angola, José Eduardo dos Santos, Presidente de Angola e Omar Bongo Ondimba reuniram-se dando as mãos e segundo o jornalista Carlos Albuquerque que fez a cobertura. A Savimbi foi-lhe proposta o lugar de Vice-Presidente e após este ter aceitado informalmente, a nomenclatura do MPLA, de imediato afirmou que haveria dois vice-presidentes: Um indicado pelo MPLA e ele, Savimbi que ficaria em segunda linha na hierarquia…. Só lhe restava recusar! O MPLA, sempre foi assim; inventam coisas tão diabólicas que nem lembram ao diabo…
Na óptica das probabilidades, haverá aqui uma situação incrível, pois que Savimbi poderia ter sido o primeiro Presidente de Angola eleito. Se ele tivesse aceitado, a realização da segunda volta das presidenciais, em 1992, nada nos garante que não tivesse ganho, ou mesmo, perdendo, nada nos diz que numa nova votação, saísse vencedor mas sempre o seria, uma perigosa suposição…
2 ::::: Estando a dias do termo da campanha eleitoral, a Conferência Episcopal Angolana, difunde uma mensagem intitulada “As portas da II República “. Nela, os bispos sublinham que “a Igreja não tem de apresentar nenhum candidato”, exortando ao voto consciente: “ Não devem merecer a preferência dos cristãos os que violam os direitos humanos e os que dilapidam os bens públicos, seja por que via for”. A UNITA entende que a mensagem é tendencialmente favorável ao governo do MPLA.
Ao mesmo tempo da intervenção do bispos na política, a UNITA dirige insultuosos ataques à representante das Nações Unidas Margaret Anstee, acusando-a de “estar comprada pelo MPLA, com diamantes e mercúrio”. As mulheres de Luanda, com blusas da OMA, saem à rua em defesa dos bispos e da própria Anstee. Numa grande manifestação, exigem “ a consciência democrática e perdão sem violência”, para que seus filhos cresçam numa Angola nova, sem luto, dor e lágrimas”.
3 ::::: Passados já uns cinco anos dos recontros da Batalha do Cuíto Cuanavale o é dado a conhecer pelo toxicologista criminal belga Dr. Aubin Heyndrickx, o uso de gases na guerra. Ele, estudou supostas evidências, incluindo amostras de "kits de identificação" de gás de guerra encontrados após a batalha em Cuito Cuanavale, alegando que "não há mais dúvida de que os cubanos estavam usando gases nervosos contra as tropa Jonas Savimbi" - As tropas cubanas foram neste então acusadas formalmente de terem usado gás nervoso contra as tropas da UNITA durante a guerra civil.
O envenenamento por aquele agente nervoso leva a contracção de pupilas, salivação profusa, convulsões e micção e defecação involuntária, sendo que os primeiros sintomas aparecem segundos após a exposição. A morte por asfixia ou parada cardíaca pode ocorrer em minutos devido à perda do controle do corpo sobre os músculos respiratórios e outros. Os agentes nervosos também podem ser absorvidos através da pele, exigindo que aqueles que provavelmente sejam submetidos a tais agentes usem uma vestimenta completa, além de um respirador. Os agentes nervosos são geralmente líquido insípidos de coloração que varia entre o incolor e o âmbar e podem evaporar para um gás. Os agentes sarin e VX são inodoros; o tabun tem um odor ligeiramente frutado e o soman tem um leve odor de cânfora.
4 ::::: Na década após 1990 as mudanças políticas no exterior e vitórias militares em casa permitiram ao governo fazer a transição de um Estado nominalmente comunista para um Estado tendencialmente democrático. A declaração de independência da Namíbia a 21 de Março de 1990, eliminou a ameaça ao MPLA da África do Sul, quando a SADF se retirou de lá. O MPLA aboliu o sistema de partido único e rejeitou o marxismo-leninismo no terceiro Congresso do MPLA em dezembro, mudando formalmente o nome do partido de MPLA-PT para MPLA.
Com sua riqueza em petróleo e diamantes, Angola é como uma grande carcaça inchada com os abutres girando no alto. Os antigos aliados de Savimbi estão mudando de lado, atraídos pelo aroma da moeda forte". Savimbi também expurgou alguns dos membros da UNITA, que ele pode ter visto como ameaças à sua liderança ou como questionadores de seu curso estratégico. Entre os mortos no expurgo estavam Tito Chingunji e sua família em 1991. Savimbi negou seu envolvimento no assassinato de Chingunji e culpou os dissidentes da UNITA.
5 ::::: Um observador oficial escreveu que nas primeiras eleições em Angola, havia pouca supervisão da ONU, que 500 mil eleitores da UNITA foram desprivilegiados e que havia 100 assembleias de voto clandestinas. Savimbi enviou Jeremias Chitunda, vice-presidente da UNITA, a Luanda para negociar os termos do segundo turno. O processo eleitoral fracassou em 31 de Outubro, quando tropas do governo em Luanda atacaram os camados de rebeldes. Os sucessos militares do governo em 1994 forçaram a UNITA a negociar pela paz. Em Novembro de 1994, o governo havia assumido o controle de 60% do país.
6 ::::: Savimbi chamou a situação de "crise mais profunda" da UNITA desde a sua criação. Estima-se que talvez 120 mil pessoas tenham sido mortas nos primeiros dezoito meses após a eleição de 1992, quase metade do número de baixas dos dezasseis anos anteriores de guerra. Ambos os lados do conflito continuaram a cometer violações generalizadas e sistemáticas das leis de guerra, sendo que a UNITA, em particular, foi culpada de bombardeios indiscriminados de cidades sitiadas, o que resultou em um grande número de mortos civis. As forças do governo do MPLA usaram o poder aéreo de maneira indiscriminada, resultando também em várias mortes de civis…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
ANGOLA DA LIBERTAÇÃO - XXVI
DEPOIS DOS ”OS 3 DIAS DAS BRUXAS” – CAMPANHA ELEITURAL CONFLITUOSA…
Crónica 3205 – 17.10.2021 - “A guerra, que matou e estropiou tantos, alimentou um punhado de pessoas, que se tornaram insultuosamente ricas e prepotentes” – São estes que agora governam…
Por: T´Chingange, no AlGharb do M´Puto
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Os chamados “três dias das bruxas” são referentes aos sequentes dias a 30 de Setembro de 1992, imediatamente após se saberem os resultados “fraudulentos” das eleições; estes eventos de matança aos homens da UNITA ocorreram até 1 de Novembro, já aqui descritos na parte XXIV desta “Angola da libertação”. Teria de haver uma segunda volta para as presidenciais para saber-se qual o verdadeiro vencedor e, segundo a óptica governamental com aconchavos internacionais, mas esta volta nunca se chegaria a realizar …
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Em Setembro de 1992, três meses após a visita do Papa João Paulo II, no Huambo mais de uma centena de homens da UNITA fortemente armados “estacionam” frente à casa de Savimbi. A CCPM (Comissão Conjunta Político-Militar), interfere. A UNITA virá a dizer que são homens “da segurança pessoal de Savimbi”, mas a CMVF (Comissão Mista de Verificação e Fiscalização do Cessar-fogo), apura que o contingente e respectivo material bélico, havia entrado na cidade sem conhecimento da UNAVEM.
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Neste meio tempo, Luanda (e todo o país) estava pejada de um dispositivo policial desmesurado, como se tratasse de um estado de sítio - coisa a que os luandenses já não estavam habituados depois da guerra civil - dadas as preocupações com o acto eleitoral dos dias 29 e 30 de Setembro, para que tudo corresse bem. E correu. Correu muito bem, dada a afluência às urnas ter ultrapassado os 70% só no primeiro dia. O povo queria a paz e acreditava que a poderia conseguir pelo voto. Mas Angola, não era só Luanda.
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Os votos foram contados, mas a UNITA não concordando, exigiram a recontagem, pois os primeiros resultados deixavam de fora a possibilidade de uma segunda volta das presidenciais a Savimbi. Os acontecimentos precipitaram-se e Savimbi teve de fugir de novo para o Huambo levando atrás de si uns esperançosos 40% nas eleições com os dados viciados, segundo a UNITA. Lendo o Expresso do M´Puto: Savimbi ficou à espera por um curto tempo no Huambo e mais tarde, no seu refúgio da Jamba. Savimbi aguardava agora a marcação da segunda volta, que o levaria ao cume das suas aspirações.
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No terreno, à medida que decorria a campanha eleitoral, tropas da UNITA tomam posições no Centro/Sul de Angola, expulsando o MPLA de vários municípios. No Norte, em Caxito, soldados da UNITA envolvem-se com a polícia; em Benguela, a UNITA ataca uma caravana do Fórum Democrático de Angolano, ambos os incidentes causaram dezenas de feridos na população civil. No caso de benguela, a UNAVEM concluiu que “houve provocação por parte dos dissidentes e uma reacção exagerada por parte da UNITA”. Em Luanda a FNLA condena veementemente a agressão sofrida por Baptista Fula, seu membro, brutalmente agredido por militares e militantes da UNITA.
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Claro que sempre se verificou por parte das instâncias internacionais um certo acomodamento às visões do comportamento dos elementos afectos ao MPLA, o lado “governamental” por estes terem os donos da opinião com sua máquina da informação lubrificada de seu lado, dizendo o que mais lhe interessava; prosseguindo uma logística concertada de denegrir sempre a UNITA. Os posteriores conhecimentos dos factos vieram a confirmar em como a permanente contra-informação e métodos dissuasores das instituições e polícias de inteligência treinadas por peritos oriundos da cortina comunista.
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Por via das eventuais mudanças políticas faz-se revisão da lei constitucional - Lei Nº 23/92 de 16 de Setembro, alterando a de Março de 1991, destinando-se principalmente à criação das premissas constitucionais necessárias à implantação duma democracia pluripartidária. Um cumprimento referido quando da assinatura a 31 de Maio de 1991 nos Acordos de Paz para Angola. É desta feita, a primeira vez na história do país, que levam à realização às eleições gerais multipartidárias assentes no sufrágio universal directo e secreto.
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O maior incidente da campanha eleitoral foi a captura, pela UNITA, de onze elementos da guarda pessoal de Eduardo Dos Santos. Savimbi justificaria que o comportamento de seus homens lhe foi “tardiamente comunicado”. Ainda em Setembro, chega a Lisboa uma queixa informal da UNITA, sobre o envolvimento de uma empresa portuguesa de distribuição alimentar, sediada no Porto, presumivelmente envolvida no fornecimento de material de guerra à Polícia anti-motim angolana - os 30 mil “NINJAS” do MPLA (assim foram chamados), treinados pelos espanhóis.
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Não houve grande desenvolvimento sobre o caso, assim como quase nada foi explicado, acerca do cargueiro “Cecil Lulo”, tripulado por dinamarqueses e filipinos, ostentando pavilhão das Bahamas e operado pela empresa dinamarquesa J. Pulsen, localizada no porto de Ponta Delgada nos Açores. O mesmo tinha um carregamento de armas, segundo se consta embarcadas numa base militar dos EUA – Estados Unidos da América e, com destino a Angola. Tudo que é descortinado no tempo, o é, de uma forma que surpreende, como tudo acontece numa altura tão crucial na tão desejada PAZ…
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A guerra de 27 anos pode ser dividida aproximadamente em três períodos de grandes combates - de 1975 a 1991, 1992 a 1994 e 1998 a 2002 - com períodos de paz frágeis. Quando o MPLA alcançou a vitória em 2002, mais de 500 mil pessoas morreram e mais de um milhão foram deslocadas internamente. A guerra devastou as infra-estruturas de Angola e danificou gravemente a administração pública, a economia e as instituições religiosas do país. Esta guerra terá de o ser, considerado um conflito por procuração da Guerra Fria, já que a União Soviética e os Estados Unidos, com seus respectivos aliados, prestaram assistência às facções em luta.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
ANGOLA DA LIBERTAÇÃO - XXV
DEPOIS DOS ”OS 3 DIAS DAS BRUXAS” – CAMPANHA CONFLITUOSA…
Crónica 3201 – 08.10.2021 - “A guerra, que matou e estropiou tantos, alimentou um punhado de pessoas, que se tornaram insultuosamente ricas e prepotentes”
Por: T´Chingange, em Cantanhede do M´Puto
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Após o 11 de Novembro de 1975, as casas abandonadas em Luanda maioritariamente pelos brancos, são entregues a “amigos” do MPLA e aos amigos dos amigos ou assim supostos; por toda a Angola se verificou o mesmo procedimento – fábricas, complexos desportivos, armazéns de géneros, bombas de gasolina, literalmente, tudo passou para a gestão do MPLA. Personalidades angolanas terão recebido apartamentos no Kilamba por terem apoiado o MPLA na campanha para as eleições gerais em Angola. Estas pessoas tiveram acesso privilegiado às casas mas, sendo propriedade do estado por confisco, supostamente, teriam de as pagar (digo eu…).
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Por tantas dúvidas no ar, tantas medidas arbitrárias, umas torpes outras sem explicação plausível, levam os jovens de agora a pedir explicações. Nos dois anos de 2019 e 2020 e, no actual 2021, protagonizam inéditas manifestações, estipulando como que uma espécie de moratória ao executivo angolano, antes de voltarem às ruas, uma e outra vez, pedindo eleições livres e sem batota, eleições municipais e o fim da mordaça e do estado policial, ditatorial na verdadeira versão da palavra; uma cleptocracia, um governo cujos líderes corruptos usam o poder político para se apropriar da riqueza de sua nação, com o desvio ou apropriação indevida de fundos do governo às custas da população em geral.
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Uns, declarados opositores, são pressionados, coagidos ou assediados, outros desaparecem misteriosamente e ainda outros são presos por se expressarem em desfavor do MPLA que se protagoniza como sendo eles, o país. Nas eleições parlamentares, a UNITA obteve uma votação de mais de 30%, portanto expressiva, mas que ficou aquém das suas expectativas. Nas eleições presidenciais, os cerca de 42% obtidos por Jonas Savimbi impediram que José Eduardo dos Santos, presidente em exercício que reuniu 59% dos votos, obtivesse na primeira volta a maioria absoluta, do modo que, pela legislação então em vigor, teria sido necessária uma segunda volta.
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Esta, não se chegou a realizar, porque a UNITA declarou de imediato que tinha havido fraude nas eleições presidenciais, e retomou as suas actividades militares - enquanto os deputados eleitos pela UNITA assumiam as suas funções de forma regular. A seguir a uma fase de êxitos militares, por exemplo a tomada temporária da cidade do Huambo, a UNITA passou a perder terreno de maneira dramática, devido ao reforço maciço das FAA (Forças Armadas de Angola), em pessoal, formação e equipamento, no essencial financiado pelas receitas do petróleo.
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Em paralelo, constitui-se uma dissidência da UNITA, designada "UNITA Renovada" e liderada por um dos deputados, Eugénio Manuvakola; esta corrente era a favor do abandono da luta armada e de uma concentração sobre a luta política. No fim dos anos 1990 era patente que a UNITA tinha perdido o combate, em termos militares. Perseguido por uma unidade das forças governamentais, Jonas Malheiro Savimbi é morto em Fevereiro de 2002. Segundo o jornal Público (do M´Puto): Jonas Savimbi morreu "de arma na mão", como "um militar", numa emboscada das Forças Armadas Angolanas (FAA), numa sexta-feira à tarde, junto ao rio Luio, sudeste da província do Moxico, ao fim de cinco dias de perseguição pelo mato. "Sete tiros foram suficientes para o abater". Foi assim que o brigadeiro Wala, na qualidade de dirigente da "força mista que matou o líder da UNITA", resumiu o fim de Savimbi aos jornalistas presentes no local em que o corpo foi exibido.
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Ano de 2002 - Após a sua morte, a UNITA tornou-se num partido civil e abandonou a luta armada. No congresso da fundação do partido, onde a UNITA Renovada e outros elementos dissidentes foram reintegrados, Isaías Samakuva foi eleito presidente. Concorrendo às eleições parlamentares de Setembro de 2008, a UNITA obteve pouco mais de 10%, tornando-se num partido com poucas condições para exercer funções efectivas de oposição. Em 2012, esta situação levou à saída de uma dos seus mais destacados dirigentes, Abel Epalanga Chivukuvuku que fundou um novo partido, CASA (Convergência Ampla de Salvação de Angola).
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Apesar desta perda, a UNITA aumentou muito significativamente, de cerca de 80%, nas eleições realizadas em 2012, duplicando o número dos seus deputados, enquanto a CASA obteve respeitáveis 6% com 8 deputados - constituindo-se, deste modo, uma oposição parlamentar significativa ao MPLA. Nas eleições de 2017, a UNITA quase duplicou outra vez o número de acentos no parlamento, saindo de 32 para 51 deputado, sendo que a CASA-CE passou de 8 para 6 deputados.
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A UNITA que tem tentado sempre demonstrar democracia interna realizando congressos de 4 em 4 anos, é hoje, o principal partido opositor ao partido que forma o governo afirmando-se como uma verdadeira alternativa a este. A morte de Savimbi também se reflectiu na mudança ideológica do partido, deixando o nacionalismo de esquerda e o socialismo humanitário (correntes maioritárias até então). Este facto alterou o espectro do partido, que, de situado mais a centro-esquerda, passou a um movimento sem ideologia dominante.
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Segundo Jofre Justino, o partido terá assim várias correntes, sendo a dominante, direitista, capitaneado por Isaías Samakuva. As demais correntes do Galo Negro seriam a da esquerda, dirigida por um general do terreno; e a do centro, capitaneada por Abel Chivukuvuku (que acabou por romper com a UNITA e formar um novo partido). O XIII Congresso da UNITA, realizado entre os dias 13, 14 e 15 de Novembro de 2019 foi o mais renhido da sua história, em relação à disputa da presidência.
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Concorreram 4 candidatos, todos eles dirigentes de proa do partido, como o diplomata Alcides Sakala Simões, na altura secretário para as relações internacionais, o deputado e académico José Pedro Katchiungo, na altura também vice-presidente da bancada parlamentar, José Abílio Kamalata Numa, um destacado General na reserva, o jornalista Manuel Raul Danda, na altura vice-presidente do partido e o Eng.º Adalberto Costa Júnior, então presidente da bancada parlamentar, que veio a ganhar as eleições, com pouco mais da metade dos votos. A UNITA é hoje composta por uma direcção coesa liderada por Adalberto Costa Júnior, Arlete Leona Chimbinda, primeira mulher a chegar ao cargo de vice-presidente do partido e Álvaro Daniel.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
ANGOLA DA LIBERTAÇÃO - XXIV
”OS DIAS DAS BRUXAS” – CAMPANHA CONFLITUOSA…
Crónica 3198 – 28.09.2021 - “A guerra, que matou e estropiou tantos, alimentou um punhado de pessoas, que se tornaram insultuosamente ricas e prepotentes”
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Por: T´Chingange, no AlGharb do M´Puto
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Logo no dia a seguir à partida do Papa João Paulo II de Angola a 10 de Junho de 1992, MPLA e UNITA envolvem-se em violento combate verbal, só apaziguado com a interferência de Herman Cohen. No segundo dia da campanha eleitoral, soldados da UNITA atacam o governo provincial de Kuito. Os governamentais reagem. O incidente salda-se em 20 militares e 10 civis mortos. No mesmo dia, no Huambo, numa emboscada à caravana automóvel de Kundy Paihama, director de campanha do MPLA, falece o secretário provincial da juventude do MPLA e cinco pessoas ficam feridas com gravidade.
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Estes acontecimentos, motivam um comunicado dos observadores internacionais e membros da missão das Nações Unidas UNAVEM II, condenando a atitude do MPLA e da UNITA -Convém esclarecer que a UNAVEM I, fiscalizou a retirada das tropas expedicionárias cubanas. A 8 de Setembro de 1992, Eduardo dos Santos e Savimbi acordam no princípio da criação de um governo de unidade nacional, independentemente do resultado das eleições. Comprometem-se na extinção dos seus exércitos, antes do escrutínio. Dez dias depois aquele comprometimento, avisado pela sua representante em Angola, Margaret Anstee, Butros-Ghali envia um relatório ao Conselho de Segurança da ONU, denunciando que apenas 41% das forças armadas do governo da UNITA tinham sido desmobilizadas e apenas 19% das forças armadas unificadas tinham sido constituídas.
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O mesmo documento sublinha que o ritmo da desmobilização foi mais rápido do lado das forças governamentais – 54.747 soldados, correspondentes a 45%, contra 7.257 soldados da UNITA, correspondendo a 24%. Toda esta movimentação de vontades fica conspurcada pela má-fé de ambas as partes que não confiam em suas próprias sombras pois que sempre vem ao de cima mais de 10.000 mortes de partidários da UNITA e da FNLA que foram assassinados pelas forças do MPLA, principalmente dos grupos étnicos ovimbundos e bacongos.
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Os “3 DIAS DAS BRUXAS” sempre é relembrado com as mortes de muitos membros proeminentes da UNITA como Jeremias Chitunda, Elias Salupeto Pena e Aliceres Mango, entre muitos outros. Dia 30 de Outubro de 2021, completam-se 29 anos sobre o massacre iniciado a 30 de Outubro de 1992 na capital angolana, Luanda. Recorde-se: De 29 e 30 de Setembro de 1992 diz Filomena Lopes líder do Bloco Democrático, partido da oposição angolana: “foram naturalmente três dias horríveis", data em que se interrompeu o processo de paz em Angola. Fui apanhada de surpresa, sobretudo numa altura em que se tentava encontrar soluções políticas para o problema.
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Filomena diz: - “Matava-se tudo. Matavam-se todos os que tivessem alguma ligação com a oposição. ”Milhares de apoiantes e até dirigentes da União Nacional para Independência Total de Angola (UNITA) são assassinados em Luanda e em outras localidades do país. Também há vítimas da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA). “É a primeira vez, na história da guerra civil angolana, que políticos morrem em combate”, escreve o jornalista Emídio Fernando no livro Jonas Savimbi, “No Lado errado da História”.
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Até hoje - 2021, permanece por esclarecer quem ordenou o massacre. O número de vítimas também nunca foi confirmado, mas estima-se que tenham morrido entre 10 mil e 50 mil pessoas. Outros gráficos, baseadas em números da Igreja Católica, estimam que foram mortos de 25.000 a 40.000 partidários da UNITA e da FNLA. Números que Mário Pinto de Andrade, do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), contesta: “Acho que, às vezes, a comunidade internacional empola. Houve uma manipulação desses resultados. Eventualmente fala-se das pessoas que morreram pela UNITA, mas também morreu muita gente pelo lado do governo. A UNITA quando ocupou o Uíge matou muita gente do MPLA e quando ocupou o Huambo, fez o mesmo.”
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Nem o candidato do MPLA, José Eduardo dos Santos, nem o seu adversário, Jonas Savimbi, da UNITA, conseguiram maioria absoluta nas presidenciais. Mas, a segunda volta nunca se realizou. A guerra civil reacendeu-se com o massacre e, prolongar-se-ia até quatro de Abril de 2002. O massacre dizimou muitos membros dos grupos étnicos Ovimbundu e Bakongo, historicamente tidos como adversários do MPLA. O jornalista e analista político Orlando Castro afirma que, nessa altura, o MPLA tentou “neutralizar todos os que pensavam de maneira diferente do regime”.
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“Foi uma nova tentativa de decapitar a UNITA. Orlando Castro conta: "Na história do MPLA, os massacres, ou as purgas, ou o que se lhe quiser chamar, são uma regra estratégica do regime, mesmo até para os próprios simpatizantes do MPLA”. Essa prática vem-se verificando até aos dias de hoje segundo muitas versões contadas aqui e ali, em livros ou crónicas nos jornais e redes sociais e, até por gente fugida ao sistema que sempre acusam o MPLA na utilização de venenos para eliminar parceiros ou amigos considerados insuspeitos. Quem lê o “Fórum de Liberdade” nas redes sociais de Fernando Vumby exilado na Alemanha, um antigo elemento da DISA - a polícia política do governo de Agostinho Neto, fica com os cabelos em pé.
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O tema ainda é tabu em Angola e desconhecido por muito jovens. Daí a importância de uma boa estratégia de reconciliação, desde que não se branqueie a verdade, defende Orlando Castro: “Estes massacres são os mais visíveis, quer o de 27 de Maio de 1977, quer o de 1992, são os mais visíveis pelo número de vítimas, mas o MPLA tem muitas outras histórias porque ao longo da guerra – embora a UNITA obviamente também tenha cometido grandes erros – o MPLA, até pelo poder militar que tinha, massacrou muita gente inocente.
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Os jovens não conhecem esta história. E, a paz e reconciliação em Angola nunca se conseguirão com base na mentira”. Mário Pinto de Andrade recorda: “ninguém pode negar a História, mas tem de se falar com realismo. Apesar de Angola ter um grande potencial em recursos hídricos, nem toda a gente tem acesso a água e energia no país. O governo angolano quer mudar isso e está também aberto a cooperar com Portugal; assim se falava a em Outubro de.2012; o que mudou mesmo foi o ressurgir de novas formas de roubar ao erário publico destroçando paulatinamente a economia e levando o povo ao desemprego, sobrevivendo da forma triste em rebuscar nas lixeiras, caixotes de lixo e coisas nauseabundas que só abutres praticam…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
MOKANDA DA LUUA – KAPIANGO AIUÉ - Luanda do Mu Ukulu… Era uma vez...
- Crónica 3194 – 16.09.2021 - Kinguilas, as fugitivas da Independência - IV de IV – Crónica esquecida na espera da fila bicha do malembelembe do KAPOSSOKA…
Por Soba T´Chingange no AlGharb do M´Puto
LUUA DOS VELHOS TEMPOS… A Baixa de Luanda, sem a Marginal não teria norte, já não tem o Porto Pesqueiro frente ao Banco Nacional, nem o Mercado Municipal. Mas ainda tem a Alfândega, a Marinha e a Polícia, convivendo com arranha-céus dignos de um Abu Dabi, com auto-saneamento e auto-energia, onde vivem ou trabalham exemplares da classe alta burocrática, despachando com tranquilidade os expedientes, porque aqui não há pressa para nada.
Para o interior, as ruínas dos armazéns do Minho, onde as senhoras brancas iam comprar tecidos e vestidos, um mundo que se extinguiu, só sobrou o Mabílio Albuquerque que vende “coisas”. A Baixa de Luanda é um extenso e intenso “musseque”, tudo está ocupado, parece que as poucas árvores poluem, cortam-se, ocupam lugares que podem ser rentabilizados pelos miúdos vindos do fim do mundo e que tomaram conta das ruas durante o dia, arrumando e lavando os carros, com “puxadas” de água gratuita da EPAL.
Rainha N'Zinga, a estátua, enorme, jaz à entrada da fortaleza, à espera que os arranha-céus do Kinaxixi, onde eu já vi uma grande lagoa com uma mafumeira e um majestático mercado de frescos verdadeiros, vindos das hortas da cintura de Luanda, sejam pagos, um dia, um dia, como os portugueses dizem, de “são nunca”.
Avenida Rainha N'Zinga, que podia ser uma metrópole, mas que em dias de enxurradas se transforma em rio lamacento, lançando água na Baía, rua da dança capoeira dos domingos à tarde, dos candongueiros para os “congolé”, das zungueiras em frente da Sé, que deixou se ser Sé, mas mantém a travessa, vendendo fruta, tamarindos, maçãs da índia, loengos, gajajas, caju, mangas, mulheres sem sorriso sentando no fio do muro ou na pedra para endurecer os interiores, fugindo, fugindo dos fiscais da Administração, submissas, a sua mente se organizou há muito, netas dos rusgados dos cipaios do chefe do posto Poeira.
As galerias Kibabo abriram onde era a antiga, luxuosa e branca Versalhes, agora também dirigidas por brancos, um mundo de compra e venda de tudo: plásticos baratos, pequenos empregos que mal dão para apanhar o candongueiro. Mas a actividade comercial atraiu também um enxame de rapazes sujos, de cabelos com trancinhas a ficar russas, que enfrentam tudo e todos os poderes para ficarem na porta, pedindo esmola para o pão ou para os pais ou para outras coisas.
Há muito, muito tempo, a Baixa era apropriação de uma parte da população branca. A população negra vinha dos bairros, a pé ou de autocarro, trabalhar nas fábricas, nas lojas e nas casas. Muita gente passava a correr pela pensão Fomentadora, no Kinaxixi, para comer uma grande sandes de peixe frito e uma grande caneca de café muito açucarado. Coisas Pré-Históricas.
No dia da Independência, no próprio dia, a Baixa transfigurou-se, parecia não existir, nem uma só alma nas ruas, sentia-se medo pela solidão, tinha sido o mundo dos brancos, que de repente foram embora.
Quem primeiro se apropriou nos novos tempos da Luanda africana foram os “regressados do Zaire”, invadiram tudo, criaram a venda parada no chão das ruas, não era raro encontrá-los na Mutamba, de manhã, em pijama, na rua. Todo o mundo queria sair dos bairros e viver na cidade do asfalto. Mas era um mundo estranho, não era do povo, era algo que se plantou ali, vindo de fora.
Ué... Que futuro? Sem transportes públicos, sem uma malha comercial digna desse nome, sem saneamento básico conhecido, com escassos minimercados, sem um mercado de frescos, nem sequer uma livraria digna desse nome, a Baixa, e sobretudo a sua parte central, a extensa avenida Rainha N'Zinga é a parente pobre da Marginal, reconstruída e embelezada pela Independência.
Aí coexistem as classes mais altas e as mais baixas, como dois mundos intocáveis. A degradação do entaipado prédio do antigo “Diário de Luanda” contraria os arranha-céus de vidro, que parecem redomas extraterrestres numa Luanda que precisa de ar, de vento, de céu. Nos becos, também há becos e contrabecos desaguando na Rainha, mil negócios silenciosos. A liamba instalou-se num trono de que não abdica, imperando nos lados dos degradados Coqueiros, outrora coqueluche dos brancos.
Há um plano director, dizem, mas tudo tem plano director em Angola, tudo tem “desiderato” e tudo vai acontecer “brevemente”. O futuro é, pois uma incógnita, como o “X” de uma equação simples, mas que se complica pela incompetência, pelo laxismo, pela corrupção transversal à sociedade. Por trás de um aparente modernismo, toda esta vasta zona, outrora “chique”, alberga centenas de milhares de pessoas em cada canto, casebres construídos dentro de outros casebres.
Já não há terminal de autocarros digno desse nome na Mutamba. O poder agora é dos candongueiros e dos “corolas”, pão e cerveja de muitos lares. Em plena Rainha N'Zinga, sim, funciona a “Mutamba”, na esquina frente à Embaixada da Guiné, candongueiros de e, para os subúrbios. Tentaram “colocar” mini-autocarros, mas só os vi um dia.
O que vai acontecer a tantos edifícios degradados no tempo colonial? Como será a cidade de Luanda daqui a 20 anos? O futuro a quem pertence? Quem agarra nele com coragem e sem medo? Os “velhos luandenses” estão em risco de extinção. Em seu lugar, uma multidão dessincronizada de jovens, “por enquanto jovens”, imigrantes, vindos de todo o lado, que de Luanda só sabem que têm de ganhar o pão nosso de cada dia e, utopicamente, um emprego...
FIM
T´Chingange na Diáspora dos AlGharb´s do M´Puto
ANGOLA DA LIBERTAÇÃO - XVIII
- A INDEPENDÊNCIA DIVIDIDA… FRACCIONISTAS DO 27 DE MAIO DE 1977
- Crónica 3188 – 03.09.2021 - “A guerra, que matou e estropiou tantos, alimentou um punhado de pessoas, que se tornaram insultuosamente ricas e prepotentes” – A independência era para isto!? - Nós e os mwangolés…
Por T´Chingange, no AlGharb do M´Puto
Em crónicas anteriores fiz referência à proclamação da Independência unilateral do MPLA do 11 de Novembro de 1975 como tendo sido no Largo Diogo Cão mas, em verdade, foi no início da Estrada de Catete, um largo com descampado bem perto do cinema Império e da antiga Escola Industrial de Luanda. Consultando um artigo de Gabriel García Márquez, extraído da 53ª edição da revista Tricontinental, de 1977, dá como início da primeira etapa da “Operação Carlota”, a cinco de Novembro, seis dias antes daquele pronunciamento por Agostinho Neto.
O autor Garcia Márquez, conclui com a derrota das forças que invadiram a nação angolana e o início da retirada gradual das tropas cubanas, em 1976, quando parecia que tudo tinha concluído. Contudo, tal como acordaram os presidentes Fidel Castro e Agostinho Neto, um número mínimo de tropas ficou em Angola para garantir sua soberania. A situação começou a complicar-se, e a luta se intensificou de novo, mais uma vez a África do Sul interveio, de maneira que se iniciou uma nova etapa da “Operação Carlota”, que concluiu só 14 anos depois, com a derrota definitiva dos sul-africanos e UNITA; o último soldado cubano retornou no mês de maio de 1991.
Numa declaração oficial, os Estados Unidos revelam a presença de tropas cubanas em Angola, em Novembro de 1975. Calculavam que tinham sido enviados cerca de 15 mil homens. Três meses depois, durante uma visita breve a Caracas, Henry Kissinger disse em particular ao presidente Carlos Andrés Pérez: “Parece que nossos serviços de informação estão muito deteriorados porque só soubemos que os cubanos iam para Angola quando já estavam lá mesmo”. Contudo, nessa ocasião corrigiu que a cifra enviada por Cuba era de 12 mil homens. Naquele momento em Angola havia muitos soldados, especialistas militares e técnicos civis cubanos, muito mais do que Henry Kissinger supunha.
O primeiro contingente era composto de 4.000 homens que aumentaram rápidamente para 18.000. Em 1976 já eram 36.000 e em 1988 já totalizavam 55.000 quando da Batalha de Cuíto Cuanavale, o maior confronto militar da Guerra Civil Angolana, ocorrido entre 15 de Novembro de 1987 e 23 de Março de 1988. O local da batalha foi na região do Cuíto Cuanavale, província de Cuando-Cubango, onde se confrontaram os exércitos de Angola (FAPLA) e Cuba (FAR) contra a UNITA e o exército sul-africano. Foi a batalha mais prolongada que teve lugar no continente africano desde a Segunda Guerra Mundial. Os cubanos saíram em 1991, enquanto a Guerra Civil Angolana teve continuidade até o ano de 2002. As baixas cubanas em Angola totalizaram cerca de 10.000 mortos, feridos ou desaparecidos.
A DISA, a polícia política da altura do chamado “28 de maio”, alusão ao período logo após o 27 do golpe, sob a direcção de Ludi Kissassunda e Onambwée, tendo como principais executantes António Carlos Silva, Carlos Jorge, Pitoco, Inácio Osvaldo, Eduardo Veloso, Norberto Castro Pereira, Margoso, José Maria, Manuel Carmelindo, José Vale, Nascimento, Domingos Cadete, Victor Jeitoeira, Cristian André, José Baião, João e Henrique Beirão, Zeca França, José Baião, Júlio Rasgado, Miguel de Carvalho, entre outros, prende, tortura e mata sem qualquer controlo.
As cadeias ficam sobrelotadas; os presos são alvo de todo o tipo de sevícias: espancamentos com martelos, paus, barras de ferro, soqueiras, cintos, chicote, pedaços de mangueira cheios de areia, mesas, bancos, cadeiras, bancos; violentamente amarrados com os braços atrás das costas até perdem a sensibilidade dos braços e mãos; suspensos e deixados cair no chão, com os braços e as pernas amarradas; queimados com pontas acesas de cigarros, também um torniquete colocado na cabeça e, que à medida que é apertado, causa fortíssimas dores e a perda de consciência; choques eléctricos nos genitais, etc, etc… A imaginação dos algozes não tinha limites em sua bestialidade. O sangue corre às golfadas como um mar, os gritos de dor dos seviciados são insuportáveis…
Ainda do relatório da Amnistia Internacional: - “ Segundo prisioneiros que foram enviados para um campo de “reeducação” em Calunda na Província do Moxico, muitos outros prisioneiros foram sumariamente executados, morreram à fome ou foram alvejados ao tentarem fugir – tiro ao alvo, dizem. A última execução em massa de pessoas presas em conexão com a tentativa de golpe e, que foi pelo menos, de 15 pessoas, terá ocorrido a 23 de Março de 1978. Alguns dos prisioneiros foram condenados à morte ou à prisão por um tribunal especial, mas nenhum foi submetido a nada que se assemelhasse a um julgamento imparcial.”
O governo angolano negou alegações feitas em carta aberta por um partido politico, de que 30 mil pessoas haviam desaparecido durante os anos de 77 e 78, em consequência da Revolta dos Fraccionistas. Limitou-se a admitir “excessos” declarando compartilhar “ a legitima preocupação dos familiares das vítimas, interessadas em saber o que acontecera aos seus parentes”. O governo angolano disse ainda que talvez fosse criada uma comissão para tratar do assunto”. Em realidade, nada foi feito e, as indicações posteriores de gente desgarrada do processo e, despeitada com seus superiores, declarou no exílio da diáspora, aquele número ser de 80 mil…
Ainda no ano de 1978, os rodesianos fizeram um ataque ao campo de refugiados da ZAPU de Joshua N´Komo, em Boma, Sul de Luena, onde foram massacradas centena de pessoas. Em um ataque ao Lubango no ano de 1979, por bombardeamento feito pelos sul-africanos, morrem 612 pessoas. Este foi também o ano do “massacre de Cassinga” quando militares sul-africanos atacam um campo de refugiados namibianos, chacinando 1.200 pessoas; e da morte, em Moscovo , de Agostinho Neto, cujo corpo regressa embalsamado a Luanda. Na exéquias fúnebres, em quase histeria colectiva as pessoas gritam “mataram nosso Netinho”. Referiam-se aos soviéticos, mas a verdade é que Neto sofria de incurável cancro de fígado por via de tanto “chivas regal” – implodiu por dentro, simplesmente!…
Na presidência de Angola, sucede o eng.º José Eduardo dos Santos, nascido no musseque Sambizanga, de pai pedreiro e mãe doméstica, foi aluno do Liceu Salvador Correia de Sá. Formou-se em engenharia de petróleos em Baku, ex-URSS, sendo a princípio contestado pelos radicais do MPLA, especialmente por ter decidido congelar todos os processos de condenações à morte; posteriormente aboliu a pena de morte em Angola. Sabe-se sim, por via de muitas denúncias que sofisticaram a forma de eliminar inimigos ou gente inconveniente com venenos de sofisticada elaboração entre outras formas dissimuladas… Entretanto a guerra continua com a UNITA fixada na Jamba – Cuando / Cubango…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
* União, Ousadia, Talento e Loucura *
Crónica 3187 de 01.09.2021 - O Mundo está feita um manicómio, noé?!
Por T'Chingange no AlGharb do M'Puto
Certa vez, um senhor foi visitar um amigo médico que dirigia um manicómio. Ao chegar, foi recebido pelo amigo. Este mostrou-lhe as dependências de seu hospital. Após visitarem as acomodações e principais salas de tratamento, chegaram a uma porta com um vidro, de onde podiam observar o pátio em que os internos tomavam banho de sol e se socializavam.
Enquanto conversavam, dois homens se desentenderam e começaram a agredir-se. Vendo isso, o director do hospital pediu licença e foi até eles para separá-los e apaziguar a contenda. O amigo ficou surpreso com a coragem do médico ao vê-lo apartando a briga.
Quando ele voltou, o visitante perguntou intrigado: “Amigo, você não tem medo de entrar no pátio sozinho para separar duas pessoas brigando? Não tem medo de que os demais se unam em defesa dos colegas e avancem sobre você?”
O médico então respondeu: “Não, não tenho medo; sabe por quê? Porque os LOUCOS NUNCA SE UNEM” A união é uma característica de pessoas mentalmente sadias. Não é à toa que Satanás, o Diabo feito capeta, gosta de separar amigos, casais, colegas de trabalho e, principalmente, as pessoas que acreditam em Deus.
AR - O inimigo não está interessado enquanto manobra o TALENTO, numa sociedade ou o que uma igreja contenha, desde que consiga manter as pessoas separadas. No entanto, treme quando dois ou três se unem em nome de Jesus...
Pouco antes de enfrentar a cruz, Cristo pediu em oração: “Rogo para que todos sejam um, Pai, como Tu estás em Mim e Eu em Ti. Que eles também estejam em Nós, para que o mundo creia que Tu Me enviaste”
Observe que Jesus não pediu que seus discípulos, fossem mais talentosos e educados. Ele pediu UNIÃO. Isso deveria fazer-nos pensar. Deus é maior do que nosso egoísmo ou qualquer espírito de separação que exista entre nós. Ele espera que você/nós, sejamos unidos às pessoas de seu convívio, reflectindo o amor verdadeiro...
Quanto a OUSADIA, Elias era humano como nós. Ele orou fervorosamente para que não chovesse, e não choveu sobre a terra durante três anos e meio. Orou outra vez, e os céus enviaram chuva, e a terra produziu os seus frutos... Alguns personagens bíblicos foram tão corajosos que nos fazem sentir insignificantes. Um deles é Elias. A Bíblia afirma que, certa vez, ele suplicou a Deus que não chovesse sobre a terra, e foi atendido. “E não choveu sobre a terra durante três anos e meio".
Orou outra vez, e os céus enviaram chuva. ”Como poderíamos comparar-nos a um profeta que fez um pedido ousado a Deus e ainda assim foi atendido? Em primeiro lugar, é preciso notar que Elias pediu a Deus que não enviasse chuva. Por que ele fez esse pedido específico? Israel estava adorando Baal e acreditava que o regime de chuvas e a fertilidade da terra dependiam dessa divindade.
Assim, o profeta, interessado em provar a inexistência do falso deus, pediu que o Deus verdadeiro retivesse a chuva, demonstrando Seu poder sobre todas as coisas. Outro ponto importante está no advérbio de modo utilizado para modificar o verbo “ORAR”. Tiago diz que Elias orou “fervorosamente”. Deus quer que oremos com essa intensidade. Jesus disse que, se insistirmos, o Justo Juiz nos ouvirá...
Finalmente, o verso diz que “Elias era humano como nós”. O profeta não era um super-herói da fé, mas alguém que tinha lutas, dores, sonhos, decepções, tentações, vitórias e fracassos como também temos. Ainda assim, depositou toda a sua confiança em Deus, por isso foi honrado por Ele. Portanto, não fique surpreso com a história de Elias.
CA - Ela, a história, simplesmente nos mostra que poderíamos e podemos alcançar muito mais vitórias espirituais se formos ousados em nossas petições. A experiência do profeta demonstra que todo aquele que oram com fé, fervor e de acordo com a vontade de Fé, será ouvido e atendido...
O Soba T'Chingange
ANGOLA DA LIBERTAÇÃO - XVII
- A INDEPENDÊNCIA DIVIDIDA… FRACCIONISTAS DO 27 DE MAIO DE 1977
- Crónica 3186 – 27.08.2021 - “A guerra, que matou e estropiou tantos, alimentou um punhado de pessoas, que se tornaram insultuosamente ricas e prepotentes” – A independência era para isto!? - Nós e os mwangolés…
Por T´Chingange, no AlGharb do M´Puto
Sem a preocupação gramatical, com o sujeito cutucando o verbo mais o predicado…, sem a métrica do fado, uma emergência confusa deste tempo pandémico, sem a rima versejada, a metáfora triste e saudosa, bonançosa quanto baste mas, de alma torturada…, sem pátria idolatrada, jogando búzios na zuela do feitiço do tempo, com algum esforço intelectual, remexo nas panelas do esquecimento de N´Gola!
Muito me convenço da inutilidade das bagatelas que nos preenchem o dia, por isso relembro o passado recente e longínquo para espairecer ressarcimentos que ainda podem chegar; que deveriam já ter acontecido mas, neste capítulo de descolonização as coisas só desacontecem - vou esperar deitado porque as kinambas, andam roídas pelo salalé. Sem ser convocado, assisto avulso só por assistir, às periclitãncias do socialismo, tendo até medo de comentar disparates grosseiros. Assim sendo, só poderei responder com muxoxos malcriados, refugiando-me atrás do balcão de minha modesta venda de vaidades.
Vamos situar-nos a 27 de Maio de 1977 e, em um após as insistências da URSS a Agostinho Neto a fim de aderir ao marxismo-Leninismo, o que veio a consumar-se com a criação do MPLA-PT. Não obstante Neto continua uma pedra no sapato do regime soviético, que na altura era chefiado pela “tróica” de Nicolau Podgorni/Kossinguine/Brejnev. Quatro homens da ala esquerdista do MPLA lideram um golpe de estado contra Agostinho Neto. Foram eles: Bernardo Alves - Nito, Jacob Caetano – “Monstro Imortal”, José Van Dunem e o Comandante Bakaloff.
O episódio é conhecido por Revolta dos Fraccionistas - “dos Frac´s” na linguagem popular. Num discurso após o golpe, Neto afirma que por detrás da rebelião, estivera “ uma embaixada estrangeira em Angola”. Para os analistas políticos não restaram dúvidas em apontar de forma comedida o embaixador Kalilnini como sendo o autor intelectual do episódio. Já dominando os pontos chaves na Capital – Luua, como a emissora de rádio, o golpe aborta porem, mercê da rápida intervenção militar cubana ao lado de Neto. “Monstro imortal”, armado com uma metralhadora, entra no Palácio da Cidade Alta de Luanda, com o propósito de dar ordens de prisão ao presidente angolano; assim não foi, porque Neto, estava no Futungo de Belas…
Monstro Imortal é preso de imediato. Na onda posterior de repressão, são presos, torturados e passados pelas armas na forma sumária, seguindo-se-lhe milhares de pessoas, incluindo os mentores do golpe, depois de serem sujeitos a dolorosa tortura física. Conta-se que a Nito e a Monstro Imortal, lhes foram arrancados os olhos, ainda em vida. O último relatório da Amnistia Internacional sobre o golpe de 27 de Maio relata o desaparecimento de prisioneiros – “Noite após noite, durante os meses seguintes, ambulâncias e outros veículos saíam da prisão de Luanda e de outras cidades”.
Hermínio Escórcio, chefe do protocolo da presidência, descreve mais tarde como sucederam as manobras dessa revolução: “ Na manhã do dia 27 estava em casa quando me apercebi que a Rádio Nacional de Angola – RNA, havia sido tomada. Fui para o meu gabinete no Palácio e de lá telefonei para o Futungo de Belas (Presidência da República) mas de caminho pude avistar o Onambwé e o Delfim de Castro que, dentro de um tanque, se dirigiam para as instalações da RNA, onde já estava no ar o programa radiofónico “kudibanguela”. Depois da retomada da RNA fui o primeiro dirigente a lá entrar”.
Continuando: “saí da rádio e fui até à Avenida Lisboa para ver se havia rastos de sublevação. Liguei o Neto, disse-lhe que estava tudo calmo e, ele prontamente afirmou: “Então posso ir até aí!” Disse-lhe que por uma questão de segurança, talvez fosse melhor ficar pelo Futungo. Dito isto, acrescentou que ia chamar a imprensa para fazer o ponto da situação. Mal sabia ele que o Saidy Mingas, o Eurico e o Garcia Neto já tinham sido mortos. Também desconhecia que alguns comandantes haviam caído em emboscadas montadas pelos Fraccionistas à 9ª brigada. Neto, quando soube de tudo isto, ficou completamente transtornado”.
Neto vai à televisão e proclama o salvo-conduto para o banho de sangue: “Não haverá contemplações…Certamente não vamos perder tempo com julgamentos”. Os fuzilamentos sumários passaram logo a ser norma. Convêm dizer aqui que os cubanos após retomarem a Rádio Nacional, abrem fogo sobre todos os amontoados de população que eventualmente estavam ao lado dos revoltosos e, acto contínuo retomam o controlo das cadeias. Mila Coelho, mulher de Rui Coelho fuzilado a 2 de Junho de 77 e, que na altura era chefe do gabinete do Primeiro-Ministro Lopo do Nascimento, conta assim: “ Esperava Rui, vindo de Argélia e a 1 de Junho com a tragédia do 27 a decorrer, notei nele muita intranquilidade. No dia seguinte, dois de Junho, vieram buscar-nos a casa”.
“Dois soldados armados de metralhadora, exigiram que fôssemos com eles. Levaram-nos para o Ministério da Administração Interna aonde permanecemos toda a tarde, sentados em um banco corrido. Nessas horas falamos pouco; estávamos horrivelmente destroçados. Era já noite quando nos foram buscar; meteram-nos num cubículo escuro e pela madrugada levaram-nos para a Cadeia de S. Paulo. A separação de homens para um lado, mulheres para o outro afastou-nos definitivamente um do outro para nunca mais nos virmos”…
Nos fios de gastas crenças, tão corcovado, tão enrodilhado em suas macias filosofias de mineiro de volfrâmio, recordo meu pai Manuel, embebido, travado e suspirando baixinho, revendo sua miúda indecisão de viver, vendendo volfrâmio a Hitler para sobreviver. Um dia de repente, com um trejeito de esforço, endireitou-se emperrado e cresceu! E, falou: - Amanhã vou à Companhia Colonial de Navegação inscrever-me - Vou para Angola! E, foi… Ora sucede que neste 27 de Maio veio da Luua inchado de porrada e com uma bala nos joelhos; esperei-o no Aeroporto da Portela de Lisboa. Seguro por duas muletas parecia um Cristo! Tirou essa bala e, não mais voltou… Impôs-se assim uma forçada regra de vida: - A liberdade de sermos saudáveis ou morrer por coisas impensáveis…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
ANGOLA DA LIBERTAÇÃO - XVI
- A INDEPENDÊNCIA DIVIDIDA… OFENSIVA NGOUABI - Crónica 3184 – 22.08.2021
- “A guerra, que matou e estropiou tantos, alimentou um punhado de pessoas, que se tornaram insultuosamente ricas e prepotentes” – A independência era para isto!? -Nós e os mwangolés…
Por T´Chingange, no AlGharb do M´Puto
Ainda anda por aqui e ali no M´puto e Diáspora, muita gente com quem temos amizade e que dão um encolher de ombros às lembranças de então, de há 46 a 47 anos atrás. A força de esquecer dos retornados, refugiados e afins, foi mais que muita e, ao ponto de até esquecerem o nome da lavadeira, da rua aonde moravam e até do cachorro e coisas que se fracturaram no tempo em sonhos de altas falésias com muitos e assombrosos pesadelos. Eu passei a ser Cidadão do Mundo nascido por opção a bordo do Niassa - um Niassalês. Sonhos de mirar o passado pelas estrias de uma kalashnikov, AK 47 entre outras, aquelas de tambor ultra revolucionário e até das G3 dadas pela NT (Nossas Tropas) aos bandalheiros e pioneiros do MPLA. Uma grande parte dos “tinhas*”, até se tornou comunas militantes; outros são socialistas envergonhados…
Prometi a mim mesmo não me enganar continuando a ser eu próprio peneirando as opiniões, gerindo silêncios e, mesmo no exterior de Angola, fiz trabalho fiel por quem acreditava ser o futuro em Angola. Saí da UNITA mas, ela continua comigo pois recordo grandes nomes com quem tive o privilégio de trabalhar como Carlos Morgado, Kalakata, Alcides Sakala, José Kachiungo Marcial Dachala ou Adalberto Júnior entre tantos e tantos. Tive e continuo a ter com orgulho de exibir, um galo em cerâmica que sempre ficou agarrado à lapela do meu terno de azul diplomático, oferta como se assim o fosse: um louvor medalhado, por essa gentil pessoa com o nome de Sakala que então representava a UNITA em Portugal, sendo eu coordenador da Zona Sul do M´Puto…
Só a partir do 11 de Março de 1976 as coisas começaram a tomar outro rumo. Tive a sorte de ser colocado pelo IARN como destacado ADIDO (Ex-funcionário dos SPCFTA e Câmara da Caála em Robert Williams), em um município, tendo na presidência um elemento do MDP-CDE do Ribatejo, que tudo tentaram para me levar para as tomadas de “montes” no Alentejo – Era o PREC em curso. Nesta descrição andarei um pouco mais à frente e atrás para inserir o essencial dos problemas que afectavam milhares de seres como eu e, em iguais circunstâncias; gente que quis esquecer e, que acabou mesmo por assim ser… Perturbado com os punhos no ar e assembleias a toda a hora, em terra de Otelo Saraiva, zarpei, bazei, fugi de licença ilimitada rumando para a Venezuela de Andrés Peres…
Mas e, voltando a Angola e a Fevereiro de 1976, deparamos com o rápido avanço do MPLA com cubanos para a tomada do Lobito e Benguela à UNITA e Soyo, a antigo Santo António do Zaire no Norte, à FNLA. A República Popular de Angola é admitida na ONU e reconhecida por vários países. Portugal seria o 88º membro a reconhecê-la. Neste mesmo mês, o comité político da UNITA abandona Huambo e inicia a retirada par Sudeste, com cobertura de uma coluna Sul-africana. Savimbi está no Leste e inicia, juntamente com duas mil pessoas, aquilo a que se veio a chamar a “Longa Marcha”. O líder da UNITA, Jonas Savimbi, viria a atingir o Cuelei, a 28 de Agosto, milhares de quilómetros percorridos, apenas com 79 resistentes.
Curiosamente, um erro táctico do próprio MPLA catapulta a UNITA, em 1976, para o palco internacional. O sucedido conta-se em poucas palavras: pouco depois da tomada do Huambo, o MPLA organiza no Sul de Angola, a “aldeias modelo” em que nada parece faltar mas, esquece-se das muitas aldeias em redor, de pobreza extrema. Perto de Vila Flôr a cerca de 40 km do Huambo, na noite de sete para oito de Setembro de 1976, Canhala foi cercada, atacada e saqueada pelo povo das aldeias miseráveis limítrofes, que não poupou a vida àqueles que pactuaram com o plano engendrado pelo governo de Luanda.
Não podendo admitir o erro, o MPLA atribuiu aos “fantoches da UNITA” a responsabilidade pelo massacre; quando, na verdade, a UNITA se encontrava desmantelando para Sudeste. Até final de 1976, embora desfalcada, a UNITA resiste a três operações dos cubanos e MPLA “Tigre” no Leste; “Kwenda” a Sueste; “Vakulukutu”, no Cunene. Neste ano, Savimbi envia para Marrocos 500 homens que, a coberto do apoio do Hassan II, recebem treino militar – em Março do ano seguinte, no 4º Congresso da UNITA, estes homens são nomeados comandantes do exército semi-regular da UNITA.
À coligação MPLA/cubanos juntam-se tropas congolesas com um total aproximado de 10 batalhões que passam a actuar no Centro/Sul de Angola, praticando a politica de terra queimada, na qual ficou a ser conhecida por “Ofensiva Ngouabi”, de Marien Ngouabi , presidente do Congo e que, em Setembro de 76, visitou oficialmente Angola. Entre as aldeias mártires da “Ofensiva Ngouabi”, contam-se Quissanquela, Capango, T´Chilonga, T´Chiuca e Mutiete. Nesta última, foi sumariamente executada toda a população masculina.
Acompanhando as notícias de Angola pelas notícias internacionais, passei quase seis anos na Venezuela trabalhando na Barragem Raúl Leone do Guri situada na grande área do Amazonas entre os anos de 1977 a 1982; uma gigantesca obra situada no Rio Caroni, um afluente do grande Orinoco. Tive a felicidade de ter como Presidente um senhor de alta postura, um verdadeiro estadista chamado de André Peres, antecessor ao Herrera Campins e ao ditador chamado de Hugo Chaves. Nesse então Venezuela era um paraíso, havia pleno emprego, paz e harmonia.
Naquele lapso de tempo, convivia com gente saída de Angola, topógrafos, grueiros e gente de todas as aptidões; uma obra que mantinha 18.000 trabalhadores de 82 nacionalidades. Em nossos encontros e farras falávamos da Angola distante e, ao som dos merengues e cantares de Paulo Flores ou Bonga e até Minguito batíamos o pé levantando pó no pé de serra. Primeiro, meu trabalho era o de projectar e implantar estradas por toda a Venezuela ao serviço de uma empresa italiana e mais tarde como chefe de departamento de topografia e projectos inerentes àquela grande barragem.
A guerra civil angolana eternizava-se. Agostinho Neto, o medíocre poeta e Presidente de Angola por um acaso, tendo consciência do problema social, tenta uma abertura política, como modo de se libertar do cada vez mas fechado domínio soviético que estrangulava a olhos vistos o MPLA. Neste âmbito, encomenda uma sondagem para um possível acordo de paz com a UNITA. Em 1977, a embaixada soviética em Luanda é dirigida por Arnold Kalinini. Conhecem-se as pressões que o embaixador exerceu sobre Agostinho Neto, no sentido de o levar a adoptar o marxismo-leninismo. O presidente Neto resiste. Num discurso desse mesmo ano, afirma que “o MPLA deve continuar a ser um partido aberto a todas as correntes nacionalistas angolanas”. Mas, acaba por aceder em Dezembro de 77, transformando o MPLA em PT, Partido do Trabalho, realmente de cariz marxista-leninista.
Notas*: Tinhas – Cognome de alguns retornados por sempre repetirem: “ Lá, eu tinha” – Se era verdade para muitos , a maioria, não o era para os faroleiros que diziam ter o que nunca tiveram…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
ANGOLA DA LIBERTAÇÃO - XV
- A INDEPENDÊNCIA DIVIDIDA… Crónica 3181 – 15.08.2021
-Na libertação e independência de uma terra que pensava também ser minha, mesmo não sendo “preto”… Afinal, não o era e, continuo “branco”… No meio do desespero, viria a confirmar-se o quanto era perigoso ter americanos como amigos…
P
Por T´Chingange, no AlGharb do M´Puto
Na Avenida Brasil, que dá para o musseque Marçal, havia ali perto uma sede da FNLA; até era considerada uma das sedes mais importantes mas a “porrada” também ali chegou com toda a cagança de militares nervosos. Na Vila Alice o Chico, amigo meu e do Zorba, punha-se deitado na varanda da casa para gravar o tiroteio, entre a F.N.L.A. da Avenida Brasil, no Marçal e o M.P.L.A. no António José de Almeida na Vila Alice. Parecia uma guerra de brincar mas, no tempo o cheiro do sangue, as carrinhas que passavam com mortos para a morgue ou sei lá, para onde fizeram nosso miolo ter medo. Era esse o propósito. Mandar os brancos para o M´Puto.
Em Luanda, os combates começavam do nada com trocas de tiros de armas ligeiras entre a sede do MPLA e a da FNLA. A casa do Zorba chegou a ter 46 buracos de bala na parede do quarto do sexto andar. Um dia ele espreitou - eles nem sequer levantavam a cabeça para ver onde atiravam; era mesmo só àtoa levantavam a arma acima do muro e despejavam o carregador. Quem é que com raciocínio podia ficar indiferente a isto. Rosa Coutinho, Melo Antunes e toda a pandilha tinham congeminado isto muito bem. O medo vai fazê-los sai! Terão dito os filhos da peste…
Entretanto, nas horas daqueles dias a vida não valia um vintém; tudo ficava ao sabor da sorte. Nestas aflições sem controlo visível, surge a figura de Gonçalves Ribeiro batendo-se pela criação de estruturas àquela que se veio a chamar de “ponte aérea” e, que só se resolveu em pleno quando mais de cinco mil pessoas se juntaram no Largo fronteiro ao Cinema Miramar da Luua pedindo a todas as embaixadas que mandassem transportes aéreos ou marítimos a tirar-nos daquele inferno.
Um dia, a FNLA montou antiaéreas no terraço do prédio, e virou-as para baixo, em direcção à sede do MPLA. Avisaram o pessoal do prédio que era melhor ir embora, não se responsabilizavam pelo que pudesse acontecer e, a coisa aconteceu! E, lá foram embora, para casa de familiares que moravam no Maculussu. Quando o MPLA descobriu donde estavam, a maka recrudesceu com monacaxitos e o escambau! Tudo que tinham de destruir foi usado sem mais nem porquê.
No dia seguinte, Zorba, quando lá voltou, o apartamento já tinha sido atingido por um roquete. Nos dias seguintes, o prédio iria ficar completamente destruído. A FNLA desde algum tempo, mesmo antes da assinatura formal do cessar-fogo com o Exército português, havia metido muita gente na capital, vinda de Kinshasa - Quadros políticos e tropa que falava em francês com sotaque de bumbo dos matos. Não falavam português, e pelo comportamento, eram já donos do pedaço, arrogantes, mais parecendo um exército de ocupação. A coisa não lhes saiu bem; isto já foi parcialmente contado lá atrás nas mokandas mas, não é demais relembrar.
Mês da Independência – Novembro de 1975, e da invasão zairense ao Enclave de Cabinda. O MPLA proclama a República Popular de Angola, no antigo Largo Diogo Cão, bem à entrada do Porto de Luanda. A FNLA e UNITA unem-se no projecto da edificação da República Democrática de Angola (RDA), com a capital na antiga Nova Lisboa (Huambo). Ainda hoje, nas chancelarias internacionais analisam aquela Angola dividida fazendo comparação entre as Coreias do Norte e do Sul.
Teremos de recordar aqui de forma sucinta o que foi a “Ponte LUALIX” que veio a suceder com a supervisão de Gonçalves Ribeiro, o pai da ponte. A CIA dizia nesse então que Lisboa não tinha um suporte adequado no terreno que lhe permitisse evacuar mais de trezentos mil brancos ainda no território, nem para manter os voos no ar. Era verdade! Mas também havia aqui pressões para em troca da ajuda, Costa Gomes retirasse o vermelho Vasco Gonçalves do governo. E, foi isso que veio a acontecer!
Aquele antigo internado na casa dos malucos, sector militar de Luanda andava esbracejando demais naquele M´puto desvairado de liberdade - Um Tigre de papel! Mas, em verdade, os americanos não dão nada de borla, teria de haver algo na cartola do tio Sam. Jogaram uma rolha e Costa Gomes agarrou-se àquela bóia, pois então, dava jeito! Os retornados, foram em verdade, a moeda de troca; com um só porrete mataram dois coelhos como se diz! Portugal inundado de retornados anticomunistas, vinha mesmo a calhar nesta hora (…ano de 1975). E, o mundo observando estas manobras com o abutre Carlucci a dar palpites ao estado português através de Mário Soares e outros desclassificados diplomatas de cordel que iam ficando agraudados de poder e dinheiro, pois!...
P -Bom! Na N´Gola, as FAP já nem dispunham de bases aéreas para nos escoar; falo na primeira pessoa porque estava lá! Os confrontos permanentes entre todos os movimentos impediam o funcionamento dos aeródromos como o de São salvador, Cazombo, Maquela, Togo, Gago Coutinho, Cuíto Cuanavale e N´Riquita; Henrique de carvalho, Malange, N´Dalatando e Carmona já só tinham estruturas reduzidas, quase sem uso por falta de segurança e equipamento de apoio.
A RDA de Savimbi, falha. No dia da tomada de posse, Holden Roberto e alguns de seus convidados, entre os quais jornalistas e um elemento da embaixada americana em Kinshasa, levantam voo de Carmona (Uíge), rumo a Huambo aonde chegam ao início da noite. A pista do aeroporto estava às escuras. O avião sobrevoa várias vezes a cidade, mas Jonas Savimbi não permite que este aterre, mesmo sabendo que o aparelho podia não ter combustível para o regresso, com a agravante de não poder abastecer em nenhum outro aeroporto, já nesse então em áreas controladas pelos governamentais.
Este relatório que Holden Roberto descreveu mais tarde, poderia ter custado a vida a dezenas de pessoas. Assim, Jonas Savimbi, viria a proclamar sozinho, a República Democrática de Angola. Comentaristas, viriam a chamar a esta como sendo a República Negra Democrática de Angola. Poucos dias depois, a UNITA envolve-se em confrontos com os militares da FNLA ali estacionados, acabando por expulsá-los da Cidade do Huambo.
P - A invasão de Cabinda contou com a participação de mercenários franceses ao lado da FLEC – Frente de Libertação do Enclave de Cabinda, hoje dividida em várias facções e, segundo se consta, subsidiados por algumas companhias petrolíferas que operavam no Enclave e, um batalhão do exército zairense, portador de artilharia pesada. Os invasores foram combatidos e escorraçados pelas FAPLA do MPLA e cubanos, quando aqueles, estavam prestes a tomar a Cidade de Cabinda.
Estamos em Dezembro de 1975. Cuba desencadeia a “Operação Carlota” que fez desembarcar em Angola sete mil militares deste país caribenho. O Senado norte-americano aprovou a “Emenda Clark”, que impede ajuda militar dos Estados Unidos da América à UNITA e FNLA. Viria mais uma vez a confirmar-se o quanto era perigoso ter os americanos como amigos; eles, sempre viriam seus interesses confirmando-se “americanos, são os amigos mais perigosos que se pode ter” – assim foi!
3 Ilustrações de Pombinho ( assinaladas com P)
(Continua…)
O Soba T´Chingange
MOKANDA DO ZECA - NO MEU ANTIGAMENTE DA VIDA – Tou magrinho, bué triste nos loando muxima iami... já não posso ir na jihenda da Malta do Cú Tapado - Crónica 3180 (do Kimbo) - 13.08.2021 – Sexta Feira ... Kwangiades: - Derivado das musas do kwanza
As escolas da kizomba Com Jose Santos AGO 2021
TONITO UUABA! Aiué k Mano ué! A Jihenda tua é brasa de fogareiro de mama..., e pousado no meu kintal do uuabuama lugar do Rio Seco da Maianga! Tuas FALAS mexe comigo e sacode o meu salalé...! Eu, ando nos desgosto Mptukp pessoa trato dos cautela sekulu uafo ué átoa...! Nos passado dos tempo já bwé passado dos feitiço Malamba..., Le perdi os meu jeito nas minha fala e tenho andado nas minha fugas pelas barrocas..., por causa do ximba do kissonde...!
Tou magrinho, bwé triste nos loando muxima iami..., os xipala tem dentro andorinha que faz ninho, os auditório tem tugi reco-reco que não descansa e o tugi é finório..., os meu mano cristalino bwé catrapisca caté parece os pala catrapisca dos antigo VW no beulando pela Mutamba no galar os kilumba dos destino Maximba 3 para os Choupal..., dos mwadié cafezeiros e dos biacos controladores, dos mambo..., de copos de Sbell e de pratinhos de alumínio com jinguba.
Tou proibido de comer atoa kifufutila por causa do coisa Colocolo... Só sopinha da horta do Miguel das Barbas feita na hora de "tasquinha" e peixinho; matona, cacusso, tainha..., e na chapa quente..., e, que nadam num encurralado de celha gigante de misturinha alimento que faz crescer atoa sem N´denge..., e, lellu, caro pra xuxu..., Tu vê só, agora os esperto dos merceeiro licenciado, que lellu pula-pula na berrida e também nos termo dos macroeconomia...
Quando nos Mu Ukulu num queria de saber katé bem dormia..., no colchão de espiga de milho, tinha chevrollet cheia dos atrozes e, agora t´xé tudo como manda a sapatilha...colchão Pikolin..., bruto jeep com tracção bwé decores e para passar por covas e subir picadas..., no lugar de pesca de truta, tordos arraçados e galinhas virgens de mato..., e, agora que acorda muito cedo por caso de aulas e bem nos distancia inventado pelo pula dos confinsna...
Então, catravês ele aprende os orçamento, os despesa os lucro os ponto de equilíbrio satisfação dos budget, que no analisar, se tudo cobre bem e dá pra ajudar os economia, mas tabuada dos nove muito falha os resultado, os regra dos três dos simples, os equação dos segundo grau que dá bwé comichão... Ah! Não tambulakanta, muito embirra com os leitura dos estatística...
Os percentage dos curva sobe e desce, que diz que parece a linha, que vem do Bungo para a cidade Alta do uuabuama da Luua mesmo e, saudoso kurikutela... A tua prosa, o teu missosso é escola, é cultura..., e já tão longa...A tua obediência, o teu prazer diário de divulgar e levar até nós é extraordinário..., e que lá de cima do algodão N´Zambi te abençoe... Katé meu k mano e te acautela do tugi...tu e a IBib...
Ximbicando n´dongu nos cânticos de bela kianda feita kapota, logologo no camenemene do Baleizão e, sob o olhar das palmeiras da Marginal, eu axiluanda como no tempo dos mafulos, dei com o sonho na praia de Loanda…! Aquele lugar que consolava o meu kituku de dilulu; minha kalunga. FUI!
:::GLOSSÁRIO: Atu/mutu - pessoas/a; Axiluanda - antigos pescadores de Loanda; Berridavam - fugiam; Dilulu - de sabor amargo; Kalunga - mar; Kapiango – roubo; Kianda - sereia; Kituku - mistério; Kúkia – sol nascente; N« dandu – parente; N´dongu - canoa; Ngana NZambi - Senhor, Deus; Malembelembe - muito devagar, com cautela; Mafulos - Holandeses; Mayanga - Maianga, um dos bairros antigos de Loanda; Trumunu - jogo de bola de trapos; Undenge ami um moamba - minha infância de moamba; Uuabuama - maravilhoso Kuatiça o ngoma! – Toquem os tambores; mafulos – holandeses; Ximbicar – remar com bordão; Kapota – galinha do mato; kurikutela – comboio vagaroso;k mano – mano do coração; Tambulakonta – toma atenção, cuidado; Um Ukulu – Do antigamente; Baleizão – gelado, picolé; Pikolin – Colchão de molas;matona – peixe da bahia da Luua; Luua – Diminutivo de Luanda; Colocolo – Corona Virus; kifufutila ou kafufutila – perdigotos ao comer e falar ao mesmo tempo; Sbell – Wisky da Catumbela, cachaça; tugi – merda; maxima – autocarro, bus, machimbombo; Choupal – Cabaré, can-can, Bataklan; Xipala, T´Xipala – foto; Jihenda – luta , labuta; seculo – mais velho, idoso; Mtukp – M´Puto k pariu, Portugal; mwadié – brango, goeta, xindere (perjorativo);uafo – morte, morreu; Malamba – palavra; átoa – de qualquer maneira; Kissonde – formiga grande; ximba – bicho; beulando – passeandoo abandono…
ZECA 20210808
MOKANDA DA LUUA – KAPIANGO - Luanda do Mu Ukulu… Era uma vez … O temp ruge.
Da Luanda actual - Crónica 3177 – 09.08.2021
- Kinguilas, as fugitivas da Independência - II de IV
Por T´Chingange no AlGharb do M´puto
Do BCI não é o urinol da esquina, que não funciona, nunca funcionou. Importado a peso de ouro do Brasil, a “casa de banho” faz parte de outras talvez centenas espalhadas pela cidade que nunca funcionaram. Ninguém conhece os contornos do negócio, apenas se sabe que nunca funcionaram, nem se conhece ninguém que tenha lá dentro urinado. O Rialto já não existe, só ficaram as saudades dos apetitosos pregos com jindungo e os finos tirados com a pressão exacta. Em seu lugar, recentemente, foi construído um alvo Monumento ao Soldado Desconhecido.
Os jovens não sabem o que isso seja, imaginam, segundo me disse um deles na rua, ser um soldado sem registo de nascimento. Ali ao lado estão os Correios, já centenários, mas de que ninguém parece tirar utilidade. Perguntámos a um jovem, vagabundeando por ali, o que são os correios. Ele olhou, tranquilo e respondeu muito sereno “não sei, pai”. Ninguém sabe nada, aqui nesta cidade. Também não precisam de saber. O tempo parou, sitiado entre a madrugada das 6 horas e o pôr-do-sol das 18 horas, vaivém, a cidade se povoa e despovoa, aqui se faz tudo, mas ninguém é daqui, as pessoas desabitam aqui, por isso não há tempo.
As kinguilas, fugitivas da Independência e da puliça, andam nos extremos da extensa avenida N´Zinga ou Ginga dominadas pelo banco estatal BPC, a agência Kaponte e a agência lá do fundo perto do Eixo Viário, ao lado da Unitel. Ninguém sabe o que é Kaponte, os jovens, desempregados, não sabem nada, não lhes diz respeito. Mas Kaponte pode ser uma pequena ponte, aquela ponte que liga à Praia do Bispo e onde se mataram, dizem, brancos desesperados com dívidas ou com desamores, naqueles tempos remotos antes do setentaecinco, tudo junto…
Lá dentro do BPC, para onde os mais velhos espreitam, diz-nos o jovem M´Bambi, nunca há sistema nos computadores, especialmente, reforça, depois das 14h - 14h30. Os funcionários querem ir para casa e não toleram mesmo, ser retardados por clientes sem dinheiro, mas com problemas complexos deles, de primos e tios que obrigam a consultas demoradas. Lá fora, um mundo mudo, ninguém fala, toda a gente parada sentando-se onde pode ou polindo esquinas…
É o mundo das kinguilas, as cambistas de rua, as verdadeiras bancárias do sistema, que também vendem recargas da Unitel, são dezenas largas de mamãs opulentas, vigilantes, carregadas de kwanzas e de divisas, inexistentes nos Bancos. Usam um balaio de mateba ou de plástico colorido; cada uma usa sua própria cor. A operação “Transparência” não lhes toca, parecem da família, tudo mancomunado com a grande máquina de lavar dinheiro; as purificadoras do sistema com adestramento no antigo “tira biquíni!” e mais suprimentos e até complementos do tal tão falado de “Roque Santeiro”. Um ar adstringente com cheiro a maboque derramado com mistura de tamarindo…
Só dão berrida nas pobres zungueiras que povoam a Baixa durante o dia, sempre com um olho aqui outro ali, já estrábicas, tipo ciganas na Europa, prontas a correr em defesa da mercadoria. São as fugitivas da esquindiva, da finfia com finta no aprendizado da Independência.
Mas é também o mundo dos pensionistas, centenas, ou milhares todos os dias desde manhã cedo, ainda quase escuro e ao som dos primeiros pio-pio dos agora raros pardais, seres ainda vivos se abeirando do óbito, tentando ver se a pensão já caiu…
O tempo clareou obscuridades trazendo o lixo na corrente da estória que os fez junto com os saídos de Angola involuntárias marionetes – a tal de dipanda do tundamunjila. Podia já ter esquecido todo este assunto, um tema deprimente para muita gente e descendentes matutos de mescla escura com mazombos e virgula no entretanto mas, eu mesmo prometi não esquecer este lado negro em terra que por via da descolonização se branqueou… O dólar tem de ser com o tal George de cabeça grande. O próprio George Washington…
Num aiué, todos os mitos em torno da “Nação de N´Gola”, as coisas mudam na percepção independente, tudo mudou mesmo muito nos anos da dipanda. Na Luua num repente também passou a ter também pretos de primeira e de segunda só que não querem que isto se saiba por ser assim muito tão cruelmente cruel. A preocupação com a etnogénese podia e pode ser muito bem motivada com a preocupação na degenerescência racial, da “eugenia positiva”, tem mwangolés de primeira e gente de chinelo do pé, tipo rafeiros mas isto, nunca passarão dum tal mito de que África dos trópicos de Capricórnio nunca vai querer analisar com profundidade …
(Continua…)
T´Chingange do kapiango na Diáspora dos AlGharb`s do M´Puto
ANGOLA DA LIBERTAÇÃO - XIV
- A INDEPENDÊNCIA DIVIDIDA… Crónica 3176 – 07.08.2021
-Na libertação e independência de uma terra que pensava também ser minha, mesmo não sendo “preto”… Afinal, não o era e, continuo “branco”… Nesta lengalenga de lembrarmos coisas mortas, cada homem é um mundo.
Por T´Chingange, no AlGharb do M´Puto
A coluna da FNLA consegue atingir Caxito, onde é dizimada com a entrada em acção dos “Órgãos de Staline” aos quais os angolanos passaram a chamar de “Mwana Caxito”- filhos de Caxito; exactamente por terem sido utilizados pela primeira vez, na capital do Bengo. Esta arma capaz de disparar simultaneamente vários morteiros, foi construída no tempo de Staline, permitindo aos russos resistirem contra os alemães na Segunda Grande Guerra Mundial. Nesse então ganhou o nome de “katiusha”- querida Katia, palavra de código utilizada entre os comandantes das frentes. Nos EUA, chamam-lhe “Tio Sam”.
Nesta lengalenga de lembrarmos coisas mortas, cada homem é um mundo. A 9 de Março de 1975, no M´Puto, Spínola foi informado por oficiais amigos da operação matança da páscoa, um plano do Partido Comunista Português e os militares mais radicais do COPCON e da 5ª Divisão, apoiados pela União Soviética, para realizar uma campanha de assassinatos políticos, onde Spínola e seus apoiantes constavam como alvos, como parte de um golpe de estado para tomar o país.
O herói do monóculo e pingalim e luvas de coiro preto chamado de Spínola, escapa-se de helicóptero para Talavera de La Reina, em Espanha levando com ele a valentia que num repente enferrujou na apatia medrosa, com mofo e atitudes encardidas de vergonha. Entregues ao acaso, na Luua, as Forças Militares dum exército que deveria ser de conjunto, ao invés de apagar o fogo como o deveria ser, ateavam ainda mais os incêndios. Lopo do Nascimento mentia com todos os dentes dando força ao tal exército popular do seu MPLA – “victória ou morte” – Aiué, Nossa Senhora da Muxima nos acuda!...
As FAPLA, atacaram e destruíram com blindados o quartel da FNLA em Kifangondo. Ninguém se insurgiu neste uso de blindados! Deveriam ser apreendidos pelas N.F. mas, ou as ordens se perderam no caminho ou lhes faltou coragem para actuar. Podemos acreditar em tudo porque nada foi feito! Era mais fácil desconhecer tal gravidade. Lobito, Benguela e Sá da bandeira eram agora as cidades refugia dos deslocados de guerra idos do Norte, Malange Luanda, Uíge e muitas outras localidades.
A etnia branca rotulada de colonos, já não acreditava nos nacionalistas; desesperavam por não ver a situação normalizar. Não dava para esperar! As escolas já não funcionavam, os dispensários médicos iam ficando sem gente capacitada, as instituições iam ficando desertas de gente com poder de decidir. O “lar do Namibe” uma cooperativa de construção comunicou-me que já tinha direito à tal casa mas, esta carta por ali ficou em cima duma estante a desaguardar num tempo que se esfumou.
Em Outubro de 1975, no dia 23, militares sul-africanos praticam a primeira invasão de Angola, dominando uma faixa ao longo da fronteira com a Namíbia, de modo a travar os movimentos das tropas da SWAPO, então apiadas por Luanda. A Organização de Unidade Africana tenta desesperadamente a reconciliação, enviando a Luanda uma missão que propõe um governo de unidade nacional. Tinha todos os condimentos para o fracasso e assim foi porque o MPLA já tinha as linhas de seu programa estabelecidas. Os generais de aviários progressistas portugueses já tinham delineado o trajecto por forma a levar o MPLA à posição cimeira na governação do território.
Face à situação, quatro presidentes africanos reúnem-se numa mini-cimeira em Dar-Es-Salaam, capital da Tanzânia, país surgido da fusão das antigas Tanganica e Zanzibar. Nenhum acordo é conseguido. Julius Nyerere da Tanzânia e Samora Machel de Moçambique, defendiam o domínio do MPLA de Neto sobre Angola. Kaunda da Zâmbia e Sir Seretse Khama do Botswana, eram partidários de um governo de unidade nacional que incluísse representantes da FNLA e UNITA. Era chover no molhado…
O PCP da metrópole da colónia, "tentou a sua sorte para poder desempenhar um papel determinante na evolução do país. "A verdade é que a descolonização de Angola estava a ser executada. "Mas, uma facção dos comunistas, pressionados pela URSS, queria controlar o processo". Em Angola, as N.T. já nem saíam dos quarteis! Tinham sim um enorme desejo de serem rendidos e regressar à Metrópole do M´Puto. Nem pareceria ser relevante acudir a casos graves em defesa de gente Lusa. As teses do PCP vingavam em Portugal e Angola. Os novos mandantes a reboque deste PCP mudariam funcionários, quadros e militantes com acções reais no terreno. Preparava-se mais uma cimeira no Quénia mas ninguém acreditava nisto; Nem os próprios intervenientes!
Nas três primeiras semanas de Junho a FNLA e MPLA tinham aprisionado mais de duzentas pessoas, a maioria brancos, nalguns casos com seus familiares. Os edifícios públicos eram simplesmente ocupados pelos Movimentos; coisa sem lei nem roque! A cintura à volta de Luanda erguida pelo MPLA era uma realidade! E, tinha gente treinada na Metrópole propositadamente preparada para fazer parte deste MPLA; militares pagos pelo M´Puto e inteiramente destacados naquele Movimento como se dele fossem, com fardamento próprio do MPLA. Ainda ninguém trouxe isto às claras porque o sigilo estava por demais resguardado e, só alguns oficiais o sabiam.
O selo mentiroso do M´Puto
Nakuru era folha morta! “Numa situação de guerra em Angola, como e a quem se ia entregar a sua governação?”. – Era o próprio Silva Cardoso, Alto-Comissário, que se interrogava falando baixinho para que os demais ouvissem. Neto reclamava a saída deste! Ele queria que assim fosse e, isto era o bastante! A maioria dos oficiais portugueses andava a assobiar ao vento! Triste ironia desta nítida má-fé e, de quem ainda anda por aí recebendo benesses e até medalhas de bom comportamento.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
ANGOLA DA LIBERTAÇÃO - XIII
- A INDEPENDÊNCIA DIVIDIDA… Crónica 3174 – 05.08.2021
-Na libertação e independência de uma terra que pensava também ser minha, mesmo não sendo “preto”… Afinal, não o era e, continuo “branco”… “A guerra, que matou e estropiou tantos, alimentou um punhado de pessoas, que se tornaram insultuosamente ricas e prepotentes”
Por T´Chingange, no AlGharb do M´Puto
Em Abril de 1975 Jomo Keniata organiza a Cimeira de Nakuru no Quénia, na qual a UNITA, MPLA e FNLA acordam na formação de um exército nacional único. Neste mesmo mês Savimbi chega a Luanda. Cerca de dois meses depois, o MPLA destrói um quartel da UNITA na capital., chacinando militares e civis ali bivacados – este episódio ficou conhecido por “MASSACRE DO PICA-PAU”, nome do bairro que albergou o quartel. Definitivamente o MPLA, pelas ordens de Rosa Coutinho, o cunhado de Agostinho Neto, não queria nenhum dos outros Movimentos intervenientes no “ACORDO DE ALVOR” em Luanda. Eu direi que este foi o mais escandaloso “DESACORDO” na estória recente que envolve países dos PALOPS.
Em Julho de 1975, começa a batalha pelo controlo de Luanda. MPLA e FNLA envolvem-se em violentos confrontos que originam a expulsão dos homens de Holden Roberto da capital, muitos deles zairenses com fardas do ELNA. O MPLA com ajuda das “NT - Nossas tropas - Tugas”, em logística e armas, utiliza todos os meios para combater a FNLA, incluindo a calúnia e mentiras absurdamente irreais como chamar antropófagos aos militares deste movimento. Vísceras supostamente retiradas das casas dos dirigentes da FNLA foram exibidas…
Coisa mais macabra, até parece mentira e, decerto não virá nos anais da estória contada por medíocres historiadores da praça Lusa. Assaltaram o Laboratório do Instituto de Medicina Legal de Luanda para retirar órgãos humanos e propagandearem a seguir em muitos posters, que a FNLA era um bando de antropófagos, que comiam fígados e corações de gente – Uns canibais, afirmavam eles! A médica responsável pelo Laboratório deu à língua e, misteriosamente desapareceu. Algum tempo depois foi encontrado um cadáver feminino calcinado pela cal, possivelmente o seu. Tudo valia para lançar o terror e, principalmente à população branca… Naqueles tempos da Luua, todos faziam o que lhe dava na gana com a “Kalash” na mão, saltando no tempo do tempo…
Sem definir datas ou horas exactas com gente impreparada e, miúdos “pioneiros” faziam querer tomar o controlo de tudo e, por modos de provocar a fuga de brancos e assimilados, mazombos como eu… A lei, a ordem, a justiça eram coisas quase inexistentes ou anedóticas pela pior das negativas… Um retrocesso ao tribalismo com todas as nuances, tudo muito carregado de misticismo e crenças de quimbandas ou sobas analfabetos e sem o mínimo de preparação para gerir o que quer que fosse.
Melo Antunes, Mário Soares e outros encarnados na vermelhidão, decerto lá nos areópagos internacionais, não dissertavam conversas destas com Kissinger porque para estes, tanto se lhe dava que fosse assim ou assado, logo que tivessem o controlo do ouro negro – o petróleo já a sair pelo tubo ladrão da Golf Oil Americana. Alguns de nós, manietados de todo, a tudo assistíamos martelando caixotes, rilhando o dente sem mais poder fazer, pois nossos magalas do M´Puto ajudavam as hordas de pseudo-revolucionários e, até ajudavam a pilhar nossas casas. Foram vistos e filmados nas avenidas Brasil e Combatentes a roubarem em dia claro…
Já não havia médicos em Luanda, eram escassos ou desactivados. Os géneros de primeira necessidade faltavam. Os assaltos a armazéns eram constantes e as cadeias de abastecimento não funcionavam – Era a candonga a funcionar. As filas nas padarias eram formadas a partir da uma da manha com sapatos, tijolos e marcas indicadoras de tal e tal pessoa. Um troca-me isto por aquilo e as bolachas num repentemente desapareceram, tal como a farinha e compotas – permutas de tudo o imaginário, uns roubados outros esticados daqui e dali formando um esquema nunca pensado. O bivalve chamado de mabanga, só usado para isca de pesca, passou a ser comido com arroz; a fome era negra… Num repente rebentava aqui e ali no meio dos bairros citadinos granadas de morteiro. Via-se o levantar de pó, terra e trastes, sei lá mais o quê!?
Um aiué; salve-nos Nossa Senhora da Muxima que os homens andam loucos, embalando corotos, fazendo caixotes, fazendo de carregadores, fazendo a estiva no porto de luanda e candongando coisas e pedras chamadas de feijão branco como salvaguarda, um aí Jesus que isto, como vai ser e, davam voltas em si mesmo ate tontear, para esmoer a fúria. As “NT -Nossas tropas” tinham ordens para ajudar na desordem! A raiva subia-nos em vapores com cheiros inexplicáveis…Era o medo, tal como tinha sido previsto pelo pai do terror chamado de Rosa Coutinho…
E, quanto aos novos supostos dirigentes tinhamos muitos receios. Dos três líderes nacionalistas, era Savimbi o mais inteligente, o mais hábil e o mais forte politicamente para uns; também para mim – também o mais conotado com os militares portugueses no antes da Abrilada. O Agostinho Neto, cunhado do Rosa Coutinho era um desclassificado poeta, umas merdas escolhido para ser o chefe da nação. Os políticos da nova vaga vermelhusca do PREC não se cansavam de repetir isto e aquilo sobre Jonas Savimbi e sua colaboração com os militares antes do “vinticinco” de 74.
Para o MPLA, era incontestavelmente seu líder Agostinho Neto, um medíocre poeta com formação universitária em Coimbra – O homem escolhido pelos generais e afins do MFA (Dizem agora, ter sido o menos mau!). Quanto a Holdem Roberto não tinha solida formação política, era um fraco e facilmente corrompido; dependia de Mobutu e dos americanos de uma forma sorrateira mas sobejamente conhecida e, rastejante! Nos muitos dias insólitos daqueles tempos, na meditação actual, encontro factos mágicos na revisão de amigos que me fazem medir o tempo com quartilhos e rasas como se feijões o fossem. A UNITA também se retira de Luanda para o Huambo, antiga Nova lisboa. O MPLA fica dono e senhor da capital, a Luua.
Em Outubro de 1975, desembarcam supostamente os primeiros cubanos que passam apoiar o MPLA contra a FNLA tal como o combinado entre Fidel de Castro e Otelo Saraiva de Carvalho, o pseudo-herói do VINTICINCO de Abril, conhecido como a rebelião dos capitães. Diz-se que já havia em Angola e Congo Brazaville cubanos em treinamento para ultimar sua entrada em Angola antes do 11 de Novembro. Esta força foi em ajuda ao MPLA contra a FNLA; esta força que avançava para tomar Luanda, uma coluna na qual se incluíam mercenários de várias nacionalidades, portuguesas incluídas tal como Santos e Castro um oficial superior; também havia um elevado número de zairenses - sete ingleses, dois americanos, um cipriota, um escocês e um sul-africano são feitos prisioneiros e num julgamento sumário, mais tarde, foram fuzilados…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
ANGOLA – DA LIBERTAÇÃO À INDEPENDÊNCIA – XII
INDEPÊNDÊNCIA DIVIDIDA Crónica 3172- 31.07.2021 - Na libertação e independência de uma terra que pensava também ser minha, mesmo não sendo “preto”… Afinal, não o era e, continuo “branco”…
Por T´Chingange, no AlGharb do M´Puto
A “Ponte LuuaLix” tem a participação de varias companhias de aviação tais como a soviética Aeroflot que se dispuseram a retirar um grande número de gente que até ali, só atrapalhava as directivas do MPLA. A criação do Quadro Geral de Adidos na Metrópole - Lisboa, veio acelerar o processo de escoar este elevado número de gente que detinha o controlo da Administração; tudo pensado para provocar a debandada. Era forçoso retirar os brancos pois seus lugares de direcção, teriam de ser ocupados pelos novos senhores. “Branco vai para a tua terra” era o que mais se podia ouvir, nas ruas, nas escolas e aonde quer que o fosse e se estivesse…
Enquanto o controlo de Luanda se fazia ouvir pelo crepitar das armas, “desperdiçando” milhares de balas tracejantes para o ar, com o intuito claro de amedrontar a população acossada por comunicados das rádios ao serviço do MPLA, em Nova Iorque, o ex-agente da CIA Philipe Agee e o jornalista Steve Weisman, denunciam que a “Central” destinara 32 milhões de dólares “para apoiar o anticomunismo em Angola”. Os primeiros cubanos desembarcam no “país”. Uma coluna da FNLA, com mercenários e seus guerrilheiros, é derrotada às portas de Luanda.
Sul-africanos praticam a primeira invasão da Província do Cunene. A UNITA inicia a fuga para Sudeste. A República do Zaire invade o Enclave de Cabinda. O futuro estava terrivelmente comprometido. A 11 de Novembro festejam-se as duas independências no país que Portugal colonizou por quatro séculos, mas de onde nunca retirou o grosso da fatia das suas riquezas. O MPLA proclamou a República Popular de Angola em Luanda e, a UNITA e FNLA uniram-se no projecto da República Democrática de Angola, que veio a falhar. Antes de se falar da Batalha de Luanda, vai aqui recordar-se de forma breve a estória a partir de 18 de Junho do ano de 1974.
Nessa data, Silvino Silvério Marques é nomeado governador de Angola. Cerca de um mês depois, é substituído por Roa Coutinho, como Alto-Comissário. O “almirante vermelho” foi exonerado em Janeiro de 1975, sob pressão da UNITA e da FNLA, que o acusavam de beneficiar o MPLA. Neste meio tempo Rosa Coutinho traçou toda a trajectória para o MPLA alcançar a victória; foi ele o mestre das políticas que se seguiriam fornecendo àquele movimento todo o tipo de armas armazenadas nos paióis, mais logística e facilidades consideradas de “traição à pátria mãe” e aos outros dois movimentos que faziam parte do famigerado “Acordo de Alvor”.
A 27 de Julho de 1974, em Lisboa, Spínola reconheceu “o direito à independência dos territórios africanos”. Entretanto Joaquim Pinto de Andrade, fundador e presidente de honra do MPLA, adere à “Revolta Activa”. O Congresso, que visava a união das três facções do MPLA, fracassa. A caminhar muito rápido para a Batalha de Luanda, em Janeiro de 1975, dão-se três acontecimentos, a saber: Cimeira de Mombaça, Quénia, onde o MPLA, FNLA e UNITA acordam no reconhecimento mútuo; Acordos de Alvor que fixam a datam da independência para 11 de Novembro do mesmo ano; tomada de posse do Governo de Transição quadripartidário.
Em Fevereiro de 1975, a facção Agostinho Neto, dissidente do MPLA, expulsa de Luanda os membros da “Revolta do Leste”. Daniel Chipenda, seu presidente, vê-se forçado a aderir à FNLA. Pela primeira vez, entra em acção apoiando Neto, o “Pode Popular” uma criação do sempre presente Rosa Coutinho que, mais tarde é constituído na ODP – Organização de Defesa Popular, uma cópia politizada à esquerda, constituída por civis, OPV – Organização Provincial de Voluntários, de civis enquadrados por oficiais do Exército e que, na prática, funcionava nos territórios ultramarinos como uma milícia de defesa. Esta criação engloba os “pioneiros” enquadrados por guedelhudos do M´Puto que lhes dão treinos com armas de madeira a fingir metralhadoras.
Em Kampala, o presidente da OUA, idi Amim, insistia para que a data da independência fosse mantida sendo Portugal a responsabilizar os nacionalistas por um não acordo. O Secretário-geral da UNITA presente à conferência acusou as FAP de não se oporem à entrada de armamento e mercenários a ajudarem o MPLA no Lobito, Sá da Bandeira e Pereira D´Eça. Em Pereira D´Eça o comandante português entregou o aquartelamento a elementos do MPLA tendo-os vestido com camuflados do exército português, uma clara desobediência e afronta por ser esta região afecta à UNITA.
Este procedimento foi de uma nítida e grosseira degradação moral para as autoridades portuguesas. Manuel Resende Ferreira disse neste então: -Ainda havia esperança e soldados que não nos abandonavam. Referia-se ao Tenente Fernando Paulo e alguns dos seus homens que resolveram desobedecer ao comando para protegerem um grupo de refugiados no Chitado. Para o efeito criaram ali uma zona de segurança. São estes os heróis esquecidos, soldados de Portugal que abandonam o exército comunista Português para protegerem cidadãos e, lutar contra a anarquia comunista. E, que foi feito do Tenente Fernando Paulo?
As feras foram largadas das jaulas com a lei 7 barra 74 do MFA. A Luua eclipsava-se! Tarde piaste! E, agora vamos fazer o quê para o M´Puto? As NT - Nossas Tropas já não eram nossas. Davam cunhetes, canhões e até carros de combate numa perfeita cooperação de entreajuda FAP- FAPLA mandando prólixo os acordos de Alvor, da Penina… O MPLA tendo como mentor Rosa Coutinho, na Luua inventava a maka! Inventava os pioneiros! Depois o Poder Popular! E surgiu o Kaporroto, o kuduro e a victória é certa. Eles já tinham inventado o monstro Imortal, o Valodia e o Monacaxito…
As makas organizadas com o objectivo de criar o caos, originar pancadaria e depois a vitimização já tinham características de sofisticada mentira; meter tudo no barulho, pressionar psicologicamente e criar condições de favorecimento por parte dos militares do MFA, as NT, o CCPA – Comissão de Coordenação do Programa do MFA e o Alto-Comissário…Já se fazia tudo às claras. Em um encontro de Melo Antunes com Henry Kissinger, aquele responsável português e a pedido do Secretário Americano disse que era difícil de lidar com Neto; que era difícil de o classificar politicamente como um comunista ortodoxo! À coisa dada (Angola) teve a desfaçatez de dizer que a liberdade, não se recebe, arranca-se! Com estes laivos de poeta, Neto, dava dicas torpes de mau agradecimento aos militares revolucionários do M´Puto. Bem feito, cambada! Alguns não gostaram…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
MOKANDA DA LUUA – Luanda do Mu Ukulu, era uma vez . I de IV
A realidade da Luanda actual. Crónica 3171 – 30 de Julho de 2021
AS ESCOLHAS DO KIMBO
Publicado a 5 de Outubro de 2019… Fonte Jornal de Angola
Ao domingo, entre o largo do Baleizão e a Lello, a avenida Rainha N´jinga, antiga avenida dos Restauradores, transforma-se numa pista. Apesar da sua proximidade com a principal esquadra da Polícia Nacional, a larga via não é patrulhada nem possui qualquer sinalética horizontal, num vasto percurso, nem passadeiras para peões. Quando cai a noite, um grande troço mergulha na escuridão por ausência de iluminação pública, mas ao lado do degradado e agora entaipado Baleizão a iluminação funciona sempre em quatro postes, dia e noite. No lado oposto, há troços sem iluminação, que só surge lá no fundo, nas imediações da empresa francesa Total. Não é raro ver-se, aos domingos, carros e motorizadas a alta velocidade e jovens a patinar nas faixas, tudo num zigue-zague despido de temor no meio de centenas ou milhares de jovens que vão ou vêm da Ilha a pé e passam rapidamente pela “cidade” ao encontro dos seus bairros.
É a rua que liga a Fortaleza de S. Miguel, hoje Museu Militar, e anfitriã do centro comercial Fortaleza, ao centro da cidade. A encosta da fortaleza já foi poiso de macacos nos tempos idos do colonialismo e a rua que a circunda lugar de namoro romântico. O centro de Luanda onde imperam os altaneiros e novéis prédios da Sonangol, em vias de ser privatizada, a antiga livraria Lello, hoje fantasmagórica, o largo da Portugália, onde os portugueses faziam câmbio paralelo, com as suas duas árvores-avós, o prédio da Biker - ainda com alguns serviços, como a Foto N´gufo, e com um “restaurante típico", fechado com chapas e onde ratos e insectos convivem com o povo real que aí almoça por mil kwanzas, num ambiente “apocalíptico” -, que já albergou mesas de snooker e ambiente de tertúlia de jornalistas, outros tempos, pré-históricos, de que não restam escritos. Ali ao lado destruíram o largo e edificaram dois blocos de vidro com dezenas de andares, onde trabalha uma classe burocrática nacional-expatriada.
Mas a grande avenida não se detém, na esquina onde era a Sonylândia e hoje é um banco, estreita-se, a Moviflor portuguesa substituiu o luxuoso Quintas & Irmão, cujo dono permaneceu na Independência, mas viu a sua casa ocupada ilegalmente, e o fundo da rua desemboca no Eixo-Viário, uma obra feita pelo colonialismo português, que liga o Kinaxixi à Marginal e ao Miramar, hoje quase toda castanha e sem verdura, com iluminação aqui e ali. As árvores começaram a ser arrancadas em 1975, quando começou a faltar o carvão para cozinhar, e o Largo do Ambiente é frio, nada acolhedor, quase escuro e sem presença humana. Eixo-Viário do antigo Benfica de Luanda do Victorino Cunha, onde os portugueses plantaram verdura nas barrocas e a Independência construiu arranha-céus da Sonangol e de outras empresas estatais majestáticas.
Os abandonados e degradados edifícios coloniais, com janelas com persianas, são na maioria “fantasmas” mudos e quietos, desafiando o futuro da capital. Um mundo novo. Os colonos foram embora e o Estado tomou conta das suas propriedades, expropriou e começou a vender a si próprio ao desbarato. Os elevadores foram destruídos e transformados em contentores de lixo, os corrimãos das escadas desapareceram, divisões e mais divisões foram construídas sem qualquer plano ou segurança para albergar familiares vindos dos bairros e do mundo rural, nada oferecido, tudo pago. Os quintais foram apropriados por quem chegou primeiro e transformados em autênticas “pensões residenciais” surreais, com divisões precárias e sujas alugadas a bom preço, 40-50 mil kwanzas mensais, porque estão na cidade e Luanda é a cidade mais cara do mundo.
Os quintais, ou melhor, os cubículos mukifos, também são alugados ao dia às zungueiras para guardarem as mercadorias que não conseguem carregar para os seus casebres nos bairros. Mas não só, os quintais são pontos de grande tráfego comercial, sobretudo, de bebidas alcoólicas, quem os detém há mais tempo usufrui de tudo o que pode acrescentar dinheiro sem muito trabalho. Os terraços não existem. Em seu lugar surgiu uma miríade de cubículos, muitos de chapa, sem água e quase sempre com luz puxada de gatos e paga mensalmente a alguém, alugados por quem chegou primeiro ao prédio e se diz “dono”. O luandense é manso. Quando lhe falam “o dono”, se cala, se ajoelha, submisso, e paga, mesmo que o dinheiro não seja o seu, e depois diz em voz baixa “está mal”.
Sem árvores… Só se encontram árvores com troncos muito grossos, sinal de longa vida, árvores coloniais, no Largo do Atlético, hoje largo sem nome definido, mas que 44 anos após a proclamação da Independência continua a celebrar a batalha de Ambuíla, que ditou a perda da soberania do Reino do Congo e a decapitação do rei, cuja cabeça foi transportada para a ermida da Nazaré, na Marginal, que este ano comemora 355 anos. Um largo agora fechado e em obras sem prazo. As vendedoras dizem-me que passou para a propriedade do banco BCI, "se apropriaram", diz-me um jovem que todos os dias me pede dinheiro para comer.
(Continua…)
O Soba T´Chingange (o relator)
ANGOLA DA LIBERTAÇÃO - XI
- A INDEPENDÊNCIA DIVIDIDA… Crónica 3169 - 22.07.2021
-Na libertação e independência de uma terra que pensava também ser minha, mesmo não sendo “preto”… Afinal, não o era e, continuo “branco”…
Por T´Chingange, no AlGharb do M´Puto
Com botas de michelin ponta de ferro, calções de ganga, camisola de flanela e chapéu quico com os big-five, curto o calor do dia enquanto o sol se põe a pique com uns agradáveis vinte e dois graus no zénite. Ao cair da noite os chacais miam não muito longe e até posso ver seus olhos amarelos quando dirijo o farolim da varanda em sua direcção. As noites têm sido escuras, o céu fica todo a descoberto e posso ver com perfeição as estrelas do cruzeiro do Sul.
No M´Puto os ratos saiam das tocas! As divergências na CCPA - Comissão Coordenadora do Programa em Angola, atingiram seu clímax! A linha progressista partia nozes com o nariz! Entretanto, Otelo Saraiva de Carvalho chegava ao seu gabinete COPCOM com a prometida ajuda de Havana ao MPLA. Este militar, visto como o novo Ché Guevara, encontrava-se em Cuba desde o dia 21 de Julho para assistir no dia 26 à celebração do ataque ao quartel de Moncada. Isto era o que se fazia constar para não se depararem com embaraços diplomáticos em relações internacionais. Mas, afinal como é que Costa Gomes, o presidente de todos os portugueses alinhava nisto!? Lá iremos…
No M´Puto o ordenado mínimo nacional era de 3.300 escudos. Apesar disso os cinemas enchiam-se para ver dois filmes até então censurados: “Bob e Carol” e “A grande farra” Nestes dias em Angola era a aflição, fazendo caixas e caixotes a prever a debandada pelo “ forçado abandono”. Vejam bem esta grande preocupação de nossos “manos metropolitanos” que no M´Puto viam filmes incentivadores de ”Swing” - uma suposta terapia de grupo de todos na cama curtindo o sexo em conjunto – um novo tipo de relacionamento com os quatro, fazendo uma orgia para combater a velha moral. Uma coisa de levar as mãos à cabeça num “balha-me Deus”…
No M´Puto andava-se muito a pé pois que a gasolina estava racionada, devido ao embargo de petróleo pelos países árabes e, em retaliação ao apoio de Portugal aos Estados Unidos, aliados de Israel na guerra do Yom Kippur. Os jornais esgotavam-se rapidamente e, nos cafés e esplanadas falava-se do derrube iminente do regime, comentava-se o livro do general Spinola “Portugal e o Futuro”. Lançado a 22 de Fevereiro de 1974, também esgotou rapidamente. Existiam siglas políticas para todos os gostos: MIRN, LUAR, MRPP, MDP-CDE, e edecéteras. Fizeram-se saneamentos nas empresas. Foram os anos das fugas para o Brasil e de vendas ao desbarato das vivendas do Estoril e Restelo.
Silva Cardoso o Alto-Comissário depois do Acordo de Alvor, era constantemente atacado pelo MPLA em comunicados via rádio e panfletos por não ser suficientemente revolucionário. Afirmavam que já não servia à revolução Angolana. Em dado momento, Silva Cardoso perante a constante insistência do MPLA de que teria de ser substituído, sugeriu à Direcção do mesmo movimento que classificassem o seu sentido de revolução ao referirem claramente que os brancos não eram queridos em Angola; isto para que assim, Lisboa evacuasse essa etnia alvo de “um ataque sistemático” por eles. Era só um jogo de palavras para fazer actuar o CR do MFA de Lisboa…
Havia apropriação abusiva de veículos e instalações pertencentes ao Estado; já havia dificuldade em distinguir se aquele organismo antes estatal o era efectivamente, ou não. Em Malange quase toda a população civil se refugiara no quartel das NF e, em N´Dalatando verificou-se o total abandono de todas as lojas e residências que foram alvo de pilhagem pela população africana apoiada por elementos das FAPLA, forças armadas do MPLA.
Agostinho Neto, escudado pelo apoio militar de Brejnev, do marechal Tito e de Fidel de castro, já não necessitava de ser afável com grande parte dos militares portugueses; alguns, poucos deram-se conta mas, já era tarde para fazer marcha-à-ré. O MPLA iria liquidar os outros dois Movimentos fazendo tábua rasa da presença portuguesa e dos acordos que tinha estabelecido com todos. Neto era um salafrário e já era demasiado tarde para recuar o processo. Entretanto, na confusão de Angola e pelas suas estradas os angolanos fugiam levando apenas malas com roupa, fugindo das fazendas para as cidades.
Famílias portuguesas, brancos de condição, alguns com três gerações de filhos africanos, como formigas kissonde tresmalhavam-se à procura de uma solução; uns iam para sul, outros para este e até para o Norte até que a PONTE- AÉREA começou a pairar como sendo a solução mais válida. Diversas companhias de aviação tais como a soviética Aeroflot, dispuseram-se a retirar este grande número de gente que, até então laborava em normalidade. Também ouve aqui, em Angola, saneamentos, ocupações selvagens, marchas silenciosas e “manif´s” de júbilo para milhares de negros a receberem Agostinho Neto e Jonas Savimbi.
Municípios foram ocupados formando comissões administrativas desastrosas, Liceus a serem ocupados por jovens guedelhudos brancos e negros de carapinhas ornadas com tranças, copiando Ângela Davis que personificava o movimento “black power”. A euforia transformou-se em crescente preocupação, com discursos agressivos dos supostos “pais da independência” e luto ditado pelo crepitar das armas na batalha pelo controlo de Luanda. Costa Gomes, conhecido popularmente por “o rolha”, aceitou a demissão de Silva Cardoso nomeando interinamente Alto-Comissário Ferreira de Macedo, o homem que Rosa Coutinho e a CCPA queriam para este cargo.
Este General e mais outro chamado de Carlos Fabião e um outro major de nome Canto e Castro iriam a Luanda estudar a situação. Nesta altura, as notícias eram desconexas e o tempo comia as palavras de ordem ventilando-as em desordens. Ninguém entendia o que se passava e quando sabia já aquilo que parecia ser, tinha alterado para coisa-outra. Não havia como gerir este estado de coisas pois o descomando era verificado naquele agora. Tudo se configurava para a fuga e neste entretém de ordens e alterações a estas, começa a configurar-se a “Ponte LuaLix”. Diversas companhias de aviação tais como a soviética Aeroflot dispuseram-se a retirar este grande número de gente que até ali só atrapalhava as directivas do MPLA. “Branco, vai para a tua terra” era o que mais se podia ouvir…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
N'ZAMBI ... TEMA EM EXECUÇÃO, PORQUE AINDA ESTOU EM CONSTRUÇÃO...
FALAR POR FALAR - Crónica 3168 - 20.07.2021
Por: T'Chingange - no AlGharb do M'Puto
N'ZAMBI tem o mesmo nome de Deus mas só pode ser nomeado por quem o conhece e sabe amar na plenitude. A mim sempre me foi interdito, um apócrifo por parte de mãe, pai, terra, mar e até ar. E, porque simplesmente já nasceu assim e depois, no estudo do pai-nosso, encafifado na sacristia, os quadros ali pendurados, acho que até metiam medo ao menino Jesus Messias. Suponho por isso, bem ser um ET, pois li e ouvi relatos desconsiderados por apócrifos...
O espaço, Kalunga, as árvores que falam com assobios de vento; falas de velho cego contando viagens, olhando o pequeno cesto de adivinhação, apalpando o tempo com suspirosas lamúrias. Vou vos dizer: Minhas falas têm um passado fermentado nos dias de futuro, de por-viver, porque nasci num tempo que ainda não o era. Isto parece loucura mas, meu tio do lado de mãe que era Nosso Senhor por alcunha, destinou-me às viagens só sonhadas por ele porque nunca, que eu saiba, saiu de sua terra feita kimbo de barro chapado nos ripados. Taipa de atados com lianas de chinguiços do mato, matebas...
Andei, com meus próprios pés no mundo inteiro, pelos pequenos caminhos que se rasgaram para mim; na guerra eram fiotes, carreiros ou pistas. Com a onça aprendi a colocar no chão um pé diante de um outro, com passos de sumaúma, sem barulho e sempre na fila do pirilau. Desconsegui voar, mas mantive sonhos de penas e uma boca em forma de bico, para colher da madrugada as gotas cacimbadas da noite, e mel silvestre, único alimento de muitos dias de peregrinação só mesmo de imaginação porque as abelhas ferram, não sei se o sabem...
Morri na Curva e renasci várias vezes, deixando o corpo fermentar nesta fala da vida que agora uso, por vezes sem vírgula e às vezes tudojunto. Com esta fala e as mãos percebi-me um T'Chingange sem cajado de nobreza, assim mesmo de feitiço, nem menino, nem mabeco, noutra fala de kandengue: exerci todo o poder da terra e agora o que me sobra é a impossibilidade da morte, garantida por uma mutopa cheia e fumegante, mais uma taça de sangue das minhas próprias verrugas feitas uvas.
O T'Xipilika avisou:- Este menino não é gente... Mas meu coração é, ainda! Uma vez, quando uma seta turra encontrou ninho no meu peito, provei o coração para não morrer. Sabia a nada feito pedra, dura como ela, como a dos túmulos seca e enervada com a terra do Panguila, do Bengo e Icolo mais outros Kifangondo e Fundas, tudo água de cu-lavado, preparado mulato dos morros de Catete e mais a montante do rio, também chamado de Zenza, com nascente no Planalto do Uíge, passando por Quiculungo e Samba Caju…
Minha mãe Arminda Loureiro, preparou-me mal para mudar o curso das coisas, criando-me com o leite das nossas cabras, chamadas de chibitas e deixando-me à solta quando já era no tempo de mokandar, bebia nas directas tetas das cabritinhas pois, do produtor directo ao consumidor... No respectivamente, recebi o mukuali sagrado, com o qual me perdi na submissão aos velhos e à tradição. Com dendém e barro vermelho segurei a vida por entre os dedos, gritei todos os gritos e, entreguei minha singularidade ao espírito mais branco e assim foi, vim coradamente esbranquiçado, um mwadié, mulungu e t'chindere num país futuramente alheio de mentiroso... Tudo mesmo de só fingir.
Branco mesmo de mwene-putu de um país longínquo, de tanto que nem se via, nem sentia! Ué! Tio Kaluviaviri me disse que esse espírito era o DIABO feito gente de assustar minino... Construí e desconstrui depois e antes da minha vida ficar estória no torno dum punhal com nome de catana. Assim a guardei numa capa chamada de bainha, feita de pele de crocodilo e, na esperança de ali sempre ficar - embainhada. E, todas as gargantas se ousaram usar, só de gritos contra mim próprio... Porque a noite era escura, as pessoas ficaram talqualmente escuras e tudo mesmo escureceu. Um dia tracei dois caminhos: um em direcção à mata, o outro voltado ao morro.
Por este, encontrou o mukuali grande na direcção e, então num vou fazer como, vi-me nas agruras de decidir: Ou MATO ou MORRO! Agora que a cinza cobriu as guerras, tudo ficou como num mar de palha, quersedizer numa vinha-d’alhos no jeito banho maria oraipronobis e, vamos ver como termina para saber como é que fica, que ninguém mesmo, te darão ouvidos na hora e na morte - ámen. Teus gemidos ficam altos como o riso da hiena, o latido agudo do mabeco na confusão de se chorar, se rir ou até cacarejar pois que até o galo feito prosperidade entra na contenda... Teus, meus, nossos gemidos são o eco quebrado de palavras que já não existem. Verdade mesmo!
Ninguém te ouviu, te ouve, nem ouvirá... Nem mesmo a coruja com uma espada afiada. O mukuali sagrado que precisas para morrer, não regressa - vais ter de viver meu! O destino nem é teu! Pópilas. Karamba, por cima de nossas cabeças caem as gotas da maldição com Ruína, Ruína, Ruína das cinzas da cidade! Grito, Grito, Grito de raiva enraivecida! Choro, Choro, Choro das lágrimas dos crocodilos! Estás lixado, tramado, vais morrer sozinho, e morto, ué, não vais poder cuidar do teu próprio enterro. T'Xipilika e KaluviaviriI tinham suas razões. Filhos-da-caixa! Estragaram minha defuntação...
O Soba T'Chingange
ANGOLA – DA LIBERTAÇÃO À INDEPENDÊNCIA - X
Crónica 3166 - 17.07.2021 – “SE BEM ME LEMBRO” - Na libertação e independência de uma terra que pensava também ser minha, mesmo não sendo “preto”… Afinal, não o era e, continuo “branco”…
Por T´Chingange, no AlGharb do M´Puto
Ainda mergulhado na embriague do passado, o meu amigo Camundongo, Comando do Maculussu de outros passados, tem uma lança no estandarte da Kizomba e, assim, foi seu baptismo na cubata de Albandeira do M´Puto e, mesmo sem se lhe ver os cascos, os dentes, as unhas e as orelhas fizemos dele um afinadíssimo preto. Afinal tinha mesmo bitacaias nas orelhas! Tratando-o por tu, mandei-o pentear macacos com afinidades ao MPLA. Mas, no finalmente, ele, tal como eu, vivia e vive ainda no Ontem com quase 50 anos de intervalo…
O mwadié mulungo, continua um hoje cohabitando com os Mucubais - um sonho perene cheio de cacimbo pelas manhãs e, com aquela tremulina das quenturas tropicais que fazem tremelicar dedos. Enfim! Só que, eu tenho as coisas contadas de outro jeito, sem aquelas bravatas de Kifangondo aonde roubaram as culatras dos ”tirabikines”… Ondulando assim miragens das anharas, pasto de facocheros, mabecos e bandos de galinhas do mato feitas capotas, arranhando seu disco partido – tou fraca, tou fraca, estou fraca, conto sem lhe dar bola, a minha estória! Ué…
Kafundanga Neves é seu nome de branca alvura. Refém do seu ADN penetra na vida um dia de cada vez, penosamente candongando chinguiços como num conto insuficiente; Sendo assim, passo a contar meu capítulo. O padre António de Araújo Oliveira, um fervoroso defensor da UNITA, só o foi até tomar conhecimento de alguns crimes na Jamba. Em 1973, Savimbi volta a quebrar o segundo pacto com os Tugas, atacando de surpresa a guarnição de Santar em Moxico… As “NT – Tropa do M´Puto” reagem àquele ataque. O general Bettencourt Rodrigues é retirado de Angola para substituir o general Spínola na Guiné.
O novo comandante da Zona Militar do Leste, general Ferreira de Macedo, passa a atacar a UNITA sem piedade. Em Agosto, depois da realização do seu 3º Congresso em Lungwé-Bungo, a UNITA dispersa seus homens da guerrilha pelo Cuando-Cubango. O maior ataque daquele movimento contra os portugueses, é saldado em 19 baixas do lado das “NT -Tugas” no lugar de Alto Kuito N´honga, já depois do VINTICINCO de Abril de 1974, apanhando desprevenidas as novas tropas, magalas guedelhudos com a cabeça cheia de devaneios comunistas e, com a “vitória é certa” no cocuruto da mona.
Assim chegados a 1974, o Exército português, domina totalmente o território angolano já dotado de magnificas estradas construídas dela JAEA e Engenharia Militar. O território dito Ultramarino estava dotado de todas as infraestruturas como escolas com ensino para todos, universidade, hospitais, carreira aéreas e rodoviárias unindo todas as cidades e domínio administrativo. Havia também uma rede sanitária de apoio às muitas pecuárias de Norte a Sul e uma pesca e agricultura florescentes; Angola estava nos países do topo em África, com uma boa situação económica e, fornecendo à Metrópole os bens essenciais para manter sua economia em crescendo.
Lisboa estava em condições de negociar o futuro, algo que, anos antes, havia sido defendido por Kenneth Kaunda, ao enviar a Salazar um manifesto pedindo “uma solução multirracial para Angola” e contestando as teses integralistas que defendiam Portugal do Minho a Timor. Assim e abruptamente o ano de 1974 e 1975 é vivido com intensidade em Lisboa e alguma apreensão em Luanda. O Tempo diz-nos que se Portugal tivesse aceita aquela intermediação de Kenneth Kaunda, muito possivelmente a história de Angola seria outra. Entra-se assim em um outro capítulo: A INDEPÊNDENCIA ADIVIDIDA.
Em Lisboa desmantelava-se a PIDE. A televisão enche as cabeças do cidadão com novas ideologias e, os angolanos brancos a cada dia que passa, sentem que aquelas políticas do MFA precipitam a normalidade da vida em toda Angola e, em especial sua capital – Luanda. Começa aqui a “odisseia dos retornados” - saber como dar solução a uma nova vida largando tudo e todos. Começam aqui as noites mal dormidas com pressão e afastamento de nossos supostos irmãos do M´Puto. Estávamos sendo paulatinamente destinados ao abandono. As notícias chegadas de Lisboa até nós na dita “Província Ultramarina” eram por demais alarmantes; os comunistas tinham tomado as rédeas do comando na Metrópole – estávamos fritos! Trata de fazer caixotes e pôr passaportes em dia…
A 29 de Novembro de 1975, forma-se a DISA, Direcção de Informação e Segurança de Angola, Polícia política do MPLA, formada pelos soviéticos e alemães do Leste. A UNITA viria a criar a BRINDE – Brigada de Informação e Defesa, treinada pelos Sul-Africanos. O preparo de ambas as criadas instituições com gente autónoma era simplesmente nula. Os angolanos estavam a ser jogados às feras e da Metrópole sabia-se: A TV, iniciava as suas emissões ao meio-dia com desenhos do Pato Donald e do Rato Mikey, preenchendo as tardes com a Telescola. O saudoso Vitorino Nemésio acalentava os serões semanais com o programa “Se bem me lembro…”.
Nicolau Breyner e Simone de Oliveira subiam ao palco do Teatro Monumental do Saldanha, com a peça “ A menina Alice e o inspector”. Amália continuava suas viagens em digressão pelo mundo; o fado era levado ao Japão que, sem entender patavina de português, deliciavam-se com as farpas e lamúrias do canto nacional. No Parque Mayer, o Capitólio anunciava a estreia de Marco Paulo. Em Angola abundavam as canções de intervenção do Rui Mingas com “porrada se refilares!” e peixe podre, fuba ruim com edecéteras de fazer raivas e makas – estávamos feitos!...
No M´Puto os guedelhudos e barbudos surgiram aos milhares a imitar o Ché Guevara, juntando-se no Coliseu dos Recreios, “hippies” aplaudindo de punhos fechados, bem ao jeito do símbolo do PS e entre pensamentos de Lenine com Marx e Mao, surgindo os desaparecidos Zeca Afonso e Ary dos Santos em espectáculos organizados pela Casa da Imprensa e, com as direcções das gentes ditas vanguardistas afectas ao Partido Comunista do Álvaro Cunhal. Em Angola numa ida de Zeca Afonso a Nova Lisboa, actual Huambo, a multidão era tanta para ver o Zeca Afonso que eu, fui literalmente rodado no ar para poder entrar no pavilhão descoberto. Nesta altura eu, que pertencia ao Comité da Caála da UNITA com o cargo de Secretário de Relações Públicas, fui convidado e, lá fui em minhas tarefas…
(Continua...)
O Soba T´Chingange
ANGOLA – DA LIBERTAÇÃO À INDEPENDÊNCIA - VII
Crónica 3160 - 01.07.2021 - Na libertação e independência de uma terra que pensava também ser minha… Afinal, não o era e, juro que não o sabia… Não lembra ao diabo que passou também a ser satanás e, eis que, Joseph Desirée do Zaire, passa a chamar-se Mobut N´Guendu Kukuwa Zabanga Sese Seko…
Por T´Chingange, no Algharb do M´Puto
Jogando búzios relembro agora, muitos anos depois, a Luanda Capital de Angola Província colonial, para mim o centro do mundo de então. Tempos em que a Mutamba era o centro de tudo! Bem perto ficava o lugar aonde antigamente se refugiavam os escravos fujões, o seu primeiro refúgio. Em kimbundo refúgio é ingombota, e essa acção de ali se esconderem, pois assim ficou baptizado o local. Quando passou a ser habitado as pessoas diziam que moravam na n´gombota e os portugueses corromperam a expressão adicionando o “I” tendo ficado em Imgombota, do jeito actual.
E, é assim que darei continuação ao tema “DA LIBERTAÇÃO À INDEPENDÊNCIA”. Em Março de 1964, Jonas Savimbi, Tony da Costa Fernandes, N´Zau Puna e o advogado Paulo Tjipilica, anunciam na capital zambiana, Lusaca, um novo movimento independentista: A União Nacional para a Independência Total de Angola – UNITA. Quatro meses depois, na reunião da OUA no Cairo, Savimbi afirma em clara alusão aos Estados Unidos da América, na altura apoiantes de Holden Roberto: “-Demito-me das minhas funções, que são do interesse do povo angolano e dos objectivos dos países irmãos.” Recorde-se que era até aqui, ministro do GRAE com o cargo de Ministro dos Estrangeiros…
Savimbi recebe então uma proposta do MPLA, visando a criação de uma “Super-direcção Nacional de Luta” que incluiria membros de todos os movimentos já formados. Este concorda e escreve um texto de denúncia contra Holden Roberto, distribuído na reunião do Cairo mas, imprevisivelmente, parte para a China com mais onze companheiros aonde frequentam a Academia Militar de Nanquim. A partir de 1966/67, Mao Tzé-Tung passa a fornecer apoio militar à UNITA, então expulsa da Zâmbia por ter atacado um comboio do Caminho de Ferro de Benguela – CFB.
De facto, Jonas Savimbi havia abordado com o presidente Kaunda que a UNITA não atacaria os comboios do CFB que escoavam o minério zambiano para o porto do Lobito; a economia da Zâmbia dependia muito desta exportação. Por Savimbi não ter cumprido este acordo, quando se preparava para entrar clandestinamente em Angola a partir da Zâmbia, Kaunda manda-o prender. No decorrer da guerra colonial o portugueses aproveitaram habilmente esta situação e, conforme as conveniências, passam a fechar a linha férrea, atribuindo a paralisação a ataques feitos pela UNITA e MPLA; desta forma Kaunda ficou manietado às vontades do M´Puto.
Com o apoio americano, no ano de 1965, o sargento Josp Desirée toma o poder no Zaire e instaura a “lei da autenticidade”. Absurdamente obriga os zairenses com nomes europeus a adoptarem nomes africanos. Não lembra ao diabo que passou também a ser satanás e, eis que, Joseph Desirée passa a chamar-se Mobut N´Guendu Kukuwa Zabanga Sese Seko. Este nome significa ser “o rei das árvores, dos rios, dos céus”. Não vem daí mal ao Mundo porque eu próprio, sendo relator destes acontecimentos tomei o nome de Soba T´Chingange com nascimento no vapor Niassa - portanto um Niassalês…
Neste ano de 1965, sob o comando de Jacob Caetano com o pseudónimo de guerra de Monstro Imortal, guerrilheiros do MPLA saem de Brazaville, atravessam o terreno hostil de Mobutu e pelas barreiras postas pela topa portuguesa ao longo da fronteira e, infiltram-se na riquíssima região dos Dembos, onde passam a praticar emboscadas na apelidada “estrada do café” – Luanda, Caxito, Carmona (Uíge). Chegam mesmo a atingir o Ucua e a Funda, muito próxima de Luanda.
Monstro Imortal, viria mais tarde a liderar juntamente com Bernardo Alves – “Nito”, José Van Dunen e o comandante Bakaloff, o golpe 27 de Maio de 1977 na tentativa de derrubar Agostinho Neto do poder (assunto a ser recuperado mais à frente). No auge da guerra-fria, com o Zaire de Mobutu transformado em centro de estratégia norte-americano, não somente para a África subsariana mas, de todo o continente. A ex-URSS e países do Leste redobram o seu apoio ao MPLA, apesar de Neto ter tentado apoios para a sua causa em países ocidentais.
Nesse ano de 1965, Che Guevara encontra-se com Agostinho Neto em Brazzaville. Desse encontro resultou a ajuda militar cubana às FAPLA – Força Armadas Populares de Libertação de Angola do MPLA. Pouco depois, onze oficiais cubanos entram em Cabinda, em uma coluna comandada por Pedalé, Nicolau Spencer e Chipenda. São atacados pela tropa portuguesa junto a Buco-Zau mas, eles e os cubanos escapam, permanecendo no enclave até final de 1966; de realçar aqui que nestas ocorrências, passaram a ser recordados pela sua indisciplina, dentro e fora do movimento...
Em Março de 1966 no local de Mwangai, a UNITA realiza o seu primeiro Congresso. Em Dezembro, os homens de Savimbi atacam Cassamba e, no dia de Natal, Vila Teixeira de Sousa, actual Luena. Ao início da actividade militar da UNITA, o MPLA, responde com a abertura da Frente Leste, tendo o primeiro combate contra as tropas portuguesas ocorrido em Lumbala no saliente de Cazombo. O primeiro comandante da Frente leste foi Hoji ia-Henda, sobrinho de Mendes de Carvalho e, viria a perder a vida em Abril de 1968 no ataque a Caripande.
Em Setembro do mesmo ano, na mesma região e perto de do rio Lueji, num ataque helitransportado pela tropa Tuga, morre o médico Américo Boavida, o “Kimbanda”, nome de guerra, palavra que no dialecto kimbundo significa médico. Em resposta o Exército português instala no Bié o Grupo de Cavalaria nº 1 (CCAV 1), chamados regularmente por “Dragões” e, que foi reforçado no ano de 1970 com o primeiro Esquadrão Operacional a cavalo. Quase em simultâneo o MPLA cria a Norte, a chamada 4ª Região Político-Militar na região das Lundas para reforçar a 1ª Região dos Dembos que se mantinha bastante isolada. No Leste, ocorreram todos os acontecimentos que originaram a cisão do MPLA, a qual perdurou até 1975. Daniel Chipenda, então comandante militar do MPLA, passa a liderar esta cisão, que originou a fragmentação do MPLA tornando-o pouco expressivo em sua acção de guerrilha…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
ANGOLA – DA LIBERTAÇÃO À INDEPENDÊNCIA - VI
Crónica 3159 - 27.06.2021 - Na libertação e independência de uma terra que pensava também ser minha… Afinal, não o era e, juro que não o sabia…
Por T´Chingange, no Algharb do M´Puto
Jogando búzios na zuela do feitiço, com algum esforço intelectual, remexo panelas de caldeirada da estória, muito me convencendo da inutilidade das bagatelas que nos preenchem o dia-a-dia, refugiando-me atrás do balcão de minha modesta venda de vaidades. Metendo num pão que vai ao forno os trocadilhos e chouriço e, enquanto espero, vejo os estudos feitos por organizações internacionais que apontam uma estatística mundial como havendo 300 milhões de pessoas, de todas as idades, com depressão, considerando ser este o mal do século…
Algum tempo atrás, desconhecia que podíamos fechar o tempo dentro de casa e, atazanado, comecei a beber dez gotas de cannabis para truncar as vicissitudes misturando o gosto estranho com kefir, um pouco de café pilão e um pouco de mel com um ou dois croissants para entulhar a malga. E assim, lá pela tarde, na kúkia do sol, meto também num pão tipo da avô os trocadilhos com chouriço, por vezes morcela, a fim de sentir algum prazer de viver matabichando resiliências e, outros desmandos com tantas maleitas sociais.
Escrevo isto olhando para as roupas manchadas do tempo a abanar no quintal com os pássaros charnecos e melros a alegrar-me com seus voos, saídos de uma árvore gigante de meu vizinho alemão da Alemanha que também saiu de Angola, tal como eu. E, lá estão as duas máscaras que foram lavadas com sabão macaco, encharcando-se do sol tão necessário para queimar azedumes e bichezas, sem saber ao certo quanto tempo o capeta diabo pode ficar naquela superfície de pano definhado pelo hálito do hábito. Estamos no ano de dois mil e vinte e um e, a cinquenta e nove anos do surgimento em Angola do Movimento chamado de FNLA.
Nestas contingências relembro o Janeiro do ano de 1962, em que surge a FNLA. No exterior de Angola, os movimentos pró-independência desencadeiam forte campanha contra o M´Puto – Portugal, que segundo dados da Cruz Vermelha Internacional, denunciam a existência de quase meio milhão de refugiados angolanos no Congo, Zaire e Zâmbia. Em Dezembro de 1962, Agostinho Neto assume a presidência do MPLA em Leopoldeville, actual Kinshasa, durante aquela que foi a 1ª Conferência Nacional. Joaquim Pinto de Andrade, no final da década de 60, chanceler da Arquidiocese de Luanda, era nesse então o presidente de honra do Movimento, mantendo-se no cargo até 1973.
Neto, cria o “Grupo Tlemcem”, nome da cidade argelina, onde fizeram recruta os primeiros guerrilheiros do MPLA. Portugal por via desta postura, cria os Comandos, Tropas Especiais, Grupos Especiais e Grupos Especiais Pára-quedistas. Acontece que em Junho de 1963, o MPLA debate-se com problemas graves, entre os quais a expulsão de Viriato da Cruz, “por actos de indisciplina tendentes a minar a unidade”. Este, viria a falecer em Pequim, dez anos depois. Nesse então ocorre dentro do embrionário partido perseguições e prisões aos seus membros e apoiantes na República do Zaire, por ordem de Cirille Adoula, então primeiro-ministro e apoiante de Holden Roberto.
Aqueles acontecimentos levam o presidente ganês N´Krumah, a organizar uma conferência de “reconciliação e unidade”, na qual participam o MPLA, UPA e PDA (Partido Democrático Angolano). Holden Roberto abandona as discussões fundindo a UPA com o PDA dando assim origem à FNLA – Frente de Libertação Nacional de Angola, que mais tarde é apoiada no GRAE – Governo da República de Angola no Exilio e ELNA – Exército de Libertação Nacional de Angola.
O MPLA reage patrocinando a criação da FDLA – Frente Democrática de Libertação de Angola. Esta criação morreu à nascença, pois que nem sequer foi apoiada pela Organização de Unidade Africana – OUA. Em Junho de 1963, o MPLA abre a Frente de Cabinda sob o comando militar de Manuel Lima, o operacional político de Agostinho Neto, Iko Carreira, Hoji-ia Henda, Lúcio Lara, Aníbal de Melo e Daniel Chipenda. A guerrilha do MPLA de imediato entra em confrontações com a FNLA. Este Movimento, estava apostado em evitar o avanço do MPLA no Enclave Norte de Cabinda, parte integrante de Angola.
Há um episódio de que Holden Roberto jamais poderá lavar as mãos pois que tendo aprisionado várias guerrilheiras em um ataque a uma coluna do MPLA, estas virão a ser fuziladas sumariamente numa base da FNLA, em Kinzuzu da República do Zaire. E, é em 1963 que Jonas Malheiro Savimbi surge como Ministro dos Estrangeiro do GRAE. Holden Roberto, envia Savimbi a Moscovo, na mira de obter apoio para a FNLA, mas o objectivo fracassa. É nesta altura que Jonas Savimbi começa a ser notado como uma figura carismática, de um grande poder dialéctico, diplomático e de grande força persuasora.
Na capital soviética Savimbi acusa peremtóriamente Álvaro Cunhal de ter bloqueado todas as suas diligências; Álvaro Cunhal, tudo fez para tirar de cena Savimbi. O encontro de Savimbi com Gamal Nasser é também anulado por via da intervenção contra, do líder do PCP – Partido Comunista Português. Lembrar-se que neste então Nasser dominava a senda Politica internacional, especialmente por ter imposto a nacionalização do Canal de Suez, na qualidade de chefe supremo das Forças Armadas da extinta República Árabe-Unida.
Savimbi, como Ministro do Estrangeiro do GRAE, terá dito a Nasser que os israelitas treinavam militarmente a FNLA apesar de saber que aquele, era inimigo de Israel e que apoiava Holden Roberto. Depreende-se haver já alguma dissidência entre os elementos da FNLA pois que no ano de 1964 o Chefe do Estado-Maior do ELNA, José Kalundungo, abandona o movimento acusando Holden Roberto de “não favorecer a verdadeira unidade nacional, quando ataca os irmãos de luta”. Nesta mesma altura as cúpulas políticas do GRAE acusam o seu Ministro da Guerra, Alexande Tati, de pretender organizar um golpe contra Holden. Tati entrega-se com um numeroso grupo de homens ao Exercito Português passando a lutar com estes contra os demais movimentos nacionalistas, no intuito de apaziguamento com formação de um governo próprio para o Enclave de Cabinda por força e conforme o Tratado de Simulambuco (actual FLEC).
(Continua…)
O Soba T´Chingange
ANGOLA – DA LIBERTAÇÃO À INDEPENDÊNCIA - V
Crónica 3158 - 18.06.2021 - Na libertação e independência de uma terra que pensava também ser minha… Afinal, não o era e, juro que não o sabia…
Por T´Chingange, no Algharb do M´Puto
O ano de 1961, ficando a uma distância de sessenta anos, convêm relembrar mesmo de forma sucinta o que aconteceu na Colónia chamada de Província de Angola. O padre Franklin da Costa que não concordava com a politica colonial e, que foi mais tarde bispo do Lubango sofreu dissabores por admoestação ao longo de sua vida pastoral pela PIDE, tendo o militar operacional Neves Bendinha, nesse então, morrido às mãos dessa policia na Cadeia de S. Paulo de Luanda. Os intelectuais Belarmino Van-Dúnen, Noé Silva Saúde, Francisco Santana e Virgílio Sotto-Mayor foram presos e condenados, cumprindo pena no Campo Prisional do Tarrafal. Naquele período de entre 04 a 12 de Fevereiro de 1961, disse-se haver entre mortos e feridos e de parte a parte, um total de cinco mil … A Fortaleza de S. Pedro da Barra e a Cadeia de S. Paulo, encheram-se de presos. Pinto de Andrade foi desterrado para a ilha do Príncipe e Agostinho Neto é envido, primeiro para Lisboa e, mais tarde para Santo Antão e Santiago de Cabo Verde; Aqui, Neto, continuou a exercer medicina sob vigilância policial; viria a ser transferido para o Aljube e libertado no ano de 1962 com a condição de ficar com residência fixa em Portugal de onde consegue fugir clandestinamente com a família, refugiando-se em Leopoldville.
O ataque da UPA contra os fazendeiros brancos do Norte de Angola, abrangeu uma faixa extensa que vai desde a fronteira com o Congo Zaire até bem perto de Luanda, a maior parte do Distrito do Congo, Províncias do Uíge e Zaire, uma parte do Cuanza Norte e a região de Nambuangongo. Centenas de brancos e trabalhadores Bailundos, contratados, são barbaramente assassinados, incluindo mulheres e crianças. Nem os missionários escapam a esta onda contando-se entre estes os bem respeitados padres Lázaro e Pedro João; o primeiro morto na povoação de Pângala e, o segundo, na Damba.
No ataque a Quitexe, então Concelho de Ambaca com sede em Camabatela, foram assassinadas várias crianças. Podem ver-se muitas fotos com seus corpos seminus ou nus, retalhados por catanas; fotos que correram o mundo indignando na forma tão violenta de fazer terrorismo. A violência destes acontecimentos de quinze de Março e sequentes dias, motivou dos bispos angolanos, a publicação de uma “Exortação Pastoral” condenando as acções de terror de um e outro lado, apelando às autoridades não esquecerem as leis de justiça e caridade por forma a aproximar os homens e não originar um crescendo de inimigos. O texto da Pastoral enviado para Lisboa a ser publicado no jornal “Novidades” é desautorizado a sua publicação…
Salazar, detém a pasta da Defesa, por via da tentativa de golpe de Estado por Botelho Moniz. É neste então que prefere o tão propalado discurso em que diz: “ para Angola, rapidamente e em força”. Inicia-se imediatamente o envio regular, por via aérea e marítima. O primeiro contingente de militares embarca no navio Niassa, no cais de Santa Apolónia, em Lisboa. O império português estava ameaçado de morte como nunca em cinco séculos e, a resposta possível foi o envio imediato de um corpo expedicionário. O envio acontece a 21 de Abril, em reacção ao levantamento supostamente do MPLA em Luanda e aos massacres da UPA no Norte.
Ninguém imaginava que a guerra duraria mais de uma década terminando logo após o vinticinco de Abril de 1974. No cais de Santa Apolónia, em Lisboa, as famílias juntaram-se para a despedida aos militares. Estes embarcaram em fila ordenada no Niassa e da amurada gritavam "Viva Portugal". O Diário de Notícias de 22 de Abril dava honras de primeira página ao embarque das tropas. "Aclamando Portugal e o exército e cantando o hino nacional partiu ontem para Angola uma força expedicionária" - era o título, mostrando optimismo sobre uma rápida solução do conflito. Só que a Guerra Colonial duraria até esse ano de 1974, e seria combatida em três frentes africanas – Angola, Moçambique e Guiné Bissau. Entretanto na rádio cantava-se “Angola - é nossa”
Hoje, pode encontrar-se em Portugal, mais de 300 monumentos dedicados aos que combateram por um país que estava condenado a ser de novo só europeu. Angola e mais quatro nações africanas de língua portuguesa, são hoje independentes mas, terei aqui de me focar só a Angola a rainha do Império Luso. Os paquetes Niassa, Santa Maria, Vera Cruz, Pátria e Infante D. Henrique levam sucessivos contingentes sendo recebidos euforicamente pela população branca em grandiosos desfiles ao longo na Avenida Marginal de Luanda com o nome de Diogo Cão e agora, com o nome de Avenida 4 de Fevereiro… Na Angola de 1961, a situação é crítica; cidades, vilas e pequenos lugares do Norte são saqueadas pelos guerrilheiros chamados por “Turras”, diminutivo de terroristas. Estes Turras, à sua passagem, destruíam as estruturas das fazendas de café, que até então eram o principal abastecedor do mercado internacional. Até 1974 saiam daí 330 mil toneladas por ano; hoje que são passados sessenta anos, esta produção decresceu para números muito inferiores.
Pode ler-se actualmente (ano de 2021) que a produção do café ainda contínua irrisória e longe de alcançar lugares cimeiros em África, em particular, e no mundo em geral, devido ao fraco investimento e falta de políticas concretas para os produtores, segundo especialistas em agronomia. Em consequência do fraco investimento neste sector, tem sido variável e nivelada por baixo, comparativamente ao tempo colonial, período em que a Colonia, foi o terceiro maior produtor mundial desse “bago vermelho”. Voltando àqueles tempos em que aquela era a minha terra – assim o pensava, o Ministro do Ultramar Adriano Moreira desloca-se com frequência à Colonia adivinhando-se mudanças.
O Governador Silva Tavares é substituído pelo General Venâncio Deslandes que acumula o Comando-Chefe das Forças Armadas. Face aos acontecimentos na Baixa de Cassange, o Ministro Adriano Moreira põe fim à desumana política da cultura compulsiva do Algodão e sua venda obrigatória à “Cotonang”. O general Deslandes inicia a retomada do Norte de Angola em Junho de 1961, pelo posto de Lucunga. Em Novembro, Deslandes anuncia o apaziguamento do Norte, saldado por 121 baixas de militares oriundos do M´Puto. Em Dezembro de 61, já se encontrava em Angola mais de 30 mil soldados magalas do M´Puto. Em 1966 já eram 60 mil e, em 1974 chegaram a mais de 65 mil. Diga-se que as guerrilhas do MPLA e FNLA eram quase inexistentes no ano de 1974 mas, urdia-se pela calada e, no M´Puto outras diligências singularizadas pelo Partido Comunista e suas células com mistura de traidores…
As comunidades corporativas e intelectuais da Província em consonância com uma boa parte significativa de grande parte de comerciantes conceituados como Venâncio Guimarães, chegaram a propor a Venâncio Deslandes um golpe do tipo de Ian Smith da Rodésia tornando o território independente ou com uma autonomia progressiva mas, não houve a vontade necessária para tal. Perdeu-se uma grande oportunidade de mudar o rumo em Angola de uma forma controlada a favor de gente que se veio a revelar desclassificada, impreparada e ladra. Recorde-se que Ian Douglas Smith, foi um político, fazendeiro e militar que serviu como primeiro-ministro da colónia britânica da Rodésia do Sul entre 13 de Abril de 1964 e 11 de Novembro de 1965 e depois primeiro-ministro da Rodésia, depois da Declaração Unilateral de Independência, em 11 de Novembro de 1965, até 1 de Junho de 1979.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
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