Terça-feira, 6 de Abril de 2010
MOKANDA AOS T´CHIKUKUVANDAS .VIII

FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO

O projecto de Nelo

O fiel depositário de Sakapwma* ( Seu Pai )

 

 ... SIGLO XIX: MASCARAS 2009 ARTE PRIMITIVA . LUNDA

Se não mantivéssemos estes objectos juntos, esta pequena migalha da cultura mundial perder-se-ia. A arte Africana ao entrar na Europa influenciou estéticamente artistas como Picasso ou Matisse que admiraram a animação dos objetos e seu primitivismo...

A cultura Lunda ou Kioka, nasceu das tribos Bantu, silvícolas, recolectores e caçadores que esculpiam todos os aspectos da vida.  Traçavam seus dotes artísticos com uma simples faca fazendo instrumentos de uso diário como pentes, adornos vários e artefactos de uso em suas casas e cozinhas. As paredes de suas casas eram decoradas, seus corpos tatuados, seus penteados adornados com criatividade.

Na falta de registos escritos, a cultura oral que passava de pais para filhos, tal como a sua arte  primitiva e costumes, eram as bases  que perpectuavam no tempo. Este é o legado Kioko ou, tchockwe, sendo que sua arte constitui raridade e, por isso, mais reputada na avaliação de seus artigos da arte a nível mundial.

As revistas “Art d´Áfrique Noir” de Roul Letuart referem a arte Tchockwe como sendo das obras mais cotadas no mercado de artes primitivas; as famosas estátuas T´chipinda e Lunda mais conhecidas por Mwatshianvua e Lweje-Ya-Konde (casal fundador do império Lunda), atingiram nesse mercado de arte, o 1º lugar da tabela de preços. Isto é referido no livro “Identidade e Patrimônio Cultural” da autoria do antropólogo e escritor Henrique Abranches.

 

Acácio “Sakapwma”, iniciou suas esculturas em madeira respeitando a arte, conteúdo, e corte com machadinha, faca nativa e formões. Esculpiu o casal do império Lunda, de rara beleza, talhando a madeira de forma muito pessoal preservando a traça original. Independentemente dessas peças preciosas que marcam sua obra, esculpiu outras de renome e forte cunho na identidade deste povo, o “T´shipinda Katele” (caçador), o casal “Mama Wa-Knkw” e “Mwkuluana Wa Kwkw” (pensador e pensadora), talvez a representação mais marcante e admirada internacionalmente, pois que mostra um casal de velhos esperando a morte.

 

Como obra inédita, tem uma peça única em madeira, com quatro pessoas que mostra a cena do “Kaponye” (parto). Além das estatuetas temos as máscaras, masculinas e femininas: umas decorativas, outras para uso em danças populares ou profanas.

É rica a diversidade deste conjunto, sendo as máscaras por demais importantes em suas vidas. O bastão decorativo é uma peça importante e de uso dos chefes ou notáveis como insígnias do poder. O artista “Sakapwma”, não poderia deixar de criar quatro destas belas peças.

Em relevo, criou cenas do quotidiano representadas numa tábua de madeira e duas peças de alumínio fundido, uma dourada a outra prateada. No conjunto do espólio de arte tchockwe, trabalho rico em arte e de difícil elaboração é a incisão de figuras e simbologia em cabaça natural, obra que os nativos muito praticavam e valorizavam. Não há referência de haver outro branco que tenha ousado gravar em cabaça.

No campo das esculturas, não poderia faltar o trabalho em marfim; a realização de um artista é reconhecida devido à dificuldade e paciência na sua elaboração; e Acácio “Sakapwma” executou uma jarra com altura 38,5cm,  com o diâmetro interno de 13x10,5 cm e o peso de 2kg. Esta peça consumiu 18 anos de trabalho na sua execução.

( Continua ... )

José Manuel Primo Videira (Nelo)

Subscreve: O Soba T´chingange




PUBLICADO POR kimbolagoa às 10:58
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Domingo, 4 de Abril de 2010
MOKANDA AOS T´CHIKUKUVANDAS .VII

FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO

O projecto de Nelo

O fiel depositário de Sakapwma* ( Seu Pai )

 

 ... africano mascaras angola MÁSCARAS tchockwe


Eu José Manuel, filho de Acácio, não tendo até então qualquer envolvimento com o que estava sendo feito, apoiando somente a vontade de meu pai, resolvi em finais de 2002 com a anuência dele, levar em frente um projeto remodelado. Até aí havia envolvimento de gente sem escrúpulos que emperravam vontades, aí resolvi tomar sua defesa conjugando novas metodologias tendo o beneplácito de artistas já credenciados.

Lutei para que meu pai conhecesse o sucesso. Foi em vão,... Morreu a 11/fev/2008, sem saber o futuro de sua obra.

No ano de 2002, debruçado sobre sua obra, percebi que tínhamos ali um grande tesouro; no intuito de transformá-lo em algo revelador ao mundo, eu e minha mãe colocamo-nos em acção, organizando todo o espólio que em realidade compunha um pequeno Museu. Dada a quantidade de informações que retrata uma cultura inédita e fidedigna o trabalho a executar passaria pelo levantamento baseado nas anotações de Acácio que identificavam as peças. Hoje temos já pronto 80%, os restantes 20%, meu pai que pressentiu que não ficaria muito mais tempo entre nós, incumbiu-me de terminar a tarefa.

Sempre foi seu desejo envolver-me no seu sonho, mas o destino, não proporcionou isso; foi uma grande perda!

 

Estou agora, apto a realizar aquele desejo, pois também nasci envolto nesse fascínio artístico; para isso deixou-me muitos rascunhos, alguns até, surpreendentes, pois era o fruto de troca de impressões entre nós. Em realidade, foi em surdina que meu pai materializou esses rascunhos.

Sakapwma acreditava com veemência que chegaria aos 100 anos de idade, pois seus pais e irmãos falecidos partiram entre os 98 e 105 anos; entretanto desejávamos que a sorte nos colocasse juntos no empreendimento.

Uma guerra atroz ininterrupta de 42 anos, sendo 28 anos de guerra civil ofuscou a sapiência que Acácio videira retratava desgastando-se no tempo, destruindo o conhecimento às raízes ancestrais à tão bela e vasta cultura Kioca.

Guerrilha e guerra civil destruíram senzalas e objetos e, logicamente muito material não recolectado. Hoje o patrimônio histórico sobrevivente, está em alguns museus em África, Europa, EUA ou pequenas e raras coleções particulares. Estes dados condicionam o peso certo ao valor do acervo legado.

( Continua ... )

José Manuel Primo Videira (Nelo)

Subscreve: O Soba T´chingange




PUBLICADO POR kimbolagoa às 00:51
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Segunda-feira, 22 de Março de 2010
MOKANDA AOS T´CHIKUKUVANDAS .III

FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO 

“Mokanda do Nelo . 39 anos depois”

 
 
*resposta*

 

 cravo Flor da amizade

Querida "irmã" Ibib,


Este após expulsão de Angola, não foi fácil. Pelas tuas palavras percebo que são quase as mesmas de minha mãe quando em Setembro de 1975, com minha irmã foi para Portugal. Foi um horror; inacreditável o que o governo ingrato deixou que se fizesse para mal de todos.

Durante centenas de anos enchemos de riqueza o bandulho do Puto, eh.. povinho,... da colonização, não souberam aplicar o amealhado. Hoje é uma vergonha sentir a degradação da democracia, que nem de mão estenda conseguem ressarcir  OS PECADOS COVARDES.


Durante a leitura, vivenciei nosso drama; foi difícil! No entanto, NOSSO BOM DEUS, fortaleceu-nos numa força hérculea para suplantarmos essa adversidade gratuita proporcionada por gente  imatura. 


A imagem que tenho de vós, é a de pessoas novas, com uma criança no Largo da Maianga na Luanda de então; de repente esse altar de boas recordações transforma-se numa realidade que transcendeu o susto. Leva um tempo para absorver a VERDADE.


Arte da África: Obras ...  Máscaras
Meu pai deixou um legado, arte gentílica genuína do povo e cultura Africana Lunda-Kioka (ou tchockwe ou Quioca) e, r
ecebemos confirmação de que dia 21 de Março será a abertura de uma exposição nossa na Fundação Palmares em Brasília. Aguardamos e,... assim que tiver mais noticias, faremos o reencontro.

 

Assim, para vocês conhecerem os projectos de nossa vida envio um extrato do historial e o espólio etnólogo de meu pai:

Acácio Videira, nasceu artista e como tal, frequentou a Escola de Belas Artes no Porto - Portugal. Foi convocado para a 2ª guerra tendo prestado serviço por 30 meses como expedicionário. Em 1946 foi para Angola onde se desenvolveu como profissional de fotografia. Em 1949 teve início a sua grande carreira de etnógrafo, quando foi convidado para trabalhar no Museu do Dundo patrimônio da Companhia de Diamantes de Angola.

Seus conhecimentos sobre esta etnia passam pelo aprendizado com o grande etnógrafo e amigo Dr. José Redinha, também seu prezado colega  no Museu do Dundo.

 

Se tiveres tempo lê!  Da-te-há um apanhado de nossos sonhos.

 

Graças à  Dra. Eliane, Vice-presidente da Fundação Palmares que ficou nossa amiga, ansiamos que o nosso sonho se torne realidade.
Beijos saudosos,
Nelo e Familia

( Continua... O legado de Acácio Videira )

O Soba T´Chingange

 

 
 

 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 00:42
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Temos um Hino, uma Bandeira, uma moeda, temos constituição, temos nobres e plebeus, um soba, um cipaio-mor, um kimbanda e um comendador. Somos uma Instituição independente. As nossas fronteiras são a Globália. Procuramos alcançar as terras do nunca um conjunto de pessoas pertencentes a um reino de fantasia procurando corrrigir realidades do mundo que os rodeia. Neste reino de Manikongo há uma torre. È nesta torre do Zombo que arquivamos os sonhos e aspirações. Neste reino todos são distintos e distinguidos. Todos dão vivas á vida como verdadeiros escuteiros pois, todos se escutam. Se N´Zambi quiser vamos viver 333 anos. O Soba T'chingange
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