Segunda-feira, 9 de Janeiro de 2023
OT´CHIPULULU . 5

T’XIPALA DO M´PUTO - FÁBRICA DE LETRAS DA KIZOMBA

Candengue da Maianga - Mau-olhado – Xicululu – Crónica 334209.01.2023

Porxicululu8.jpgT´Chingange (Otchingandji) no AlGharb do M´Puto

Mu Ukulu11.jpg Desengrenando o meu disco a fim de dar arrumo a todas as mokandas, na rapidez, desconsegui acompanhar a velocidade do pensamento. No espaço de lembranças com odor de tamarindo e gajaja, o branco kandengue que era eu, teria os meus seis anos quando fui tirar a minha primeira fotografia no largo Serpa Pinto. Minha mãe Arminda da Maianga reparou que tinha um escuro de tição no rosto e, ali, entre as acácias da minha rua da Maianga, tirou um lenço de linho de sua bolsa, molhou na língua para amaciar e esfregou este no meu rosto como se eu fosse um gato

Uma gata a lamber seu filhote que era eu. Lembro-me de ter barafustado com coisa tão díspar e chorei de raiva até chegar ao fotógrafo que se situava no largo de Serpa Pinto. A fotografia tirada naquela máquina caixote, com manga preta de esconder susto, parece agora, ter andado num tornado castanho de fúria amarela, pontilhada a cagadelas de mosca.

O relâmpago daquela coisa susteve-me os últimos soluços. Desconsegui saber que já era hiena antes de saber que bicho era esse – um puto reguila da mulola do Rio Seco. Depois foram os apitos roucos dum barco que chegava a um cais, muitas casas compridas e homens em tronco nu segurando um saco com malas de chapa pintadas, bikwatas e cacarecos vários. Gritando ordens e, entre eles dizendo palavrões mais um mwadié branco como eu gesticulando ao homem aranha pendurado numa coisa chamada de guindaste; deveria ser o capataz.

dia142.jpg Era um tio que estava chegando do M´Puto. Grandes máquinas circulando com luzes a piscar na água; muita água balouçando o azul na linha de horizonte mostrando uma ilha que mais tarde vim a saber ser a ilha da Mazenga; uns peixes brincavam voando ao redor duma cabeça e tripas, talvez dum roncador ou mariquita. Por força das circunstâncias, coisa que me transcendia, meu tio Zé, o Nosso Senhor topeto teve de atravessar o atlântico num vapor de nome Uíge.

Meu tio chegou assim calças largachonas, um chapéu palhinhas muito usado na época, de um branco besugo avermelhado pelo sol do equador. Recordo agora as fotos com ele sentado junto à mandioqueira que dava sombra ao tanque de lavar, uma selha feita de uma metade de pipo de vinho, aduelas do tintol do M´Puto baptizado com água do Beno na loja do Senhor Rente Cruz, o tio do Tony Melo, mais uma tábua ondulada aonde a Dona Arminda esfregava as flanelas da família.

Aquela foto era para entregar no Colégio João das Regras junto ao Martal – Martins e Almeida para compor meu livro de aluno. Até sobraram para mais tarde, um outro colégio chamado de Moderno que ficava bem junto da estação de Caminho de Ferro da Cidade Alta. Lembro-me de ter lido algures que o vapor transatlântico Uíge, tinha escrito numa bandeira, Companhia Colonial de Navegação. 

xicululu7.jpg Naquele tempo que pensava ser um kamundongo, percorria os bairros desde a Maianga até o Bairro do Café, com os pés entrançados na grande bicicleta do meu tio Zé Nosso Senhor; assim mesmo feito chambeta, calcorreava a Luua, as encostas dos musseques com o Pica mulato que mais tarde virou oficial superior do glorioso MPLA. Isto de glorioso era ele que dizia, mas o tempo escondeu-nos do convívio, tal como o Aninhas das motas, seu irmão, mais o preto Batalha do Catambor.

Sem sabermos, construíamos todos os dias uma descolorida amizade, impregnada duma vivência que o tempo dissolveu por ideias ou ideais mas Luanda estava ali mesmo, ai-iu-é! Naquela foto de menino, eu não tinha verdadeiramente uma cor de gente; era assim como um boneco com umas calças de ganga grosseiras, sarapintado de manchas a descair sobre uns sapatos quedes da macambira.

Vendo-a, a foto amarelecida, podia passar por uma cor de pele das que os meus amigos tinham. Podia muito bem ser cafuzo, matuto ou mameluco mas, só era mesmo um mazombo, filho de colonos saídos do M´Puto com uma carta de chamada. Até Pica e Batalha, duvidavam que eu fosse mesmo branco! Subia ao coqueiro com a mesma agilidade deles, matava sardões com a mesma pontaria de fisga tiradeira e tinha o mesmo jeito para apanhar rabos-de-junco, plim-plau, xiricuatas, celestes e januários nas lagoas do Futungo ou um qualquer charco de Belas.

xicululu6.jpg Íamos lá longe por detrás do aeroporto de Belas, Craveiro Lopes apanhar pássaros na rede. Mais tarde num dia de inspirada arte, com muito jeito, pintei de branco a minha t’xipala mas, não se parecia. Só Necas me levava a sério chamando-me de Mandrak. Um dia após uma investida de valentia no quintal do Malhoas às maças da índia, gajajas e goiabas, mostrei a dita foto à turma dos “salta muros”; a minha turma! Ué… Seguiram-se risadas desconformadas - Foi um chinfrim que trespassou o silêncio muito para além do Almeida das Vacas, o rio seco, as bananeiras.

Aquele riso não era verdadeiramente de alegria; era, isso sim, um misto de valentia lambuzada na gozação pois que parecia ser mesmo um besugo. Pica, pulou de macaquice, chamando-me de T’Chingange da Manhanga. T’chingange?! Naquele tempo perfumávamo-nos de ignorância atrás do carro da tifa chamando de monangamba aos trabalhadores da recolha do lixo. Mais tarde, fiquei a saber que aquela figura, T’Chingange, era gente de verdade; pintados com argila branca ou cal, no terreiro do kimbo, pulavam como que possuídos de katolotolo

sabão macaco1.jpg Glossário:

T’Chingange - um misto de feiticeiro, justiceiro, advogado do diabo (de quem se tem medo); mokanda - carta; M´Puto - Portugal; kandengue - moço, rapaz; kamundongo: Kaluanda - natural de Luanda, rato; rabo-de-junco - pássaro; t’xipala - fotografia (de rosto); besugo - labrego ou simplório, chegado do M´Puto - (gíria de Angola); monangamba - trabalhadores sem classificação especial (pejorativo); kimbo – sanzala (planalto central de Angola), povoado; Carro da tifa - desinfestação de ruas ou quintais para matar o mosquito e outras pragas; selha: Meio barril feito de aduelas; quedes: sapato simples de ténis, em pano; Manhanga: o mesmo que maianga, charco ou poço de água; catolotolo: Zuca, mal da cabeça, maluca, passado dos carretos, com feitiço…

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 21:18
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Sexta-feira, 30 de Dezembro de 2022
MALAMBA DE HOJE . CCLXXIII

Porque depois de amanhã! Depois de Amanhã?! Pois será outro dia…

DPOIS DE AMANÃ, SERÁ OUTRO ANO - 30.12.2022

Crónica 3338 em Amieiro de Arazede do M´Puto

PorAvillez2.jpg T´Chingange

ANO NOVO1.jpg Como à cinco anos atrás, de novo aqui voltei. Levantei-me tarde, eram horas de tomar banho, vi-me ao espelho sem óculos e fiquei espantado com minhas sobrancelhas! Nem Álvaro Cunhal as tinha assim tão desaklinhavadas. Procurei uma tesoura para as cortar, busca e rebusca e só encontrei um corta unhas. Bom! Estava em casa de Mfumomanhanga e, era até normal desencontrar o pretendido. Mas um corta unhas serve pró efeito! Aproximei o rosto ao espelho e mais parecia ver uma cratera com riscos e, lá estava bem junto ao olho esquerdo um senhor cabelo preto e grosso com um quilómetro de extensão, salvo as proporções da mirada. E cortei o dito-cujo ouvindo-se um estalido e, depois ouvi-me mesmo dizer em vos alta: Já está!

Numa busca mais apurada e, já tinha pelos e cabelos dinossáuricos em tudo quanto era buraco, orelhas com pretos encaracolados e, brancos e grossos das sobrancelhas que foram cortados num pisca-pisca, as pestanas a tremer de medo e a menina dos olhos a engrossar-se de receios. Mas convém dizer aqui que Mfumomanhanga Xkalibur é meu filho – vulgo Marco! Vim a casa dele passar o Natal e acabei por ficar até o fim de ano porque é neste dia último que fará seus 50 anos de idade. Bem! Quando começou a fazer parte da Kizomba dos mais-velhos foi-lhe dado esse nome que vem de m´fumo que quer dizer chefe e Manhanga que era a velha forma de se chamar a Maianga, sítio de nascentes com água boa para se beber lá na Luua. O grande problema gora é que ainda continua chefe de nada… enfim!...

avillez00.jpg Tomando banho com água bem quentinha, saída da serpentina, meio-dia mesmo, os pensamentos vieram assim procurar-me para dizer que minha vida me fazia escorregar só assim gordote, careca e tisnado nos contrafortes, mataco balofo e chocho, minha vida afinal não era mesmo como antigamente. Háca! Já não ia sempre nas farras nem kizombava meus merengues naquela banga swinguista kaluanda, mesmo nada, só mesmo deixar o tempo passar, comer e beber. Aiué menino Tonito naqueles tempos te conhecia logologo mas agora xiii, nem mesmo, só pensando, digo navegar os olhos naquele tempo de Lifune e cassoneira, botar fuba na água pra chamar peixinho dos cacussu, mesmo de fazer biala de zuza. Tu tás mesmo velho, patrão, diria agora o Chiquinho Pernambuco.

Pópilas! Nem sempre homem, nem sempre jovem, já mais velho, nos intervalos, aprendi a aprender, a ser grande. Hoje mesmo, vou-me ensinando a ser gente tomando aqui e acolá, por onde calha, o saber dos mais sábios para ficar esperto, dos amigos mais simples aos meus insuspeitos inimigos também. Já sem cabelo, rapo o que resta ainda mais curto até ficar zero que nem a monaliza e mão-na-liza. Li-me no espelho e fiz-me gaifonas vendo as rugas enquadradas num diferente tempo de pó de variadas espessuras, nem sempre alegres, nem sempre tristes, por vezes vaidosas. Vesti lãs frescas, despi-me de calor e desabotoei o único botão.

ano1.jpg Calcei pantufas quentes, ultima oferta de natal, pisei descalço os ladrilhos de verde esperança e azul-turquesa. Fui ao computador ocupar o tempo, escrever a mokanda, li poemas do Zeca e do Edu, reli baladas e muitas tretas de fazer caretas; ouvi cantigas, muitos gostos, li desaforos, coisas choradas, lamuriadas, cânticos gospel humedecidos, vídeos foleiros, alguns brejeiros e fui à China comer baratas. Verdade, mesmo! Ouvi as balelas vulgares do rolha presidente e a saída do Nuno da TAP, da desgovernamentação do Costa com Marcelo e Companhia  e, da tomada do Lula como presidente no Brasil…

Mas a confiança ficou periclitante com as demais noticias da Ucrânia, a morte do Pelé e também da Linda de Susa, uma cantora bem conhecida em Paris, a segunda cidade portuguesa, A confiança aui neste porém, tinha fugido mesmo no antigamente com os pássaros pírulas a continuar gritar assim como nos braços do imbondeiro gordo. Enaná ué-ué! Melhor ficar assim mesmo e falar com meus kambas nas falas de Bom Natal 22 e um 2023 com muita bangula. Ver amanhã da janela, o fogo dos artifícios e na TV o fogos do Funchal acima dos 18 graus centígrados.

ANO NOVO2.jpg Darei meus dez dedos de parabéns a meu filho Mfumomanhanga Xkalibur, vulgo Marco, não lembrarei o que queria e deixava de querer – cada qual é que vai saber, que  ele não esquecesse de bombar seus cinquenta anos com enxurradas de luz. Pra passar o tempo, comi bolinhas de suspiros, sonhos de abobora, gelado de sape-sape e tamarindo, mangaba só de pensamento! Sol malé! Ceu tapado de frio. Pensando no Chico Honório, meu cunhado que muito mal, está no hospital. Caté botei missangas de vida pra ele com magalas, malas e gente com galões mais brasões; comboio fumaça, vapor que apita, trópicos e equador.

Parti para outro e, mais outro e outro lugar, sem me encontrar. Teci-me na linha dum destino só meu. Criei a teoria do esquecimento, burilei-me nela e voei entre nuvens turbinadas de sucção, aspiração, compulsão e impulsão, vida de cão. No calor do tempo queimo cansaços, fracassos vazios, decepções e até solidões, também! Criei projectos, levantei paredes, agora nem quero saber, só mesmo comer! Depois de manha será outro dia e novo ano. Mais nada! Mungweno…

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 15:38
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Terça-feira, 27 de Dezembro de 2022
OT´CHIPULULU – I

Mau Olhado – Xicululu – Crónica 333512.11.2022Republicada  a 27.12.2022

- NUM ZUELA BURUNDANGA ASSIM SÓ NOS BAZA INSPIRAÇÃO AMI! Mokanda antiga do meu Kamba ZEKA MAMOEIRO da MAIANGA DA LUUA

Pormaianga do araujo.jpgT´Chingange (Otchingandji)

araujo189.jpg Kamba Kiami Ami Tonito! Tuas fala doeu nos meu Muxima: "ter virado intelectual das mulolas do katekero" que virou poeta no integralmente, quersedizer pirou no katotolo"!!! Kamba Kiami Ami! Te digo só no verdadeiro, estão nos quieto dos esteira das minha kubata! Ué! Mazé bwé descansam, nos recuperação dos gigler dos inspiração...!!!

Tambula conta! Lello faço essas mistura..., o quê? Ah!!! O Iogurte metido nos cabaça, com os painço e os massambala, tudotudo no n´guzo do pilão, assim de massemba, como nos chão riscado dos Marítimo de Loanda! N´ga! Sakidilá! Lagartinha Mopane, dos teu envio caixinha cartão dos Mu Ukulu!

araujo153.jpg Sim os teu milongo dos Lagartinha, os teus torresmo medicinal, que soeu dos meu medo, recusou bwé Matumbu!!! Te digo que foi os papel receita (acima) do Doutor dos Maria Pia, dos especialidade dos motricidade dos dieta com os cereal que pra soeu recomendou, por caso dos intestinos precisar romper os câmara d'ar, assim, num precisar sequer, os prego fininhos, que bota nos ar os quixotes de carnaval!

Intão, como é...! Xé! Como nesse mesmomesmo dia dos alegria de bwé estouro de cheirinho de bombinhas...,no corso patrício da uuabuama Marginal...

araujo62.jpgKATÉ MINGU – ZECA, na minha kubata

Explicação do Kamba T´Chingange: Faz tempo, mandei uma caixa de mopane (catato) para o Zeca que comprei no Zimbabwé. Era para ele matar saudades pantagruélicas da nossa terra de áfrica mas, sucede que ele ficou com muita cagufa de comer aquelas lagartinhas.

araujo145.jpg Vai daí, escreveu-me esta carta mokanda da qual só eu mesmo consigo interpretar… Mayanga ai-iu-é, que tanto berridei por esse tempo de paixão que enricou meu coração no uuabuama, chão colonial, disse ele. Desde esse tempo de miúdos candengues, assim vivemos coleccionando fugas com fisgas, como quando descalço, chutávamos a bola, trumunos de trapos no chão das barrocas, da mulola do Rio Seco, de quando subíamos na mulembeira a retirar visgo…

Ilustrações de Costa Araújo

O Soba T´Chingange 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 13:46
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Sexta-feira, 16 de Setembro de 2022
MISSOSSO . XLVII

COM FALA KALADO – NO KILOMBO DO ZUMBI

Crónica 324613ª de Várias Partes em Kizomba – 25.02.2022 em Pajuçara do Brasil; Republicada a 16.09.2022 para constar no Kimbo

Por Soba T´Chingange brasil.jpg T´Chingange – Na Pajuçara do Nordeste brasileiro e Lagoa do AlGharb, no M´Puto

Araujo002.jpg Em tempos andei curioso procurando toda a informação sobre esse tal escaravelho da Welwitschia Mirabilis pois sempre andei muito necessitado desses inventos para renovar toda a minha flora muito cheia de fungos e bitacaias escondidas em lugares tão recônditos que nem os médicos conseguem catrapiscar suas nuances de mutações biológicas.

Mas, também pensei na necessidade de melhorar o estado do meu amigo ex-Coronel FK das FAPLA, que saiu pela fronteira de Namacunde metido num caixão, mortinho da silva! Estes episódios já foram contados em crónicas anteriores e, não carece de as repetir (…) Sucede que, em acto continuo a ter falas com o Ex-Coronel FK, este mostrou-se doído de interessado e, após transmitir isto a ele, o FK, logologo contratou um conceituado investigador

dia85.jpg Pois assim foi! Contratou a preço de oiro um biólogo da Bulgária conceituado mundialmente de muito bom, com o nome de Andrey Blazhe para dar andamento na feitura do edifício-laboratório de investigação em genética e plástica de ADN. Creio que foi a ainda só amiga dele, Rita Fiuza que lhe deu todas as dicas quanto à escolha daquele conceituado investigador, biólogo …

Meu amigo cabra da peste FK, era de decisões ultra rápidas e, sem perder tempo montou em Petrolina às margens do rio São Francisco um laboratório com todo o equipamento de ponta, um investimento inimaginável naquele cú de mundo bem na margem do lago artificial de Sobradinho aonde se situa a Ilha da Fantasia… Só posteriormente, tive conhecimento disto; O Ex-Coronel das FAPLA era assim, usava de sofisma com astucia mantendo amigos e afins na penumbra do negócio, prática comum em seu Partido versos Governo da sua N´Gola.

koisan7.jpg Ele, o FK, tinha sempre em mente um plano base e, três alternativas com mais uma por-se-acaso: planos A,B,C e D – resquícios de sua antiga aptidão de matumbola (morto-vivo) que fez fortuna vendendo armas de última geração aos guerrilheiros do Morro de Rio de Janeiro e a gente do narcotráfico da Colômbia; estou falando isto de cor sem precisar nada, porque necessito dar paz à minha ideia sem ficar desagasalhado de alegria tal como um cão que consome raivas lambendo feridas alheias. 

Como teste, os desenvolvedores do projecto liderados pelo biologista investigador Andrey Blazhe fizeram uma orelha em impressora 3D e aplicaram as células, que formaram numa orelha animal. Vi isto ao vivo e a cores lá na Petrolina do Brasil, colada na lateral do meu amigo ex-Coronel FK – Fala Kalado com sua orelha parabólica no sistema de 5G. Poucas perguntas fiz acerca desta característica anatómica, pois que sempre me mantive coibido de grandes interrogações…

dia141.jpg Só sei e, por portas travessas que os estudos estão sendo realizados provisoriamente com células de ratos e que, os resultados são bem animadores na feitura de outros órgãos humanos. Fixe! Acerca dos besouros extraídos da Welwitschia Mirabilis lá terei de escarafunchar para saber bem a fundo seus segredos, agora na qualidade de Zelador-Mor da Fundação Zumbi de N´Gola…

Eu só estava ciente destes avanços científicos através da feitura de vinho nas vendas do Morais, do Hernâni, do Baia ou do Rente Cruz da Maianga lá na antiga minha cidade, bairro da Maianga, lugares extintos da Luua e, aonde da água do Bengo faziam vinho de qualidade do tipo “extra Camilo Alves” - vendiam esse milongo a granel sim senhor! Faziam vinho da água e permutavam alegrias em melancolias de cat´chipemba e, que agora só são recordadas para fortalecer os corações da gente…

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 19:44
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Domingo, 15 de Agosto de 2021
KWANGIADES . XXXV

MOKANDA DO ZECA - NO MEU ANTIGAMENTE DA VIDA – Tou magrinho, bué triste nos loando muxima iami... já não posso ir na jihenda da Malta do Cú Tapado - Crónica 3180 (do Kimbo) - 13.08.2021Sexta Feira ... Kwangiades: - Derivado das musas do kwanza

ZECA MAMOEIRO.jpg

As escolas da kizomba   kimbo 0.jpgCom Jose Santos AGO 2021

TONITO UUABA! Aiué k Mano ué! A Jihenda tua é brasa de fogareiro de mama..., e pousado no meu kintal do uuabuama lugar do Rio Seco da Maianga! Tuas FALAS mexe comigo e sacode o meu salalé...! Eu, ando nos desgosto Mptukp pessoa trato dos cautela sekulu uafo ué átoa...! Nos passado dos tempo já bwé passado dos feitiço Malamba..., Le perdi os meu jeito nas minha fala e tenho andado nas minha fugas pelas barrocas..., por causa do ximba do kissonde...!

Tou magrinho, bwé triste nos loando muxima iami..., os xipala tem dentro andorinha que faz ninho, os auditório tem tugi reco-reco que não descansa e o tugi é finório..., os meu mano cristalino bwé catrapisca caté parece os pala catrapisca dos antigo VW no beulando pela Mutamba no galar os kilumba dos destino Maximba 3 para os Choupal..., dos mwadié cafezeiros e dos biacos controladores, dos mambo..., de copos de Sbell e de pratinhos de alumínio com jinguba.

zeca02.jpeg Tou proibido de comer atoa kifufutila por causa do coisa Colocolo... Só sopinha da horta do Miguel das Barbas feita na hora de "tasquinha" e peixinho; matona, cacusso, tainha..., e na chapa quente..., e, que nadam num encurralado de celha gigante de misturinha alimento que faz crescer atoa sem N´denge..., e, lellu, caro pra xuxu..., Tu vê só, agora os esperto dos merceeiro licenciado, que lellu pula-pula na berrida e também nos termo dos macroeconomia...

Quando nos Mu Ukulu num queria de saber katé bem dormia..., no colchão de espiga de milho, tinha chevrollet cheia dos atrozes e, agora t´xé tudo como manda a sapatilha...colchão Pikolin..., bruto jeep com tracção bwé decores e para passar por covas e subir picadas..., no lugar de pesca de truta, tordos arraçados e galinhas virgens de mato..., e, agora que acorda muito cedo por caso de aulas e bem nos distancia inventado pelo pula dos confinsna...

zeca01.jpeg Então, catravês ele aprende os orçamento, os despesa os lucro os ponto de equilíbrio satisfação dos budget, que no analisar, se tudo cobre bem e dá pra ajudar os economia, mas tabuada dos nove muito falha os resultado, os regra dos três dos simples, os equação dos segundo grau que dá bwé comichão... Ah! Não tambulakanta, muito embirra com os leitura dos estatística...

Os percentage dos curva sobe e desce, que diz que parece a linha, que vem do Bungo para a cidade Alta do uuabuama da Luua mesmo e, saudoso kurikutela... A tua prosa, o teu missosso é escola, é cultura..., e já tão longa...A tua obediência, o teu prazer diário de divulgar e levar até nós é extraordinário..., e que lá de cima do algodão N´Zambi te abençoe... Katé meu k mano e te acautela do tugi...tu e a IBib...

Araujo194.jpg Ximbicando n´dongu nos cânticos de bela kianda feita kapota, logologo no camenemene do Baleizão e, sob o olhar das palmeiras da Marginal, eu axiluanda como no tempo dos mafulos, dei com o sonho na praia de Loanda…! Aquele lugar que consolava o meu kituku de dilulu; minha kalunga. FUI!

:::GLOSSÁRIO: Atu/mutu - pessoas/a; Axiluanda - antigos pescadores de Loanda; Berridavam - fugiam; Dilulu - de sabor amargo; Kalunga - mar; Kapiango – roubo; Kianda - sereia; Kituku - mistério; Kúkia – sol nascente; N« dandu – parente; N´dongu - canoa; Ngana NZambi - Senhor, Deus; Malembelembe - muito devagar, com cautela; Mafulos - Holandeses; Mayanga - Maianga, um dos bairros antigos de Loanda; Trumunu - jogo de bola de trapos; Undenge ami um moamba - minha infância de moamba; Uuabuama - maravilhoso Kuatiça o ngoma! – Toquem os tambores; mafulos – holandeses; Ximbicar – remar com bordão; Kapota – galinha do mato; kurikutela – comboio vagaroso;k mano – mano do coração; Tambulakonta – toma atenção, cuidado; Um Ukulu – Do antigamente; Baleizão – gelado, picolé; Pikolin – Colchão de molas;matona – peixe da bahia da Luua; Luua – Diminutivo de Luanda;  Colocolo – Corona Virus; kifufutila ou kafufutila – perdigotos ao comer e falar ao mesmo tempo; Sbell – Wisky da Catumbela, cachaça; tugi – merda; maxima – autocarro, bus, machimbombo; Choupal – Cabaré, can-can, Bataklan; Xipala, T´Xipala – foto; Jihenda – luta , labuta; seculo – mais velho, idoso; Mtukp – M´Puto k pariu, Portugal; mwadié – brango, goeta, xindere (perjorativo);uafo – morte, morreu; Malamba – palavra; átoa – de qualquer maneira; Kissonde – formiga grande; ximba – bicho; beulando – passeandoo abandono…

ZECA 20210808



PUBLICADO POR kimbolagoa às 10:08
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Quinta-feira, 5 de Agosto de 2021
MOKANDA DO SOBA . CLXXVI

ANGOLA DA LIBERTAÇÃO - XIII

- A INDEPENDÊNCIA DIVIDIDA… Crónica 3174 05.08.2021

-Na libertação e independência de uma terra que pensava também ser minha, mesmo não sendo “preto”… Afinal, não o era e, continuo “branco”… “A guerra, que matou e estropiou tantos, alimentou um punhado de pessoas, que se tornaram insultuosamente ricas e prepotentes”

guerri3.jpg

Por   soba15.jpg T´Chingange, no AlGharb do M´Puto

Em Abril de 1975 Jomo Keniata organiza a Cimeira de Nakuru no Quénia, na qual a UNITA, MPLA e FNLA acordam na formação de um exército nacional único. Neste mesmo mês Savimbi chega a Luanda. Cerca de dois meses depois, o MPLA destrói um quartel da UNITA na capital., chacinando militares e civis ali bivacados – este episódio ficou conhecido por “MASSACRE DO PICA-PAU”, nome do bairro que albergou o quartel. Definitivamente o MPLA, pelas ordens de Rosa Coutinho, o cunhado de Agostinho Neto, não queria nenhum dos outros Movimentos intervenientes no “ACORDO DE ALVOR” em Luanda. Eu direi que este foi o mais escandaloso “DESACORDO” na estória recente que envolve países dos PALOPS.

picapau1.jpg Em Julho de 1975, começa a batalha pelo controlo de Luanda. MPLA e FNLA envolvem-se em violentos confrontos que originam a expulsão dos homens de Holden Roberto da capital, muitos deles zairenses com fardas do ELNA. O MPLA com ajuda das “NT - Nossas tropas - Tugas”, em logística e armas, utiliza todos os meios para combater a FNLA, incluindo a calúnia e mentiras absurdamente irreais como chamar antropófagos aos militares deste movimento. Vísceras supostamente retiradas das casas dos dirigentes da FNLA foram exibidas…

Coisa mais macabra, até parece mentira e, decerto não virá nos anais da estória contada por medíocres historiadores da praça Lusa. Assaltaram o Laboratório do Instituto de Medicina Legal de Luanda para retirar órgãos humanos e propagandearem a seguir em muitos posters, que a FNLA era um bando de antropófagos, que comiam fígados e corações de gente – Uns canibais, afirmavam eles! A médica responsável pelo Laboratório deu à língua e, misteriosamente desapareceu. Algum tempo depois foi encontrado um cadáver feminino calcinado pela cal, possivelmente o seu. Tudo valia para lançar o terror e, principalmente à população branca… Naqueles tempos da Luua, todos faziam o que lhe dava na gana com a “Kalash” na mão, saltando no tempo do tempo…

picapau6.jpg Sem definir datas ou horas exactas com gente impreparada e, miúdos “pioneiros” faziam querer tomar o controlo de tudo e, por modos de provocar a fuga de brancos e assimilados, mazombos como eu… A lei, a ordem, a justiça eram coisas quase inexistentes ou anedóticas pela pior das negativas… Um retrocesso ao tribalismo com todas as nuances, tudo muito carregado de misticismo e crenças de quimbandas ou sobas analfabetos e sem o mínimo de preparação para gerir o que quer que fosse.

Melo Antunes, Mário Soares e outros encarnados na vermelhidão, decerto lá nos areópagos internacionais, não dissertavam conversas destas com Kissinger porque para estes, tanto se lhe dava que fosse assim ou assado, logo que tivessem o controlo do ouro negro – o petróleo já a sair pelo tubo ladrão da Golf Oil Americana. Alguns de nós, manietados de todo, a tudo assistíamos martelando caixotes, rilhando o dente sem mais poder fazer, pois nossos magalas do M´Puto ajudavam as hordas de pseudo-revolucionários e, até ajudavam a pilhar nossas casas. Foram vistos e filmados nas avenidas Brasil e Combatentes a roubarem em dia claro…

picapau8.jpg Já não havia médicos em Luanda, eram escassos ou desactivados. Os géneros de primeira necessidade faltavam. Os assaltos a armazéns eram constantes e as cadeias de abastecimento não funcionavam – Era a candonga a funcionar. As filas nas padarias eram formadas a partir da uma da manha com sapatos, tijolos e marcas indicadoras de tal e tal pessoa. Um troca-me isto por aquilo e as bolachas num repentemente desapareceram, tal como a farinha e compotas – permutas de tudo o imaginário, uns roubados outros esticados daqui e dali formando um esquema nunca pensado. O bivalve chamado de mabanga, só usado para isca de pesca, passou a ser comido com arroz; a fome era negra… Num repente rebentava aqui e ali no meio dos bairros citadinos granadas de morteiro. Via-se o levantar de pó, terra e trastes, sei lá mais o quê!?

Um aiué; salve-nos Nossa Senhora da Muxima que os homens andam loucos, embalando corotos, fazendo caixotes, fazendo de carregadores, fazendo a estiva no porto de luanda e candongando coisas e pedras chamadas de feijão branco como salvaguarda, um aí Jesus que isto, como vai ser e, davam voltas em si mesmo ate tontear, para esmoer a fúria. As “NT -Nossas tropas” tinham ordens para ajudar na desordem! A raiva subia-nos em vapores com cheiros inexplicáveis…Era o medo, tal como tinha sido previsto pelo pai do terror chamado de Rosa Coutinho…

negro3.jpg E, quanto aos novos supostos dirigentes tinhamos muitos receios. Dos três líderes nacionalistas, era Savimbi o mais inteligente, o mais hábil e o mais forte politicamente para uns; também para mim – também o mais conotado com os militares portugueses no antes da Abrilada. O Agostinho Neto, cunhado do Rosa Coutinho era um desclassificado poeta, umas merdas escolhido para ser o chefe da nação. Os políticos da nova vaga vermelhusca do PREC não se cansavam de repetir isto e aquilo sobre Jonas Savimbi e sua colaboração com os militares antes do “vinticinco” de 74.

Para o MPLA, era incontestavelmente seu líder Agostinho Neto, um medíocre poeta com formação universitária em Coimbra – O homem escolhido pelos generais e afins do MFA (Dizem agora, ter sido o menos mau!). Quanto a Holdem Roberto não tinha solida formação política, era um fraco e facilmente corrompido; dependia de Mobutu e dos americanos de uma forma sorrateira mas sobejamente conhecida e, rastejante! Nos muitos dias insólitos daqueles tempos, na meditação actual, encontro factos mágicos na revisão de amigos que me fazem medir o tempo com quartilhos e rasas como se feijões o fossem. A UNITA também se retira de Luanda para o Huambo, antiga Nova lisboa. O MPLA fica dono e senhor da capital, a Luua.

gurra10.jpg Em Outubro de 1975, desembarcam supostamente os primeiros cubanos que passam  apoiar o MPLA contra a FNLA tal como o combinado entre Fidel de Castro e Otelo Saraiva de Carvalho, o pseudo-herói do VINTICINCO de Abril, conhecido como a rebelião dos capitães. Diz-se que já havia em Angola e Congo Brazaville cubanos em treinamento para ultimar sua entrada em Angola antes do 11 de Novembro. Esta força foi em ajuda ao MPLA contra a FNLA; esta força que avançava para tomar Luanda, uma coluna na qual se incluíam mercenários de várias nacionalidades, portuguesas incluídas tal como Santos e Castro um oficial superior; também havia um elevado número de zairenses - sete ingleses, dois americanos, um cipriota, um escocês e um sul-africano são feitos prisioneiros e num julgamento sumário, mais tarde, foram fuzilados…

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 06:37
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Terça-feira, 3 de Agosto de 2021
MOKANDA DO SOBA . CLXXV

ANGOLA – DA LIBERTAÇÃO À INDEPENDÊNCIAXII

INDEPÊNDÊNCIA DIVIDIDA Crónica 3172- 31.07.2021 - Na libertação e independência de uma terra que pensava também ser minha, mesmo não sendo “preto”… Afinal, não o era e, continuo “branco”…

fiat1.jpg

Por   soba k.jpgT´Chingange, no AlGharb do M´Puto

A “Ponte LuuaLix” tem a participação de varias companhias de aviação tais como a soviética Aeroflot que se dispuseram a retirar um grande número de gente que até ali, só atrapalhava as directivas do MPLA. A criação do Quadro Geral de Adidos na Metrópole - Lisboa, veio acelerar o processo de escoar este elevado número de gente que detinha o controlo da Administração; tudo pensado para provocar a debandada. Era forçoso retirar os brancos pois seus lugares de direcção, teriam de ser ocupados pelos novos senhores. “Branco vai para a tua terra” era o que mais se podia ouvir, nas ruas, nas escolas e aonde quer que o fosse e se estivesse…

fotografo1.jpgEnquanto o controlo de Luanda se fazia ouvir pelo crepitar das armas, “desperdiçando” milhares de balas tracejantes para o ar, com o intuito claro de amedrontar a população acossada por comunicados das rádios ao serviço do MPLA, em Nova Iorque, o ex-agente da CIA Philipe Agee e o jornalista Steve Weisman, denunciam que a “Central” destinara 32 milhões de dólares “para apoiar o anticomunismo em Angola”. Os primeiros cubanos desembarcam no “país”. Uma coluna da FNLA, com mercenários e seus guerrilheiros, é derrotada às portas de Luanda.

Sul-africanos praticam a primeira invasão da Província do Cunene. A UNITA inicia a fuga para Sudeste. A República do Zaire invade o Enclave de Cabinda. O futuro estava terrivelmente comprometido. A 11 de Novembro festejam-se as duas independências no país que Portugal colonizou por quatro séculos, mas de onde nunca retirou o grosso da fatia das suas riquezas. O MPLA proclamou a República Popular de Angola em Luanda e, a UNITA e FNLA uniram-se no projecto da República Democrática de Angola, que veio a falhar. Antes de se falar da Batalha de Luanda, vai aqui recordar-se de forma breve a estória a partir de 18 de Junho do ano de 1974.

fuga6.jpg Nessa data, Silvino Silvério Marques é nomeado governador de Angola. Cerca de um mês depois, é substituído por Roa Coutinho, como Alto-Comissário. O “almirante vermelho” foi exonerado em Janeiro de 1975, sob pressão da UNITA e da FNLA, que o acusavam de beneficiar o MPLA. Neste meio tempo Rosa Coutinho traçou toda a trajectória para o MPLA alcançar a victória; foi ele o mestre das políticas que se seguiriam fornecendo àquele movimento todo o tipo de armas armazenadas nos paióis, mais logística e facilidades consideradas de “traição à pátria mãe” e aos outros dois movimentos que faziam parte do famigerado “Acordo de Alvor”.

A 27 de Julho de 1974, em Lisboa, Spínola reconheceu “o direito à independência dos territórios africanos”. Entretanto Joaquim Pinto de Andrade, fundador e presidente de honra do MPLA, adere à “Revolta Activa”. O Congresso, que visava a união das três facções do MPLA, fracassa. A caminhar muito rápido para a Batalha de Luanda, em Janeiro de 1975, dão-se três acontecimentos, a saber: Cimeira de Mombaça, Quénia, onde o MPLA, FNLA e UNITA acordam no reconhecimento mútuo; Acordos de Alvor que fixam a datam da independência para 11 de Novembro do mesmo ano; tomada de posse do Governo de Transição quadripartidário.

fuga8.jpg Em Fevereiro de 1975, a facção Agostinho Neto, dissidente do MPLA, expulsa de Luanda os membros da “Revolta do Leste”. Daniel Chipenda, seu presidente, vê-se forçado a aderir à FNLA. Pela primeira vez, entra em acção apoiando Neto, o “Pode Popular” uma criação do sempre presente Rosa Coutinho que, mais tarde é constituído na ODP – Organização de Defesa Popular, uma cópia politizada à esquerda, constituída por civis, OPV – Organização Provincial de Voluntários, de civis enquadrados por oficiais do Exército e que, na prática, funcionava nos territórios ultramarinos como uma milícia de defesa. Esta criação engloba os “pioneiros” enquadrados por guedelhudos do M´Puto que lhes dão treinos com armas de madeira a fingir metralhadoras.

Em Kampala, o presidente da OUA, idi Amim, insistia para que a data da independência fosse mantida sendo Portugal a responsabilizar os nacionalistas por um não acordo. O Secretário-geral da UNITA presente à conferência acusou as FAP de não se oporem à entrada de armamento e mercenários a ajudarem o MPLA no Lobito, Sá da Bandeira e Pereira D´Eça. Em Pereira D´Eça o comandante português entregou o aquartelamento a elementos do MPLA tendo-os vestido com camuflados do exército português, uma clara desobediência e afronta por ser esta região afecta à UNITA.

fuga7.jpg Este procedimento foi de uma nítida e grosseira degradação moral para as autoridades portuguesas. Manuel Resende Ferreira disse neste então: -Ainda havia esperança e soldados que não nos abandonavam. Referia-se ao Tenente Fernando Paulo e alguns dos seus homens que resolveram desobedecer ao comando para protegerem um grupo de refugiados no Chitado. Para o efeito criaram ali uma zona de segurança. São estes os heróis esquecidos, soldados de Portugal que abandonam o exército comunista Português para protegerem cidadãos e, lutar contra a anarquia comunista. E, que foi feito do Tenente Fernando Paulo?

As feras foram largadas das jaulas com a lei 7 barra 74 do MFA. A Luua eclipsava-se! Tarde piaste! E, agora vamos fazer o quê para o M´Puto? As NT - Nossas Tropas já não eram nossas. Davam cunhetes, canhões e até carros de combate numa perfeita cooperação de entreajuda FAP- FAPLA mandando prólixo os acordos de Alvor, da Penina… O MPLA tendo como mentor Rosa Coutinho, na Luua inventava a maka! Inventava os pioneiros! Depois o Poder Popular! E surgiu o Kaporroto, o kuduro e a victória é certa. Eles já tinham inventado o monstro Imortal, o Valodia e o Monacaxito…

gad2.jpg As makas organizadas com o objectivo de criar o caos, originar pancadaria e depois a vitimização já tinham características de sofisticada mentira; meter tudo no barulho, pressionar psicologicamente e criar condições de favorecimento por parte dos militares do MFA, as NT, o CCPA – Comissão de Coordenação do Programa do MFA e o Alto-Comissário…Já se fazia tudo às claras. Em um encontro de Melo Antunes com Henry Kissinger, aquele responsável português e a pedido do Secretário Americano disse que era difícil de lidar com Neto; que era difícil de o classificar politicamente como um comunista ortodoxo! À coisa dada (Angola) teve a desfaçatez de dizer que a liberdade, não se recebe, arranca-se! Com estes laivos de poeta, Neto, dava dicas torpes de mau agradecimento aos militares revolucionários do M´Puto. Bem feito, cambada! Alguns não gostaram…

(Continua…)

O Soba T´Chingange   



PUBLICADO POR kimbolagoa às 06:50
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Sexta-feira, 30 de Julho de 2021
CAZUMBI . LXVII

MOKANDA DA LUUA – Luanda do Mu Ukulu, era uma vez . I de IV

A realidade da Luanda actual. Crónica 3171 – 30 de Julho de 2021

Mu Ukulu02.jpeg

kimbo 0.jpgAS ESCOLHAS DO KIMBO

Publicado a 5 de Outubro de 2019… Fonte Jornal de Angola

Ao domingo, entre o largo do Baleizão e a Lello, a avenida Rainha N´jinga, antiga avenida dos Restauradores, transforma-se numa pista. Apesar da sua proximidade com a principal esquadra da Polícia Nacional, a larga via não é patrulhada nem possui qualquer sinalética horizontal, num vasto percurso, nem passadeiras para peões. Quando cai a noite, um grande troço mergulha na escuridão por ausência de iluminação pública, mas ao lado do degradado e agora entaipado Baleizão a iluminação funciona sempre em quatro postes, dia e noite. No lado oposto, há troços sem iluminação, que só surge lá no fundo, nas imediações da empresa francesa Total. Não é raro ver-se, aos domingos, carros e motorizadas a alta velocidade e jovens a patinar nas faixas, tudo num zigue-zague despido de temor no meio de centenas ou milhares de jovens que vão ou vêm da Ilha a pé e passam rapidamente pela “cidade” ao encontro dos seus bairros.

Mu Ukulu52.jpg É a rua que liga a Fortaleza de S. Miguel, hoje Museu Militar, e anfitriã do centro comercial Fortaleza, ao centro da cidade. A encosta da fortaleza já foi poiso de macacos nos tempos idos do colonialismo e a rua que a circunda lugar de namoro romântico. O centro de Luanda onde imperam os altaneiros e novéis prédios da Sonangol, em vias de ser privatizada, a antiga livraria Lello, hoje fantasmagórica, o largo da Portugália, onde os portugueses faziam câmbio paralelo, com as suas duas árvores-avós, o prédio da Biker - ainda com alguns serviços, como a Foto N´gufo, e com um “restaurante típico", fechado com chapas e onde ratos e insectos convivem com o povo real que aí almoça por mil kwanzas, num ambiente “apocalíptico” -, que já albergou mesas de snooker e ambiente de tertúlia de jornalistas, outros tempos, pré-históricos, de que não restam escritos. Ali ao lado destruíram o largo e edificaram dois blocos de vidro com dezenas de andares, onde trabalha uma classe burocrática nacional-expatriada.

Mu Ukulu46.jpg Mas a grande avenida não se detém, na esquina onde era a Sonylândia e hoje é um banco, estreita-se, a Moviflor portuguesa substituiu o luxuoso Quintas & Irmão, cujo dono permaneceu na Independência, mas viu a sua casa ocupada ilegalmente, e o fundo da rua desemboca no Eixo-Viário, uma obra feita pelo colonialismo português, que liga o Kinaxixi à Marginal e ao Miramar, hoje quase toda castanha e sem verdura, com iluminação aqui e ali. As árvores começaram a ser arrancadas em 1975, quando começou a faltar o carvão para cozinhar, e o Largo do Ambiente é frio, nada acolhedor, quase escuro e sem presença humana. Eixo-Viário do antigo Benfica de Luanda do Victorino Cunha, onde os portugueses plantaram verdura nas barrocas e a Independência construiu arranha-céus da Sonangol e de outras empresas estatais majestáticas.

Mu Ukulu49.jpg Os abandonados e degradados edifícios coloniais, com janelas com persianas, são na maioria “fantasmas” mudos e quietos, desafiando o futuro da capital. Um mundo novo. Os colonos foram embora e o Estado tomou conta das suas propriedades, expropriou e começou a vender a si próprio ao desbarato. Os elevadores foram destruídos e transformados em contentores de lixo, os corrimãos das escadas desapareceram, divisões e mais divisões foram construídas sem qualquer plano ou segurança para albergar familiares vindos dos bairros e do mundo rural, nada oferecido, tudo pago. Os quintais foram apropriados por quem chegou primeiro e transformados em autênticas “pensões residenciais” surreais, com divisões precárias e sujas alugadas a bom preço, 40-50 mil kwanzas mensais, porque estão na cidade e Luanda é a cidade mais cara do mundo.

Os quintais, ou melhor, os cubículos mukifos, também são alugados ao dia às zungueiras para guardarem as mercadorias que não conseguem carregar para os seus casebres nos bairros. Mas não só, os quintais são pontos de grande tráfego comercial, sobretudo, de bebidas alcoólicas, quem os detém há mais tempo usufrui de tudo o que pode acrescentar dinheiro sem muito trabalho. Os terraços não existem. Em seu lugar surgiu uma miríade de cubículos, muitos de chapa, sem água e quase sempre com luz puxada de gatos e paga mensalmente a alguém, alugados por quem chegou primeiro ao prédio e se diz “dono”. O luandense é manso. Quando lhe falam “o dono”, se cala, se ajoelha, submisso, e paga, mesmo que o dinheiro não seja o seu, e depois diz em voz baixa “está mal”.

Mu Ukulu51.jpg Sem árvores… Só se encontram árvores com troncos muito grossos, sinal de longa vida, árvores coloniais, no Largo do Atlético, hoje largo sem nome definido, mas que 44 anos após a proclamação da Independência continua a celebrar a batalha de Ambuíla, que ditou a perda da soberania do Reino do Congo e a decapitação do rei, cuja cabeça foi transportada para a ermida da Nazaré, na Marginal, que este ano comemora 355 anos. Um largo agora fechado e em obras sem prazo. As vendedoras dizem-me que passou para a propriedade do banco BCI, "se apropriaram", diz-me um jovem que todos os dias me pede dinheiro para comer.

(Continua…)

O Soba T´Chingange (o relator)



PUBLICADO POR kimbolagoa às 14:20
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Quinta-feira, 7 de Janeiro de 2021
MOKANDA DO SOBA . CLIX

MEUS KITUCUS (mistérios) … O FUTURO é uma batata com dois fios nela espetados dando musica através de auriculares espetados nas orelhas via FM ou 5G…  

Não sei se voltarei a passear nas ruas da Luua (Luanda)... Crónica 3098 – 07.01.2021

Por

soba0.jpeg T´Chingange - (Ot´chingandji) - No Sul do M´Puto – Barlavento algarvio

luanda6.jpg Não sei se voltarei a passar nas ruas da Luua que me viram crescer porque, também minha passada irá entristecer na recordação, do que foi e já não o é e, porque também nenhuma segurança terei sobre tudo e sobre coisa nenhuma que preside aos tempos de agora  que por dá cá aquela palha, se ateia a mente queimando os fusíveis do curral e dos coiros. Lembrar o tempo em que presumivelmente - o fui, feliz, desleixando-me na compreensão das muitas infelicidades alheias.

Embarquei para o M´Puto sem o querer, pela inquieta, medonha ou desolada guerra do tundamunjila. A terra do futuro ficou adiadamente tardia na vontade, nos feitos e trejeitos, adaptando-me aos frios, sarando a ferida interior com pústulas feitas vulcões, comendo uma sandes na “Tendinha” de Lisboa do Rossio, um panado ou posta de bacalhau e um penalti (um copo de vinho tinto) enquanto me inteirava de notícias chegadas da Luua e de Angola em geral…

maianga0.jpg A terra do futuro ficou adiada sarando-me nas crostas de novas feridas por via duma guerra demasiado esticada; o futuro já não mais seria ali. Ele, o futuro foi ficando encrustado nessas cascas de ferida, cicatrizes, um misto de bactérias e ou vírus permutando-se nos entrelaçados de infecções encrespadas em mutações e acordos ora capitalistas, ora comunistas com senda de regras cada vez mais internacionalistas e tratados imcompridos...

Neste discorrer eu, ia virando caruncho de farinha atrofiado nas evidências e, sem direito a suspiro. Aquele pedaço de tempo exigia um modo de sobrevivência numa sociedade de um salve-se quem puder e, usando uma indigência com coisas esdrúxulas. Nessas vindas da ponte aérea “LuuaLix” todos os dias iam chegando refugiados envoltos em um enorme vazio! Com isto fomos todos obrigados a ganhar consciência sábia de entender o VAZIO da verdade – o VAZIO das pessoas!

luua16.jpg Passando por Lisboa até Istambul e no lugar aonde Judas perdeu as botas, soprava (ainda sopra) um vento descuidado a indicar-nos que a tal “idade do ouro com segurança” e qualidade de vida tinha desfalecido. A Haga Sophia da antiga Constantinopla também se tornaria numa vulgar mesquita com emparedados mosaicos bizantinos a dar-nos conta que o Mundo era um sítio em permanente convulsão.

E, lá, aonde até o rosto esguio, macilento de Nosso Senhor fora tapado pelo barro com cal originando o cafelo denunciador de que ali, aonde oravam a Cristo o Messias, era agora aonde se curvavam a Alá… E, de um dia para o outro, nosso futuro, viajando-se de um para outo continente, de uma e outra cidade, tudo fica trancado, trancafiado, parado paradinho, de mãos lavadas e até os pés varridos de poeiras alheias, de um quarto em quarto de horas para eliminar uma praga invisível.   

luanda1.jpg Assim, limpo e escovado, experimento comprimidos roscofes saídos de latas de formicidas, coisas arsénicas e creolinas numa empreitada de me manter imune e, o maldito do bicho ruim não me reconhecer na exactidão. Consoante a pessoa se ri, a gente (nós) se acha de voltar aos passados escolhendo as peripécias avaliáveis porque, viver assim entalado entre um era num era, viver, fica um descuido prosseguido. Pelo sim pelo não, também tenho umas bolachas amarelas de quinino para entorpecer as abelhudices, rejuvenescendo em mim este malvado “tempo de ir e vamos”…

acácia rubra3.jpeg Hoje em dia, já nem me queixo do passado com missangas da Luua porque o futuro vive repetindo o repetido e assim escorregadio sem conseguir tirar sombra dos buracos não há margem para remorder remorsos. Assim entrançado com espinhos e restolho, todo o dia de pijama, relembro o tal velho coronel, senhor também fardado com um pijama às riscas, sentado num sofá de orelhas, pele de boi já muito encardida, esfolada, olhando para o infinito, babando-se pelo canto esquerdo descaído, todo enfolipado lá na Luua, Rua Vintoito de Maio da Maianga…

O velho oficial estrelado, insensível ao cérebro abanado por uma trombose, com a lentidão das coisas graves e titubeadas com muxoxos, parece que fala – Hum, pois, não sabe; a kalashnikov, os turras, a febre do poder… E, na febre da maresia, eram bolas de trapos, meias surripiadas do pai a cheirar a sulfato de peúga! Mas, o que é que tem a ver o cú com as calças? Estão a ver o filme? É isso mesmo: Ache que não ache, toda a saudade é uma espécie de velhice…

Nota: Publicada em KIZOMBA do FB em 04.01.2021

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 14:26
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Sexta-feira, 4 de Dezembro de 2020
XICULULU . CXXIX

NOVOS AMIGOS - Ando encafifado com uma máquina de fazer “alegria” chamada de Ximbica*

Crónica 3088 – 04.12.2020

Por

soba0.jpegT´Chingange - No M´Puto

relogio sem.jpg “Tudo é tudo, nada é nada”; “quatro ou quatro e meio, não chega a cinco” tal como o vinticinco de Abril não foi como o vinticinco de Novembro do M´Puto. É difícil haver consenso do que fazemos individualmente tal como o é para um Estado ser decente. Se não houver transparência, a corrupção superará as normas de bom entendimento e neste mistério de encobrir o nevoeiro com cacimbo, os socialistas têm-se revelado muito bons na matéria.

ximbica.jpg Mas, se a politica nos separa, não se fala mais nisso, melhor será passarmos ao futebol do Benfica ou falamos de Madre Tereza de Calcutá porque entre piadas e amuos sempre iremos revigorar os percursos no sentido ou ao contrário dos ponteiros do relógio. Pois assim terá que o ser porque é impossível dar uma definição da alma, pois que esta, não é uma entidade concreta mas, abstracta.

ximbica01.jpg Não é matéria, é energia - mas também não é energia física. É energia divina, um pedacinho de um qualquer deus dentro de nós. Sufragando os doces reis e rainhas dum ano que quase finda, próximo das passas dum ano novo que chega, é sempre emocionante ler as mokandas de amigos mesmo que tenham nomes estranhos como Lusakidilu e, de falas genuínas, kamba duma Luua com um Rio Seco a que eu chamo de “mulola” porque só ali passa água quando chove!

Dum Rio que só o é na lembrança antiga que se quer sem fungos nem cacos velhos ou águas saponáceas a fazer desenhos entre as mais escuras, saídas dos tubos ladrões. Posso acrescentar que o último protótipo dessa máquina é parecido com uma foice a sobrepor uma catana! No fundo vermelho e roda dentada, pode ler-se a marca dela: Ximbica…

araujo119.jpg E ximbicar é assim: - Tu pegas no bordão, atiras canoa na água, entras e encostas a ponta do pau no fundo do mar kalunga, fazes força e, a canoa anda. Depois continua - Ah! Quersedizer, tu remas - Ué! Remas!? Essa palavra ainda não sei? Não me disseste dela! Eu, ximbico a canoa. T´aprendeste, munanga?

Aprendi, sim, ando ximbicando pela vida muito no lentamente, trabalhando músculos desconhecidos, que não fazem parte da anatomia, Eu e Lusakidilu ficamos amigos, trocando bordões por novas palavras. O mar, gentil, a calunga, pôs jeito no nosso ximbicar; aprendi, sim, ando ximbicando pela vida disse-me ele na última mokanda via Facebook. Um amigo tem sempre missangas para enviar, assim o queira, por apitos ou estalidos ou mesmo muxoxos com ou sem cacimbo ou trovoada de chuva grossa! A tal máquina…

Notas: Ximbica*: Rema; Luua: Luanda; M´Puto: Portugal; Kamba: Amigo; Kalunga, mar e seus mistérios ou kitucus…

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 16:55
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Quarta-feira, 8 de Julho de 2020
MAIANGA . XXIII
“TAMBULA CONTA” com falas antigas
- ZECA FOI NOS POEIRA … Ontem mesmo telefonou! Anda confusionado – 05.07.2020
As falas do ZÈ SANTOS MAMOEIRO, têem um reco-reco; Senhor dum Ford V8 tem balanço de DKV...
. Crónica 3038
Por 

tonito 20.jpgT´Chingange - No Sul do M´Puto

zeca00.jpgZeca, José Santos - No Mukifo dos M´Puto

zeca01.jpegDisse a ele na primeiríssima pessoa: Tu, Zeca, surpreendes-me irradiando uma sabedoria e compreensão desconhecidas. Tens a liberdade no coração, na mente e no espírito e, eu vou utilizar tuas malambas, tuas falas para manter N´zambi nosso Mwata. Catravês, assim mesmo nos conformes - Tambula: Topei, delirei, sonhei…“UM SONHO ESTRIDULADO… na tua N´janena ”, mas fui apanhado na rusga sem documentos. O tuje do cipaio levou-me na pildra e a mukanda que tinha para o meu kamba, o mundele m´Fumo M´bika sundiameno mesmo, chefe, tirou! Filho da caixa, mesmo…

E, disse-me que conhecia um soba com o teu nome na libata de Nambuangongo. Abri o meu Samsung para mostrar os meus documentos, mas o tuje do chefe besugo disse: ”Só te liberto com os papel na mão, esse mambo dos tecnológicos dos computador, é mambo dos filme dos Ovni, num tem a impressão digital tirada nos tinta preto nos covinha no BI do Palácio da Cidade Alta.

caricocos.jpg Também mostrei o meu cartão de residência da polícia da esquadra da rua Comte Correia da Silva, mas logo berrou, caté os mabuje do peito dele saltaram, dizendo que não era eu, esses mambo há muito caducou quando a bandeira dançou no novo mastro feito de chinguiço das Mabubas… Eu, bué implorei, até mostrei maço de AC, mas ele recusou dizendo que só fumava CARICOCOS com cheirinho a café Arábica da Gabela ou então DELFIM das baronas m´boas do M´Bambi, mas só quando estava com makueka.

O mwadié, berrou de novo, mandadou-me despir todinho mesmo, para ver se tinha na kubata dos matubas diamba, que topei, que catrapiscou para o cipaio porque ambos fumavam com umas Cucas e uns pratinhos de jinguba do Álvaro… Háka! O sacrista botou as mãos para afastar o “capim”, mas tropeçou por querer nas mudanças do meu Ford V8, ué, chiou nas mudança… No final, mandou-me para a esteira loando cheia de ávilos-de-mil-patas que batukavam minha chegada.

zeca soba auxiliar.jpg Por isso nada te enviei e juro mesmo, sangue de Cristo, que este mambo é verdadeiro k kamba maianguista AM (T’Chingange). Desculpa a longa mukanda 1+1, mas é pratinho kitetas com molhinho de jindungo do Mandarim da Ilha de Loanda. ZECA2014022621H25NMK - Fim da conversa de chat.

Nota explicativa do Soba, JE: Pópilas, mazé, este kandengue da Caope trouxe ávilos-de-mil-patas do BO para a Maianga onde viveu como um catete voando, voando pelo capim e agora tá abusar cus poeira chefe-dos-posto. Só tá mesmo me cuspir nas mata de minha vida; se tá vanguardiar das memória que tem o sangue do tempo.

ZECA MAMOEIRO.jpg Esse kandengue, mais tarde bazou da Vila Alice com uma carrinha com tudo empilhado àtoa (dois andares) caté parecia uma canoa; recebeu uma big bazucada, monacaxito dos M via Fla no trigésimo dia em que já lá não estava, ai-iu-ué!

Como é monacaxito, te ofereceram um barco. Pois… N’Zambi avisou-o para bazar naquele um dia, porque nos vinteenove dias contou bazucadas. Fez mesmo colecção desses monas e juntou-os nas imbambas do tunda-a-mujila. Bazaran só mesmo sem querer; caté parece que é uma estória de faz-de-conta mas, Noé!

tonito11.jpg Hoje que penso muito e rezo pouco, lembro só os tempos em que ninguém, mesmo dando pontos sem nó, descobriam ali segredos de nos capins de seus corpos acariciando-os com curiosidade, averiguando falas de sacristia que ninguém mesmo sabia na certidão afirmativa; ai Jesus, credo, que Deus nos ajude, falavam nossas mães. Naqueles tempos, mesmo sem crise, íamos crismando vergonhas de pobre e, havia muitos, muito mais que agora.

Hoje a pobreza será outra, a das pessoas arruinadas porque perderam seu perfil e, agora são obrigadas a aparentar o que não têem; tudo por força da crise e roubos subtraídos pela lei do governo, outra vez a velha lei. Creiam… Isto vai continuar como sempre foi, uma merda, porque a Rua Direita ainda anda torta?
Kandandus...
do Soba T´Chingange


PUBLICADO POR kimbolagoa às 11:38
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Sexta-feira, 27 de Março de 2020
KWANGIADES . XXXII

MOKANDA DO ZECA  - As falas do baú de Zeca – 27.03.2020

FALAS BONITAS AI.U.É…. Crónica 3008

Por

zeca1.jpg José Santos - O Senhor do Koilo - Impregnado de paludismo duma especial estirpe kaluanda, Zeca colecciona n´zimbos das areias dum chamado de Rio Seco da Maianga. Tornou-se ali professor katedrático e agora lecciona no M´Puto quando não fica com o catolotolo… Kwangiades: - são as musas, kiandas ou kalungas do Kwanza

kimbo 0.jpg As escolhas de T´Chingange ... No Nordeste brasileiro - (TONITO era seu nome de candengue da Luua)

Só mesmo nós no catravês do ximbico da Luua…

lua1.jpeg Tu mereces TOTEM..., teres todos na tua volta...! Pessoa Igual sabido neste minha vida de Lellu de bué de salalé..., num conheço pessoa de igualmente igual..., dos teu predicados, que cheira a katinga de África, que a deixa ficar, diz é Amuleto.., de T'Chingange! Tu és espécie de chão de poeira em extinção pelo avanço do alcatrão do Mundele de expropriação de exploração..., dos mano dos licenciado.

Alembamento kiavuluvulu cumbu!!! Tu és pessoa do fantástico..., que N' Zambi na tua koka bem Sabe o que as tuas fala, fala mesmo, que são as fala de ÁFRICA, que bué acredito que também te protege, que quando tem O Cambotermo te quer fazer mal, Ele bota Grito de protecção..., num precisa não, desse tocos dos musculus de elevação nos ramos do Imbondeiro...! Sim, te protege, desde esses tempo dos Pés Descalço, que avilo Kandengue coleccionava na sombra da Mulemba, santinhos e beijava crucifico de verdade...!!! Uaué!

lua7.jpg Tambula conta! Ele ficava do mais O Mufulame yê!!! Amam'ééé! O que tu divulgas nas tua malamba no teu jeito único de Rio Grande de nado de teu MUXIMA e igual ao meu..., que bué mazé é abraço.., .e, é laço de capim do nosso kuuaba Rio Seco N´denge Yetu, do território sagrado do Poço da Mayanga do Rey..., e de Vata de beija mão.., do kapiango do N`zimbu... úi.

Para comprar lancha de bordão para ir nas Kilumba..., do afamado bairro da kazukuta do Rio Seco..., da Praia do Bispo, Samba, Mussulu, Xicala, Ilha da Cazanga..., também dos cheiro dos mamilo da kianda dos baixinho de celha morninha (Baía)..., de bué pirão, torresmo de Jacaré do Panguila, também dos tuqueia mais do t´chissipa..., de Mopane dos Herero, de estufado do peixinho dos mais saboroso de África, os Cacussu..., uau!

arau162.jpg Do Mu Ukulu de lagoa de manos que de único matumbo jeito, os acariciava..,. tratava os mona espelho..., para não os perder, antes nos deixar no bandozinho crescer em liberdade de água do mais saudável, a água do Bengo de então..., nos dizer dos nome cientifico dos Mundele biológico do kalunga..., o tratar no saudável.., pópilas mano!

Num ter nunca o extinção pelo tuji do aspirador..., de não ser levado para as celha de cimento dos moderno criação atoa de jimbolo com os fermento, os glúten, os sacarose, pastilha nos bué rápido crescer engordar barrinha de escamas fraquinhas, barbatanas-guiador, e barbatanas leme..., Ai.iu.é, mesmo…

luua10.jpg Ser feliz fazer os seus filhos na sua kubata de folhas de chá Príncipe do fundão que vai buscar no parar a respiração e trazer na kapanga da barbatana peitoral... PARA TI, QUE MUITO TE ADMIRO E QUE MAIS VIDA EM DIANTE O N´ZAMBI NO SEU OLHADO DO KOIILO TÃO BEM TE PROTEGE!  ZECA2020030123H50 NA MINHA KUBATA

GLOSSÁRIO:

Luua - Luanda (diminutivo em gíria) Mocanda - carta;  Mu Ukulu - Do antigamente; Atu/mutu - pessoas/a; Axiluanda - antigos pescadores de Loanda; Berridavam - fugiam; Dilulu - de sabor amargo; Kalunga - mar; Kapiango – roubo; Kianda - sereia; Kituku - mistério; Kúkia – sol (nascente); N´dandu – parente; N´dongu - canoa; N´gana N´Zambi - Senhor, Deus; Malembelembe - muito devagar, com cautela; Trumunu - jogo de bola de trapos; Undenge ami um moamba - minha infância de moamba; Uuabuama - maravilhoso Kuatiça o ngoma! – Toquem os tambores… Totem - monumento; Lellu – de cigano; katinga- suor, transpiração; Mundele, T´Chindele – branco; tuji – merda, excremento; Alembamento – casamento; kiavuluvulu – muito, por demais; ávilo – amigo;  Kandengue – jovem, rapaz, pivete; Uaué!- Admiração; Tambula – atenção, ficar atento; Mufulame yê!!! Amam'ééé! – coisas do catolotolo; kuuaba – adorável; capiango - roubo; N`zimbu – Buzio, dinheiro; Vata – chefe, grande m´fumo; Kilunda – lugar; Kazucuta: Trambiqueiro, aldrabão, mentiroso, faz manigância; kianda – Sereia; jimbolo – bolo com farinha de mandioca; Kubata – casa de taipa; Kapanga –protecção; Koilo - Céu



PUBLICADO POR kimbolagoa às 14:33
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Sábado, 8 de Fevereiro de 2020
PARACUCA . XXXIV

MULOLAS DE TEMPOS DORMIDOSNão é triste mudar de ideias, triste é não ter ideias para mudar! KIRK DOUGLAS, MORREU08.02.2020

Por

soba0.jpeg T´ChingangeNo Nordeste brasileiro

john0.jpg Entre o entender e o poder do crer lá tive que pagar o condomínio com taxa extra pensando nesta atrasada escrita sobre a morte aos 103 anos do meu amigo Kirk Douglas. Foi no dia seis deste mês de Fevereiro que recebi a notícia directamente dos USA, assim sentado e, sentado fiquei tacitunando-me nas minhas antigas alegrias; alegrias alargadas nos folgados dias de crescimento mazombo da Luua, a capital de Angola.

Relembro o cine Colonial no tempo em que nós nas bancadas também eramos artistas, utentes e autores dumas muita odisseias de participação ao vivo e no escuro; beatas voando como foguetes de alegria por coisa alguma e nenhuma. Um assistente despertava o Kirk duma tocaia de surdina feita emboscada num: - Olha na tua trás, meu! E, num repentemente Douglas virava-se na tela grande e, uma flexa era enfiada bem no coração do bandido, o mau da fita que logo morria, ou fingia! Filme é filme…

john2.jpgAcho que foi no filme “O arco e a flexa” mas, até que pouco importa porque as cowboiadas eram por demais concorridas e, isto era tão usual que sempre saia bagunça de está calado meu grunho e mais de filho da mãe para cima. Eu bem que lhe avisei, dizia o artista espectador exaltado do feito, saltando e estrebuchando em saltos contentes. Um espectáculo de ver! Só mesmo no Colonial Cine de São Paulo de Assunção da Luua.

Claro que estas cenas sucediam com as cowboiadas de John Wayne ou Jack Palance. Cowboiadas de cinco estrelas com o som de pum-pum dos tiros da Rifle Winchester que deram depois lugar às cowboiadas spaghetti do tipo italiano, com Giuliano Gemma aonde os tiros já soavam de txi-pum, txi-pum assim, com eco estriado para além do cano e fazendo nossos mambos de muita demasiada banga ninita e fécula.

john7.jpg Coisas de candengues, de afoitez que se vadiam em fantasiados momentos, muito fartos em invencionices; criacionices só verdadeiras na raiz das falsas almas. E, porque as pessoas não ficam sempre iguais, vão-se no tempo determinando com as mentiras ensinadas e aprendidas na vida como verdades. E, a melhor forma de o dizer é usando nossos termos polifónicos e de só átoa, diacríticos, palavrões que nem sabíamos existirem nas nossas falas.

Ui! - O que a vida me ensinou dá para o gosto, o desgosto e até o contragosto mas o Kirk, sempre foi colocado ao redor dos meus kitucus (mitérios). Enfim! Mocidade é tarefa para mais tarde se desmentir… Nós, com nossos ídolos, limpávamos os ventos que não tinham ordem para respirar e os demais, nós desrodeávamos fazendo esquindiva…

john8.jpg Se não acreditam nestas divagacionices, pulem outro filme! Porque, foram as "20.000 Léguas Submarinas", Spartacus e Ulices entre muitos outros. Posso também recordar o Gregory Peck dos canhões de Navarone, o John Wayne em duelo ao pôr-do-sol e mais edecéteras; Clinton Eastwood, um ator, cineasta produtor  famoso pelos seus papéis de duro em filmes de ação com rifle de repetição. Nossa cultura nesse então era mesmo só do cinema, da praia e farras de quintal; nos intervalos escorregávamos nas ladeiras de asfalto da Luua com nossos carros formula um de rolamentos …

Um dia tal como eles, velhos ídolos, nossas veias farão seus preparos finais. Mas não será por isto que nos aninharemos numa tristeza triste; tristeza de uma raça de homem que o Kirk mais não verá, porque deixou de ser um exorcista do circo, um trapezista. Assim num dia esbarrancaremos nos limbos esfiapados dum vento nesse arrumo de veias, ora quente, ora frio, ora se desfrizando no ar duma exaltação de vida que despairece.

john6.jpg Pois! Que despairece inchada de amor; é assim: -Um dia mesmo que nascido com sol, teremos de conhecer o significado sem requerer desse futuro por conhecer. E, todos ficam assim permanecidos de duvidando de como será até que chegue o tal de seria… Todos seremos legítimos coitados em um tal dia de pororoca (encontro de vagas, rio e mar…) com ou sem arrepio…

fotografo1.jpg A vida é um negócio muito perigoso! E agora, nem me falem de bancos! Porquê? Ora bem - O banco é uma instituição, um negócio que empresta dinheiro à gente se a gente apresentar provas suficientes de que não precisa de dinheiro! - Pois por tudo isto ando demasiado desconsolado, sabe! Disse eu pra continuar falas comigo mesmo, só pra esquecer o Kirk, meu antigo heroi…

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 13:15
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Terça-feira, 10 de Setembro de 2019
MU UKULU – XXIV

MU UKULU... Luanda do Antigamente 10.09.2019

FEROMONAS DA VIDA - Saber do passado para melhor se entenderem os futuros...

Por

soba002.jpg T´Chingange – No Alentejo do M´Puto

luis000.jpgLuís Martins Soares Falecido no Brasil em Julho de 2019 - (São Paulo)

maianga do araujo.jpg Abrindo o livro Mu Ukulu na página 61, posso ler que na Luua, Luanda do antigamente, no jogo de saltar à corda, as meninas eram muito mais ligeiras que os rapazes; tinham graciosidade, leveza nas kinambas e até cantavam enquanto com um só pé ou com os dois juntos, pisavam a terra do pátio da escola ou o asfalto do largo fronteiro ao correr de casas do bairro e assim, galgando o fio grosso e normalmente de sisal balouçado por duas jovens ou candengues meninos, para um só lado faziam passar o tempo! Uma soma de intervalos, infantário, escola, família, a terra, a empresa e o abrigo da idade de kota.

O balanço, tanto podia ser para a esquerda como para a direita mas, sempre em sintonia de como se faz com a manivela de impulso, tal e qual como se fazia nos carros Ford, Bedford, Chevrolett ou Nesh naqueles modelos dos anos de 1945 a 1950. Os meninos candengues jogavam ao botão, ao pião ou à macaca; uns mais espevitados ficavam de lado a soprar vento com os olhos para ver as calcinhas das meninas, apostar de qual era a cor com confirmação da tal de Mariana ou da tal de Fátima.

mai3.jpg Depois do despois, era assim como um campeonato - quando não havia calcinhas era “bingo” pró ganhador. Todos os outros tinham de fazer de burro e levar o ganhador laureado até ao pé de tamarindo; assim, um por um, até botarem seu ar de bofes inchados daquele vento de soprar nos olhos. As brincadeiras de antigamente não faziam as crianças reféns deles como os jogos electrónicos de hoje. Sem televisão e sem computadores, rádio insípido, tínhamos jogos para nos dar mobilidade para a vida de trabalho e social; jogávamos até à noite bem adentrada e até que lá da varanda ou muro viesse um grito grosso do pai ou num esganiçado som da Tia Micas: vem para casa menina - tomar banho, fazer xixi e cama!

As esteiras de loandos ou de caniço eram peças importantes nas casas dos remediados e pobres dos arrabaldes da Luua ou dos bairros periféricos como o Bairro da Vila Alice, Vila Clotilde, Bairro do Café, Bairro da Samba, Coqueiros ou Praia do Bispo entre muitos mais e, a sempre rainha da Luua - a Maianga do Malhoas com o Almeida das Vacas a terminar no Choupal das meninas do Kan-can lá no topo da Avenida António Barroso e que hoje se chama de Presidente Marien N´gouabi cruzando o nosso Rio Seco, uma mulola que nesse então era só areia para brincar, jogar à luta livre ou futebol de fintas n´areia…

Quantas e quantas vezes dormi na varanda, estendido num loando, apanhando o fresco do mar da Samba. Naqueles tempos ainda não havia ar condicionado; era tudo à unha, um abanador de palmeira a dar-a-dar feito leque, ou um ventilador daquelas pás de tecto rodando e guinchando chring…chring…chring…Esteiras e loandos eram peças indispensáveis em uma casa da Luua e, ora servia para nos sentarmos, ora era aonde o candengue filho da lavadeira dormia enquanto sua mãe esfregava as mãos na roupa dos patrões. Por vezes o nené ficava às costas da mãe gozando do balanço com esfrega e, num bate e, roda e …Pois! Era um carrossel bem melhor que a esteira.

Mu Ukulu37.jpg Por vezes num quase sempre de costume, os vizinhos juntavam-se levando suas esteiras enroladas ou suas cadeiras articuladas com uma lona entalada a montante e jusante do sono, do abre boca, abrenuncia dum deus queira ensonado entre o bate-papo falando besteiras ou, entre longas e inspiradas dissertações, do tipo filosofias de cacaracá entre virgulas de muxoxo e cuspidelas raivosas para o pé do mamoeiro ou da árvore de mandioca. Esta, a dar sombra ao tanque de cimento ou selha com uma tábua com ranhuras feito do tipo reco-reco para roçar as cuecas acastanhadas do uso e, talvez duma amarelada bufa de sem querer, digo eu!

Comecei estas falas para recordar as farras de quintal, daqueles candengues e meninas que já com barbas e bigodes macios que nem bigodes enrolados de lontra, curtiam a semana falando daquele e tal e coisa e ou daquela garina (magana) e coisa com tal num vai daí não sei se… e como vai ser - No baile combino! Naqueles tempos de espigadissamento os candengues já com jeito de Alain Delon (Além Delon), banga no estilo de ninita, peritos ao salto da macaca, saltavam os muros para de raspão dar só um beijo na Milocas até fazer cantar os passarinhos, malditos periquitos e… num raspa que se faz tarde, um despois de só mais um… e vai daí o outro dia nascia sempre muito cheio de Sol e do lado Nascente.

Mu Ukulu34.jpg  Assim num pisca-pisca os mais novos, ouviam estórias, missossos dos mais velhos, da labuta dos seu dia, tesourando no patrão, no filho da caixa do capataz, no enrolamento das leis porque a bota não batia com a perdigota; num de estão a lixar-nos a vida eram dissolvidas nas vírgulas desportivas com cabrões e com golos fenomenais descritas ao pormenor que nem os comentaristas de hoje podem exemplificar. Já naquele tempo eram o Sporting, o Benfica mais o Belenenses. Pois! Porque sempre havia uns vocábulos mais fortes de sundiameno do árbitro e, o filho do bandeirinha, cabrão toparioba mesmo; vesgo dos olhos e sei lá mais o quê, o cambuta de merda! Já ao fresco das dez da noite, os loandos eram enrolados e seguiam seus destinos debaixo do braço e, um até amanhã…

Não nos esqueceremos dos bailes onde a farra da música a gira-discos ou até com um conjunto local pago na forma de vaquinha pelos amigos dos amigos, vizinhos e afins dominava nos fundos de quintal até lá pelas quatro da manhã; quintal alisado com cimento na sua pura cor e, mas também de terra batida, molhada para não levantar pó. Até as aduelas de barril e as chapas de zinco se curvavam ao merengue cheirado a catinga misturada com Old Spice e sabão de côco cheiroso, cuca ou nocal - por vezes Sbell na forma de bolunga de whisky da Luua feito na fábrica da Catumbela. Às tantas a mistura de cheiros já eram todas muito iguais…

Mu Ukulu60.jpg  As celhas ficavam a um canto cheias de gelo com pirulitos, canadá dry, mission, seven-up, laranjadas e cerveja. Havia sempre bolos, tortas, rissóis de camarão, bolos de bacalhau levados pelas mães que não perdiam pitada cochichando suas sempre belas filhas casadoiras e o fulano mais beltrano, filho deste e daquele, um director lá da FTU e outro neto do Deslandes, que falam ir ser governador e muitos edecéteras preenchendo num depois as conversas da semana. O ponto alto era mesmo o chás da cinco e das seis, como pretexto de colocar as noticias em dia. Tu já sabes, a Alice que trabalha na Maria Armanda (costureira de fama…) está grávida! Como é!? Pois e tal, vida da Luua era assim um diz que vai ser ou foi, há isso já é velho! Tenho de fazer a janta pró meu Zé, e lá ia a costurar ideias na mistura com seus ideais…

Sábados e domingos eram religiosamente reservados para assistir às cowboiadas e outros filmes; tudo começava nas matinés seguindo-se uma ida ao baleizão para retemperar o físico com uma girafa, canhângulo ou pata, comer um prego no pão ou uma grande salsicha enfiada num pão pré aquecido e com muita mostarda. Isso! Tipo cachorro quente mas, gigante e com o sabor do Tarik.

minguito1.jpg Minguito

Depois combinar com a malta e seguir o rumo do Marítimo da Ilha, Clube do ferrovia, Casa das Beiras ou do Minho no Largo Serpa Pinto ou no Sporting Clube da Maianga com as garinas mais lindas do planeta. Lá estava a família Araújo sentada no palanque de convivas vendendo empatia a quem viesse… E, vinham sorteios do par mais simpático, da rainha do baile com votos de canudinho, prendas ou leilões por vezes e… As meninas sentavam-se em cadeiras dispostas em mesas e nós os gandulos da farra dávamos um toque de farpela, um piscar de orelhas, um puxar de colarinho e a noite escorria numa felicidade perdida…

minguito2.jpgGlossário

Kinambas – pernas; Bingo - a sorte grande da roleta; Girafa – copo grande e esguio de cerveja; Canhângulo – copo tubular e alto com cerveja – como se fosse um cano estriado duma arma tipo pederneira, assim de carregar pregos e limalha para amaciar, como um antigo arcabuz; Pata – copo com forma de pata grossa de elefante; Luua - Luanda; loando – esteira feita de papiro (loando do rio) atado com mateba; espigadissamento - fusão de espiga com astucia; Garina – moça, menina jovem já quase mulher; Tarik – Dono do Baleizão (alcunha, creio!); Estilo ninita – uma banga de puxacarrijoduro (tudo junto), um jeito de calcinhas fazer estilo tipo pavão; Mulola – Linha de água de leito seco, que só é rio quando chove; Sbell – Wisky da Catumbela; Old Spyc – cheirinho cheiroso…

(Continua…)

Recordando o Século Kota Mwata Luís Martins Soares

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 06:20
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Segunda-feira, 22 de Abril de 2019
MU UKULU – XX

MU UKULU...Luanda do Antigamente22.04.2019 
MUXIMA DA MAIANGA . FEROMONAS DA VIDA
- Saber do passado para melhor se entender o futuro... 
Por 

soba15.jpg T´Chingange – No Nordeste do Brasil 

luis0.jpgLuís Martins Soares – No Rio de Janeiro - Brasil 

zeca00.jpg Jose Santos - No M´Puto... 

luua32.jpg Não estava destinado hoje falar de FEROMONAS DA MAIANGA mas, e porque recebi uma Mokanda escrita na forma daqueles idos tempos, não resisto transpô-la para aqui porque isto era, foi o nosso Mu Ukulu da Luua. Na forma de introdução direi que mais de 99 por cento das espécies de animais, entre estes nós humanos, plantas, fungos e micróbios dependem exclusivamente ou quase, de uma série de substâncias químicas chamadas de FEROMONAS, para comunicar com membros da mesma espécie. 
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Assim agradecendo falei: Meu kamba-maior de coração invulgar num nome comum de Jose Santos, tuas amêndoas são sempre gostosas... Pena que andas sempre nos Kissama estudando os carrapatos do salalé e vires aqui mais vezes saudar teu mano! Catravês ficas na desculpa porque és meu ávilo de candengue do tempo tão antigo que nem a Joana Maluca recorda mais lá no seu cúbito do céu... Ver-te-ei com muita brilhantina na TiMatilde...
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A mokanda começa assim e no respectivamente, continua:
TONITO (soeu)......No meu mukifo, aproveito desta tua uuaba Moamba....te mando minhas amêndoas de múkua...para tu bué chupar...como nos mu ukulu dos candengue...porque os kumbu, malé dos amêndoas dos pula....Tambula conta! Xé! É meu agrado pra teu Dia de Páscoa com Ibib, teus monas teus ávilos keridos...

negritas.jpg  Teu mano ZECA nos Kissama, nos estudo pra os creme da pakassa para os salalé dos longevidade dos kota....mazé cheio dos comichão que os tuje faz bué...e borta kubata.....
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TONITO...UUABA PESSOA!!!. Tu num fica zangado com soeu porcauso do meu paragem dos escrito comentário, gosto e dos kandandu? Agora me dá n´guzu te pescar o teu peixinho os MISOSO os cacusso e botar na minha lagoa!!! 
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Te confesso....mazé cadavez os meu inama, os mãos....os n´guzo nos escrito os misoso dos face mazé é desigual do igual dos antigamente malé mesmo, porcauso os vapor nos inicio do Kurikutela butava fumaça bué! Aiué deixou de passar na cidade alta do nosso bairro da Mayanga, os território sagrado dos nossa uuabuama n´denge! 

caricocos.jpg  Então, duns tempo para cá....te digo que todos tão nos mesa dos concertação....dos sindicato nos tactoatacto, matacocommatako matacusentado! Ué! Te digo os lápis, os caneta e também os tinta qué nos tinteiro dos porcelana da Anchieta, colégio moderno, colégio João das Regras, katé os pequeno barril acabou....! Agora todos botaram essa confusão e ameaçam ir no palácio mostrar os indignação..!
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Os tuje querem mais cumbu e diz que tão sem os proveito dos fazer face nos custo dos vida. Assim, diz que nos bolso os cumbu baza logologo acabou katé num dá pra beber copinho do abafado no Rato, Morais, Hernãni da minina Alice ou no Reinaldo...!!! Malé, mesmo...

FRANCES2.jpg Cigarros francês

Então me diz..., tu licenciado katedrático do Rio Seco, Rua dos José Maria Antunes, que ainda continua a ser, se os despesa kiavuluvulu aguenta sem os produção num aumenta kiavulu....Tu sabes, o meu edição, já não tem os subsidio de produção do antigamente...! Tambula conta! Katé escapei katé os camenemene bué de vezes os dias meses anos, fazer o uafo..., porcauso os rolamento dos mutue os esferinha começou a sair, como diz os pula especializado na oficina do Baleizão do ávilo Taric..., diz que diz, ficou gripado!!! Tó lixado...
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Então, me diz só, como os quê ah vou voltar!, Ah! Há os budget assimassim e não podem na Rebita do Deve/Haver ter os massemba nas inana das barona dos bife dos profit...? Então assim num dá para aguentar os despesa .....porque os lucro baixou....porque Lello, os ávilo agora nos moda dos época vem pra fora fumar átoa os negrita, caricoco e deixa as beata pirisca no chão..., 
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Falta só mesmo átoa pra ir no kinaxixi buscar os mercearia; batatadoce, peixe seco, óleo palma, quiabos, jindungu, sal do Cacuaco, azeitonas da Leba.... Agora tu tens os meu parabéns....tu tens o teu n´guzu de torresmo de lagartinha Mopane....,e todos dias botas cada misoso bué comprido....! 

zeca01.jpeg Zeca com Mano T´Chingange  - TiMatilde

Amam´iéé! Tu como consegues ter tanto n´guzu...., os vontade de encher na Kizomba os teu misoso os escrito mais os foto bonitinha....?! Então tu "esqueleto pessoa, menos barriga de ginguba" és igual soeu!!!! Me diz só; tu fumas macanha, bebes maluve, marufu, botas gemadas de avestruz com os aguardente Pitu velho Chico 1935? 
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Temos de combinar de novo ir no Pica no Chão da Libata de granito de Póvoa de Lanhoso...., com os nosso kerido ávilos do Rio Seco...Então, faz tempo, e num quero chorar mais dos pensamento dos cagaço..., meu olhos tão seco....
BOA PÁSCOA ABRIL 2019
Kandandu Zeca 20190421
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Eu, logologo, respondi respeitosamente ligeiro de reco-reco de saudade: Tu - José Santos de um paludismo especial da Jihenda kaluanda - N´zimbos de fabricar missangas como sótumesmo sabes fabricar... que sótu sabes fazer. Te formaste na Universidade do Rio Seco da Luua. Meu mano de matar matrindindis zarolhos quando sóeramos matumbos do primeiro circulo...Aiué...

zeca5.jpgZeca fazendo banga

Vou-te falar nos finalmente: Se a cultura é uma invenção, ou uma construção de actos históricos, nós gente do Rio Seco, feito mulola, katedráticos de muitas estrelas, podemos afirmar que nossas falas, têm de ser colocadas no mausoléu sputnik do nosso Mar da Samba. Isso! Na gaveta mitologia antropológica, porque nós merecemos generalato! - Muito mais que as matubas do mais-velho de Catete. Juro! Vou te botar na estória do MU UKULU como o maior missangueiro do reino da Matamba... 
Igual a tu, só TU... um T´CHIKUKUVANDA ...

GLOSSÁRIO:

Mokanda - Carta...Kamba- amigo...Kissama- parque ou reserva animal...Salalé- formiga térmita...Catravês- então; por conseguinte...ávilo-amigo...Candengue moço, rapaz, pivete...Cúbito- lugar...Mukifo-quarto, recanto, lugar íntimo...Uuaba - assombrosa, espectacular... Moamba- condimentos, comida...Múkua- fruto do imbondeiro... kumbu-dinheiro... Malé - nenhum, nada..Xé- admiração...kandandu- saudação, abraços... N´Guzu-força, potência... Pacassa- búfalo, boi...Pula- português, do M´Puto...Baza- vai embora, foge, afasta-se...Tambula- toma atenção, anota, repara...Konta- atençaõ, ficar de olho...Missosso - conto curto, pequena estória, crónica...n´denge- carinho...espaço mítico...Mazé- expressão de talvez com admiração e dúvida... Cacussu- peixe do rio...Kurikutela- comboio fumaça a apitar, lançar fagulha...Mataco, Rabo, cú, bunda...Ué- exprssão de admiração, é possível?...Tuge-meda, excremento de pessoa...Kiavuluvulu-aumentando, crescendo,subindo...Camenemene- abandonados, relegados...Mutue - de motor com biela e segmentos...Massemba - jeito, trejeito forma de tocar... Inama, perna...Barona- mulher de destaque, m´boa...

kisan1.jpg Mopane-lagarta...Átoa- de qualqueR modo...Macanha- maconha, liamba, fumo forte, canábis...Marufu-vinho de palmeira...Libata-casa...reco-reco- raspando, instrumento de fazer barulho...Kaluanda- de Luanda...N´Zimbo-concha, bivalve sem bicho...Jihenda- saga, luta, forma de acção...Matrindindi- tipo de gafanhoto...Matumbo-burro, no sentido de inculto, tapado...Sputnik - monumento do Agostinho presidente dos mwngolês, gracioso quanto ao desplante ...Missangueiro- que trabalha com missangas...Matamba- Reino antigo de N´Dongo....T´chikukuvanda- lagarto de cores várias
Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 15:15
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Terça-feira, 5 de Fevereiro de 2019
MU UKULU . XIII

MU UKULU...Luanda do Antigamente05.02.2019

Diz Luis: -Tive também o privilégio de ter como explicador na disciplina de Matemática o escritor, ensaísta e etnólogo Óscar Ribas.

Por

luis0.jpg Luís Martins Soares – No Rio de Janeiro - Brasil

soba15.jpg T´Chingange – No Nordeste do Brasil

selos1.jpg O T´Chingange, por aqui anda esticando os ossos, construindo a cada passo uma estória ao seu modo; um mussendo, um missosso e, entre Ave Marias encavalitadas de prefácios que se baralham, num logologo esquecido e, vem outro e mais outro muxoxo como que cumprindo ordens dos espíritos de quem risca na areia em sinais do cho-ku-rei, ou sei-he-ki e outros símbolos indecifrados saídos da Luua. Assim, na Pajuçara de Maceió do Brasil, um lugar nobre e muito cheio de adrenalina, vou ler em voz alta um extracto de Luís Martins Soares na primeiríssima pessoa. Em verdade, fanei suas falas na página dos Amigos da Maianga, nosso Bairro

Mu Ukulu0.jpg Extracto do meu livro "Mu Ukulu Luanda de Antigamente" - Bairro da Maianga - Nasci no Bairro da Maianga, no dia 8 de Julho de 1934, no começo da Rua António Barroso, sentido quartéis, lado esquerdo; existiam ali umas casas enfileiradas de construção antiga e, foi numa delas que nasci. Com o avançar do progresso, foram mais tarde demolidas para no local ser edificado um edifício de apartamentos. Mais abaixo quem descesse a Rua no sentido do Regimento de Infantaria e do lado oposto havia uma grande horta murada conhecida por Horta do Raposo.

Para afugentar os intrusos da sua propriedade o dono tinha eficazes grandes cães de guarda e serventes que além de cuidarem da horta, também eram guardiões. Perdi as contas das vezes que juntamente com amigos da minha idade saltávamos o muro para roubar goiabas e sape-sape. Algumas vezes o guarda incitava os cães a perseguir-nos e então era aquela correria infernal que terminava após transpormos o muro.

maian10.jpgTenho, ainda hoje, lembranças desse tempo na forma de cicatrizes provocadas pelos cacos de vidros sendo pisados pelos pés descalços. Mais tarde moramos (ano de 1940) perto da mercearia do senhor Álvaro Dias dos Santos também na Rua António Barroso. O meu pai era proprietário de duas casas e teve como inquilinos um casal com dois filhos cujos nomes eram o Arquimedes, que mais tarde foi agrimensor e o Mário António Fernandes de Oliveira aluno brilhante do Liceu Nacional Salvador Correia que se destacou como escritor e poeta - já falecido em Portugal no ano de 1989.

Tive também o privilégio de ter como explicador na disciplina de Matemática o escritor, ensaísta e etnólogo Óscar Ribas. Aos 36 anos de idade ficou invisual, mas apesar desse problema, ajudou-me bastante com as suas explicações particulares. Morava no Bairro da Maianga perto da linha férrea numa casa modesta. Havia uma estação dos Caminhos-de-Ferro perto do Largo da Maianga conhecida por Estação da Cidade Alta. (Ficava bem perto da Bracarense, do Colégio Moderno e no bem conhecido largo do Sinaleiro da Maianga).

Mais tarde devido a vários factores relacionados com a venda das casas fomos morar no mesmo Bairro em uma casa de madeira com uma grande horta, com mamoeiros e, aonde eram cultivadas hortaliças - depois de colhidas eram dispostas num tabuleiro que o servente (monangamba) com ele apoiado na cabeça percorria o bairro vendendo de porta em porta. O produto da venda tinha como destino o pagamento do salário dele de servente e, para ajudar a pagar as despesas da casa pois que o salário que o meu pai auferia como subchefe da Polícia era insuficiente.

maianga0.jpg Normalmente aos domingos, a família levantava-se cedo e, devidamente municiados com um farnel, íamos a pé até à Praia do Bispo atravessando a Horta do Hospital, terreno em mato, situado por detrás do Hospital Maria Pia. No extremo do morro da Praia do Bispo, uma pedra banhada pelas águas do mar era o local ideal para os adeptos de piqueniques que como nós, ali faziam trampolim para os mergulhos, diga-se, um local de muitos afogamentos. Junto á orlas marítima e no sopé do morro, viam-se alinhadas algumas cubatas de pescadores com os n´dongos (canoas) encalhados na areia.

Na década de 40, na Maianga antiga, havia uma maior concentração da população de origem europeia. Embora existissem poucos moradores negros, posso afirmar que não era notória segregação entre brancos e pretos pois era praticamente inexistente! No quadrilátero formado pela Rua de António Barroso e Rua Cinco de Outubro até à Rua de Guilherme Capelo já havia um traçado das vias definido com casas de construção feitas de alvenaria, mas no restante do Bairro e nas traseiras do Hospital Maria Pia até à Praia do Bispo as casas eram dispersas.

may1.jpg Aquelas casas, surgiam ao gosto do proprietário, sem qualquer projecto arquitectónico nem plano urbanistico; a maioria delas não tinha instalação eléctrica nem rede de águas e eram construídas de pau-a-pique, de barro - adobe mas, também de madeira e zinco. Os acessos eram em terra-batida havendo vários carreiros de pé posto; recordo a muita dificuldade de neles transitar, principalmente no período das chuvas tropicais. Nesse então, ainda podíamos ver embondeiros dispersos, mangueiras, matebeiras e cajueiros.

Muitas vezes e após uma chuva intensa a criançada deslocava-se até o Rio Seco, que realmente era rio de águas caudalosas somente no período das chuvas. Quando assim acontecia, era ver os candengues brincando com as águas barrentas e em torrente vindas das barrocas situadas bem defronte dos Regimentos de Infantaria e Artilharia dando de frente para a Avenida do General Norton de Matos e, onde existia uma Estação de Tratamento com depósito elevado.

missosso2.jpeg Esta avenida assim como parte da Rua de D. António Barroso era em terra. As barrocas entre estes limites foram mais tarde urbanizadas para nelas ser implantado o moderno Bairro Alvalade. Por detrás do Hospital ficava uma grande área conhecida por Horta do Hospital, onde não havia vestígios de plantações, a Samba e as Cacimbas. Na Maianga, perto do morro Catambor, existia uma cacimba conhecida por “Maianga do Povo” de construção antiga; provavelmente construída entre 1641 e 1648, quando da gestão Holandesa (Mafulos). Esta tinha acesso ao interior por uma escada que desemboca em um piso aonde podíamos admirar a água captada dentro dela - um gosto salobro. Muita gente humilde da periferia, abastecia-se dessa água.

Outra cacimba conhecida por “Maianga do Rei”, ficava bem perto da Praia do Bispo; apesar de ter passado perto dela várias vezes, nunca tive curiosidade de me aproximar para a observar. Um tiro de canhão, até onde fosse audível, anunciava à população que era meio-dia para acerto de relógios e paragem das ave-marias - hora do almoço. Alguns estabelecimentos fechavam portas reabrindo mais tarde. Assim era a nossa Luanda nos finais de 40.

selo12.jpg No cimo das Barrocas, local dos quartéis da Companhia Indígena, lá pelas 22 horas ouvia-se o toque de recolher. O toque de clarim pelo corneteiro era acompanhado por algum tempo pelos tambores. Era hora dos candengues irem para a cama, em verdade um toque de horas para toda a população do bairro. O céu, de vez em quando, era varrido pela luz de holofotes potentes como que esquadrinhando o espaço aéreo; creio, serem exercícios obrigatórios que perduraram após a segunda guerra mundial e também como referência para os barcos de guerra, fundeados na Baia de Luanda.

Na estação da Cidade Alta, na Maianga após a travessia da Rua Guilherme Capelo, sentido dos Musseques, mais tarde Maternidade e Igreja Sagrada Família, existia um túnel onde algumas vezes com outras crianças nos aventuramos dentro dele. Era do desactivado ramal do Caminho de Ferro de Luanda via Malange. Na Rua António Barroso a única padaria existente de nome Aliança abria as portas de manhã que, depois fechava e reabria na parte da tarde. Os postos de venda dos papos-secos surgiram anos mais tarde. A padaria fabricava e vendia somente pães contrariamente ao que acontece nos dias de hoje em que para além de pão servem cafés, fazem pasteis e assam leitões.

Luís Martins Soares

(Continua…)

Compilação de T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 20:17
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Quinta-feira, 29 de Novembro de 2018
MU UKULU – IX

MU UKULU...Luanda do Antigamente29.11.2018

Havia muito de angolano nas casas feitas com a cal de mabanga, os forros feitos de bordão…

Por

soba0.jpeg T´Chingange – Em Johannesburg

luis0.jpgLuís Martins Soares – No Brasil

Começo com uma ressalva, para corrigir o que foi dito no Mu Ukulu-VIII. A Barragem das Mabubas sobre o rio Bengo, só foi inaugurada no ano de 1954 e não no ano 1948, conforme diz João Pinto que ainda candengue, ali viveu quando seu pai para ali foi trabalhar, entre os anos de construção entre 1949 e 1954. Antes de se dar continuidade ao desenvolvimento social de Luanda segundo o descrito no livro de Luís Soares, vamos aprofundar alguns conhecimentos da agora grande Luanda, porque quem não é kimbundo irá perguntar o que significa maianga entre outros nomes e lugares toponímicos...

ÁFRICA3.jpg Consultando escritos de José Kaliengue, poderei mencionar que Maianga significa poço de água. Havia a maianga do povo junto ao Clube 1º de Agosto e, cujo avanço urbanístico anárquico, relegou para ruinas; aonde agora é o rio seco era um rio a valer, molhado, que desaguava numa lagoa que era a Lagoa dos Elefantes no actual bairro da Samba e, onde desembocava. Este rio desaguava numa lagoa antes de dar para a baía de mar raso que ali existia.

Aquela era a lagoa dos elefantes, porque era frequentada por estes. Quando os portugueses ali chegaram, e durante muito mais tempo, viam-se por ali elefantes; no decorrer do tempo, estes foram-se refugiando na actual Reserva da Kissama. O que hoje se conhece por Morro dos Veados foi, até ao séc. XVIII, o Morro dos Elefantes, está escrito em mapas, só que estes, foram diminuindo em número. E, foi já no séc. XX, que o Morro dos Elefantes passou a chamar-se de Morro dos Veados.

muralha6.jpg Uma grande parte da população não sente qualquer relação com o espaço e com as coisas e, também porque não foram alertadas pela nova elite na sua preservação. A não existência de um ordenamento desses lugares; a construção arbitrária e sem qualquer tipo de controlo, originou perdas como valor turismo e sequentemente o económico. Um património difícil de recuperar.

A baía é uma das razões para o nascimento da vila e depois, cidade europeia de Loanda. Foi ela por via de sua topografia circundante que determinou a sua criação; Fundamentalmente por uma estratégia de defesa, mar fundo e lugar de abrigo às caravelas aos ventos dominantes e mar bravio na costa aberta de sua ilha da Mazenga; só mais tarde surgiram outros critérios pela criação de um centro urbano expandindo-se com mercados, estradas, porto de mar ou caminhos-de-ferro.

Mu Ukulu0.jpg Note-se que, já nessa altura, finais do século XIX, faltava água em Luanda; isso mantém-se até aos nossos dias. Rios e baías sempre foram um elemento importante na história duma qualquer cidade e Luanda não foge deste conceito. Depois há uma parte importante dessa história que também pertence aos angolanos, e que não dá para apagar! Embora como sendo a parte sofredora, contribuiu para a história: O do comércio dos escravos que já foi aqui superficialmente abordado.

As fortalezas, apesar de símbolos de opressão também pertencem aos angolanos; queira-se ou não José Kaliengue tem razão ao afirmar isto! As igrejas são outro elemento que, não fazendo parte da cultura original, passaram depois a fazer parte da vida das pessoas. Havia muito de angolano nas casas feitas com a cal de mabanga, os forros feitos de bordão, um material altamente isolante e que permitia manter as casas frescas.

miss6.jpg Não deve ainda existir sinais de tectos de bordão nas casas velhas de Luanda; também este processo saiu da cultura local. A Igreja do Carmo, estava assim construído até meados do século XIX. Estas edificações existem e, foram feitas com mão-de-obra de caluandas. Agora teremos de recordar o que era na palavra “MU” como sendo coisas do antigamente, mas também uma árvore no dialecto kimbundo. Mutamba é a árvore do tamarindo, árvore que a mutamba não tem.

Posso imaginar nas largas varandas da baixa da Luua e bem junto ao Carmo, as damas brancas comodamente sentadas com requebros de etiqueta, gestos cheios de conveniência, risos de boca fechada, olhares por debaixo das pálpebras mais um leque nos lábios e o dedo mindinho levantado com galanteria chamando o senhor prior. Não muito longe uma mulher negra na esteira de luandos ou de matebeira, num banquinho ou na soleira da porta catando piolhos na cabeça do candengue.

o poço do rei2.jpgTambém homens humorados, o chapéu de couro preso ao pescoço por uma correia, a camisa de algodão cru por fora das calças de zuarte, arregaçadas no joelho, o pé descalço, curto e espalmado, peito liso com cor luzidio de escuro ou cor de cedro á mostra, braço nu e grosso transportando uma viola ordinária feita de lata. Senta-se bem junto daquela mulher catadora, dedilhando as cordas metálicas e, cantando um repenicado linguajar de brincadeira…

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 11:01
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Quinta-feira, 8 de Novembro de 2018
MOAMBA . XXIII

NA NUDEZ DA VIDA – Komatipoorte (África do Sul) - 08.11.2018

- Não há forças que destruam as lendas com fusos – Superstições antigas do Big Ben…

Por

soba15.jpgT´Chingange - Em Komatipoort - África do Sul

Bem cedo fui até ao Komati River, afluente do Crocodile river e, logo ao chegar, vi dois grandes jacarés a tomarem banhos de sol do outro lado, em uma ilha, bem ao lado aonde ontem Dy Vissapa pescava sentado em uma raiz de uma grande acácia, ali mesmo ao lado. Acabou por pescar um peixe tigre que mais tarde comi depois do brai-churrasco de carne de lamb e beef de boi.

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Em verdade, não foi um grande pitéu, tinha muitas espinhas, o gosto não era igual ao peixe do mar e até me pareceu ter um ligeiro sabor a lodo; não fosse o jindungo de Moçambique e o sabor seria parecido com o do catato também conhecido por mopane. Foi quando me lembrei que uns anos atrás, ido de Johannesburg levei um quilo desta lagarta comestível para meu grande amigo, o Zeca Mamoeiro da Maianga, um kamba desde os longínquos anos de candengue…

crocodile river2.JPG Consultando meu baú de lembranças amarelecidas no tempo, tive de capiangar a mukanda do kussunguila Vasco Antunes dirigida ao comum amigo Zeca poeta com o título de Janela Aberta. Ai.iu.é... É verdade! O Zeca ficou feito estátua, agarrado ao mamoeiro lá num jardim da Travessa João Seca da Maianga! Espreitava a garina m´boa filha da Tia Mariquinhas...

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Assim lendo a dita cuja, desconsegui continuar a cena do Komati River. Dizia assim: - Quero deixar-vos tranquilos meus kambas - Andei este Sábado pelo Marítimo da Ilha mas, ainda dei uma saltada ao Kussunguila. A noite tropical puxou por mim até clarear. Resolvi por lá ficar, a areia da praia no S. Jorge que é a melhor cama que um indígena como eu pode almejar. E tem sonho que vem nessa hora das cinco da manhã…

crocodile river3.jpg O marulhar das águas, as estrelas miríades no céu, a noite que passou, o dia que está a chegar, a vida toda que sei vai esperar por mim. Eu posso atrasar o relógio o tempo que eu quiser. Ué, digo eu: - esse kazumbi deve ser do mestre Sambo! Tentei isso num entretanto passado com meu Tissot, rodei o ponteiro para trás e, num repentemente fui parar entalado nas rodas dentadas do relógio no rio Tamisa, o Big Ben.

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Há coisas que parecem mentiras mas, aqui no Komati recordo que naquele então, no ano de sua inauguração a 31 de Maio de 1859, aflitinho da silva, tive de mergulhar de uma altura de 96 metros em voo de trotinete planadora. Estavam a instalar este zingarelho no Palácio de Westminster durante a gestão de Sir Benjamin Hall, ministro de Obras Públicas do Reino Unido….

crocodile river 4.jpg Nesse então, u T´Chingange, recebi aplausos de muita gente e na presença do Sir Benjamim Hall fui condecorado por um dos arquitectos que o concebeu. Tinha o nome de Charles Barry e, foi assim que vi quanto perigo corremos quando desaparafusamos a mente na marcha-à-ré! Mas assim lá no fuso zero ainda recordo ser aquilo feito ao estilo Neogótico. Passados anos deparo-me estando na Luua revendo meus kambas a apanhar mabanga prá pesca na praia do Bispo.

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E falavam, gritavam com pulos chapinhados naquela água morna da Chicala: - Vamos ainda, barona companheira dos pezinhos quentes… Na água, que o sol já nos torrou vermelho, tem lá marisco e cervejinha fresca para terminar este bendito Domingo. Se Domingo é santo, então é do sô Santo lá na Vila Alice ou na Maianga do Zeca e do Tonito.

vasco0.jpgzeca00.jpg - Vamos apanhar o Buggy do Vasco Antunes, cor de camarão. Vamos falar mujimbo às nossas mães, vamos contar outros mambos para elas não desconfiarem. Aquela da tia Mariquinha, tá lembrada? Tia Mariquinhas teve um nené mas os pessoa estava a ficar desconfiado, pois.

cronicas mano corvo2.jpg  O marido dela tinha perna de pau e os menino, nasceu com perna verdadeira. Pópilas! Ou aquela, daquele nosso amigo da Maianga, o Zeca. Sabe, esse mesmo O Zeca que não desceu do mamoeiro, está esperando que eles madurem - Kamba diame Muxima, Tza ´kidila - Kiene! Kuia bué!

Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 10:16
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Quinta-feira, 8 de Fevereiro de 2018
KWANGIADES . XXX

MOKANDA DO ZECA EM MAIUSCULAS - As falas de Zeca – 08.02.2018

Por

zeca00.jpg José Santos - Impregnado de paludismo duma especial estirpe kaluanda, Zeca colecciona n´zimbos das areias dum chamado de Rio Seco da Maianga. Tornou-se ali professor katedrático e agora lecciona no M´Puto quando não fica com o catolotolo…

TONITO (era o meu nome de candengue da Luua)

MAIS UM FANTÁSTICO MISSOSSO TEU....! JURO, JURO QUE DELIREI NAQUELE MAMBO " Já estava farto de usar ceroulas até o pescoço a fim de aguentar o frio do M´Puto,..." SIM KIMA KAMBA MUXIMA, DO FRIO DO M' PUTU DE TER DE ANDAR DE CEROULAS, MEIAS DE LÃ ATÉ AO JOELHO, CAMISOLA INTEROIR LÃ DE MERINO, LUVAS, CASCHECOL... AI-IU-É…

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TUDO, TUDO PARA TIRAR A HUMIDADE DO SALALÉ SECO QUE BERRA POR QUENTURAS E AS TUJE DAS FRIEIRAS DA CUSPIDEIRA FRIA DAS "CALOTES DE CHORO CAIDAS COMO TREPADEIRAS DO ALASCA PARA A KALUNGA" QUE ESTE INVERNO AS KALEMAS ALTAS TROUXERAM PARA A PENINSULA IBÉRICA, PARA A EUROPA, AMÉRICA...

zeca e eu.jpg POR CULPA DO HOMEM KIAVULU VULUKIA VULUVULU CACHIMBO QUE ENVENENA A ANHARA DO NOSSO SENHOR NO ALÉM. OH! SIM, SIM, TU GOSTAS BWÉ DO NU QUENTE DA NATUREZA..., DE MACEIÓ, PAJUÇARA, PALMARES... QUE DIZES SER DE RENOVAÇÃO DE PELE COM ÓLEO DE COCO DO SOL REDENTOR...

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OS BICHOS, AS PLANTAS MEDICINAIS..., TUDO, TUDO, NATUREZA TE CONHECEM E TE CHAMAM O KUUABA N'GANA VATA T`CHINGANGE! SEI QUE DELIRAS, TOPANDO A TEXTURINHA DA BELEZURA NUA NATURAL BATUCANDO DE SALTOS ALTOS NO CALÇADÃO NO CORSO DO CARNAVAL! UÉ!

zeca1.jpg TU PRÓPRIO FIGURANTE DOISIMILDEZOITO VESTIDO DE "CAPATAZ" DE BARRIGA DE JINGUBA DE FORA E DE CHICOTE NA MÃO NO CORSO DE GUAXUMA.... RECORDANDO OS TEMPOS DOS CORONÉIS...

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AMAM'IÉÉÉ´! TUA SORTE MERMÃO DO RIO SECO DA MAIANGA, TU SERES PÁSSARO DE VOO DE MUITOS MUNDOS COMO O KWETZAL.... AGORA, TAMBULA CONTA! UÉ! COMO É? BEIJOADA Á TRANSMONTANA, TRIPAS À MODA DO PORTO, ENSOPADO DE CABRA VELHA, BODE MESMO...A BORDO...!

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UÉ! COMO AGACHAR E APONTAR O TUBO NO MINUSCULO BURACO DE CERTO "ENTUPIÇO" E DE ENGUIÇO BIEN ÉTRE PARA OS ROLLYS ROICE.... NÃO, NÃO, ISSO DUM MUKIFO LOGOLOGO MATACO NO ENCOLHIDO BANCO...

ZECA MAMOEIRO.jpg SIM, SIM, MAS BREVE TERÁS E LOGO AO DESCERES, PISARES A TERRA E SENTIRÁS O CHEIRINHO DO CHURRASCO PITA VIRGEM. MESMO TABAIBO DO MATO NA GRELHA, NO ESPETO PAKASSA TENRA E A PICANHA NA GRELHA A ESTALAR.... OS TEUS CAMINHOS SÃO DE DEAMBULAR FELIZ NA KUKIA DA VIDA QUIÉ SUMAUMA.

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QUE A TUA VIDA DOCE CONSOME, É O TEU PREPARO É O TEU ELIXIR QUE ESMAGAS NO TEU PILÃO E BWÉ CONSOMES..., TAL COMO OS TORRESMOS DA BELA MOPANE.... NESTE TEMPO DE ESTUPOR, TERRA DE “FIADO CIVILIZADO” DE SEM RESPEITO, CURRICULO SUSPEITO … Oh! NGANA NZAMBI! KAPIANGO, PÉS DE PATRANHA, EDIFICAM-SE NOS POLEIROS DE NOSSOS CELEIROS…. E, NÓS SÓ XIMBICANDO N´DONGUS  NAS MULOLAS DO RIO SECO…

KANDANDU - ZECA2018020722H00

As escolhas de

Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 15:16
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Sábado, 28 de Janeiro de 2017
MAIANGA . XX

MAIANGA . NGA! SAKIDILÁ! - Na Jihenda do mu ukulo uabuama (Saudade de um antigamente de maravilha)

Por

soba0.jpegT´Chingange

Faz algum tempo do mu ukulo que entrei no meu silêncio só mesmo para não remexer nas feridas mal cicatrizadas das terras dos antigos mwene-putos mais dos N´Gola kimbundu e kilwanje kya Samba rei feito importante com suas missangas com dentes de leão penduradas no pescoço. Ele, um imbangala descalça que era o senhor das terras dos tempos do kissonde devorador; mesmo assim de pé descalços com aristocracia de espantar poder esporádico no interino. Mas, um rei matuta Jinga do Milungo e Bangala com poder absoluto de cortar pescoços.

namib3.jpg Um rei que trocava gente por pólvora, tecidos e missangas com espelhos mais zingarelhos. O filho da peste, o mesmo que gerou a N´Zinga ou Jinga. Tempos de muita trapaça trocada por mel e tecidos libolos mais dendém, cachaça e tintol a martelo, tudotudo amontoado na kubata dos branco cafuzo e mazombo feita de capim mais taipa de chinguiços tapados com barro e bosta de boi. 

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Acontece, como então, vou fazer berridando minhas falas do baú no ximbico de meu lápis antigo. Alegrar meus kambas, falando soátoa das baronas modernas, dos seus matacos apertados nos institutos adelgaçantes e das quindas das kinguilas de setentaecinco cheias de muito cumbú e dólar de cabeça de Washington grande, porque o outro é falsificação do Zambizanga e Tira Biquini.

nand4.jpg Dinheiro verdadeiro de comprar as felicidades e curar as malakuecas com trungungo ou mesmomesmo do kaporoto que faz falar estória do antigamente mais ainda do tempo antes dos kaprandanda e dos brancos gweta t´chinderes funantes mesmo. Ximfuma Ya Kvele feito macho esperto nos contos com estórias de missossos que também lhe contaram dos reis Kwanyama. Um, conta ao outro e no final, cada um tem uma unha, um dedo, um inventário de muitos sonhos no catravês da estória.

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Num dia antigo, Ximfuma Ya Kevele feito doutor quimbanda de leis e adjacências, disparatou berros saídos do fundo de sua raiva; ele via coisas que mais ninguém conseguia, que só ele via e, dizia que isto assim não pode ser! A gente fica soátoa nos dias de catolotolo depois do funje com biala do rio podrida, barriga na zunida do cruácruá, corre no mato e buáááá! Capim corta, areia suja, num dá… Problema mesmo de confusão, ai-iú-é! Não posso mesmo falar de minhas falas com tuge escondido, ahah! Falo, falou nesse tempo de munhungo biológico de cangar nos matos…

maga5.jpg Mesmomesmo sendo daquele tempo pelas poeiradas esteiras do Sambizanga e do Prenda do senhor administrador Poeira da Luua, não posso mesmo falar de minhas falas com tuge escondido ….Ahah! Num pode! Cipaio não deixa cagar seu cafió. Ninguém mais fala assim dos antigamente cum cheiro do mato e a capota a cantar de estou-fraca, estou-fraca picando nos tuge logo nos seguidamente.

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Haka patrão! Ninguém mais fala assim atravessado na picada da vida de bitacaia aiuê! Nos matubas avilo bué! Tremo só de pensar nos sofá de pele de pacaça oleado com Bien-être de zumbo dos bâmbi, riscando do molinhado de óleo de dendém. No antes e no despois tudo ficou mesmo no muito antigamente. 

 

camionista1.jpg Eu T´Chingange, que fiz amizade com este Xinfuma Ya, vim de consulta marcada com n´gonge aqui ao kimbo das caricas na Kissama dos Dembos, com alpercatas de pele de jamba e um corno de facochero ao pescoço para bangar nos entendimentos. Queria mesmo ouvir as estórias de kevele mas, não deu pra falar muito direito e contar do rei Kwanyama Mandume de Njiva que dizem que se suicidou em 1917. Queria mesmo esclarecer isto mas o trungungo deu volta no miolo n´dele.

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Ele, Xinfuma Ya diz que não foi assim e, que os Tugas andaram passeando a cabeça dele pelas terras de Ovombolând para fazer o povo capitular. Mas, e ora sucede que o sua excelência Xinfuma estava todo roto de consciência: bebeu por demais seu marufo com poses de corno álem da quantidade bué do tal de trungungo e assim ficou por muitos dias. Caminhada de tantos dias, só para nada, mesmo! Fiquei só assim com as falas labirínticas de gente para lá de doido que só muxoxeia! Vou fazer mis o quê com meu kuxikina?

maianga do araujo.jpg GLOSSÁRIO:

Berridavam - fugiam; Kapiango - roubo; Mayanga - Um dos bairros antigos de Loanda, lugar de muita água; Uuabuama - maravilhoso - Caricas - tampas das garrafas; Mission, Canada Dry, Cuca; Jihenda - saudade, Kamba - amigo; Kuxikina - de sossego, sossegar; Mulemba - Mulembeira, árvore de frondosas folhas; Mu Ukulu - antigamente, Muxima – coração; N´gonge - aviso; Uuabuama - maravilhoso; Muxoxeia: vem de muxoxo, estalido da língua no palato dando um estalo de desdém…

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 17:30
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Domingo, 15 de Janeiro de 2017
A CHUVA E O BOM TEMPO . LXXI

MULOLAS DO TEMPOMilagres da vida com talassoterapia Farrapos de imagens que vi com nitidez de adulto na gesta colonial e M´Puto...

Por

soba15.jpgT´Chingange

Hoje apetece-me falar sobre os mistérios da vida que vivenciei em pequeno, kandengue e filho mazombo do Senhor meu pai Manuel de nome e, Cabeças por alcunha. Para sobreviver à vida depois da guerra de 39 a 45 resolveu sair daquela terra de frios do M´Puto, tendo chegado à Luua de N´Gola levado pelo velho vapor Mouzinho de Albuquerque. A Dona Arminda minha mãe, algum tempo depois e, após ter recebido carta de chamada, saiu do M´Puto vertendo choros no cais de Alcântara. Da amurada daquele vapor com o nome de Uíge, pouco a pouco via Lisboa e o Tejo ficarem lá longe tapados pela neblina.

bungo8.jpg Os tamancos de pinho não eram suficientemente quentes para animar o dia que se seguia naquela terrinha e, vai daí, meu pai tentou a Venezuela e o Uruguai mas as facilidades só lhe surgiram para a África, Terras Ultramarinas de Portugal. Deram-lhe passagem de colono após preenchimento de impressos timbrados com a esfera armilar. Através da Companhia Nacional de Navegação zarpou no tal vapor por volta do ano de 1950.

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Dito e feito! Ele estava cansado de explorar volfrâmio para enrijar os canhões de Hitler, de cavar as terras dum sítio chamado Cornelho, duma Pereira e um Vinagre, lugares vistosos de verde que no correr do tempo ficaram silvas e tojos pelo abandono. Muito mais tarde apreciei a beleza que ele nunca teve tempo para apreciar; o vale profundo enevoado com o rio Dão a correr para Alcafaxe e, lá longe a brancura de persistentes manchas de neve dispersas; as encostas da Serra da Estrela vendo-se as luzes de Seia, Folgosinho e Mangualde; podia ate ver-se com nitidez e em dias claros a ermida  de Nossa Senhora do castelo.

bungo6.jpg Farrapos de imagens que vi com nitidez de adulto com cheiros de resina, giestas sentindo também o som martelado característico de tamancos nas calçadas de pedra granítica, irregular, e com rilhas de rodas de carros de bois. Também o pisar de tojos amontoados nas travessas e quintais fazendo curtir o estrume necessário para as batatas, as hortaliças, couves tronchas ou repolhudas. Um esboço medieval de uma típica aldeia mesmo ao lado de Viseu.

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Ainda não havia aqueles adubos de mau cheiro que logologo surgiriam para fazer crescer os tubérculos que alimentavam as gentes, os bichos e as cabrinhas que davam leite. E, aquelas casas malcheirosas de fedor a subir, a entrar nas frestas do soalho e nas ventas, saídos das lojas com ovelhas, burros, bois ou cabras para esquentar os sobrados e seus donos no lado de cima. Frios de cheiros entranhado nos tornozelos, pés gretados, caucionados nas frieiras da Beira Alta Interior quanto baste; um frio do caraças de arrepiar dedos com dor.

bungo7.jpg Mas esta crónica foi pensada para falar do milagre a que assisti já em Angola; milagre que durou os anos de minha juventude, do que eu presenciei nas visitas que meu pai fazia a um antigo sócio do volfrâmio chamado Lázaro pai de Álvaro, um menino que comecei por ver paralítico e numa cadeira de rodas. Enquanto meu pai foi trabalhar para as brigadas do caminho de Ferro de Luanda, antiga Ambaca, Lázaro foi colocado como capataz de estiva no porto de Luanda.

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Minha família ficou a morar no Rio Seco da Maianga, início do Catambor e Senhor Lázaro instalou-se em uma casa de madeira em um bairro chamado de Bungo e mais tarde de Boavista. Ficava mesmo à beira mar da baia de S. Pedro da Barra, uma faixa de terra entre a linha recente do Caminho-de-Ferro e o mar. Estes barracos foram surgindo em áreas do domínio público e cada qual fazia seus puxadinhos até a areia e, bem no término das marés altas. Era assim que viviam os colonos pobres, paredes meias com cortiços, quase musseques tendo por vizinhos pretos e mulatos.

bungo5.jpg Isto para dizer que da varanda que dava para o mar, Álvaro o moço paralítico rojava-se até às águas espelhadas da baia e ali ficava quase todo o santo dia. Sempre que meu pai visitava seu amigo Lázaro eu, também aproveitava ficar ali nas mornas águas sacolejando-nos em jogos variados. Por vezes, até dormia lá a pedido de Dona Micas mãe de lázaro a fim de ter companhia; embora tivesse mais irmãos, ele e eu dávamo-nos bem ou de um outro jeito. Eu era bem tolerante com os esgares e caretas que Álvaro fazia no esforço de pronunciar falas; até nos entendíamos por gestos e vontades telepáticas.  

bungo2.jpg Assim o Tonito da Dona Arminda por lá ficava uns dias com seu amigo Álvaro o paralítico, coitadinho. Sentimo-nos peixes na água mergulhando como golfinhos ou boiando como bogas, roncadores e mariquitas. Por vezes e dentro de água fazíamos grandes pescarias daqueles peixes e até carapaus, agulhas ou garoupas. Bom! Agora vamos ao tal milagre.

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Álvaro começou gradativamente a andar, primeiro titubeante agarrado a bordões e mais tarde solto destes, andando como um boneco de circo, pernas esticadas e bamboleando, mas andando! Estou a ver seu sorriso ao longo do tempo quando fazia uma qualquer outra avaria; um sorriso babado com descontrolo muscular mas sortido de alegria. Pouco a pouco foi deixando a cadeira de rodas e até já ia só, até o transporte que o levava à escola do Kipaka!

bungo1.jpg A razão por que falo disto é a de que se há qualquer coisa que reabilite nossos ossos, músculos e rijeza ao organismo é mesmo o iodo das manhãs nas águas quentes do mar; uma tal de vitamina D que nenhuma pilula nos pode dar. Como kota, sinto isto desde 2006 pela ida muita frequente à praia, aqui no nordeste Brasileiro. Entre as 6 horas da manhã e as nove horas, lá estou metido até o pescoço na água da Pajuçara. E, olhem que é bem notório o bem que me sinto.

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Mas a grande felizarda é mesmo minha mulher Ibib com seus 75 anos de idade que não andava 100 metros quando aqui compramos casa e agora, sem se queixar das mazelas dos ossos, já anda quilómetros. Isto, o gozo da natureza, é o melhor que podemos ter nesta idade! A minha talassoterapia nas águas quase paradas e quentes da Pajuçara de Maceió é prioritária. Os resultados são lentos mas eficazes para quem persiste e, porque a natureza só por si dá-nos recursos. Recursos que a maioria das gentes desaproveita.

bungo4.jpg É por isto que não me posso ver longe do mar tropical por muito tempo. Todos os dias faço movimentos os movimentos recomendados pelo meu próprio “personal trainer”… Eu, próprio. Agradeço assim sem protocolos à mãe natureza e seu dirigente chamado Deus sem outras felpudas falas e, porque os homens mais dignos de penas serão aqueles que transformam seus sonhos em prata e ouro. Faço os possíveis!

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 07:45
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Segunda-feira, 2 de Janeiro de 2017
MOKANDA DO SOBA . CXVIII

TEMPOS PARA ESQUECER - 02.01.2016 - ANGOLA DA LUUA XXVII.

NA GUERRA DO TUNDAMUNJILA. “Vai para a tua terra, branco” era o que mais se ouvia na Luua de 74/75… Nesta lengalenga de lembrarmos coisas mortas, cada homem é um mundo…

Por     

soba0.jpeg T´Chingange - (Otchingandji)

A retirada do General Silva Cardoso do posto de Alto-Comissário sem o prévio conhecimento à FNLA e UNITA e, com atitudes obscuras em benefício do MPLA levou Jonas Savimbi a reclamar. Sob protesto, anunciou que não teria mais contactos com as autoridades portuguesas empossando José N´Dele destas atribuições. O MPLA, na manhã do dia 7 de Agosto, com as suas FAPLAS atacam a delegação da UNITA na Avenida dos Combatentes. O ataque ao Pica-Pau da UNITA já tinha acontecido.

pica1.jpg As FALA (exército da UNITA) abandonam ao longo deste dia sete todas as instalações recolhendo-se junto dos quarteis do exército português de onde seriam evacuados para o Luso e Nova Lisboa. Nas escolas os alunos comentavam de forma propositada para os professores ouvirem: “ branco vai para a tua terra”; “a casa do professor é nossa”; “o carro do professor é nosso” e, por aí! Um pouco assim e por todo o lado!

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Nos três últimos meses tinha morrido mais gente do que em 14 anos de guerra colonial; algo nada lisonjeiro para os novos nacionalistas Neto, Savimbi e Holdem com responsabilidades acrescidas para os vendilhões militares de Abril do M´Puto de mãos dada com o poeta ébrio Neto. A FNLA e o MPLA colocavam armas pesadas no topo dos edifícios. O MPLA praticava acções simultâneas e concertadas em Luanda, N´Dalatando e Malange criado zonas tampões nas quais ninguém podia sair ou entrar.

picapau1.jpg Os Angolanos de etnia negra, não estavam a mostrar em sua esmagadora maioria dignidade pela oferta recebida; não eram merecedores de apreço das pessoas de bom senso; todos andávamos desapontados sem saber o que fazer tal como o kissonde quando é disperso em sua linha, carreiro de vida. Os brancos protestavam; queriam sair de angola da forma possível!

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Também nos quartéis do M´Puto as notícias são de boatos de golpes e contragolpes; as secretas: alemã, francesa a CIA e o KGB convivem entre os portugueses, assistem ao levantar de punho incitados por Vasco Gonçalves e animados pela pandilha de Mário Soares e outros que a história terá de lembrar.

picapau8.jpg Na Luua (Luanda), no dia 4 de Junho, as FAPLA bombardeia a Delegação da UNITA no Bairro Pica Pau (Comité da Paz). Morreram todos os seus ocupantes! E, foi com tudo! Lança granadas, metralhadoras pesadas e ligeiras. No Pica-pau esquartejaram e arrastaram corpos vertendo sangue no asfalto (mais de 200 jovens pioneiros da UNITA). O MPLA não queria em Luanda nem fenelas nem kwachas nem gwetas (brancos)!

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A UNITA estava também a ser erradicada da Luua. Quem ouvisse os discursos de Agostinho Neto ou um qualquer quadro de destaque do MPLA, verificaria sem esforço no prevalecer das palavras de ódio contra os brancos, ovambos ou afectos à UNITA, gente do norte afecta à FNLA e gente ligada à FLEC de Cabinda. Angola era só para eles, os kazukuteiros feitos heróis. Silva Cardoso sentia-se impotente para resolver estes ataques que tinham o acordo de seus subordinados Tugas de mãos dadas com o MPLA. Só lhe restava pedir a demissão porque estava permanentemente a ser traido! E, isto aconteceu!

picapau6.jpg A FNLA estava a revelar-se ser um “tigre de papel”; fugiam ao primeiro tiro, largavam armas e de forma desordenada desapreciam a receber protecção nos quartéis portugueses. Eram como crianças crescidas que com uma arma na mão faziam coisas diabólicas, matando gente como quem mata galinhas; gente nada confiável!

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Neste dia sete de Agosto e pelas dez horas da noite eu e família, dois filhos, mulher e sogra embarcávamos no voo 13 da “ponte” como desalojados via LIX. Tinha recebido a minha dose em Kaluquembe; meu carro tinha sido sabotado no dia anterior e a caminho do Sul, Namacunde, aonde tinha um cunhado.

picapau7.jpg Meu carro, do nada, incendiou-se, alguém tiha feito um golpe no tubo de alimentação ao motor. Capotou e eu, ali fiquei morto, estendido. Minha alma saiu do corpo e voltou fracturada. A clavícula estava partida. Foi o Drs Roy e David Parsom do Longonjo que me tratou. Neste então eu pertencia ao Comité da Caála como Secretário de Relações Públicas. Não me arrependo do que fiz enquanto fiz! Até então tudo estava sob controlo naquele recanto do Huambo.

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Em Lisboa os funcionários da Cruz vermelha e afins dão-nos as boas vindas: “por causa destes ranhosos estamos aqui neste castigo” acabando por nos dar 5000 escudos por adulto e, para as primeiras impressões! A guia de voo ainda a tenho - nela não consta o regresso! Esta era a definitiva entrada num território até então longínquo. A minha capital da N´Gola e na Luua era, sempre tinha sido a Mutamba. Coisa para esquecer!

picapau5.jpg Para além de nossos corpos tinhamos umas roupitas e de valor só mesmo “uma máquina de costura Oliva” para servir em nossa sobrevivência. Esta máquina estava adaptada como mala e foi o único valor do meu património como mazombo filho de colono. Meu pai foi o Único que ficou até que um dia e já passados dois anos foi raptado e deixado como morto por detrás do aeroporto. Foi em Torres Novas que retirou a bala que por sorte não o gangrenou. Ainda o vejo no aeroporto de Lisboa, feito uma bola de sangue, um bolo de porrada só porque era branco!

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Em Angola Savimbi mandava retirar o seu pessoal político e militar. Pediu à Marinha e à Força Aérea para que evacuassem todos os seus militares das FALA e apoiantes para o Sul; de todos os que se mantinham para além de Luanda, Carmona, cabinda e santo António do Zaire. A partir do dia 9 de Agosto de 1975 o Governo de Transição de Angola ficava reduzido ao MPLA  e à parte portuguesa. Ainda faltavam 94 dias para o dia da largada, o 11 de Novembro de 1975.

picapau3.jpg O novo Ministro dos Negócios Estrangeiros, Mário Ruivo, reconhecia oficialmente o Óbito do Acordo do Alvor. Para tal proclamaram o estado de emergência com a criação de uma Junta Governativa para substituir o defunto Governo de Transição que só durou cerca de seis meses. Neste molho de brócolos, o Governo de Transição foi extinto mesmo sem que para tal estivesse autorizada a sua substituição em caso de incapacidade. Mais uma medida no âmbito revolucionário feita em cima do joelho pelos generais e políticos de aviário. E, o Mundo só assistia a isto!

(Continua…)

O Soba T´Chingange (Otchingandji)



PUBLICADO POR kimbolagoa às 14:04
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Sexta-feira, 16 de Setembro de 2016
MUXIMA . LXII

MULOLAS DO TEMPO - As Maiangas da Luua

Muxima e Ongweva são saudades

Por

luis0.jpgLuis Martins Soares

luua7.jpg O abastecimento de águas desde os primórdios da colonização portuguesa, foi sempre um problema das autoridades coloniais. Alguns historiadores escreveram que Paulo Dias de Novaes reconhecendo não ser a ilha do Cabo o lugar mais adequado, avançou para terra firme e fundou a vila de São Paulo de Luanda em 25 de Janeiro de 1576, tendo lançado a primeira pedra para a edificação. A escolha do novo local para a vila foi influenciada sobremaneira pela existência de um magnífico porto natural, situado numa baía protegida por uma ilha

luua12.jpg Mas, foi uma fonte de água potável, que mais ponderou em sua decisão; era necessário abastecer as naus do reino e, as águas do poço da Maianga na então existente lagoa dos Elefantes eram suficientemente potáveis . Os poços deram origem anos mais tarde às duas Maiangas, a do Povo e a do Rey, que nasceram entre 1641 e 1648.

luua6.jpg A “REVISTA UNIVERSAL LISBONENSE” n°. 25 de 30 de Dezembro de 1852, publica artigo interessante sobre a cidade de S. Paulo de Assumpção de Loanda onde os poços denominados MAIANGAS fazem parte da matéria publicada: “Nos subúrbios ou arrabaldes da cidade há muitos arrimos (hortas), e as duas Maiangas (poços públicos) que servem de recreio aos seus moradores têem a cidade dentro das barreiras cinco quartos de milha de comprimento, e três quartos de milha na sua maior largura.:::::4A cidade alta é reputada mais saudável que a baixa pela sua vantajosa posição, todavia ambas sofrem sensível falta d’agua por não haver em Loanda mais que dois poços denominados Maiangas, dos quaes um só é público, e que não chega para o consumo dos seus habitantes “...etc.

luis50.jpg As Maiangas citadas são a Maianga do Povo e a Maianga do Rey que foram construídas em meados do século XVII a mando de Salvador Correia de Sá e Benevides. A água das cacimbas públicas e particulares (poços) é toda salobra. O poço Maianga do Rei serviu exclusivamente para abastecimento das estações públicas ou seja para uso dos religiosos e autoridades coloniais, conduzida em carros das obras públicas. 

luis51.jpg  Este poço localizado perto da Rua da Samba nunca despertou a minha curiosidade para o conhecer de perto quando eu e a família nos deslocávamos a pé para a Samba onde um rochedo plantado na beira-mar e na extremidade da praia servia de trampolim para os nossos mergulhos.::::7Conheci o poço Maianga do Povo bastante, pois morei muitos anos perto dele, no Bairro da Maianga. Internamente uma escada dá acesso até se atingir a linha de água onde parte da população local se abastecia da água salobra transportando-a por latas ou em barris.

 luis53.jpg O Rio Seco, no período das chuvas quando colecta as águas vindas das barrocas dos Quarteis no seu trajecto rumo à Samba, às vezes bastante caudaloso, passa muito perto destas Maiangas. As águas no seu trajecto final, segundo historiadores, desaguavam numa lagoa que era a Lagoa dos Elefantes antes de se descarregar no mar (no lugar da Samba).

luis52.jpg Os elefantes procuravam a lagoa para matarem a sede mas, pelo progresso, foram obrigados a procurar outros lugares como a Quiçama, pela invasão do seu território. O poço Maianga do Rey está reproduzido em um painel de azulejos nas paredes interiores da casamata, no estilo da azulejaria portuguesa do século XVIII, na Fortaleza de São Miguel.

maximbombo.jpeg Havia também a lagoa Cacimba do Kinaxixi transformada em ponto de abastecimento a luanda antiga do Maculussu e Ingombotas, na qual se abastecem os Padres Jesuítas afectos a Nossa Senhora do Carmo, um pouco acima da Mutamba. Os contos, missossos e mussendos de Óscar Ribas fazem menção desta lagoa, um lugar místico dos kaluandas e dos escravos traficados pela D. Isabel Maria Lane no século XVIII.

maianga do araujo.jpg Nota: A parte 10 (maximbombo) foi um complemento introduzido pelo relator desta.

As escolhas do Sob T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 15:16
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Quinta-feira, 19 de Maio de 2016
MAIANGA . XVII

MAIANGA DA LUUA - ESTOU EM PEREGRINAÇÃO À MAIANGA DO M´PUTO
- Luanda esconde, entre casas e ruelas, dois ícones dos tempos em que a cidade começou a ser grande. Eram as maiangas, nomes de kimbundo para “poço”. Maianga do Rei para os ricos; Maianga do Povo para os “outros”.
Por

t´chingange.jpegT´Chingange

afon4.jpg Estamos em Maio de 2016. Sempre a fugir do presente, encontro-me com o passado a dar-me sossego e, que nem um peregrino, rumei de Guaxuma do Brasil para o M´puto, depois segui as kiandas da minha terra de N´Gola e subi até Burgos. Passei uns momentos épicos com meus manos comendo tapas e rodelas de calamares mas, sempre em pulgas rumei a Granada. E, vi Alhambra com meus kambas, kiandas de Granada voltando de novo a Toledo. Ali me mantive curtindo um concílio que ainda dura e, para onde voltarei.

ÁFRICA2.jpg Desci a Málaga e estive com Picasso sem ver guernica; vi catacumbas em seus alicerces com paredes mais velhas do que Cristo. Vi múmias Fenícias, máscaras antigas dos romanos ao jeito de fazer teatro e, agora estou em Coimbra rumo a Ti Matilde de Ansião para cantar Maianga Maianga, bairro antigo e popular, da velha Luanda com palmeiras ao Luar. Espotricando o tempo, aqui estou visitando a tumba do meu tetravô Afonso Henriques a dar-lhe novas, novíssimas. Ele mudo e quedo, nada me disse; coitado já tem as letras árabes e romanas fanadas, esfarinhadas feitas pó. 

kafu10.jpgE agora, rumo à Maianga da Ti Matilde, nossa muxima do M´Puto, revejo a Luanda de casas e ruelas, com dois pontos de água construídos para abastecer a população e, que agora o musseque tapou. Fugindo aos roteiros tradicionais encontro-me entre musseques, tectos de zinco com pedras e tijolos a segurá-las do vento. Sapatos encarquilhados amontoados com restos de coisas indefinidas junto às antenas parabólicas, mostrando alguma riqueza em seus exteriores; cheiros e fumos saindo dos cantos, das fendas e, ruídos de falas com merengues e kimbundices feias de túji e sundiameno. Mas a riquesa mesmo está lá com os filhos e afilhados do EDU, carros Xis-Pê-Tê-Oó, fourd by fourd.

may1.jpgAproveito dizer que o Kimbo blogue a Kizomba do FB pretendem ser uma referência como catalisador dessa pura amizade. Uma força integradora do nosso tempo que subsiste candengue. Kimbo e Kizomba são ou pretendem ser BANCOS DE ÉTICA sem horários, sem mujimbos, sem makas para quem vier por bem, diga-se! 

may8.jpg Por vezes, brincamos afugentando desencantos, mostramos os valores que nos fidelizam. Fiéis à amizade sem esperar nada em troca, sem rompantes de malvadez ou angústias de ter ou não se ter; ser-se amável sem manipular! Sem a preocupação de preconceitos ou conceitos pré-definidos quer-se ser isto, tendo-vos como credores e financiadores a custo zero! Maianga já é velhinha mas, tem alma sempre nova…

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 15:47
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Terça-feira, 1 de Março de 2016
KISANJI . XIX

NA COPA DO TEU MULUNGUAs falas de Zeca - No sertão de Lampião… Morre um capim, nasce outro. A vida sempre persegue a gente…

Por

zeca00.jpgJosé Santos Vulgo Zeca mamoeiro, professor Katedrático da Universidade do Rio-Seco da Mayanga da Luua. O maior caçador de sardões das barrocas do Catambor …Poeta das horas passadas 

MULUNGU1.jpgTonito k kamba de carteira, bué doutorado pela saudosa Universidade do Rio Seco da Maianga, te digo que jihenda é paka e os loando da kubata do meu muxima tem kissanje que toca nas lâminas de bambu as fala uaba para ti. Um mambo sério mesmomesmo voa para ti, e, num sei como a tua esperteza de afiador, cheirador, contador…, de terra vai peneirar, dinovo    despeneirar para encontrar minhas pepitas de ukamba, que tem junto um bocado de papel de embrulho da fuba da saudosa Mercearia Morais, da Rua da Maianga, que fazia fisga com a Travessa de João Seca.

zeca0.jpgMULUNGU2.jpg

 

De buelo em buelo ando neste M´puto que não tem cheiro de mato e onde tem doença do catato, que nos meu mambo de aprendiz de kimbanda só sai com o nosso “biológico” CARRO DO FUMO…do mu ukulu. Assim matutando bué, cheirando rapé de macanha…, neste tempo de goiaba podre, botei os meu fumo nas minhas fala de sociologias, filosofias…, e, também, depois de muito catembado, quase um barril nas condição de decifrador das falas.

MULUNGU5.jpg Digo como conclusão, buscando a solução com a ajuda do Piskunov que desconsegui e o meu gigler grande e abafador do carburador, pifou! Assim, lelu e também neste meu estado de bué katotolo onde o frio é azagaia de gelo e já panka o meu miolo, k kamba Tonito, famoso Soba T’Chingange te faço um pedido, mas num digas num dá, porque aí os meu feitiço entra na tua kubata, tu viras múmia dos Egipto, katé piranha desconsegue botar os dentes afiados, Tambula conta!

MULUNGU4.jpg Me manda nas asas de uma bela ARARA bilhete da EVA, para botar minhas férias de descanso na minha xipala, mutue, muxima…, tudotudo está num burilar que dá pena, que nos enguiço pode virar pena e voar como o Catete. Quero comer o meu funji com esse peixinho TRIARA e com a panela virada para mim, para ti, para a Bibi…e demais teus kamba desse Sertão de Lampião. Quero beber esse chazinho de KAVA-KAVA, apalpar o pernão da MOPANE, botar minhas chapas na margem da kalema, meus mergulhos nos fundo espelho nesse MAR VERMELHO, que as tuas fala me fez suar na esteira da Kisola.

MULUNGU3.jpg Tudotudo para envernizar o meu corpo kota de quase imbondeiro sékulu e cheio de salalé…, e, nesse estado de olhar parado para ti, para a tua barriga de ginguba e dizer: - Amami’ééé kamba uaba missosso “MULUNGU…FUI AO MAR VERMELHO” kisola kiavuluvulu ami…”  

Num delíriode avilo desse RIO, tudo teu leio, penteio no papel,

guardo na minha estante de pele de bambu desse uaba mu ukulu. 

Minha kubataestá forrada com folhascheias de tuas falas… 

Minha mulembaé encosto

zeca e eu.jpgParaíso,onde meu feliz riso chama Catete para piar poesia,

                                  chamo o povo para ter prenda 

                                  para ouvir o Zeca, o “grande” nas fala do  T’Chingange

 NGASAKIDILÁ O MUXIMA KAMBA AMI - ZECA 2016022912H33 TSENHOR

As escolhas do soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 08:25
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Quarta-feira, 30 de Dezembro de 2015
MUXIMA . LII

MULOLA DA “AMIZADE” - Qualquer um, tem de ter a oportunidade de ter um rio só seu...

Mulola é um rio que só leva água quando chove

Por

t´chingange 0.jpgT´Chingange

engraxador1.jpg Ando encafifado com uma máquina de fazer “alegria” para comemorar os amigos que fiz, tendo cada qual mais de 80 outros amigos comuns. Os artefactos que encontrei para elaborar esta, é um segredo de minha patente mas, posso adiantar que além de alegria, a máquina é capaz de produzir arco-íris pra deslumbrar suas vidas; ela, a máquina, tem a capacidade para produzir não apenas arco-íris normais mas também duplos e triplos, e até alguns invertidos ou enrolados nas pontas. Posso acrescentar que o último protótipo é parecido com uma foice!

engraxador2.jpg Quando a amizade é mesmo encharcada de feitiço, até galgamos lonjuras para cheirar feno fresco, assim a ficar com os sentidos inebriados de dias com quatro estações. Até podemos sentir a primavera logo a seguir ao verão; falar por assobios ou mesmo estalidos e escrever por traços e pontos com zeros e uns, sem daí sair e, decerto seguindo um código de entendimento, nos relacionaremos perfeitamente; gesticulando ousadas gaifonas ou mesmo bufando desesperos transpirados.

araujo10.jpg Se a politica nos separa, não se fala mais nisso, passamos ao futebol ou falamos de Madre Tereza de Calcutá! Entre piadas e amuos revigoraremos os percursos no sentido ou ao contrário dos ponteiros do relógio sufragando os doces dum ano que finda e as passas dum ano bissexto que chega. É sempre emocionante ler as mokandas de amigos, mesmo que tenham nomes estranhos como LUSAKIDILU, falas genuínas dum kamba dum Rio Seco! Dum Rio que só o é na lembrança antiga, que se quer sem fungos nem cacos velhos. Rio que só leva água quando chove a montante.

barão2.jpg Um amigo tem sempre missangas para enviar assim o queira, por apitos ou estalidos ou mesmo muxoxos com ou sem nevoeiro, cacimbo ou trovoada de chuva grossa! Gostaria agora, neste instante, de enviar apitos espaciais da Maianga para cada um dos meus amigos que por qualquer razão não têm a cor do meu, nem as mesmas notas, as setas invertidas, um punho fechado ou uma forma fálica a fingir de dedo, assim para cima ou ao centro, ou mesmo uma seitoura com uma planta ou orelha de burro. Isto pouco importa para venerar meu culto crente sem as coisas desatinadas de todos os dias. 

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 21:22
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Domingo, 13 de Dezembro de 2015
MOKANDA DO SOBA . LXXXVI

CINZAS DO TEMPOTento aprender a viver com o vazio das coisas … Fui para longe, no tempo, para ver bem os recantos que não podem ser vistos de perto… III

t´chingange 0.jpgT´Chingange

harlei.jpg Hoje era suposto descrever sucintamente as estórias de Monangamba do Zeca Kafundanga, meu irmão preto saído de Cassoalála, mas ainda não encontrei as mentiras certas para contornar verdades e, sem meter resíduos de pólvora; os tempos eram muito de periclitantes com mona-caxitos saídos do paralém de Kassoneca e Kifangondo, coisas de kwata-kwata de gwetas para o M´puto. Todos nós em dado momento de nossas vidas fomos no mínimo, donos de um instante; já fomos loucos o suficiente para sentirmos as rugas das estradas e falarmos em liberdade na forma de discutir carburadores, pistões e velas de ignição.

sachs.jpg Nessas antigas conversas uma corrente dentada era um pedaço de ilusão terminada nas cremalheiras de elos em forma de futuros sonhos. Foram tempos desafiadores em conhecimentos de escapes com espírito motorizado de humilhar motores; tempos de ciências com centímetros cúbicos de cilindrada de filosofias de Famel XF-19, de zundappes, nsus e kavasakis, tempos de muito n´guzu.

puch 2.jpg Na falta de tino, riamos às gargalhadas dos perigos inaceitáveis vindos de polícias agigantados com calças nazis de balão lateral montando Harley Davidson. Falando todos ao mesmo tempo especulávamos sem teimas esclarecidas, comentando mujimbos decapitados no diz-que-diz. O mundo era nosso, enfim! Estes fedelhos candengues cresceram, cada qual para seu lado estudaram e casaram, tiveram filhos, emigraram, fugiram e num ir e vir por aí fiaram na diáspora sentados em sofás de napa, cabedal ou veludo.

amilcar4.jpg Mais velhos, reconsideraram quando lhes passou a tal irritação de orgulho quando já era tarde demais, que afinal não se conheciam as esperanças que tinham; que talvez estivessem convencidos que estariam melhor por lá naquele fim de mundo, a tasca, a fazenda, a picada. Que afinal só reconsiderou quando lhe passou a irritação do orgulho tardio. Aquela fotografia pertencia a outra idade; era impossível regressar lá.

angola rural.jpg Nos pensamentos longínquos cheiram-se as cismas fechadas, as sombras das cenas, os retractos de família amarelecidos e até pintalgados pelas moscas, as cuecas dobradas sobre a roupa na cadeira, as calças ao calhas, enrodilhadas com flanelas e lãs da serra, camisolas de lá, um indistinto lugar no meio da floresta ou para lá do fim do mundo, lugares inóspitos.

O Soba T´Chingange

 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 13:37
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Sexta-feira, 4 de Dezembro de 2015
MAIANGA . XV

ANGOLA - Conversa da Luua - Quando se perde património, já não se recuperaVII

Maianga é um bairro de Luanda - Luua

Por:  Eleutério Freire 

mugi4.jpg (…) Fala-se muito do lixo de Luanda. Isto é só o espelho da avalanche de gente que não era urbanizada, ou é mesmo a incapacidade de se lidar com uma realidade urbana? As duas coisas. O africano comum tradicional é uma pessoa limpa. Basta ver as casas dos camponeses. A passagem para a cidade fez quebras, perde-se o quintal e, às vezes, até os hábitos de limpeza. Na cidade cada pessoa produz X quilos de lixo por dia, isso acumula-se rapidamente. Tem de haver mecanismos de fazer desaparecer o lixo, por causa das doenças.

guerri3.jpg Por outro lado, na nossa época, o lógico é montar sistemas de recolha de lixo em paralelo com a sua rentabilização, para até diminuir as despesas, porque as despesas da recolha do lixo são cada vez maiores, aumentam com o crescimento da população. Recolher o lixo custa dinheiro, o que temos é pura perda, estamos a acumular toneladas de lixo sem buscar soluções para ganhar dinheiro com o lixo. Pode usar-se o lixo até para a produção de energia, recolhendo o gás que o lixo produz e utilizar para a iluminação, para cozinhar etc. Temos desperdiçado os benefícios do lixo. Há experiências universais que devemos aproveitar.

mutamba4.jpg Quando colabora com o Núcleo de Arquitectura da Universidade Lusíada e com a Associação Kalu é porque sente que a palavra poderá ajudar Luanda? São iniciativas importantes. Acho que a Kalu deveria ter maior interacção com as organizações nos bairros, é um exemplo que se deve reproduzir até noutras cidades. A Kalu é uma associação de elite, de vanguarda, com informação e deve interagir com as outras associações de amigos de cidades e bairros pelo país.

roxo.jpg O Núcleo de Estudos da Lusíada traz um aspecto técnico e investigativo que casa bem com os propósitos da Kalu e acho que se deve multiplicar também pelo país. O pouco que sei vou partilhando com eles. Andava há tempos para fazer uma visita pela cidade com a arquitecta Ângela Mingas, acho que esta relação dos arquitectos com as cidades, que não havia nem no tempo colonial … O futuro de Luanda está na palavra? Sim. É importante divulgar e levar as pessoas a lidar melhor com os seus espaços. Mas isso tem de passar pela escola, etc., até pelas escolas de condução, tanta é a falta de educação no trânsito.

FIM

José Kaliengue assim lembrou

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 14:01
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Segunda-feira, 30 de Novembro de 2015
MAIANGA . XIV

ANGOLA - Conversa da Luua - Quando se perde património, já não se recuperaVI

Maianga é um bairro de Luanda - Luua

Por:  Eleutério Freire 

maianga0.jpg (…) E Ingombota? Aqui há uma mudança. No início da vila aquilo era mato, era lá que se refugiavam os escravos fugitivos, era o primeiro refúgio, o quilombo. Em kimbundo refúgio é ngombota, e essa acção de se esconderem aí baptizou o local. Quando o local passou a ser habitado as pessoas diziam que moravam na ngombota e os portugueses corromperam a expressão adicionando o “I”, ficou Imgombota. É engraçado ver que há nomes da cidade que se mantiveram. A Samba, por exemplo, veio de Elefante: n´samba, em kimbundo, significa elefante. Daí também a tal lagoa dos elefantes de que falámos há pouco. O nome do bairro vem daí!

maianga1.png Luanda passou a ser um conjunto de cidades sítios com características próprias. Olhando para Luanda, consegue imaginar uma cidade que recupere as tardes num jardim com os filhos, a andar de bicicleta, etc., ou na cidade nova a sul? Lamentavelmente, na cidade antiga, mesmo na parte mais moderna, deram cabo de uma grande parte de largos e campos de futebol, não percebo como dizem gostar de futebol sem campos.

maianga4.jpg Agora dizem que vai ser feito um projecto director da cidade, o que poderá preservar algumas coisas… Falta o tal plano, com autoridade suficiente… A nova parte sul da cidade é de um novo modelo, com condomínios… Pode-se considerar isso como vida numa cidade? (Risos...) Não há definições petrificadas, as coisas evoluem, acho que isso faz parte de uma evolução. Nunca estive numa mega cidade como S. Paulo ou cidade do México, que são somas de pequenas cidades. Talvez aí se encontrem exemplos.

maianga3.jpg Quando estive a estudar em Lisboa, por exemplo, vivi num bairro que era mais província, mais campo do que cidade de Lisboa. As pessoas tinham um comportamento que era mais para o lado da província portuguesa do que da cidade. A barreira era apenas uma linha de comboio e uma rua de 80 ou 100 metros. Eram duas formas de vida diferentes. Transformar os musseques em formas urbanas de boa qualidade, e acho muito bem!... Vamos ter uma Luanda com várias cidades? Exacto, vamos ter vários centros urbanos onde espero que haja a capacidade de as pessoas viverem agradavelmente.

(Continua…)

José Kaliengue assim lembrou

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 13:41
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Terça-feira, 24 de Novembro de 2015
MONANGAMBA . XLI

ANGOLA Velhos quebrantos - No reino do Kongo muito antes da chegada dos portugueses já existia o comércio de escravos… 3ª de 3 Partes

Por

luis0.jpg Luís Martins Soares (Soba T´Chindere) - Nasceu a 8 de Julho de 1934. Tem agora 81 nos de idade. Uma biblioteca de coisas esquecidas numa Luanda que nessa altura não tinha ainda 18 000 habitantes; Um contador de estórias de que dá gosto ler aos candengues do kimbo (reside no Brasil) …

O africano e o tráfico de escravos

luis39.jpg É a partir daqui que se iniciará a conquista pelos portugueses desta região de África. Na chegada do navegador Diogo Cão ao Reino do Kongo, Kongo dya Ntotila ou Wene wa Kongo ou em português: Reino do Congo fez alianças com o manicongo (que significa senhor ou governante do reino do Congo) Nzinga Nkuwu. O reino do Kongo era bastante desenvolvido quando da chegada de Diogo Cão, comercializando cobre, metais ferrosos, ráfia e cerâmica. Tinham habilidade para a escultura incluindo o talhe de máscaras. Pertencem ao Grupo Étnico dos Bantos.

luis38.jpeg Segundo José Redinha (1905-1983) pesquisador e etnólogo português e angolano de coração, escreveu entre outros o estudo “DISTRIBUIÇÃO ÉTNICA DE ANGOLA”, obra editada pelo IICA – Instituto de Investigação Cientifica de Angola, onde menciona que foi estabelecido para os Bantos angolanos várias subdivisões étnicas pertencendo nesta relação, entre outros, o Grupo Quicongo. No reino do Kongo muito antes da chegada dos portugueses já existia o comércio de escravos, mas após a chegada destes o Reino do Kongo tornou-se um importante fornecedor de escravos para os comerciantes portugueses e para outras potências europeias. Havia forte resistência dos nativos à penetração portuguesa para o interior.

luis40.jpg Os portugueses tinham esperança quando da chegada àquelas terras de encontrarem metais preciosos e se nas terras do N´gola haveria prata. Não encontraram esse metal precioso e perceberam que um negócio muito lucrativo seria investirem no comércio de escravos já existente adquirindo-os junto aos povos do litoral. Os escravos eram capturados em guerras ou ataques organizados entre grupos étnicos e vendidos aos europeus. A condenação à escravidão era uma pena utilizada pelos sobas para castigar os delinquentes. Em tempos de grande fome, o indivíduo sem meios de subsistência podia também oferecer-se para escravo, a fim de ter que comer: era o “corpo vendido”.

luis41.jpg Os principais comerciantes de escravos do Atlântico, ordenados por volume de comércio, foram: os impérios Português, Britânico, Francês, Espanhol e Neerlandês, além dos Estados Unidos (especialmente a região sul). Nos países colonizados pelos europeus, os historiadores, sistema educacional e governos jamais vão admitir a participação dos próprios africanos no tráfico negreiro, mesmo sabendo esse lado terrível da história de negros contra negros, camuflando hipocritamente a verdadeira história em que todos fomos culpados.

Fonte de consulta: Do Cabo de Sta. Catarina à Serra Parda de Carlos Alberto Garcia; A Conquista Portuguesa de Angola de David Birmingham.

FINAL

Monangamba – Do kimbundu - trabalhador sem especificação, faz-de-tudo (por vezes pejorativo).

As escolhas do Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 19:14
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Segunda-feira, 23 de Novembro de 2015
MAIANGA . XIII

ANGOLA - Conversa da Luua - Quando se perde património, já não se recupera – V

Maianga é um bairro de Luanda - Luua

Por:  Eleutério Freire 

mutamba7.jpg (…) Além das transformações arquitectónicas, físicas, há um coro de lamentações sobre a qualidade de vida na cidade. Com o que é que se perde as relações humanas? Com mais televisores, mais trânsito, a vida moderna? Acho que tudo entra! Partiram-se as duas estabilidades: a cidade dos brancos e a periferia. Havia uniões entre elas, como o Clube Atlético de Luanda. Cada uma destas duas sociedades, porque havia um corte a separá-las, tinham as suas organizações, os seus clubes. O seu modo de vida, com os seus divertimentos, cada um da sua maneira.

mutamba5.jpg Luanda teria entre 300 a 400 mil habitantes, metade seria de europeus. De repente, noventa por cento de uma parte foi embora. Os da periferia vieram para a cidade juntando-se-lhes os regressados. Criou-se um desequilíbrio que modificou os modos de vida … Não seria espectável que as pessoas que saíram da periferia para o centro da cidade ao menos levassem o seu modo de relações sociais? De certa maneira transportaram, tanto quanto me apercebo. Algumas famílias dos subúrbios mudaram apenas em parte. Como as famílias eram numerosas, no subúrbio, a parte extra que se mudou para a cidade continuou a manter a relação com a outra parte, pelo menos ao fim de semana, essa é uma das coisas boas que se mantiveram.

mutamba4.jpg Com a guerra, com o recolher obrigatório, isso criou um novo modelo social, somados os constrangimentos da falta de abastecimento, algumas vezes, a falta de electricidade … houve ruptura dos equilíbrios e estão a criar-se novos equilíbrios. A cidade que cresceu com populações de fora está agora num período de construção e reconstrução de uma cidade que nunca voltará ao que era … Não se recuperarão as maiangas.

mutamba6.jpg Mas o que é uma mutamba? É uma árvore! Tudo o que é “mu” em kimbundo é árvore. Mutamba é tamarino, que já não encontramos no largo da Mutamba. Há fotografias que ainda mostram as árvores no antigo largo da Mutamba. Mas depois vieram os edifícios da Fazenda, o outro onde está a Sonangol, mas o nome ficou. É como o Kinaxixe que era o nome de uma lagoa.

(Continua…)

José Kaliengue assim lembrou

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 13:10
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Sábado, 21 de Novembro de 2015
MONANGAMBA . XL

ANGOLAVelhos quebrantos - Monótona é a vida do perneta; andar sempre no mesmo pé… 2ª de 3 Partes

Por

luis0.jpg Luís Martins Soares (Soba T´Chindere) - Nasceu a 8 de Julho de 1934. Tem agora 81 nos de idade. Uma biblioteca de coisas esquecidas numa Luanda que nessa altura não tinha ainda 18 000 habitantes; Um contador de estórias de que dá gosto ler aos candengues do kimbo (reside no Brasil) …

luis34.jpg O africano e o tráfico de escravos

(...) Ainda no reinado do Infante D. Henrique (1394-1460), com a exploração da costa africana, a Coroa portuguesa empreendeu a construção de feitorias no local. Nesse tempo os portugueses estavam interessados na obtenção de produtos africanos mais o Oriente na busca de ouro, prata e especiarias. O comércio de escravos não despertou aos portugueses interesse algum, pois a mão-de-obra não lhes cobiçada de então. Sentiram a necessidade de serem estabelecidos pontos de comércio e com essa finalidade criaram as conhecidas feitorias, entrepostos fortificados nas regiões litorâneas.

luis33.jpg Em 1448 os portugueses construíram sua primeira feitoria na África: o forte de Arguim (na região da Senegâmbia, actualmente Mauritânia). Pretendiam atrair as rotas próximas dos mercadores muçulmanos no norte da África tendo sido construídas outras feitorias. Em 1460 os barcos e os pilotos portugueses são reputados como sendo os melhores e a fama de sua perícia atrai o reconhecimento europeu.

luis37.jpg Em meados do século XV, a experiência, já os havia transformado nos melhores navegantes do mundo. Marinheiros portugueses começaram a explorar a costa da África, utilizando os recentes desenvolvimentos em áreas como a navegação, a cartografia e a tecnologia marítima, marcando presença na África Ocidental em 1483 com suas caravelas. A verdadeira ocupação do continente africano (BOXER, 1981) iniciou-se com a descoberta e a ocupação das Ilhas Canárias pelos portugueses, no princípio de século XIV.

luis36.jpg Na regência de D. Afonso V, no ano de 1474, este rei incumbiu seu filho futuro rei D. João II, a tarefa de organizar as explorações como objectivos entre outros na marcação da presença portuguesa no Atlântico, na exploração da costa africana e descobrir por via marítima a passagem do Atlântico para o Índico, com vista a atingir a Índia, abrindo as portas para a colonização da costa oriental da África. Com efeito, Diogo Cão chegou ao rio Zaire (1482) e depois, numa segunda viagem de reconhecimento á costa africana, até à Serra Parda (1484). Facto digno de atenção que este navegador teve em transportar nas suas naves marcas de pedra (padrões), com dizeres assinalando a descoberta e garantindo os direitos da coroa portuguesa.

(Continua…)

Monangamba – Do kimbundu - trabalhador sem especificação, faz-de-tudo (por vezes pejorativo).

As escolhas do Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 11:00
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Terça-feira, 17 de Novembro de 2015
MONANGAMBA . XXXIX

ANGOLAVelhos quebrantos - Monótona é a vida do perneta; andar sempre no mesmo pé… 1ª de 3 Partes

Por

luis0.jpgLuís Martins Soares (Soba T´Chindere) - Nasceu a 8 de Julho de 1934. Tem agora 81 nos de idade. Uma biblioteca de coisas esquecidas numa Luanda que nessa altura não tinha ainda 18 000 habitantes; Um contador de estórias de que dá gosto ler aos candengues do kimbo (reside no Brasil) …

O africano e o tráfico de escravos

luis32.jpg O tráfico de escravos já existia muito antes da era dos descobrimentos marítimos. O tráfico africano em direcção à Europa iniciou-se em meados do século XV para Portugal, devido a grandes demandas sociais e económicas existentes naquele país e a das ilhas de Açores e Madeira, além de abastecer Lisboa desta mão-de-obra estrangeira. Em 1444, organizou-se uma companhia em Lagos, Portugal, para explorar o tráfico de escravos. No mesmo ano, nessa cidade, 240 escravos comprados pela tripulação e navegador Antão Gonçalves no Golfo de Arguim (Mauritânia), foram divididos e vendidos para o infante D. Henrique, o Navegador, para a Igreja de Lagos, mais os franciscanos do cabo São Vicente e comerciantes.

luis22.jpg O número de cativos chegados a Lagos, em Portugal, à Casa dos Escravos régia de Lisboa, é avaliado por C. Verlinden em cerca de 880 por ano. Os portugueses exploraram inicialmente a costa marroquina, a Madeira (1419), os Açores (1427), Cabo Verde (1456) e a costa Africana da Guiné. Com a ocupação e colonização da Ilha da Madeira e Açores esta leva de mão-de-obra barata foi usada principalmente no cultivo de cana-de-açúcar, que o Infante D. Henrique trouxera da Sicília para a Madeira.

luis21.jpg Na Madeira, as actividades económicas eram a agricultura, a criação de gado e a pesca. Os produtos exportados eram a cana-de-açúcar, cereais, madeira e plantas tintureiras. Por outro lado, nos Açores, os produtos eram os cereais e as plantas tintureiras e outras actividades económicas como a criação de gado, a agricultura e a pesca.

luis19.jpg Nos Açores, a plantação de cana não apresentou resultados animadores. Essa mão-de-obra barata provinha de escravos canários (Guanches), mas como a sua captura era dificultosa, recorreram aos negros africanos por serem mais fáceis de serem obtidos (esta prática já era usada entre tribos por via de prisioneiros de guerra). Os muçulmanos controlavam as rotas de escravos que os vendiam para os mercados da Europa e da Ásia através do Deserto do Saara, do Mar Vermelho e do Oceano Índico.

(Continua...)

Monangamba – Do kimbundu - trabalhador sem especificação, faz-de-tudo (por vezes pejorativo).

As escolhas do Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 11:37
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Segunda-feira, 9 de Novembro de 2015
MAIANGA . X

ANGOLA - MAIANGA em Conversa da Luua - Quando se perde património, já não se recupera - II

Maianga é um bairro de Luanda - Luua

Por:  Eleutério Freire 

may0.jpg  *António Jacinto - António Jacinto nasceu a 28 de setembro de 1924, em Luanda, e morreu em 23 de Junho de 1991, em Lisboa. Foi Ministro da Cultura (1975-78) e membro do Comité Central do MPLA.

(..) Seguramente que uma grande parte da população de Luanda, hoje, não sabe o que são maiangas, porque não são kimbundos… Aqui há algum tempo até colocaram um sinal aí junto à entrada da passagem aérea na Samba, do lado direito, aí havia a antiga Maianga do Rei, que milagrosamente sobreviveu à passagem dos tempos. As maiangas representavam uma ligação entre o antigo e o novo. Eram de construção colonial mas eram maiangas, com designação nacional … Maianga do Rei ainda existe!

may6.jpg E quem não é kimbundo irá perguntar o que significa maianga... Poço. Maianga significa poço de água. Havia a maianga do povo junto ao Clube 1º de Agosto. Aí onde agora é o rio seco era um rio mesmo, molhado, que desaguava numa lagoa que era a Lagoa dos Elefantes. Isso é no bairro da Samba, onde desaguava o rio, mas o rio desaguava numa lagoa antes de dar para a baía. Essa era uma lagoa de elefantes, frequentada por elefantes. Quando os portugueses aí chegaram, e durante muito tempo,  havia elefantes, que depois foram descendo e acabaram por ficar-se pela Quiçama. Mas até ai tiveram azar.

may8.jpgmay00.jpg

O que hoje se conhece por Morro dos Veados foi, até ao séc. XVIII, o Morro dos Elefantes, está escrito em mapas, só que os bichos foram diminuindo e, no séc. XX, já era o Morro dos Veados e agora, se calhar, já só há lá ratos. Mas depois da Independência, dizia, havia a preocupação com as maiangas. A Maianga do Povo, ao lado do Clube 1º de Agosto e a Maianga do Rei que ficava no cruzamento da Rua da Samba com a que vem do Prenda. Recentemente uma empresa que por aí andou colocou-lhe uma tabuleta a dizer cacimba, o que já não é o termo adequado… falou-se disso a alguém da cultura provincial, tiraram a tabuleta, mas não colocaram outra.

may7.jpg Quando os militares tomaram o espaço do hoje Clube 1º de Agosto, havia aí um descampado e havia também a Maianga do Povo, mas os militares foram construindo as suas casas e não respeitaram a distância mínima que se deveria observar em relação aos monumentos. Estou em crer que o António Jacinto* não se quis meter com os militares … Não se fez nada e a Maianga do Povo desapareceu no meio das casinhas. A Maianga do Rei, por milagre, ainda lá está.

(Continua…)

José Kaliengue, assim lembrou

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 11:17
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Quinta-feira, 3 de Setembro de 2015
MONANGAMBA . XXXVI

ANGOLA DAS CINZASRETROACTIVIDADESA maka da guerra com raivas  independentistas riscavam os mandamentos de Deus; de um e outro lado chovia metralha… 7

Por

soba0.jpegT´CHINGANGE

Zeca Kafundanga é um personagem criado por mim  porque a necessidade faz o engenho, recordo que ainda eu não era nascido e Kafundanga já por ali calcorreava os quintais da Maianga furtando pitanga, goiabas, gajajas e maçãs da Índia dando berridas aos cães alheios que sempre apareciam a perturbar Sputnik seu fiel amigo, o cachorro doméstico da família Monteiro Cabeças.

kafu29.jpg Durante dois longos anos Zeca Kafundanga manteve-se por ali perto de casa lidando com vizinhos e outras pessoas conhecidas; para ele preto de nascença, era por demais periclitante porque as atrocidades dos outros, provocavam raivas aos mais claros, nos mais brancos; nosso quintal de terra e areia andava limpo, quase lambido porque Kafundanga sem expedientes a fazer lá por fora, além-fronteiras do quintal ocupava-se varrendo com os cuidados para não poeirar. Com tempo em demasiado, ajudava também nas limpezas do quintal do senhor Teixeira, um enfermeiro mulato gordo e solteiro a prestar serviço no hospital Maria Pia como já foi dito.

kafu27.jpg Zeca queixava-se de que assim não tinha jeito de se ser gente, fechado ali com medo das rusgas gwetas, das justiças só átoa e, foi neste então que me confidenciou estar namorando com uma malangina com que queria fazer alembamento; que as saudades saiam-lhe nos poros na forma de catinga e na volta do contorno dos problemas só tinha mesmo seu saliente conforto na arte de cozinhar. Já com vinte e três anos, ano de 1963, tendo eu menos cinco anos e já com o curso de Electricidade, decidimos ir a convite de meu pai até às obras de construção da Fábrica de Cimentos Cecil no caminho do Cacuaco; ele, meu pai, era ali encarregado, responsável pelas drenagens, alvenaria e movimentos de terras.

kafu28.jpg Tinha em mente uma coisa em relação a Kafundanda, queria mesmo alisar as pedras dele porque minhas memórias diziam-me que sim, era preciso saber ver e arredondar suas penedias porque aquela tal de malangina pisava seu milho nas covas dos rochedos desse meu mano preto, e ele comia no pensamento a funje dela, de milho com peixe seco. Eu tinha mesmo de amaciar seu leite coalhado no cerebelo dele e arranjar maneira de mandar vir aquela malangina. Falando com o engenheiro Raposo, ficou acordado que Kafundanga ficaria ali numa barraca de pessoal menor e seria um dos cozinheiros para ajudar no refeitório, fazer assim mais produtiva a gente miúda no trabalho de multifunções, mesmo as desclassificadas de fazer argamassa e molengueiros. Este engenheiro Raposo era um práfrentista em gestão de pessoal.

kafu24.jpg Só sei que Zeca ganhou o suficiente para mandar vir de comboio sua amada Chiquinha Provisória só de nome; eu e ele fomos buscá-la ao Bungo e assim medonhando crepitâncias em fogo suspenso, arredondaram alambamento e, ela e ele por ali ficaram na felicidade com passos líquidos e definitivos, ela arrumando conservas, batendo o pilão, lavando e secando roupa, dinheiro extra de lavar cuecas surradas e pintadas. Ele cozinhando fuba com peixe seco do Sumbe e do Cacuaco, até do Lifune e, outo peixe muito cheio de gerações de ondas do mar. Nós víamo-nos de vez em quando nas miúdas passagens com minha cabeça tecendo novas ideias com tecnologia de ponta e até astral, levando lâmpadas florescentes e outras bugigangas ao observatório da Mulemba de Bettencourt  Faria. Tudo a ser reciclado para observar os astros e contactos com a NASA.

Monangamba - trabalhador sem especificação, faz-de-tudo (por vezes pejorativo).

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 15:12
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Segunda-feira, 24 de Agosto de 2015
KWANGIADES . VII

ANGOLA . TEOREMA DA AMIZADE – As falas de Zeca enxotando no tuje do katotolo da kubata n´dele - para mim O POETA KADUCU!...

Por

zeca00.jpgJosé Santos Impregnado de paludismo duma especial estirpe kaluanda, Zeca colecciona n´zimbos para fabricar missangas que soele sabe fazer.

zeca e eu.jpg AH! T’CHINGANGE, gostei por demais “MAIANGA – NOSSA FESTA” e jamais te imaginaria tão dotado nas falas, que caem num choro de uma cachoeira algures no nosso coração! Agora fazes marchinhas, modinhas: -"cantemos o dia inteiro/saudade é o nosso orgulho". Belo! Agora tou muito cafifado! Me diz só? Em que folha de palmeira, tu poeta kaducu de uma figa, tu retirou estas falas, katé tem pandeiro do sertão e reco-reco do Rio Seco da Mayanga?Tu és, essa pessoa que tem esses mambo, que os mundele dos intelectualidade dos mundu diz: -“Tambula konta! Tu és pessoa que tens multefacção dos multifacetado!!!

algar0.jpg Tu és exímio regador de folhinhas de cheiro do chão da Nogueira das Terras de Miguel Torga; és pena kuuaba de mulemba da Maianga, que molha no tinteiro do teu muxima, sim o que faz missosso, que tem ninho de catete piando nos bolso dos mini calção dos kandengue do chão vermelho. Tu sabes bué estória do sertão e do Lampião, katé do descobridor da Terra de Vera Cruz, dos coitadinho índio enxutado para as franjas dos amazonas, dos teus antepassados mais passados colonizadores marinheiro, pirata de canhangulo medieval, de catecismo e de esteira na mão para encher o sertão, o mundão de belas mulata…Será que tu tem? Tou, bué contente. Num estou mais sozinho na Maianga. Agora sei que tem três modinhas, marchinhas… Uma demais conhecida e antiga, outra do Zeca, o encantador de mamilos de piteira e agora, a terceira do Caduco poeta Soba T´Chingande, o bangão e sábio das falas de estalinhos (Herero) que tem sala nas barrocas da língua!

ciga2.jpgAmbos são kamba sekulu, kaducu…, do mu ukulu, criados no chão que tem o doce capim penteado e de xipala que tem espelho que mostra o rio lindo - Rio Seco da Mayanga. Agora, tem mambo sério! Qual das três é a mais kuuaba? Pensei muito nas barroca do meu esperto e na conclusão da panela a ferver beijão podre, logologo conclui, porque botou estaladão na minha xipala! Então é assim. Que importa esses mambo da kuuaba! O que importa é o verdadeiro sentimento, o orgulho (tu sentes, dizes) expresso nas falas e num interessa aquecer mais a cabeça, com mais massembar com o pilão no braço cansado no meio das kinamba e no quentinho dos matuba ou…nos…, na preocupação da gramática, aritmética…, lá dentro com o sujeito, o verbo, o predicado…, a métrica, a rima, a metáfora…, os búzio zuelando com o feitiço, as kubata aceso de velas na mão. Repito, deixa tudotudo sair voando no colo de uma esteira pelo kooilo de N´Zambi e levar transportando o sentimento verdadeiro e sem esses mambo de exposição focado por holofotes dos matumbo licenciado nos iluminação.

maian8.jpg É isso, que tu fazes, mukanda verdadeira, por isso és kimakambaami sossegado no meu coração, tens meu carinho, te levo Baleizão, quê? Ah! Sorvete, gelado, das “covas” cheias de doce do lugar do nosso saudoso kamba tarik - BALEIZÃO. Mas, tem outro mambo sério, porventura o de xuxualho de muitos, porque no desconseguir, não topa sentimento sorrir e nos desrespeito, não respeitar tão grande paixão de uma vivência que tem kubata no nosso coração. Tambula konta, T´chingange? De hoje em diante, só topo esses mambo dessas fala de “poesia”. Pra mim, chega missosso feito de feijão preto podre na panela fervendo com carne de cabrito do muxito de mabuje branca, o coitadinho do sekulu sem os n´guzo…, morto na koka do chumbo da Diana (arma de matar pássaros)…

Teu mano Zeca, enxotando o tuje do katotolo da kubata n´dele.

As escolhas do Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 17:10
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Quarta-feira, 5 de Agosto de 2015
MONANGAMBA . XXXIV

ANGOLA DAS CINZAS . RETROACTIVIDADESPois, surgiam ocorrências com maka, muzungué de porrada 5

Por

t´chingange 0.jpgT´CHINGANGE

ara3.jpg Kafundanga tinha muita vaidade no que fazia e, com sincera vontade, muitas vezes ouvia-o dizer que ser-se cozinheiro tinha muito de imaginoso porque a boca era o esconderijo do coração. Amolecia sua alma suspirando na maré dela bonitando sempre suas conversas com Nossa Senhora da Muxima; por vezes, seus olhos amoleciam todinhos exibindo seu peso de saudade ou adivinhações de casos pensados; fazia da vida seu noivado, armazenando punhados de lágrimas no seu labirinto subterrâneo com vontades ainda por realizar.

araujo1.jpg Lá pelo ano de 1956, meu tio Nosso Senhor de alcunha e Manuel Loureiro de nome escriturado, chegou do M´Puto no vapor Uíge; sua chegada alvoroçou nossas vivências por algum tempo, ávido de novas coisas. Ele, meu tio, comprou um cacho de bananas inteirinho para nós e, com elas lambuzamos nossas gulas por algum tempo até quase as enjoarmos. As últimas já pintalgadas, começamos a partilhar com o saguim do senhor Teixeira um velho vizinho enfermeiro gordo e mulato de cor. O saguim ficava nos fundos do quintal dele, encarcerado de coitado todo o tempo à sombra de um frondoso abacateiro.

besanga0.jpg À sua volta era mesmo só rede de capoeira reforçada e, nós candengues aproveitando o senhor Teixeira de turno no Hospital Maria Pia saltávamos o muro ficando ali a fazer gaifonas ao pobre macaco tendo por companhia o rafeiro Farrusco que ladrava à toa enciumado; este pelo de arama tinha uma amizade chegada a mim e a Zeca Kafundanga e, por isso impunha seu sentimento de ladrar no desconforme. Naquela casa do senhor Teixeira, naquele quintal e naquela varanda havia cheiros cheirosos, plantas com flores e cores intensas.

kafu14.jpg O senhor Teixeira era primo de primeiro grau de Óscar Ribas, um senhor que por ali aparecia tacteando o muro, as coisas, cirurgiando o escuro encerrado nos dedos da visão, fazendo festas ao papagaio louro filho-da-caixa que não nos gramava, palrando kimbundices entre fetos verdes; ele, Óscar Ribas tacteava os restos no interdito de tudo e o sacana do Jacó todo submisso às sua caricias; a nós não nos topava, assim que ficávamos ao seu alcance ferrava-nos seu adunco ódio na forma de bico. No entanto, com este senhor cego, eram só caricias, um amor desentendido para nós. Curvava-se todo permitindo festas na cabeça de penas eriçadas e cuspilhando falas que ele, senhor Óscar, parecia entender de topariobé, sundiameno e asneiras nossas desconhecidas!

kafu16.jpg Nós muito carecidos das compreensões do mundo, esquecidos dos comportamentos por sermos mais filhos da rua do que das nossas casas, emigrávamos nossa condição por todo o bairro da Maianga aonde todos se familiriavam, assim como aparentes parentes. Nossos pais tinham suas próprias governações e, só apareciam quando surgiam ocorrências com maka ou muzungué de porrada e que ai e que ui, e nós invocando nossas razões ponderativas, nossas secretas funções, sigilosos assuntos com dúvidas indignatórias com o tempo correndo do jeito dele…

Monangamba - trabalhador sem especificação, faz-de-tudo (por vezes pejorativo).

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 22:34
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Quarta-feira, 29 de Julho de 2015
MAIANGA . VIII

A KIZOMBA - Onze Benefícios de que o whisky faz bem à saúde - O concelho de um amigo quase-quase centenário de nome Manuel Rodrigues…

Por

t´chingange 0.jpgT´Chingange

wisky1.gif O uísque de Portugal, o whisky da Escócia, o whiskey da Irlanda ou EUA, é uma das bebidas alcoólicas mais populares do mundo, graças ao seu sabor diferente e ao fato de ser a bebida que menos provoca ressaca. Acrescente-se o fato de possuir várias propriedades medicinais, e daqui estar explicado a história de seu sucesso. Benefícios:

1 - Estimula a memória: O uísque contém antioxidantes que ajudam a melhorar a saúde do cérebro. Adicionalmente, o etanol contido no álcool estimula a circulação sanguínea, o que também contribui para o bom funcionamento da memória.

2 - Alivia o estresse: Com moderação, o uísque pode reduzir o estresse e acalmar os nervos. A combinação entre reduzir a atividade cerebral e aumentar a circulação, que fornece ao cérebro sangue oxigenado, é essencial para acalmar-se.

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 3 - Combate o aumento de peso: Comparado com seus similares, o uísque é uma bebida alcoólica de baixa caloria, sem gordura nem colesterol. Se você está de dieta mas quer saborear um drinque, esta é sua melhor opção.

4 - Reduz o risco de AVC (derrames): O uísque impede o colesterol de acumular-se no sistema cardiovascular e pode auxiliar a remover o excesso de colesterol no organismo. Também relaxa as paredes das artérias, reduzindo o risco de obstrução. Tudo isto contribui para reduzir os riscos de AVC consideravelmente.

5 - Reduz o risco de câncer: O uísque possui um antioxidante chamado “ácido elágico”, uma substância que impede o DNA de entrar em contacto com substâncias cancerígenas.

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 6 - Auxilia a digestão: - Durante séculos o uísque foi considerado um auxiliar da digestão e consumido após refeições pesadas. A composição do uísque e sua alta percentagem de álcool fazem com que ele seja um inibidor do apetite.

7 - Faz você viver por mais tempo: - Os antioxidantes no uísque ajudam a lutar contra os radicais livres - a causa número um do envelhecimento, além de prevenirem várias doenças. Assim, o seu organismo poderá ter uma vida mais longa e saudável.

8 - Pode ser consumido - moderadamente por diabéticos: - Uma dose de uísque, jamais bebida com o estômago vazio, não fará mal aos diabéticos. Há que cuidar, pois embora a bebida não contenha carboidratos, o seu alto teor alcoólico pode causar hipoglicemia (nível de açúcar no sangue inferior ao índice saudável).

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 9 - Melhora a saúde do seu coração: - Beber uísque pode, de fato, ajudar o seu coração a manter-se saudável, pois tem efeito similar ao vinho tinto. Reduz o risco de formação de coágulos e, portanto, previne a ocorrência de AVC e ataques cardíacos. Os antioxidantes do uísque também inibem a oxidação de lipoproteína de baixa densidade, um factor importante nas doenças cardíacas.

10 - Melhora a saúde do cérebro: - Uma pesquisa conduzida em 2003 demonstrou que, graças às qualidades antioxidantes do ácido elágico, o consumo moderado de uísque reduz o risco do Mal de Alzheimer e demência, bem como melhora as funções cognitivas. Basicamente uma dose por dia é o suficiente.

11 - Previne e trata de gripes e resfriados: - O uísque é conhecido por seus efeitos positivos em relação a alergias e resfriados. É um eficaz xarope para aquela tosse provocada por uma “coceira na garganta”. O álcool ajuda a matar bactérias na garganta. Melhores resultados são obtidos ao se adicionar um pouco de uísque a uma xícara com água quente e suco de limão.

Maianga: Um bairro antigo de Luanda e, aonde há sempre um mussendo, um missosso para contar.

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 17:12
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Segunda-feira, 27 de Julho de 2015
MONANGAMBA . XXXII

ANGOLA DAS CINZASAFAGANDO LEMBRANÇAS - Zeca Kafundanga, um personagem que ainda só era kandengue …3

Por

t´chingange 0.jpgT´CHINGANGE

kafu11.jpg Kafundanga vivia em um anexo-suíte com quarto de banho privativo no fundo do quintal da rua José Maria Antunes número vinte e dois. Meu pai Manuel Cabeças decidiu fazer em madeira um puxadinho, assim um prolongamento de duas águas logo a seguir ao tal de suíte em alvenaria, património original do senhorio. O quintal grande tinha mamoeiros, fruta-pinha, goiabas e um grande pau de mandioca brava que cobria o tanque de lavar roupa com sua copa. Junto ao galinheiro coberto a chapa de zinco Manuel Cabeças, meu pai, construiu um forno com argila, cal e tijolo burro e, ao lado um alpendre também coberto a chapa de zinco com uma mesa e bancos corridos. Era neste forno de quintal que minha mãe Arminda, Forreta de alcunha, fazia pato com batata, coisa que só mesmo ela sabia fazer.

kafu6.jpg Foi neste quintal que Kafundanga, ainda novo, começou a revelar dotes habilidosos de cozinha e entre esfregões, barrelas de sabão macaco com esponjas de pepino (luffa), nos intervalos aprendia como fritar ovos e assim passou em definitivo a ter um tirocínio de estagiário grátis e até gratificante no lar doce lar da Dona Arminda Topeta Forreta, senhora minha mãe.

kafu13.jpg E, passou a tratar das galinhas do mato (fracas) pombos, indistintos galináceos e até passarada e periquitos, que também por ali estavam em gaiolas distinguidas. Eu, ainda puto de uns talvez quatro anos recordo de o ver muito atarefado fazendo seus remendos à dita capoeira e gaiola; havia por ali uns alheios gatos cobiçando os vistosos periquitos e catatuas.

kafu9.jpg Aquele quintal era um mundo muito repleto de barulhos desde os primeiríssimos raios de sol e, os cantares misturados eram aconchegantes aos nossos ouvidos. Havia ali celestes, rabos-de-junco, canários, catetes do Icolo, tico-ticos, viuvinhas e outros eteceteras que no correr do tempo Kafundanga apanhava com visgo da mulemba e armadilhas engenhosas em sítios não muito longínquos.

kafu8.jpg Recordo mais tarde uma poça de água não muito longe do Poço da Maianga, em direcção à Samba e bem perto da casa dos malucos. Naqueles idos tempos de 1949 tudo aquilo por ali era mato! Luanda só chegava mesmo ali ao largo do sinaleiro da Maianga confrontando com a horta do Miguel das Barbas e, com a estação da Cidade Alta e asfalto, malé (não tinha!), só mesmomesmo pó.   

Monangamba - trabalhador sem especificação, faz-de-tudo (por vezes pejorativo).

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 08:02
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Sábado, 4 de Julho de 2015
MUXIMA . XLIV

TEMPOS QUENTESO esquecimento existe em nós para que nos seja possível suportar as agruras…

Por:

soba0.jpg T´CHINGANGE - Nasceu em águas internacionais num vapor chamado Niassa. É cidadão do mundo, Angolano na diáspora - Mazombo por condição; anda pelo Mundo à procura de si mesmo! Sente-se e respira Angolano, tem cédula de Brasileiro, B. Identidade do M´Puto. Anda por África às arrecuas para fugir à regra, um paradigma novo, só dele.

ciga0.jpg Faz algum tempo uma cigana ao ler minha sina, ela e eu assustamo-nos; teve de ler a mão esquerda e a direita porque meu destino não cabia em uma só. Ficaram uns pozinhos por analisar e teve por isso de ler as costas, os nodosos dedos chegando às unhas encortiçadas e as veias salientes percorrendo desde o mindinho até ao polegar com suas falanges falanginhas e falangetas. Nossos instantes são muito cheios de surpresas com espaços indefinidos e, nem sempre atilamos essa diversidade entrelaçada nas adversidades. O esquecimento existe em nós para que nos seja possível suportar as minudências e às vezes até é bom ter fraca memória porque os episódios do mundo assustam-nos.

ciga1.jpg As coisas de nossa vida nunca se imaginam tal e qual como depois acontecem e mesmo sem nós querermos surgem percalços e, até se compreende porque se pudéssemos empacotar o sol estávamos a tinir de frio; decerto apareceria um grupo de gente como nós mas muito mais iluminados a açambarcar o comércio, tudo ficaria para eles e o resto lixar-se-ia! Menos mal que Deus omnipotente e omnipresente não deu esse poder a ninguém, embora haja muitos a querer-nos fazer trapaça porque tem os olhos o cérebro e o cerebelo mais desenvolvidos; coisas que nem sempre são visíveis a olho nu. Não é fácil a uma cigana ler nas entrelinhas a vida da gente; sempre haverá umas mais engelhadas.

ciga2.jpgMuitas vezes coramos de indignação porque queremos saber sempre mais e mais como se isso fizesse parte de nossos diários íntimos; desta feita, ao transmitirmos conhecimentos aprendidos, tornamo-nos involuntários mensageiros do mal ou do bem; coisas da globalização. Por vezes sem o saber, transportamos mensagens não fidedignas e nem sempre nos apercebemos que esse altruísmo nos transcende na consciência e na competência; e somos num ápice, ou o diabo ou uns santos sem asas porque os verdadeiros não voam.

ciga3.jpg Nem sempre aquilo que se nos parece sincero reflecte a falta de memória da humanidade. Um dia descobri que estava morto, não porque tivesse defuntado mas porque outros quiseram que assim fosse; esta convenção de convencimento são paradigmas excêntricos pelos hábitos que nos criam para nos desvirtuar. Eu morri e pronto! Isto deve-se talvez às manobras sub-reptícias de satanás, ou ao excessivo corrompimento da sua figura no século seculorum de envangelização cristã!

ciga6.jpg E nós, que estamos no país das maravilhas podemos muito bem ser presos só porque denunciamos a corrupção. Por isso ando com uma imagem da Nossa Senhora Virgem Maria no vidro do meu carro ford anglia de ora bolas, esse tal do vidro fora de esquadria. Mas quase tenho a certeza que não é esta a imagem que me libertará de qualquer mal porque quase tenho a certeza que não é por aqui que o bicho pega! E, quanto a falar do futuro! Que futuro? O futuro pertence a Deus! Uma fácil forma de propositarmos nossa existência.

Muxima: saudade, Nossa Senhora do Kwnza.

O soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 16:03
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Temos um Hino, uma Bandeira, uma moeda, temos constituição, temos nobres e plebeus, um soba, um cipaio-mor, um kimbanda e um comendador. Somos uma Instituição independente. As nossas fronteiras são a Globália. Procuramos alcançar as terras do nunca um conjunto de pessoas pertencentes a um reino de fantasia procurando corrrigir realidades do mundo que os rodeia. Neste reino de Manikongo há uma torre. È nesta torre do Zombo que arquivamos os sonhos e aspirações. Neste reino todos são distintos e distinguidos. Todos dão vivas á vida como verdadeiros escuteiros pois, todos se escutam. Se N´Zambi quiser vamos viver 333 anos. O Soba T'chingange
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