ANGOLA – HUILA – N´DIGIVA – Ongweva na cascata da Hungueria …
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Cada um de nós é um pedaço da história vivida em Angola, não interessa a importância que possa representar, ela por si só, vale o que vale, e esse valor não lhe pode ser retirado. Já, que nos tiraram tudo, ao menos deixem que o tempo não apague a nossa presença em Angola. Respeitem, ao menos, a saudade, a ongweva. Estou tranquilamente sentado, aqui no meu sofá do M´Puto preferido, após o regresso de um passeio e, lembrei-me casualmente da possibilidade de escrever o nome de todos os pássaros recordando a felicidade de catraio lá no Lubango, um teste à minha memória.
Começo pelos pardais, as tintenas num võo de equilíbrio e rasante sobre o capinzal, os bom-senhores, os bicos de prata e de lacre, os bigodinhos, as viuvinhas do Humbe, os cardiais, os canários, os bituites, catuites ou peitos celestes, as zanguinhas, os papa-figos, as chiricuatas, as bengalinhas, os periquitos republicanos, os beija-flores ou colibris, os caramanchões, as rolas da madeira, os pombos verdes, e talvez me venha a recordar de mais alguns, mas por agora esgotei o repertório. Recordo-me da primeira vez que visitei a cascata da Hungueria. Muito jovem ainda, numa altura em que o asfalto era apenas uma miragem, para lá chegar tinha-se que abandonar a viatura bem longe, caminhar-se por uma vereda de pedra solta, piso difícil, por entre o arvoredo onde o chilrear da passarada era uma constante.
E, depois desembocar num lugar de sonho, com a água límpida a cair em cascata, por entre o granito escuro, cair imparável para formar um pequeno lago salpicando a água por entre os espaços da pedra, até se perder na terra sequiosa. Lembro-me de ter ficado espantado com tanta beleza; talhada rudemente no granito, uma obra secular e duradoura; não me cansei de a olhar, ao ponto de ainda hoje a ver em pensamento, magestoso, tal como da primeira vez que a vi. Recordo-a frequentemente com saudade quando algo me perturba! Sua grandiosidade reside do como surgiu, sem que a mão do ser humano ali interviesse. Voltei lá mais vezes, mas nunca mais tive a sensação de ser surpreendido como fora na primeira vez, tão jovem ainda, que das outras pouco me lembro, e dessa, nunca me esqueci
As opções do Soba T´Chingange
MOÇAMEDES - No longínquo ano de 1917…
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Quando meu pai desembarcou, em Moçamedes, destacado para o sul de Angola, propriamente para o Lubango, não admito sequer como seria Angola nessa época. Sei que andou envolvido na pacificação do sul, no Cuanhama, tendo abandonado a vida militar, para se dedicar ao comércio, foi fundador da camionagem, tendo-se associado à firma Venâncio Guimarães, nessa área. Acabou por ser industrial de curtumes e sapataria. Meu pai foi um eterno apaixonado por Angola, a ponto de vender a parte da herança que lhe coube, salvo erro, para investir na terra que pensava ser sua; nunca se interessou em voltar a Portugal Continental, foi rico e morreu relativamente pobre, depois de uma vida de sacrifício e trabalho. Foi vereador da Câmara Municipal, construiu um prédio de dois pisos, considerado um dos mais modernos da cidade, isto nos anos quarenta. Era uma pessoa muito conceituada no meio, tinha influência entre os amigos e seus filhos.
Sinto grande orgulho nos pais que tive, da geração e da descendência a que pertenço. Descendo directamente dos colonos madeirenses, gente humilde, que não teve receio de abandonar a sua ilha, para fazer parte da história. Enfrentando toda a sorte de dificuldades, fundaram um lugar que se tornou a cidade onde tive o privilégio de nascer, e isso me basta para sentir o orgulho que sinto pelos meus antepassados. As próprias pedras serão páginas da gesta vivida por esse conjunto de gente heróica....
A confirmar tudo isto e a 15 de Julho de 2011 escrevia eu em meu blogue de kimbolagoa:
Bernardino Freire de Castro - Fundador de Mossâmedes (Namibe)
A partir da metade do século XIX, por via do término da escravatura, Angola passou a ser vista como saída para encaminhar gente desavinda de outras paragens juntando-se-lhes os degradados para ali enviados por castigo penal. Alguns dos novos colonos, idos do Brasil e Ilha da Madeira para Mossâmedes buscaram lugares mais frios e de terras férteis; enquanto decorriam batalhas para conter sublevação de alguns sobas mais a Sul, a colónia ia-se formando ao redor de barracões num lugar que se veio a chamar de Sá da Bandeira, o actual Lubango. Falar destas odisseias é recordar a missionação dum povo, duma gente que não deixou de peregrinar a vida. Recorde-se essa estirpe de gente reconhecidos como os Chicoronhos (Xi-colonos), que oriundos das ilhas da Madeira e Açores, após estarem alguns anos no Brasil e após a independência deste, optaram por tomar este novo destino levados no entusiasmo do marquês de Sá da Bandeira. Foi no areal da baia do soba Mussungu do Namibe que eles estabeleceram seu primeiro arraial.
O Soba T´Chingange
LUBANGO – Na cordilheira da Chela
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A África da minha vida
Hoje, pensando na vida que vivi em Angola, no Lubango, terra do planalto da cordilheira da Chela, julguei ser meu dever deixar, por muito aligeirada que seja, meu legado, uma verdadeira história como tantas outras, que embora sendo pessoal, envolve inúmeras pessoas, amigos íntimos, conhecidos, e outras não tanto, mas que fazem parte de acontecimentos contados e vividos em épocas diferentes; numa parte de África inóspita mas tão bela nos seus profundos contrastes, de enfeitiçar e fazer nascer o amor de se morrer nela. Não faço ideia de como meu pai encontrou Angola, quando, como militar desembarcou em Mossâmedes no ano longínquo de 1917; foi encaminhado para o colonato do Lubango, não sei como e em que tipo de transporte. Deve ter ficado surpreendido com aquela dimensão, a comparar com a pequenez do Puto que havia deixado definidamente para trás.
Na terra dos imbondeiros, árvore grotesca e retorcida, lugar de biliosas, doença terrivelmente mortal e que, só uns quantos enfermeiros de longa experiência, sabiam como a combater e, quando diagnosticada a tempo; esse tempo era tão pouco, que expirado sem início de tratamento, tornar-se-ia em um caso mortal, salvo raras excepções. Do mesmo modo admiro a capacidade de sofrimento dos colonos madeirenses, em que incluo a minha bisavó saída grávida da Madeira, sendo uma das muitas mulheres que contribuíram para o aumento populacional com o nascimento da minha avô, segunda moça nascida da primeira colónia de madeirenses instalada no planalto. Naturalmente, tudo o que narrar, incidirá mais sobre o sul, já que Angola é tão grande, que hoje me dá desconforto conhecer tão pouco dela.
O que sei de Angola desde Cabinda ao Cunene com todo o planalto central, convêm recordar o quanto naquele aridez, os "fumantes" se aventuravam penetrando a fazer seus negócios de panos libongos, uma forma indirecta de estabelecer soberania até a terras do fim do mundo. Nem trinta anos de guerra foram suficientes para uma penetração em lugares tão recônditos, que penso manterem ainda a virgindade do seu segredo, suas superstições. Felizmente, em minha longa vida, tive o privilégio de conhecer o Lubango e outras partes de Angola em diversas fases que, ao olhar para trás, me custa acreditar que estejam tão longe assim. No entanto, todas elas são um marco; ficaram gravadas nesse mesmo tempo, cúmplice e promotor de tudo o que arquivei em minha memória. Se DEUS permitir e me der discernimento, vou continuar deixando o testemunho da minha vida em África, sobretudo, em Angola.
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
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T´Chingange
Para entender o porquê daqueles luso-brasileiros abandonarem o Brasil aventurando-se em terras ainda desconhecidas de África, teremos de regressar aos dias negros do Recife, Dezembro de 1847, em que arruaceiros espancam pelas ruas da cidade quantos portugueses encontram. As turbas amotinadas, gritam «mata marinheiros» e «não escape um só», entravam desenfreadas nos estabelecimentos comerciais, casas, a ferir e a matar, arrastando os cadáveres pela via pública. Certos partidos brasileiros após o grito do Ipiranga, o Fico de D. Pedro filho de D. João VI e a proclamação da independência em 1822, exigiam a expulsão dos portugueses do Império. Os portugueses de Pernambuco não se sentiam seguro
Bernardino, exilado em Pernambuco, no então Império do Brasil, foi o mentor desta primeira colónia agrícola de povoadores portugueses. As políticas de povoamento das possessões portuguesas de África estavam a ser implementadas pelo Ministério das Colónias, uma iniciativa do Barão de Mossâmedes, José de Almeida e Vasconcelos, um militar que tinha sido Governador-Geral da "Província de Angola" nos finais do século XVIII. Bernardino, que jurara fidelidade a D. Miguel, militou como tenente caçador na guerra civil entre 1826 e 1834. Nesta guerra civil, Bernardino seguia os ideais absolutistas de D. Miguel contra o exército liberal de D. Pedro IV, que veio a perder. A convenção de Évora Monte a 26 de Maio de 1834 confirmava a derrota de D. Miguel pelo que o exército deste, teve que passar à disponibilidade do exército regular do reino constituído.
Remexido, foi um militar desmobilizado deste exército que não aceitando submissão, enveredou pela guerrilha nas serras do Algarve. Bernardino que continuou fiel à causa que defendia, passou à clandestinidade, faz-se jornalista e colabora no jornal clandestino "Portugal Velho", até embarcar para Recife a 1 de Junho de 1834 com 25 anos. É desta forma que Bernardino surge exilado em Recife. Sua história é recontada, para melhor conhecermos sua personalidade de líder, seus ideais e fidelidade às suas convicções políticas. Em Recife renuncia a toda a actividade política dedicando-se ao ensino de História, Geografia e Latim, no Colégio Pernambucano; alem de professor, escreve livros de carácter didáctico até formar a colónia expedicionária de Mossâmedes. Na terra que fundou, actual Namibe, nada consta de sua vida. Referimo-la aqui, como protesto à omissão de tal edilidade (Dezembro de 2012).
Referência Bibliográfica parcial: Uma fazenda em África de João Pedro Marques
(Continua…)
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