Terça-feira, 6 de Agosto de 2024
VIAGENS .195

NAS FRINCHAS DO TEMPO

DOS TEMPOS DE DIPANDA* - RESENHA DA BATALHA DO CUITO-CUANAVALE E RETIRADA CUBANA

- Crónica 3609 – 06.08.2024

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto

iguana4.jpgAs divergências entre cubanos e soviéticos agudizaram-se quando, em 1984, as tropas sul-africanas lançaram fortes ataques contra a SWAPO não só na Namíbia, mas também no Sul de Angola… «O adversário realizou movimentações de tropas de grande envergadura (como mais tarde se veio a saber, tratou-se de uma irritação, era preciso aumentar o medo).

Esta situação provocou o aumento da tensão nos quartéis e nos pontos de comando das tropas governamentais de Angola, bem como nas guarnições das tropas cubanas. É possível que a difusão de boatos tenha sido obra do inimigo que certamente tinha adeptos seus na mais alta esfera do poder de Angola... ou a complexa situação no sul do país aterrorizou realmente todos» - recorda Valentin Varennikov.

iko6.jpg Chegados aqui, convém recordar quem era Iko Carreira: Henrique Alberto Quádrios Teles Carreira, que  era mais conhecido pela alcunha Iko Carreira. Foi um militar, político, diplomata, escritor e ideólogo anticolonial. Desertou das tropas portuguesas na "Fuga dos 100", em 1961, juntamente com Pedro Pires (posteriormente Presidente de Cabo Verde) e Joaquim Chissano (posteriormente Presidente de Moçambique).

Era considerado o terceiro em comando no partido e no Estado angolano durante a década de 1970, atrás somente de Agostinho Neto e Lúcio Lara. Na chefia do ministério liderou o processo de formação da Polícia Nacional e de outros órgãos militares. A partir de 1974 foi um dos responsáveis por reorganizar as Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA). Em 1974 e 1975, foi designado a participar das negociações que culminaram nos Acordos de Alvor.

Após a declaração da independência angolana, assumiu o cargo de Ministro da Defesa da República Popular de Angola a 12 de Novembro de 1975. Actuou em estreita cooperação com a Força Expedicionária Cubana e, assessores militares soviéticos. Em 27 de maio de 1977 ocorreu o golpe de Estado falhado nitista em Luanda. O Ministro Carreira, passou a ser identificado como o principal representante da "elite branco-mulata"(***), despertando um ódio particular nos líderes da rebelião, que se posicionaram como "porta-vozes dos interesses dos negros pobres".

iko5.jpg Como Ministro da Defesa desempenhou um papel importante na repressão ao movimento do Fraccionismo. Liderou o tribunal militar que sentenciou à morte os participantes da rebelião. Foi um dos principais organizadores das repressões em massa de 1977 a 1979. Em 1980, foi afastado do cargo de Ministro da Defesa alegadamente para receber treino militar para graduar-se, uma vez que era somente coronel.

Foi enviado para a União Soviética, onde estudou na Academia Militar K. e. Voroshilov do Estado Maior das Forças Armadas Soviéticas, tornando-se, em 1982, o primeiro oficial militar africano a receber um diploma de formação como general. Em 1983 foi nomeado comandante da Força Aérea Popular de Angola, cargo em  que permaneceu até 1986.

lua55.jpg Nos últimos 13 anos de sua vida ele viveu com o lado esquerdo paralisado. Foi tratado em França e nos Estados Unidos; depois, mudou-se para Espanha. O governo angolano nomeou-o adido militar em Espanha. Escreveu dois romances com um dedo, em um computador especial, além de memórias políticas e de outras obras: "O Pensamento Estratégico de Agostinho Neto", Publicações Dom Quixote e. "Memorias", publicadas em Angola por N´zila.

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Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos  espalhados pelo mundo.

Nota 2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange, do Blogue História da Guerra Civil de Angola, da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto e Wikipédia…

Nota 3: ***Pode daqui deduzir-se, de novo. quanto tinham de racistas os efectivos do MPLA. Retirar o branco de toda ou qualquer gestão militar ou civil, foi-o mais que evidente e, tudo sordidamente silenciado pelos mídias mundiais e, por Portugal, fruto de uma descolonização enviesadamente esquerdoida…  

(Continua…)

O Soba T'Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 13:03
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Terça-feira, 16 de Julho de 2024
VIAGENS .185

NAS FRINCHAS DO TEMPO

DOS TEMPOS DE DIPANDA* -  OPERAÇÃO PROTEA - 1ª  E  2ª BATALHA DE MAVINGA

- Crónica 3596 – 16.07.2024

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto

cuito1.jpg Depois da descrição sucinta dos Congressos Ordinários e Extraordinários da UNITA, voltamos a  rever aleatoriamente no tempo, outros eventos de destaque: No ano de 1980 a UNITA fixa-se na JAMBA do Cuando-Cubango. Em Novembro, os antagonistas, UNITA, MPLA, Cubanos e África do Sul  envolvem-se na 1ª batalha de Mavinga que resultou em mais de 800 mortes.

O apoio sul-africano à UNITA viria a tornar-se mais efectivo com a invasão da província do Cunene a 23 de Agosto de 1981 na «Operação Protea», e a subsequente ocupação de uma faixa tampão na fronteira sul de Angola numa profundidade de 200 quilómetros, com o duplo objectivo de neutralizar as operações de guerrilha da Organização do Povo do Sudoeste Africano (South West Africa People’s Organization, SWAPO).

cuito2.jpg O território da Namíbia, então ocupado por protectorado pelo África do Sul, teria de, por outro lado, estabelecer um ponto de partida para novas operações no interior de Angola. O propósito imediato era a consolidação do domínio da UNITA nas províncias do Cunene e do Cuando-Cubango, na perspectiva da criação de um “bantustão” no sudeste angolano..

É nesta altura que o presidente José Eduardo dos Santos pede ao Secretário-Geral da ONU, Pérez de Cuéllar, a convocação do Conselho de Segurança da Nações Unidas – ONU, para discutir a agressão Sul-Africana. Mas a resolução da condenação foi vetada pelos Estados Unidos, de acordo com a estratégia delineada por Washington e pela África do Sul para aniquilar as FAPLA e o MPLA (o comunismo…).

cuito3.jpg A situação em todo o sul de Angola agrava-se com o aumento das hostilidades. A UNITA reforça-se militarmente em armamento e conselheiros militares e, com o apoio das administrações Reagan (EUA), Thatcher (Grâ-Bretanha) e a ajuda do seu aliado Sul-Africano que desencadeia operações militares contra as bases da SWAPO, do Congresso Nacional Africano (African National Congress, ANC).

Também contra posições das FAPLA, para além de acções de sabotagem às linhas dos Caminhos de Ferro da Benguela (CFB), com destruição de infra-estruturas políticas e económicas e minagem de linhas de abastecimento, entre as populações, aldeias, vilas e cidades do Sul de Angola.

cuito4.jpg O ano da “Operação Protea” leva ao controlo militar da UNITA com a ajuda Sul-Africana, na Província do Cunene. Estavam ali sediados 8.000 guerrilheiros da UNITA. Porem, até à chegada das forças angolanos, Mavinga recebe um reforço de 4.000 tropas da SADF (South African Defence Force), vindo a confrontar uma força de 18.000 soldados angolanos.

Na visão das FAPLA, Mavinga seria o primeiro passo no caminho para a Jamba - Cueio e, assim, penetrar na Área  de Kaprivi. Ao tentar travar o seu avanço, os governamentais são surpreendidos por nova frente dando-se a 2ª Batalha de Mavinga, que provoca mais de 1.200 mortos. A UNITA sai vitoriosa e ocupa a cidade. O ataque a Mavinga foi uma derrota total para as forças angolanas, com baixas estimadas em 4.000 mortos. A manobra de contra-ataque das SADF, nomeada “Operação Modular” foi um êxito, forçando as tropas das FAPLA e das FAR a retroceder 200 quilómetros de volta a Cuito-Cuanavale numa perseguição constante através da Operação Hooper.

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Nota1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos  espalhados pelo mundo.

Nota2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange, da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto e  RTP - Notícias

(Continua…)

O Soba T'Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 14:54
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Quinta-feira, 4 de Julho de 2024
VIAGENS .180

NAS FRINCHAS DO TEMPO

DOS TEMPOS DE DIPANDA* - I e II CONGRESSOS DA UNITA

- Crónica 3591 – 04.07.2024

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto

unita21.png  Regressando ao carrocel do tempo e estando eu em vias de seguir então para a Venezuela, tomo conhecimento do IV congresso da UNITA realizado de 23 a 28 de Março de 1977 em Benda. Posto isto, irei recordar todos os Congressos da UNITA para daqui se tirarem conclusões no percurso de Movimento a Partido e, a partir de Muangai, seu primeiro bastião…

1 I CONGRESSO (Constitutivo)

Muangai que se tornou celebre, é o nome de um serpenteado subafluente do rio Lunguebungu. Os portugueses baptizaram-no com este nome, o antigo posto colonial situado na floresta densa do Moxico e, que viria ser abandonada nas primeiras acções de guerrilha.

Nessa histórica localidade teve lugar, no dia 13 de Março de 1966, o Congresso Constitutivo que marcou o nascimento da UNITA – União Nacional Para a Independência, na presença de dirigentes acabados de chegar da China Popular, autoridades tradicionais e populares da região.

unita11.jpg Com a presidência do Dr. Jonas Malheiro Savimbi, assistiu-se à entrada em cena política angolana, desta nova força; força esta que veio dar novo impulso à luta de libertação nacional com a participação directa de seus dirigentes no interior do país.

2 - II CONGRESSO

Teve lugar entre 24 e 30 de Agosto de 1969 o seu II Congresso Ordinário, sob a presidência do Dr. Jonas Savimbi, Aconteceu em Sachimbanda, Província do Moxico, com a presença de 80 delegados (55 civis e 25 militares). Neste evento, tomaram parte dirigentes do Partido a vários níveis e representantes do povo da região.

Foi definida a linha política interna e externa da UNITA e, estabelecida a orgânica do Partido e das FALA (Forças Armadas de Libertação de Angola). Foi constituído um Comité Central de 30 elementos dos quais, os primeiros 12 faziam parte do Bureau Político. O Dr. Jonas Savimbi foi confirmado como Presidente do Partido.

unita12.jpg  N’Zau Puna foi o escolhido para Secretário Geral, Samuel Chiwale como Comandante Geral e Samuel Piedoso Chingunji "Kafundanga" como Chefe do Estado Maior. Neste II Congresso, a UNITA reafirmou a sua linha política de não alinhamento aos grandes blocos.

Assim, por um lado, condenou a «continuação da agressão americana contra o Povo Heróico do Vietname», por outro lado, insurgiu-se contra a «descarada invasão da Checoslováquia pela União Soviética». Miguel N'Zau Puna - afirmaria que foi nesse II Congresso em que se confirmou a bandeira da UNITA.

unita20.jpg Foi um tempo difícil em que a UNITA aceitou continuar a lutar pela libertação nacional e, numa altura em que estava desprovida de meios para fazer a luta. É de louvar o espírito de entrega dos militantes da UNITA nessa fase muito difícil da luta armada. Este II Congresso, teve a participação do jornalista Steve Valentine que trabalhava para o Times of Zambia.

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Nota1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos  espalhados pelo mundo.

Nota2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e de anotações de Isaías Dembo.

(Continua…)

O Soba T'Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 19:42
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Quinta-feira, 27 de Junho de 2024
VIAGENS. 178

NAS FRINCHAS DO TEMPO

DOS TEMPOS DE DIPANDA* - A HISTÓRIA DA JAMBA

- Crónica 3589 – 25.06.2024

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto

ROXO192.jpgComando e Direcção - Haviam três estruturas: as Forças Armadas, o Partido e o Governo. A figura principal era o velho kota Jonas que na linhagem das Forças Armadas tinha na hierarquia N´zau Puna e o Estado Maior General das FALA e todas as suas dependências orgânicas.

Pelo Governo respondia o Vice-Presidente Jeremias Kaluanda Tchitunda cuja sede estava depois da Praça do Canhão da Liberdade e o Secretariado Geral (estrutura política e comités coordenadores de bairros). Destacam-se os Ministérios da Educação e Cultura (Valentim e Jaka Jamba e Bunju), Saúde (Ruben Sikatu), Administração do Território (N`zau Puna)…

vazio1.JPG Ministério dos Recursos Naturais (Torres Kapiñala, Dias, João Tchitende, Jó Marcolino Prata) , Agricultura e Pecuária (Elias Salupeto Pena e Dario Katata), Informação (Jorge Valentim, Jaka Jamba), etc. Na Jamba o rigor e a disciplina superavam a inteligência, por isso construi-se uma sociedade onde a pontualidade, proteger o bem público e o respeito aos mais velhos eram itens sagrados…

Era proibido ingerir bebidas alcoólicas (só em ocasiões especiais, artigo 140 do código penal), o respeito pela mulher do companheiro, a protecção a crianças, idosos e diminuídos físicos, o estímulo aos melhores (alunos, militares, técnicos) eram uma DIVISA SAGRADA;

unita002.jpg Pelo exemplo da Jamba a Nova Angola há a obrigação de procurar inspiração ao empreendedorismo - disciplina forjados na Jamba, os que lá passaram tenham a coragem de se organizarem, resgatando a sua história base, em uma sempre presente Fundação Muangai.

Adicionar-se-ão  outras que criem e resgatem espaços antigos, que o Ministério do Turismo e todos agentes, a fim de coloquem nesta localidade Escolas de Turismo.  Uma vertente de preservar reservas naturais e ecológicas  com afins de historiadores e académicos de ali, alicercem seus conhecimentos, pesquisas que preservarão  as fontes orais e, antes que  desapareçam.

Termino a descrição sumária da JAMBA, Sem a preocupação gramatical, com o sujeito cutucando o verbo mais o predicado…, uma emergência confusa destes tempos conspurcados na metáfora, o quanto baste e, por vezes de alma torturada…, assim mesmo, jogando búzios na zuela do feitiço do tempo.  Com algum esforço, remexo nas panelas do esquecimento de uma  N´Gola cada vez mais distante do desejável progresso omitindo sistematicamente a UNITA!

t´chassamba3.jpg E, porque não sou só esqueleto, penso em kimbundo da Luua e Ambundo,  recordando falas de nossa terra, “ki tuexile tu ngó ifuba iatujunkura” - ainda não somos só ossos dispersos, “ifuba yetu iokune kala jimbuta” - Nossos ossos serão semeados como sementes… Assim no quizango, feitiço do livro de capa amarelecida e, recordando aos mwadiés camundongos que sempre fingem ser sapientes…

Falei! Seguir-se-ão outras sagas, recordar os Congressos e novas batalhas com o actual líder Adalberto da Costa Júnior, Presidente da UNITA….

Claro que haverá muito mais estórias para se boligrafar!

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Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise angolana e, na diáspora de angolanos  pelo mundo.

Nota 2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e relatórios da Jamba - Agência Kwacha UNITA Press (KUP)

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 18:24
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Terça-feira, 18 de Junho de 2024
VIAGENS. 176

NAS FRINCHAS DO TEMPO

DOS TEMPOS DE DIPANDA*A HISTÓRIA DA JAMBA

- Crónica 3587 – 18.06.2024

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto

namibia36.jpg No sistema escolar da Jamba, o domínio de Francês e Inglês era obrigatório, por isso TODOS os ex-alunos pelo menos, falam e escrevem uma língua nacional, escrevem e falam bem português e falam pelo menos uma língua estrangeira; Um aspecto importante: Era obrigatório nos liceus a escolha pelo aluno duma língua nacional e a obrigação de apreender sem titubear matemática e português.

Havia um ensino mais ovacionado para relações internacionais e,  para isso, tinham em seu curriculum outras incidências técnicas dirigidas para o esforço militar sobretudo. Para o efeito, alguns eleitos, por via de suas capacidades,  iam para Bona (Alemanha), África do Sul, Marrocos, Portugal, França, Inglaterra, EUA e lá onde existia cooperação firmada.

namibia35.jpg No tocante à saúde, todos os lugares e comunas, tinham postos médicos tendo no  topo o hospital central da Jamba dirigido por médicos Angolanos; estes hospitais funcionavam tanto para civis, crianças como militares e dependentes dum Ministro da Saúde que coordenava a estrutura de saúde em todo país, gratuitamente. Dos médicos destacam-se Anastácio Sikatu (foi Ministro em Luanda e actualmente deputado), Manassas (foi Ministro em Luanda), Albertina Hamukuaya (foi Ministra em Luanda);

Serafina Gama Paulo (irmã do cantor Mário Gama), Raimundo (foi deputado), etc.; . - Destaca-se ainda o grande cirurgião de nome Tenente que formou grandes cirurgiões e, que são hoje, dos melhores nas FAA e, em vários hospitais públicos e privados. Também Carlos Morgado, antigo médico pessoal de Jonas Savimbi, que morreu em Outubro de 2013, em Lisboa   Ex-militante e dirigente da UNITA, Carlos Morgado acompanhou Abel Chivukuvuku, na saída da UNITA e que  esteve envolvido na fundação da coligação eleitoral Convergência Ampla de Salvação de Angola (CASA-CE), terceiro maior partido angolano.

namibia37.jpg O paludismo não matava crianças e era impossível existir endemias porque para além do aspecto sanitário os programas de vacinação e saúde preventiva sempre funcionaram. Aspectos sociais: Como os recursos eram escassos, a administração dos mesmos eram feitos com disciplina, sem desvios/roubos, distribuição equitativa, entre outras boas práticas.

Roupas, detergentes e bens materiais eram distribuídos protegendo os mais desfavorecidos (crianças, órfãos, velhos, doentes) premiando a excelência; . Desporto e cultura - O desporto com destaque ao futebol eram obrigatórios e existia campeonato nacional onde se destacavam os clubes Estrela Negra, Estrela Vermelha, Mártires da Liberdade, UREAL, etc.

Ainda vivem muitos destes protagonistas como o Genial Wambu (Chegou a Presidente da Federação de futebol), Lito Kandambu (actualmente Deputado e antigo jogador do Estrela Negra, Vermelha e UREAL), Tito Marcolino (Jornalista do Folha , Félix Miranda, Jessé, Zé Manel, Camilo, Satchiambo (Quadro Do Mirex), Tchituku, Beto Tchindombe, Tony Tchivemba, etc;

namibia38.jpg Havia o Movimento Sindical e Estudantil - Destaque para o SINTRAL (sindicato dos trabalhadores de Angola Livre) cujo primeiro presidente é Franco Marcolino Nhany (actual Deputado e Secretário Geral da UNITA), da UREAL (União Revolucionária de Angola Livre) cujo primeiro Presidente é o actual Deputado Estevão José Pedro Katchiungo e antigo bolseiro em Portugal e, por algum tempo representante da UNITA no M´Puto…

namibia39.jpg

Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos  espalhados pelo mundo.

Nota 2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e relatórios da Jamba - agência Kwacha UNITA Press (KUP)

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 09:02
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Sexta-feira, 14 de Junho de 2024
VIAGENS. 175

NAS FRINCHAS DO TEMPO

DOS TEMPOS DE DIPANDA* A HISTÓRIA DA JAMBA

- Crónica 3586 – 13.06.2024

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto

roxo170.jpg Do ponto de vista Administrativo a JAMBA funcionava como capital como qualquer Estado do mundo com estruturas que atendiam a Defesa e Segurança, economia, agricultura, pecuária, indústria, educação, saúde, etc. Na Defesa e Segurança, por se estar em período de guerra, todos os seus habitantes tinham a noção clara de que a sobrevivência colectiva dependia basicamente da  instrução  militar com o adequado uso das diferentes armas.

Assim sendo todos os jovens do sexo masculino ao atingirem a idade adulta tinham de ter preparação militar e política para que pudessem ser úteis a si próprios com a necessária cidadania, prontos para integrarem os mais variados órgãos de defesa, diplomacia e segurança se necessário , aprendendo técnicas de comunicação,  informação e contra-informação.

mulola2.jpg Sua estrutura social que tinha pendor militar e paramilitar exigia que usassem vestimenta adequada ao seu enquadramento e, segundo suas aptidões e funções; assim, todos os homens poderiam ou deverem estar fardados dos pés à cabeça. Os dirigentes, tinham por norma graduações militares, podendo andar armados… Eu próprio (T´Chingange), na diáspora,  caso fosse para a Jamba, teria o tratamento do posto de Major…

Como qualquer estado, existiam as polícias (secreta, ordem pública e outras), forças especiais (comandos), batalhões regulares e semi-regulares e forças especiais de guerrilha, etcOs sistemas de comunicações e intercepções militares que em áfrica, poderiam até superar África do Sul, tinham para além dessa, a Israelita, Alemã e Norte Americana. Tinha a VORGAN, rádio resistência das terras Livres de Angola que tinha por missão dar a informação e esclarecer a forma diabólica de como Luanda fazia passar a noticia - com muita deturpação…   

vorgan1.jpg O factor de disciplina e rigor era primordial. A UNITA teve o condão de  introduzir códigos feitos por angolanos, usando parcialmente e, de forma conjugada, usando línguas nativas angolanas. Falando de comunicações e intercepções por exemplo, não havia nenhum plano operativo das FAPLA e da sua força aérea, que não fosse conhecido o que, permitia aos chefes militares delinearem planos de ataque e defesa eficazes…

No tocante ao ensino – foram criadas  escolas do ensino geral e profissionais essencialmente dirigidas por antigos professoras da Administração Colonial,  das missões protestantes e católicas e gente entretanto já formada na Diáspora, em universidades de variados países principalmente europeus e africanos. O Liceu Nacional da Jamba era dirigido pelo Padre Justo Félix.

vorgan2.jpg Leccionavam nos liceus e não só, os melhores quadros que transitaram da administração colonial e do estrangeiro com conhecimentos académicos e científicos certificados. Passam assim à memória os Professores/as: Francisca Prata, Eugénio Manuvakola, Bunju (chegou a ser Ministro da Geologia e Minas de Angola), Elias (vinha dos EUA), Heitor Simões, Toya Tchivukuvuku, Kapapelo, Padre Bongo, Simões Bernardo, Bela Malaquias, Joia Wassuka, Madre/irmã Maria, entre muitos outros e outras.

Na área de ensino de Transmissões Militares por exemplo, não haviam férias e, num ano civil era possível fazerem-se dois anos lectivos, permitindo assim ter em pouco tempo mais letrados e prontos para as tarefas intelectuais. Os melhores alunos (média igual ou superior a 15 valores) eram seleccionados para continuarem a estudar na Costa do Marfim, Senegal, França e Portugal, entre outros…

ARAUJO248.jpg

Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos  espalhados pelo mundo.

Nota 2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 07:21
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Sábado, 8 de Junho de 2024
VIAGENS. 174

NAS FRINCHAS DO TEMPO

DOS TEMPOS DE DIPANDA* A HISTÓRIA DA JAMBA

- Crónica 3585 – 08.06.2024

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto

helder12.jpg A história da Jamba tem como seu fundador o Dr. JONAS MALHEIRO SAVIMBI no ano de 1979. É esta a génese da independência dos Ovimbundo em seu  ramo político. Jonas Savimbi, o Presidente do Movimento de União Nacional para a Independência Total  de Angola – UNITA, decidiu que era fundamental a Direcção do Movimento ficar SEMPRE em território Angolano (só a partir da Grande Marcha e, após a fuga  do território angolano, esteve na região do Delta do Okavango na Namíbia).

Para a construção da Jamba contribuíram angolanos que levaram experiência por via da Administração Colonial Portuguesa - Noções de Administração e planeamento do território. De destacar  os angolanos autóctones e muitas figuras míticas como por exemplo o falecido Capitão N´djeke (da etnia Kamussekele). Realça-se o Capitão N´djeke e, sua etnia porque ,mesmo sendo minoria, trazia com ele um conhecimento ancestral e lições de como tornar possível o respeito pelo ambiente, seus equilíbrios e usos dos donos da terra, temas obrigatórios que hoje, o  são prática comum nos meios urbanos e, em países ditos avançados.

guerra40.jpg Por seu valor histórico, político e económico a JAMBA, deverá ser transformada em um Município, ser uma das Capitais do Turismo, MUSEU do MUNDO. Isto porque, será a partir deste lugar que se possibilitará ver em estado selvagem a melhor e maior reserva de elefantes do planeta. Mas, entre outros animais destacam-se  zebras, cangurus africanos, palancas, chimpanzés ou macacos

Neste ambiente natural, existem  variadíssimas espécies da flora, algumas ainda nem catalogadas; é o lugar por excelência de África, ainda virgem para entusiasmar pesquisadores, botânicos e cientistas em geral. Estes recursos naturais terão de ser o verdadeiro suporte promovendo o bem estar para TODOS e, no mais curto espaço de tempo.

guerra6.jpg Por ora (naquele então), haveria que resistir e sobretudo “contar essencialmente com as nossas próprias forças” transformando “todos os braços e cabeças” em prol da comunidade, mantendo a resiliência possível perante tanta adversidade estimulada e incentivada pelos notáveis resistentes, inventando, muito para além do imaginário.

E, assim tornando possível a vivência a partir do plausível, teremos de rever os heróis que todos foram, cada qual do seu modo singelo ou capaz de entre  os mais hábeis, os melhor apetrechados de saber, a dirigirem seu povo civilmente ou militarmente.  Assim conhecerão de foram exaustiva nomes  que fizeram saber querer.  Angolanos como Jonas, Rússia, Tchiyuka, Tchiwale, Jaka Jamba, N´zau Puna, Samakuva…

guerra19.jpg E,Tchilingutila, T´Chipilika, T´Chitunda, Valentim, Hamukuaya, Tchata, Danda, Antoninio, Liberty, Ekuikui, N´gamba, Kanutula, Camundongo, Tembi-Tembi, Katchiungo, Sakala, Pena, N´dachala, Numa, Kandambu, Assobio da Bala, Tchingundji, Kahombo, Makanga, Morgado, Puna, Tony Fernandes, Hamukuaya, N´delitumbula ou Chivukuvuku…

A lista é grande e, alguns ficarão no rol de esquecidos, somente  por omissão. Temos assim, Kavulandungue, Calakata, Vituzi, Kalunga, Tarzan, Vakulukuta, Vahikeny, Tchindandi, Prata, Kalhas, Sanguende, Cinco Reis, Epalanga, Kalinoni , Cachiungu e, tantos ilustres. Por ultimo o actual Presidente da UNITA, Adalberto da Costa Junior. Angolanos e outros anónimos que acreditando nos seus ideais e resistindo a tudo dentro ou na diáspora, colocaram no mapa do mundo a futura capital do turismo mundial: JAMBA.

Acácia rubra1.jpg

Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos  espalhados pelo mundo.

Nota 2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 15:25
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Domingo, 2 de Junho de 2024
VIAGENS . 173

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA*“ - Crónica 3584 – 02.06.2024

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto

araujo158.jpg É tempo de voltarmos à Jamba e  esperar na mata, a morte do  Agostinho do Sputnik lá para o ano de 1979. Entretanto, um turista bazungo com passaporte de muzungo (branco) Tuga, disfarçado com colete de zuarte, um quiko besuntado de raspas de biltong, destroços de pão duro rusk, muitos bolsos, um canivete macgyver e um crachá da UNITA cozido no forro do colete percorria a tal Faixa de Caprivi.

Procurando-me envolto em sonho, também para que o desse e viesse, com um galo em cerâmica dado a mim, por mérito creio, Issoisso, dado a mim, pelo meu herói de nome Alcides Sakala – um notável da UNITA; assim e, muito bem seguro  com boas linhas,  cosido no forro deste traje de caçador de elefantes.

araujo159.jpg Só eu e José Pedro Cachiungo um dirigente do galo negro em funções em Lisboa, sabia chamar-se assim de “Xirikwata – o pássaro comedor de jndungo”… Mas, nem sei como, San Nujoma, o presidente da Swapo, vim a saber que também o soube mas, desmilinguiu-me bem à beira do Okavango – eram os Serviços de Inteligencia a funcionar - ainda bem que assim o foi!  Tinha a CIA a proteger-me...

Agora, com minha cuca pintalgada de velhice tipo mapa mundo, recordo se estava mesmomesmo pifado dos carretos, coisas reais dum passado acantonada no luco-fusco da vida e, como se o fora um espião de verdade, um tugangolano - aiué! E, no ano de 1978, aconteceu algo; os rodesianos fizeram um ataque ao campo de refugiados da ZAPU de Joshua N´Komo, em Boma, Sul de Luena, onde foram massacradas centena de pessoas.

araujo169.jpg Em um ataque ao Lubango no ano de 1979, por bombardeamento feito pelos sul-africanos, morrem 612 pessoas. Este foi também o ano do “massacre de Cassinga” quando militares sul-africanos atacam um campo de refugiados namibianos, chacinando 1.200 pessoasA morte de Agostinho Neto  sucedeu  nesse ano de 1979.

A morte de Agostinho Neto, acontecu em Moscovo a 10 de Setembro de 1979, na Rússia. Seu corpo regressa embalsamado a Luanda. Nas exéquias fúnebres, em quase histeria colectiva as pessoas gritam “mataram nosso Netinho”. Referiam-se aos soviéticos, mas a verdade é que Neto sofria de incurável cancro de fígado por via de tanto “chivas regal” e caporroto de Catete – implodiu por dentro, simplesmente!…

araujo179.jpg Na presidência de Angola, sucede o eng.º José Eduardo dos Santos, nascido no musseque Sambizanga, de pai pedreiro e mãe doméstica, foi aluno do Liceu Salvador Correia de Sá. Formou-se em engenharia de petróleos em Baku, ex-URSS, sendo a princípio contestado pelos radicais do MPLA.

Contestado em Luanda, especialmente por ter decidido congelar todos os processos de condenações à morte; posteriormente aboliu a pena de morte em Angola. Sabe-se sim, por via de muitas denúncias que sofisticaram a forma de eliminar inimigos ou gente inconveniente com venenos de sofisticada elaboração entre outras formas dissimuladas… Entretanto a guerra continua com a UNITA já fixada na Jamba – Cuando / Cubango. Iremos para lá a seguir…

Ilustrações aleatórias de  Costa Araújo

Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos  espalhados pelo mundo.

Nota 2:  **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 19:03
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Sábado, 27 de Abril de 2024
VIAGENS . 161

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA*“ - Crónica 3572 – 27.04.2024

 “DO  CUELEI ATÉ KAPRIVI” Na Faixa de Kaprivi, com Savimbi…

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto

jamba16.jpg A Jamba, “Estado Livre de Angola”, estava a ser preparada para em segurança, receber seu líder e seu Estado Maior no firme propósito de ali permanecer sem o serem bombardeados pelas chamadas forças governamentais coadjuvados por cubanos e assessores russos. A Jamba, que se tornaria numa dimensão mítica, estava a ser instalada. Neste meio tempo, a ausência de Savimbi prolongava-se  por períodos que poderiam ir até três meses.

Na ausência de Savimbi, Eugénio Manuvakola assumia interinamente o cargo de presidente, tendo Abel Chivukuvuku como seu secretário. A partir de meados de 1979 Savimbi iria instalar-se em JAMBA, a base que já tinha todos os requisitos para funcionar com os requisitos técnicos optimizados e as infraestruturas  básicas como por exemplo os misseis  do tipo Sringer .

jamba17.jpg No tempo que medeia entre a formação militar dos enquadrados instruendos da UNITA nos campos Delta, Quadado e Ómega e, até se dar o  início  das actividades na Jamba em 1979, a inteligência militar da UNITA sabia tudo sobre cada unidade das forças armadas do governo do MPLA e aquartelamentos cubanos - a logística, por meio de seus oficiais formados em vários países com o aberto beneplácito dos EUA estava afinada e refinada…

Os novos oficiais da UNITA, eram já conhecedores das mais modernas e diversificadas  tecnologias de guerra, nomeadamente da Segurança do Estado Stasi da polícia secreta da Alemanha Oriental, mas e também  Israel, Marrocos entre outros afectos aos estados Unidos da América. Aos formandos foi-lhes proporcionado saber qual o melhor modo de pensar do MPLA e das forças expedicionárias comunistas.

malawi3.jpg Eram conhecidas as comunicações internas do regime de Luanda e até do próprio presidente Agostinho Neto e Eduardo dos Santos;  Conheciam ao pormenor os relatórios da CIA e sabiam ao momento, vendo imagens de satélites espiões. Havia assim um perfeito conhecimento entre os movimentos do Galo Negro na interacção e utilização de armas estratégicas que lhes haviam sido fornecida tais como os misseis FIM – Stinger.

Qualquer disparo saído da Jamba, e outras bases estratégicas moveis, feito pelas FALA, acto continuo haveria comunicação de dados excênciais, do como e porquê segundo os parâmetros obrigatórios tai como coordenadas UTM entre outros meios criptografados com os Serviços de Inteligence Militar Sul-Africano e, com o Estado Maior das FALA.  Isaias Samakuva era o oficial responsável  situado na base Quadrado – Rundu.

jamba18.jpg A base “Quadrado”, era um lugar de máximo secretismo  algures situado na Faixa de Kaprivi e, inserido na logística global das bases Delta e Ómega. As actividades de Abel Chiukuvuku que estava à frente dos Serviços de Inteligência, Informação e contra-informação, fazia-se notar pela  lucida aptidão e ligeireza optimizada. Com valentia, o general Arlindo Pena (Ben-Ben), coadjuvado pelo general  Demósthes Amós Chilingutlla  sobresaiam em logística moderna na confluência entre os rios Lomba e Cuzumbia.

As actuais e futuras gerações aprenderão também lições da história política dos mais-velhos, militar, administrativa, de resistência em Angola e sequente trabalho de opinião e influenciação das individualidades e mentes públicas efectuada na diáspora, gente incógnita que na dissimulação tal como passarinhos que apagam com gotas de seu suor, incêndios na mata. Saberão como, uma parte de Angolanos que começaram em Fevereiro de 1976 numa caminhada para Sul, construíram uma capital dum Estado invicto e funcional - JAMBA…

araujo19.jpg Nota1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos  espalhados pelo mundo.

Nota2: Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e do livro de Vidas e Mortes de Abel Chivukuvuku de José Agualusa

(Continua…)

O Soba T´Chingange 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 16:28
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Quinta-feira, 18 de Abril de 2024
VIAGENS . 158

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA*“ - Crónica 3569 – 18.04.2024

 “A 2ª MARCHA – DO  CUELEI ATÉ KAPRIVI”Na Faixa de Kaprivi, com Savimbi…

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto

cuelei6.jpg Não sei precisar o dia do ano de 1997 em que me encontrei de forma esporádica com Pedro Rosa Mendes, creio que isto aconteceu no mês de Agosto mas, foi útil ter uma visão diferente do que se estava a passar no terreno; no entanto pareceu-me tendencioso demais em seu livro “Baia dos Tigres” no julgamento de Miranda o militar ex-búfalo e, agora  comerciante do Okavango, de quem me tornei amigo.

Rosa Mendes, retractou Miranda como um brutamontes, um mercenário por ter pertencido à companhia militar Sul-Africana “Os Búfalos”. João Miranda do Mukwé - o mesmo que invadiu Angola no ano de 1975. Eu, seguiria para Vitória Falls no Zimbabwe, retrocederia mais tarde até Divundo e seguiria o rumo de Joanesburgo passando pelo Delta do Okavango

guerra18.jpgAssim foi com uma paragem de dois dias em Maun. Enquanto Rosa andou 10.000 km, eu percorri 13.000. Quanto a Rosa, vi-o como um verdadeiro repórter comunista do M´Puto pago por encomenda. Posto isto entro de novo na recordação da descrição da 2ª Marcha de Savimbi entre Cuelei e a Faixa de Kaprivi  no lugar de Divundu…

Nos dias que se seguiram após aquela fome junto à grande tenda mandada montar por Philip du Preez num lugar  bem próximo de MahangoBase Ómega 3, de instrutores Sul Africanos e recrutas de especialidades várias da UNITA, aquela delegação de guerrilheiros, nos dias que se seguiram, receberam centenas de quilos em armas…

guerra17.jpg Receberam munições, fardamento e mantimentos segundo o descrito nas memórias de Chivukuvuku no livro de José Agualusa** - Uma biografia para Angola… Para mim e, nestas andanças de “Xirikwata” em determinadas alturas, tal como Rosa Mendes, também o foram «Viagens sem bilhete, sem horário, sem transporte público, sem "vouchers" com pequeno almoço incluído», comento pão duro rusks e bolachas com marula por conta própria. No Divundu e Mukwé tive a protecção total de Miranda e D. Elisabete sem dispender um tostão que fosse, pelo que, sempre estarei grato a tanta hospitalidade - e, aconteceu por quatro vezes em anos distintos…

No Mahango da faixa de Kaprivi, os guerrilheiros da UNITA, para além de muitas e variadas armas de tiro tenso e curvo com munições, receberam fardamentos, mantimentos e variados medicamentos de primária necessidade. A questão seguinte que se punha naquele agora, era a de carregar todo aquele material para as bases da UNITA nas áreas do  Cuelei e Jamba. Havendo ali várias gerações de pastores nómadas Cuvales, Himbas e Koisans, os primeiros entre os demais, foi sugestão unanime, utilizarem burros para levarem todo aquele material bélico e demais caixas, caixinhas e caixotes de géneros diversificados e material sanitário.

ROXO195.jpg Cada burro poderia carregar entre trinta a cinquenta quilos, resistindo bem ao calor e à sede. Foi necessário arranjar redes, cordas, cintas e almofadas para ajustar os volumes  e sacos à anatomia dos animais, carga tão diversificada poderia  ferir ou causar transtornos para além do admissível os quadrupedes; ter em conta que eram uns 1200 quilómetros a percorrer, podendo levar uns cinquenta dias a percorrer tal distância, quase dois meses e, se tudo corresse dentro do planeado e sem ataques aéreos…

Entretanto, a norte, a coligação governamental MPLA-Cuba, praticava uma politica de terra queimada, a conhecida por “Ofensiva Ngouabi”, de Marien Ngouabi, presidente do Congo e que, em Setembro de 76, visitou oficialmente Angola.  Entre as aldeias mártires desta “Ofensiva Ngouabi”, contam-se Quissanquela, Capango, T´Chilonga, T´Chiuca e Mutiete. Nesta última, foi sumariamente executada toda a população masculina. O MPLA atribuiu á “UNITA” a responsabilidade pelo massacre quando, na verdade, a UNITA se encontrava desmantelada para Sudeste no Cubango…

ama3.jpg

Nota1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes, durante os longos anos da crise Angolana, e após o Acordo de Paz e Reconciliação Nacional. Corresponde à diáspora de angolanos e afins espalhados por esse mundo.

Nota2: Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e do livro de Vidas e Mortes de Abel Chivukuvuku de José Agualusa e de “Baia dos Tigres” escrito por Rosa Mendes

 (Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 14:12
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Domingo, 14 de Abril de 2024
VIAGENS . 157

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3568 – 14.04.2024

 “A 2ª MARCHA – DO  CUELEI ATÉ KAPRIVI”Na Faixa de Kaprivi, com Savimbi…

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto

jamba13.jpgAnos mais tarde, com João Miranda Khoisan e sua filha Ana Maria, em Suclabo Lodge propriedade duma madame de nome Suzi e, que mais tarde tomou o nome de Divava Okavango Lodge e Spa, cinco estrelas de “elegant style and luxury”, do outro lado do Okavango relembraríamos. Foi ali o  bivaque base Ómega aonde a UNITA, na pessoa de seu presidente Jonas Savimbi, entabularam negociações com os bóhers da África do Sul.

Sabendo de antemão que neste mundo só os anjos não têm costas, ouço de novo João Miranda: - Isto é mato, amigo!; assim falou estalando a língua assolapada ao seu céu bem ao jeito dos bosquímanos.  Continuando a descrição encetada no Cuelei, naquele então, fins do ano de 1976, decorridas largas horas, o coronel  Philip du Preez, regressando de seu périplo vistoria às suas tropas ao longo da fronteira, desceu de seu helicóptero, entrou na tenda com seus homens, e  todos eles comeram e beberam.

jamba11.jpg Comeram e beberam sem se cuidarem ou lembrarem sequer dos angolanos que os aguardavam lá fora, com uma fome negra. Assim é descrito no livro de “Vidas e mortes de Abel Chivukuvuku” por Agualusa mas, quanto a mim, acho desmedida esta inventação de narrativa. Uma grande desfeita nada peculiar conhecendo-se a estatura e,  até diplomacia dos intervenientes.

A descrição do encontro surge assim com detalhes sórdidos e inusitados. Aliás, nem creio que aquele coronel bóher assim se tenha comportado por me parecer pouco natural, até bizarro. Ter este calibre de comportamento com esta gente guerrilheira, parece-me ser de um torpe e grosseiro descuido, por o serem já tão conceituados e, sobretudo tendo essa conhecida figura, como chefe da delegação - uma afirmada lenda de guerrilheiro africano chamada de Jonas Savimbi.

jamba12.jpgPois então, seus homens tiveram de esperar ainda algum tempo fora da grande tenda, antes de finalmente, conseguirem matar a fome. Aleluia! Por fim houve tempo para discutir ao que os levava ali às terras do Fim-do-Mundo. De forma brejeira é dito que o coronel du Preez, começou por sugerir que os guerrilheiros da UNITA se juntassem ao recém formado Batalhão 32; Sabimbi, indignado, recusou…

A UNITA era um Movimento de Libertação angolano. Não o seria, nunca, assim frisou indignado o Mwata guerrilheiro Jonas Savimbi, um simples instrumento de guerra nas mãos dos bóhers. Philip du Preez, duvidou da firmeza com tenacidade dos guerrilheiros angolanos: - Vocês estão mesmos dispostos a enfrentar sozinhos os cubanos? Têm coragem para isso? Sim, temos! Assegurou com firmeza Savimbi.

jamba10.jpg E continuou falando: - Necessitamos de vocês, nesta fase periclitante, para que nos forneçam material de guerra; é só o que queremos, reafirmou. E, vocês precisam de nós para conter o avanço do comunismo junto às vossas fronteiras. O Coronel Philip, prometeu nessa mesma noite falar com os seus superiores de Pretória, despedindo-se em seguida, subindo para o helicóptero bem à justa de forma a alcançar sua base ainda de dia…

Na percepção parcial das vitais contingências, tecidas e compostas nas coincidências de que a vida é feita, encontraremos o rigoroso sentido do passado, por fortuitos efeitos que determinam o futuro próximo e distante. Com encontros decisivos de nula ou muita importância, um simples dia de vida com rooibos tea and rusk bread, Windhoek lager, biltong bóher e bacorinho no espeto, assado pelo Thinus de Outjo, o mais genuíno carcamano bóher da família Miranda do Mukwé, a vida acontece…

Nota: Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e do livro de Vidas e Mortes de Abel Chivukuvuku de José Agualusa…

 (Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 08:38
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Quarta-feira, 10 de Abril de 2024
VIAGENS . 156

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3567 – 10.04.2024

 “A 2ª MARCHA – DO  CUELEI ATÉ KAPRIVI”No Cuelei, com Savimbi…

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto

okavango08.jpeg Mais tarde e kota, andei pela picada de macadame encrespada de ondinhas já para lá do Divundo, dos vários cuca-shops e cola-colas dos chineses, passamos locais de kimbos dispersos e lodges junto ao rio como o Rainbow Lodge,  Nunda River,  Ngepi Camp ou Ndhovu Safari. Mas foi no Mahango Safari Lodge escondido no denso arvoredo verde e bem na margem do rio que subimos numa barcaça.

E, passeando ao longo do Kavango até quase o Botswana; visitámos depois os rápidos e remansos, já com as águas do Kuito, águas que inundam o Delta do Okavango a jusante; um mar muito antigo a dar vida aos muitos n´dovus ou jambas que conhecemos por elefantes, entre hipopótamos búfalos e outras muitos espécimes.

okavango09.jpeg Em idos tempos, disse João Miranda apontando a margem: Savimbi esteve por ali; um lugar que serviu de acampamento, lugar aonde bivacaram as forças que formaram o Batalhão Bufalo, lugar chamado de Omega. Naquela outra já distante noite na segunda metade do ano de 1976, e, nesse lugar de Mahango, Savimbi e seus oficiais mais próximos, dormiram ao relento em um céu aberto, estendidos na lama seca.

okavango001.jpeg Despertaram na manhã seguinte, com o ruido de outro helicóptero… O militar que saltou do aparelho, com um sorriso no rosto e braços abertos, era um já conhecido de todos: Philip du  Preez, coronel das Forças de Defesa Sul-Africana, SADF e, que nos últimos meses tinha servido de elo de ligação entre as forças da UNITA e da FNLA com o regime do apartheid.

O coronel  du Preez, depois de cumprimentar cada um dos dirigentes da UNITA, ordenou a seus subordinados que montassem ali uma enorme tenda. Dentro daquela enorme tenda foi disposta uma mesa larga e longa muito farta de géneros; pão com chouriço, queijo, cerveja e refrigerantes. Eduardo Agualusa em seu livro de “vidas e mortes de Abel Chivukuvuku” descreve o encontro.

kasane5.jpg Diz que  o coronel bóher Philip du Preez explicou a Savimbi que precisava visitar algumas bases militares situadas  ao longo da fronteira com Angola e que voltaria mais tarde. Esta inusitada falta de atendimento a quem estava sob tensão, deve ter sido usada sob pretexto de poder ter o tempo necessário para falar com seus superiores, talvez o primeiro-ministro Vorster.

O mais previsível neste proceder aparentemente torpe, justificar-se ia em obter as directivas acertadas para comunicar ao guerrilheiro Savimbi; comunicar na volta, a decisão optada, falando com maior certeza e serenidade; é este o meu entendimento. E, porque a fome daqueles guerrilheiros era mais que muita, na ânsia de comer, ouve.se: vamos comer! Savimbi gritou: -Não toquem na comida.

okavango002.jpeg Esses bóhers são racistas, todo o cuidado é pouco e, além do mais não nos disseram que comêssemos, então, não vamos comer! Será melhor esperarmos. Um suplicio para quem estava tão carecido de meter algo no bucho. E, assim esperaram ouvindo os rugidos dos estômagos carecidos – rugidos esfomeados depois de 1200 quilómetros caminhados entre secas espinheiras, secos capins. Esperaram…     

Nota: Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e do livro de Abel Chivukuvuku de José Agualusa…

 (Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 15:05
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Domingo, 7 de Abril de 2024
VIAGENS . 155

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3566 – 07.04.2024

 “A 2ª MARCHA – DO  CUELEI ATÉ KAPRIVI” No Cuelei, com Savimbi…

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto

herero4.jpg em Cuelei e, após o 28 de Agosto do ano de 1976, Jonas Savimbi compreendeu que a UNITA só se conseguiria reorganizar e fortalecer, a partir do apoio do governo sul-africano, o regime bóher  do  apartheid que governava a Namíbia, nesse então, um protectorado saído a partir da ausência dos alemães, por sua derrota na Segunda Guerra Mundial, o chamado Sudoeste Africano

Assim e depois de acalorados debates no bivaque provisório de Cuelei pelos dirigentes disponíveis, os mais destacados da UNITA, decidiu-se pedir apoio às autoridades sul-africanas. Numa primeira decisão, Samuel Chiwale, foi o escolhido a chefiar um pequeno grupo de guerrilheiros na missão de cruzar a fronteira da Ovoboland do  Sudoeste  Africano - Namíbia, na designada Faixa de Kaprivi a fim de conversar com os chefes militares bóhers.

herero5.jpg Este projecto, rápidamente foi suplantado por outro perante a evidência de que só o próprio Jonas Savimbi conseguiria convencer os sul-africanos. Os oficiais do Movimento queriam em realidade poupar seu Mwata em mais um novo esforço, uma nova marcha de 1200 quilómetros até aos limites do território angolano, fronteira nas terras do fim do mundo. Lugares distantes entre si, algures entre a cidade do Rundu  e o rio Cuando, bem no extremo Sul, o canto que liga Angola com a Zâmbia e a Faixa de Kaprivi, santuário de elefantes. Relembrar aqui a frase de “Andaram e andaram e andaram” proferida por Philip du Preez, o oficial superior sul-africano que estabeleceu o contacto com esta delegação da UNITA.

Posto isto, àquele pequeno grupo inicial de Samuel Chiwale, grupo defensor de flancos, juntava-se-lhes a Delegação constituída por Savimbi, N´zau Puna, Jaka Jamba e António Dembo. Haveria antes de demais diligências, enviar alguém com a missão de alertar a policia de fronteira da chegada desta delegação.

cuelei3.jpg Para o efeito foram enviados os ainda jovens guerrilheiros saídos da Missão do DondiEpalanga Chivukuvuku  e Vituse. Estes dois jovens, penosamente chegaram à região do Rundu através de anharas secas com milhares de espinheiras; lugares por onde a delegação de Savimbi e seus notáveis companheiros também tiveram de passar até  alcançar o lugar aprazado…

Ali pararam algures num vasto capinzal, numa anhara não distante de Andara do Divundu, lugar aonde o rio Cubango passa a ter o nome de Okavango. Lugar cercano, aonde o rio atravessa a Faixa de Kaprivi, que se espraia em lagoas repletas de cacussos e hipopótamos e, cujo curso viram rápidos antes de chegar ao Botswana.

miran09.jpg Ao entardecer surgiu um helicóptero que os acolheu no capinzal raso; meia hora depois seriam largados em um outro terreno deserto junto a uma daquelas lagoas, não muito distante daqueles rápidos do Okavango, um lugar conhecido por Mahango… Muito mais tarde, fins do século, andei por ali fardado de caçador de elefantes.  A vida faz pouco das previsões e coloca palavras no lugar de silêncios.

Naquele, Epopa Falls do Okavango, sem presunção, era um desses lugares quem que o vento frio surge sem ser convidado. Ali, bem perto, ficava o Omega 3 - um antigo bivaque da UNITA. Enquanto observava os hipopótamos, pescando peixe tigre, pude ainda ver os telhados de capim preto por entre amarulas e embondeiros majestosos; lembro-me de sonhar - da muita saca-saca e mopane com pirão e jindungo, que por ali, não comi.

miran01.jpeg Nota: Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e do livro de Abel Chivukuvuku de José Agualusa…

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 20:27
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Sexta-feira, 5 de Abril de 2024
VIAGENS . 154

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3565 – 05.04.2024

 “APÓS A LONGA MARCHA ”No Cuelei, com Savimbi…

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto

guerri4.jpg A UNITA, que no seu auge (ao final dos anos 1980) apresentou uma estrutura militar  composta de 65.000 soldados, incluindo 28.000 soldados regulares, foi um dos maiores movimentos políticos do continente africano… No primeiro trimestre de 1976, a UNITA foi obrigada a se retirar para zonas mais seguras, bivacando-se em Cuelei a 28 de Agosto desse mesmo ano - 1976.

Cuelei, nome que ficou na história de Angola, situa-se na província de Kuando-Kubango, lugar inóspito até aí e, aonde, com o apoio da África do Sul, a UNITA, iniciou sua reorganização. Em 1979, o movimento já se consolidara outra vez, estabelecendo uma sede permanente na região, a chamada República da Jamba –Terras Livres de Angola.

jamba10.jpg A UNITA, até aos anos 1980, expandiu seu controle territorial estabelecendo uma estrutura organizacional muito semelhante a de um Estado, dispondo de uma burocracia, exército convencional, e governo. Sua estrutura de liderança assemelhava-se à do próprio MPLA, consistindo de um Bureau Político e um Comité Central.

No fim dos anos de 1980, a população da Jamba era estimada entre 8.000 e 10.000 pessoas, e 80.000 a 100.000  pessoas no sistema de aldeias vinculadas ao movimento. Chegados aqui e, antes de seguir o rasto da UNITA depois da “Grande Marcha” até Cuelei, teremos de recordar aqui, que em 14 de Outubro de 1975 (um ano antes), os Sul-africanos iniciaram oficialmente a Operação Savana embora já estivessem ocupando esta região sul de Angola desde Agosto desse ano.

jamba01.jpg Um ex-agente da CIA posteriormente afirmaria: "houve uma estreita ligação entre a CIA e os sul-africanos"… Era forçoso não deixar avançar os comunistas em território angolano - África. Isto levou a África do Sul do apartheid que apoiava a UNITA, a  invadir Angola a 9 de Agosto de 1975.

Os cubanos, a pedido de Otelo Saraiva de Carvalho com anuência do Presidente Costa Gomes do M´Puto (que disse sempre, não reconhecer…) Também com a anuência revolucionária de toda a nomenclatura do C.R. (Concelho da Revolução) que formatava o M.F.A. (Movimento das Forças Armadas), os cubanos não tardaram em desembarcar em Angola, o que aconteceu a 5 de Outubro de 1975.

kariba7.jpg Aquela Força Operacional Zulu da África do Sul, cruzou da Namíbia para o Kuando-Kubango na fronteira da Faixa de Kaprivi na conhecida Ovoboland  afecta ao grupo de guerrilheiro SWAPO sob o comando de Sam Nujoma. Esta operação previa a eliminação do MPLA da zona da fronteira sul angolana, depois o sudoeste, a região central e finalmente a captura de Luanda, o que não veio a acontecer…

Otelo Saraiva de Carvalho, o estratego do 25 de Abril, agora (2024), com cinquenta anos de estória, na altura comandante do COPCON e governador militar de Lisboa empenhou-se a fundo na entrega de Angola ao MPLA, conseguindo-o em absoluto! Assim, falando do tempo conturbado de reestruturação da UNITA após Cuelei, se irá recordar a participação dos jovens saídos da Missão do Dondi no comando do capitão Vinama Chendovava com a designação de “jovens intelectuais”, fazendo renascer a UNITA das cinzas, com destaque para Abel Chivukuvuku, nesse então com 19 anos e, dando novas perspectivas ao  Galo Negro… 

Nota: Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange com consulta a publicações de Jéssica da Silva Höring e José Agualusa

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 16:58
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Quarta-feira, 3 de Abril de 2024
VIAGENS . 153

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3564 – 03.04.2024

 “APÓS A LONGA MARCHA ” No Cuelei, com Savimbi…

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto

cuelei6.jpg O tenente general Philip du Preez, oficial sul-africano, representando seus militares, relembra anos mais tarde que, em Agosto de 1976 e, após a “Grande marcha”, estavam no Moxico, começando nesse então a cooperar com a UNITA. Era um pequeno número de pessoas e com poucas munições, mas tomando conta do grupo líder que até então estava sob o comando do major Katali. Acomodámo-los e treinámo-los", salientou o oficial sul-africano na reserva.

O tenente general Philip du Preez indicou ter estado na origem da formação de comandos africanos angolanos em Angola para combater as forças governamentais e, que começaram então a ser apoiados pelos soviéticos e cubanos, numa guerra civil que só terminaria em 2002. O mesmo oficial afirmou: Que em Angola e, "Após o final da grande guerra de  TUNDAMUNJILA 1975, que se estendeu até Fevereiro de 1976, quando parou.

cuelei5.jpg Os militares sul-africanos aconselharam Savimbi a não tentar avançar no terreno sem mais nem menos (para combater as forças governamentais), mas entrar sim num esquema de guerrilha. Savimbi preferiu flectir para o leste, para a província do Moxico, para descansar e preparar as suas tropas", sublinhou…  E, o tenente general Philip du Preez continua: "Depois enviámos uma mensagem a Savimbi a perguntar se queria a nossa ajuda, que nós enviaríamos pessoal para o Moxico.

Parece não ter sido bem nestes moldes mas, nas descrições que se seguirão serão percebidas as narrativas; veremos isso, quando se descrever o encontro na Faixa de Kaprivi no estão Sudoeste Africano - Namíbia. Disse que sim e enviámos cerca de 100 pessoas. Consegue imaginar o mapa da Angola de então?

cuelei4.jpg Do Moxico (Luena, base principal) para Catuiti (província do Cuando Cubango, próximo da Faixa de Kaprivi, na Namíbia) são cerca de cerca de 1.200 quilómetros. Andaram e andaram e andaram. Foi a verdadeira expressão … O oficial sul-africano lembrou que já não estava presente na criação do Batalhão 32 (ou Batalhão Búfalo), pois entregara a operação a um "jovem militar, muito bom", o então coronel Jay Breytenbach, militar de infantaria do exército sul-africano.

E, Continua: -"Pegou nesse grupo e foi para a guerra, não como Batalhão 32, mas como o “Grupo Bravo”, a que se juntariam, em fins de Agosto de 1976, vários outros elementos, maioritariamente da UNITA, que criaram o muito eficiente Batalhão Búfalo", explicou.

cuelei3.jpg Questionado pela  agência  Lusa sobre as razões de o exército sul-africano ter decidido envolver-se na guerra civil em Angola, lembrou que, na altura a palavra "comunista" era "muito, muito mal vista" na África do Sul e que a presença de militares soviéticos e cubanos nas proximidades do então Sudoeste Africano não agradava a ninguém do mundo ocidental.

Philip du Preez  em síntese disse: -"Trabalhámos muito com Savimbi, de 1975 até 1976 e, depois, até 1990", lembrou o oficial sul-africano, que considera o líder histórico da UNITA como um homem "muito carismático, um grande líder e adaptável". "Estive presente quando falava com os reis tradicionais locais, com os seus súbditos. Não se pode imaginar a impressão que causava. Falava sempre com uma linguagem popular e não havia nenhum chefe tradicional que se lhe opusesse. Nós, sul-africanos, gostávamos muito de Savimbi", realçou…

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 14:55
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Sábado, 30 de Março de 2024
VIAGENS . 152

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3563 – 28.03.2024

 “A LONGA MARCHA  DE SAVIMBI”Segundo Fred Bridgland

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto

jamba1.jpg Hodiernamente, não sei se voltarei a passar nas ruas da Luua que me viram crescer numa mulola chamada de Rio Seco da Maianga porque, também minha passada irá entristecer-se na recordação, do que foi e, já o não é. A sombra que preside aos tempos de agora (2024) e, que por dá cá aquela palha, se ateia a mente, queimando os fusíveis dos coiros, sempre lembrará o tempo em que o fui, feliz, na compreensão muda e queda, das muitas e, alheias infelicidades circunscritas.

Em 1975, embarquei para o M´Puto sem o querer, pela inquieta, medonha ou desolada guerra do tundamunjila. A terra do futuro ficou tardia, sarando-me das pústulas feitas vulcões  na diáspora, comendo sandes na “Tendinha” de Lisboa do Rossio do M´puto, um panado ou posta de bacalhau regada com um penalti. Mais tarde comendo arepas com carne mechada na Venezuela, biltong na África do Sul e coxinhas de galinha no Brasil.  Agora, recordo a odisseia da “Grande Marcha de Savimbi”, como uma prometida vontade a mim mesmo: sentir com a UNITA, essa nova era da mudança para Angola.

vermelho 04.jpg Algures na mata. «Estávamos preocupados com medo de que algum helicóptero pudesse sobrevoar-nos», disse Savimbi. «Disse-lhes que esta não era a maneira de conduzir uma guerra de guerrilha; não queremos riscos. O povo, porém, disse que não nos preocupássemos, que não fora ainda molestado naquele lugar. Numa aldeia, apenas a dois dias de caminho da base, estavam milhares de pessoas a dançar e a cantar. Disseram que nos acompanhariam até à base.

Respondi ao soba que isto  não seria bom, que se a população se portasse assim, não teríamos segurança. Um dia eles seriam descobertos e atacados pelo MPLA e pelos cubanos. Afirmei ao soba que não queria o povo atrás de mim. Chamá-los-ia dentro de uma semana, para um grande comício, já na base. Falhei porém, seguiram-nos sempre, a cantar durante todo o caminho.

jamba2.jpg Desisti e afirmei, vamos correr o risco. Por isso, eles vieram connosco até o Cuelei e foi  este o fim da longa marcha. A  base do Cuelei ficava a cerca de 150 quilómetros para sudeste do Huambo. Estava sob o comando do major Katali, que reunira nesse acampamento cerca de oitocentos guerrilheiros e, duzentas mulheres com crianças.

A “Longa Marcha” terminou com a entrada de Savimbi no Cuelei a  vinte e oito de Agosto de 1976, cerca de sete meses, com três mil quilómetros percorridos após a sua fuga do Luso, seguido por dois mil adeptos. Destes, apenas setenta e nove, incluindo 9 mulheres, estavam com ele, tendo os demais morrido, sido separados para outros locais ou, simplesmente, ficando para trás.

arau1.jpg Foram alguns meses trágicos; porém contra todas as probabilidades e contra todas as espectativas dos estranhos, Jonas Malheiro Savimbi, sobrevivera. A guerra que muitos comentadores anunciaram ter terminado com a victória cubana, em Fevereiro de 1976, iria continuar. Seguem-se agora entre estórias recolhida do baú de lata cravadas com ripas de pau kibaba, o desenrolar da odisseia de sobrevivência de um punhado de gente resiliente  com o espirito sempre presente da UNITA…

E, porque já em tempos disse de quem pensa que sabe tudo, um dia vem a saber mais um pouco, de novo o digo. E, para não ficar só no espírito,  volto à carga com a estória que me liga a uma felicidade estrangulada. Foi assim que arrumando meus cacifos de memória, achei ser justo neste espírito de letras e valores, passado que é meio século após o ano de setentaecinco,  retroceder aos itens de dignidade que persistem passeando um galo de cerâmica na lapela do terno diplomático…

Nota: - Com “transcrições parciais de Fred Bridgland em “Jonas Savimbi: Uma Chave para África”.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:00
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Segunda-feira, 4 de Março de 2024
VIAGENS . 145

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3556 – 04.03.2024

 “A LONGA MARCHA  COM SAVIMBI” – Segundo Fred Bridgland

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

mavinga1.jpg Recordando a “Longa Marcha” no ano de 1976, terei de relembrar que tive e continuo a ter com orgulho de exibir, um galo em cerâmica que sempre ficou agarrado à lapela do meu terno de azul diplomático, oferta como se assim o fosse: um louvor medalhado, por essa gentil pessoa, diplomata e guerrilheiro da UNITA com o nome de Alcides Sakala que anos depois, representaria a UNITA em Portugal, sendo eu coordenador da Zona Sul do M´Puto por ele indigitado…

Nesta descrição, andarei um pouco à frente e atrás para inserir o essencial dos problemas que afectavam milhares de seres como eu e, em iguais circunstâncias; gente que quis esquecer e, que acabou mesmo por assim o ser… Perturbado com os punhos no ar e assembleias a toda a hora, em terra de Otelo Saraiva, zarpei, bazei, fugi de licença ilimitada rumando para a Venezuela de Andrés Peres até ao ano de 1982

mavinga4.png Mas, lá longe, a “Grande Marcha” em terras do Moxico, em Agosto de 1976, já quase no fim, tinha sua continuidade. A causa pela qual Savimbi combatera durante mais de uma década, parecia perdida. Durante seis meses, ele fora perseguido e incessantemente acossado través destas vastas matas e savanas de Angola pelas tropas cubanas, por aviões e helicópteros: O inimigo aproximava-se ao entardecer, enquanto ele confortava o soldado moribundo.

Savimbi perdera o contacto com os demais grupos do seu fragmentado exército. Os seus aliados do exterior, em África e noutros continentes, tinham-no abandonado… Savimbi parou de confortar o soldado doente para verificar o estado do resto de seu exército. Uma hora depois de ele ter partido, um oficial de ordens, deu-lhe a notícia de que o jovem guerrilheiro morrera. Pouco depois morreram mais dois guerrilheiros.

paracuca27.jpg A travessia dos quatrocentos metros do canal principal do rio, fora muito má. Os hipopótamos, que reclamavam mais vidas humanas do que qualquer outro animal da selva, tinham ameaçado voltar a única canoa que fazia a travessia em vai-e-vem: apesar do risco de as explosões poderem ser ouvidas por patrulhas inimigas, preciosas granadas de mão tinham sido lançadas à água no intuito de assustarem as feras que resfolegavam.

Contudo a parte mais difícil da travessia, fora feito a pé, mergulhados até à altura do peito, através de trezentos metros do pântano inundado que ladeava a margem leste do rio Cuito. As temperaturas geladas e o avanço penoso a pé esgotaram as últimas reservas de energia dos três homens falecidos. «Não podíamos movermo-nos. Não tinhamos escolha. As minhas tropas estavam exaustas após a travessia e alguns estavam já a morrer», recorda Savimbi.

cuamatos0.jpg«A minha gente estava separada, uns na margem ocidental e outros na margem oriental, e Mulato continuava perdido. Disse-lhes que deveríamos adoptar posições defensivas e, se os encontrássemos no nosso caminho, lutaríamos. Quando o combate começasse, poderíamos ter já recuperado forças; então, a maior parte da coluna poderia fugir para a mata, enquanto os outros procurariam aguentar o inimigo».

Durante a tarde chegaram mais dois helicópteros e, deixaram mais homens, tendo um deles aterrado a cerca de quinhentos metros do piquete de segurança de Savimbi, na orla da mata. Desta maneira, haveria talvez entre sessenta a oitenta soldados inimigos a patrulhar os canaviais do rio. Antes do cair da noite, os cubanos começarem a tomar posições para emboscadas. Savimbi decidiu que a sua gente teria de se afastar da zona perigosa…

Nota: - Com “transcrições parciais de Fred Bridgland em “Jonas Savimbi: Uma Chave para África”.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 17:43
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Domingo, 18 de Fevereiro de 2024
VIAGENS . 140

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3551 – 18.02.2024

 “A LONGA MARCHA  COM SAVIMBI” Segundo Fred Bridgland

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

moxico1.jpg Entretanto recorda-se (Via Wikipédia): O Presidente da Guiné-Conacri, Ahmed Sékou Touré, foi quem fez a proposição de reconhecimento da RPA na reunião da Organização da Unidade Africana (OUA) de 10 de janeiro de 1976 em Adis Abeba. A 11 de Fevereiro de 1976, a OUA, então presidida pelo Presidente do Uganda Idi Amin Dada, reconheceu a RPA como legítimo governo de Angola, aceitando-o como o 47º. membro da organização.

O General Kamalata Numa da UNITA anos mais tarde em resposta a uma pergunta esclarece ter  havido actuação de tropas congolesas ao lado das tropas ditas regulares do MPLA: - É verdade! À coligação MPLA/cubanos juntam-se tropas congolesas com um total aproximado de 10 batalhões que passam a actuar no Centro/Sul de Angola…

moxico01.jpg Continuando com a descrição do que foi a grande marcha de Savimbi e, ainda muito longe do seu termo, a coberto da escuridão, Savimbi dividiu em três grupos inteiramente novos, os seus próprios seguidores, os de Samalambo e os do capitão Chimbijika, que os oficiais de Savimbi descobriram ter montado uma base da UNITA com 100 guerrilheiros. Cada um dos grupos partiria durante a noite em direcções diferentes.   

Esperavam iludir os pisteiros do MPLA, levando-os a acreditar de que a maior coluna, a de Samalambo, era a que protegia o líder Saviambi. Os três grupos tomaram o rumo das matas mais densas, afastados tanto quanto possível das margens dos rios, estradas e povoações. Os oficiais de Savimbi observaram  que os cubanos patrulhavam regularmente ao longo do curso dos rios e das estradas, na sua busca pelos homens da UNITA. Aventuravam-se pouco nas zonas de matas que se estendiam pelas áreas rurais e, com as quais, só os guerrilheiros  da UNITA estavam familiarizados.

moxico2.jpg Às  primeiras horas da noite, homens e equipamentos movimentaram-se  para cá e para lá, entre os três grupos, através dos muxitos das matas. Savimbi transferiu o seu rádio e operador para Samalambo, que poderia vir a precisar mais deles: ele deveria dirigir-se a uma área sob muito maior controlo por parte do inimigo e estabelecer uma base da UNITA perto do Caminho de Ferro de Benguela.

Savimbi disse aos seus guerrilheiros que dormissem, porém, passou a noite a dar instruções aos oficiais superiores das três colunas. Ele disse: «Como homens do exército, poderiam querer desesperadamente combater o inimigo. Em vez disso, porém, tinham de com firmeza e depressa actuarem, afastando-se do problema». Para conseguirem  o que se propunha, teriam de conciliar a necessidade de uma rigorosa obediência por parte de seus homens, com a capacidade de lhes demonstra  compreensão numa situação de desespero.

moxico5.jpg Foi bem peremptório ao dizer-lhes que existiam razões de sobra para terem  esperança. O inimigo mostrava que a sua estratégia era fraca. Estavam a actuar como estranhos: Não conheciam o terreno nem tinham o apoio da população, pois, de outra forma, nessa altura já Savimbi teria sido capturado. Estava bem claro, agora, para os oficiais, que a população estava com a UNITA. E Savimbi disse-nos: «Se o povo não desiste, porque razão desistiria eu?».

Nesse mesmo ano, após um veto por parte dos Estados Unidos, a Assembleia Geral das Nações Unidas admitiria Angola como membro 146º, em 1 de dezembro de 1976. Mesmo reconhecendo a independência angolana deste 10 de Novembro de 1975, o Governo Português somente reconheceu a autoridade do MPLA, sob o comando do Presidente de Angola Agostinho Neto a 22 de dezembro de 1976.

Nota: - “Transcrições de Fred Bridgland em “Jonas Savimbi: Uma Chave para África”.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:39
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Quinta-feira, 8 de Fevereiro de 2024
VIAGENS . 136

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3547 – 08.02.2024

O 11 de Novembro de 1975 no Huambo” - “A LONGA MARCHA” 

- Escritos boligrafados da minha mochila, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

unita1.jpg Proclamação de Independência paralela – No Ambriz e Huambo, Holden Roberto, líder da FNLA, proclamava a Independência da República Popular Democrática de Angola (RPDA) à meia-noite do dia 11 de Novembro, no Ambriz. Nesse mesmo dia, a independência da RPDA foi também proclamada em Huambo, por Jonas Savimbi, líder da UNITA.

Reconhecimento internacional e consequências das 3 prolamações: Logo depois das três declaração da independência em Luanda, Ambriz e Huambo, reiniciou-se a Guerra Civil Angolana (que já estava em curso desde Fevereiro de 1975) entre os três movimentos, uma vez que a FNLA e, sobretudo, a UNITA não se conformaram nem com a sua derrota militar nem com a sua exclusão do sistema político.

mocanda32.jpg Uma parte considerável da população rural, especialmente a do Planalto Central e de algumas regiões do leste, fugiu para as cidades ou para outras regiões, inclusive países vizinhos. Em Fevereiro de 1976, deparamos com o rápido avanço do MPLA com cubanos para a tomada do Lobito, Benguela e Huambo à UNITA a sul e, a norte o Soyo, a antigo Santo António do Zaire sob a alçada da FNLA.

A seguir, o Comité Político da UNITA abandona Huambo e inicia a retirada para Sudeste. Savimbi inicia, juntamente com duas mil pessoas, aquilo a que se veio a chamar a “Longa Marcha”. O líder da UNITA, Jonas Savimbi, viria a atingir o Cuelei só a 28 de Agosto, milhares de quilómetros percorridos, apenas com 79 resistentes.

unita2.jpg Lendo Fred Bridgland, este, conta o que a seguir se trancreve com a devida vénia de algumas passagens do que foi  “A Longa Marcha de Jonas Savimbi...”. Tudo começa a 8 de Fevereiro de 1976. Aconteceu quando as colunas blindadas de cubanos entraram no Huambo, o quartel-general político da UNITA, durante os seis meses anteriores.

Com a ocupação do Huambo, a vitória fora, virtualmente, completa para os cubanos e o MPLA. No dia seguinte, Savimbi abandonou o seu quartel-general no Bié e voou em direcção ao Leste, para o Luso... Ao principio da tarde do dia 10 de Fevereiro, o capitão “Bock” Sapalalo ouviu os camiões cubanos e do MPLA que se aproximavam da última ponte a norte do Luso...

unitao1.jpeg Alcides Sakala

Savimbi dormia, pela primeira vez em 70 horas, quando as primeiras bombas explodiram no Luso, às 4 da tarde. Foi acordado do seu sono profundo por Chiwale. A população estava em pânico. Savimbi convocou rapidamente uma reunião para lhes dizer que a UNITA iria retirar e organizar uma nova guerra de guerrilha.

Meia hora depois de terem caído os primeiros morteiros, três aviões MIG bombardearam violentamente a cidade tendo morrido cerca de 50 pessoas. Imediatamente após o ataque aéreo, foi ordenada a evacuação do Luso. Cerca das 5 horas e 15 minutos da tarde, os primeiros veículos da UNITA abandonavam a cidade: na coluna de carros diversos e Land-Rover seguiam cerca de 1000 guerrilheiros que Chiwale conseguira reunir. Alguns milhares de civis, com os seus haveres, seguiam pelas bermas da estrada. O cortejo tomou o rumo sul, em direcção a Gago Coutinho, que distava dali cerca de 350 quilómetros.

 (Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:48
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Terça-feira, 30 de Janeiro de 2024
VIAGENS . 133

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3544 -30.01.2024

 “Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”

A CARAVANA.5A FUGA - Escritos boligrafados da minha mochila

- Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

Namibia31.jpg Continuamos com a descrição de Sonia Zaghetto: Eu e minha mãe fomos para casa de um casal idoso que nos acolheu com uma refeição quente, um banho e uma cama quentinhos. Estava tanto frio. Pela manhã, logo depois do café, nos levaram à loja da filha deles, onde já estavam a minha futura cunhada e sogra. Disseram para escolhermos as roupas que quiséssemos.  Nesse dia fiz as pazes com Deus.

Aquelas pessoas me apresentaram o outro lado da humanidade, feita de bondade com quem está refém da tragédia. Só podiam ser emissários do Divino, anjos perdidos no interior da África. Em Tsumeb, um novo acampamento, as mesmas barracas de campanha. Mas a comida era melhor, assim como o tratamento que recebíamos. Ficamos pouco tempo.

okavango 01.jpeg Conseguimos ser aprovados na seleção, graças a meu futuro cunhado e por eu ter começado a servir como intérprete. Benditas aulas de inglês. Mudamos de campo outra vez. Fomos para Grootfontein, mais próximo a Pretória. O campo    era um presidio que estava sendo desativado.

Restavam lá uns 3 ou 4 presos, todos idosos. O presidio era formado por várias casernas e eles nos separaram. Tinhamos refeitório com mesa e bancos, e a comida era surpreendente. Imagine, senhor, que comemos até sobremesa de maçã caramelada no forno. É que os presos eram os cozinheiros. Fiz amizade com um deles. Tinha 65 anos e estava preso há 30 pelo assassinato da esposa num acesso de  ciúme. A filha não o visitava.

okavango3.jpeg Depois que saí do campo e ele da prisão, fui à casa dele. Era um homem gentil – como pudera fazer aquilo? Mistérios do coração humano que jamais saberei. Continuei sendo intérprete junto à assistente social e ao director do campo. Meu futuro cunhado arrumou emprego numa fazenda. Meu namorado logo sairia, mas eu era menor de idade e não poderia deixar o campo.

Estava dificil para minha mãe. Ir para Portugal estava fora de questão, dado o desprezo com que nos tratavam. Eu e Zé decidimos casar. Minha mãe passou a ser minha responsabilidade (acredita que até hoje ela fica muito zangada quando lembra disso?). E assim, no dia 6 de novembro de 1975, casei dentro de um presidio que funcionava como campo de refugiados. O diretor e a assistente social foram nossos padrinhos.

quitandeira5.jpg Os soldados que tomavam conta do campo fizeram uma cotinha (vaquinha) e pagaram a nossa festa e a lua de mel num hotel na cidade. O casório teve bolo, vestido de noiva e tudo, viu? O Jeep do exército nos levou ao hotel. Os soldados ficaram dentro do Jeep vigiando para que não fugíssemos. De madrugada, acordei com dor de ouvido.

Na recepção não havia remédios, as farmácias só vendiam medicação com receita. Os soldados me levaram para o hospital, onde fui atendida. Ao voltarmos para o campo, os soldados contaram para todo mundo a aventura. Não escapamos à gozação geral: “Nem os ouvidos poupaste à miúda, Zé?” Casada pelas leis sul africanas, no dia 11 de Novembro casei na Igreja e duas semanas depois casei novamente no consulado português.

(Continua…)

(Texto corrigido de Sonia Zaghetto)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 16:36
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Domingo, 28 de Janeiro de 2024
VIAGENS . 132

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3543 -28.01.2024

 “Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”

A CARAVANA.4 – A FUGA - Escritos boligrafados da minha mochila

- Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

cluny1.jpg Aprendi, nessa época, que tudo o que está ruim pode piorar. Minha familia deixou Nova Lisboa, assim como meu namorado e a mãe dele. Eu fiquei. Aguardava minha mãe, que tentava sair de Luanda. De repente me vi  sozinha, aos 16 anos, num país que se esfacelava e numa cidade em que os grupos guerrilheiros se enfrentavam para dominar o território. Agora havia tiroteios em toda parte. Passei a morar na sede da Cruz Vermelha.

Finalmente minha mãe chegou e conseguimos uma carona para Sá da Bandeira, mais ao sul. Fomos de camião, minha mãe na boleia com o motorista e a esposa dele; eu e os filhos dele no meio da carga de batata. Até hoje, meu senhor, o cheiro de batata me agonia. É cheiro de fuga, de desesperança e perda. Em Sá da Bandeira reencontramos meu namorado e a familia dele, com quem tinhamos combinado sair de Angola. A confusão era enorme.

fuga001.jpg Gente andando de um lado pro outro, tentando encontrar familiares ou arrumar um jeito de sair dali, gente sem um centavo até para comprar água. Faltava comida, além de esperança. Não lembro exatamente da data em que finalmente saímos em caravana (onze carros e um camião) à noite pelo meio da mata, com destino à fronteira com a África do Sul. Sei que era início de Agosto. Durante a viagem encontramos duas patrulhas de guerrilheiros.

A primeira foi mais tranquila, aceitaram o suborno de cigarros. Já a segunda foi apavorante: queriam nos prender de qualquer jeito. Segundo eles, éramos ladrões das riquezas de Angola. Todo aquele zelo patriótico não resistiu à propina. Além de cigarros e bebida alcoólica, demos dinheiro para que nos deixassem seguir.  O sol começava a nascer quando encontramos uma coluna do exército da África do Sul.

etosha1.jpg Ainda estávamos em território angolano, a cerca de 10 quilômetros da fronteira, mas eles nos escoltaram até um campo de refugiados já em território sul-africano. Foi o primeiro campo em que ficamos. Eu sentia  raiva, meu senhor. Muita raiva! Uma revolta surda contra os brancos portugueses de Portugal, que nos exploraram durante séculos e agora nos viravam as costas dizendo que éramos brancos de segunda classe.

Revolta contra os negros, por acharem que a diferença na cor das nossas peles fazia que fôssemos diferentes deles. Éramos todos angolanos, mas apenas nós estávamos sendo expulsos de nossa terra e não tínhamos para onde ir. O acampamento era feito de barracas de campanha. Sabes como é, senhor, aquelas barracas verdes do exército? Na nossa barraca dormiam seis adultos e duas crianças.

namib5.jpg Cada um recebia um um cobertor e três refeições por dia. Comida pouca, ninguém ficava saciado, mas matava a fome. Estávamos agradecidos, pois os sul-africanos faziam mais por nós do que o governo de Portugal. Esse acampamento – destinado a angolanos e moçambicanos – era um local de filtragem. A alguns era vedada a possibilidade de ficar no país. Esses eram logo encaminhados ao grupo consular português e enviados ao aeroporto, onde aviões da África do Sul os levavam para Portugal. Outros eram mandados a outros campos de refugiados.

Nós, graças a meu futuro cunhado, que era engenheiro agrícola e já tinha uma promessa de emprego, fomos para outro campo. Escoltados por uma coluna do exército, seguimos para Tsumeb. Na estrada para Windhoek, havia uma cidadezinha. Avistamos gente nos esperando. Abordaram o oficial do exército que nos conduzia e pediram para nos dar abrigo naquela noite. Desconhecidos encharcados de solidariedade, que queriam nos oferecer o alimento mais precioso, esperança…

(Continua…)

(Texto corrigido de Sonia Zaghetto)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 17:38
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Quinta-feira, 25 de Janeiro de 2024
VIAGENS . 131

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3542 -25.01.2024

 “Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”

A CARAVANA.3 A FUGA - Escritos boligrafados da minha mochila

- Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

valentina3.jpg No Baleizão comi prego no pão com Coca-Cola. Nos bares à beira da praia comi santola, camarão, peixe no molho de dendê, muamba com pirão de milho. Eu nem sabia, senhor, que fabricava as lembranças mais caras. Um dia elas seriam os retalhos coloridos da minha colcha de saudades.

Tudo mudou em Abril de 1974. Angola ansiava pela justa independência; estávamos numa entressafra de tranquilidade. O terrorismo de 1960 quase não existia mais – não sentíamos isso. Os guerrilheiros tinham sido rechaçados pelas tropas portuguesas. Porém, com as mudanças na política de Portugal Continental, tudo mudou nas colónias lusitanas da África. Grândola Vila Morena deu a senha para os cravos florescerem nas armas. Marcelo Caetano caiu!

luua9.jpg O socialismo venceu em Portugal: Álvaro Cunhal, Mário Soares e seus camaradas no poder de então, apoiaram a independência e o Movimento Pela Libertação de Angola (MPLA), liderado por Agostinho Neto e patrocinado pela ex-URSS, Cuba e Alemanha Oriental. Mas no país existiam também a Frente Nacional de Libertação de Angola, de Holden Roberto, apoiada pela França e pela Bélgica; e a União Nacional pela Independência Total de Angola, de Jonas Savimbi, apoiada pelos Estados Unidos. FNLA e UNITA não aceitaram os favores de Portugal ao MPLA.

Iniciou ali, senhor, a grande guerra civil que devorou o meu país por três décadas. A violência aumentava a cada dia. Balas perdidas, rajadas de metralhadora, morteiros de bazuca e granada passaram a ser rotina. Quantas vezes, tínhamos que nos jogar no chão, dentro da sala de aula ou do cinema? Lembro de um dia em que Jesus Christ Superstar estava na tela enquanto eu, deitada no chão no cine Tivoli, ouvia as balas assoviarem por cima.

xiricuata5.jpg Era difícil para todos, mas quem tinha pele branca, como eu, caia em um limbo. Eu não era colonizadora, nem exploradora. Era uma adolescente angolana, pobre e agora considerada inimiga. Em meados de Março de 1975, começamos a cumprir o toque de recolher. A partir das 16 h, brancos não podiam andar nas ruas sob pena de serem presos ou mortos por grupos guerrilheiros. Estes não eram mais chamados terroristas e sim aclamados como heróis da libertação.

Havia assassinatos de homens brancos todo santo dia. As mulheres sofriam mais: eram seviciadas antes de morrer. Minha mãe rendeu-se ao medo: em Junho daquele ano me mandou para Nova Lisboa, onde tínhamos familiares e as coisas estavam mais tranquilas. Muitas famílias estavam fugindo do norte do país e indo pra a nossa região, onde recebiam apoio da Cruz Vermelha Internacional para deixarem o País com destino a Portugal ou à África do Sul.

camionista1.jpg Comecei a trabalhar como voluntária num dos postos da Cruz Vermelha. As caravanas do norte se multiplicavam. Eram tantas, que houve dias em que não dormíamos. Engolíamos pedaços de pão enquanto limpávamos ferimentos, distribuíamos comida e dávamos informações. Quando conseguíamos parar por alguns minutos, encostávamos o corpo nas caixas de alimentos e dormíamos em pé mesmo.

A multidão rugia em desespero. Gente à procura da família, gente abatida e sem rumo. Derramavam grossas lágrimas, lamentavam-se em alta voz pelos parentes mortos, pelos bens perdidos, pelas emboscadas às caravanas. O bicho homem é bruto, meu senhor. Lembro muito bem, ainda hoje, de uma caravana. De um dos carros desceu uma família atacada na estrada. A mãe tinha uns olhos perdidos e carregava o filhinho no colo. Seu choro era um chicote que arrancava lascas da gente e tingia de cinza o vasto mundo. Implorava que lhe salvássemos o menino, mas ele, senhor, já estava morto. Nesse dia, lembro-me bem, rompi com Deus. Reneguei-o. Era bem certo que nenhum ser supremo e bom poderia ter criado tal humanidade perversa e tanta dor a fustigar as costas dos inocentes.

(Continua…)

(Texto corrigido de Sonia Zaghetto)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 18:11
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Quarta-feira, 24 de Janeiro de 2024
VIAGENS . 130

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3541 -24.01.2024

 “Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”

A CARAVANA.2 - Escritos boligrafados da minha mochila

- Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

fuga8.jpgÉ Sónia, Sonia Zaghetto que continua a falar: - A casa do avô, em Nova Lisboa, tornou-se lugar das férias até os meus 10 anos. O avô trabalhava de sol a sol na chitaca. Levantava-se   às 5 da matina e ia para os campos de sisal, abacaxi, laranja, goiaba, tangerina, caju. Às 9 horas, eu e os primos levávamos o matabicho para ele e para os trabalhadores. Era bom aquele tempo de brincar, nadar no lago, subir nas árvores, cravando os dentes nas frutas colhidas no pé…

Correr atrás de patos e galinhas e dar cigarro aos camaleões só para vê-los mudar de cor e despencar do galho completamente chapados. Até hoje, senhor, não encontrei comida melhor que a da senzala. Todos juntos, brancos e negros, comendo pirão ao molho de dendê e peixe-seco. Que saudade agora me dá de pegar o pirão com a mão, molhar no dendê e depois lamber os dedos besuntados. Não há nada melhor, visse?

kuito2.jpg Quando eu e minha mãe saímos de Nova Lisboa, fomos para Luanda. Ela trabalhava como costureira. Foi assim que me criou, sentada na máquina de costura. Cresci entre tesouras, linhas e tecidos, rendas e fitilhos. Grandes espelhos reflectiam as senhoras elegantes que chegavam a toda a hora.

Minha mãe era a melhor: só trabalhava pro high society de Luanda. Noivas? Eu juro, senhor, que perdemos a conta de quantas ela vestiu – uma mais bela que a outra. Adolescente, estudei num colégio de freiras, o melhor de Luanda (creio eu ser o São José de Cluny), o mais caro. Era bolsista e tinha a obrigação de ter notas altas.

fuga9.jpgEntrei no colégio por recomendação do presidente da Câmara de Luanda, cuja esposa era cliente da minha mãe. Gosto de lembrar desse colégio. Ali fiz grandes amizades, algumas duram até hoje, embora separadas por oceanos. Foi lá, também, que aprendi a me defender. Filha de mulher solteira, quantas vezes me chamaram de bastarda? Nem lembro. Eu reagia. Não nasci para baixar a cabeça, não senhor.

Morávamos num apartamento bem pequeno. Quarto e sala, cozinha, banheiro e uma sacada minúscula, de frente para o mercado municipal, que a gente chamava de Kinaxixi ou Mercado da Maria da Fonte. Na época de provas eu acordava às 3 da madrugada. Quando os feirantes começavam a arrumar as bancas, eu aparecia na sacada e berrava para que parassem de fazer barulho, que eu precisava estudar. Eles riam e moderavam a barulheira. Depois de um tempo, eles se acostumaram a conferir: se a luz do quarto estava acesa, já gritavam “Hoje vamos ficar quietos. Vai estudar, miúda!”.

kina1.jpg Meu pai só vi duas vezes. Na primeira eu tinha seis anos e ele me levou pra passar o dia na casa dele e conhecer sua esposa e filhos. A segunda vez foi aos 16 anos. Ele me encontrou na rua, na garupa da moto de um amigo e repentinamente se lembrou de que era pai. Mandou eu descer e ir pra casa, que filha dele não andava de moto. Ah, meu Senhor, filho mal havido nem sempre engole sapo – anote aí. Disse-lhe que não era meu pai, que não passava de um reprodutor. Depois disso nunca mais o vi. Tudo o que sei dele é que vive em Portugal.

cluny1.jpg A vida em Angola enchia de festa meu coração adolescente. Com os Escoteiros Marítimos da Praia do Bispo acampei em ilhas e praias distantes, participei de paradas militares, visitei hospitais e presídios. Com o grupo de dança folclórica do Rancho da Casa do Minho de Luanda, dancei em campeonatos e apresentações. Vi o nascer do sol na praia da Ponta da Ilha, andei de moto nas dunas da praia do Sol e acampei na paradisíaca ilha do Mussulo.

(Texto corrigido de Sonia Zaghetto)

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 15:48
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Sábado, 28 de Outubro de 2023
VIAGENS . 98

NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3509 – 28.10.2023

-Às margens do Cubango - “Missão Xirikwata” - “Tropas cubanas para Angola, já!”-  Nossas vidas têm muitos kitukus…

- Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

an1.jpeg Luanda - empresas e, até algo inédito, saído de gente que era publicamente notória como Deodoro Troufa Real, o arquitecto das rotundas (ainda vivo) assumindo posições Ad Hoc na Câmara Municipal de Luanda, toma foros de  revolucionário proporcionando uma nova direcção de gestão no município; genéricamente, via-se por toda a Luanda muitas outras técnicas modenas de marketing com profissionais incitando ou anuindo-se à desobediência.

Usando modos nada comuns até então, expulsando homens de bem de forma irregular e, muitos edecéteras que sempre se relembram no tempo  entre arrepios em nosso cerebelo…  Só a 5 Junho de 1975, se  operou uma primeira definição legal do estatuto de retornado, para determinar quem podia obter o apoio do Estado Português. Em primeiro lugar, devia ser cidadão português, segundo os requisitos da nova lei de nacionalidade de Junho de 1975.

ÁFRICA13.jpgComo em outros países, Portugal, ainda na charneira de se ter tornado um estado póscolonial, teve de redefinir os contornos do acesso à sua nacionalidade no contexto pós imperial ou colonial. Para ser reconhecido como retornado, devia-se também ter residido numa ex-colónia portuguesa, estar numa situação de carência e, por fim, ter chegado à antiga metrópole depois do dia 1 de setembro de 1974 .

Esta primeira definição foi complementada por uma resolução do 21 de outubro de 1975 estipulando absurdos que não se concretizaram. O M´Puto, era uma bagunça de governo tendo um chefe militar de nome Otelo Saraiva de Carvalho que se deslocou propositadamente  a Cuba pedindo a Fidel de Castro a intervenção de militares dessa Ilha na ajuda ao MPLA. O estratego do 25 de Abril, na altura comandante do COPCON e governador militar de Lisboa empenhou-se na visita, cuja concretização, foi aprovada pelo  Conselho de Revolução.

mocanda36.jpg A  ajuda de Cuba  veio a acontecer  mesmo antes do 11 de Novembro, por uma via revolucionária a que chamaram de PREC – Processo de Revolução em Curso que felizmente teve seu fim no 25 de Novembro de 75!  Otelo Saraiva de Carvalho regressou de Cuba, mais entusiasmado com o sonho do Poder Popular. Otelo não escondia que Fidel Castro e Che Guevara eram dois dos seus ídolos, confessando que admirava muito a experiência da revolução cubana. A postura da Nação através do CR-Conselho de Revolução não o foi por isso, inocente.  

Tendo apenas Raul Castro como testemunha, Fidel e Otelo dicidiram no sentido de Cuba enviar soldados em força para Angola, para mediar o conflito entre MPLA, UNITA e FNLA (uma falácia genuina, pois que só o MPLA veio a ser favorecido). Otelo aconselhou a Fidel preparar as tropas. No regresso a Lisboa, contou a conversa ao Presidente da República, o Marechal Costa Gomes (o rolha) pedindo-lhe que desse uma resposta urgente àquele líder cubano.

guerra9.jpg A resposta foi afirmativa na premissa de urgente. E, a hipocrisia deu nisto: Que se saiba, a resposta portuguesa nunca chegou a Havana. Costa Gomes afirmou que não se lembrava de nada. A revista VISÂO revelava em primeira mão os pormenores de uma conversa que se manteve secreta durante 20 anos: aquela em que o dirigente cubano anunciou a Otelo Saraiva de Carvalho, em Julho de 1975, o envio de tropas para Angola.

Segundo Luís Marinho da Revista VISÃO, a 19 de Outubro de 1975, um ou dois dias depois da Festa Nacional de Cuba (já não se recorda com exactidão do dia), Otelo foi convidado para um almoço privado com Fidel Castro e seu irmão, Raul. Num restaurante perto da estância turística de Varadero, chamado Los Canaviales, os três homens tiveram uma conversa que se manteria secreta. O assunto era Angola. A menos de cinco meses da data prevista para a independência da ex-colónia portuguesa, ganhava força o conflito militar entre MPLA, FNLA e UNITA, sem que Portugal conseguisse um mínimo de controlo. Otelo revela esse episódio, que influenciou no rumo do conflito angolano.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 20:56
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Sexta-feira, 27 de Outubro de 2023
VIAGENS . 97

NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3508 – 27.10.2023

-Às margens do Cubango - “Missão Xirikwata” - Nossas vidas têm muitos kitukus…

- Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

paulo7.jpg Às conversas no Mukwé entre os três da vida eirada de agora, T´Chingas, João e  Oliveira do Mucussu, juntou-se-lhes o Teles da Ondjiva, caçador de pacaças naquele período de tempo já ultrapassado; os acidentes em nossa normal existência numa terra que pensávamos ser nossa, eram tempos torturados na mistura de assuntos comuns, de cacaracá.

No descuido de uma periclitante existência, pensavamos falando coisas defuntadas de nossa singularidade. Em plena Ovobolândia, as malambas, surgiam após um café pingado, umas gotas de bagaço ou medronho do M´Puto traficado na candonga do Rocha ou do Bicho de Ochakati.

Eu, T´Chingas, acabei por relembrar que aqueles dias na Luua, na feitura do caixote do baú das saudades futuras, era comum ver-se um furtivo vulto que saído das vielas dum musseque ou de carros que passavam nos bairros da cidade, atirando rajadas para o ar, para um qualquer lado. Lançavam àtoa para um qualquer jardim ou taipado, granadas da qual saiam afiados restos de molas da morte.

guerra16.jpg Mandavam obuses ou morteiradas, rockets, aleatoriamente para o ar que logicamente iriam cair num qualquer sítio, provocar estragos e mortes. Estando eu na ponta da ilha, perto do farol, guarda da baia da Luua, na conhecida Barracuda com a família, viam-se rolos de fumo, estrondos e balas tracejantes sulcando o ar do outro lado continental como se o fosse um fogo de artificio de feira popular feita festival.  

Talvez Cuca, talvez Sambizanga, Terra Nova, Cazenga, Caputo ou Bairro Operário. Eram as ordens do DDT – o dono dquilo tudo, o Vemelhão  almirante chamado de Rosa para assustar a malta. A malta, eramos todos nós, pode? Uma boa parte das armas usadas neste assustamento, eram das forças regulares do exército português dadas a esmo pelo MFA-NT, aos populares afectos ao MPLA – os camaradas.

fuga5.jpg Entretanto obrigavam a etnia branca a entregar todo o tipo de armamento. Sei que isto já foi dito mas, convem recordar: um tempo de muita manigância, farsas trabalhadas por operadores, locutores saídos de uma jihade de desinformação, factos novos entre coisas de guerra a que chamaram de monacaxitos, alarmes falsos tratados em comunicados alarmistas, assaltos a laboratórios de hospital.

Roubando corações de gente para incriminar o suposto inimigo de canibalismo. Aconteceu isto, algo inaudito, baixaria usada pelo MPLA, acusando a FNLA, os ditos fenelas, de canibais, comedores de corações humanos feitos em Indi Amins. Colando cartazes com estas e outras vísceras nas paredes das casas, quintais, junto a escolas e parques, nas avenidas e postes de iluminação.

fuga8.jpg Numa dada altura dá-se a conhecer um tal de senhor Falcão insinuando-se como líder dos gwetas, t´chinderes brancos, um manobrista laranja do MPLA… Aiué besugos meniés (falas antigas) ficando tresmalhados assim como autenticas formigas kissonde ou salalé abandonando seu ninho soàtoa. São tomadas por pseudo democratas, genéricos rufias, de punho no ar, instituições, correios, municípios, organismos oficiais, grupelhos organizados alterando a normalidade, originando um baixar-de-mãos nas empresas.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 21:44
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Quinta-feira, 19 de Outubro de 2023
VIAGENS . 95

NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3506 – 19.10.2023

-Às margens do Cubango - “Missão Xirikwata” - Nossas vidas têm muitos kitukus…

- Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

fuga11.jpg Ali no Mukwé, apanhando a brisa do rio Cubango ou Okavango, à sombra de uma marula, aleatoriamente, eu, T´Chingas, João Miranda ou Oliveira,  retrocediamos as imagens de nossas vidas em Angola, trinta, quarenta ou cinquenta anos lá para trás. Recordavamos o que tantos equeciam ou faziam por esquecer com laivos de raiva misturada aqui e álem em falripos de covardia generalizada.

Covardia generalizada  perante  a postura oficial musculada  do MFA através de NT – “Nossas Tropas” do M´Puto, estacionadas em Angola para dar segurança a todos. Tropas que tiveram como primeira missão desarmar os civis ditos “colonos”, gente de segunda e terceira geração que tinham a Mutamba da Luua como sua Capital, que nem conheciam a Lisboa da Metropole.

fuga1.jpg Em câmara lenta conseguíamos fazer ver o ínfimo pormenor nos filmes que corriam em nossas mentes. E, a vida surgia-nos num truque do espaço-tempo imaginário, calculado nas respostas silênciosas às estórias que nos pareciam agora saídas de ficção de um filme tétrico e tráico, Falas somando eventos com mentiras bidimensionais, manobras de diversão tridimensionais; falas que em seu tempo muito mal nos fizeram neste universo observável!

Em Março de 1975, oito meses antes do dia 11 de Novembro, data marcada para a independência, as autoridades coloniais de Lisboa, criam os organismos, o IARN e o QGA – Quadro Geral de Adidos cuja missão era proceder à “integração na vida nacional” no M´Puto, dos retornados que viessem das antigas colónias, através da implementação de um conjunto de medidas, em colaboração com organismos estatais e privados.

fuga8.jpg Assim, oito meses antes do 11 de Novembro de 1975, haveria que juntar pecúlios num caixote para levar a um qualquer sítio longe dali; não se sabia bem ao certo para onde ir e, como ir! Durante dias e durante noites, só se ouvia por toda a Luanda o barulho do martelo batendo o prego, a broca furando taipais do baú-caixão para guardar futuras saudades.

A foto do cachorro, do louro, da vizinha e das outras, lembrando o Mussulo, a Barra do Kwanza, a Ilha ou as Mabubas ou as lagoas do Lifune e Panguila. Foram tempos de se fazer caixotes, uma empreitada, percurso da tumba via kalunga ou pelos ares, bufando desesperos na ponte LuuaLix de quem ninguém poderia evitar pela força dum medo desenhado por balas tracejantes ferindo o escuro da noite.

fuga3.jpg Balas tracejantes que nem fogo de artificio furando cerebelos, fumos e sons, e nuvens de fumo ora pretos, ora brancos, cheiro de morte saindo dos bairros populares ao redor da Luua, dos Musseques Sambizanga, Rangel, Caputo, Catambor, Caznga, Morro da Cal, Bungo, da Corimba da Luua, entre outros…   Num tempo em que ninguém media consequências, a moralidade em Angola e na Cidade de Luanda, Cidade Alta, Palácio do Governador ou do Alto Comissário, era uma batata apodrecida.

Nesse então, no M´Puto, o deputado socialista de Faro, Eurico Correia, alertava assim: Com a vinda dessa gente, “Aumentará o número de escorraçados de Angola, para não dizer retornados, e estes homens vão criar problemas gravíssimos, tensões enormes, no nosso país (M´Puto). São homens sem habitação, são homens sem trabalho, são homens com ódio no coração, homens que vêm com as suas famílias procurar uma nova vida, que já perderam lá”…

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 16:22
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Domingo, 15 de Outubro de 2023
VIAGENS . 92

NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3503 – 15.10.2023

-Às margens do Cubango - “Missão Xirikwata” - Nossas vidas têm muitos kitukus…

- Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

toledo18.jpg Repito: Estudantes barbudos do M´Puto na visão de Ché Guevara, ao seviço do PREC – Proceso de Revolução em Curso, ensinavam a estes, os pioniros  do MPLA (crianças / candengues), o manejo de armas de madeira a fingir AK-47 de Mikhail Kalashnikov, G3 ou Mausers… Estudantes estes, que regressados à Metrópole (M´Puto), teriam passagem administrativa garantida na sua Universidade ou Instituto - o tal de PREC, Revolução parva saída do 25 de Abril de 1974 e, que só terminou a 25 de Novembro de 1975, data posterior ao 11 de Novembro (14 dias depois) – Dia da Indepêndencia de Angola.

Convem aqui fazer uma leve referência  a esta data de 25 de Novembro, que tardiamente e com intervenção de oficiais cientes daquela aberração acabaram com esse grupelho liderada por Otelo Saraiva de Carvalho… No M´Puto, os militares moderados viram-se forçados a iniciaram a ofensiva contra o estado caótico da nação, tomando posição a partir do posto operacional da Amadora, liderado por Ramalho Eanes.

Um pelotão blindado do RC do Porto movimentou-se até à Base Aérea de Cortegaça, onde estavam os 123 oficiais que abandonaram a base de Tancos uma semana antes. Jaime Neves, pouco depois das 19h do dia 25, saiu com uma força do RC da Amadora cercando as instalações da Força Aérea em Monsanto.

mussulo1.jpg Enquanto o M´Puto seguia sua senda na procura da ordem institucional, teremos de recuar agora à Luua, a capital de Angola lembrando no entanto que o politico Mário Soares,  lider do PS do M´Puto, que  tardiamente, se apercebeu do estado caótico do rumo que o país levava, decididindo anuência a esta intervenção militar do 25 de Novembro de 1975  em Portugal e, que por fim, acabou com a bandalheira esquerdoida.      

Em Angola surgiu o Poder Popular! E surgiu o Kaporroto, o kuduro e a vitória é certa. Eles já tinham inventado o monstro Imortal, o Valodia e o Monacaxito… Tudo era planificadamente certíssimo! Melo Antunes, Rosa Coutinho e uns quantos que nesse então ainda não  tinha dado à sola para o álem (mas, que acacabaram por ir sim…)

As makas organizadas eram-no com o objectivo de criar o caos, provocar pancadaria e depois a vitimização com características de sofisticada mentira. Isso mesmo! Meter tudo ao barulho, pressionar psicologicamente  supostamente as autoridades com vinculo à lei e ordem  criando condições de favorecimento ao MPLA por parte dos militares do MFA das NT, e CCPA – Comissão de Coordenação do Programa do MFA e o Alto-Comissário.

guerra19.jpg Às tantas, já se fazia tudo às claras. Até o Idi Amim Dada se dava conta de tudo isto! Em um encontro de Melo Antunes com Henry Kissinger, aquele responsável português e a pedido do Secretário Americano disse que era difícil de lidar com Agostino Neto (era só mesmo para agradar àquele diplomata da USA…). Esse cérebro guia dos demais, chamado de Melo Antunes, foi dizendo a Kissinger que era difícil de classificar politicamente Agostinho Neto como um comunista ortodoxo!

Agostinho Neto, íngrato àquele e tantos outros esquerdoidos do M´Puto tiveram de engolir a falácia que este usou: à coisa dada ao MPLA, (Angola) teve a desfaçatez de dizer que a liberdade, não se recebe, arranca-se! Mas, que grandes mentiroso! Neto, com laivos de poeta (diga-se de baixo coturno…), dava dicas torpes de mau agradecimento aos militares revolucionários do M´Puto, quando em verdade, tudo recebeu destes (traidores…) Mas que pulha! Bem feito, cambada! Alguns não gostaram, diga-se… Assim e com João Miranda do Mukwé, algures no Shitemo, acabamos as falas da tarde com uns goles de gim com água tónica para espantar mosquitos…

guerra12.jpg GLOSSÁRIO: - *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes, durante e depois dos longos anos da crise Angolana, após o Acordo de Paz e Reconciliação Nacional; Banga – estilo, vaidade excessiva; Tuji – excremento, merda; Mwangolés – os donos de angola, os generais que se apossaram da Nação Angola por via de seu poder libertário; Muxoxo - expressão com som de língua com palato em forma de estalo em desdém pelo dito; Mututa – da bosta, de ralé; Maka – confusão, rixa, alvoroço; Missosso – Conto breve de cariz popular em Angola; Kituku - mistério; Kaporoto – Vinho bolunga feito a martelo, de fermentação rápida com pilhas de lanterna; Uuabuama - maravilhoso; Oshakati – Nome de terra ao Norte da Namíbia; Lodge – Hotel de superfície, conjunto de casas para turistas; Rundu – Cidade do Norte da Namíbia, fronteira com Angola no rio Okavango; Grootfontein- Cidade da Namíbia que acolheu os refugiados de Angola, Xirikwata – pássaro que come jindungo…

(Continua...)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 20:32
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Quinta-feira, 12 de Outubro de 2023
VIAGENS . 91

NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3502 – 12.10.2023

-Às margens do Cubango - “Missão Xirikwata” - Nossas vidas têm muitos kitukus…

- Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

KUITO.jpg E afinal, que foi feito do Tenente Fernando Paulo? Pensando nele demo-nos conta que era o fim do império colonial. E isso, nós (Eu, João Miranda e Oliveira do Mucusso) queríamos que acontecesse sim!  Que fiique claro, também ansiávamos pela independência. Mas, e mais mas nagativos, tão seguidos, mostraram de forma paulatina as feras sendo largadas das jaulas com a lei 7 barra 74 do MFA. A Luua eclipsava-se! O resto de Angola esfrangalhava-se ficando uma terra sem lei nem roque…

Tarde piaste! Momentos de muita inocente incerteza; abandonar tudo, entregar a chave do carro ao jardineiro da casa, o cão pastor alemão à Mariana, uma exemplar serviçal ao nosso serviço, na Caála; O mesmo que aconteceu a tantos, maioritariamente brancos na pele. Na Luua, de Kalash ou G3 na mão, a lei e a ordem, a justiça eram coisas transgredidas, inexistentes ou mesmo anedóticas pela pior das negativas…

kuito2.jpg Estávamos na segunda metade do ano sem graça de 1975 - Vai haver maka, porrada mesmo! (assim diziam). E era um virar a arma para o ar e despejar cunhetes átoa para assustar branco; balas oferecidas pelas nossas gloriosas forças - NT do M´Puto a mando do Rosa Coutinho. O medo controlava a população da Luua desorientada, assustada como um kissonde pisoteado com o apoio e fervor revolucionariamente denso do MFA importado do M´Puto - Do povo unido jamais será vencido! Que povo era esse?

 A anarquia fazia-se sentir em todos os lados, nos meios urbanos ou mato com pequenos núcleos de população, Em Malange, No Huambo, no Kuito, em um qualquer lugar com picada de acesso. E, agora vamos fazer o quê para o M´Puto? Talvez Brasil!? Quem sabe – Austrália ou Argentina! “As NT - Nossas Tropas”, já não eram nossas; davam cunhetes, canhões, paióis inteiros e até carros de combate numa perfeita cooperação de entreajuda FAP- FAPLA mandando prólixo os acordos de Alvor, da Penina e Nakuru… Estes, forneciam abertamente ao MPLA, as fotos aéreas em progressão dos supostos “inimigos”- FNLA e UNITA…

kuito4.jpg As NT, davam tudo, até as coordenadas do alvo numa logística total oferecida a custo zero ao MPLA. Com escassos soldados e mal apetrechados do MPLA, o MFA por via das NT, davam a estes impreparados militares, por vezes cheios de liamba no corpo: carros, granadas, morteiros, armas de repetição, mapas e fardamento; tudo, tudo  sem garantir  o que quer que fosse à gente de étnia branca e mestiça de terceira e até quarta geração; gente que não conhecia outra qualquer terra para poder viver…

“As NT - Nossas tropas” organizavam planos de voo com dados de meteorologia e até furtavam casas aos colonos e afins em apoio ao MPLA: Isso! Saque dos haveres de colonos que saíam desordenadamente de suas casas, abandonando tudo. Há testemunhos vivenciados na Avenida Brasil, na Vila Alice, na Avenida dos Combatentes, Zona do Kinaxixe, Bairro do Café e, um pouco por toda a  Luanda de então. Um perfeito saque,  em  plena luz do dia Uma frieza ímpar ultrajando a história de Portugal Ultramarino.  

kuito5.jpg O MPLA da Luua, por sugestão do Vermelhão Almirante Coutinho, inventava a maka! E, eram makas sobre makas, paralisações descabidas. Inventaram os pioneiros que eram trabalhados em marcha no esquerdo e direita por jovens estudantes do M´Puto! Estudantes barbudos na visão de Ché Guevara, ensinando a estes o manejo de armas de madeira a fingir AK-47 de Mikhail Kalashnikov, G3 ou Mausers…

Muitos dos “libertadores” sonhavam com a casa, o carro, os privilégios e as posições dos colonos. Conquistaram-nas e tornaram-se piores do que estes. Desculpar-se-ão com a guerra do TUNDAMUNJILA formando esquemas para transgredir os limites da legalidade. Uns quantos, continuam ainda a roubar o país quarenta e oito anos depois, enquanto o povo olhando as velhas fotos amarelecidas, passam-nas em sua máquina de pensar. Já desbotadas, tombam com elas, a vontade de querer, definham-se desmilinguidos em camadas de pó de sonho…

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 20:53
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Terça-feira, 10 de Outubro de 2023
VIAGENS . 90

NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3501 - 10.10.2023

-Às margens do Cubango - “Missão Xirikwata”

- Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

guerri6.jpg Recordo que nos dias que ali passei no Mukwé e, num dos almoços feito pelo cozinheiro Kafundanga, tendo Tata kadinguila seu auxiliar, também engraxador das botas do patrão João, eu, armado em bravo macho quis provar do jindungo onoto chamado de xirikwata da casa e, tendo a Dona Elisabete de forma bem convincente que este dito, edecéteras e tal, que o era muito bravo, que tivesse cuidado com aquele “cahombo” de fogo, estando eu habituado àquele viagra, obviamente não o temia.

Logo a seguir, nossas conversas adiantavam noticias velhas e já carcomidas: Em Angola os vindouros mwangolés,“ conquistaram a independência de borla”, tornando-se piores do que os colonos… Dizem que a conquistaram mas, foi só um chavão  para encobrir todas as benesses recebidas  dos capitães e generais  de aviário do M´Puto… 

ARAUJO256.jpg Em Kampala, o presidente da OUA, Idi Amim Dada, insistia para que a data da independência fosse mantida sendo Portugal a responsabilizar os nacionalistas por um não acordo - coisa inaudita, de rir!. O Secretário-geral da UNITA presente à conferência acusou as FAP/MFA de não se oporem à entrada de armamento e mercenários a ajudarem o MPLA …

Acontecia sim, em Luanda,  no Lobito, Sá da Bandeira e Pereira D´Eça. Nesta Pereira D´Eça (a actual Onjiva) o comandante português entregou o aquartelamento a elementos do MPLA tendo-os vestido com camuflados do exército português, uma clara desobediência e afronta para esta região afecta à UNITA - Um povo Ovambo ou Ovibundo.

Este procedimento foi de uma nítida e grosseira degradação moral para as autoridades portuguesas ali sediadas e numa declarada provocação ao Movimento da UNITA. Manuel Resende Ferreira em "Segredos da Descolonização de Angola" disse a proposito: - Ainda havia esperança e soldados que não nos abandonavam (lembrando a população maioritariamente branca e assimilados).

passevite1.jpg Referia-se ao Tenente Fernando Paulo e alguns dos seus homens que resolveram desobedecer ao comando para protegerem um grupo de refugiados no Chitado. Para o efeito, criaram ali uma zona de segurança à revelia de seus comandantes do MFA.

O comportamento da UNITA teve forçosamente de mudar de táctica e, seu posterior comportamento no Lubango e áreas do Sul que, levaram a desconsiderar tanto o Movimento como o seu Presidente Jonas Savimbi que por ali conviveu em tempos de estudante. São aqueles os heróis esquecidoshomens às ordens do Tenente Fernando Paulo, soldados de Portugal que abandonam o Exército Comunista Português para protegerem cidadãos em apertos e, que perdento tudo, corriam também o risco  de perdar a vida.

spi3.jpgLutar assim, em rebelião, contra a anarquia das tropas, sempre referidas como NT – Nosas tropas, facto vivenciado por todo o território, desde o Cunene a Sul até o Miconge, o ponto de fronteira mais a Norte de Cabinda. Eu e Miranda ressaltamos bem esta postura  como fenómono postumo mas, quem éramos nós para vaticinar o passado defuntado e politicar a enviesada saída do M´Puto pelos homens que antes tinham sido heróis. Heróis  bem diferentes, como esse do Spínola da banga vaidosa, desmedidamente parva e até caricata, usando luva, monóculo tipo Eça de Queirós, botas de montar lustradas e um pingalim – fetiches de túji que também por vaidade o levou a escrever isso de “Portugal e o Futuro” – Que futuro?

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:05
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Domingo, 8 de Outubro de 2023
VIAGENS . 89

NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3500 – 08.10.2023

-Às margens do Cubango - “Missão Xirikwata”

- Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

balba2.jpg Aqui no Mukwé, a casa do senhor Joâo Miranda e da Dona Elisabete, fica a uns escassos 50 metros da margem do rio Okavango; podíamos até gritar às pessoas do outro lado que era Angola; gente pastoreando e de vez em quando lá avistávamos uma canoa que passava na labuta da pesca ou simplesmente deslocando-se,  não sei se à revelia dos guarda-rios ou se por anuência  destes, por o serem também familiares, ora subindo ora descendo o agora manso e alguns rápidos suaves do rio.

Dona Elisabete, logo nas primeiras horas do dia inesperava-nos com um cheiroso café da qual nunca não mais quis esquecer do seu sabor. A casa situada na parte superior da borda rio era totalmente em madeira tendo os quartos de habitação situados no piso superior; a madeira estalava de noite e qualquer movimento parecia ranger, toda ela.

A azáfama continuava ao lusco-fusco com as ordens meio esganiçadas para seu cozinheiro Kafundanga ouvi. O ranger da madeira, soalho da casa, ao mais leve movimento e o ressonar de toda a tribo mais os da casa, era uma sinfonia de sossegada intranquilidade. No ar havia cheiros de kibaba, o mogno de Angola misturado com takula e undianuno…

pioneiros.jpg Aquilo é que era mato, os cheiros e ruídos não tinham barreiras nem fronteiras e sentir o cheiro de Angola ali tão perto, já por si era uma inebriante adrenalina mista do roceiro e sertanejo T´Chingange - o próprio, pesquisador e explorador fingindo não ser espia…

Estava enganado com aquele jindungo da xirikuata. Com ele, transpirei, chorei e até parece que o meu cérebro borbulhou no cocuruto da careca - malvado jindungo do churrasco. Que vergonha!  O riso de todos contemporizava com fausto e taciturnas gargalhadas  nas sofridas mordidas mas, também deu azo a que não mais me esquecesse de tamanho veneno empolador de lábios e cérebro deixando raspas no cerebelo.

Do outro lado do rio - Angola, a guerra estava brava e coisa já contada, que as indicações do presidente Sam Nujoma neta banda da Ovobolândia, eram a de não deixar passar ninguém para o lado de cá, Namíbia. Eu ouvi isso porque estava lá nessa assembleia reunião com militares e comerciantes. “Tiro neles”, assim o disse às margens do Okavango e das redondezas, Nyangana, Nyondo, Mukwé, Andara Divundo e Machari. Aviso quase dirigido a mim que dissimulei de matumbo, em  nem

guerra19.jpg Como disse, aqui no Mukwé acontecia às tardes na companhia de Gin com água tónica - nossa conversa a três, Miranda, T´Chingange e  Oliveira do Mucusso, a conversa começava aos soluços, de novo a animar retirando de cada qual as verdades. Por vezes em muxoxos, os candengues pioneiros do MPLA, transmitindo falas de seus pais, referiam com audacidade de Hojy Yá Henda (um suposto herói). Era eu mesmo a falar, recordando coisas ouvidas da Luua antes do 11 de Novembro de 1975…

Naquele jeito de revolucionários importados da tuji cazukuteira, fomentada e fermentada nos musseques pelos PREC´S (Processo de Revolução em Curso), o lema era ficar com a mulher do colono, com sua casa, com seu carro e edecéteras – tudo, um desvario alimentado pela midia do M´Puto…

Isso mesmo! - Desvario social da Metrópole, noticias enviesadas na mentira incentivando até o ódio pelos patrícios, um virar as costas à família, retirando-os das molduras da sala, colocando em seu lugar a Catarina Eufémia que, nem nunca viram a não ser dos relatos do PREC, pelas televisões estatais e afins do M´Puto e, pelo MFA com seus generais da mututa e magalas de nova geração com trancinhas na mioleira…

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 16:30
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Sábado, 7 de Outubro de 2023
VIAGENS . 88

NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3499 – 07.10.2023

-Às margens do Cubango - “Missão Xirikwata”

- Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

okavango5.jpegEstudioso ao jeito de ermitão, mergulho nas barrocas mais fundas do saber para interpretar sapiência, ensaiando-me no mundo em que habito. Eu, que nem quero lembrar que algures morri em Kaluquembe na Curva da Morte e, que por isso só choro, uma forma honrosa de pintar a tela de pintura do passado… Preocupando-me sim com a RAIZ que alimenta a árvore – Zeca, meu mano, diz que muito cavo para contar quantas são,  as raízes, como se alimentam, se são ou não envenenadas por ervas daninhas que, sempre  crescem do nada, fazendo  secar veios de vida…

Estou a escrever bué de falas contendo o mel de ukamba, gelado de morango, cheiros aromáticos com mirra e alfazema e da madeira takula que cheira a chocolate com capim santo, também chamado de principe ou caxinde. Das terras deste maravilhoso mato, das vendas tascas, shop de João Miranda do Divundo e Shitemo e outras mais, aonde faziam pão amassado na noite, ao ritmo dos cantares da coruja e de muitas  bichezas desconhecidas…

ngoi2.jpg Vendas tabernas, mukifos ou shop´s com o chão muito cheio de farinha de fuba, varrida com sarravo de mateba e um chinguiço fazendo de cabo semi torto amarrado mesmo na própria casca mole;  num paraíso verde  com marulas e acácias de espinhos e vagens parecendo a fava rica que todos no M´puto conhecem por alfarroba… Como diria Zé Mamoero da Maianga sentir-me fascinado por pessoas extraordináris da qual jamais esquecerei por seu carinho boé, dado pela concha feita com suas mãos juntas, que recebi e empanturrei no meu muxima de contente - aiué.

Foi assim mesmo  que reiniciamos aqueles tempos - TEMPOS PARA NÃO ESQUECER – Assim aconteceu: Sentados no alpendre da casa do Mukwé, totalmente feita em madeira, kibaba ou zazange das matas do Cubango, e ainda falando do século XX, olhando o mesmo rio Cubango (Okavango); rangíamos falas assim  como o soalho feito com reforço de undianuno sentados em  cadeiras de takula…

paulo7.jpg Recordar agora como se fosse anteontem, que o soba de Sambia de nome Palata de Massaca foi dado por consentimento o nome de D. António Maria de Fontes Pereira de Mello, que, ao soba do Aimalua do Cuangar foi dado o nome de D. Luís Bondoso Pinto Ribeiro e Montes Claros e, ao N´Hangau do Dirico que ficou a chamar-se D. Afonso Enriques de Aljobarrota Atoleiros e Valverde. Parece mentira mas, é verdade! Acho até que andaram a gozar com o futuro – Nós…

Ao sabor de um café colhido, secado, torrado e moído no local, T´Chinange, João Miranda e Oliveira do Mucusso, conversávamos sobre a terra da qual fomos obrigados a abandonar. Os três, eramos da mesma opinião: Muitos dos “libertadores de 75” os mwangolés de hoje, sonhavam com a casa, o lugar de director, o carro, os privilégios e as posições dos colonos, até alguns que so vendiam peixe frito ou carne seca lá no mato, talqualmete!

t´chiku3.jpg Podem até dizer outras coisas mas, o tempo assim como o azeite em água, trás a verdade ao de cima. E aqui, longe no tempo, lembrávamos sim, o passado para que no futuro não só chovessem inverdades, manobras e coisas ruins que sempre  teimam subrair as versões fidedignas. A conversa começava de novo a animar retirando de cada qual as verdades  situadas nas ranhuras do cerebelo, tal e qual como o poejo cresce entres as fissuras dum chão cimentado…

Assim, ouço e falo cativo, vestido com os meus panos, agarrado aos búzios, amuletos, à undenge ami mu moamba, desse antigo lugar – Mayanga da Luua ai-iu-é, no uuabuama chão colonial, hoje independente, chão Angolano. kuatiça o Ngoma! Assim os ouço ao longe, ao perto, no apeto, consolando muxima ami, que velozmente envelhece, que ainda dá batidas ora, leves, ora fortes do atu, no seu Kimbundu. Malembelembe ainda tece esteiras, missangas, planta flores coloridas no quintal iguais ao jardim da Dona Elisabete no lugar de Shitemo  com  capim caxinde debaixo de tamarindo…

moc4.jpg GLOSSÁRIO: Kituku - mistério; Kúkia – sol nascente; Ndandu – parente; N´dongu - canoa; Ngana NZambi - Senhor, Deus; Malembelembe - muito devagar, com cautela; Undenge ami um moamba - minha infância de moamba; Uuabuama – maravilhoso; Kuatiça o ngoma! – Toquem os tambores……

 (Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 18:29
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Sexta-feira, 6 de Outubro de 2023
VIAGENS . 87
NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3497 – 08.10.2023
-Às margens do Cubango - “Missão Xirikwata”
- Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

sacag2.jpg Em Angola, contornando medrosas angústias, febres palustres, jacarés e onças, entre várias molestias de paludismo cerebral, as guerras exigiram aos intervenientes, guerrilheiros, voluntários ou governamentais magalas da Metrópole, muito sacrifício. Assim o sejam no rumo da libertação ou seguindo a ideologia, de uma sentida crença ou por obrigação forçada por via de obrigatoriedade.

Assim o digo: Nações já formatadas em pleno, que exigiram dos homens um esforço extra na consolidação dum país ou de uma politica por imposição. Práticas de guerra levadas a cabo por combatentes que não o podem, ser esquecido pelos governantes de hoje, nos países dos PALOP´s, passados que são cinquenta anos da era colonial bem como das guerras posteriores de tundamunjila em Angola (guerra do vai embora branco…), que resultou na saída de quase um milhão de cidadãos. Também da guerra civil entre Movimentos em Angola, nomeadamente do MPLA e da UNITA.
 
Em reflexão, cheirando a brisa do rio Cubango, aqui em Mukwé, na companhia de João MirandaOliveira do Mucusso, e de vez em quando, Teles da Chibia, esporadicamente, reactivamos o quanto há hoje recalcados de tanta injustiça; todos estes ou esses que tiveram de perder o medo naquelas florestas, chanas, e anháras, numa Angola tão rica e tão ingrata a quem por ela ganhou uma “perna de pau”, “olho de vidro” ou “viajou para junto de N´Zambi”

pedras00.jpg Seguir directamente para o céu, directamente do produtor para o inferno feito fogo ou uma nuvem de algodão envoltos nessa kukia chamada de pôr-do-sol - fim de vida. Defenderam e mataram gente, construindo novas coisas, impondo regras sociais para conservar tal espaço. Fiotes, Kiokos, Kimbundos, Umbundos. Hereros, Ganguelas, Muilas, Mucubais, Bosquimanos, Magalas Tugas ou expedicionários do M´Puto.

Militares ou guerrilheiros que mudaram de alguma maneira, o modo de estar e de pensar, na sequência desses outros mais antigos magalas chamados de expedicionários da Metrópole e, que, aos milhares, também consolidaram um território dos Mwene-Puto e Mwangolés, morrendo por isso…

Quantas mortes para definir fronteiras de hoje. Angola ganhou condição de país quando na embala de Belmonte, Silva Porto, com 72 anos de idade se imolou envolvido à bandeira Portuguêsa. Aquilo, foi muito antes do arrastar da bandeira do M´Puto por muitos lados e pisoteada por gente que virou governante de alto coturno…

luua25.jpgGente que veio a presidir ao país e que também seguiu essa senda da vida defuntada na kukia da vida e, que também não ficou para semente. Todos, ou quase, percebemos que no livre jogo das forças, governos e governistas com afins circunscritos, hoje, interessa sim, adquirir a qualquer custo um poleiro digno governamentalista. O mundo está muito amalucado! Enquanto isso os resistentes daqueles tempos, lambem as feridas de catanas ou G-três da história.

Com as campanhas de submissão do sobado do Bié e, passados 85 anos, a 11 de Novembro de 1975, data em que Angola se concretizou num país cujas fronteiras foram delineadas por estes e aqueles combatentes que, paulatinamente o foram propositadamente, desprezados no tempo pelos seus países… E, tudo o foi desde o Mapa-Rosa africano que começou a ser desenhado a 11 de Julho de 1890. Data em que aquele chefe "O trovão", veio a sofrer represálias a 9 de Dezembro desse mesmo ano de 1890 por parte de Artur de Paiva, Paiva Couceiro e Teixeira da Silva com a ajuda do povo angolano Ovibundo, governado então pelo rei Ekuikui Segundo....
Ilustração de Costa Araújo
(Continua…)
O Soba T´Chingange


PUBLICADO POR kimbolagoa às 10:42
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Domingo, 1 de Outubro de 2023
VIAGENS . 86

NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3496 – 01.10.2023

-Às margens do Cubango - “Missão Xirikwata”

- Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

papoila2.jpg Hoje, aqui no Mukwé,  vou só relembrar coisas já ultrapassadas para me distrair na conversa: Naqueles muitos dias de dipanda aproveitava-se o espevitar da inteligência limpa de quem só tinha coração de ouvir. Nos tempos mangonhosos da idade maisvelha, sem precisar condicionantes de pôr mais minha conversa no ar, cada qual ouvia o que cada um tungava na sua maneira. Se der um tiro no passado, posso bem ser apanhado com uma bazuca do futuro e, deixando a sequência das coisas soterradas em uma cova sujeita à criatividade dos contadores muitas vezes fraudulentos. Também sujeito à critica de gente com os neurónios falaciosos num empenhamento de visão de Pilatos, senão coisa pior, assim do tipo Estalinista ou Leninista…

Cadavez, quando um ria, outro ria também só à toa. Agora, ali, Teles Ferrujado simpatizante do glorioso “Eme”, meu mais-velho amigo da Chibia, Capunda-Cavilongo das terras do fim-do-mundo. Contava seus dias de caça; tinha muito de esperto caçador e com muito mais de velhos anos, ainda estava vivo! Mentia também em suas calmas, esfregando sua barba rala e crespa, companheira de muitos segredos, de mentira, mesmo embrulhada por vezes em kafufutila de bombô com açúcar. E, eu até gostava de ouvir sem franzir o sobrolho.  Falava dos muxitos, das pacaças, desenhando aquela sua luz de verdecida vaidade de pontaria no centro do querer. Eu e mano Fernando Teles Ferrujado amigos do tempo do tundamunjila sabíamos que os espíritos antigos, depois de tanta guerra necessitavam de descansar .

Nós mesmo queríamos esquecer essa encruzilhada de muita maka e muito sangue. É que as lições da vida têm de ser sempre passadas a limpo, só nossa morte é quem pode ficar em rascunho - li isto nos guerrilheiros do Luandino. Teles me olhou muito mais macio, falar suave de caça de bichos não é o mesmo que a guerra do kwata-kwata e mata-mata de gente; Teles era bom e se via nos olhos dele, medo de acordar outros medos.

homologado.jpg Longe das anharas da Chibia, do Calai e Munhango de Angola, sentíamos então o cheiro do grande rio que descia ora barrento das chuvas, ora escuro na junção das chuvas com sombras. Só sentíamos mesmo o cheiro dos longínquos Québe, Cuito e Okavango. E, eu era de novo o Mazombo guerrilheiro gweta da Unita a afogar-me naquele cheiro de sol e mangue com o vento do mato e do zungal aonde cassumbulavamos com garimpeiros.  Assim contava coisas legitimamente enferrujadas, como que aproveitando pregos retorcidos de antigas tábuas de caixão ou porta duma administração de posto colonial.

Um, não era igual ao outro, nem um era como o outro ou contra o contrário do outro porque tudo o que se passava era só assim, mais nada, era como era, mais nada. De coração grande e espinhoso, esta cumplicidade, fugidos do mundo, nenhuma mata ia poder nunca lavar catinga de geração recordada nos encontros com o Fernando Teles da Chibia que sabia fazer biltong (carne seca com ou sem jindungo), como ninguém. Carne seca  para vender nos seus chimbecos, mukifos de taipa cobertos a zinco, espalhados por ali, sítios de gente dispersa…

edu42.jpg Teles o caçador, um conhecido dibengo, zebra, voltou à sua terra da Chibia na Quipungo, levando seus candengues Hugo e Carmita, faz tempo, nunca mais que soube da sua vida mesmo buscando no FB nada de nada! José Manuel Fernandes Teles, seu verdadeiro nome, bazou mesmo!  Num dia de mãos cheias nas falas de tempos lembrados ao sabor de uma moamba bem à maneira kaluanda, com os respectivos quiabos, gimboa, saca-saca da folha de mandioca e funge, escafedeu-se ué…

Tudo feito pelo ajudante de cozinheiro Tata kadinguila do Mukwé,  bem  à maneira de como os trabalhadores da construção faziam no meu antigo bairro da Maianga e Malhoas da Luua. Lembrei que em kandengue assistia curioso ao fazer daquela cola de sapateiro como minha mãe Arminda dizia. Agora, íamos fazer igual para relembrar. E, na hora de almoço sentados, em bancos de pau ferro  undianuno, e umas quantas tábuas grossas e soltas de kibaba a fazer de mesa, improvisávamos no quintal relembrando bem aquela forma de vidas biscateadas.

ama3.jpg Com os calos de nossas mãos fazíamos bolinhas de funge acinzentado e molhando na lata de dendem besuntávamos, levando à boca com prazer deglutindo, Aiué. Estávamos mesmo recordando nossas juventudes.  Amanhã vai mesmo ser peixe bagre ou tigre seco para matar saudades… Dona Elisabete  anuiu, quersedizer, disse que sim. Aqui, entre amigos e no lugar do Mukwé os dias iam passando falando coisas, umas àtoa e outras bem afincadas em nossa lembraduras (tempo atado nos fundilhos da memória)! Estavam reunidas as condições para falarmos da recente guerra de TUNDAMUNJILA, cada qual falando suas furúnculosas recordações …

Glossário: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes, durante os longos anos da crise angolana, e após o Acordo de Paz e Reconciliação Nacional, Tundamunjila: mandado embora, sair à força em contra-vontade; bazar: Cassumbular: - ser matreiro e ligeiro em tirar algo de outrem; kazucutar: viver de expedientes, viver à toa; Zungal: - capinzal, erva áspera de charco ou pântano.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 16:42
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Sábado, 30 de Setembro de 2023
VIAGENS . 85

NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3495 – 30.09.2023

 – Em Mukwé, Andara e Shitemo às margem do Cubango - “Missão Xirikwata”

- Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, entre os anos de 1999 a 2018 

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

araujo19.jpg Pedro Rosa Mendes, repórter galardoado do "Público", partiu em Junho de 1997, com uma bolsa de criação literária do Centro Nacional de Cultura, mochila às costas, máquina fotográfica e gravador, atravessando o continente Africano de costa a costa, à semelhança de Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens, por picadas, rios e caminhos de areia, lugares por onde andei por várias vezes e em distintas datas.

Mendes, regressaria três meses e meio depois desta viagem, carregado de histórias bastantes diferentes das que aqueles exploradores certamente encontraram. Histórias de ódio e de horror, de crueldade, num continente onde nesse ntão decorria uma guerra sem fim à vista, aniquilando muita gente. "Baía dos Tigres" é um relato dessas histórias, no suplemento Leituras, do "Público" de então.

araujo 25.jpg Encontrou pela certa os mil estilhaços da história, autenticidade  que por certo lhe exigiu tudo, tal como eu vivenciei nos países limitrofes  como: olhos, ouvido, pele, coração, sangue, suor, lágrimas, coisas simples, primeiras e últimas, como nascer a caminho da incerteza e até mesmo a morte, decrevendo ambos a seu modo, o que somos apenas com palavras…

Viagens de T´Chingange de agora  e "Baía dos Tigres" de Rosa Mendes, daqueles tempos, fizeram fricção, ficção, romance, crónica, ou poesia, em documentos densos ou infernais. Como acontece aos homens, o ser-se assim, vem do muito fundo no respirar do cacimbo - uma extraordinária viagem ao fim da vida dos homens

Também a viagem ao inacreditável mundo habitado por homens com  pernas de pau, com braços de turquês em ferro, sem dentes, sem orelhas, sem  pele, ou mesmo sem rosto … Viagens sem horário, por vezes sem os comuns "vouchers" com pequeno almoço incluído e sem a bebida fresca tomada na esplanada à hora que se quer… Foi útil ter uma visão diferente do que se estava a passar no terreno, no entanto, pareceu-me tendencioso em seu livro no julgamento de Miranda comerciante, retratando-o como um brutamontes. Comparou-o a um Bóher “Mamburra” mal formado o que me pareceu ser um exagero de todo.

AUJO240.jpg Tratamento tal e, só porque tinha pertencido à companhia Sul-Africana “Os Búfalos” o que, não era motivo étnico para tal, parecendo coisa encomendada com direito a carimbo de gazosa do falso governo de N´gola sob tutela do MPLA. Creio que, tudo tinha de ser ser descrito para preservar a onda esquerdoida que grassava no M´Puto e, subsidiada para tal, no quadro de interesses com desvios ideológicos na defesa das convulsões partidárias da corrida ao poder. Isto, aconteceu, acontece e irá acontecer num trato de Lua/lix (Luanda/Lisboa)…

Ainda no Shitemo e, no lugar de Andara um dia à tarde, observei a chegada de dois camiões TIR de grandes dimensões usados para transporte internacional de cargas repletos de sacos de farinha de mandioca – fuba, tendo sido depositados num amplo armazém bem na margem do rio, creio que num lugar chamado de Nyondo. No outro dia, um pouco antes do meio-dia fiz companhia a um sobrinho de Dona Elisabete que normalmente distribuia pão na região e, quando paramos no mesmo armazém, reparei que se tinham evaporado todos os mantimentos ali depostos no dia anterior.

áfrica19.jpg Nada perguntei mas, logicamente deduzi que naquela noite tudo foi passado para a outra margem para o Calai, Jamba ou Mucusso em silenciosas canoas. Era por aqui que se passava o grosso dos mantimentos não obstante haver ao longo do rio Okavango postos militares de observação e guarda; O termo "só para Inglês ver" ajustava-se aqui, na perfeição. E, felizmente, o povo Ovambo sabia preservar a sua existência partilhando os dias menos bons. De cartão da Unita camuflado no forro dos calções, regozijei-me por observar esta vivência no silêncio das terras do Fim-do-Mundo.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:09
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Quarta-feira, 27 de Setembro de 2023
VIAGENS . 84

NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3494 – 27.09.2023

 – Em Mukwé, Andara e Shitemo às margem do Cubango - “Missão Xirikwata”

- Escritos boligrafados da minha mochilaAleatoriamente após 1975 e, entre os anos de 1999 a 2018 

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

kasane12.jpg Nunca fiquei a saber se os jornais locais deram noticia com foto do aperto de mão entre mim T´Chingange e San Nujoma, o presidente do Movimento de Libertação da Namibia que se tornou o Presidente do novo país, Namíbia. O encontro do Shitemo, mesmo à magem do rio Okavango ou Cubango, em principio, era um encontro entre o líder e militares da Ovobolândia, os guardadores responsáveis da segurança nesta natural fronteira.

Esta reunião neste rio fronteira, aconteceu também com os mais destacados comeciantes da região de entre o Rundu e Divundu dos quais Miranda, o personagem que sempre destaco em minhas falas empregnadas de cacimbada catinga, numa forma ou jeito nada erudita ou de destaque literário. Ao certo, nunca soube se a Swapo ou o Departamento de Segurança Interna da Namíbia  estava vigiando os meus passos, um turista bazungo.

Sim! Um turista bazungo com passaporte de muzungo (branco) português disfarçado com colete de zuarte, um quico besuntado de raspas de biltong e restos, destroços de pão duro rask, muitos bolsos, um canivete macgyver e um crachá da UNITA um galo em cerâmica dado a mim, por mérito creio, pelo meu herói de nome Alcides Sakala e, assim muito bem seguro  com boas linhas,  cosido no forro deste traje de caçador de elefantes.

paracuca17.jpgPara o que desse, viesse ou conviesse assim levava escondido meu distintivo de convicta afeição e convicção mas, o certo é que não tive qualquer contratempo em minhas andanças, nas  descritas verdade turísticas de bazungu, um verdadeiro matumbo a fingir de autoguerrilheiro de boligrafo, em pleno segredo numa odisseia passifica que só agora desvendo.  Assim, compartilhando com a natureza, bichos e afins, só eu e José Pedro Cachiungo um dirigente do galo negro em funções em Lisboa, sabia chamar-se de “Xirikwata – o pássaro comedor de jndungo”…

Não obstante a postura dos governantes de Windohek mostrarem dureza no trato, as autoridades regionais faziam vista grossa às movimentações que o comércio local fazia com a UNITA, com a Angola do outro lado dos rios Okavango, e Quando. Em realidade de um e outro lado eram gente com o mesmo passado, falando os mesmos dialectos, uma região conhecida por Ovobolândia com família distribuída por ambos os lados, do Calai ou Mucusso.

okakau1.jpg Constatei que o comércio floria em prosperidade, talvez de forma corrompida mas, tudo se vendia. No Divundo, tivemos necessidade de comprar mantimentos no shop do Miranda ao cuidado de sua filha Ana Maria e, de todos os pacotes de bolacha que compramos só um estava no prazo de validade. Foco isto porque era uma prática comum, região não vigiada pelas autoridades que nada queriam ver  por vista grossa em troco de uma bateria para o carro ou de um saco de  mandioca.

Esta quase inconfidência, pode até considerar-se uma falta de cortesia de minha parte sendo sempre tão bem acolhido pela família Miranda e, sempre a custo zero  mas, que me perdoem por esta lisura em minha franqueza – foi uma época, um tempo. Em terras do fim do Mundo vale tudo; com a minha missão de xirikwata africana, nada de anormal sucedeu em minhas transacções mas ouvimos sim, relatos de coisas mal paridas e defuntadas em agruras de por dá-cá-aquela-palha…

ÁFRICA13.jpgO encontro com Pedro Rosa Mendes, autor do romance ficcionado de “Baia dos Tigres” desaconteceu aqui em Divundo em Junho de 1997, no shop da Ana Maria de Andara.  Fiquei a saber antecipadamente as agruras de Pedro Rosa Mendes descritas em seu livro, lidas mais tarde e da periclitância da guerra que se julgava não ter fim; não fiz muitas ondas porque o meu percurso de passeio não tinha o mesmo objectivo que o dele e, também não sabia o que ele viria a descrever em suas crónicas faladas via rádio todos os dias com o M´Puto. O meu anonimato prevalecia a tudo naquele então – Não podia mesmo fazer ondas nem cavalgar surf em seco…

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 20:30
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Segunda-feira, 25 de Setembro de 2023
VIAGENS . 83
NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3493 – 25.09.2023
– Em Mukwé, Andara e Shitemo nas margens do Cubango
- Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, entre os anos de 1999 a 2018
Por tonito3.jpg T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

okavango3.jpeg O ser humano sendo contraditório, sem que eu mesmo possa fugir à regra gosta de pequenos deuses, afeições apenas para acalmar a consciência como “chaveiros”, “amuletos, “figas”, “estrelas” entre outros. Por repetição faz isso de forma automática e por isso acaba acreditando em sua intuição. Faz anos que ando com um dente de facochero preso ao fio colgado no meu torcicolo para fazer fugir as bruxas e cinquenta dólares feitos bissapas todos amarfanhados no forro de um casaco para subsistir no mundo, estando à rasca. Sim, lembrei! Apontei algures seu nome mas, com o ronco da pacaça fazendo frente ao leão, meu coração pulou de medo juntamente com o papel de embrulho gorduroso de envolver manteiga no lugar do Mukwé

Assim foi! Aquele papel ficou no mato vadiando-se com o vento portador das primeiras chuvas, águas que dão cheiro à terra fantasiando nossas lembranças. Cheiro de chuva, um cheiro difícil de descrever – só mesmo cheiro de chuvaE, foi João Miranda que nos acolheu às margens do Okavango; uma casa totalmente construída em madeira no lugar de Andara em Mukwé; um lugar com ocultos mistérios do canto Xirikwata - um pássaro comedor de jindungo. Não muito longe dali, no mapa pode ler-se no lugar do Omega Um, Military Ruins – lugar aonde chiam segredos de ferrugem abandonada.

okavango5.jpeg Coisas mal oleadas com negócios de madeiras, diamantes, chifres de elefantes e muita aventura em frente dos olhares de hipopótamos. É Miranda que me chama à atenção das muitas infra-estruturas militares que ali existiam e que tiveram grande intervenção no desenrolar da guerra em Angola. Assim falávamos, cheirando o churrasco do brai em fim de tarde, enquanto se bebia gim com água tónica para nos esquindivar dos mosquitos.

Seguíamos viagens só em rumos de falas saindo dessa imensidão de Angola, de lonjuras percorridas em velhos Dodges, GMC, Willis, Land-Rover, Fords ou Chevroletesterra de onde se parte sem querer partir e já partindo, arrependido depois por não ter ficado.O que ficou preso ao meu cerebelo gustativo foi aquele café cheiroso servido pela manhã a escassos metros da corrente do rio Cunene no meio de uma ténue névoa de cacimbo.
Nunca mais esqueci esses momentos de alegria de conversa solta, com estórias, anedotas e bizarrices passados com Dona Elizabete (falecida recentemente) que falava com o gentio com estalidos bem como João Miranda, seu marido e patrão do kimbo. Juro que tenho saudades de seu tão lindo riso, da sua empatia e do trato tão jovialmente belo. Para além de ter visto coisas do meu agrado, guardei em mim as falas que ouvi de patrícios e carcamanos embebidas em um tempo que se pretendeu esquecer e, que se colaram a cuspo no subconsciente para não ferir susceptibilidades.

dia001.jpg Relembrando Luandino, digo taqualmente como ele afirmou: - “as lições da vida têm de ser sempre passadas a limpo, só nossa morte é quem pode ficar em rascunho”. João Miranda, um chefe do mato, o senhor dos anéis num lugar esquecido mas muito especial pelo envolvente mistério de sua fuga de Angola. veio a fazer parte do batalhão Búfalo chefiando os bushmens na investida Sul-africana a Angola, naquele distante ano de 1975.

Sabendo de antemão que neste mundo só os anjos não têm costas, João Miranda contou com detalhes esses dias de guerra! Isto é mato, amigo! Dizia após longas falas como dando um finalmente àquele passado, falando virgulas desse conturbado tempo. Este lugar de fim-do-mundo deve por certo haver um Deus, que nos julga em cada dia e diferentemente, de acordo com o que viermos a ser em cada dia. João Miranda era agora um bem-sucedido empresário, amigo de San Nujoma.

okavango02.jpeg Naquelas reuniões de falas de beira rio, as verdades toldavam a mentiras e, a mentira mais descarada que ali ouvi foi a de Oliveira, um amigo que por ali conheci e que ia e vinha até o Mucusso, aonde estava umbigado, com uma dama com o conhecimento da UNITA. Pois não é que num belo dia pensou ter morto uma zebra e, estando a abrir a mesma, depois de separarem seu couro com um rasgão ao longo da barriga, qual é o espanto de num entretanto de distracção ela, a zebra, levantar-se e fugir com as peles a dar a dar batendo-as, como se asas ou orelhas de elefante, o fossem. Esta peta, ouvida com atenção de verídica ficou-me entalada na mente até hoje… E, ainda hoje ao lembrá-la, me rio…

(Continua…)
O Soba T´Chingange


PUBLICADO POR kimbolagoa às 15:07
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Sábado, 23 de Setembro de 2023
VIAGENS . 82
NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3492 – 23.09.2023
– Em Catima Mulila no Zambezi River Lodge
- Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, entre os anos de 1999 a 2018
Por:DIA73.jpgT´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

IMG_20170902_102754.jpg Ás margens do rio Zambeze no Zambezi River Lodge e Mudumo National Park Mudumo National Park revejo-me nos muitos dias insólitos, encontrando factos mágicos na revisão de amigos que me fazem medir o tempo com quartilhos e rasas como se feijões o fossem! Amigos, que nem todos o são na forma mais estrelada ou requintda por empatia, que na maior parte das vezes são traduzidos nos cheiros de África catingados só na suficiente rasura para parecer que não o sendo exóticos de todo, assim se tornam gente esquisita…

Amigos, que sempre se aparentam genuínos sem o serem, descomparados ao perfume e o cheiro das primeiras chuvas que salpicam na terra da savana no kalahári. Sincero, assim temos de o ser por vezes, mesmo que o seja aqui, a sul de Kongola bem no centro de Mudumo National Park aonde também me camuflei de guerrilheiro apócrifo circunscrito por uma mata de mopanes e amarulas…

kalu11.jpeg Lembrar-me aqui em terras agrestes de áfrica, que em Portugal após 75, o meu telefone estava grampeado pela Secreta Tuga - Foi o tempo de em Portugal se dar luta sem justificação plausível à UNITA durante aquela guerra na sequência do primeiro conflito de tundamunjila* e, que culminou numa outra guerra acabada na Batalha de Kuito CuanavalePortugal estava naquele então totalmente submisso ao governo do MPLA, movendo-se por interesses de lesa-pátria e por esquerdoidos que se perpetuaram no tempo. Sabiam de todos os nossos passos e, até mesmo em kizombas de amigos aonde  estranhos, pareciam a sondar tudo sobre nós e o Movimento UNITA que virou Partido de âmbito Nacional. Foram tempos espantados de inquietude.

Metido em apertos, apanhei boleia numa Dodge até Namacunde com o Administrador de posto do Dirico, o senhor Pinto. Uns pseudo militares feitos agentes governamentais (do MPLA) encostaram-nos à parede enquanto revistavam a camioneta partindo tudo, a fingir descuido num sem mais nem porquê. O próprio administrador não sabia como controlar aquele desrespeito com todo o seu desamor à revolução da tundamunjila de matriz CR – Concelho da revolução do M´Puto; segredou-me que não demoraria muito para largar tudo e, mudar-se para o Rundu.
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Naquele agora, não era a hora de pensar nos senhores do M´Puto e no que russos, americanos mais o povo desininformado - traidores patrícios com seus generais de aviário pretendiam fazer. Apareceu um mulato fintador, com divisas de tenente, ex-militar do exército dito colonial, saído da EAMA – Escola de Aplicação Militar de Angola, penteado de balas em diagonal. Com pinta de herói, e nome fictício de Fuka Dibengo, deu ordens à guarda para deixar passar aqueles t´chinderes – que éramos nós…

isabel lacuerda.jpg Ficou em fundo um ruído de música do Congo que os militares camaradas ouviam na rádio Mandumbe,... “Ai bábá ninique sala, táta rafael” Passados já uns largos anos sinto um frio nos pés no momento exacto em que um mabeco, sarapintado de castanho sujo, surge num repente por detrás da bissapa e acácias de picos medonhos. A vida faz pouco das previsões colocando por fim nelas, palavras no lugar de silêncios. Aiué

Aqui, Mudumu Mulapo, sem presunção, era um desses lugares, pelo menos àquela hora que o vento frio como brisa do Cubango também surgia, ainda bem. Naquele dia, bem perto do campo bivaque Omega 3 enquanto observava os hipopótamos, pude também ver os telhados de capim preto do Okavango por entre amarulas e embondeiros majestosos; assim lembrava, lembrando pois a muita saca-saca com pirão e, jindungo que outrora ali comi. Tempos de xirikwata´s (nome da minha missão, feito um espia, espiado)

sacag4.jpg Miranda, o ex oficial do Batalhão Bufalo, agora (naquele então) um conceituado comerciante do Mukwé, Andara e Shitemo apresentou-me ao presidente San Nujoma, que por ali andava em missão de soberania, pessoa simpática e simples Um helicóptero chegou bem perto da escola local do Shitemo no Ndonga Linena River Lodge, dele desceu este velho senhor de barba branca, alpercatas e um chabéu de palha já com falripas soltas. Também trazia um bastão, que julgo ser de distinto pau…; nem parecia ser um presidente. Gostei dessa pessoa simples - tinha sim, nos pés, umas alpercatas michelin de calcar matacanha. Mantenho ainda a imagem do encontro à margem desse Cubango em Shitemo na maior lucidez…

Nota* : Tunda a m´jila – Vai-te embora…
(Continua…)
O Soba T´Chingange


PUBLICADO POR kimbolagoa às 20:54
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Sexta-feira, 22 de Setembro de 2023
VIAGENS . 81

NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3491 – 22.09.2023

 – De Kasane a  Catima Mulila no Hotel Zambezi River Lodge

- Escritos aleatórios boligrafados da minha mochila – Antes e entre os anos de 1999 a 2018

Por tonito31.jpgT´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

pinto3.jpg Através da Wikipédia pude saber mais sobre o Mudumo National Park. Está situado a aproximadamente 35 quilômetros a sul de Kongola fazendo fronteira com Botswana a oeste, e com várias áreas de conservação comunitárias. Todo o parque é plano, com terras arenosas e sem morros ou montanhas. Um curso de rio fossilizado, o Mudumu Mulapo que fica no centro do parque; é um canal sazonalmente seco, que drena das águas as florestas de Mopane no interior, mais a leste. A estrada C49 atravessa o parque ligando as aldeias de Kongola e Sangwali.

Exuberante, natural, é uma aventura a ser feita com um 4x4, para enfrentar as picadas arenosas, sinuosasmente acidentadas. Local aonde o pôr do sol é incrivelmente belo, sentindo-se com agrado a brisa fresca do único amenizador de temperatura, o poderoso rio Cuando. Uma experiência inesquecível que deve ser feita com uso de repelente de mosquitos.

okavango02.jpeg Também, não esquecer levar protetor solar, um bom suprimento de água e, um jerricam com combustível extra. Lugar para  não nos escravizarmos, escondendo o medo no bolso posterior.  Aconcelho por isso serem dois veículos com tracção a fazer este trajecto de aventura pois que o lugar, é bem inóspito.

Pensar nas coisas ruíns, não é a filosofia certa para derramar por ali. Não adianta procurar o que o destino lhe reserva no futuro, porque é assim como ter a herança dum relógio roscófe embrulhado em papel besuntado de quicuanga e, que o rato roerá a qualquer momento.

Uns dias atrás um amigo meu fazia reparo àquilo que eu dizia; a de que nós sempre seremos um fruto de mudança. Bom! Com ou sem essa minha teoria de transitoriedade, nós seremos sempre os mesmos, só os pensamentos mudam. Neste nosso curso de enfrentar os conhecimentos, todos os dias serão uma prova à adaptabilidade humana, só que aqui, um descuido pode bem ser aproveitado por um tronco camuflado que num repente vira leopardo, ou um tufo de capim que se torna numa leoa em busca de alimento para suas crias. Nos paladares destes  predadores felinos, nós seremos um doce repasto.

sertão1.jpg E, sabendo que a curiosidade por vezes mata, pude rever-me assim em confronto com meus silêncios de viagem, subjugar-me a modificar meu carácter para subsistir à sabedoria vulgar, feito quase num monangamba. Claro que os sonhos duns não são realidades dos demais. O itinerário seria rumo ao acaso em primeira mão, omitindo a proposito, coisas para segurança do ocaso de gente ainda viva e, que são alguns dos meus heróis - gente incógnita que não abandonaram seus ideais de liberdade.

Digo isto porque me desloquei à Namibia em certa altura, numa missão secreta de observação da logistica em apoio ao Movimento ao qual pertencia – a UNITA e, a partir da Ovobolândia; percorri o rio Okavango em toda a sua extenção a partir de Ot´xakati, Ondângua, Rundu e Calai, Mukwé, Andara, Divundu, Faixa de Kaprivi, Ómega e Catima Mulilo aonde agora volto, despoluido de respeitabilidade e responsabilidade. Pouco a pouco irei retirando as pedras dos meus sapatos, estirpar os furúnculos escondidos num monte de salalé

salalé1.jpg Tive um contácto esporádico com San Nujoma ex-Presidente da Namíbia aquando de uma reunião com comerciantes nas margens do rio Okavango e fuga minha  a um encontro com um jornalista da Rádio Comercial do M´Puto que escreveu uma odisseia no livro “Baia dos Tigres”, um tal de nome Mendes. Baia dos Tigres livro de Pedro Rosa Mendes da Sá Editoras que descreve a odisséia na travessia de Angola em plena guerra. O não encontro foi em Divundu, num cruzamento de estradas que seguem para Botswana e Zâmbia / Zimbabwé através da faixa de Kaprivi. O livro reverêencia a Ana Maria Miranda, a pessoa que me convidou a tal encontro, que recusei… Ana - filha de Miranda, ex-oficial da Companhia  Búfalo da A. do Sul, o mesmo que sabe falar por estalidos…

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:27
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Quinta-feira, 21 de Setembro de 2023
VIAGENS . 80

NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3490 – 21.09.2023 – De Kasane a  Catima Mulila no Hotel Zambezi River Lodge

- Escritos boligrafados da minha mochila, – Aleatóriamente no após 1975 e, entre os anos de 1999 a 2018

PorBotswana 250.jpgT´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

Botswana 286.jpgA caminho de Katima Mulilo, cruzamos parte do Caprivi Game Reserve, uma faixa apresentanda no mapa como um dedo indicador apontando o Botswana. Com cerca de 180 Km de extensão com floresta de folha larga; a faixa, foi desenhada pelos britânicos em Berlim para poderem ter acesso a todas as suas possessões; Na sua maior extenção, esta faixa são duas linhas paralelas  com 32 km de largura. Eles, os britânios, tinham a pretenção de unir Cape Town ao Cairo.  

A faixa estende-se pela fronteira do Sul de Angola desde o rio Cubango ou Okavango  até o rio Zambeze em Catima Mulilo e, que  vai até Kasane de onde estamos saindo, lugar de encontro com o no rio Cuando, aqui chamado de Shobe.  Vamos em sentido contrário ao rumo de Vitória Falls. O Delta do Okavango fica já do lado do Botswana, com ilhas dispersas, desaguando por assim dizer,  naquilo que à séculos, foi um mar interior.

Botswana 019.jpg Já em Katima Mulilo resolvemos fazer compras no maior supermercado da cidade, pertencente ao Sr. Coimbra (já falecido), um refugiado Tuga ido de Angola logo após o 25 de Abril no M´Puto e sequente guerra do tundamunjila em N´Gola; parece que este senhor tinha uma qualquer ligação com a PIDE do M´Puto e numa primeira etapa de sua fuga assentou bivaque em Windohek, no Safári Motel do Sr Pimenta. Depois, rumou a Norte aonde se tornou aqui – em Catima Mulilo, um bem sucedido comerciante.

Tomamos contacto esporádico com a família Coimbra que tomava conta do negócio e depois dirigimo-nos até às margens do Zambeze aonde assentamos arraiais no Hotel Zambezi River Lodge de características tipicamente africanas e com acomodações para visitantes de mochila para camping, como nós. Foi bom ficar ali sentado na margem daquele Zambeze ainda manso cruzando pensamentos das terras do Fim-do-Mundo que no correr dos tempos pareciam ser só uma ilusão.

Botswana 240.jpgÉramos os exploradores bazungus, como diria a minha empregada Mery de Kampala:  modernos com algumas mordomias como um canivete macgyver  que tudo resolve e, seguindo as peugadas de Silva Porto, Serpa Pinto, Hermenegildo Capelo ou Roberto Ivens. E, como foi bom pisar aquelas terras, ver manadas de elefantes raspando a terra impondo poder abanando as grandes orelhas a meter medo. Ao cair da noite fizemos o nosso brai com aquela carne saborosa de caça.

Carne comprada no supermercado da familia Coimbra, carne que só ali existia por aquelas paragens. E, como gostaria de repetir no futuro esta volta e mais uma vez - pensava assim ali sentado na beira do Zambeze admirando a kukia (pôr-do-sol) e, olhando-me nas rugas espelhadas nas quietas águas do Zambeze. E, só para mim, recordava o passado, da guerra do Tundamunjila de N´Gola, uma rebalderia chamada indevidamente de descolonização

Botswana 280.jpg Recordava os Movimentos de Libertação, em particular da UNITA à qual pertenci e, que aqui descreverei de forma muito sintética, suficientemente sumária  para preservar personagens como Dachala, Alcides Sakala, Zé Kat´chiungo e Adalberto da Costa Júnior; um mano Coordenador, que se salientou em Portugal na defesa da Unita tonando-se por voto popular e, com elevado mérito, em Presidente da UNITA e Presidente de Angola segundo os fieis relatos de vários Observadores Internacionais e dados internos do agora partido do Galo Negro – dados fidedignos e aferidos… 

Isto de repetir o passado, acontece sim, porque o é necessário e, para no mínimo, ressarcir a verdade. Verdade que afeta bem mais de um milhão de gente maioritariamente boa e, indevidamente relegada ao esquecimento da razão - os chamados refugiados e retornados! Irei assim, decrevendo aos poucos, para não vulgarizar ou agudizar num só lote tal infortúnio e, inserindo-os nas várias viagens de agora e de mais tarde, aleatoriamente dum passado truculento e, até  faladas em sentido contrário como se o fora uma marcha-à-ré, pois que quase foi assim que percorri o caminho que não nos levou a Dar-es-Salaam na Tanzânia. Bom! Isto será de atemporal descrição e, numa posterior forma de odisseia que fragmentada, bem pode remoer um futuro, num agora!  

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 13:04
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Terça-feira, 19 de Setembro de 2023
VIAGENS . 79

NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3489 – 19.09.2023 No Shoba Safari Lodge de Kasane

- Escritos boligrafados da minha mochila, em KASANE, às margens do Cunene e Shobe – Entre os anos de 1999 a 2018

Por chicor4.jpgT´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

Malambas4.jpg Pois! E, porque me  deparei com falas de lugares já passados e, não descritos aqui, abro um parêntesis para tapar e rever essa lacuna: Dias atrás muitos cheios de pó, chegamos a Nata no Botswana, bifurcação tendo pela esquerda via Namíbia, lugar aonde já passamos de Epupa Falls e Delta do Okavango e, pela direita atravessando várias reservas até chegar a Kasane às margens do rio Shobe que em Angola se chama de Cuando. Pois foi por aqui que viemos até aqui – a Kasane.

Pernoitamos ali, em Nata, no Pelican Lodge aonde se recolheu informação com outros aventureiros bazungus, de qual o melhor caminho a seguir e outros detalhes. Tinhamos a opção de acampar ou ficar em um dos chalés e, optamos por alugar dois destes. O alojamento dispõe de restaurante à la carte onde comemos à base de carne de caça, uma sempre boa opção.

caprand0.jpg Aqui o Pelican,  oferece passeios panorâmicos para o Santuário de Pássaros em Nata dentro das Salinas Makgadikgadi mas, nossa intenção era continuar  até o santuário do Shobe e Kazungula. Durante o Jantar, um grupo de bailarinos tradicionais deu uma prova da dança tipicamente africana com tambores com alguns detalhes de danças usadas pelos mineiros na tradição da dança "gumboot" do Soweto e Lesoto; cantar e dançar os ritmos do Botswana - Diversão especialmente dirijida para um grupo de bazungus idos da europa, ali hospedados.

Era suposto encontrarmos muitos animais no percurso, um domingo, ao atravessarmos as reservas de Tamfupa, Sibuyu, Kazuma e Nogatsaa mas, os quilómetros foram desvanecendo a avidez e os olhos já cansados de tanta secura entre um gole e outro de água de garrafa, foram escorrendo conversas de profecias ainda mal entendidas.

macu5.jpg E, veio à tona aquelas profecias sobre a Inglaterra e África do Sul; aquela que diz que a Inglaterra será atingida por 7 pragas quando a 3ª Guerra Mundial estiver próxima. Isto já o foi contado lá  atrás, por isso passarei à descrição da tal Ilha com uma bandeira gigante do Botswana no meio do Shobe e, na qual andamos vendo confortavelmente no barco do Shoba Safari Lodge de Kasane.

Aquela ilha que tem o nome de Sidudu/ Kazakili Island esteve até há questão de poucos anos em disputa na definição de fronteiras pois que a Namíbia reclamava como sendo sua mas, o Tribunal Internacional deu posse definitiva ao Botswana. Aqui está a justificação de tão grande mastro naquela planura tão verde e tão cheia de animais.

cos3.jpg Pudemos assim ver as margens do rio Cuando a confrontar com o parque Kasika da Namíbia e o canal Shobe no lado do Botswana. Esta missão exploradora serve somente para revestir-me de uma armadura contra as megalomanias daqueles que julgam possuir todas as chaves de abrir todos os becos, todas as quelhas, todas as picadas sem declarar seu próprio fisco à sua alma. Sei porque digo isto mas, saiu, saindo…

O Rio Cuando e o canal Shoba desaguam no rio Zambeze e, é aqui em Kazungula, mesmo ao lado, que confinam quatro países: Botswana, Namíbia (ponta da faixa de Kaprivi), Zâmbia e Zimbabwé. Foi um dos momentos altos como uma odisseia das potholes (buracos); aí estão os bazungus, mais que muitos, a pagar caro para ver a natureza. Há gente de todas as nacionalidades mas, maioritariamente da Comunidade Europeia. Troquei impressões com três espanhóis que amavelmente nos deram indicações sobre trajectos por conhecer. Bola pra a fente!  Agora sim,  iremos de volta ao Okavango passando por Catima Mulilo…

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 11:44
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Temos um Hino, uma Bandeira, uma moeda, temos constituição, temos nobres e plebeus, um soba, um cipaio-mor, um kimbanda e um comendador. Somos uma Instituição independente. As nossas fronteiras são a Globália. Procuramos alcançar as terras do nunca um conjunto de pessoas pertencentes a um reino de fantasia procurando corrrigir realidades do mundo que os rodeia. Neste reino de Manikongo há uma torre. È nesta torre do Zombo que arquivamos os sonhos e aspirações. Neste reino todos são distintos e distinguidos. Todos dão vivas á vida como verdadeiros escuteiros pois, todos se escutam. Se N´Zambi quiser vamos viver 333 anos. O Soba T'chingange
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