NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3508 – 27.10.2023
-Às margens do Cubango - “Missão Xirikwata” - Nossas vidas têm muitos kitukus…
- Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Às conversas no Mukwé entre os três da vida eirada de agora, T´Chingas, João e Oliveira do Mucussu, juntou-se-lhes o Teles da Ondjiva, caçador de pacaças naquele período de tempo já ultrapassado; os acidentes em nossa normal existência numa terra que pensávamos ser nossa, eram tempos torturados na mistura de assuntos comuns, de cacaracá.
No descuido de uma periclitante existência, pensavamos falando coisas defuntadas de nossa singularidade. Em plena Ovobolândia, as malambas, surgiam após um café pingado, umas gotas de bagaço ou medronho do M´Puto traficado na candonga do Rocha ou do Bicho de Ochakati.
Eu, T´Chingas, acabei por relembrar que aqueles dias na Luua, na feitura do caixote do baú das saudades futuras, era comum ver-se um furtivo vulto que saído das vielas dum musseque ou de carros que passavam nos bairros da cidade, atirando rajadas para o ar, para um qualquer lado. Lançavam àtoa para um qualquer jardim ou taipado, granadas da qual saiam afiados restos de molas da morte.
Mandavam obuses ou morteiradas, rockets, aleatoriamente para o ar que logicamente iriam cair num qualquer sítio, provocar estragos e mortes. Estando eu na ponta da ilha, perto do farol, guarda da baia da Luua, na conhecida Barracuda com a família, viam-se rolos de fumo, estrondos e balas tracejantes sulcando o ar do outro lado continental como se o fosse um fogo de artificio de feira popular feita festival.
Talvez Cuca, talvez Sambizanga, Terra Nova, Cazenga, Caputo ou Bairro Operário. Eram as ordens do DDT – o dono dquilo tudo, o Vemelhão almirante chamado de Rosa para assustar a malta. A malta, eramos todos nós, pode? Uma boa parte das armas usadas neste assustamento, eram das forças regulares do exército português dadas a esmo pelo MFA-NT, aos populares afectos ao MPLA – os camaradas.
Entretanto obrigavam a etnia branca a entregar todo o tipo de armamento. Sei que isto já foi dito mas, convem recordar: um tempo de muita manigância, farsas trabalhadas por operadores, locutores saídos de uma jihade de desinformação, factos novos entre coisas de guerra a que chamaram de monacaxitos, alarmes falsos tratados em comunicados alarmistas, assaltos a laboratórios de hospital.
Roubando corações de gente para incriminar o suposto inimigo de canibalismo. Aconteceu isto, algo inaudito, baixaria usada pelo MPLA, acusando a FNLA, os ditos fenelas, de canibais, comedores de corações humanos feitos em Indi Amins. Colando cartazes com estas e outras vísceras nas paredes das casas, quintais, junto a escolas e parques, nas avenidas e postes de iluminação.
Numa dada altura dá-se a conhecer um tal de senhor Falcão insinuando-se como líder dos gwetas, t´chinderes brancos, um manobrista laranja do MPLA… Aiué besugos meniés (falas antigas) ficando tresmalhados assim como autenticas formigas kissonde ou salalé abandonando seu ninho soàtoa. São tomadas por pseudo democratas, genéricos rufias, de punho no ar, instituições, correios, municípios, organismos oficiais, grupelhos organizados alterando a normalidade, originando um baixar-de-mãos nas empresas.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3503 – 15.10.2023
-Às margens do Cubango - “Missão Xirikwata” - Nossas vidas têm muitos kitukus…
- Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Repito: Estudantes barbudos do M´Puto na visão de Ché Guevara, ao seviço do PREC – Proceso de Revolução em Curso, ensinavam a estes, os pioniros do MPLA (crianças / candengues), o manejo de armas de madeira a fingir AK-47 de Mikhail Kalashnikov, G3 ou Mausers… Estudantes estes, que regressados à Metrópole (M´Puto), teriam passagem administrativa garantida na sua Universidade ou Instituto - o tal de PREC, Revolução parva saída do 25 de Abril de 1974 e, que só terminou a 25 de Novembro de 1975, data posterior ao 11 de Novembro (14 dias depois) – Dia da Indepêndencia de Angola.
Convem aqui fazer uma leve referência a esta data de 25 de Novembro, que tardiamente e com intervenção de oficiais cientes daquela aberração acabaram com esse grupelho liderada por Otelo Saraiva de Carvalho… No M´Puto, os militares moderados viram-se forçados a iniciaram a ofensiva contra o estado caótico da nação, tomando posição a partir do posto operacional da Amadora, liderado por Ramalho Eanes.
Um pelotão blindado do RC do Porto movimentou-se até à Base Aérea de Cortegaça, onde estavam os 123 oficiais que abandonaram a base de Tancos uma semana antes. Jaime Neves, pouco depois das 19h do dia 25, saiu com uma força do RC da Amadora cercando as instalações da Força Aérea em Monsanto.
Enquanto o M´Puto seguia sua senda na procura da ordem institucional, teremos de recuar agora à Luua, a capital de Angola lembrando no entanto que o politico Mário Soares, lider do PS do M´Puto, que tardiamente, se apercebeu do estado caótico do rumo que o país levava, decididindo anuência a esta intervenção militar do 25 de Novembro de 1975 em Portugal e, que por fim, acabou com a bandalheira esquerdoida.
Em Angola surgiu o Poder Popular! E surgiu o Kaporroto, o kuduro e a vitória é certa. Eles já tinham inventado o monstro Imortal, o Valodia e o Monacaxito… Tudo era planificadamente certíssimo! Melo Antunes, Rosa Coutinho e uns quantos que nesse então ainda não tinha dado à sola para o álem (mas, que acacabaram por ir sim…)
As makas organizadas eram-no com o objectivo de criar o caos, provocar pancadaria e depois a vitimização com características de sofisticada mentira. Isso mesmo! Meter tudo ao barulho, pressionar psicologicamente supostamente as autoridades com vinculo à lei e ordem criando condições de favorecimento ao MPLA por parte dos militares do MFA das NT, e CCPA – Comissão de Coordenação do Programa do MFA e o Alto-Comissário.
Às tantas, já se fazia tudo às claras. Até o Idi Amim Dada se dava conta de tudo isto! Em um encontro de Melo Antunes com Henry Kissinger, aquele responsável português e a pedido do Secretário Americano disse que era difícil de lidar com Agostino Neto (era só mesmo para agradar àquele diplomata da USA…). Esse cérebro guia dos demais, chamado de Melo Antunes, foi dizendo a Kissinger que era difícil de classificar politicamente Agostinho Neto como um comunista ortodoxo!
Agostinho Neto, íngrato àquele e tantos outros esquerdoidos do M´Puto tiveram de engolir a falácia que este usou: à coisa dada ao MPLA, (Angola) teve a desfaçatez de dizer que a liberdade, não se recebe, arranca-se! Mas, que grandes mentiroso! Neto, com laivos de poeta (diga-se de baixo coturno…), dava dicas torpes de mau agradecimento aos militares revolucionários do M´Puto, quando em verdade, tudo recebeu destes (traidores…) Mas que pulha! Bem feito, cambada! Alguns não gostaram, diga-se… Assim e com João Miranda do Mukwé, algures no Shitemo, acabamos as falas da tarde com uns goles de gim com água tónica para espantar mosquitos…
GLOSSÁRIO: - *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes, durante e depois dos longos anos da crise Angolana, após o Acordo de Paz e Reconciliação Nacional; Banga – estilo, vaidade excessiva; Tuji – excremento, merda; Mwangolés – os donos de angola, os generais que se apossaram da Nação Angola por via de seu poder libertário; Muxoxo - expressão com som de língua com palato em forma de estalo em desdém pelo dito; Mututa – da bosta, de ralé; Maka – confusão, rixa, alvoroço; Missosso – Conto breve de cariz popular em Angola; Kituku - mistério; Kaporoto – Vinho bolunga feito a martelo, de fermentação rápida com pilhas de lanterna; Uuabuama - maravilhoso; Oshakati – Nome de terra ao Norte da Namíbia; Lodge – Hotel de superfície, conjunto de casas para turistas; Rundu – Cidade do Norte da Namíbia, fronteira com Angola no rio Okavango; Grootfontein- Cidade da Namíbia que acolheu os refugiados de Angola, Xirikwata – pássaro que come jindungo…
(Continua...)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3502 – 12.10.2023
-Às margens do Cubango - “Missão Xirikwata” - Nossas vidas têm muitos kitukus…
- Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
E afinal, que foi feito do Tenente Fernando Paulo? Pensando nele demo-nos conta que era o fim do império colonial. E isso, nós (Eu, João Miranda e Oliveira do Mucusso) queríamos que acontecesse sim! Que fiique claro, também ansiávamos pela independência. Mas, e mais mas nagativos, tão seguidos, mostraram de forma paulatina as feras sendo largadas das jaulas com a lei 7 barra 74 do MFA. A Luua eclipsava-se! O resto de Angola esfrangalhava-se ficando uma terra sem lei nem roque…
Tarde piaste! Momentos de muita inocente incerteza; abandonar tudo, entregar a chave do carro ao jardineiro da casa, o cão pastor alemão à Mariana, uma exemplar serviçal ao nosso serviço, na Caála; O mesmo que aconteceu a tantos, maioritariamente brancos na pele. Na Luua, de Kalash ou G3 na mão, a lei e a ordem, a justiça eram coisas transgredidas, inexistentes ou mesmo anedóticas pela pior das negativas…
Estávamos na segunda metade do ano sem graça de 1975 - Vai haver maka, porrada mesmo! (assim diziam). E era um virar a arma para o ar e despejar cunhetes átoa para assustar branco; balas oferecidas pelas nossas gloriosas forças - NT do M´Puto a mando do Rosa Coutinho. O medo controlava a população da Luua desorientada, assustada como um kissonde pisoteado com o apoio e fervor revolucionariamente denso do MFA importado do M´Puto - Do povo unido jamais será vencido! Que povo era esse?
A anarquia fazia-se sentir em todos os lados, nos meios urbanos ou mato com pequenos núcleos de população, Em Malange, No Huambo, no Kuito, em um qualquer lugar com picada de acesso. E, agora vamos fazer o quê para o M´Puto? Talvez Brasil!? Quem sabe – Austrália ou Argentina! “As NT - Nossas Tropas”, já não eram nossas; davam cunhetes, canhões, paióis inteiros e até carros de combate numa perfeita cooperação de entreajuda FAP- FAPLA mandando prólixo os acordos de Alvor, da Penina e Nakuru… Estes, forneciam abertamente ao MPLA, as fotos aéreas em progressão dos supostos “inimigos”- FNLA e UNITA…
As NT, davam tudo, até as coordenadas do alvo numa logística total oferecida a custo zero ao MPLA. Com escassos soldados e mal apetrechados do MPLA, o MFA por via das NT, davam a estes impreparados militares, por vezes cheios de liamba no corpo: carros, granadas, morteiros, armas de repetição, mapas e fardamento; tudo, tudo sem garantir o que quer que fosse à gente de étnia branca e mestiça de terceira e até quarta geração; gente que não conhecia outra qualquer terra para poder viver…
“As NT - Nossas tropas” organizavam planos de voo com dados de meteorologia e até furtavam casas aos colonos e afins em apoio ao MPLA: Isso! Saque dos haveres de colonos que saíam desordenadamente de suas casas, abandonando tudo. Há testemunhos vivenciados na Avenida Brasil, na Vila Alice, na Avenida dos Combatentes, Zona do Kinaxixe, Bairro do Café e, um pouco por toda a Luanda de então. Um perfeito saque, em plena luz do dia Uma frieza ímpar ultrajando a história de Portugal Ultramarino.
O MPLA da Luua, por sugestão do Vermelhão Almirante Coutinho, inventava a maka! E, eram makas sobre makas, paralisações descabidas. Inventaram os pioneiros que eram trabalhados em marcha no esquerdo e direita por jovens estudantes do M´Puto! Estudantes barbudos na visão de Ché Guevara, ensinando a estes o manejo de armas de madeira a fingir AK-47 de Mikhail Kalashnikov, G3 ou Mausers…
Muitos dos “libertadores” sonhavam com a casa, o carro, os privilégios e as posições dos colonos. Conquistaram-nas e tornaram-se piores do que estes. Desculpar-se-ão com a guerra do TUNDAMUNJILA formando esquemas para transgredir os limites da legalidade. Uns quantos, continuam ainda a roubar o país quarenta e oito anos depois, enquanto o povo olhando as velhas fotos amarelecidas, passam-nas em sua máquina de pensar. Já desbotadas, tombam com elas, a vontade de querer, definham-se desmilinguidos em camadas de pó de sonho…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3501 - 10.10.2023
-Às margens do Cubango - “Missão Xirikwata”
- Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Recordo que nos dias que ali passei no Mukwé e, num dos almoços feito pelo cozinheiro Kafundanga, tendo Tata kadinguila seu auxiliar, também engraxador das botas do patrão João, eu, armado em bravo macho quis provar do jindungo onoto chamado de xirikwata da casa e, tendo a Dona Elisabete de forma bem convincente que este dito, edecéteras e tal, que o era muito bravo, que tivesse cuidado com aquele “cahombo” de fogo, estando eu habituado àquele viagra, obviamente não o temia.
Logo a seguir, nossas conversas adiantavam noticias velhas e já carcomidas: Em Angola os vindouros mwangolés,“ conquistaram a independência de borla”, tornando-se piores do que os colonos… Dizem que a conquistaram mas, foi só um chavão para encobrir todas as benesses recebidas dos capitães e generais de aviário do M´Puto…
Em Kampala, o presidente da OUA, Idi Amim Dada, insistia para que a data da independência fosse mantida sendo Portugal a responsabilizar os nacionalistas por um não acordo - coisa inaudita, de rir!. O Secretário-geral da UNITA presente à conferência acusou as FAP/MFA de não se oporem à entrada de armamento e mercenários a ajudarem o MPLA …
Acontecia sim, em Luanda, no Lobito, Sá da Bandeira e Pereira D´Eça. Nesta Pereira D´Eça (a actual Onjiva) o comandante português entregou o aquartelamento a elementos do MPLA tendo-os vestido com camuflados do exército português, uma clara desobediência e afronta para esta região afecta à UNITA - Um povo Ovambo ou Ovibundo.
Este procedimento foi de uma nítida e grosseira degradação moral para as autoridades portuguesas ali sediadas e numa declarada provocação ao Movimento da UNITA. Manuel Resende Ferreira em "Segredos da Descolonização de Angola" disse a proposito: - Ainda havia esperança e soldados que não nos abandonavam (lembrando a população maioritariamente branca e assimilados).
Referia-se ao Tenente Fernando Paulo e alguns dos seus homens que resolveram desobedecer ao comando para protegerem um grupo de refugiados no Chitado. Para o efeito, criaram ali uma zona de segurança à revelia de seus comandantes do MFA.
O comportamento da UNITA teve forçosamente de mudar de táctica e, seu posterior comportamento no Lubango e áreas do Sul que, levaram a desconsiderar tanto o Movimento como o seu Presidente Jonas Savimbi que por ali conviveu em tempos de estudante. São aqueles os heróis esquecidos, homens às ordens do Tenente Fernando Paulo, soldados de Portugal que abandonam o Exército Comunista Português para protegerem cidadãos em apertos e, que perdento tudo, corriam também o risco de perdar a vida.
Lutar assim, em rebelião, contra a anarquia das tropas, sempre referidas como NT – Nosas tropas, facto vivenciado por todo o território, desde o Cunene a Sul até o Miconge, o ponto de fronteira mais a Norte de Cabinda. Eu e Miranda ressaltamos bem esta postura como fenómono postumo mas, quem éramos nós para vaticinar o passado defuntado e politicar a enviesada saída do M´Puto pelos homens que antes tinham sido heróis. Heróis bem diferentes, como esse do Spínola da banga vaidosa, desmedidamente parva e até caricata, usando luva, monóculo tipo Eça de Queirós, botas de montar lustradas e um pingalim – fetiches de túji que também por vaidade o levou a escrever isso de “Portugal e o Futuro” – Que futuro?
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3500 – 08.10.2023
-Às margens do Cubango - “Missão Xirikwata”
- Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Aqui no Mukwé, a casa do senhor Joâo Miranda e da Dona Elisabete, fica a uns escassos 50 metros da margem do rio Okavango; podíamos até gritar às pessoas do outro lado que era Angola; gente pastoreando e de vez em quando lá avistávamos uma canoa que passava na labuta da pesca ou simplesmente deslocando-se, não sei se à revelia dos guarda-rios ou se por anuência destes, por o serem também familiares, ora subindo ora descendo o agora manso e alguns rápidos suaves do rio.
Dona Elisabete, logo nas primeiras horas do dia inesperava-nos com um cheiroso café da qual nunca não mais quis esquecer do seu sabor. A casa situada na parte superior da borda rio era totalmente em madeira tendo os quartos de habitação situados no piso superior; a madeira estalava de noite e qualquer movimento parecia ranger, toda ela.
A azáfama continuava ao lusco-fusco com as ordens meio esganiçadas para seu cozinheiro Kafundanga ouvi. O ranger da madeira, soalho da casa, ao mais leve movimento e o ressonar de toda a tribo mais os da casa, era uma sinfonia de sossegada intranquilidade. No ar havia cheiros de kibaba, o mogno de Angola misturado com takula e undianuno…
Aquilo é que era mato, os cheiros e ruídos não tinham barreiras nem fronteiras e sentir o cheiro de Angola ali tão perto, já por si era uma inebriante adrenalina mista do roceiro e sertanejo T´Chingange - o próprio, pesquisador e explorador fingindo não ser espia…
Estava enganado com aquele jindungo da xirikuata. Com ele, transpirei, chorei e até parece que o meu cérebro borbulhou no cocuruto da careca - malvado jindungo do churrasco. Que vergonha! O riso de todos contemporizava com fausto e taciturnas gargalhadas nas sofridas mordidas mas, também deu azo a que não mais me esquecesse de tamanho veneno empolador de lábios e cérebro deixando raspas no cerebelo.
Do outro lado do rio - Angola, a guerra estava brava e coisa já contada, que as indicações do presidente Sam Nujoma neta banda da Ovobolândia, eram a de não deixar passar ninguém para o lado de cá, Namíbia. Eu ouvi isso porque estava lá nessa assembleia reunião com militares e comerciantes. “Tiro neles”, assim o disse às margens do Okavango e das redondezas, Nyangana, Nyondo, Mukwé, Andara Divundo e Machari. Aviso quase dirigido a mim que dissimulei de matumbo, em nem
Como disse, aqui no Mukwé acontecia às tardes na companhia de Gin com água tónica - nossa conversa a três, Miranda, T´Chingange e Oliveira do Mucusso, a conversa começava aos soluços, de novo a animar retirando de cada qual as verdades. Por vezes em muxoxos, os candengues pioneiros do MPLA, transmitindo falas de seus pais, referiam com audacidade de Hojy Yá Henda (um suposto herói). Era eu mesmo a falar, recordando coisas ouvidas da Luua antes do 11 de Novembro de 1975…
Naquele jeito de revolucionários importados da tuji cazukuteira, fomentada e fermentada nos musseques pelos PREC´S (Processo de Revolução em Curso), o lema era ficar com a mulher do colono, com sua casa, com seu carro e edecéteras – tudo, um desvario alimentado pela midia do M´Puto…
Isso mesmo! - Desvario social da Metrópole, noticias enviesadas na mentira incentivando até o ódio pelos patrícios, um virar as costas à família, retirando-os das molduras da sala, colocando em seu lugar a Catarina Eufémia que, nem nunca viram a não ser dos relatos do PREC, pelas televisões estatais e afins do M´Puto e, pelo MFA com seus generais da mututa e magalas de nova geração com trancinhas na mioleira…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
Em Angola, contornando medrosas angústias, febres palustres, jacarés e onças, entre várias molestias de paludismo cerebral, as guerras exigiram aos intervenientes, guerrilheiros, voluntários ou governamentais magalas da Metrópole, muito sacrifício. Assim o sejam no rumo da libertação ou seguindo a ideologia, de uma sentida crença ou por obrigação forçada por via de obrigatoriedade.
Seguir directamente para o céu, directamente do produtor para o inferno feito fogo ou uma nuvem de algodão envoltos nessa kukia chamada de pôr-do-sol - fim de vida. Defenderam e mataram gente, construindo novas coisas, impondo regras sociais para conservar tal espaço. Fiotes, Kiokos, Kimbundos, Umbundos. Hereros, Ganguelas, Muilas, Mucubais, Bosquimanos, Magalas Tugas ou expedicionários do M´Puto.
Militares ou guerrilheiros que mudaram de alguma maneira, o modo de estar e de pensar, na sequência desses outros mais antigos magalas chamados de expedicionários da Metrópole e, que, aos milhares, também consolidaram um território dos Mwene-Puto e Mwangolés, morrendo por isso…
Gente que veio a presidir ao país e que também seguiu essa senda da vida defuntada na kukia da vida e, que também não ficou para semente. Todos, ou quase, percebemos que no livre jogo das forças, governos e governistas com afins circunscritos, hoje, interessa sim, adquirir a qualquer custo um poleiro digno governamentalista. O mundo está muito amalucado! Enquanto isso os resistentes daqueles tempos, lambem as feridas de catanas ou G-três da história.
NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3495 – 30.09.2023
– Em Mukwé, Andara e Shitemo às margem do Cubango - “Missão Xirikwata”
- Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, entre os anos de 1999 a 2018
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Pedro Rosa Mendes, repórter galardoado do "Público", partiu em Junho de 1997, com uma bolsa de criação literária do Centro Nacional de Cultura, mochila às costas, máquina fotográfica e gravador, atravessando o continente Africano de costa a costa, à semelhança de Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens, por picadas, rios e caminhos de areia, lugares por onde andei por várias vezes e em distintas datas.
Mendes, regressaria três meses e meio depois desta viagem, carregado de histórias bastantes diferentes das que aqueles exploradores certamente encontraram. Histórias de ódio e de horror, de crueldade, num continente onde nesse ntão decorria uma guerra sem fim à vista, aniquilando muita gente. "Baía dos Tigres" é um relato dessas histórias, no suplemento Leituras, do "Público" de então.
Encontrou pela certa os mil estilhaços da história, autenticidade que por certo lhe exigiu tudo, tal como eu vivenciei nos países limitrofes como: olhos, ouvido, pele, coração, sangue, suor, lágrimas, coisas simples, primeiras e últimas, como nascer a caminho da incerteza e até mesmo a morte, decrevendo ambos a seu modo, o que somos apenas com palavras…
Viagens de T´Chingange de agora e "Baía dos Tigres" de Rosa Mendes, daqueles tempos, fizeram fricção, ficção, romance, crónica, ou poesia, em documentos densos ou infernais. Como acontece aos homens, o ser-se assim, vem do muito fundo no respirar do cacimbo - uma extraordinária viagem ao fim da vida dos homens.
Também a viagem ao inacreditável mundo habitado por homens com pernas de pau, com braços de turquês em ferro, sem dentes, sem orelhas, sem pele, ou mesmo sem rosto … Viagens sem horário, por vezes sem os comuns "vouchers" com pequeno almoço incluído e sem a bebida fresca tomada na esplanada à hora que se quer… Foi útil ter uma visão diferente do que se estava a passar no terreno, no entanto, pareceu-me tendencioso em seu livro no julgamento de Miranda comerciante, retratando-o como um brutamontes. Comparou-o a um Bóher “Mamburra” mal formado o que me pareceu ser um exagero de todo.
Tratamento tal e, só porque tinha pertencido à companhia Sul-Africana “Os Búfalos” o que, não era motivo étnico para tal, parecendo coisa encomendada com direito a carimbo de gazosa do falso governo de N´gola sob tutela do MPLA. Creio que, tudo tinha de ser ser descrito para preservar a onda esquerdoida que grassava no M´Puto e, subsidiada para tal, no quadro de interesses com desvios ideológicos na defesa das convulsões partidárias da corrida ao poder. Isto, aconteceu, acontece e irá acontecer num trato de Lua/lix (Luanda/Lisboa)…
Ainda no Shitemo e, no lugar de Andara um dia à tarde, observei a chegada de dois camiões TIR de grandes dimensões usados para transporte internacional de cargas repletos de sacos de farinha de mandioca – fuba, tendo sido depositados num amplo armazém bem na margem do rio, creio que num lugar chamado de Nyondo. No outro dia, um pouco antes do meio-dia fiz companhia a um sobrinho de Dona Elisabete que normalmente distribuia pão na região e, quando paramos no mesmo armazém, reparei que se tinham evaporado todos os mantimentos ali depostos no dia anterior.
Nada perguntei mas, logicamente deduzi que naquela noite tudo foi passado para a outra margem para o Calai, Jamba ou Mucusso em silenciosas canoas. Era por aqui que se passava o grosso dos mantimentos não obstante haver ao longo do rio Okavango postos militares de observação e guarda; O termo "só para Inglês ver" ajustava-se aqui, na perfeição. E, felizmente, o povo Ovambo sabia preservar a sua existência partilhando os dias menos bons. De cartão da Unita camuflado no forro dos calções, regozijei-me por observar esta vivência no silêncio das terras do Fim-do-Mundo.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
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