NAS FRINCHAS DO TEMPO - 17.04.2019
Por
T´Chingange - No Nordeste brasileiro
A ficção e a realidade serão coisas poucas se considerarmos que só somos uma ilusão. Tudo morre e, tudo revive em tempo que lhe é seu. Ontem assisti com imensa pena ao quase fim da Catedral de Notre Dame de Paris, uma obra de arte, monumento tão velho como a criação de Portugal, ou quase! Em 1139, depois da vitória na batalha de Ourique contra um contingente mouro, D. Afonso Henriques proclamou-se Rei de Portugal com o apoio das suas tropas.
A Catedral Notre-Dame de Paris é uma das mais antigas catedrais francesas em estilo gótico. Iniciada sua construção no ano de 1163, é dedicada a Maria, Mãe de Jesus; situa-se na ilha da cidade de Paris, rodeada pelas águas do rio Sena. Entre estas datas há exactamente 24 anos de diferença - quase nada no contexto do Universo.
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Estive ali no ano de 2009, dez anos atrás e, pude apreciar desde o rio Sena a majestade daquela obra secular. Rio acima, rio abaixo pude apreciar o quanto tudo era belo. Fiquei muito triste ao ver aquelas labaredas queimando tão riquíssimo património; doeu, ver seu pináculo rendado acima da cúpula, cair rodeado das chamas vermelhas.
Interroguei-me do porquê de não haver ali automatismos para se apagar tal incêndio. Provavelmente até há, mas foi dito que estava em curso uma restauração, obras de conservação. Se foi ou não erro humano, o certo é que algo falhou e este descaso a ser assim, não deveria ter acontecido. Ouvi dizer que o ataque às chamas deveria ser cauteloso por via da água alterar as propriedades das velhas pedras podendo fragmentá-las em areia.
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É lógico pensar-se que as fracturas surgem pelas grandes variações térmicas mas, sabendo nós haver outros químicos alternativos repetimos o caso com demasiados talvez. Daqui poder dizer-se que até as pedras, no tempo se desfazem em desertos. Desertos que cada vez mais se estendem no mundo que habitamos - a Terra.
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Também daqui dizer-se que efectivamente somos uma ilusão e, só enquanto o somos! Tenho tomado consciência no tempo que é este "agora" que importa e, é neste agora que devemos dizer o que temos para dizer. Porque tal como uma infinidade de pontos formam uma recta, tudo terá sequência se se der sinal de existir adicionando um ponto à recta. Sabemos que o alinhamento de um azimute ou rumo só é definido por um terceiro ponto colinear
Sendo assim nos contactos que tenho na forma de gente, são poucos a assumir esta equação reduzida da recta (y = mx + c).
Isto porque e, principalmente vivem uma ilusão de vida que é a sua. E, porque não se assumem dizendo o que pensam, porque alguém supostamente pode julgar incorrecta ou não gostar.
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Quantos MAS existem em nossas vidas tão formuladas ou formatadas em normas, em paradigmas, em dogmas esquecendo-se que num amanhã tudo pode acabar ou acaba mesmo!
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Notre Dame decerto, irá renascer para se perpetuar nossa vontade de fazer, de fazer querer ou tão somente ver. Uma aranha que faz a sua teia, tem a intenção de apanhar uma mosca, quer tenha ou não consciência desse resultado - É esse o sentido da teia. O cérebro humano evolui segundo o mesmo conjunto de regras que a teia da aranha.
Cada decisão tomada por um ser humano possui sentido, naquela primeira intencionalidade, o desenrolar da estória obedece apenas às leis gerais do Universo. Cada evento é aleatório ou alterado, na probabilidade de eventos posteriores. Quem se seguir a mim, por favor apague as luzes.
O Soba T´Chingange
EM TEMPO - ADENDA POR Maria Joao Sacagami
:::11.1
Vou fazer dois reparos ao teu texto de que gostei por demais. O primeiro diz respeito a quem Notre Dame foi dedicada. Foi construída pelos Templários, que encontraram em suas andanças pelo Oriente Médio documentos que hoje jazem (esse é o termo, dado que estão profundamente enterrados) no Vaticano, e que apoiados por tais documentos se tornaram os Guardiões de um Segredo relacionado com Jesus e Maria Madalena. Mais propriamente, foram os guardiões do segredo de Maria Madalena, a quem veneravam como a Grande Senhora. Seus mais ferozes perseguidores, os Dominicanos, são hoje os Guardiões.
:::11.2
Seus seguidores, os maçons ou livre pedreiros, construíram a Catedral de Paris e outras na Europa, orientados pelos ensinamentos de grandes mestres pedreiros e da arte dos vitrais. Nas paredes e detalhes de Notre Dame foram embutidos milhares de símbolos. Um deles o duplo M que se vê em vários desses espaços chamados sagrados, MM, não significam Mãe Maria mas Maria Madalena. A Virgem Negra, porquanto oculta, portadora dos conhecimentos e rituais antigos. Tão antigos quanto os conhecimentos e rituais praticados nesses locais, antes que outros templos fossem erguidos. Uma das razões para a escolha do local aliás, sempre foi o fato de anteriormente terem sido templos dedicados à Grande Mãe.
:::11.3
O segundo diz respeito ao que se perdeu. Além da simbologia e das técnicas que nos são hoje desconhecidas, perderam-se ornamentos e estruturas criadas de forma específica para auxiliarem a repercussão dos sons dos cânticos e órgão, que iriam influenciar as emoções e pensamentos dos que entravam na Catedral. Cada um deles trabalhado intencionalmente para emitir o som em ondas que reverberam em formas geométricas.
:::11.4
A Cimática, ainda que seja uma ciência recente, estuda essas ondas e formas, assim como o resultado sobre o equilíbrio humano. Estudava essa como estuda outras Catedrais. As ondas geradas criam aberturas sensoriais que permitem uma elevação extraordinária de pensamento e emoção, e quiçá portais de acesso espiritual, facilitado também pelo fato de ter sido a Catedral construída sobre um manancial de água, tal como os templos que a antecederam.
:::11.5
Ela foi reconstruída antes. E muito se perdeu. Mas não tanto quanto nos nossos dias em que as pessoas (engenheiros e arquitetos) que se envolverão com o processo, não possuem uma pálida ideia do que ali estava ancorado. E, possivelmente, nem se importam.
Notre Dame de Paris, infelizmente, nunca mais será a mesma.
Maria João Sacagami
MILONGOS CUSPILHADOS – Nas linhas esfaziadas com calções bufantes… XIII
Por
Como gosto das falas de Eça, de mais de cem anos e, em uma civilidade de grande urbe como Paris! Dos galfarros esguios com gâmbias finas a fugirem numa linha esfaziada; das escarranchadas gâmbias sobre duas rodas desiguais, pedalando, e outros menos magros de cachaço escarlate caminhando em grupos com suas mulheres muito pintadas, de bolero curto, calções bufantes, girando mais rápidamente, bamboleando seus prazeres, suas promissoras carreiras. Para dissipar um pesadume de solidão, remergulhei de novo no ar puro dos Boulevars a fluir para os Campos Elísios, despegado da crosta da grande urbe para me ressurgir mais humano.
Pude nesse então, reparar nas muitas mulheres caiadas a pós de arroz como sepulcros, com a podridão de postiças expressões, arranjadas com pompas nos peitos alteados e dorsos redondos; os mais velhos olhando de soslaio as imagens translúcidas e obscuras no reflexo das vitrinas. Mas, que tão belas maneiras de Eça de Queirós descrever em jeito tão adocicado, tão leitosa, tão pomadadas de neve, como ele diz à “la Vanille”…
Uma descrição que me penhora até as unhas enxovalhadínhas. Na gratidão desta leitura rejuvenesço-me entre a natureza como também por ali andasse como um Grão-duque robusto e possante, metido num jaquetão alvadio e chapéu tirolês de suave cor de mel. Naquela vasta alameda entre a indiferença e a pressa da cidade, senti uma vaga tristeza de minha fragilidade, minha solidão.
Discretamente perdido num mundo nada meu, por mais aflitamente que a minha face revelasse, ninguém em sua pressa pararia para me consolar. Com uma igual tranquilidade de Eça também eu, se fosse um santo, aquela turba pouco se importaria com a minha santidade. Em muitos aspectos, pouco mudou desde esse então a cento e dezasseis anos, a comparar aos dias de hoje.
Bibliografia: com recorte de algumas passagens do livro” A Cidade e as Serras” de Eça de Queirós.
O Soba T´Chingange
SONS CUSPILHADOS – Eu um Conde!? Nem disse que sim, nem que não… V
Por
T´Chingange
No natural relógio que marca as horas de todos os dias, na imobilidade pensativa adormecida nos rendilhados ponteiros biológicos e planetários, coaxo como as rãs, lânguidas com fios de doçura. O meu Deus, faísca-me com sorriso nos olhos resplandecendo seu sol sem chalrar descoroçoadas farripas. Sobre o volume da sombra de penas frisadas com uma sensação estranha de macio e fino, subi a avenida dos Campos Elísios até que a noite desceu electrificando-se no Arco do Triunfo recordando triunfais entradas dos vencedores exércitos, ora dos Alemães, ora dos Aliados com seus muitos mortos fantasmados de guerra mundial.
O Arco do Triunfo (francês: Arc de Triomphe) é um monumento, localizado na cidade de Paris, construído em comemoração às vitórias militares do Napoleão Bonaparte, o qual ordenou a sua construção em 1806. Inaugurado em 1836, a monumental obra detém, gravados, os nomes de 128 batalhas e 558 generais. Em sua base, situa-se o Túmulo do soldado desconhecido (1920). O arco localiza-se na praça Charles de Gaulle, no encontro das avenidas Charles de Gaulle e Champs-Élysées. Nas extremidades das avenidas encontram-se a Praça da Concórdia e na outra La Defense.
Nesta fase de viagem no tempo só estava a sessenta e nove anos deste dois mil e catorze, recolhendo bocejos, agouros da crise e epidemias assustadoras ou avassaladoras. Maçadas amargosa dum fim-dos-tempos! Prevendo todos esses estados com gestos, desde o trágico até ao pícaro, relembro castiçais arcaicos dos científicos tempos, comparando-os aos jorros de luz deste Arco do Triunfo, tornando a vida lavrada em cristais, escorregadiça. Bendito seja o dinheiro! Vive La France! Ia eu nestas deambulações, quando sou perturbado por um distinto senhor de fraque e bengala com filigranas dourados: - Meu caro Conde, por aqui a estas horas? Tendes alguma perturbação? Este dito senhor passeava seu minúsculo cachorro coly-chiuauá peludo, que não me largava a perna, farejando fungos. – Eu sou Conde!? Não disse que não nem que sim pois que me pareceu tê-lo visto com o meu príncipe Dom Jacinto nos científicos gozos do teatrófone.
Sem explicação sapiente dei-lhe conhecimento que andava a tomar ares e, lá segui na direcção oposta dissecando pedaços de vida ainda quentes. Num aperto de mão mole e vago, segui questionando-me se este petulante janota seria o marido ou o amante daquela Dona Antonieta, a vaporosa senhora que emperrou o teatrófone; essa tal que usava e abusava da influência de Dom Francisco para tirar dividendos da Companhia das Esmeraldas da Birmânia empresa de milhões e, na qual era presidente. Estou a vê-la faiscando no sorriso, nos olhos, nas jóias em cada prega das suas sedas cor de salmão; a macia criatura batendo o leque, muito chique! Ainda só vou na página vinte e um da Cidade e as Serras do Eça e, já me sinto enfadado destes salamaleques exacerbados.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
SONS CUSPILHADOS – Entre minudências de há cento e dezasseis anos atrás … II
Por
Eram sete horas e trinta minutos quando apartei as cortinas aveludadas para admirar o ar e a luz do Senhor que na forma de sol terá despontado lá pelas seis horas; com um alegre som de pombas arrulhando, os pintassilgos e melros chilreavam fariscando pétalas de flores primaveris, jarros, tulipas e papiros mais a folhagem indistinta atulhada de rastejantes bichezas. As íbis com seus compridos bicos sugavam da grama minhocas, enquanto gemidos de rolas com sopros de bufos escondidos algures, se encadeavam com o tic-tac dos chuveiros rotativos que junto à ponte do pequeno lago rodava com a força da pressão de água.
Já na esplanada frontal de minha provisória “maison” leio o trote das éguas nobres e lustrosas com que Eça de Queirós sobe a avenida dos Campos Elísios soprando o fumo de sua cigarrette pelas vidraças abertas do coupé; imagino que se encontra numa fila de coches e carruagens entaladas entre esses trens de luxo com relinchos de cavalos stressados chispando ferragens naquele engelhado e pedregoso piso e ainda o tilintar de freios e areias esmagadas com salpicos de bosta.
Posso apreciar os bocejos de fartura de todos aqueles barrigudos com hálito de conforto e falas de rangentes filosofias dando ordens agrestes a seus enfarpelados cocheiros; todos muito bem aperaltados e assentes em almofadões amarelados com pregas de cetim e lantejoulas enroladas. Com suas barbichas de renascença e monóculos em olhos macilentos, ilustres e bafejantes homens de negócios da Boulevard cheios de muitos ventos neoplatónicos, posso descortinar as minudências de à cento e dezasseis anos atrás, um tempo de cartolas e rostos com barbas talmúdicas e patilhas farfalhudas.
(Segue…)
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
“A crise vista aos nove anos”
Lara e o rato Mikey
O meu iphone toca. É o senhor Pedro Passos Coelho a dizer-me que precisa falar comigo; necessita da minha mágica para ajudar a crise. Fui ter com ele a Lisboa e perguntei-lhe qual o truque de magia queria que eu fizesse. Ele quis saber se eu podia saltar o tempo. De repente fiquei no meio de muitos sapos saltando na água escura dum pântano. E havia um jacaré grande a correr atrás de mim. Eu corri, corri e, quando o bicho estava quase a pegar-me acordei aflitinha com a bochecha molhada. A minha gata princesa estave a lamber-me a cara para eu acordar.
Fim
O sonho tatuado
A sociedade actual tão ferida por notícias persistentes de costumeiras anomalias doentias, tem necessidade de recorrer ao subconsciente numa ação de cura, para uma melhor autoestima; o sono controla o emocional nos grandes ou pequenos ferimentos de emoções destemperadas ou mal aceites. Lara, a minha neta, através de si própria, salta numa lama de corruptas vivências apercebendo-se que algo vai mal no mundo real. Triste sina a desta geração. E, como vão poder saltar no tempo se há um tão grande abismo pela frente. Como estória de Natal, no sonho da minha neta não ouve exigências de bola de cristal, varinha de maga ou tapete voador conduzido por pirilampos; voou num ápice nas ondas artesianas de um desejo ondulado, sem consumir, sem poluir, sem alterar o ozono estratosférico.
O flamingo . Oferta do avô (de sua autoria)
Como sonho infantil, Lara, navegou nesse mundo etéreo da inocência sem se aperceber das verdadeiras realidades. Um dia mais tarde irá relembrar esse encontro de fingir como o do Harry Potter, numa nave menos fantasiosa da vida. Lembrar-se-á de quando o avô lhe contava a vida perturbadora da sua meninice alimentada a feijões com couves lá nas entranhas da beira, uma floresta de pinheiros em que se fingia ser mágico ou bruxo montando numa vassoura de giesta ou piaçaba. Os sonhos de agora têm vassouras de titânio, tecnologia varredora de ponta com magnetofónica fosforescência; sensores encavalitados em ondas extra-curtas sugadoras de lixo, ecologicamente testadas.
Seria uma destas vassouras que eu pediria a Pedro Passos Coelho para usar na limpeza da Assembleia botando os imprestáveis deputados pró-olho da lixeira. È preciso.
O Soba T´chingange
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
2º encontro com JANUÁRIO PIETER - 1º parte
LOUVRE . PARIS
Como uma toupeira, o autocarro entrou ao lado da "Portes des Lions" na "Quai des Tuileries" lado a lado com o rio "La Seine", furou a cave dando voltas até que estacionou nas catacumbas de "autobuses"; Três niveis abaixo da superfície do museu do Louvre saí do autocarro. Teria de subir aos pisos superiores para comer uma refeição ligeira porque o tempo disponível não dava para muito mais. Paris,...sempre a correr.
Saí na rua Rivoli, atravessei-a e, quase em frente, no número 176, tomei assento no Rivoli caffe.
Pedi duas "sand poulet" e uma "bierre de 50 cl". Abocanhei a dita cuja com prazer incomum quando senti no ombro uma mão escaldante. Surpresa minha; ao virar-me deparo com o kota Pieter, o mesmo de Jabelines, filho do Mafulo Lestienne de Luanda.
Saudei-o com a deferência de quem vê pela segunda vez uma assombração kianda e, convidei-o a se sentar.
O kota Pieter desta vez estava muito mais colorido não parecendo o mesmo taciturno senhor do banco de Marne em Loisir. Usava uma gravata sobre camisa liláz destoando dos compridos calções às florinhas num descolorido amarelo práfrentex; a meio da tíbia o atilho vermelho das calças apertavavam os gémeos peludos . Nos pés tinha umas sapatilhas feita às tiras; estas furavam o pneu michelim apertando o dedão aos tornozelos duma forma que só os Massai do Kénia sabem usar. O seu dedão, entre a carne e a unha, via-se exageradamente grande pois que a micose encortiçada entalava-se ali, grosseiramente. Aquele era o verdadeiro pé dum leão da anhara feito gente de Massai-Mara com trezentos e oitenta e quatro anos.
Pieter vinha visitar o museu do Louvre pois estava na peúgada de uma remota informação quase fidedigna de que alí iria encontrar um quadro de largas vistas estando seu pai Lestienne nessa composição bucólica; Era um conjunto de serviçais que faziam os preparos preliminares às caçadas dos veados, tomavam conta dos cães e dispunham bancos junto às cavalgaduras para que as damas repletas de saiotes podessem pular de lado e, assim se segurarem à cilha do quadupede.
Esse alguém fidedigno informou-o que seu pai, o françês de olho azul do "Pays des Landes" durante algum tempo esteve às ordens do rei Luiz qualquer coisa e, nessa tela podia lêr-se o nome da terra em uma placa, "Bonneval, du bois de chievre,Vallee du Loir".
Interessante, o kota Pieter referia-se a um sítio por onde eu, nos próximos dias, iria passar.
Como relator deste acontecido, recordo qe Pieter anda à busca das origens de seu pai Mafulo, mercenário às ordens indirectas de Mauricio de Nassau, instalado em N´Gola, Luanda. Era tenente do exèrcito Olandês e passou a pertencer às forças Tugas de Salvador de Sá e Benevides quando da reconquista de Luanda. Leiam as crónicas anteriores para entender o embrólio de hà trezentos e oitenta anos para tráz
Continua......
O soba T´Cingange
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
MEMÓRIAS PETREFICADAS – 4ª parte
O MUNDO DA DISNEYLANDIA . PARIS
E, Januário Pieter continua:
- Tudo era diferente naqueles tempos (tomara!...). Um dia meu pai teve de ir com os Olandêses atacar Massangano e ficou por lá muitos dias até que no dia de 15 de Agosto de 1649, soubemos dias depois Luanda tinha sido de novo reconquistada aos Olandeses Mafulos por um senhor vestido de ferro, com barbas grandes; se chamava Salvador Correia de Sá e Benevides.
- Os Mafulos renderam-se pensando que os Tugas n´gwetas eram em grande número quando em realidade tinham só quase a metade deles, sem contar com o contingente que tinha ido atacar Massangano no qual estava meu pai Lestienne.
- Meu pai, quando regressou da guerra do mato despediu-se dos Mafulos que foram expulsos de N´Gola. Alistou-se no contingente de tropa Portuguesa, tinha eu então, 23 anos de idade, já estava alambado e tinha dois filhos.
Foi o encontro mais fantástico que ocorreu na minha vida, ali bem perto das cinzas dum homem chamado de Napoleão que fez alterar a ordem no Mundo Europeu repercutindo-se a todos os outros continentes.
Benevides o Luso da Bahia, tal como Napoleão, alterou o futuro de dois continentes e, tudo começou com a criação de São Paulo de Assunção de Luanda.
Ao despedir-me, o Kota Januário segredou-me que já estava farto do Mundo; apetecia engoli-lo, mas antes, queria sentir a sensação de voar como um pássaro e abraçar um avião igual a um daqueles que se alinhavam por cima de nós.
Com Januário, a cidade de Paris ficou com mais luz mas, foi dizendo que a Lisboa do Puto, tem mais sol e Luanda, mais calor.
Tudo acabou como começou, como um suspiro,... como um ai.
Glossário:
-Kota: mais velho; -N´Gola: Angola; -N´Ga: Senhora, Dona; -Tugas: Portuguêses; -Kianda: espírito das águas, feito homem, espírito do Adamastor; -N´Zimbos: conchas, moedas de troca; -Axiluanda: natural da ilha de Luanda, da Mazenga; -Mabanga: bivalve, ameijoa grada; -Kimbanda: médico tradicional, curandeiro e, às vezes feiticero; -T´Chingange: espírito feito homem, zelador dos bons costumes na tribo, guardador do tesouro; -Jagas: chefes guerreiros; -Mafulos: Holandêses, Olandêses; -M´fumos: chefes de circunscrição; -Malavo: vinho de palmeira cassoneira, marufo; -Mwana-pwó: gente branca e poderosa ida do Puto, colonos; -N´Gwetas: brancos no geral, N´dele; -M´Bicas: escravos, peças de venda; -Candengue: petiz, menino, rapazote, pivete; -T´chimbicando: acto de remar com bordão em zig-zag; -N´dongo: canoa; -Quitoto: bebida fermentada; -Kaluanda: natural de Luanda, Kamundongo; -Moamba: prato típico com farinha de fuba ou milho acompanhado de galinha em óleo de palma; -Kimbíjis: Peixe espada; -Cachuxo, (caxuxu): Peixe vermellho tipo red fich; -Mateba: atilho retirado da casca duma palmeira, fibra resistente para atar chinguiços (paus); -Arimo: plantação, lavra na plataforma junto ao rio, n´haca, horta; -Alambamento: casamento por contracto entre familias, união de facto sem papel passado, juntos.
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
MEMÓRIAS PETREFICADAS – 3ª parte
- Os pombeiros e sua tropa ficavam fora por meses, por lá, nos matos da Lunda, Caconda, Quilengues, M´bundo, Ambaca e Lueji; estes são os nomes de que ainda me lembro.
Faço aqui uma pausa ao linguajar de Januário Pieter para fazer referências de acontecidos não referidos por ele e, que a mim, na qualidade de relator compete complementar.
Em Angola, os Holandeses enquanto por lá se mantiveram, só o fizeram junto à costa mantendo o grosso do contingente na fortaleza de São Miguel da Mazenga em Luanda e um pequeno contingente mais a Sul num pequeno forte que construíram na foz do Kwanza. Deste forte vigiavam as entradas naquela embocadura mas, nunca conseguiram consolidar uma governação efectiva. Aquilo era um pavor para os g´wetas Mafulos que morriam em grande numero com paludismo; os mosquitos foram em realidade os maires inimigos destes colonizadores ao ponto de mais tarde se chamar à região do Sumbe o cemitério dos brancos. Ainda se estava longe da descoberta do quinino e os kimbandas recorriam a chá de folha de liamba e umas outras árvores que só eles conheciam.
Os Portugueses levados ao abandono pela governação dos Filipes e porque estes eram inimigos permanentes dos Holandeses, resultou nas tomadas de várias possessões em África e América. Tiveram de se organizar por meio próprio sem recorrer ao Puto e, em Angola, tiveram de se refugiar no forte de Massangano por eles construído. Nesta praça forte, bem armados, nunca chegaram a ser vencidos mesmo tendo como inimigos os reinos da Matamba, do Kongo e os Mafulos. Por desbaratarem as forças muito superiores em gente, da rainha N´Zinga junto ao rio Lucala este forte foi chamado de Nossa Senhora da Victória de Massangano. Os maiores aliados dos Tugas eram os Jagas guerreiros dos Dembos que alinhavam enquadrados com as tropas Portuguesas vestidas de ferro em cima de cavalos; O Cazumbi dos padres em seu pensar, eram talvez o grande motivo desta aliança, crenças de superstição que ainda hoje persistem; A cruz de Cristo foi desde tempos imemoriais a grande fé que levou seus fieis a grandes vitórias. As guerras de kwata-kwata eram enquadradas por guerreiros dos Dembos distinguidos e enaltecidos pelos Tugas.
Muitos filhos de Sobas, Manis e M´fulos subiram na escala social s com os cargos de zeladores de arimos e n´nhacas ou mandados ao Puto para estudar a arte de fazer chuva, saírem padres ou militares-cipaios, auxiliares na guarda de locais administrativos.
Por os índios do Brasil não terem aptidão para o trabalho, os Tugas recorreram à pratica de fazer escravos entre as várias tribos feitos nas sucessivas guerras de África para os enviar ao Brasil, mão de obra no amanho das plantações de cana, sisal, algodão, cacau e café. Franceses, Holandeses, Ingleses e Espanhois seguiram este procedimento nas várias colónias como o Haiti, Costa Rica, Honduras, Curaçau (Coração em Português), Cuba, Guaianas, países do Caribe, Suriname e tantas outras regiões tropicais. Os Estados Unidos da América foram dos últimos a usar a escravidão degradante de negros na apanha do algodão, trato que só acabou depois da grande consternação e repúdio do Mundo pela actuação do Ku-Klux-Klam.
O Mundo moderno partiu da convulsão Social Francesa com a tomada da Bastilha por populares revoltosos que levaram à guilhotina Maria Antonieta e o rei Luís XVI. Desde este centro do Mundo de Paris espande-se o grito de liberdade e conhecimento a ideologias que paulatinamente foram chegando a todos os cantos da Globália.
Volto de novo a enternecer-me às palavras do velho Januário, coisa por demais antigas e gelatinosas que num rapidamente se tornam pedras de estalactites.
Nós, ele e eu, estávamos numa verdadeira gruta, também feitos pedra. Só levantados numa teimosa precaridade; fugindo de tudo e de todos para fazer o tempo passar e esquecer o inesquecível. Ali, nós, eramos as estalagmites.
Quem é que passados 384 anos, está interessado em saber dessas estórias tão cheias de silêncio, esquecendo por querer ou sem raiva de lembrar, sem ferocidade no paladar.
......Continua – 4 ª Parte (última) ......
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
MEMÓRIAS PETREFICADAS – 2ª parte
Aqueles m´fumos, eram emissários da rainha N´Zinga M´Bandi da Matamba e do rei do Kongo Garcia II que, embora sendo cristianizado pelos Portugueses, com eles se desentendeu após a chegada dos Olandêses pois que, estes lhes prometeram mundos e fundos. Eram preparativos duma união para fazerem o grande e final assalto a Massangano. Naquela fortaleza os Tugas resistiam aos Olandêses tapando-lhes as vias de comunicação ao mercado de escravos lá do interior, o mato de que estes Mafulos tinham tanto medo.
Os Mafulos, a todo o custo, queriam manter o negócio das peças m´bikas pois que Pernambuco estava carente de braços para fazer o cultivo da cana de açúcar e fazer andar os engenhos, por isto, mantinham com os Portugueses um quase pacto de negócio mantendo-os como principais fornecedores de peças. Eram as ordens que vinham do Conde Maurício de Nassau a partir de Olinda. A política comercial da Companhia das Índias Ocidentais... o lucro.
Interrogando-me de como era possível aquele velho manter-se tão lucido, agora, um pouco mais refeito da surpresa, resolvi perguntar-lhe como é que seu pai estando do lado dos Olandêses se dava tão bem com os Tugas ao qual, me deu resposta.
- Em verdade, o meu pai que já era tenente (isto já o tinha dito,... uma repetição admissível para um kota tão velho) para além de militar mantinha um negócio de venda, peles, mel, fabrico de cal e peixe seco em salga própria. Por tudo isto não via com bom jeito estrangular o negócio dos Tugas que como ele eram cristãos n´gwetas e parceiros já com algum tempo. Minha mãe N´ga Maria Káfutila de linhagem nobre do reino do Kongo ajudava meu pai na quinda do mercado da paliça vendendo malavo e quitoto ou permutando com os indígenas ou n´gwetas produtos da terra como ginguba e fuba de mandioca. A fuba originava um prato apetecível chamado de funge, um preparo a partir da mandioca. Mais tarde começaram a fazer uso das folhas do pau de mandioca que era passada por cinco fervuras para anular o veneno da coisa e a isto chamaram Saka-saka que impregnada de azeite de palma deu origem ao prato mais típico dos Kaluandas, a moamba. Foram os Portugueses que a levaram do Brasil mas além de tudo isto, havia espelhos, jinguba, catanas, tesouras, ancinhos em ferro e muitas outras bugigangas e utilidades modernas que chegavam do Puto, da Bahia, Pernambuco ou Antuérpia. Os Libongos, uns panos garridos eram os mais apetecidos pois permitia vestirem-se, uma coisa quase inusitada e a que os sobas recorreram como moeda de troca em substituição das conchas de n´zimbos, moeda já de pouca utilidade prática.
- Uma grande novidade era o uso de sapatos feitos em couro de tiras entrelaçadas, e que mereceu atenção especial por parte dos kamondongos alforriados que passaram a proteger seus gretados pés.
- Os Portugueses e Jagas dos Dembos, Kissama e Manhanga eram os principais clientes da família Pieter conferindo-nos um afecto especial de amizade
- No decorrer do tempo, fui ficando mais kota e meu pai ordenou-me que ficasse a tomar conta da salga e seca de peixe seco ajudando nas contas o capataz, cafuzo da Mazenga de nome Beto Feliz mas, um pouco matumbo. Os pescadores saíam nos n´dongos a pescar, dia sim dia não; apanhavam kimbijis, carapaus e caxuxos que eram depois escalados em mesas compridas feitas de paus espetados na areia e ligados com ataduras de mateba; depois passavam para umas celhas de salmoura aonde ficavam algum tempo sendo depois levadas em quindas para outras mesas aonde permaneciam ao sol até ficarem com alguma dureza. Após todo aquele processo, uma parte era posto à venda na loja da mãe Maria e uma outra, era enfardado com atilhos de mateba ou piteira e guardadas em uma casa até que os pombeiros e suas tropas o levassem. De tempos a tempos organizavam saídas ao mato formando filas enormes com m´bikas transportando à cabeça esses fardos pesados além de outras mercancias como panos libongos e aguardente do Puto a serem trocados por escravos.
......Continua – 3ªParte ......
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
MEMÓRIAS PETREFICADAS . 1ª PARTE
Januário Pieter, de corpo frágil, carregado de maleitas e reumático, justificava a existência alongando-se mais para além do previsível; solitário, a única coisa que lhe sobra avondo é a memória, uma porta aberta aonde o passado entra sem uma ordem cronológica como sonhos que se baralham e desfazem entre nuvens cirrosas.
Com devaneios de velho perene, diz que em tudo pode pensar e, de tudo pode falar sem os caprichos de legitimidade na sua vida, agora que está no momento mais próximo de a deixar. Um agora suprimindo o tempo e, sem retorno.
Jablines-Annet, Ile de France em Seine e Marne, a trinta e cinco quilómetros de Paris. Ali estava este velho senhor, sentado, embevecido entre cânticos de pássaros e gemidos de rolas na clareira dum bosque de frondosos e altos choupos e plátanos. Olhava o ar riscado por aviões saindo de Orly a Sul e, que em fila, cortavam as nuvens num céu baço em mês de Julho.
Num pandemónio de interjeições apercebi-me que aquele velho mulato, gargarejava um português arcaico, do tempo dos arcabuzes entremeado com dialeto Kimbundo. Apurei melhor o ouvido e pude perceber que falava dum lugar por demais longínquo, do mesmo lado de onde vinham os aviões. Puxei conversa e, ao perguntar-lhe a idade fiquei confuso, tinha trezentos e oitenta e quatro anos, acrescentando ter nascido num lugar agora conhecido por Cabo Ledo mas que nesse então se chamava de Kissama.
Encantado e estupefeito, simultâneamente, ouvi a crioulagem do velho senhor; aquele linguajar tinha algo a ver comigo. O kota Pieter veio até aqui na peugada da sua própria estória, descobrir a origem de seu pai francês, olho azul que daqui saiu como mercenário aventureiro juntando-se aos flamengos que o levaram primeiro para o Brasil e, depois para as terras de N´gola aonde conheceu minha mãe N´ga Káfutila. Tinha saído à aventura do seu torrão natal “Pays des Landes” e, sempre com o sentido de fazer riqueza fosse aonde fosse, fugiu da alçada de seu pai com a idade de “quinze annés” até á costa do Atlântico e, no porto de La Rochelle embarcou como aprendiz de marujo acontecendo que no porto de Amsterdam foi aliciado a cruzar os mares pago pela Companhia das Índias: Este empório tinha a finalidade de fazer riqueza aonde quer que fosse nesses novos mundos, tão vastos, que seus descobridores Tugas e Espanhois, não tinham como os controlar. Espanha e Portugal tinham agora um potencial concorrente na disputa de um tratado feito em Tordesilhas; o explendor da Ibéria com a conivência do Papa estava condenado ao desrespeito por novas potências emergentes por novas fusões de reinos e ambições dos novos senhores do conhecimento.
Era o máximo de um sonho,... uma kianda.
Belisquei-me para ter noção de estar vivo e, doeu-me, logo, estava vivinho da costa e,... falando com alguém do tempo dos n´zimbos, libongos, das guerras de kwata-kwata e dos jagas guerreiros.
Penso,... este kota é uma kianda antiga, só pode ser!... e, deixo-o falar narrando coisas do antigamente, da sua vida, mambos longínquos com soldados Mafulos, ondas revoltas da embocadura do rio Kwanza, a praia distante, guerras confusas com Tugas n´gwetas e gente da rainha N´Zinga, com baços personagens secundários do distante Kongo do Zombo, de terras de Kassange e da Matamba.
Pieter, o velho axiluanda, vai falando:
- Um dia, eu, com catorze anos, marisquei mabanga na Samba e, por ali passei uns dias por ordem de meu pai Lestienne Pieter, Francês do Pays des Landes. Juntamos muitas cascas e lenha fazendo um grande monte, queimamos a lenha e cobrimos com areia molhada. O monte, três dias depois, ficou num pó branco.
- Na sanzala houve festa; kimbandas e t´chinganges pintaram-se com aquele pó. Pisotearam em dança a terra e, levantando poeira encorajavam kotas, jagas, sobas e m´fumos que iam chegando em alvoroço dos Dembos e um mais além do Kassange. De mão em mão iam passando cabaças com malavo de cassoneira e a cada grito dado pelos dançarinos guerreiros o povo gritava kwata mwana-pwó, kwata mwana-pwó. Era a preparação duma guerra contra os Tugas n´gwetas refugiados em Massangano.
Pieter explica:
- Meu pai era um soldado às ordens dos Mafulos que estavam na posse de Luanda; Tomava conta da manutenção, apetrechamento de viveres e materiais de construção como aquele pó branco que não só pintava caras de guerra como cubatas de brancos. Nestas casas cobertas a capim, as paredes eram feitas em barro afagado com uma mistura de argila, capim e aquele pó a que os n´gwetas chamavam de cal.
- Em verdade, o meu pai que já era tenente, mandava os escravos m´bikas do kimbo fazer estas tarefas de queimar cascas de mabanga para fazer cal e eu, candengue, por ali andava entretido t´chimbicando em n´dongos entre os mares parados da Corimba e o Morro dos Imbondeiros. Hoge têm nomes de Fotungo, Belas, Barra da Lua e Veados.
......Continua.....
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