FÁBRICA DE LETRAS DA KIZOMBA – “SONHAJANDO A VIDA”
TEMPOS CUSPILHADAS – Crónica 3402 – 24.05.2023
- ATÉ CHEGAR AO PARAISO, TIVEMOS O PURGATÓRIO…
Por: T´Chingange (Otchingandji) – No Bom Concelho de Pernambuco
Li algures de que a mortificação do corpo acontece para superação do espírito. Se para os cristãos ir desde longe para Fátima será sempre por uma promessa em troca de um benesse que se concretiza, uma cura, um milagre de mudança, uma esperança que se realiza. Os muçulmanos também necessitaram de inventar que Nossa Senhora era filha de Maomé. Anos a fio andei tentando seguir a pé pelos caminhos conhecidos até Santiago de Compostela mas tal desejo sempre se vetou ao esquecimento na hora que nunca surgiu.
Já fui de carro várias vezes a Santiago, mas não será de nenhum valor acrescentado o facto de ir na comodidade de um carro. Até fui lá no dia 25 de Julho, dia da consagração de São Tiago que calhando a um domingo, a porta santa da Catedral é aberta excepcionalmente nesse ano; foi o caso do ano de 2010. Juntei-me assim a histórias de cavaleiros Templários, um misto de religiosidade e desafio, buscando o autentico de si mesmo num percurso de estilos romântico e gótico, como um monge beneditino cruzando montanhas, rios, cidades e bosques de pinheiros, faias e trigais só em pensamento.
Recordar a Catedral de Santiago de Compostela aonde desde a idade média se juntavam peregrinos idos de toda a Europa. O Bota-fumeiro gigante balouçando no átrio principal-altar da Catedral, que era nem mais nem menos para fazer desaparecer o cheiro nauseabundo que acompanhava os viajantes. Hoje, não podemos imaginar o fedor que soprava então por entre aqueles antigos prédios das muitas cidades, do estrume acumulado nas travessas, becos com matilhas de cães mordiscando restos como se abutres fossem.
Também das centenas de carroças despejando toneladas de excrementos que por ali iam sendo pasto de milhares de moscas com milhões de bactérias. Pois foi assim que fizemos no chegar ao sítio da xácara do Senhor Ferreira, um homem que a vida curtiu entre bizarrias de superstições misturadas com aflições; e desta feita, eu, Arrais de Bustos e Ana de União dos Palmares, terras de Zumbi, da nação de N´gola lá no Morro dos Macacos numa serra chamada de Barriga. Agora a descrição passa a ser dele a relembrar seus artigos de antigamente com o nome de Arico Siarra:
COMO TRANSFORMAR UM Fim-de-semana NUMA EXPERIÊNCIA INESQUECÍVEL! - Tenho consciência de que escrevo este texto um tanto ou quanto húmido de tanta garoa (cacimbo). Por isso, concluo a recomendar que cada um o leia com o humor possível, já que a nós, nos bastam nossas roupas molhadas, os buracos e as lamas rupestres mas, as estrelas vão com prazer para a tão dedicada hospitalidade de Aldaide e António, pais de Quitèria. Pois, neste fim-de-semana (de 19 a 22/04/023) fomos até um município de Pernambuco divisa com Alagoas – “O Paraíso”…
Se tivéssemos ido por União teríamos demorado menos mas, tivemos que ir por Arapiraca, a fim de pegarmos uma pessoa da família que visitamos, o que nos exigiu mais tempo. Foi uma viagem muito desafiante. Destino? Cidade de Bom Conselho. Do centro daquela cidade até o sítio de nossos anfitriões, demoramos uma hora a chegar. Existem apenas quatro casas: moram lá, pais e filhos. Alto da montanha e, sempre subindo, sempre resvalando.
Faltou pouco para chegar ao céu! Passamos em seis porteiras por via da criação de gado pastando por lá. Depois que passamos a antepenúltima porteira, o carro começou a derrapar na bosta do gado e argila e parou. Tivemos que carregar nossas atrangalhas (bikuatas, tralhas) às costas, uns 800 metros de subida com o chão todo bosteado... E, tome chuva! Nunca pensei viver tão dignificante experiência pingando que nem um pinto no baptismo.
Nem sei, como agradecer esta oportunidade de podermos avaliar toda a nossa capacidade de resistência física e mental, com chuva durante três dias e duas noites (o diluvio). Sem dúvida nutrimos a certeza de que teremos condições de viver ainda bons anos, sem percalços fatais! Para a impecável hospitalidade encontrada, nota mil e um.... Conseguiram extrair água pura das pedras, para nos servir açucarada de cayena. Da parte de Deus, que a forneceu na forma de garoa cacimbada, um bem-haja para toda aquela família visitada a saber para além dos citados; Docas (o voluntário), e Francisco (o churrasqueio e bebedor de pitu) - filhos, assim como para com o nosso amigo Monteiro T´Chingange o coordenador-mor, desta desafiante aventura
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T´Chingange (O Zelador-Mor do Zumbi de N´Gola)
A SAGA DO AÇÚCAR – AS AGRURAS DE OLINDA COM OS MAFULOS
FÁBRICA DE LETRAS DA KIZOMBA
Crónica nº 3305 de 19.05.2022 – Republicação a 26.1.2022 em Lagoa do M´Puto
Por T´Chingange (Ochingandji) – Em Arazede do M´Puto
A figura pública de Figueiroa, revista como herói na tomada de Pernambuco - Brasil
Matias de Albuquerque, 1° Conde de Alegrete, nasceu na Vila de Olinda, sede da Capitania de Pernambuco, no Estado do Brasil, da qual seu irmão era donatário, na última década século XVI.
Em tempo de D. João IV. Este monarca, deu ordens a Figueiroa que recrutasse 500 infantes da ilha da Madeira e Açores para tal envolvimento militar em terra de Pernambuco… Determinou aos oficiais de primeira linha fidalga, que “a gente vadia, ociosa, e de pouca utilidade à Coroa, fossem arregimentadas e levados à luta do Brasil” porque “ He grande o aperto e necessidade daquelle estado”. Convém dizer-se que não é verdade que o reino se tivesse esquecido dos revoltosos de Pernambuco; o que sucedeu foi de que não se tinha reunido toda a diplomacia para ter sucesso e só reactivou à pressa após Inglaterra* ter declarado guerra à Holanda.
Aqui D. João IV actuou rápido em força e a todo o custo sobrecarregando o povo em taxas de guerra adicionais. O açúcar fazia-lhe falta para custear tudo isso e ainda salvaguardar as fronteiras Ibéricas da impetuosidade dos vizinhos Castelhanos. Em 1647, Francisco de Figueiroa chega à Bahia. Em 4 de Agosto de 1648 reúne-se às tropas sob o comando de Francisco Barreto de Pernambuco e, é a 19 de Fevereiro de 1649 que toma parte na segunda batalha de Guararapes com o posto de Mestre-de-Campo do seu terço de guerra.
Francisco Barreto, após aquela grande batalha, escreveria ao rei a 11 de Março de 1649 enaltecendo os três Mestres-de-Campo, Vieira, Figueiroa e Vidal da seguinte forma: - “Procederão com tão assinalado valor que depois de Deus, foram eles a causa de alcançar vitória pelo que merecem as mercês que justamente podem esperar tão “leaes vassalos”, por seus merecimentos”.
Figueiroa, tendo sido soldado, capitão, almirante, governador de Cabo Verde, ouvidor em Angola e Mestre-de-Campo na batalha de Guararapes, por rogo seu foi designado de fidalgo com a comenda da Ordem de Cristo depois das formalidades das “provanças” para a sua admissão na Ordem de Cristo e, após a consulta da Mesa da Consciência e Ordens o ter aprovado a tal merecimento. Coisas tiradas a ferros, sabe-se lá do porquê!
Recorde-se que em 1630, tropas mercenárias da Companhia das Índias Ocidentais invadem a capitânia de Pernambuco dominando toda a região do Nordeste do Brasil por vinte e quatro anos, ou seja, até ao ano de1654. Insatisfeito com a situação, os naturais da terra sob a liderança de João Fernandes Vieira, um senhor de engenho, nascido no Funchal, inicia em 1645 a reconquista do território devolvendo-o à soberania Lusa em 1654.
Em Olinda sede da Capitânia de Pernambuco governava Matias de Albuquerque; este, procurava concertar os esforços da defesa no porto de Recife só que, o General Mafulo Theodoro Waerdenburch, seguindo o plano traçado com os mandatários da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais, desembarcou suas forças na praia de Pau Amarelo a Sul do Recife num total de 3000 homens. Marchou sobre a vila de Olinda tendo vencido Matias de Albuquerque no combate de fogo à Vila de Olinda queimando nobres edifícios avaliados em milhares de cruzados.
Matias de Albuquerque, perante tamanha força, impossibilitado, e de coração esfrangalhado retirou para o lugar de Capiboaribe a uma légua de distância do Recife, fortificando o sítio com 4 peças de canhão e 200 homens de armas. Inicia-se assim a guerra da resistência pernambucana com a fundação da Arraial do Bom Jesus aonde permaneceram por cinco anos utilizando tácticas de guerrilha aprendidas com os indígenas (Índios da região)...
Naquele Arraial do Bom Jesus, compareceram com seus comandados, Luís Barbalho, Martins Soares Moreno, Filipe Camarão com seus índios e Henrique Dias com seus negros quilombolas resolutos a manter uma guerra de vinte e quatro horas por dia no espírito de todos com um sentimento nativista. Mas, entretanto há o revés de em Abril de 1632, Domingos Fernando Calabar, um mestiço cazucuteiro, dado ao embuste, com o desprezo dos demais, é acusado de contrabando, passando-se assim por acossado para o lado dos invasores Mafulos…
NOTAS: *INGLESES – observe-se aqui a interferência desta nova potência na Europa e Globália, estabelecendo regras de fiscalização DESDE ENTÃO aos demais países entre os quais PORTUGAL, que sempre manteve subserviente aos sus caprichos e, ao longo da história
(Continua…)
O Soba T´Chingange (Ochingandji)
RECIFE – A SAGA DO AÇÚCAR – TOMADA DE LOANDA PELOS MAFULOS
FÁBRICA DE LETRAS DA KIZOMBA
Crónica nº 3297 de 10.05.2022,em Arazede do M´Puto – Republicação a 17.11.2022 em Lagoa do M´Puto
Por T´Chingange (Ochingandji)
A figura pública de Figueiroa foi contestada quando ainda era governador de Cabo Verde mas, na saga Atlântica, como herói na tomada de Pernambuco, passou a ter uma forte ligação com a história…
Na sua relação com Angola, interessa descrever o seu trajecto de vida. A vinte e dois de Janeiro de 1639, Filipe III, rei de Portugal sob o domínio de Castela, nomeou Pedro César de Mendonça Governador e Capitão-General dos Reinos do Congo e N´Gola. Francisco de Figueiroa que já era um destacado homem, reivindicador de seu posto de fidalgo da corte, foi nomeado Almirante, o segundo posto depois do de General e simultaneamente Ouvidor da Colónia, um alto cargo nesse então.
Nesta expedição a terras de África embarcou como soldado António de Oliveira Cadornega que mais tarde, entre 1860 e 1861, se reactivaria a história das guerras Angolanas escritas por si, em três volumes da Agência Geral do Ultramar. As duas naus “Rei Dadid e Santa Catarina” chegariam a Loanda em 18 de Outubro desse ano de 1639.
No dia 30 de Maio de 1641, parte do Recife uma expedição de 21 navios comandada por Cornelis Cornelis Zonjil com 3000 homens, marinheiros Mafulos (Holandeses) e infantes mercenários de várias nacionalidades da Europa de então a soldo da Companhia das Índias Ocidentais, todos eles experimentados nas guerras de Flandres e Alemanha.
Estas forças de guerra tinham por objectivo tomar Loanda, ocupar N´Gola e dominar o mercado de escravaria da região, importante mão-de-obra para os engenhos de Pernambuco em seu poder. Ao largo da baia de Loanda, a 23 de Agosto desse ano, esta esquadra é avistada de terra, do lugar sobranceiro de fortaleza de São Miguel e parte alta do insípido caserio daquele esboço de cidade já com quase 4000 almas.
Os moradores com seus governantes, arraia-miúda de desterrados e escravos evacuaram a cidade levando os haveres possíveis, refugiando-se no arraial de Kilunda do Bengo. Esta fuga teve redobradas dificuldades por terem à-perna os nativos descontentes flagelando os mwana-pwós e o governador Pedro Cézar. Este governador tinha-se revelado um homem de má índole, inepto no mando de gente e detendo haveres por corruptas e enganosas tramóias.
No dia 25 de Agosto de 1641 os Mafulos com toda aquela gente de olho azul, vestida de ferro, tomam posse de todo aquele caserio e fortaleza sem grande contratempo. Na manhã de 17 de Maio de 1643, dois anos depois, os Mafulos, contrariando acordos de relação comercial dúbia por parte de alguns portugueses, atacam por isso mesmo, de forma inesperada, o arraial do Bengo.
A usura do governador Pedro Cézar tinha transbordado em traquinices resultado daqui a morte de alguns dos defensores. O próprio governador e o Ouvidor Francisco de Figueiroa foram presos e levados para Loanda. Estes “ilustres desclassificados” na visão de pontos de vista dos cronistas de então, foram embarcados para o Recife; estes, com mais alguns destacados comerciantes negreiros, compraram a sua liberdade a troco dos seus baús carregados de jóias, ouro e património de indevida apropriação à igreja e seus pares, ricos negreiros não colaborantes.
A soltura de Figueiroa ficou-lhe em mais de 15 mil cruzados pelo que, pode assim regressar ao Brasil tendo-se instalado em Bahia de todos os Santos por algum tempo. Figueiroa regressa à Madeira em uma escolta de navetas a cinco navios que regressavam da Índia aportando no Funchal para reabastecimento. D. João IV, tendo notícias de que a holanda preparava uma armada destinada a reforçar as guarnições holandesas de Pernambuco e Bahia; sabendo disso, deu ordens musculadas para que Portugal enviasse tropas de infantaria para tais destinos pois que se estava a tornar demasiada tardia a ajuda solicitada por Pernambuco. Em Lisboa formaram-se 100 infantes em 2 caravelas; no Porto, outras tantas de Viana do Minho, Aveiro, Algarve, e Setúbal. Ao mesmo tempo dava ordens a Figueiroa que levantasse 500 infantes da ilha da Madeira e Açores para tal envolvimento militar…
GLOSSÁRIO: Mafulo: - Holandês em dialecto kimbundo de Angola
NOTA: A reconquista de Angola virá logo a seguir, pois que foi do Recife que saiu Salvador Correia de Sá e Benevides com uma frota de naus, que libertou Loanda do jugo Mafulo - * Pode agora entender-se a importância destas ligações entre a Metrópole, Brasil, Ilhas Atlânticas e Angola… Factos quase desconhecidos no mundo português da aqui referida Globália…
(Continua…)
O Soba T´Chingange (Ochingandji)
RECIFE – A SAGA DO AÇUCAR
FÁBRICA DE LETRAS DA KIZOMBA – 19.04.2022 na Pajuçara de Maceió, de Alagoas – Brasil – Republicação a 03.11.2022 em Messejana do M´Puto
PorT´Chingange
Foi há 374 anos - O Dia do Exército no Brasil é celebrado em memória à Batalha dos Guararapes, que ocorreu a 19 de abril de 1648, no estado de Pernambuco. Foram as principais acções bélicas ocorridas no Nordeste brasileiro contra a presença dos holandeses (Mafulos) na região. O berço da nacionalidade e do Exército Brasileiro tem neste local de Guararapes os factos que passaram à história como o inquestionável marco e, a partir do qual se desenvolveu o embrião do sentimento de nação brasileira. Deste modo irei reeditar a SAGA DO AÇUCAR inserido aqui no item GUARARAPES para se entender essa gesta heróica que originou o conceito de brasileiro e o início de uma nação…
O dispositivo das forças Patriotas comandadas por Francisco Barreto de Menezes era o seguinte: O flanco direito era protegido pelo terço (ou grupamento) do índio Felipe Camarão, oculto na restinga de mato existente dentro dos alagados; O flanco esquerdo era protegido pelo terço (ou grupamento) do negro Henrique Dias, ocupando a parte central do Morro do Oitizeiro; No centro, ocupando a parte baixa junto ao córrego da Batalha, entre o Oitizeiro e o Outeiro, o terço dos brancos comandados por Fernandes Vieira; e em reserva, mais a retaguarda, o terço de Vidal de Negreiros.
António Dias Cardoso lançou um destacamento avançado pela Estrada da Batalha, composto por 200 a 300 homens e estabeleceu o contacto com os holandeses. Passou a retardá-los, atraindo-os para o Boqueirão, fazendo-os pensar que estavam em contacto com a principal força dos Patriotas. Mas era uma isca para atrair os holandeses (…). Pesquisa histórica revela que a palavra PÁTRIA foi pela primeira vez, mencionada em território brasileiro no texto “Compromisso Imortal”, relacionado com a invasão holandesa e assinado por 18 líderes locais em maio de 1645. Em homenagem a esses heróis, o Comando da 7ª Região Militar instituiu a saudação PÁTRIA, com a resposta BRASIL, em maio de 1998, a qual foi estendida pelo Comando Militar do Nordeste para toda a sua área de jurisdição.
Em Setembro de 1645, os “Luso-brasileiros” isolaram a capital do Brasil Malufo deixando seus habitantes à míngua; Johan Nieuhof, alemão residente em Recife, testemunha que “os gatos e cachorros, dos quais havia em abundância, eram considerados finos petiscos. Viam-se negros desenterrando ossos de cavalo, já muito podres, para devorar o tutano com incrível avidez”.
Algumas atrocidades entre os citiados atingiram foros de bestialidade como alguns descritos existentes no Instituto Ricardo Brennand; descrevem actos cometidos pelos holandeses e índios antropófagos seus aliados: - Foi-lhes entregue para alimentação, corpos das vítimas feitas por seus soldados. “Selvagens Tapuias a quem animavam como a tigres ou lobos sangrentos, e diante de seus olhos, comiam os corpos mortos daqueles que haviam matado”.
João IV não tinha efectivamente escolha quanto à decisão de resgatar Pernambuco para Portugal porque, sem o açúcar do Brasil, não teria como pagar aos exércitos incumbidos de defender a fronteira continental dos beligerantes espanhóis. A perda do Brasil, envolveria o desaparecimento de Portugal como nação independente. Os Mafulos tinham em seu contingente militar, mercenários franceses, alemães, polacos, húngaros, ingleses, e de outras nações do Norte, todos versados e experimentados nas clássicas guerras de então da Flandres e Alemanha. Desconheciam a tocaia, a guerrilha de arco e flecha, o ataca e foge em matos difíceis; para eles era uma guerra desmoralizante pois nem sempre divisavam o inimigo.
Um cronista de nome Pierre Moreou, testemunha presencial daqueles dias de cerco no Recife em contínuo bombardeio de artilharia feito pelos insurrectos Luso-brasileiros refere: “Todo o Brasil é povoado com numerosos guerreiros, sabem como subsistir e vivem do que a terra produz de forma abundante, prescindindo dos produtos da Europa o que é impossível aos Holandeses (Mafulos) que não têm senão soldados de carreira, recrutados em diversas nações, mais comprados que escolhidos de cuja fidelidade não se pode fiar. Pouco adaptados aos costumes e ao clima diferente de seus países, não conhecem atalhos e nem o local apropriado para emboscar.
Os Luso-brasileiros (portugueses) ao contrário, nasceram aí em sua maioria, e são robustos, um mesmo povo, os mesmos costumes, as mesmas crenças e compleição auxiliando-se uns aos outros, não deixando de valorizar a terra aproveitando-se dela. Conhecem os menores recantos e bastava-lhes esperar seus adversários em determinados locais e, abatê-los. Enquanto decorriam as vitórias nos Montes Guararapes pelos insurrectos de Pernambuco a moral das tropas Holandesas entravam em declínio descrevendo-se assim os acontecidos: - “ Os combatentes Luso-brasileiros por natureza ágeis e de grande firmeza nos pés, são capazes de avançar ou bater em retirada com grande rapidez, com ferocidade natural constituídos que são de brasileiros Tapuias, mamelucos, etc.,... Todos filhos da terra"…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NO KILOMBO DO ZUMBI – NA FUNDAÇÃO DE ZUMBI DE N´GOLA…
COM FALA KALADO – Crónica com ficção 3285 – 17ª de Várias Partes
– 18.04.2022, na Pajuçara do Nordeste brasileiro – Republicação a 02.11.2022 na (Praia de) Messejana do M´Puto
PorT´Chingange
No dia 21 de Abril, comemora-se como feriado no Brasil o “Dia de Tiradentes”. Este feriado faz alusão à morte do mineiro mais conhecido na história por Joaquim José da Silva Xavier. Tendo referido há dias um antigo companheiro da UNITA como convidado a estar presente nas festividades do Kilombo Zumbi, lá para Novembro, mais propriamente no dia da “Consciência Negra”, para minha surpresa recebi um telefonema do Park Lindoya às margens da Lagoa Manguaba pedindo-me para ali me deslocar pois que havia alguém ali hospedado a querer contactar comigo!
Adiantei que não iria sem me dizerem qual o fim do encontro e o nome da pessoa em causa. Quando mencionaram seu nome fiquei bem admirado e até pensando num golpe de um qualquer maluqueiro. Era nem mais que o General Kamalata Numa da UNITA - queria estar comigo! Engasgado disse que daria uma resposta mais tarde e, tirando-me de cuidados fui até ao local já meu conhecido e, sim, era ele mesmo - muito mais velho, claro!
Nossa relação tinha sido bem passageira quando Kalakata o militar pertencente ao Comité da Caála, ainda vivo, me apresentou a este militar de patente rasa. Nessa altura exercia eu as funções de Secretário de Relações Públicas; por inerência tinha muitos contactos com gente próxima à organização política de topo e muito próxima a Jonas Savimbi mas e, a partir daí nunca mais nos vimos, 47 anos já passados!
Apresentados de novo, inquieto pela inusitado encontro, demos um abraço cordial e assim sentados tomando um suco de graviola foi-me dizendo que estava ali a convite de um familiar a fim de assistir às festas Juninas e, que vinha para ficar uns três meses pois que fazia questão de estar presente no já referido “Dia de Tiradentes” para o qual também tinha sido convidado pelas competentes autoridades.
O General fez-me inúmeras perguntas ao qual respondi com algum detalhe depois da minha forçada saída de Angola através da ponte “Lualix” no longínquo ano de 1975. Agradeceu-me pelo convite inserido nos trabalhos da “Fundação de Zumbi de N´Gola” e, enaltecendo dentro do que lhe era possível saber, do meu contributo como Zelador-Mor na Fundação de Zumbi de N´Gola tendo como benemérito a figura por mim recuperada na estória do Coronel emérito Fala Kalado, agora Comendador…
Adiantei-lhe que para o efeito contava com sua presença e do possível contributo nos previstos simpósios, seminários e as inerentes conferencias de participantes que ainda não estavam totalmente catalogadas, nem convites formulados mas, que já havia sim, um esboço de planeamento pendente dos conferencistas com os demais convidados de relevância na dissertação da “Civilidade Bantu”, tais como políticos, escritores, jornalistas e individualidades do foro africano e, ou mundial. A seu pedido fui esclarecendo-o do que foi a Inconfidência Mineira ou Conjuração Mineira: que foi uma revolta no ano de 1789, de carácter republicano e separatista, organizada pela elite socioeconómica da capitania de Minas Gerais...
Ela foi baseada nos ideais do Iluminismo e teve influência da Revolução Americana, que resultou na independência dos Estados Unidos. Que no século XVIII, Minas Gerais era a capitania mais próspera do Brasil... Que devido ao grande volume de extracção, o ouro começou a entrar em decadência. Nesse cenário, o Visconde de Barbacena em 1788, deu a ordem de realizar uma “derrama” – mecanismo utilizado por Portugal para realizar a cobrança obrigatória de tributos.
Esse foi o estopim para a elite local antecipar os preparativos para a revolta. Na verdade, a conspiração nem chegou a ser iniciada, pois foi descoberta após autoridades coloniais em Minas Gerais receberem denúncias. Para resumir, o alferes dentista, acabou por ser cortado aos pedaços com exibição de seus desgarrados pedaços de carne como se o fosse de um cordeiro sacrificado para exemplo… Depois dum herói negro de nome Zumbi, de um herói branco de nome Xavier Tiradentes, é tempo de se encontrar um herói pardo, cafuzo, mameluco, mazombo ou matuto*… O encontro acabou em churrasco e a promessa de me dar uma entrevista sobre o tema Angola… Iremos ler, se Deus quiser como é de norma dizer-se entre cristãos…
* NOTA: Estamos a 02 de Novembro de 2022 - Esta republicação tem por objectivo repor as crónicas na ordem do Kimbo que por um erro técnico não foram inseridas na Torre de N´Zombo. Por via disso, muita coisa alterou recentemente no Brasil. Após eleições a 30 de Outubro do corrente ano de 2022 o matuto Lula tonou-se presidente pela 3ª vez, vencendo com vantagem de menos de 2% ao actual Jair Bolsonaro. Está assim encontrado o terceiro herói desta inventação: LULA DE GARANHUNS...
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DA KIZOMBA - Foi em Olinda de Pernambuco no Brasil que vivi o MARACATU – 01-07.2020
Crónica 3034 - Li algures que KALUNGA é o plural de lunga ou malunga mas, tanto quanto pesquizei, Kalunga é um elemento sagrado do Candomblé de Pernambuco…
Por
T´Chingange – No Sul do M´Puto
- Xinguilar: Palavra angolana que significa entrar em transe em um ritual espiritual, geralmente ligado aos cultos nativos dos ancestrais e Nkisi / Mukisi.
Xinguilado assim, qualquer um de nós pode ser qualquer outra coisa mas, quando é então que nossos comportamentos transvazam a fronteira da vida em uma excêntrica mentira? Porque há quem nunca mate a criança que existe dentro de si e, que por vezes rompe seu equilíbrio de propósito sem um qualquer filtro ou sem se aperceber.
Se me raparem as sobrancelhas com o pretexto de extinguir a caspa, minha cabeça pode muito bem transformar-se numa espécie de volume branco de manequim, aonde sobre esta, se pode pintar uma qualquer outra figura que não a minha.
Posso alisar meus cabelos untosos ao jeito de malandro lá dos finais de 1930, fingir-me num boi sagrado, coisas do “bumba meu boi”, com sua inebriada e sagrada figura mudando disto de ser-se homem para mulher como quem muda de camisa, puteando-me como as madames de fina estirpe e, sempre nessa sua estrema segurança que no tempo se transparecem de arrogância ou egoísmo. Nem importa porque num repente sou Eva a mulher de Adão, o mesmo casal que mutilou a única condição de vida que Deus lhes impôs, não comer uma tal fruta, poderiam faze tudo o mais e, eles desrespeitaram comendo o fruto proibido. Haka! Nosso mundo começou mesmo muito mal!
Foi em Olinda de Pernambuco no Brasil que tomei de novo, contacto com o termo genuinamente angolano. As expressões culturais ameríndias e afros diluídas no sangue latino e africano, colonizadores e escravos cozidos no grande caldeirão genético do Brasil com os pretos, pardos, mulatos, cafusos, caboclos, matutos e mazombos.
Também há mamelucos e mazombos que originaram um maracatu muito característico no carnaval de Olinda, altura mais certa para extravasar coisas incubadas nas frinchas do tempo. No espectáculo carnavalesco surgiram ao longo dos anos nomes que mais pareciam ser dos Dembos ou do Kwanza de Angola tais como "os Xurimbas", "os Muximas" ou " as capotas ou o papa-angu"
Tanto o quanto pesquizei, Kalunga é um elemento sagrado do Candomblé de Pernambuco, Brasil, e simboliza uma rainha morta, talvez a N´Zinga mas, simbolizada em verdade numa "boneca de cera do Maracatu". Em 1932 surgiu um grupo Kalunga com o nome de "Homem da meia-noite", fruto do maracatu nação; algo inspirado a partir do culto Bantu, da língua Kimbundu e Xhosa. No carnaval esta figura é feita de barro, palha, madeira ou cera.
Referem alguns pesquisadores que pode ser o nome dado a carregadores desclassificados de carrinha de caixa aberta mas, eu a estes chamo de monangambas ou monangambés. Este termo de Calunga, significa irmandade, fidelidade, a amizade feita divindade, uma boneca de encantar a quem se quer bem. Este misticismo colado com superstição, foi trazido de áfrica pelos milhares de escravos.
Conforme o "baque" ou batida, existem dois tipos: Baque Virado (Maracatu Nação) e Baque Solto (Maracatu Rural). O primeiro, bastante comum na área metropolitana do Recife, é o mais antigo ritmo afro-brasileiro; e o segundo é característico da cidade de Nazaré da Mata a Norte de Pernambuco.
Com ritmo intenso e frenético, teve origem nas congadas (que vem de Congo), cerimónias de coroação dos reis e rainhas da Nação Negra. Na percussão chama-se a atenção os grandes tambores, chamadas alfaias que são tocados em baquetas especiais para o instrumento. Estes dão o ritmo ou o baque da música e são acompanhados pelos caixas ou taróis, ganzás e um gonguê ou agogô.
Há poucos anos houve um movimento sociocultural em Recife que fundiu o ritmo maracatu com a influência da música electrónica. Assim surgiu o movimento Manguebeat, criado por Chico Science, um maracatu moderno. Outras referências são a Nação Zumbi, a Mundo Livre, a Mestre Ambrósio, entre outros seguidores do movimento.
O Soba T´Chingange
T´Chingange - (No Nordeste brasileiro)
Como já foi dito, tive um encontro com Fala Kalado no meio de um grande vinhedo no território da Baía e, não muito longe de Juazeiro do São Francisco. Comi a melhor muqueca de que me lembre e do que perguntei, fiquei a saber que para além de peixe do rio Velho Chico chamado de surubi, tinha pitu, um camarão também do rio, delicioso. O molho era feito de óleo de dendém e admirei-me de em nosso repasto íntimo de recolhido, bebermos uma cerveja caseira ao invés de bebermos o vinho da casa Miolo de tão boa qualidade.
Pois desta feita reparei que esta figura passava por ali na azáfama de provas e, atenção de mesuras distantes com o General - deu-me um Ói simplesmente; num instante tirei ilações: de certeza que seria este o feitor desta cerveja deliciosa – eles, Kosovares, lá na sua procedência, no seu país, têm fama de fazer estas bebidas em qualidade superior; em verdade relacionei o nome da cerveja com seu nome, pois a garrafa castanha tinha um rótulo com essa mesma graça - Bento Patrinichi. Tenho de fazer estas triagens e deduzir sem levantar poeiras. FK nem sempre diz o que pensa e nem sempre diz o que sabe usando labirintos de segredos com incógnitas, como um nato sofista. Isso chateia-me sobremaneira e, ele sabendo, pior faz; estando com ele, estou permanentemente em pulgas… Falar com um vivo que já foi morto, não é pera doce!
Numa primeira curiosidade o vinho sobrepunha-se ao resto do que já me tinha sido dito, e foi neste capítulo que me deu algumas pistas tendo a ajuda de Rogério Rocha Pereira, um empresário de sucesso do Rio Velho Chico. Do que ouvi de Rogério, fiquei encantado porque em seus inícios usaram as barcas Santa Maria, Pinta e Nina, nas suas actividades fluviais; como é sabido foram os três nomes que Cristóvão Colombo usou em suas naus na primeira volta ao Mundo. No final de 2017, Rogério inaugurou o mais novo desafio: a Barca Vapor do São Francisco - barco que me levou à tal ilha da Fantasia com o Comandante Bartolomeu com quem dialoguei marinhagem…
Neste mini curso de manejamento de vinhos e conhecimento de castas, após a visitação completa, o grupo de Rogério da Barca do Vinho foi conduzido a uma sala de degustação moderna e climatizada para descobrir as regiões brasileiras produtoras de vinho e suas particularidades. Sendo assim minha harmonização enogastronômica subiu a outro patamar de conhecimento, entre outros assuntos próprios da azáfama e cultura de vinhos com a supervisão do enólogo da família, Adriano Miolo.
Em resposta FK disse: - Não! Tenho para ti uma tarefa especial. Necessito de alguém que superintenda as novas frentes de guerra: Gerir a produção de crocodilos, rãs, borboletas e caracóis! Ele sempre fala como estivesse numa frente de guerra, numa batalha e, até nem estranhei – já estava habituado. E, porquê eu, um kota ressequido pelo sol? Porque tu és um Mwangolé preto e, gente tal que só o somos dum espírito único! Mas, eu não ou preto…, Nem tu? Sim! O nosso pensamento sempre anda por lá e, queiramos ou não agora seremos pretos de coração zebra! Falou, tá falado…
A isto nada podia reclamar – notei sua orelha biónica tremer e disse cá para mim que o melhor era ouvir as falas e gerir meu silêncio de forma silenciosamente muda, mesmo! E, continuou: Tu, tal como eu és um Kwacha, já tiveste patente equiparada de Major quando foste Secretário das Relações Públicas depois de o teres sido também Secretário de Informação e Propaganda e até seres companheiro do Adalberto Júnior lá no M´Puto como Coordenador, edecetraetal – sei de teus atributos e estou agora como amigo a requerer tua intervenção.
Dizer não, nem pensar! Pois ele estava todo compenetrado em suas crenças e dissesse eu e agora algo de negativo cairia o Carmo e a Trindade! Falei: - Agradeço tua amabilidade mas, tenho de pensar até te dar a resposta de sim em definitivo. As palavras para FK teriam de ser medidas ao milímetro porque, qualquer desvio meu, poderia provocar uma revolução e eu, estava longe de abrir qualquer frente de combate; era sabedor desta psicose de levar a água ao moinho tornando-a suave o quanto baste no tempo. Iremos ver!
EU E O FALA KALADO – PETROLINA . PE
NA ILHA DA FANTASIA – 10ª de Várias Partes – 10.03.2020
Por
T´Chingange - (No Nordeste brasileiro)
Devem recordar-se do telefonema misterioso do General (que por vezes só é chamado de Coronel, coisa que não gosta…) a convidar-me para ir a Petrolina de Pernambuco; pois bem isto já aconteceu - exactamente no recente dia da graça de 08 de Março de 2020. Recordo aqui como foi o caso na voz de FK – Fala Kalado. Nessa data especial composta de quatro dois e quatro zeros (02.02.2020), tinha de acontecer o inesperado e, sucedeu que meu celular telemóvel no exacto momento de sair para a praia, tiniu e retiniu esguichado de som.
E, falou: - Pois então, é pra te convidar a um encontro, não aqui em Garanhuns, por ora, mas em Petrolina, um lugar a montante da barragem do Sobradinho, no Rio São Francisco no Velho Chico! Eu sei, disse. E, porquê aí? Porque assim tem de ser; só vais ter de ir até à cidade de Marechal Deodoro para embarcares com meu velho amigo Kelerico o Tecelão. Falou na data e de como seria, assim e assado. Tudo por minha conta, referiu (o tanas, nada de fiar…). Que mais poderia fazer a uma quase ordem na forma enganosa de convite.
Pois então, ajustei-me com Ricardo Keller, o Tecelão na via WhatsApp; Ricardo com aspecto de alemão, alto e louro de cabelo pró branco pela idade, cursou de licenciamento na Suíça e, tudo nos trinques, no pago eu pagas tu, na mira de tudo recebermos do Coronel que agora só quer ser de General, lá fomos na beirada do São Francisco num percurso de mais de oitocentos quilómetros, pista boa mas muito cheia de cabras atravessando, também burros e cavalos.
Só faltou ver aquele tal de padre com seus petrechos, escapulário e cruz na imagem da igreja, seguindo passo lento ao som da bandinha de música como se todos o fossem de uma nação Maracatu…Dia 08 de Março 2020 – Neste dia FK ficou invisível... Quersedizer, não quis ser mostrado em nenhuma foto; lá terá suas muitas razões para andar com uns óculos relampejando cores fosfóricas como aquele cantor Tuga portuense Pedro Abrunhosa!
E, eu não sou louco para contrariar sua vontade e, logologo na ilha da Fantasia no meio do Rio Chico entre Petrolina de Pernambuco e Juazeiro da Baia... Claro que isto tem muito de verídico porque é uma estória vivida na Fricção rebolada e elaborada na areia feita ouro daquela ilha que nem sempre o é. Quando a água sobe a ilha fica só água com a kalunga das lagoas geminando sapos às ordens de kiandas...
A vida é uma experiência feliz. Sabemos que, às vezes, o céu de nossa existência escurece, e nos deparamos com dificuldades insolúveis, sendo tentados a duvidar. Nesta Fricção de quase tudo ser meia mentira ou se o quiserem, meia verdadeira. Eu estive lá noé!?... FK não quer ser visto, nem com óculos psicadélicos... Já estive com ele! O General emérito! Foi uma grande alegria na companhia de uma moqueca de surubim com camarão em molho de dendém...
Aonde podemos encontrar respostas para nossas indagações, quando temos a sensação de que nossas inventações não podem passar sem levar um crivo de realeza? Quando parece não haver solução, a saída é esperar na companhia dum frisante branco, miolo Sauvignon Almadén com o espírito de São Francisco... De um vale com muitas uvas, várias castas e com duas safras anuais - explicarei mais tarde; agora não tenho tempo!
Isto significa ter paciência com o matumbola de um passado alternado entre ser vivo ou morto com um presente que nos aguarda no futuro; uma fantasia de fazer por nós o bem que nos falhou no passado! Misteriosamente FK disse que Deus tem um plano para cada um de nós a ajudar-nos a esperar no que vier! É assim, vamos numa de ou mato ou morro! Já experimentei isso e fugi pró mato. Este fulano do FK neste plano, pode ser - acho que é um meio às provações, ele quer ser quase um deus tornando-nos instrumentos para passar à estória na glória.
Vou ter de descrever isto com algo de novidade, Noé!? Fala Kalado, afinal tem um império que eu desconhecia! Tem muitos hectares de várias castas de uvas. Tudo alinhavado em quarteirões, num lado é Outono e noutro é Primavera; o Grenache com Syrah mais o Mourvèdre que faz um vinho 5 estrelas - tinto seco e, o frisante Verdejo… Surpreendeu-me! Eu vinha ao encontro desse cacto da Welwitschia Mirabilis e esse tal de escaravelho e deparei com outras coisas; milagres de gota-a-gota, uvas verdes com outras ao lado prontas a deglutir num deserto designado de Sertão com caatinga e carcarás... Isto é quase um milagre! Assim como um juvenescimento inclinado de abelhudice.
De facto, isto aconteceu como um milagre, um vive num descuido prosseguido. Talvez por isso ele, o FK, tenha referido José que nunca imaginou governar o Egipto. Sua jornada de provações o levou a esse posto para saciar minha (e, dele) sede de conhecer alguns fenómenos do mundo - num Sertão, agreste também, plantar uvas que dão bom vinho... Mas, FK, não pode passar à frente de Deus, nem atropelar seu caminho, nem que o fora Coronel ou General; mas, o certo é que, o que vi aqui, é uma concessão de bênção estranha graças ao rio Velho Chico (penso eu!?)... Em verdade o General Fala Kalado disse e, eu ouvi: O Senhor dá mais do que pedimos ou pensamos. Ainda estou a matutar nisto! Até que pensava que ele era um ateu…
O Soba T'Chingange
DO NORDESTE BRASILEIRO - Falando de amores…
MALAMBA: É a palavra.
Por
T´Chingange
Estou em uma terra em que tudo cresce e frutifica rápido; Como dizia Pêro Vaz de Caminha, a terra aqui é tão pródiga que tudo o que nela se plante, de tudo dá. Caminha, foi o primeiro a descrever o que observou nas viagens de Pedro Álvares Cabral. Há uns dias atrás fiquei a saber que a filha dum sertanejo, um amigo trabalhador rural, com apenas treze anos de idade, fugiu de casa com a ajuda dum maluqueiro que por ela, e de forma espontânea se enamorou. O amor surgiu instantaneamente com apetite voraz dum descontrolado cio. Aqui as meninas do campo, passam a mulheres sem experimentar serem donzelas e recolher na escola os básicos ensinamentos para uma boa relação social. Uma grande parte das crianças-meninas, ficam mães antes de saber o mínimo sobre a sua condição feminina.
Muito novas, as catraias já sentem as transformações operadas em seus corpos e espírito e, sonham cedo com um marido, o homem de sua casa, dono de seu corpo, o marido a quem podem amar (fazer sexo) abertamente e obedecer em segredo de quase escrava. Também aqui, Caminha, se referia a esta pujante vitalidade entre pessoas. Estou no meio de uma viagem de romeiro até Juazeiro do Norte, aonde Padre Cícero milagrou gesta de santo, acolhendo e protegendo o povo humilde do seu Nordeste tão fustigado pelas secas prolongadas e cíclicas do Sertão e Agreste. Levo um conjunto de velas que a irmã daquela menina me deu para depor no altar do padre Cícero, na convicção de dar luz ao futuro de sua mana.
Com 32 graus à sombra, os cães irascíveis esgravatam a terra húmida mordendo o ar quente, catando moscas; Em ambiente de zunzum de festa, quente e grosseiro até os vadios e desempregados aparentam diligência em prontidão. Em este panorama e enquanto rebolo preguiça morrinhenta em um mukifo de romeiros, dão-me a notícia de que um homem ainda novo, algures numa cidade chamada de Arapiraca e no Estado de Alagoas, está a contas com a justiça porque perdido de ciúmes e sentindo-se traído, matou sua amante retirando-lhe o coração, comendo-o em seguida. Não posso dar mais pormenores nem referir que tipo de estrugido usou mas, uma coisa é certa, este foi mesmo um grande amor!
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
“MADEIRA – BRASIL”
Funchal . 2012
A terminar a série de crónicas sobre João Fernandes Vieira faz-se aqui uma revisão dos momentos mais destacados deste madeirense que se fez líder da insurreição de 1645 pós a partida de Maurício de Nassau do Recife, passando a opor-se aos invasores, com a ajuda de frei Manuel Calado, que do seu púlpito convocava o povo à luta contra os "hereges" de Olinda e mafulos de Angola. Em 1639, Vieira já era uma pessoa importante na sociedade pernambucana, tendo sido indicado para o cargo de escabino (membro da Câmara Municipal) de Olinda. Posteriormente, foi escabino de Mauricia (Recife) de Julho de 1641 a Junho de 1642, sendo reconduzido, no exercício de 1642 a 1643. Em 1643, casou-se com Maria César, filha do madeirense Francisco Berenguer de Andrade e de Joana de Albuquerque, descendente de Jerónimo de Albuquerque. Com o casamento, João Fernandes Vieira ingressou definitivamente na aristocracia rural pernambucana.
Olinda . 2012
Vieira foi o primeiro signatário do pacto selado em 1645 no qual pela primeira vez, figura em terras brasileiras o vocábulo pátria. Era já o conceito de nação que bulia nas gentes, mazombos, mulatos e luso-brasileiros na generalidade que sentiam a terra como a sua. Na função de mestre-de-campo, comandou o mais poderoso terço do Exército Patriota nas duas batalhas dos Guararapes (1648 e 1649). Por seus feitos, foi aclamado Chefe Supremo da Revolução e Governador da Guerra da Liberdade e da Restauração de Pernambuco. Além de Vieira, André Vidal de Negreiros, António Filipe Camarão, à frente dos índios da costa do Nordeste; Henrique Dias, no comando de pretos, crioulos e mulatos e o capitão António Dias Cardoso, tornaram-se os heróis do imaginário nativista pernambucano. A "guerra da liberdade divina", nas palavras do padre António Vieira, durou nove anos, sendo de assinalar que o governador de Pernambuco, António Teles da Silva, dava apoio encoberto à revolta, enquanto os holandeses pensavam que se tratava apenas de uma sublevação na capitania de Pernambuco.
Luanda . 2012
É de destacar a diplomacia de D. João IV de Portugal, que entretanto, pela mão do seu Embaixador Sousa Coutinho tentava, na Europa, não indispor a Holanda. O que ocorria no Recife como manobra ágil de diversão, não tinha o apoio oficial da Coroa, “para holandês ver” e, por isso, existir uma mentira de conflito entre o governador e os colonos revoltados. Na primavera de 1646, o governador António Teles da Silva chegou a ser mandado regressar a Lisboa, onde esteve detido em São Gião como colaborador dos revoltosos de Pernambuco. Aproveitando a vitória de Tabocas, foi possível recuperar outras zonas em poder dos holandeses: os fortes de Sergipe, do rio São Francisco, do Porto Calvo, de Serinhaém e de Nazaré. Com a paz, após 1654, Fernandes Vieira recuperou seus bens e, entre outros cargos, foi nomeado Governador e Capitão-Geral da Capitania da Paraíba (1655-1657). Foi mais tarde, nomeado governador e Capitão-general de Angola (1658-1661). Exerceu também o cargo de Superintendente das Fortificações do Nordeste do Brasil, de 1661 a 1681.
Mafulos: Nome porque eram conhecidos os Holandeses em Angola nessa época
Nota: Ter em atenção que as descrições, às vezes se repetem de forma aleatória ao tempo, de forma a poder descrever-se alguns detalhes que complementam os planos principais do cenário.
Referência Bibliográfica: RESTAURADORES DE PERNAMBUCO de José António Gonçalves de Mello (1967)
FINAL
O Soba T´Chingande
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
“MADEIRA – BRASIL”
Fortaleza de S. Miguel -Loanda
O Padre António Vieira em 29 de Julho de 1648, transmitia por carta ao Marquês de Niza as notícias do sucesso da primeira batalha de Guararapes do seguinte modo: “… de maneira Senhor, que temos Pernambuco vitorioso, o Rio-de-Janeiro socorrido, a Bahia com armada e Angola com a esquadra de Salvador correia (….), todo o debate agora é sobre Angola e, é matéria em que os Mafulos, não hão-de ceder, porque sem negros, não há Pernambuco e sem Angola não há negros e, como nós temos o comércio do sertão, ainda que eles tenham a cidade de Loanda, temem que nós tomemos outros portos”. O poder da Holanda unido ao da Companhia faz índias era o maior da Europa, pois a história mostrava que a Espanha sem guerras externas, abundante de dinheiro e armas e agora, em paz com toda a Europa tendo ainda Portugal sobre sua sujeição. Por este acontecido que durou sessenta anos com os reinados dos Filipes I, II e III, Portugal, perdera soberania que tinha sobre o Ultramar. Em pouco tempo os Mafulos ficaram com as possessões daquele Portugal debilitado perdendo muitas praças nas Índias Orientais, na costa africana, na Bahia, e por último Pernambuco. Os danos para Portugal pela perda de soberania a favor de Espanha e por via daquela companhia das Índias, foram-no na índia, Ceilão, Angola, S. Tomé, Maranhão, Bahia e Pernambuco.
O Padre António Vieira interrogava-se de como poderia Portugal prevalecer contra Holanda e Castela? Nesse então os Holandeses tinham onze mil navios de gávea mais outros três mil navios e duzentos cinquenta mil marinheiros adiantando: “…os dois nervos da guerra são gente e dinheiro; e que gente e que dinheiro temos nós hoje? A gente é tão pouca, que para qualquer rebate de Alentejo é necessário tirar os estudantes das universidades, os oficiais das tendas e os lavradores do arado. Pois com que gente havemos de acudir às quatro partes do mundo, e em cada partes destas a tantas partes? Os Mafulos em Holanda têm quatorze mil barcos; nós em Portugal não temos treze. Na Índia têm cem naus de guerra de 24 até 50 peças; nós na Índia não temos uma só. No Brasil têm mais de sessenta navios na maior parte poderosos vasos de guerra e nós temos sete, se ainda os temos”. Os Holandeses estão livres do poder da Espanha; nós, temos todo o poder de Espanha contra nós.
Forte das 5 pontas . Recife
É curioso ler os relatórios e missivas do padre António Vieira por sua arguta visão mostrando ser um observador mais militar do que a maioria dos mestres de guerra de então e refere “Os holandeses em Europa não têm nenhum inimigo; nós não temos nenhum amigo. Eles têm mais de duzentos mil marinheiros; nós em Portugal não temos quatro mil”. Reconhecia que “um sucesso quase milagroso” a saber da vitória de Guararapes em 1648, tinha mudado a opinião de muitos até então favoráveis à entrega, mas ninguém deveria contar com milagres, “pois os milagres é sempre mais seguro merecê-los que esperá-los; e fiar-se neles, ainda depois de os merecer, é tentar a Deus”. Reconhecia que a companhia estava economicamente exausta mas, a melhor solução era a da entrega de Pernambuco, pois os Holandeses não admitiam a proposta de compra. Os documentos mostram porém que a memória erudita do Padre Vieira traiu o Jesuíta. Felizmente que a propaganda desse triste alvitre não teve eco em Fernandes Vieira e essa saga de Luso-brasileiros, os verdadeiros próceres do Brasil.
Mafulos: Nome porque eram conhecidos os Holandeses em Angola nessa época
Nota: Ter em atenção que as descrições, às vezes se repetem de forma aleatória ao tempo, de forma a poder descrever-se alguns detalhes que complementam os planos principais do cenário. Se assim não fosse, as lacunas tornar-se-iam frestas de caruncho ou
vicissitudes do cupim, salalé, aranha de carpinteiro ou térmitas da Globália.
Referência Bibliográfica: RESTAURADORES DE PERNAMBUCO de José António Gonçalves de Mello (1967)
(Continua…)
O Soba T´Chingande
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
“MADEIRA – BRASIL”
D. João IV na proclamação da Restauração - O rei e senhor nosso, dos Algarves, daquém e além-mar, da Etiópia, Índia e dos Brasis, sabia que havia entendimentos de paz entre Holanda e Portugal, mas era também certo que dissimulada e aleivosamente, tinham os flamengos, huguenotes mafulos invadido Angola, São Tomé e o Maranhão e tomado embarcações nesta costa. Estes factos davam esperanças aos revoltosos de Pernambuco de que o rei lhes não faltasse com ajuda, não só pelos motivos de justiça como de natural razão e ainda de estado. Dentro desta convicção o madeirense João Fernandes Vieira e seus companheiros de revolta continuavam em segredo a recolher armas e prevenir munições, quando os holandeses, suspeitosos, pretenderam prendê-lo para matá-lo; obrigado a defender-se tomou armas com cinquenta companheiros, contando em poucos dias com mais de mil homens. Fernandes Vieira em apuros de perseguição teria escrito ao rei que “espero no Santiçimo Sacramento general do meu exçercito de antes que esta (missiva) chegue à Bahia, ter restituído o Recife às quinas de Portugal, para glória e onrra de Deus, serviço de Vossa Magestade e merçe que seus serviços têm feito e fazendo vão”. Nesse então planeavam tomar de assalto a capital do Brasil Holandês, a cidade Mauricia, como passara a ser chamada.
Recife - Mauricianópolis em tempo de Mafulos
Distribuídos os postos, trataram de ficar dispersos o suficiente para não serem tocaiados; Camarão ficou nas terras da Piranga e Henrique Dias no sítio que fora de João Velho. Pelos caminhos de tropeiros e carreiros dos mazombos estenderam-se as companhias saídas da Bahia, tropas formadas com os moradores de Pernambuco e gente de Apipucos, “pessoas caritativas, mui compassivas para acompanhar os enfermos e os ajudar a bem morrer”. Por instrução secreta D. João IV como já foi dito, tinha encarregado o seu Embaixador Sousa Coutinho a ter negociações diplomáticas quanto à restituição das colónias propondo aos holandeses a compra dos territórios por eles ocupados, especialmente os Brasis.
Cruzado no reinado de D. João IV
Convêm frisar aqui, que neste então as terras de Vera-Cruz eram a jóia da coroa. Num memorial escrito pelo cronista Gaspar Dias é dito: “…eu, o chamo o jardim do reino e a albergaria de seus súbitos. Outrora, deliberou-se em Portugal, como consta de sua história, elevar o Brasil a Reino, indo para lá o rei, tão grande é a capacidade daquele país. Portugal não tem outra região mais fértil, mais próximo, nem mais frequentada, nem também os seus vassalos melhor e mais seguro refúgio do que o Brasil; o português a quem acontece decair de fortuna ou desiludido com o compadrio, é para lá que se dirige”. É curioso ler esta passagem de há quase 400 anos atrás para
entender o paradigma que se perpetuou no tempo fazendo do Brasil o refúgio por excelência do desiludido ou desencantado com a mãe pátria, por muitas e variadas razões. A D. João IV parecia-lhe razoável oferecer 3 milhões de cruzados pela restituição do Brasil, “uma vez que fique salvo à Companhia das Índias o direito às dividas dos moradores, cujo pagamento ela, pode exigir deles, o que monta a uma soma considerável” comprometendo-se a retirar a artilharia e munições que lá tenha, para onde lhes aprouver. Isto, a propósito, era só para entreter diplomáticamente até que as forças das roças, seus mazombos, mamelucos, matutos, quilombolas, índios e escravos fujões, se fortalecessem nas sombras da mata atlântica e mais além do agreste e sertão.
Mafulos: Nome porque eram conhecidos os Holandeses em Angola nessa época
Nota: Ter em atenção que as descrições, às vezes se repetem de forma aleatória ao tempo, de forma a poder descrever-se alguns detalhes que complementam os planos principais do cenário. Se assim não fosse, as lacunas tornar-se-iam frestas de caruncho ou vicissitudes do cupim, salalé, aranha de carpinteiro ou térmitas da Globália.
Referência Bibliográfica: RESTAURADORES DE PERNAMBUCO de José António Gonçalves de Mello (1967)
(Continua…)
O Soba T´Chingande
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“MADEIRA – BRASIL”
Bandeira da Madeira
No dia 6 de Outubro de 1645 o Governador-geral, António Teles da Silva, nomeou João Fernandes Vieira Mestre de Campo de um Terço que mandava formar em Pernambuco de todas as Companhias de Infantaria constituídas para a guerra da restauração. Neste meio tempo Sousa Coutinho foi nomeado embaixador plenipotenciário junto aos Países Baixos de Haia a fim de diplomaticamente refazer a nação perante os Holandeses e a santa Sé; O facto de este diplomata ter sido paciente no trato com os Mafulos protelando iniciativas destes, deu oportunidade aos restauradores pernambucanos a possibilidade de se organizarem pelo que todas as negociações foram alteradas em virtude das vitórias conseguidas em Guararapes, a primeira a 19 de Abri de 1648 e a segunda em 19 de Fevereiro de 1649. Havendo a possibilidade de derrotar os holandeses e expulsá-los do Brasil pela força das armas, não obstante Sousa Coutinho não acreditar nessa hipótese tudo fez para ludibriar a diplomacia no sentido de nada pagar em restituição das antigas terras portuguesas; foi mal interpretado pelos governantes de então que não vislumbraram as ardilosas manobras de deixa correr para holandes ver.
Entretanto era enviada para Angola uma frota sob o comando de Salvador Correia de Sá a partir da Bahia. A 29 de Dezembro de 1648, chegou a Haia a notícia de que Salvador Correia de Sá havia tomado Luanda aos holandeses em 26 de Agosto anterior, o que indispôs ainda mais os holandeses contra o Embaixador. Cinco províncias votaram por uma declaração de guerra contra Portugal. Sousa Coutinho evitou que os Estados de Holanda enviassem socorros quando estes podiam salvar a causa da Companhia das Índias tendo dado o tempo necessário para que os colonos, luso-brasileiros auxiliados pela metrópole, ficassem em condições de alcançar a vitória. Assim e de acordo com o já dito, João Fernandes Vieira comandou o principal terço de infantaria em companhia de André Vidal de Negreiros, brasileiro de origem portuguesa, Felipe Camarão, índio brasileiro da tribo potiguar e Henrique Dias, filho de escravos.
Bandeira de Angola
O Padre António Vieira ciente da força Holandesa não acreditava que fosse possível obter pelas armas a posse dos territórios na posse dos Mafulos pelo que sugeriu o suborno para conseguir o intento na compra de Pernambuco; Uma quantia elevada de cruzados foi posta ao dispor do Embaixador Sousa Coutinho com esse propósito. Era tanta a inquietação de D. João IV que lhe ocorreu retirar-se para o Brasil, constituído-o em reino autónomo, entregando Portugal ao Príncipe herdeiro D. Teodósio, ainda de menoridade, ficando na regência do Reino o futuro sogro deste, da corte francesa. Este episódio é pouco relatado nas crónicas de então mas o certo foi de que mais tarde o Brasil veio a ser refúgio de D. João VI com toda a corte fugindo às forças invasoras de Napoleão; estes pormenores acabam por ter influência no destino dos países e até o condenado suborno era subestimado pelo clero. Este afinco de atitude patriótica não era apanágio dos Huguenotes e foi desta falha que ditou a história do grande Brasil.
Mafulos: Nome porque eram conhecidos os Holandeses em Angola nessa época
Referência Bibliográfica: RESTAURADORES DE PERNAMBUCO de José António Gonçalves de Mello (1967).
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