LUANDA DO ANTIGAMENTE
Crónica 3314 - 09-06-2022 – A2 - Recordando o Século Mwata Luís Martins Soares
– Republicação a 05.12.2022 no Alentejo do M`Puto
Por T´Chingange (Ot´chingandji)
Em sequência das falas recordadas do livro Mu Ukulu, ir-se-á transcrever o capítulo dos Sabores da Nossa Terra tendo como início uma síntese da estória. A cidade de Luanda foi fundada a 25 de Janeiro de 1576 pelo capitão Tuga chamado de Paulo Dias de Novaes após ter desembarcado na baia de Loanda com cerca de 700 homens (soldados, padres e almocreves). Em 1576 manda construir a igreja de são Sebastião na fortaleza aonde agora se encontra o museu das Forças Armadas Angolanas.
Antes da chegada dos portugueses, Luanda já era habitada pelas gentes do rei do N´Dongo concentrando-se no lugar seguro da ilha de Mazenga a que os portugueses chamaram de ilha das cabras por terem visto ali alguns destes caprinos. Viviam ali os Muxiloandas, oficiais do reino de N´dongo que recolhiam os n´zimbos para transaccioná-los como dinheiro. No ano de 1605 a Vila de São Paulo de Assunção de Loanda é elevada à categoria de cidade pelo governador Manoel Cerveira Pereira que exerceu seu cargo entre os anos de 1603 e 1606.
Não obstante estes dados históricos, o Rei de N´Dongo vassalo do rei do Kongo era o dono e senhor daquele espaço, pois que era ali seu banco central! Isto, depois de N'Gola Kiluanji Inene ter dado independência ao Reino de N'Dongo separando-o do poderoso Reino do Kongo! Quanto ao banco de N´gola da moeda n´zimbo: Seus zeladores Muxiloandas, cipaios e gente miúda laboravam na apanha e sequente selecção atribuindo às conchas o respectivo valor monetário. Relembra-se que quando os portugueses deram início ao processo chamado de colonização que originou na Angola hodierna, diferenciaram grupos sociais com identidades próprias.
Os factores de diferenciação entre as etnias foram: a linguagem, vestuário, formas de penteado, estilos de construção das cubatas, sua forma de expressão musical, práticas fúnebres, e suas comidas entre outros detalhes. Quanto à cozinha angolana ela teve ao longo dos anos alterações por via de produtos levados para ali pelos portugueses; produtos trazidos das américas da ásia e da metrópole - M´Puto. Houve por este motivo miscigenação nos hábitos. Do Brasil Imperial foi levada a mandioca que se tornou básica e generalizada por toda a África.
Com a introdução da mandioca levada pelos Tugas do Brasil os pratos de peixe eram acompanhados com fuba funje, um pirão espesso feito dessa fina farinha. Para alguns dos mwangolés esta nova, será uma surpresa - melhor seria que unissem sua sapiência repondo a verdade, não desconsiderando permanentemente o colonizador Tuga. Requer-se por isso mudanças futuras em sua Constituição e, por forma a reverem a lei da nacionalidade e tornarem as gentes brancas de pele da terceira e quarta geração em cidadãos de facto – Angolanos!
Com a chegada das traineiras abarrotadas de peixe, comerciantes brancos, juntavam-se no local de descarga e, ali, disputavam a compra do produto que era previamente separado de acordo com o destino a ser-lhe dado. Os peixes maiores eram destinados ao consumo de hotéis, pensões e casas de pasto. Lembro-me em candengue desta actividade no antigo porto de pesca situado bem em frente do Banco de Angola (1954/1955) e, aonde ia rebuscar sardinhas rejeitadas para utilizar como isco em minha pescaria na baia da Luua em companhia da minha turma da maré mansa da Maianga, Samba e Praia do Bispo…
Parte do peixe para venda ao público era levado para o mercado situado bem perto do Largo Bressane Leite, bem na baixa de Luanda; mais tarde mudou-se para o Kinaxixe, um belo edifício, património arquitectónico que os mwangolés ávidos de kumbú mandaram deitar abaixo, não sei se por parva retaliação ao colono, se só para encherem seus bolsos de dólares e, também agradarem a esses tantos generais de tugi do governo que surgiram por “feitos heróicos”. Bem! Falando do peixe, o de menor tamanho era arrematado para salgas de onde saía o preparo e seca do conhecido “Peixe Seco”, uma forma bem apreciada por nativos e brancos de segunda ou mazombos (filhos de colonos) como eu.
Este peixe-seco, tão apreciado pelos nativos grunhos (pretos) e gwetas (Brancos) e, pelo facto de se ter tornado um costume, por via de ser barato, espalharam-se salgas um pouco por todo o lado e ao longo da costa desde o Ambriz mais a Norte, passando por Luanda até Benguela e ainda mais a Sul na Baía Farta. O peixe depois de processado, estripado e escalado era posto a secar ao sol usando loandos normalmente elevados do solo por estacas. Este peixe já seco, era depois levado em camionetas por, maioritariamente “candongueiros” até aos lugares distantes do interior na forma de fardos atados com fio de sisal ou mateba. O itinerário destas carrinhas ou camionetas podia ser-se seguido horas e até dias mais tarde pelas picadas seguindo o rasto do cheiro característico que estes lançavam para o mato circundante…
(Continua…)
Recordando o Século Kota Mwata Luís Martins Soares com algumas adendas acintosas de minha lavra…
O Soba T´Chingange
ANGOLA – TESTEMUNHO DE ESTÓRIAS ANTIGAS... MICONGE VELHO, CABINDA
- Acreditei que estava a participar na revolução angolana - 1ª de 2 Partes…
Crónica 3304 – 17.05.2022 – Republicação a 25.11.2022 na Lagoa do M´Puto.
Por Soba T´Chingange em Arazede e Lgoa do M´Puto
Estávamos em 1968, em Maiombe de Cabinda. O alferes Martins das operações Especiais transparecia empatia logologo ao primeiro contacto. Sua pele mestiça indicava o quanto tinha de mazombo a condizer com nossas condições de singularidade, filhos de colonos. Nos seus crioulos procedimentos referia seu pai lá das terras de Barroso atrás dos montes no norte do M´Puto; sua mãe caluanda e descendente das gentes da Matamba, era também referida com orgulho envaidecido nas linhagens de nobreza N´Zinga em nossas conversas; nobreza que a administração colonial dissipou nos tempos após a rebelião de Mandume entre outros kaparandandas do Mu Ukulu (gentes do antigamente)…
E, porque sua mãe era quase minha vizinha pois que morava fronteiras meias entre a minha rua da Maianga e o quase musseque de Catambor e muito perto até do colégio aonde andou antes de mim, João das Regras e também do mercado de Martins e Almeida – Martal. Este facto foi motivo de conversas a promover empatia repentista entre a guerra e seu transcurso. Este alferes Martins, veio acompanhado de mais três especialistas em tiro curvo de morteiro e bazuca com mais uma macaca Cheeta chamada de Grafanil.
A Cheeta talvez porque tenha sido nascida em um quartel com este nome de Grafanil, ganhou fama no Centro de Instrução de Comandos de Luanda e, como fiel companheira do alferes de Operações Especiais, destacou-se em operações ao lado de seu dono, instrutor e também fiel inseparável militar excêntrico. Desta feita e no lugar de Miconge*, antiga Administração do Sanga Planície; desconfiei haver maka a resolver por perto com o rótulo de “extraordinariamente secreta”.
Fiquei a saber que Martins, sempre era acompanhado em operações conjuntas com ex-turras designados de TE´s e GE´s- Tropas e grupos especiais que lidavam em Cabinda e Leste respectivamente. Fiquei a saber que a Cheeta “Grafanil” era perita de esperta, dom natural em antever perigos, detectar barulhos estranhos e cheirar à distância a catinga de guerrilheiros arregimentados nas clandestinas picadas do Maiombe e outras matas de Congos e Zâmbia…
Que eu saiba só ele Alferes Martins tinha uma autorização do Alto Comando Militar para se fazer acompanhar aonde quer que o fosse de uma macaca gorila, um primata selvagem (embora treinada…); vai daí, ficando curioso, observei Martins ter-se reunido com o Chefe Jorge dos TE´s. Ao final do dia foi-nos dito que a segunda secção do segundo pelotão e a quarta secção do quarto pelotão iriam fazer uma patrulha com este Oficial de operações especiais.
O outro dia chegou e, ficamos em pulgas com as explicações caindo a conta-gotas para estas duas Secções. Eu, Furriel Mike comandaria a minha secção a quarta do quarto pelotão. Creio que esta decisão partiu do excêntrico alferes pois que curiosamente, éramos: a 2ª Secção do segundo pelotão (Furriel Liló, mestiço de Luanda…) e, a 4ª Secção (Furriel Mike, mazombo Niassalês de Luanda…) do quarto pelotão. Feita uma análise, os comandantes, eramos todos, os intervenientes da incorporação de Angola (Província).
O saber: - 1 Oficial de Luanda, 2 secções de ex-turras TE´s - Cabindas, 3 especialistas em tiro curvo e bazuca de Malange e nós, Mike e Filó, comandantes de Secção da Luua… No dia seguinte fomos dormir todos a Miconge Velho, lugar encostado à fronteira e tendo até ali bem peto um marco em ferro colocado por Gago Coutinho quando em tempos idos se marcaram os limites do território enclave de cabinda e, segundo o Tratado de Simulambuco e outros dois adstritos a este… Foi já aqui que o Alferes Martins explicou a todos como seria feita a operação com todos os detalhes: Eu, Mike ficaria em um lugar de encosta a cobrir a retaguarda e fuga ou retirada com os 3 peritos de Malange que tratavam por tu os morteiros e bazuca. Filó ficaria no sopé do morro e na picada de acesso à estrada principal aonde se faria a emboscada. Martins e Jorge dos TE´s fariam a emboscada no meio do capim alto ao longo do caminho e por onde chegaria a malta do MPLA para fazer investida ao quartel de Miconge em Sanga Planície…
Aconteceu: Naquele outro dia e no caminho que conduz a Dolizie (Congo Brazaville) o Alferes Martins e seus, nossos homens das NT fariam essa emboscada ao movimento que agora luta contra os Fiotes da FLEC; Os mesmos que ainda não atingiram a sua independência. Após aquela emboscada que originou catorze mortes do lado do inimigo MPLA, os dias que se seguiram foram de música empolgada relembrando até o Che Guevara. E, formam uns quantos dias a seguir choros de música fúnebre na emissora de Brazza… Não mais se levantaram depois desta façanha com o Alferes Martins e a Nossa Gente; correu tudo bem e sem baixas! A retirada foi rápida e ainda posso cheirar, 54 anos depois e ouvir aquela azáfama de guerra. De nada valeu, pois foi logologo e após o VINTICINCO que a NT – Nossas Tropas (Do M´Puto) o primeiro quartel a entregar-se ao inimigo! MICONGE ficará na estória por este feito, esquecendo aquele outro de 54 anos antes…
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*Miconge: - Fronteira Norte de Cabinda perto do Dinge, o primeiro quartel a entregar-se ao MPLA pelas forças do M´Puto após o 25 de Abril de 75, lugar aonde a tropa do M´Puto entregou as Gê-três e botas aos guerrilheiros por ordem do Rosa Coutinho (O Vermelhão).
O 25 de Novembro de 1975 no M´Puto: A Crise de 25 de Novembro de 1975 foi uma movimentação militar conduzida por partes das Forças Armadas Portuguesas, cujo resultado levou ao fim do Processo Revolucionário em Curso - PREC e, a um processo de estabilização da democracia representativa em Portugal. Wikipédia
(Continua… 2ª Parte de Miconge Velho…)
O Soba T´Chingange
ANGOLA, TERRA DA GASOSA . VII
CANTINHO DO INFERNO – TERRA DE MATRINDINDES
Lembranças de escritos antigos - “Angola, quanto tempo falta para amanhã?”
– Em Julho de 2002 (quatro meses após a morte de Savimbi – 22 de Fevereiro de 2002)
– Crónica 3295 de 04.05.2022- Republicação a 14.11.2022 para o Kimbo
N´Nhaka: - Do Umbundo, lameiro, plantação junto aos rios, horta…
Por T´Chingange – Em Lagoa do M´Puto
Cambongo Negunza, é o nome do rio que desagua a norte do Sumbe e é dali que sai a água, sugada do rio, que sem tratamento segue para a rede da cidade chegando aos soluços, quando chega, sempre barrenta. O viveiro, em tempos verdejante e com muitas mudas de árvores e plantas para as ruas e jardins da urbe está agora mais que desprezado, acabado; vêem-se umas rosas de porcelana ressequidas no meio de tufos que definham no castanho, tendo o rio a dois paços. Mais à frente e do outro lado da estrada o tio Chico* vende petróleo a caneco.
De calções desbotados, camisa solta, mostra a velhice que se aproxima rápido; pés inchados indiciam ácido úrico e mazelas que se esborracham no chinelo de dedo grande, as manchas são mais que muitas coloridas de terra colada à gordura do querosene adocicado na terra do pó que se levanta com o vento e quando passa as relíquias de dodge, chevrollet, carrinhas ford ou camiões Scania mas, e também Urais dos militares russos; tudo faz levantar pó que se agarra ao transpirar da gente desde o cachaço às matubas do mijo mal pingado…
Tio Chico sentado no seu velho mercedes branco atende com rabugice os candengues que trazem latas, mulheres embrulhadas em panos com as esfinges de Eduardo dos Santos*, Mobutu e Mugabe, bafanas desocupados de trabalho efectivo que desenrascam só no leva e trás dos recados de quem vende chita e zuarte lá nas lojas do burgo. A crise da luz faz aumentar o consumo do querosene avermelhado. Cada caneco despejado, tem uma descarga de um monte de nomes fazendo vírgula com sundiameno e ponto e virgula com topariobé entre os recados e devolução de trocos em moedas de luínhas e notas surradas de kwanzas…
Tio Chico já com seus mais de setenta anos de idade sobrevive assim com a ajuda do irmão Cunha que prospera no negócio de venda de bebidas, bolungas, pneus, géneros alimentícios e outras candongas; dá para notar que o cumbú do tio Chico anda malé mesmo. Ué, beber água!? Só do Luso! Também aparece água da Chela de rótulo azul que diz ser da nascente natural – a condizer lá está colado o rotulo com o mapa minúsculo de Angola com a bolinha do sítio e o dizer: “Produto de Angola”…
O mercedes do tio Chico, tinha tanta terra dentro dele que seus sobrinhos Zito e Chiquinho até disseram que se podia ali plantar mandioca ou até cana-de-açúcar; um exagero bem condizente com o galinheiro chique de Mercedes Benz. Saídos dali, fomos até às Quedas da Binga no rio Queve ou Cuvo situada a uns oitenta quilómetros do Sumbe. De geleiras de isopor, esferovite cheias de gelo e cerveja, escolhemos lugar sombreado do parque e entre mergulhos lá íamos comendo iguarias feitas de esparregado de folha de abobora, folha de batata-doce e croquetes de peixe do rio Cambongo e ostras da foz do Cuvo.
Estando ali na Binga e vendo a ponte meio derrubada pelos cubanos quando do avanço da forças vindas da África do Sul, fomos ao topo dos rápidos ver de perto como se fazia agora a travessia e constatamos haver uma grandes chapas de ferro grosso a ligar os pilares e muros que resistiram ao original desmantelamento por efeito de minas; Os militares de plantão não nos deixaram tirar fotos mas, sempre acabamos por fazer alguns registos fotográficos.
Visitamos um velho conhecido da antiga JAEA e que neste então se chamava de INEA. Passou de Junta a Instituto mas de relevo só mesmo o nome porque os buracos por todo o lado eram mais que muitos. Visita feita, tratamos de nos regalar nas águas frescas a montante das quedas com algumas ilhas e penedos a rodear-nos. Mais acima da corrente as donzelas tomavam banho com as mamas a leu, luzidias de negro, pulavam e gesticulavam-nos adeus, a mim e ao Zito. Assim metidos na água, até parecíamos, o Tarzan branco na minha pessoa e o auxiliar do Mandrak, o Zito Lothor preto, como se estivéramos numa cena de filme.
Na merenda, pude observar a boa conservação do parque, muros caiados, terreno limpo e um vigilante a não permitir que a garotada se acercasse de nós pedinchando a famosa gasosa e, foram fotos debaixo da cachoeira, um sengue que mansamente se deslocava na margem de lá deixando rasto na areia ali depositada, a espuma da água compondo brancura. Recordei neste então a minha estada ali em lua-de-mel no ano de 1970 – naquele agora pareceu-me mais majestosa pelo muito caudal de água. As cervejas, sagres e castle da África do Sul estavam de arrepiar frescura sequiosa. Por debaixo do imbondeiro e ladeados por marulas, mutambas e upapas, nelas riscamos corações com flexas entre muitos outros nomes já ali encarquilhados no tempo com casca. Quase noite, retornamos ao Sumbe, casa do Sr. Pais da Cunha*, pai de Balbina, nosso anfitrião e sogro do Jimba*…
Notas*: Tio Chico, Jimba, Pais da Cunha, Eduardo Santos (o presidente), todos já falecidos (14.11.202)
(Continua…)
O Soba T´Chingange (Otchingandji)
NO KILOMBO DO ZUMBI – NA FUNDAÇÃO DE ZUMBI DE N´GOLA…
COM FALA KALADO – CUITO CUANAVALE . MAVINGA
- Crónica com ficção 3292 – 19ª de Várias Partes – 26.04.2022, na Pajuçara do nordeste brasileiro – Republicação a 11.11.2022 na Lagoa do M´Puto ( Dia da Independência - Há 47 anos...)
PorT´Chingange
General Kamalata Numa da UNITA
Continuação das falas com o General Numa da UITA (ficcionada)
P: - A Batalha de Cuíto Cuanavale ocorreu entre 15 de Novembro de 1987 e 23 de Março de 1988. Foi a batalha mais prolongada que teve lugar no continente africano desde a Segunda Guerra Mundial. Que nos diz acerca desse evento?
G: - A batalha de Cuíto Cuanavale continua a ser reivindicada á revelia dos generais da UNITA que nela participaram; sempre será uma fractura entorpecida da verdade, quase um tabu no enaltecer de vaidades. Subsiste sempre aquilo que já se verificou na estória e, que ficou conhecido como o “Síndroma de Estocolmo” que, pode bem aqui, ser chamado de “Síndroma do Cuíto” …
Por que isso aconteceu? Abro aqui um parêntesis para e em síntese, explicar o que é isso de “Síndroma de Estocolmo”: Algo que nem eu conhecia ao pormenor - Foi um caso peculiar que permitiu a observação de um estranho fenómeno em que os militares, passam a ter fortes afectos pelo próprio agressor (UNITA) após casos sérios de violência física, psicológica ou guerra forçada e prolongada. O soldado patriota, passa a ter um relacionamento de lealdade e solidariedade com seu agressor. A teoria consiste em acreditar que, apesar das adversidades apresentadas, o inimigo (UNITA) está de alguma forma tentando proporcionar algo bom. A vítima, MPLA, pensa não ter possibilidade de escapar da situação, uma vez que está em situação de vulnerabilidade – É o sistema de defesa da mente humana a buscar uma maneira de aliviar a situação.
P: Para além da fuga de Luanda em 75, ouve mais tarde aquela que ficou conhecida como a “Grande Marcha” dos sobreviventes da UNITA à perseguição das forças ditas governamentais! Correcto?
G: - Ainda lembrando: No dia 8 de Agosto de 75, a UNITA em Luanda, teve de evacuar todos os seus ministros do Governo de Transição. Dá-se o genocídio da UNITA no Pica-pau com o assassínio total de todos os seus ocupantes. A perseguição continua até 17 de Agosto de 1975, obrigando todos os dirigentes, demais elementos e simpatizantes, Umbundos a fugir para onde quer que fosse para se manterem vivos. Em verdade, quem instalou a lógica da guerra foi o MPLA com a supervisão, beneplácito, oferta de material bélico e logística do MFA, dos portugueses …
P: - Perto de Vila Flôr a cerca de 40 km do Huambo, na noite de sete para oito de Setembro de 1976, Canhala foi cercada, atacada, saqueada tendo o governo do MPLA massacrado toda a população. Foi assim, general?
G: - Isso! Não podendo admitir o erro, o MPLA atribuiu aos “fantoches da UNITA” a responsabilidade pelo massacre; quando, na verdade, a UNITA se encontrava desmantelando para Sudeste. Até final de 1976, embora desfalcada, a UNITA resiste a três operações dos cubanos e MPLA “Tigre” no Leste; “Kwenda” a Sueste; “Vakulukutu”, no Cunene. Neste ano, Savimbi envia para Marrocos 500 homens que, a coberto do apoio do Hassan II, recebem treino militar – em Março do ano seguinte, no 4º Congresso da UNITA, estes homens são nomeados comandantes do exército semi-regular da UNITA.
P: - Pelo que sei também ouve actuação de topas congolesas al lado das topas ditas regulares do MPLA, Certo!?
G: - É verdade! À coligação MPLA/cubanos juntam-se tropas congolesas com um total aproximado de 10 batalhões que passam a actuar no Centro/Sul de Angola, praticando a politica de terra queimada e, na qual ficou a ser conhecida por “Ofensiva Ngouabi”, de Marien Ngouabi, presidente do Congo e que, em Setembro de 76, visitou oficialmente Angola. Entre as aldeias mártires da “Ofensiva Ngouabi”, contam-se Quissanquela, Capango, T´Chilonga, T´Chiuca e Mutiete. Nesta última, foi sumariamente executada toda a população masculina.
P: - A República Popular de Angola é admitida na ONU e reconhecida por vários países. Portugal seria o 88º membro a reconhecê-la. E, Como ficou a UNITA, general?
G: - Nesse mesmo mês, o comité político da UNITA abandona Huambo e inicia a retirada par Sudeste, com cobertura de uma coluna Sul-africana. Savimbi está no Leste e inicia, juntamente com duas mil pessoas, aquilo a que se veio a chamar a “Longa Marcha”. O líder da UNITA, Jonas Savimbi, viria a atingir o Cuelei, a 28 de Agosto, milhares de quilómetros percorridos, apenas com 79 resistentes.
P: - General, parece que tudo se acertou em 1991 com o tão desejado “Acordo de Paz”.
G: - Pois ouve sim uma pausa quando se sentaram à mesa nessa data, Alicerces Mango e Lucamba Paulo Gato pela UNITA e, Pitra Neto e o general Ika pelo MPLA. Foi nesse então que a UNITA exigiu um governo de direito democrático que nos levou a Bicesse; isto só foi possível após o último assalto ao Cuíto Cuanavale.
Mas, em verdade, foi a Batalha do Lomba em 1987, ganha pela UNITA que levou o MPLA a sentar-se à mesa de negociações. Se não fosse assim, nunca o MPLA cederia!
P: - General, para terminar, qual foi a decisão que mais pesou na mudança da guerra?
G: - Naquela batalha do Lomba houve por parte de Savimbi a decisão de eliminar todas as fontes de abastecimento ao combustível petróleo. Foi sim decisivo na quebra de logística do MPLA que pretendia ser o dono da história e seguir subserviente à mentirosa versão russa. Mas, é sabido que os interesses económicos estão acima de qualquer outro ideal. E, aqui os americanos deram a volta – que ninguém mecha com seu petróleo. – Adeus USA, adeus América… Teremos de terminar aqui, com a oferta de alta tecnologia americana a Savimbi que sem falhas o localizou e, matou… Há sempre algo desconhecido que nos espera… Abraço!...
(Continua…)
O Soba T´Chingange (Otchingandji)
O Soba T´Chingange (Otchingandji)
NO KILOMBO DO ZUMBI – NA FUNDAÇÃO DE ZUMBI DE N´GOLA…
COM FALA KALADO – A TRAIÇÃO DO ALVOR - Crónica com ficção 3291
– 18ª de Várias Partes – 25.04.2022 ,na Pajuçara do Nordeste brasileiro
– Republicação a 10.11.2022 na Lagoa do M´puto
Por T´Chingange
Aquele encontro em Lindoya com o General Kamalata Numa da UNITA, acabou em churrasco com a promessa de me dar uma entrevista sobre o tema Angola… Dizia então que se “Deus quiser como é de norma dizer-se entre cristãos” iriamos aqui estar de novo. Desta feita e, de comum acordo, falamos no exacto dia em que se comemora o Vinticinco de Abril no M´Puto (48 anos passados), o qual com todas as vicissitudes deu origem à independência de Angola. A entrevista começa assim do nada e, em uma data apelidada aqui de Vinticinco:
P**: - General, como pode ver agora essa data de Vinticinco de Abril de 1975 que foi tão marcante para a liberdade no espaço da Lusofonia?
G**: - O regime instaurado em Portugal a 25 de Abril de 1974, tudo tem feito para minimizar os crimes cometidos contra a nova nação Angola, traindo logo à partida o Acordo de Alvor e, que ainda tanto apregoam e, pelos quais é directamente responsável; promovendo a propósito, o mito de que a Revolução dos Cravos foi uma “revolução sem sangue”. Por outro lado, passados que são 48 anos, ainda não ouve um alto dignatário do Governo do M´Puto que mencionasse este desaire que culminou na entrega da governação ao MPLA.
P: - General, para além do mais, estão hoje (dia do Vinticinco) condecorando com a ORDEM DA LIBERDADE no M´Puto o vilão que tudo fez para desvirtuar todas as eventuais boas intenções do Concelho da Revolução, um oficial vermelho chamado de Rosa Coutinho?
G: - Em 15 de Janeiro de 1975 foi assinado esse acordo que refere, “Acordo de Alvor” que deveria corresponder à transição de poderes de Portugal para os três movimentos emancipalistas reconhecidos. Portugal, tomou logo partido pelo MPLA pois que já antes deste acordo, se tinham reunido em Argel para consertar os procedimentos a que viemos a assistir. As consequências são por demais conhecidas e, assiste-se a uma permanente campanha de imunda falsidade da história com branqueamento de crimes com o apoio da pseudo “elite de Abril”, infiltrada nas escolas, universidade, fundações e observatórios, em quase todos os meios de comunicação de massas e até na figura principal do Estado Português.
P: - Como General da UNITA, como vê o desenrolar de todo o processo em Angola após o Vinticinco?
G: - Quem levou a guerra a Angola foram os portugueses que logo buscaram os russos para os coadjuvarem na mudança fornecendo-lhes toda a “aptidão” na técnica de guerra de sublevação. Chamaram a seguir os cubanos que entraram em solo angolano muito ante da data estipulada para a independência, o 11 de Novembro de 1975. Fizeram do MPLA e à revelia do povo, o representante de toda a população residente no território. Temos assim o MPLA/Governo, como o agente do neocolonialismo em Angola. Por detrás de tudo estão as decisões tomadas em Argel pelos militares portugueses, de esquerda.
P: - Reconhece ter havido golpe baixo, senão traição, por parte de Portugal?
G: - É por demais conhecida a ida de Otelo Saraiva de Carvalho a Cuba a
solicitar intervenção armada e a figura sinistra de Rosa Coutinho que tudo fizeram para que o rumo de Angola resvalasse na guerra entre irmãos. E, estava escrito naquele acordo que em Angola se formaria uma Assembleia Constituinte no prazo de nove meses. Nada disto aconteceu!
P: - Em Abril de 1975 Jomo Keniata organiza a Cimeira de Nakuru no Quénia, na qual a UNITA, MPLA e FNLA acordam na formação de um exército nacional único. O que falhou depois disto?
G: -Bem! Nesse mesmo mês (Abril de 75) Savimbi chega a Luanda. Cerca de dois meses depois, o MPLA destrói um quartel da UNITA na capital., chacinando militares e civis ali bivacados – este episódio ficou conhecido por “MASSACRE DO PICA-PAU”, nome do bairro que albergou o quartel. Definitivamente o MPLA, pelas ordens de Rosa Coutinho, o cunhado de Agostinho Neto, não queria nenhum dos outros Movimentos intervenientes no “ACORDO DE ALVOR” em Luanda. Eu direi que este foi o mais escandaloso “DESACORDO” na estória recente que envolve países dos PALOPS.
P: Em Luanda, nesse então, havia provocações originando a fuga de brancos e assimilados, mazombos como eu. A lei, a ordem, a justiça eram coisas quase inexistentes ou anedóticas pela pior das negativas. Que tem a dizer a isto?
G: - Luanda ficou entregue a gente impreparada, gente racista como Lúcio Lara entre muitos outros e “miúdos pioneiros” que faziam querer tomar o controlo de tudo… Para o MPLA, era incontestavelmente seu líder Agostinho Neto, um medíocre poeta com formação universitária em Coimbra – O homem escolhido pelos generais e afins do MFA (dizem agora, ter sido o menos mau!). A UNITA também se retira de Luanda para o Huambo, antiga Nova lisboa. O MPLA fica dono e senhor da capital, a Luua.
P: - Muito antes do 11 de Novembro de 1975, desembarcam os primeiros cubanos que passam a apoiar o MPLA contra a FNLA tal como o combinado entre Fidel de Castro e Otelo Saraiva de Carvalho; hoje deve saber-se como tudo se processou?
G: - Assim foi! O pseudo-herói do VINTICINCO de Abril do M´Puto, conhecido pela rebelião dos capitães assim procedeu. Mas, em verdade já havia em Angola e Congo Brazaville cubanos em treinamento para ultimar sua entrada em Angola e, muito antes do 11 de Novembro. Esta força ajudou o MPLA contra a FNLA; força da FNLA que avançou para tomar Luanda, uma coluna na qual se incluíam mercenários de várias nacionalidades, portuguesas incluídas tal como Santos e Castro um oficial superior nascido em Angola; também havia um elevado número de zairenses - sete ingleses, dois americanos, um cipriota, um escocês e um sul-africano que são feitos prisioneiros e, que num julgamento sumário, mais tarde, foram fuzilados…
P: - Houve na África Portuguesa, uma limpeza étnica da população branca, promovida pela União Soviética com o total apoio dos partidos da esquerda portuguesa: - PCP e PS. Que tem a acrescentar a isto General?
G:- Em verdade, o Relatório Final da Comissão de Peritos estabelecido conforme a Resolução 780 do Conselho de Segurança das Nações Unidas* definiu a limpeza étnica como sendo: “Uma política propositadamente concebida por um grupo étnico ou religioso, para remover a população civil de outro grupo étnico de uma determinada área geográfica, através de meios violentos ou que inspirem terror”. Pois foi isto que aconteceu com Umbundos e Brancos… As evidências e as provas de crime são tantas que, não restam dúvidas de que a descolonização da África Portuguesa foi uma limpeza étnica da população branca, Quiocos e Umbundos, promovida pela União Soviética com o total apoio dos partidos da esquerda portuguesa: - PCP e PS.
Ver Nota***
Notas- 1*: Ver documenta – ORGANIZAÇÃO DAS NAÇOES UNIDAS – Relatório Final da Comissão de Peritos Estabelecido Conforme a Resolução 780 do Conselho de Segurança (1992). 27 de Maio de 1994; 2**: - P de pergunta, G de General; 3***: - Nesta data o M, movimento governo, continua no poder tendo sufragado João Lourenço como Presidente do MPLA/Angola, com fraude. Batota verificada mas não aceite pelos apêndices de Tribunal Constitucional e Eleitoral, tendo recusado as provas da victória, sem sequer as lerem. A prova de que foi ganhador Adalberto da Costa Júnior, Presidente da UNITA…
(Continua… Sobre Cuíto -Mavinga)
O Soba T´Chingange (Otchingandji)
MULOLAS DO TEMPO – 30
RECORDANDO: Nós, bazungus no COMPLEXO PALMEIRAS de BILENE
- Odisseia “HAJA PACIÊNCIA” – 06 e 07 de Novembro de 2018 - nos 50º e 51º dias
Crónica 3288 – 22.04.2022, no PortVille de Maceió do Brasil – Republicação a 07.11.2022 em Lagoa do M´Puto.
Por T´Chingange
No lugar da Praia de Bilene no Complexo Palmeiras de Eduardo Ruiz – por aqui ficamos três dias e três noites, lugar aprazível, um pouco de frio por agora mas, que em Dezembro alberga milhares de veraneantes vindos da vizinha África do Sul. Podemos verificar as instalações de férias para os trabalhadores do Caminho de Ferro de Moçambique, lugar muito concorrido por famílias em tempo colonial a que chamavam de colónias de férias e que normalmente coincidia com as férias escolares. Nestes dias de pouca azáfama recordei por debaixo das casuarinas da praia poemas de Pablo Neruda estendendo em texto sua tão fluida forma de dizer: “Morre lentamente quem não vira a mesa, quando está infeliz no trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho, quem não se permite uma vez na vida, fugir dos conceitos sensatos”.
Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da chuva incessante, desistindo de um projecto antes de iniciá-lo, não perguntando sobre um assunto que desconhece e não respondendo quando lhe indagam o que sabe. E, continuando a leitura sem desfalecer de sono, evitando a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior do que um simples acto de respirar. Pois bem, sinto-me como a formiga “pixica” que criada sobre folhas de cacaueiro, extermina as pragas sem fazer mal à árvore. Esta simbiose simples e sustentável pode ser a fortuna planeada do futuro: sobreviver comendo ácaros ou mopane (catato), nefastos como se, camarões de Bilene, o fossem.
Não há matope bom nem ruim. Tudo é a mesma coisa, aonde quer que o seja, é questão de sair da lama em volta porque matope não é barro, mesmo! Assim falava e ainda fala (creio) o Conde de T´Chinkerere, nobreza de faz-de-conta de um reino chamado de Xi-Colonos. Um meu amiga feito nas terras altas de Angola um lugar de montes e vales aonde a vovuzela soa ao longe como o berrante feito de chifres de boi dos brasis, que bem tocado contagia quem o ouve, gente ou gado a 3km de distância. Este “Zé Trovão de Arriaga - O Rei Do Gado", tem o nome comum de Valério Guerra.
Pude ver no entretém das poesias de Valério e Neruda, não muito longe e debaixo das casuarinas, um senhor já grisalho ditando ordens a uns quantos jovens e, terminando sempre com um “ámen” (assim seja), no qual era repetido. Em sequência, deu opas brancas a sete irmãos, eles e elas, já vestidos deslocaram-se para a água cor de esmeralda avançando até à altura da água pela cintura. Eu, curioso, firmava meus olhares neles, nos ditames de seita ou algo assim…
Aí, dois mais velhos guias colocaram os ditos irmãos dois a dois e após uma prece de mãos juntas que não ouvi, seguraram o corpo destes e acto contínuo, mergulharam-nos totalmente na água. Não sei ao certo qual as suas vocações religiosas mas era audível de quando-em-quando o nome de Cristo; o que me levou em crer serem protestantes baptistas, Luteranos ou afins. As cerimónias seguiram um ritual semelhante ao do baptismo de Jesus Cristo às margens do rio Jordão por João Baptista…
No lado Sul, um magote de gente multicolor maioritariamente composto de mulheres envoltas em capulanas garridas, cantavam lindos coros à sombra da mata de casuarinas. Levaram todo o tempo entoando canções em Changani - algumas mulheres dançando com mãos elevadas ao céu. Umas quantas iam até à água e voltavam saltitando de forma ritmada na areia fina, enquanto espanejavam o ar viradas ao infinito celeste. De toda esta gente destacava-se um homem grande, vestido com uma túnica azul bordada com arabescos.
A cabeça do "guru" estava recoberta com uma boina justa de desenhos intrincados, símbolos a dourado; do pescoço pendiam colares na forma de zingarelhos ou rosários com latas, ou talvez penduricalhos do Xipamanine de Xi-lingwine, actual Maputo. Este destacado personagem do oxalá, fez deslocar no se Deus-quiser o grupo em fila ordenada de fiéis levando-os a uma curta marcha até um determinado lugar. Aqui, deixou que se agrupassem ao seu redor fazendo uma prelecção inaudível do ponto aonde me encontrava.
Não sei se incluíram o Iemanjá nem se lançaram flores mas, informaram-me ser uma seita chamada de “Mazziottis”. Gostaria de me explicitar melhor quanto ao que vi à distância mas não me aventuro em suposições de candomblé, orixás ou oxalás. Este nosso mundo é tão cheio de convicções que só temos de respeitar as diferenças sem as repudiar. Se, se a prática for a essência do bem e da paz sem incitamento à luta, jihad, mutilação, perseguição ou incitamento ao ódio que assim o seja! Cada qual escolhe o seu tipo de macumba até que um dia cai na tumba. A ignorância é uma coisa muito perigosa e disto, infelizmente, todos temos um pouco.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
ANGOLA, TERRA DA GASOSA . VI
CANTINHO DO INFERNO – TERRA DE MATRINDINDES
Lembranças de escritos antigos - “Angola, quanto tempo falta para amanhã?” – Em Julho de 2002 (quatro meses após a morte de Savimbi – 22 de Fevereiro de 2002)
– Crónica 3287 de 20.04.2022, em PortVille da Pajuçara de Maceió – Republicação a 05.11.2022 em Messejana do M´Puto
N´Nhaka: - Do Umbundo, lameiro, plantação junto ao rio, horta…
Por T´Chingange –(Otchingandji)
CA -Já estamos no Sumbe, terra do eclipse e da eleição de misse 2001, um ano atrás, mas ainda lá está o jardim que proporcionou mostrar a fantasia com lençol de água escorrendo em cascata e, muita luz de coloridos brilhos. Tudo para trabalhar pela televisão as invencionices de lavagem da governação sem os desmandos, roubos e superfacturamento que a nomenclatura vinha praticando. Agora está tudo seco, o fingimento de beldades já sem águas escorrendo, deu lugar à terra crua e vermelha no lugar da grama - as árvores definham por falta de água!
Água, aiué…foi aparecendo nas torneiras em alguns dias entre as cinco e seis horas da manhã, depois, adeus… Não deu para tomar banho de chuveiro; na casa do pai de Balbina, Pais da Cunha o caneco funcionou todo o tempo. A luz da lâmpada também só aparecia nos dias ímpares; com gasosa até podiam dar-nos uma fase por mais algum tempo. O mundial de futebol de 2002 (vinte anos atrás) estava a decorrer. Todos desejavam a victória do Senegal e, só depois o Brasil – Os Tugas já estavam de fora.
CA - Os grandes discos de antenas parabólicas proporcionavam aos mais abastados da cidade do Sumbe verem o canal de África – RTP Internacional entre outras e de todo o mundo. Xingú, o mais candengue da família Pais, nas falhas de energia lá ia a correr até à casa do gerente do gerador ligar a fase pirata da zona par; aconteceu até levar uma lata de gasóleo, o necessário para o gerador funcionar.
Era uma luta pelos vistos! É que nem sempre os vizinhos estavam nos ajustes indevidos para que o gerador funcionasse na borla devida. Mas, nestes dias a febre do futebol fazia milagres de luz para sempre se verem os gooolos. Em um dos vários dias comemos de vela acesa, talvez a gasosa do lado impar tivesse sido mais substancial. Até foi bom que acontecesse a escuridão porque tivemos oportunidade de assim entabular divagações com ajustes de posturas nos muxoxos e kazumbis.
CA - No meu sentido de inserir palavras nesta descrição, frases e estruturas sintácticas, fui acumulando palavras novas oriundas do kimbundo, do umbundo e outras maneiras de linguajar tendo sempre como base o português do M´Puto com as declinações e palavras novas, inventadas até e, u oriundas do tronco bantu. Sendo assim um misto de narração, inventação, conto ou testemunho de reportagem, coloco em meus próprios sonhos, as vontades de reconciliação com um profundo agradecimento a todos os que me proporcionaram dias tão diferentes.
Envolto em ideias díspares, quase psicografava em vontade, nas contradições, algumas das sanguinolentas, macabras até e, que sem o devido tato, poderiam resvalar para ressentimentos; acontecia assim ao falar com o filósofo Pipocas, um responsável do património local do MPLA que de tanto beber, se esqueceu dele mesmo – pifou em sabedoria!
CA - Pipocas era em verdade um símbolo kazukuteiro descartável, ágil e de falas suaves, peneirava-se na beleza das malambas, esperto, agressivo no beber, desconsiderado ou desclassificado por raiva, ciúme ou desdém, poucos o tinham em conceito concebido mas, tinha sim uma mente aguda: Ginasticando suas manigâncias da vida definhava-se na permanente curtição do álcool, vinho Camilo Alves, cerveja, cachaça e outras mistelas de bangasumo e capo-roto.
Pipocas, tinha sido comandante mas, por ter arrecadado o dinheiro dos mortos de guerra saiu dos mecanográficos e, por ali está agora comandando os imóveis, remexendo continuamente mugimbos almoxarifados, efémeros de quanto baste para encantar linguistas; isto, antes de rodopiar os olhos liambados de coisa ruim. É um personagem típico dum grande palco que é Angola, passando os dias num faz de conta divagando e bebendo frias cucas; e, assim sua cuca se adia, sempre adiado nas obrigações. (…Com ele, Pipocas sóbrio, tive conversas bem interessantes, senti-lhe uma arguta esperteza, ideais bem formulados, revelando ter principios de sábia concertação social de elevada erudição – acima da média …)
Ilustrações de CA -Costa Araújo
(Continua…)
O Soba T´Chingange (Otchingandji)
ANGOLA, TERRA DA GASOSA . V
CANTINHO DO INFERNO – TERRA DE MATRINDINDES
Lembranças de escritos antigos - “Angola, quanto tempo falta para amanhã?” – Em Julho de 2002 (quatro meses após a morte de Savimbi – 22 de Fevereiro de 2002) – Crónica 3283 de 16.04.2022 em PortVille da Pajuçara de Maceió – Republicada a 30.10.2022 na Lagoa do M´puto
N´Nhaka: - Do Umbundo, lameiro, plantação junto aos rios, horta…
Por T´Chingange
Neste lugar de encantos atarraxados, na área de serviço de Cabo Ledo, as cervejas são retiradas de grandes caixas de isopor, esferovite; dessas que se usam quando vamos para o campismo mas, de maiores dimensões. É dali que retiram as verdadeiras gasosas de beber, pepsi-cola, mission, cucas e taifal ou sagres do M´Puto. Ali perto há um aquartelamento militar; foi por aqui que entraram os primeiros militares cubanos que deram formação às primeiras tropas organizadas do MPLA. E, foi Carlos Fabião, Flávio Bravo e Agostinho Neto que acordam os pormenores da participação Cubana na Operação Carlota, a que ficou conhecida como a Batalha de Luanda.
Pois foi aqui que entraram e depois saíram entre Maio e Junho nessa Operação Carlota; oficiais que por ali passaram tais como: Abelardo Colomé Ibarra, Lopes Cubas, Freitas Ramirez, Leopoldo Cintras Frias ou Romário Sotomayor. Foram estes e os jovens da Academia Militar de “Ceiba del Água” que mais tarde deram os pormenores já descritos em várias fontes. Cabo Ledo teve uma forte intervenção naquela que ficou conhecida por “a Batalha de Luanda”.
No entretanto da observância vêem-se uns quantos militares roçando as donzelas; um deles, de patente rasa vem até nós pedir uma gasosa a fim de poder ir até Luanda visitar sua namorada; treta ou não, em seguida bazou de nós indo pela certa cravar outro, indícios firmes do pouco salário que recebem. Já perto do rio Calamba, começa a ver-se newas, maboqueiros, embondeiros e cassuneiras; podem ver-se muitas destas, altas e esguias palmeiras já em fase de vida terminal -alguém esclareceu que por tanto retirarem sua seiva para fazer marufo, elas definham até à morte.
Atravessamos a Reserva da Kissama sem ter visto uma simples capota, nem tampouco um camundongo ou mesmo um dilengo (coelho). Começamos a descer para Porto Amboim, um antigo e importante porto de pesca e início da linha de comboio que trazia em tempos o café da CADA, uma empresa exportadora de café robusta. Foi ali na “Boa Lembrança” da CADA, que passei minha lua-de-mel como soe dizer-se, no ano de 1970. O sol kúkia, descia já no horizonte valorizando a ampla baía com o mesmo nome.
Neste local de muita azáfama piscatória no tempo dos Tugas, podia ainda ver-se alguma movida na arte de secar peixe, pesca da lagosta e lá mais adiante, ao dobrar do promontório e na foz do rio Cuvo as deliciosas e grandes ostras. Compramos ao Tadeu Matrindindi um saco de ráfia, daqueles usados no transporte de carvão lá no M´Puto. Custou-nos cem kwanzas ou seja o equivalente a dois €uros e vinte cêntimos. E, se havia ostras! Dias depois voltamos ali, atravessamos em uma improvisada jangada de paus de binga, amarrados com mateba, numa lagoa da foz do rio Cuvo e nós mesmos, eu, Jimba, Zito e o vizinho Candimba apanhamos mais um saco daqueles.
À medida que espetávamos o bordão no fundo, sentíamos as ostras, um rochoso crocante, depois era só mergulhar e apanhar à lagardere… Foram dias de folgadas lembranças como se ainda candengue estivesse a apanhar na Samba da Luua as mabangas para o isco a usar na apanha das mariquitas ou roncadores. O banco de calcário ostrífero era impressionantemente vasto por ali. Fazendo uma fogueira na ilha de areia daquela foz, pudemos fazer abrir aquelas deliciosas ostras, meter-lhe uma porção de sumo de limão e, depois degluti-las. A acompanhar tivemos as frias, cervejas Hanson, Heineken, Sul Africanas e a Cuca angolana.
Recordo agora o Jimba (já falecido) a apontar uma farta planície, uma imensidão de capim, as terras de seu pai e aonde cultivavam algodão em idos tempos. Agora podiam ver-se umas quantas cabeças de gado nemas bem perto de um quartel com parque militar; estafadas Urais e Ifas soviéticas usadas na guerra recém terminada - há quatro meses…
Posso agora, 47 anos depois do 75 recordar: E, foi na Praia de Sangano um pouco a norte de Cabo Ledo que desembarcaram os primeiros homens comandados pelo General Raul Diaz Arqueles. Ali descarregaram os primeiros complexos móveis de defesa antiaérea “Strela”. Os instrutores deste equipamento sofisticado, estavam a ser coordenados pelo Coronel Trofimenko que a partir da Republica do Congo Brazaville enviavam numa primeira fase, pequenos aviões para aterrizar na pequena pista de aviação da Kissama em Cabo Ledo.
(Continua…)
O Soba T´Chingange (Otchingandji)
NO KILOMBO DO ZUMBI – NA FUNDAÇÃO DE ZUMBI DE N´GOLA…
COM FALA KALADO - Crónica 3277 – 16ª de Várias Partes – 08.04.2022 em Pajuçara – Republicada a 22.10.2022 em Lagoa do M´puto
Por A - T´Chingange – No nordeste brasileiro e AlGharb do M´puto (Com Aqualtune)
Chegada a hora do café e dos digestivos, era suposto haver discursos na forma de agradecimento mas, e devido ao facto do Exmo. Cidadão estar no estado já descrito e, porque sempre ficava apoquentado de irrequieto quando tudo ficava demorado, Rosa Casado, a chefe de protocolo, deu indicações que o senhor Comendador iria retirar-se a fim de dar andamento aos seus tratamentos e, que as individualidades presentes, (nós), iriam para o d´jango do jardim para e após ou durante o café serem estabelecidas as linhas programáticas da Fundação Zumbi de N´Gola para o tempo que restava, até se findar o ano civil.
Após Rosa Casado ter segredado algo propedêutico ao ouvido do Exmo. Comendador, este de novo levantou sua mão direita para dar homologação às palavras de sua muito distinta auxiliar, dona de muitos segredos oriundos de Garanhuns, Petrolina e Serra da Barriga por ser filha de um antigo prefeito da Cidade de União dos Palmares – António Ribeiro Casado. Todos de pé, assistimos à saída do filantrópico cidadão acompanhado daquela outra senhora com bata branca com uma cruz vermelha ao peito…
O gigante negro Lother, que até então se mantinha afastado, bem no canto e ao lado do tal chefe de cerimónias com laçarote, este, ao tocar de novo o sino como que dando por terminado o repasto, Lother caminhou na direcção da cadeira ergonómica que, com suavidade, rodou noventa graus, levando seu patrono ao seu mukifo … Estando eu atento em todo o tempo ao semblante do meu antigo companheiro de guerra do Maiombe pude reparar…
Pude notar duas lágrimas caindo por sua face; havia momentos de lucidez e, nesses momentos, era tomado pelas carências de perdoar o justo pelo certo e também porque não mais seu luar, poderia pôr a noite inchada. Por momentos até relancei a hipótese de estar a fingir para ludibriar a Intelligence secreta que sempre parecia estar presente em seus passos desde que saiu matumbola de Angola, seu país de origem… União dos Palmares é considerada uma das principais cidades de Alagoas e é conhecida por ser "A Terra da Liberdade", pois foi nela, mais precisamente na Serra da Barriga aqui descrita por vezes como Serra dos Macacos, aonde foi dado o primeiro grito de liberdade por Zumbi dos Palmares.
Em sua memória surgiu a festa da Consciência Negra festejada a 20 de Novembro, dia de sua morte. Tive esta lembrança na deslocação para o d´jango aonde iriamos estabelecer as tais linhas programáticas da Fundação. Do muito que ali se debateu, a mim, Zelador-Mor, conselheiro, fiquei de coordenar o vinte de Novembro, de coordenar toda a logística de convites às muitas personalidades do mundo dos PALOPS, cabendo a cada um dos outros nove membros eleger três figuras públicas internacionais nas áreas de governo, cultura e diplomacia global.
Não vou aqui entrar em detalhes do foro interno mas e, no que toca à minha escolha apontei os nomes de Marcial N´Dachala e General Kamalata Numa, ambos da UNITA*** e, José Eduardo Agualusa, escritor conceituado a nível internacional. Na altura certa se saberá publicamente os outros nomes num total de trinta, tendo várias correntes politicas e visões diferenciadas para e, em altura própria conferenciarem seus pontos de vista, da Paz e da guerra, dos pontos dentro e fora das quatro linhas que balizam os conceitos de democracia.
Também ficará a meu cargo a popularíssima Corrida Palmarina do Jumento Alagoano no último domingo de Dezembro de cada ano civil; uma cavalhada que entusiasmará por certo todos os tropeiros deste mundo. Esta festa de cariz popular terá decerto a filiação da autarquia e muitos aficionados das gestas heróicas dos tempos idos, das tropas de muares cruzando os lugares mais recônditos deste brasil. Esta terá também a participação das gentes dos actuais quilombos adstritos à governança de Paulo Sarmento, Assistente do Rotary Internacional, Distrito 4390.
No século XVII, Alagoas oferecia reduto para os negros formarem os inúmeros quilombos que prosperavam em todo o território brasileiro, mas que tiveram na Cerca dos Macacos da Serra da Barriga, nos Palmares, sua maior simbologia. O Brasil foi o país com a maior concentração de escravos negros do mundo com dados indicadores de 3,5 milhões. A liberdade, por meio de fuga, consolidava-se pela anormalidade da vida administrativa e económica da capitania de Pernambuco. Palmares, perdurou por 64 anos, capitulando no ano de 1696 e é o governador da capitania que relata ao rei D. Pedro II do M´Puto, o pacífico, a morte de Zumbi dos Palmares…
Nota ***: - Por via de altercações ao programa editorial acrescento agora – 22.10.2022 à lista de convidados Adalberto da Costa Júnior, o verdadeiro ganhador das eleições em Angola mas que por via de fraude grosseira não pode usar das prorrogativas de Presidente. O seu a seu dono: Kwacha!…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
ANGOLA, TERRA DA GASOSA . III
CANTINHO DO INFERNO – TERRA DE MATRINDINDES
Lembranças actuais de escritos antigos - “havemos de voltar” – Em Julho de 2002 (quatro meses após a morte de Savimbi – 22 de Fevereiro de 2002)
Crónica 3276 de 07.04.2022 escrita na Pajuçara de Maceió – Republicação a 20.10.2022 na lagoa do M´Puto
N´Nhaka: - Do Umbundo, lameiro, plantação junto aos rios, horta…
Por T´Chingange
Bien, Humberto Cunha do Sumbe, engenheiro civil formado em Cuba em tempos de dipanda, chorou ao despedir-se de mim e Ibib no mesmo aeroporto “4 de Fevereiro” (antigo Craveiro Lopes ou de Belas). Eu, que me fiz forte na altura, relembro agora que também fiquei esfiapado das pestanas, com humidade por arrumo dos preparos finais. Foi exactamente na sala que nesse então, reparei, essa sala ter perdido o tecto falso; podia ver-se os tubos semi descarnados e em desalinho, dispondo-se encavalitados em todos os sentidos. Este intróito sendo de saída é só uma pescada de rabo na boca porque a descrição que se segue é o começo da visita ao CANTINHO DO INFERNO…
Fiquei sem saber se os tubos levavam dentro outros fios ou águas negras; Se eram condutas de ar condicionado ou fios de comunicação! Só faço este reparo para verem o quanto havia de descaso numa sala de entrada e saída de gente a quem se necessita dar uma boa imagem; Os tempos de guerra finda há quatro meses, supõe-se não ter dado manobra de embelezamento às estruturas de aparência. Tinha saído de Angola nesta mesma sala em Agosto 1975 com uma guia de marcha sem volta, emanada pelo Alto Comissária em Angola e, no meio de tanta agitação, tanto caixote espalhado a esmo, nem reparei se havia ali, ou não, tecto falso.
Havia sim controlo sanitário, alfândega, controlo de polícia de fronteira e bagagem. Quem tivesse kwanzas ou outra moeda de sobra, era ali depositada por confisco sumário; não era permitido retirar do território qualquer divisa sem estar superiormente declarada. Consegui passar despercebido ao lado desta desorganizada rigorosidade. Nossas malas dispostas no exterior eram assinaladas por cada um dos passageiros que só depois de o dizer qual a sua mala ou malas, eram carregadas até ao avião da TAP. Compreende-se, pois nesse então e ali, não havia ainda os métodos modernos de visão do tipo de raio xis…
Pois de vacina nas mãos é-nos indicado o sítio de carimbação; gente improvisada, vestida de bata dá valia aos papéis amarelos e, depois das boas chegadas por parte das autoridades com chapéu de dourados arabescos, vem a secção da bagagem aonde a dita gasosa agiliza as vistas. Isto aconteceu na chegada com o surpreendente pedido de gasosa sem sabermos nesse então o que seria isso; O Zito mais avisado disse ao Jimba (já falecido) que era uma gorjeta para não empatar; neste momento já tinha vinte euros na mão para desanuviar a mercadoria e, assim aconteceu…
O primeiro impacto com os destapados buracos de rua foi logo ali em frente ao aeroporto 4 de Fevereiro, esgotos a correr a céu aberto, bem à saída da base da Força Aérea e, entre esta e o bairro que já foi novo quando os cubanos o construíram. Os bolos de batata-doce, de mandioca e banana assada com outras iguarias por ali estão expostos, no meio do espezinhado lamaçal, em cima de improvisadas caixas. Mais ao lado há uma secção de lavagens de carros, uma mangueira que verte água que por seu lado escorre para este improvisado mercado das calamidades.
O desenrasca funciona paredes meias com os supostos sítios nobres. Luanda aí está! Passando no antigo largo Afonso Henriques, e bem em frente aonde funcionou o sindicato metalúrgico para meu espanto, vejo um grande buraco a jorrar água limpa aos borbotos e uns quantos jovens a fazer daquilo uma estação de lavagem para carros, baldes, esfregonas, sabões e tudo no tecnicamente imperfeito. Os carros eram de alta cilindrada, vidos fumados e acessórios xispéteo… O sinaleiro da Maianga faz milagres para dar ordem ao trânsito, é desrespeitado e até chamado de nomes de macaco para símio. Os vendedores de antenas parabólicas, chinelos e quinquilharias chinocas não largam as janelas dos carros aqui e em qualquer cruzamento com ou sem sinais. Patrão compra só, é barato!
E, vi porque ninguém me contou: coleiras de cão, peúgas, pó de pulgas, chapéus quicos e até batatas fritas. Os Libaneses resolvem o problema de despachar o negócio usando crianças a venderem de tudo e também CêDês produzidos em estúdios suspeitos do Cazenga ou kazukuteiros do Sambizanga, saídos do Tira-biquíni e Dona Xepa e outros com esquemas com bangula, um salve-se quem poder que a morte vem aí, é certa…
Bem ao lado da casa do Chico Massa aonde ficamos por uma noite, cruzamento da rua de João Seca com a rua da Maianga, o imbondeiro, continua lá, mas muito rodeado de chapas altas. Posso ver daqui a antiga oficina do meu cunhado Paulino Branco, o homem das cambotas (já falecido), bem junto à antiga avenida Craveiro Lopes; sei que do outro lado está a morgue aonde em tempos de candengue vi pedaços de atrocidades, mas, olhando para cima consigo ver umas quantas múcuas. De lá de dentro sai um barulho de esmeril guinchando raivas afiadas – é uma fábrica de grades anti ladrão para colocar em janelas, portas e demais vãos de casas e edecéteras.
Nota: mais lá para o final colocarei um glossário para se lembrarem de quando não eram kaluandas…
(Continua…)
O Soba T´Chingange (Otchingandji)
KIANDA COM ONGWEVA NAS FRINCHAS DO TEMPO - XVII de várias partes…
– Crónica 3270 de 02.04.2022 no PortVille da Pajuçara em Alagoas do Brasil – Republicação a 12.10.2022 no AlGharb do M´Puto
Desabafos do Conde de Sant German no Museu do Prado em Sevilha…
Ongweva é coração com saudade
Por T´Chingange (Ochingandji) – Em Alagoas do Brasil e Lagoa do M´Puto
Em 1965, na sequência de demoradas e infrutíferas negociações com o governo britânico, Smith declara a independência da Rodésia. É o Conde de Sant German que continua descrevendo sua experiência em África: Cumpre ressaltar as páginas elogiosas que Ian Smith dedica a Salazar e a Portugal a quem rende sincera homenagem à nação euro-ultramarina que, com a nobreza da simplicidade e a força de seu carácter, cumpria a missão histórica do povo. Muitos, acapachar-se-ão na retorica do ditador sem contudo demonstrar esse acto de coarctar a bem da Nação, como era apanágio dizer-se em causa pública.
Claro que não falava para uma plateia de estudantes encapuchados com suas novas ideias, novelos de linhas políticas emancipalistas no tanto quanto chega. Nós, eu e Januário somente o ouvíamos! Salazar, defendia com determinação os seus legítimos direitos e interesses perante os mais fortes do mundo. Ele, Salazar, foi um estadista excepcional, cuja craveira intelectual e moral deixaram nele, Ian Smith uma impressão única e indelével. Aqui, eu falei: - tomara termos hoje no M´Puto gente com a craveira dele!
Foi o Conde de San German que destrinçou esta parte da estória que os historiadores pulam por conveniência ou falta de caracter. A Grã-Bretanha, empenhada na sua demissão histórica, anuncia a dissolução da Federação das Rodésias e do Niassalândia com vista à formação de Estados “independentes governados por maioria negra. Smith é o único do seu partido, lá em Londres, a manifestar oficialmente a sua desconfiança em relação à proposta explicitada por alguns lordes. Para ele, a Inglaterra, no afã de obter a simpatia de afro-asiáticos, Estado-Unidenses e Soviéticos, estaria disposta a liquidar o seu “problema colonial” com o abandono puro e simples da população branca; não há outra forma de o dizer…
E, continua: - os mesmos indivíduos que no conflito mundial de 39-45 deixaram a paz dos seus lares para irem arriscar as próprias vidas no socorro à Grã-Bretanha. Foi o caso dele! Em 1964, dez anos antes da abrilada portuguesa, Ian Smith é eleito primeiro-ministro. Numa visita oficial a Lisboa encontra-se demoradamente com Salazar e este diz-lhe declaradamente que os rodesianos seriam traídos pelos ingleses.
Esta novidade apanhava-me de supetão pois sempre me pareceu ser Salazar um tanto ou quanto submisso às directivas diplomáticas dos fleumáticos britânicos. Mais disse que enquanto ele fosse Presidente do Concelho em Portugal, prestaria o auxílio necessário a Salisbúria (a actual Harare). Pouco depois, aqueles a quem Fialho de Almeida chamou de “carrascos ruivos do Tamisa”, concretizariam o que o estadista português preconizava. Sabemos agora que na surdina diplomática, alguns de seus compatriotas Tugas se enfeudavam em secretas manobras de desestabilização.
A lembrança deste encontro profético em São Bento ficou para sempre gravada na sua memória, plenamente convencido de que, se Salazar tivesse vivido dez anos mais, a Rodésia teria sobrevivido. Em 1965, na sequência de demoradas e infrutíferas negociações com o governo britânico, Smith declara a independência da Rodésia. Sua vida política passa então a reger-se quase que exclusivamente por duas constantes: a neutralização dos efeitos das sanções impostas pela ONU, sob a batuta de Londres e Washington; e o combate ao terrorismo e à guerrilha de obediência comunista que faziam a sua desumana entrada no território.
E é agora e por intermédio desta kiandisse, assim calhou, que me é dado conhecer toda a arte de velhacaria que invadiu o dito mundo moderno através dos arautos da verdade, os primos Ingleses e americanos que continuam a ditar leis aos outros povos, sabendo à partida que é tudo uma utopia ou farsa. Nós, que estamos vivendo os problemas que nos cercam, podemos dar a importância devida ao que engloba este nosso recente passado para rectificarmo-nos ou ponderarmos sobre o nosso futuro tão incerto.
Sabemos bem o que ocorre hoje nestes territórios que ascenderam à independência às pressas, de uma gestão catastrófica de puros ditadores e, do silêncio ensurdecedor dos órgãos de informação internacionais como que, obedecendo a uma nova ordem mundial. Estas falas em um amplo corredor do Museu do Prado foram insólitas mas, até que foi bom inteirar-me delas mesmo que fugindo um pouco à ideia da estória com as calungas. Decerto iremos apanhar o rumo à estória das kiandas que se segue…Também fico curioso.
(Continua…)
O Soba T´Chingange (Otchingandji)
MOAMBA DE QUINTA – ALGURES NO BUCO-ZAU – 1ª Parte
CABINDA NO ANO DE 1968 (FOI HÁ 54 ANOS) - ANGOLA
Crónica 3268 - No PortVille da Pajuçara de Maceió – Republicação a 10.10.2022 no AlGharb do M´Puto
Por T'Chingange – Na Pajuçara de Maceió
Algures no Buco-Zau -- De uma das mãos lançou um ás de copas que baloiçou até meus pés e ouvi mesmo: La vitória és cierta! La lucha continua! O Gorigula tinha sido um companheiro de Ché Guevara… Naqueles longínquos anos de entre sessenta e setenta do século passado, o XX, todo metido na Mata do Maiombe, tropeçando na força das circunstâncias e num entretanto que só durou quatro anos, a guerra foi um conjunto de acidentes suados a paludismo.
De um para outro lado, subindo e descendo rios procurando rastos com o soba Mateus à frente, barafustando com o ar e cortando capim à catanada, pisando charcos infestados de sanguessugas, larvas com milhões de patas e escorpiões pretos e pré-históricos a fingir de lagostins. Buscando turras num secalhar perdido entre a bruma e o cacimbo, o gozo da liberdade corria como se a vida fosse um jogo de poker, num azar de tomar pastilhas vermelhas para anular maleitas com micróbios fosfóricos na única água estraganada que havia.
Com as costas das mãos afastávamos as bicharias visíveis e, em seguida engolíamos aquilo escorrendo da mão ou numa qualquer folha verde a jeito com um comprimido vermelho de mataratos. Guardando soberania da pátria do M´Puto, camuflados ensopados até o tutano, assim seguíamos em fila de pirilau, duas granadas presas ao peito, uma G3 em riste mais uma cartucheira repleta de balas para o que desse e, viesse.
Atrás uns dos outros na forma de pirilau, ouvíamos os gritos da floresta, o piar dos pássaros e o grasnar de fantasmosas, sombras que se moviam como olharapos entre o ripado verde com troncos disformes e veias salientes segurando esguios troncos sequiosos de luz, outros disformes esfarelando-se na velhice como abatises para alimentar bichezas rastejantes; a mente medrosa fazia-se ali num jardim de cânticos surdinando mugidos e muxoxos numa raiva sossegada.
O barulho do helicóptero chega zunindo e na forma de parafuso baixa suave até ao centro da mata, uma clareira junto ao rio Luáli, um afluente do Chiloango. Buco-Zau era um lugar rodeado de um escandalosamente verde variado e húmido, um conjunto de casas e armazéns rodeados de árvores majestosamente nobres e, mais além um conjunto de cubatas unidas por um terreiro, uma quase colina rodeada de cacaueiros e um ou outro pé de cafeeiro aonde já se podiam distinguir bagas vermelhas.
As casas grandes como as do M´Puto, umas com beira outras sem ela, pertença de administradores e capatazes T´chinderes, dispunham-se alinhadas com cobertura de zinco já na cor de um castanho enferrujado. Enquanto a casa principal da roça era coberta a quatro águas em telha de canudo luso ou marselha e sacadas a quase todo o seu redor, as outras, mais modestas, eram cobertas só a zinco mas, e também com folhas de palmeira ripada e entrelaçada na forma de loando.
Pretos em tronco nu cruzam-se com bikwatas ou ferramentas pendendo dos ombros enquanto as mulheres envoltas em panos com a esfinge de Mobutu, Mugabe ou do Idi Amim, levam quindas na cabeça, acanguladas de grãos. Dos corpos musculosos daqueles Fiotes (Imbindas), a catinga suada escorre-lhes como brilhantina escura e luzidia como pele de mamba brilhante, pegando-se ao cacimbo intensamente chovediço.
Depois de um gim com água tónica, numa daquelas paragens de soberania no Necuto, tirei uma foto com a Charlotte, uma negra que fugida do Congo Zaire pediu boleia ate ao sítio do primo, com quem tinha promessa de alambamento. A foto com aquela negra de feições árabes crê-se ter ficado em uma caixa de sapatos na guerra posterior do tundamunjila. Isso! A guerra do setentaecinco-pkp! Subindo o rio Inhuca, chegamos ao Sanga Mongo, um lugar para lá das traseiras do tempo, mais longínquo do que as Bitinas e a antiga Serração do Aníbal Afonso que naquele agora só existia no nome.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
O MUNDO ESTÁ ENGRAVIDADO DE PROMESSAS... Muamba de Domingo
– ASSINAR EM CRUZ - 20.03.2021 em Pajuçara de Maceió
Crónica 3260 – Republicada a 01.10.2022 no AlGharb do M´puto
- O MUNDO ESTÁ ENGRAVIDADO DE MEDOS COM PROMESSAS...
Por T'Chingange – No Nordeste brasileiro e no AlGharb do M´Puto
Virando notícias do Mundo neste domingo, 25º dia da invasão à Ucrânia, a Rússia, para além de massacrar a Ucrânia na maioria das cidades com variadas formas de matar, dá a notícia de poder enviar um engenho supersónico, uma bomba de alto poder de morte que atinge em 5 vezes mais que a velocidade do som. Uma nítida provocação a todo o Ocidente que recriminou em uníssono monstruosa intervenção. Hoje, um outro dia primeiro de Outubro, que republico este texto a fim de ficar nos arquivos da Torre de N´Zombo do Kimbo e perfazendo 220 dias de guerra estupida, dá para notar que com a farsa dos referendos em Donetsk e Lugansk no leste e Kherson e Zaporizhzhia no sul, a Rússia, a paz no mundo, estará longínqua.
Depois da tomada a Crimeia em 2014 com a passividade do resto da Europa e do Mundo, deste modo, Rússia toma de assalto cerca de mais 15% do território total da Ucrânia anexando como terra sua estes novos territórios. Nesta grosseira forma de amedrontar os países da Europa e do resto do Mundo, frisa que esta coisa de matar pode atingir Londres em escassos 25 minutos e um pouco mais Nova Iorque…
Desta forma piso espaços fazendo todas as estradas, mas quando o vento dá para trás pode bem trazer tristezas nas fumaças agravando as labaredas e brasas. Que o pariu! Por vezes, não muitas, pego no silêncio, meto-o ao colo e, sem abrir boca vou dizendo: Eu, não sou donde nasci; sou de outro lugar – silêncio de um sentimento quase feito em decreto.
E foi!? E, é!? Foi sim nesse lugar de nenhures assinado com uma cruz que meus destinos foram fechados. Ontem, dia 31 de Setembro, Volodymyr Zelensky pediu oficialmente adesão à NATO. Se eu mandasse aceleraria o processo para assim o vir a ser, rápidamente - membro da NATO! Mas estou em crer que o medo vai tolher a moleirinha de nossos dirigentes acagaçando-se com um maluco que diz querer acabar com o Mundo não Russo. Sendo assim, que o seja, vá de retro Satanás ou inventem um escaravelho que encha de moscas o cérebro daquele verme feito gente chamado de Putin…
Guardo sim, tudo em um baú de lata cor verde, com pequenas flores, forro já amarelecido pela cola em tecido de chita, umas ripas encastradas com cravos de tremoço, carcomidas, segurando um fecho pregado com pontas de paris, pregos e percevejos de cabeça chata já enferrujados.
Tábuas de cipreste ou eucalipto para dar cheiro e espantar traças, um aloquete a dar silêncio às memórias trancadas em seu miolo. Um fecho de enfeites com um lado macho e outro de fêmea onde aquele encastra; vaidades singelas de humildade destinadas a um porão junto com demais caixotes.
Todos os becos e travessas saindo das picadas da minha vida, guardo ali com os ventos de todas as almas. Vou vos dizer: Isto é algo sitiado dum estado que antes doía e prazia e, hoje no relembrar daquele antes, daqueles anos com tempos de estropelias, com guerras e gentes militares ou militarizadas que influíram um sentir que de somas em soma, só subtraíram no espairecimento.
Assim fazendo em alguns casos, do mofo uma raiva, minha penicilina dali saiu, das estalactites dos fungos do baú, substância antibiótica “penicillium notatum” propriedades descobertas por Fleming em 1929, mas só divulgadas em 1941, quatro anos ante da minha singularidade acontecer … Lembram-se do “Evangelho da Esposa de Jesus”, um papiro controverso que sugere que Jesus era casado com Maria Madalena? Novas pesquisas sobre a tinta do documento parecem apontar para a possibilidade de que ele seja autêntico. Porém, os resultados ainda não foram publicados e a origem do papiro continua sendo questionada. E, enquanto andamos entretidos com malambas apócrifas enredadas em mentiras e interesses de resiliência, o Diabo feito gente de nome Putin come-nos as raspas de misericórdia metendo jindungo para espairecer vaidade …
Se é o que é, estou quase perdido! É qua a vida está assim, vou explicar: Eu, nós, vocês, vosmecês, o senhor ou senhora, vossas excelências, empurram tudo para trás mas, e num repentemente, tudo nos volta a rodear fincando-se bem em frente feito fantasma, caveira segurando uma foice. Termino dormindo nos ventos, fazer agora mesmo o sinal da cruz, a assinatura real e oficial do nosso primeiro rei, D. Afonso Henriques… Fui!
O Soba T´Chingange
ANGOLA DA LIBERTAÇÃO - XXX
Ultima visão de Savimbi: “moscas pousando no rosto, feridas na cabeça e numa mão e, um buraco de bala na garganta”.
Crónica 3214 – 11.11.2021 - “A guerra, que matou e estropiou tantos, alimentou um punhado de pessoas, que se tornaram insultuosamente ricas e prepotentes” – São estes que ainda governam… Por T´Chingange, no AlGharb do M´Puto
Após o ano de 1994, haveria que manipular os espíritos inseguros, carregar nos botões certos das almas inocentes, com o fígado incompleto, candengues sem estrutura para os virar monstros desapiedados com o nome de pioneiros… Eram ideias desfibrilhadadas numa antiga dor e creio que se foi no tempo com um sentimento de culpa. Deveria iluminar-nos não é!? Amanhã será outro dia e, foi-se! O Sol não tinha como se abraçar a nós, nem se poderia esperar isto. O tempo escasseia-me muitas vezes, para poder redigir histórias escondidas, antigas, que até posso antever reais a tempo inteiro, real ou ficção. Nessas alturas subitamente levanto voo, plano como um albatroz e por aí vou fora, sem parágrafos ou pontos finais, com diálogos dinâmicos, que só o serão na ficção!
Fala o Soba, impõe as suas leis, fala o Luís que quer fugir aos ditames dos familiares próximos, subverte-se as leis, obtendo-se gozo nisso, e sabedoria, claro, que estas coisas, mesmo negativas são as que mais resultam e se aprumam na coluna vertebral de um indígena. O Protocolo de Lusaka de 1994 reafirmou os Acordos de Bicesse. Savimbi, não querendo assinar pessoalmente esse acordo, enviou o ex-Secretário Geral da UNITA Eugénio Manuvakola representando em seu lugar, o partido. Manuvakola e o Ministro das Relações Exteriores de Angola, Venâncio de Moura, assinaram o Protocolo de Lusaka em Lusaka, Zâmbia, em 31 de Outubro de 1994, concordando em integrar e desarmar a UNITA.
Ambos os lados assinaram um cessar-fogo como parte do protocolo em 20 de Novembro. Sob o acordo, o Governo e a UNITA cessariam os incêndios e desmobilizariam 5 500 membros da UNITA, incluindo 180 militantes, que se uniriam à polícia nacional angolana, 1 200 membros da UNITA, incluindo 40 militantes, que se uniriam à força policial de reacção rápida e os generais da UNITA, que se tornariam oficiais das Forças Armadas Angolanas. Mercenários estrangeiros retornariam aos seus países de origem e todas as partes parariam de adquirir armas estrangeiras.
O acordo deu aos políticos da UNITA casas e uma sede. O governo concordou em nomear membros da UNITA para chefiar os ministérios de Minas, Comércio, Saúde e Turismo, além de sete vice-ministros, embaixadores, governos de Uíge, Lunda Sul e Cuando Cubango, vice-governadores, administradores municipais, vice administradores, e comuna de administradores. O governo libertaria todos os prisioneiros e amnistiaria todos os militantes envolvidos na guerra civil. O presidente do Zimbabwé, Robert Mugabe, e o presidente sul-africano, Nelson Mandela, reuniram-se em Lusaka a 15 de Novembro de 1994 para aumentar o apoio simbólico ao protocolo. Mugabe e Mandela disseram que estariam dispostos a encontrar-se com Savimbi e Mandela. Pediu que ele fosse à África do Sul, mas Savimbi não foi. O acordo criou uma comissão conjunta, composta por funcionários do governo angolano, da UNITA e da ONU, com os governos de Portugal, Estados Unidos e Rússia como observadores, para supervisionar sua implementação.
As violações das disposições do protocolo serão discutidas e revisadas pela comissão. As disposições do protocolo, integrando a UNITA nas forças armadas, um cessar-fogo e um governo de coligação, eram semelhantes às do Acordo do Alvor, que concedeu a Angola a independência de Portugal em 1975. Muitos dos mesmos problemas ambientais, desconfiança mútua entre a UNITA e o MPLA, falta de supervisão internacional, importação de armas estrangeiras e ênfase excessiva na manutenção do equilíbrio de poder, levariam ao colapso do protocolo…
E, chegados ao ano de 2002, tropas do governo matam Jonas Savimbi a 22 de Fevereiro deste ano, na província de Moxico. Jonas Savimbi morre "de arma na mão", como "um militar", numa emboscada das Forças Armadas Angolanas (FAA), sexta-feira à tarde, junto ao rio Luio, sudeste da província do Moxico, ao fim de cinco dias de perseguição pelo mato. "Sete tiros foram suficientes para o abater". Foi assim que o brigadeiro Wala, na qualidade de dirigente da "força mista que matou o líder da UNITA", resumiu o fim de Savimbi aos jornalistas presentes no local em que o corpo foi exibido - Lucusse, a 79 quilómetros do sítio da emboscada. O relato é do repórter da Lusa, Miguel Souto. O destino de Savimbi, calculou Wala, era a fronteira com a Zâmbia, onde contava ser reabastecido pelos seus homens.
Acossado pelas tropas do Governo angolano desde o Andulo, Jonas Savimbi, dividiu a sua coluna em três. Seguiu com uma, e deixou o comando das restantes duas aos generais Abreu "Kamorteiro" (chefe de Estado-Maior das forças da UNITA) e António Dembo (vice-presidente do movimento do Galo Negro). A coluna de Savimbi iria ao encontro do General "Big Jo", que partira antes, em busca de víveres. Ainda de acordo com a versão das tropas angolanas, quando um ataque das tropas angolanas liquida "Big Jo", o líder da UNITA inflecte para norte, por uma mata densa que levaria ao rio Luio. "Deu muitas curvas e fintas, porque conhecia muito bem o terreno,pois que a UNITA nasceu aqui", lembrou o brigadeiro Wala, acrescentando que os seus homens andaram "dia e noite numa perseguição que durou cinco dias", até à emboscada final de sexta-feira.
Nas palavras de Wala: "quando Savimbi viu os seus homens mortos, pegou na arma". Além dos "vários oficiais" atingidos, avia um "total de 21 ". Os generais Dembo, "Kamorteiro", Abílio Camalata Numa e Samy terão escapado ao ataque, e as forças governamentais dizem estar no seu "encalço". O paradeiro do secretário-geral do movimento, Paulo Lukamba Gato, permanecia desconhecido. Segundo o embaixador português em Luanda disse ao PÚBLICO, as primeiras imagens do corpo de Jonas Malheiro Savimbi foram exibidas na televisão estatal angolana por volta das 17h00 locais (16h00 em Lisboa), sem terem ocupado mais do que "um espaço normal" nos telejornais. A reportagem do jornalista da RTP Alves Fernandes, que foi ao Lucusse, mostrava o corpo de Savimbi deitado numa prancha ao ar livre, à beira de uma árvore, rodeado por centenas de homens mulheres e crianças, misturados com militares.
Ninguém compusera o corpo para a última imagem: farda verde oliva desfraldada, deixando ver parte da roupa interior, os pés sem botas, só com meias, moscas pousando no rosto, feridas na cabeça e numa mão e um buraco de bala na garganta. Diz-se que Savimbi, ferido de morte teria sido o autor deste ultima tiro. Na sequência seguinte, o corpo, embrulhado na bandeira do Galo Negro, era levado da prancha para um caixão. Segundo o relato inicial deste jornalista, antes das imagens serem difundidas, Savimbi teria sido atingido sexta-feira à tarde não por sete mas por "quinze balas, duas na cabeça, as restantes no tronco, nos braços e nas pernas". Chegaram a correr versões que falavam em 52 tiros. A agência Reuters, por seu turno, ao princípio da tarde, citava fontes dos serviços secretos zambianos que contestavam a data da morte. De acordo com esses relatos, Savimbi teria sido morto já na segunda-feira, e as forças do Governo angolano teriam retardado a notícia da sua liquidação, de forma a poderem difundi-la, com outro impacto, nas vésperas da partida do Presidente José Eduardo dos Santos para Washington, onde dia 26 se reuniria com o seu homólogo norte-americano, George W. Bush.
As fontes zambianas sublinhavam que as tropas do Governo angolano tinham localizado a coluna de Savimbi no Moxico há duas semanas e que, tendo enviado reforços, se lançaram num ataque maciço no passado domingo. O vice-presidente da UNITA, António Dembo, assumiu o cargo, mas, enfraquecido pelas feridas sofridas na mesma escaramuça que matou Savimbi, morreu de diabetes 12 dias depois, a 3 de Março, e o Secretário-geral Paulo Lukamba torna-se naturalmente o líder da UNITA. A seguir a tudo isto, Angola viveu no descarado roubo de seus governantes, podendo por ora concluir-se: -“A guerra, que matou e estropiou tantos, alimentou um punhado de pessoas, que se tornaram insultuosamente ricas e prepotentes” – São estes, que ainda governam - ano de 2021 - (Ainda…)
(Fim…)
O Soba T´Chingange
ANGOLA DA LIBERTAÇÃO - XXVII
DEPOIS DOS ”OS 3 DIAS DAS BRUXAS” – CAMPANHA ELEITURAL CONFLITUOSA…
Crónica 3208 – 22.10.2021 - “A guerra, que matou e estropiou tantos, alimentou um punhado de pessoas, que se tornaram insultuosamente ricas e prepotentes” – São estes que agora governam…
Por: T´Chingange, no AlGharb do M´Puto
1 ::::: No Gabão, em Libreville, Jonas Savimbi, Líder da UNITA, União Nacional para a Independência Total de Angola, José Eduardo dos Santos, Presidente de Angola e Omar Bongo Ondimba reuniram-se dando as mãos e segundo o jornalista Carlos Albuquerque que fez a cobertura. A Savimbi foi-lhe proposta o lugar de Vice-Presidente e após este ter aceitado informalmente, a nomenclatura do MPLA, de imediato afirmou que haveria dois vice-presidentes: Um indicado pelo MPLA e ele, Savimbi que ficaria em segunda linha na hierarquia…. Só lhe restava recusar! O MPLA, sempre foi assim; inventam coisas tão diabólicas que nem lembram ao diabo…
Na óptica das probabilidades, haverá aqui uma situação incrível, pois que Savimbi poderia ter sido o primeiro Presidente de Angola eleito. Se ele tivesse aceitado, a realização da segunda volta das presidenciais, em 1992, nada nos garante que não tivesse ganho, ou mesmo, perdendo, nada nos diz que numa nova votação, saísse vencedor mas sempre o seria, uma perigosa suposição…
2 ::::: Estando a dias do termo da campanha eleitoral, a Conferência Episcopal Angolana, difunde uma mensagem intitulada “As portas da II República “. Nela, os bispos sublinham que “a Igreja não tem de apresentar nenhum candidato”, exortando ao voto consciente: “ Não devem merecer a preferência dos cristãos os que violam os direitos humanos e os que dilapidam os bens públicos, seja por que via for”. A UNITA entende que a mensagem é tendencialmente favorável ao governo do MPLA.
Ao mesmo tempo da intervenção do bispos na política, a UNITA dirige insultuosos ataques à representante das Nações Unidas Margaret Anstee, acusando-a de “estar comprada pelo MPLA, com diamantes e mercúrio”. As mulheres de Luanda, com blusas da OMA, saem à rua em defesa dos bispos e da própria Anstee. Numa grande manifestação, exigem “ a consciência democrática e perdão sem violência”, para que seus filhos cresçam numa Angola nova, sem luto, dor e lágrimas”.
3 ::::: Passados já uns cinco anos dos recontros da Batalha do Cuíto Cuanavale o é dado a conhecer pelo toxicologista criminal belga Dr. Aubin Heyndrickx, o uso de gases na guerra. Ele, estudou supostas evidências, incluindo amostras de "kits de identificação" de gás de guerra encontrados após a batalha em Cuito Cuanavale, alegando que "não há mais dúvida de que os cubanos estavam usando gases nervosos contra as tropa Jonas Savimbi" - As tropas cubanas foram neste então acusadas formalmente de terem usado gás nervoso contra as tropas da UNITA durante a guerra civil.
O envenenamento por aquele agente nervoso leva a contracção de pupilas, salivação profusa, convulsões e micção e defecação involuntária, sendo que os primeiros sintomas aparecem segundos após a exposição. A morte por asfixia ou parada cardíaca pode ocorrer em minutos devido à perda do controle do corpo sobre os músculos respiratórios e outros. Os agentes nervosos também podem ser absorvidos através da pele, exigindo que aqueles que provavelmente sejam submetidos a tais agentes usem uma vestimenta completa, além de um respirador. Os agentes nervosos são geralmente líquido insípidos de coloração que varia entre o incolor e o âmbar e podem evaporar para um gás. Os agentes sarin e VX são inodoros; o tabun tem um odor ligeiramente frutado e o soman tem um leve odor de cânfora.
4 ::::: Na década após 1990 as mudanças políticas no exterior e vitórias militares em casa permitiram ao governo fazer a transição de um Estado nominalmente comunista para um Estado tendencialmente democrático. A declaração de independência da Namíbia a 21 de Março de 1990, eliminou a ameaça ao MPLA da África do Sul, quando a SADF se retirou de lá. O MPLA aboliu o sistema de partido único e rejeitou o marxismo-leninismo no terceiro Congresso do MPLA em dezembro, mudando formalmente o nome do partido de MPLA-PT para MPLA.
Com sua riqueza em petróleo e diamantes, Angola é como uma grande carcaça inchada com os abutres girando no alto. Os antigos aliados de Savimbi estão mudando de lado, atraídos pelo aroma da moeda forte". Savimbi também expurgou alguns dos membros da UNITA, que ele pode ter visto como ameaças à sua liderança ou como questionadores de seu curso estratégico. Entre os mortos no expurgo estavam Tito Chingunji e sua família em 1991. Savimbi negou seu envolvimento no assassinato de Chingunji e culpou os dissidentes da UNITA.
5 ::::: Um observador oficial escreveu que nas primeiras eleições em Angola, havia pouca supervisão da ONU, que 500 mil eleitores da UNITA foram desprivilegiados e que havia 100 assembleias de voto clandestinas. Savimbi enviou Jeremias Chitunda, vice-presidente da UNITA, a Luanda para negociar os termos do segundo turno. O processo eleitoral fracassou em 31 de Outubro, quando tropas do governo em Luanda atacaram os camados de rebeldes. Os sucessos militares do governo em 1994 forçaram a UNITA a negociar pela paz. Em Novembro de 1994, o governo havia assumido o controle de 60% do país.
6 ::::: Savimbi chamou a situação de "crise mais profunda" da UNITA desde a sua criação. Estima-se que talvez 120 mil pessoas tenham sido mortas nos primeiros dezoito meses após a eleição de 1992, quase metade do número de baixas dos dezasseis anos anteriores de guerra. Ambos os lados do conflito continuaram a cometer violações generalizadas e sistemáticas das leis de guerra, sendo que a UNITA, em particular, foi culpada de bombardeios indiscriminados de cidades sitiadas, o que resultou em um grande número de mortos civis. As forças do governo do MPLA usaram o poder aéreo de maneira indiscriminada, resultando também em várias mortes de civis…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
TEMPOS CUSPILHADAS – (21.01.2018) – 20.10.2021
Cronica 3206 - O Espírito da China! Eles já chegaram …
Mulungu: Pode ser árvore de grande porte com flores grandes e vermelhas e homem branco na língua Xhosa
Por: T´Chingange . No AlGharb do M´Puto
:::::1
Até há bem poucos anos atrás, o ocidente fechou as portas à possibilidade de compreender a China. Hoje, buscam formas de se entender diplomaticamente com estes, permitindo-lhes a entrada em seus territórios com obtenção de benesses e isenções em sua actividade comercial – vistos GOLD e outros edecéteras. Tome-se em conta que o peso de impostos que os demais cidadãos nacionais são obrigados a pagar, é bem menos vantajoso do que o oferecido a estes empresários vindos do outro lado do mundo.
Deduzir-se assim que os donos disto tudo, só o serão com os países de capital que nos compram divida. Um dia o futuro chega e quase sem se saber, as instituições que eram estatais formam-se de um conjunto de accionistas sem rosto e, dum qualquer país. Se neste futuro vamos ter de ficar entregues a um dragão, teremos de saber um pouco que seja, do que não nos une e divide!
:::::2
Se dali vieram há muitos anos atrás com o chá, a seda e o arroz, não será mau antevermos os significados de sua cultura, mitos e realidades. Como se pode ir a Setúbal sem se saber quem foi Bocage ou, ir a Inglaterra sem se saber quem foi Shakespeare? Pois corria o ano 220 da nossa era quando os Qin unificaram aqueles territórios para e, a partir daí a China passar-se a chamar de China.
E, foi Qin como primeiro imperador que colocou milhares de guerreiros feitos em barro e em tamanho natural para guardar sua sepultura. Marco Paulo, o primeiro ocidental a visitar estas terras longínquas curiosamente não referiu a existência destes milhares de guerreiros, nem tampouco referiu a muralha da China que pode ser vista da lua.
:::::3
Bem! A grande muralha da China é o símbolo da identidade da China mas, tudo é devida à sobrevalorização que os viajantes ocidentais dela fizeram; se em tempos foi útil para defesa tornou-se no tempo uma inutilidade, coisa supérflua. Este símbolo foi transformado em parque temático pois que à semelhança do Coliseu de Roma, estes mascaram-se aqui de falsos guerreiros armados com lanças de pau e escudos de cartão.
Criam atmosferas de uma Disneylândia onde em vez do Rato Mickey se pode encontrar o tal de Qin, primeiro imperador a vender camisolas e cuecas com estampas dele mesmo; tudo gerido por uma sociedade cotada na bolsa de Hong Kong. Não me convidem para ir à china ver um velho homem já careca com nome de Mao Tzé, uma barriga de melancia transportando a gaiola dum passarinho para apanhar ar e vir de lá uma bicicleta desenfreada e, atropelar-me.
:::::4
Parece que por lá nos sinais dos semáforos o verde é para parar e o vermelho para avançar! Ninguém se entende na balburdia porque o vermelho é a cor da revolução. Cozinham na rua, um beco cheio de gente que tosse e cospe e ali ao ar livre acendem o fogareiro, colocam-lhe carvão aonde estiram uma cobra despida ainda a rabiar! Deus-me-livre! Mas hoje, Pequim, a capital que foi criada por decreto imperial em 1404 por Yung Lo da dinastia Ming é uma cidade cheia de arranha-céus; alguns destes edifícios terão lá no alto do cubo de vidro ou concreto a fazer de tecto, um chapéu pagode.
Acabaram com os espaços interiores tipo pátios ao jeito da Andaluzia aqui do sul de Espanha; com o tempo os muros altos com aldrabas lacadas a vermelho para impedir os espíritos malignos de ali entrar estão sendo derrubados. Por livre iniciativa a Europa deu autorização a importarem de lá estes espíritos para e, com tempo compreendermos a China… Estamos feitos ao DRAGÃO…
O Soba T´Chingange
MOKANDA DA LUUA – KAPIANGO AIUÉ - Luanda do Mu Ukulu… Era uma vez...
- Crónica 3194 – 16.09.2021 - Kinguilas, as fugitivas da Independência - IV de IV – Crónica esquecida na espera da fila bicha do malembelembe do KAPOSSOKA…
Por Soba T´Chingange no AlGharb do M´Puto
LUUA DOS VELHOS TEMPOS… A Baixa de Luanda, sem a Marginal não teria norte, já não tem o Porto Pesqueiro frente ao Banco Nacional, nem o Mercado Municipal. Mas ainda tem a Alfândega, a Marinha e a Polícia, convivendo com arranha-céus dignos de um Abu Dabi, com auto-saneamento e auto-energia, onde vivem ou trabalham exemplares da classe alta burocrática, despachando com tranquilidade os expedientes, porque aqui não há pressa para nada.
Para o interior, as ruínas dos armazéns do Minho, onde as senhoras brancas iam comprar tecidos e vestidos, um mundo que se extinguiu, só sobrou o Mabílio Albuquerque que vende “coisas”. A Baixa de Luanda é um extenso e intenso “musseque”, tudo está ocupado, parece que as poucas árvores poluem, cortam-se, ocupam lugares que podem ser rentabilizados pelos miúdos vindos do fim do mundo e que tomaram conta das ruas durante o dia, arrumando e lavando os carros, com “puxadas” de água gratuita da EPAL.
Rainha N'Zinga, a estátua, enorme, jaz à entrada da fortaleza, à espera que os arranha-céus do Kinaxixi, onde eu já vi uma grande lagoa com uma mafumeira e um majestático mercado de frescos verdadeiros, vindos das hortas da cintura de Luanda, sejam pagos, um dia, um dia, como os portugueses dizem, de “são nunca”.
Avenida Rainha N'Zinga, que podia ser uma metrópole, mas que em dias de enxurradas se transforma em rio lamacento, lançando água na Baía, rua da dança capoeira dos domingos à tarde, dos candongueiros para os “congolé”, das zungueiras em frente da Sé, que deixou se ser Sé, mas mantém a travessa, vendendo fruta, tamarindos, maçãs da índia, loengos, gajajas, caju, mangas, mulheres sem sorriso sentando no fio do muro ou na pedra para endurecer os interiores, fugindo, fugindo dos fiscais da Administração, submissas, a sua mente se organizou há muito, netas dos rusgados dos cipaios do chefe do posto Poeira.
As galerias Kibabo abriram onde era a antiga, luxuosa e branca Versalhes, agora também dirigidas por brancos, um mundo de compra e venda de tudo: plásticos baratos, pequenos empregos que mal dão para apanhar o candongueiro. Mas a actividade comercial atraiu também um enxame de rapazes sujos, de cabelos com trancinhas a ficar russas, que enfrentam tudo e todos os poderes para ficarem na porta, pedindo esmola para o pão ou para os pais ou para outras coisas.
Há muito, muito tempo, a Baixa era apropriação de uma parte da população branca. A população negra vinha dos bairros, a pé ou de autocarro, trabalhar nas fábricas, nas lojas e nas casas. Muita gente passava a correr pela pensão Fomentadora, no Kinaxixi, para comer uma grande sandes de peixe frito e uma grande caneca de café muito açucarado. Coisas Pré-Históricas.
No dia da Independência, no próprio dia, a Baixa transfigurou-se, parecia não existir, nem uma só alma nas ruas, sentia-se medo pela solidão, tinha sido o mundo dos brancos, que de repente foram embora.
Quem primeiro se apropriou nos novos tempos da Luanda africana foram os “regressados do Zaire”, invadiram tudo, criaram a venda parada no chão das ruas, não era raro encontrá-los na Mutamba, de manhã, em pijama, na rua. Todo o mundo queria sair dos bairros e viver na cidade do asfalto. Mas era um mundo estranho, não era do povo, era algo que se plantou ali, vindo de fora.
Ué... Que futuro? Sem transportes públicos, sem uma malha comercial digna desse nome, sem saneamento básico conhecido, com escassos minimercados, sem um mercado de frescos, nem sequer uma livraria digna desse nome, a Baixa, e sobretudo a sua parte central, a extensa avenida Rainha N'Zinga é a parente pobre da Marginal, reconstruída e embelezada pela Independência.
Aí coexistem as classes mais altas e as mais baixas, como dois mundos intocáveis. A degradação do entaipado prédio do antigo “Diário de Luanda” contraria os arranha-céus de vidro, que parecem redomas extraterrestres numa Luanda que precisa de ar, de vento, de céu. Nos becos, também há becos e contrabecos desaguando na Rainha, mil negócios silenciosos. A liamba instalou-se num trono de que não abdica, imperando nos lados dos degradados Coqueiros, outrora coqueluche dos brancos.
Há um plano director, dizem, mas tudo tem plano director em Angola, tudo tem “desiderato” e tudo vai acontecer “brevemente”. O futuro é, pois uma incógnita, como o “X” de uma equação simples, mas que se complica pela incompetência, pelo laxismo, pela corrupção transversal à sociedade. Por trás de um aparente modernismo, toda esta vasta zona, outrora “chique”, alberga centenas de milhares de pessoas em cada canto, casebres construídos dentro de outros casebres.
Já não há terminal de autocarros digno desse nome na Mutamba. O poder agora é dos candongueiros e dos “corolas”, pão e cerveja de muitos lares. Em plena Rainha N'Zinga, sim, funciona a “Mutamba”, na esquina frente à Embaixada da Guiné, candongueiros de e, para os subúrbios. Tentaram “colocar” mini-autocarros, mas só os vi um dia.
O que vai acontecer a tantos edifícios degradados no tempo colonial? Como será a cidade de Luanda daqui a 20 anos? O futuro a quem pertence? Quem agarra nele com coragem e sem medo? Os “velhos luandenses” estão em risco de extinção. Em seu lugar, uma multidão dessincronizada de jovens, “por enquanto jovens”, imigrantes, vindos de todo o lado, que de Luanda só sabem que têm de ganhar o pão nosso de cada dia e, utopicamente, um emprego...
FIM
T´Chingange na Diáspora dos AlGharb´s do M´Puto
Crónica 3191 de 12.09.2021 - *PRIORIDADE MÁXIMA*
- Cada um de nós deveria ter uma BAZUCA sem a ilusão e, COMPADRIO carunchosamente facilitado pela fricção corrupta...
Por T´Chingange, no AlGharb do M´Puto
Mergulhados em um mundo mediático, publicista e consumista, corremos todos os dias o risco de priorizar o que é secundário. Governo e vendedores de fantasias enchem-nos a paciência sem dó...
Muitas coisas são importantes, mas é fundamental estar-se constantemente vigilante na avaliação do topo da lista. Somos sempre estimulados a desejar aquilo que não é realmente necessário, a criar falsas necessidades.
Não podemos viver autocentrados quando o alerta nos torce a mente, enganando nossas urgências e necessidades. Assim, o que é mais importante na vida assume uma posição secundária e passamos a trabalhar, lutar e investir nosso tempo e energias a correr atrás daquilo que é supérfluo ou ilusório...
Sabemos que precisamos priorizar o que é autenticamente importante. O problema é que dar prioridade àquilo que é mais importante, nem sempre brotará espontaneamente de nós. Normalmente, o que pulsa em nós é o desejo de auto realização mas, corremos o risco de virar marionetas.
Queremos afirmação e pensamos que sejam o fruto de nossas conquistas: “Minha beleza, minha inteligência, minha casa, meu celular, meus diplomas, minha profissão…” E, quanta decepção se encontra quando priorizamos o que não nos é prioritário!
Nossa única prioridade real na vida deve ser "viver com dignidade e liberdade". No fim de tudo, o que importa é se você colocou a sociedade, seu próximo ou vizinho e família em primeiro lugar...
Com fé, a prioridade surge; e, até encontrará forças e sabedoria para enfrentar qualquer tipo de circunstância! Ao dar o primeiro, o melhor e o mais importante é esse lugar de seu lado positivo no pensar; e, verá assim que tudo o mais se encaixará, naturalmente...
Sua realização e afirmação não estão no que dizem as vozes deste mundo cheio de propagandas vazias, mas no que diz a palavra da sua humilde e honrosa postura. Sempre é tempo para tomar um novo início com o rumo certificado em mente de progresso...
Comece agora a buscar o reino de seu templo, seu pensar como PRIORIDADE MÁXIMA. Faça disso seu maior interesse e veja cumprir-se em sua vida a promessa do verso com o certo verbo, em um qualquer novo dia: “Essas coisas lhes serão acrescentadas” sem a necessidade de se esquecer...
O Soba T'Chingange
* União, Ousadia, Talento e Loucura *
Crónica 3187 de 01.09.2021 - O Mundo está feita um manicómio, noé?!
Por T'Chingange no AlGharb do M'Puto
Certa vez, um senhor foi visitar um amigo médico que dirigia um manicómio. Ao chegar, foi recebido pelo amigo. Este mostrou-lhe as dependências de seu hospital. Após visitarem as acomodações e principais salas de tratamento, chegaram a uma porta com um vidro, de onde podiam observar o pátio em que os internos tomavam banho de sol e se socializavam.
Enquanto conversavam, dois homens se desentenderam e começaram a agredir-se. Vendo isso, o director do hospital pediu licença e foi até eles para separá-los e apaziguar a contenda. O amigo ficou surpreso com a coragem do médico ao vê-lo apartando a briga.
Quando ele voltou, o visitante perguntou intrigado: “Amigo, você não tem medo de entrar no pátio sozinho para separar duas pessoas brigando? Não tem medo de que os demais se unam em defesa dos colegas e avancem sobre você?”
O médico então respondeu: “Não, não tenho medo; sabe por quê? Porque os LOUCOS NUNCA SE UNEM” A união é uma característica de pessoas mentalmente sadias. Não é à toa que Satanás, o Diabo feito capeta, gosta de separar amigos, casais, colegas de trabalho e, principalmente, as pessoas que acreditam em Deus.
AR - O inimigo não está interessado enquanto manobra o TALENTO, numa sociedade ou o que uma igreja contenha, desde que consiga manter as pessoas separadas. No entanto, treme quando dois ou três se unem em nome de Jesus...
Pouco antes de enfrentar a cruz, Cristo pediu em oração: “Rogo para que todos sejam um, Pai, como Tu estás em Mim e Eu em Ti. Que eles também estejam em Nós, para que o mundo creia que Tu Me enviaste”
Observe que Jesus não pediu que seus discípulos, fossem mais talentosos e educados. Ele pediu UNIÃO. Isso deveria fazer-nos pensar. Deus é maior do que nosso egoísmo ou qualquer espírito de separação que exista entre nós. Ele espera que você/nós, sejamos unidos às pessoas de seu convívio, reflectindo o amor verdadeiro...
Quanto a OUSADIA, Elias era humano como nós. Ele orou fervorosamente para que não chovesse, e não choveu sobre a terra durante três anos e meio. Orou outra vez, e os céus enviaram chuva, e a terra produziu os seus frutos... Alguns personagens bíblicos foram tão corajosos que nos fazem sentir insignificantes. Um deles é Elias. A Bíblia afirma que, certa vez, ele suplicou a Deus que não chovesse sobre a terra, e foi atendido. “E não choveu sobre a terra durante três anos e meio".
Orou outra vez, e os céus enviaram chuva. ”Como poderíamos comparar-nos a um profeta que fez um pedido ousado a Deus e ainda assim foi atendido? Em primeiro lugar, é preciso notar que Elias pediu a Deus que não enviasse chuva. Por que ele fez esse pedido específico? Israel estava adorando Baal e acreditava que o regime de chuvas e a fertilidade da terra dependiam dessa divindade.
Assim, o profeta, interessado em provar a inexistência do falso deus, pediu que o Deus verdadeiro retivesse a chuva, demonstrando Seu poder sobre todas as coisas. Outro ponto importante está no advérbio de modo utilizado para modificar o verbo “ORAR”. Tiago diz que Elias orou “fervorosamente”. Deus quer que oremos com essa intensidade. Jesus disse que, se insistirmos, o Justo Juiz nos ouvirá...
Finalmente, o verso diz que “Elias era humano como nós”. O profeta não era um super-herói da fé, mas alguém que tinha lutas, dores, sonhos, decepções, tentações, vitórias e fracassos como também temos. Ainda assim, depositou toda a sua confiança em Deus, por isso foi honrado por Ele. Portanto, não fique surpreso com a história de Elias.
CA - Ela, a história, simplesmente nos mostra que poderíamos e podemos alcançar muito mais vitórias espirituais se formos ousados em nossas petições. A experiência do profeta demonstra que todo aquele que oram com fé, fervor e de acordo com a vontade de Fé, será ouvido e atendido...
O Soba T'Chingange
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