MOAMBA . XXVI
Dizem que já estamos no século XXI...
NA TEORIA DA APTIDÃO INCLUSIVA - 21.04.2019
Gente com quem me fiz gente... Moamba é cozido de galinha feito com azeite dendem.
Por
T´Chingange - No Nordeste do Brasil
Para a generalidade da população brasileira, Exu, é o chifrudo, o cão, o tranca-ruas. Falando assim em tempo de Páscoa, até parece ser uma rebelião aos conceitos cristãos mas, e porque nem sempre domino as modas com rosas de magnólia estampadas na frontalidade, fico-me muitas vezes feito um analfabeto comendo iliteracia, lambuzando-me com um livro entre as mãos.
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Bem! É verdade que só se alcança a sabedoria reconhecendo a ignorância. Creio que já outros o disseram mas é deste jeito que a evolução na sociedade interage, somando amizades por afinidades ou hereditariedades. Caramba, até parece que engoli uma grafonola com palavras caras mas, se não é bem assim andarei por perto.
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Naquele dia que já passou, faz tempo, todos os jornais falam na participação de mercenários angolanos na guerra dos morros do Brasil. Genericamente, um morro é uma elevação aonde se amontoam como baralho de cartas construções que avançam para os matos; matos que normalmente pertencem à riqueza soberana do país - a floresta.
Fugir para o mato ou para o morro é um trocadilho que funciona na ilegalidade, construções ao deus-dará escorregando nas chuvas que até ipé-roxo levam, assim como um chá que ao invés de fazer bem mata; de novo, mata. O que resta é isso, vou fazer o quê: Os bandidos ou matam ou morrem, quer-se-dizer fogem pró morro. Portanto não é de admirar haver aí especialistas com tecnologia de ponta, angolanos! Eles são bons nisso!
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Há circunstâncias em que: - Ou mato, ou morro! Tudo a condizer com esse Exu, dia do cão! Separando os boatos das denúncias relevantes desde o topo até o disk-denúncia 181, teremos de somar as falsas noticias também conhecidas por Fake News, que em verdade podem interferir negativamente em vários sectores da sociedade tais como como a política, a saúde e a segurança.
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Assim pensando, não consigo desgrudar do Zumbi esta nova relação com os mwadiés de N´Gola porque, de numa ou mato ou morro Zumbi, ali se foi alojar - um reino chamado de "Morro da Barriga". É assim que encontro o Euclides, um jornalista benguelense a falar com paixão de tudo aquilo imaginado, ultrapassando a realidade; confundindo-me.
Durante o ataque dos polícias ao Morro da Barriga, viu-se a si próprio com armas na mão, abrindo caminho a tiro, como se estivesse sentado tranquilamente no cinema Miramar da Luua, ou no seu quarto jogando um videojogo.
O Jornalista da terra do siripipi, retira uns jornais da pasta e lê: - "A polícia procura mercenários angolanos envolvidos na guerra dos Anjos. Um dos polícias que participou no assalto ao morro contou ao nosso repórter ter visto um crioulo alto, vestido com elegância, assassinar com dois tiros certeiros um dos agentes".
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«O policial que pediu para não ser identificado, afirmou que o dito cujo individuo, seguramente um militar, gritava instruções aos bandidos com forte sotaque lusitano.» Seguramente era angolano pois que em seu sotaque abria todas as vogais!
Bom! Aquele angolano pelo menos era elegante, bem vestido, tinha um laçarote vermelho e preto parecendo uma bandeira pois que ainda se podia distinguir uma catana e uma roda desdentada. Até deu para ler um CV esvoaçando nas letras: Comando Vermelho. Estes mwadiés são muito matumbos! São incapazes de distinguir uma tomada eléctrica de um focinho de palanca.
O Soba T´Chingange
HOJE É DIA DE LA LYS ... 10.04.2018
CHOVEU MAIS DE DUZENTOS MILÍMETROS DE ÁGUA NO RIO DE JANEIRO - UM CAOS... E, CONTINUA A CHOVER... NOSSO SENHOR ABRIU A TORNEIRA DO CÉU...
Por
T´Chingange - No Nordeste brsileiro
Já tinha escrito: A FÉ E O TRIBALISMO... Estivesse eu na Lagoa do M´Puto e iria depor uma coroa de flores a todos aqueles e, foram muitos os que tombaram na guerra. Na madrugada de 9 de Abril de 1918, (há 101 anos) dezenas de divisões alemãs irromperam pelo sector português da frente, defendida pela segunda divisão do Corpo Expedicionário Português (CEP).
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Em poucas horas, os portugueses perdem 7500 homens entre desaparecidos, mortos, feridos e prisioneiros, naquela que ficaria conhecida pela batalha La Lys. Um oficial escocês, escreveria uma longa carta elogiando as acções de um soldado chamado Milhais.
Pelos seus actos recebeu a Ordem Militar de Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito. Depois de receber a condecoração, seu nome mudou de Milhais em Milhões. É nele que penso mas e também, em todos os que no Rio de Janeiro e no dia de hoje, sofrem uma crise de chuva... Uma batalha de vida que toca também a milhões...
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Nos lugares aonde se ministra a palavra de Deus, tornam mais suportáveis a tirania, a guerra, a fome, a chuva ou seca, bem como as piores catástrofes naturais. Tragicamente, as grandes religiões são também uma fonte de incessante e desnecessários sofrimentos pois que, constituem um entrave à compreensão da realidade.
E, a realidade é tão necessária para se compreender e resolver a maioria dos problemas sociais em nosso mundo real. Não há como satisfazer a alma tendo tantas definições e tanta confrontação entre as "Igrejas" - umas contra as outras e, como se tudo na historia ou estória, fosse um simples tribalismo com criações fantasiosas.
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A religião é vista pelas pessoas comuns como verdadeira, pelas pessoas sábias como falsa, e pelos governantes como útil. A aceitação por parte de um crente de uma dada estória da criação, e dos relatos de milagres que esta outorga, dá-se-lhe o nome de FÉ.
A FÉ religiosa oferece aos crentes enormes benefícios psicológicos: Fornece-lhes uma explicação para a sua existência e, faz com que se sintam mais amados e até protegidos do que os membros de qualquer outro grupo tribal. Tudo isto para dizer que a causa do ódio e da violência é a FÉ contra a FÉ. Um verdadeiro instinto tribalista... Embora o Senhor esteja em toda a parte, é de ter em conta de que Ele às vezes parece não nos ver, fazendo-nos sofrer por culpas alheias.
Teremos por isso de ficar nesse estranho silêncio, uma forma de ver, obedecendo ao princípio do NADA, esperando as mudanças no tempo ou do bom censo, deixar acalmar o pó fino dos caminhos aonde existem sonhos feitos becos, um sítio sem saída... Esperando o tempo...
O Soba T´Chingange
-A cigana leva as mãos a cheirar e: Cheiram a fumo, a pólvora. Cheiram a sangue! - «Eu sou daqueles que vão até ao fim.» ...
Recorda ele só para si a frase de Mário de Sá Carneiro em carta a Fernando Pessoa... 04.04.2019
Por
T´Chingange - No Nordeste brasileiro
Livros em cima do criado mudo (mesa da cabeceira)
1 - A minha Empregada - Editorial Estampa de - Maggie Gee
2 - O ano em que Zumbi tomou o Rio - Quetzal - José E. Agualusa
3 - O Último Ano em Luanda - ASA - Tiago Rebelo
4 - BURLA EM ANGOLA – Burla em Portugal - Guerra e Paz – Susana Ferrador
5 - História da riqueza de brasil – Estação Brasil – Jorge Caldeira
6 - GLOBALIZAÇÃO de Joseph E. Stiglitz
7 – VIDAS SECAS – Graciliano Ramos 8 - A viagem do Elefante – José Saramago – Da Caminho
9 - O Livro dos Guerrilheiros de José Luandino vieira - Da Caminho
10 -O CORTIÇO - Romance de Aluísio de Azevedo – IBEP – S. Paulo, Brasil.
11 - O Romance “A Pedra do Reino” – José Olympio editores …Ariano Suassuma criar loja virtual.
12 - O PADRE CÍCERO que eu conheci - Olimpica editora de Juazeiro - Amália Xavier de Oliveira.
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De novo volto à escolha do livro DOIS do Agualusa, e entro num lugar da Luua com Euclides, o benguelense a espreitar através da janela do tempo e, ainda a tempo de ver os garotos (pioneiros do PP - Poder Popular) pontapeando o corpo do comerciante. Era na avenida Brasil da Luua. Outros candengues saem de dentro, carregando caixas, biscoitos, fruta e latas de refrigerantes.
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O adolescente que parece comandar o assalto arranca uma pequena placa branca de um passeio, num vaso já seco que em tempos tinha um ibisco vermelho e, pôe-se a dançar com ela. Nesta placa tem escrito em tinta negra: «Cuidado - Veneno». Debaixo destas palavras distingue-se o desenho de uma caveira com duas tíbias cruzadas.
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As parecidas tíbias com o sonho, que acabou em NADA naquela terra que nem madrasta foi, foram vistas por mim em 2002 além Sumbe, além Kanjala. Nossa cor denunciava-nos sobremaneira como os "filhos do colono" - Se não foste tu, foi teu pai! Tudo vinha ao de cima na forma de raiva, por via dos contratos das roças, das grilhetas passadas, das cangas, masmorras e tangas feitas quando no mundo, ainda tudo era feito de cipó e giesta de matebeira.
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Aquilo era Luanda. Na pele do Anjo Azul, de tão translucida viam-se as veias como rios à deriva. Palmares, o supranumerário da rede de candongueiros e vendedores de armas ligeiras, pesadas e de com e sem recuo, segue mansamente, com a ponta do dedo. Descobrindo-lhe as origens vai soletrando pensamentos em voz alta: Kwanza... Tombo... Cunhinga... Sumbe... Cabo ledo... Kangala.
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O Anjo Azul Cubana, ri-se. Assusta-a o mistério daquelas palavras - O que significa isso? - Estou a cartografar-te. Esta é a costa angolana. Do outro lado fica o Brasil. Aqui está agora o Japuará... o São Francisco... Piassabuçu... Jaraguá... Pajuçara... Jacaressica... Guaxuma... o Xingu
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O Amazonas perde-se na mata Atlântica húmida como um sexo.
Palmares beija-lhe o sol rodeando o umbigo. Porque não deixa tudo e fica só comigo, diz o Anjo Azul fervendo em calores - fica só assim, me abraçando... Assim de fervuras arrepanha-lhe os cabelos encaracolados do aconchego.
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-Você tem de me dizer que me ama com convicção! Não é só dizer que me acha gostosa, não, visse! - Acho-te lindíssima...Tenho medo de me apaixonar por ti - diz isto de olhos fechados... Quando os reabre ela está em pé diante dele - É melhor você não aparecer mais aqui. Está bem, foi a resposta.
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Palmares olha suas mãos. As palmas claras, a linha da vida quebrada a um centímetro do pulso; um perfeito M na antiga escrita romana. Uma vez, em Lisboa, uma cigana tentou ler-lhe o futuro. O que quer que tenha visto assustou-a. Perplexa olhou-o gritando: « Popilas - poças - cunkatano! Este Gajo não existe!»
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A cigana leva as mãos a cheira e: Cheiram a fumo, a pólvora. Cheiram a sangue! - «Eu sou daqueles que vão até ao fim.» Recorda ele só para si a frase de Mário de Sá Carneiro em carta a Fernando Pessoa. Parece que nem falas nem pensamentos são seus porque o NADA, de novo se verificou nas muitas averiguações. Mas eu, não fui - Juro!
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Um rapaz de de grandes olhos negros, aliás, todo negro e com um chapéu de feltro na cabeça, encara-o com uma expressão gelada. Fala. Há uma voz de velho, kota e rouca, e aos soluços sibilantes: - Não há ninguém aqui...
Do T´Chingange: - A vida é feita de NADAS, de grandes serras paradas à espera de movimento. Searas onduladas pelo vento... Relembro as palavras de Torga numa terra pintada de branco, barras azuis com cheiros de poejos...
(Continua...)
O Soba T´Chingange
-Este grunho dos CV deve se de Angola – fala de gweta cangundo como os da Luua** - 15.03.2019
Escrito por – José Eduardo Agualusa
Por
T´Chingange ...(ADENDAS). No Nordeste brasileiro
Livros em cima do criado mudo (mesa da cabeceira)
1 - A minha Empregada - Editorial Estampa de - Maggie Gee
2 - O ano em que Zumbi tomou o Rio - Quetzal - José E. Agualusa
3 - O Último Ano em Luanda - ASA - Tiago Rebelo
4 - BURLA EM ANGOLA – Burla em Portugal - Guerra e Paz – Susana Ferrador
5 - História da riqueza de brasil – Estação Brasil – Jorge Caldeira
6 - GLOBALIZAÇÃO de Joseph E. Stiglitz
7 – VIDAS SECAS – Graciliano Ramos
8 - A viagem do Elefante – José Saramago – Da Caminho
9 - O Livro dos Guerrilheiros de José Luandino vieira - Da Caminho
10 – O CORTIÇO - Romance de Aluísio de Azevedo – IBEP – S. Paulo, Brasil
:::::154 Euclides, o jornalista benguelense sai aturdido do Clube Francês, lugar da conferência de imprensa com negociações. Nesta zona libertada pelo CV – Comando Vermelho, Ernesto, o motorista, espera-o estendido de costas no passeio, uma garrafa de whisky servindo-lhe de almofada, as mãos cruzadas sobre o ventre. Nestes dias tumultuosos já quase não circulavam táxis nas ruas da zona Sul do Rio, zona libertada para o Comando Negro.
:::::155*
(O Rio estava a passar por uma situação muito parecida com a Luua do ano de 1975, tempo do Poder Popular com intervenção dos Pioneiros, uma Criação dos Comunas Tugas como Rosa Coutinho e outros FDP, para Angola e, que resultou na fuga dos gwetas colonos – O medo aqui tal como lá, dissuadia o cérebro… Foi o que eu, relator anotei por ter ouvido e, que não vem escrito neste Zumbi que tomou o Rio.)
:::::156 - Eu gostava de ser negro – diz o jornalista benguelense. Na sua voz melancólica pressente-se um arrebatamento que é nele pouco comum: - Sou sincero. Gostava de se um Leopold Senghor, um Aimé Sesaire ou mesmo Sam Nujoma. Gostava de saber dançar como um negro, ao som da música de Louis Armestrong… Entretanto a cidade ia ficando anoitecida; sombras remexem-se ao redor num bailado de espectros. Ao longo da praia, de quando em quando, as fogueiras tremelicam a escuridão. São as luzes dos soldados do morro; do CV – Comando Vermelho.
:::::157
Nas esquinas das ruas o lixo acumulado desprende um fedor insuportável. À medida que se aproximam da linha da frente da Glória – Frente Leste, surgem mais fogueiras, em pleno Calçadão multiplicando-se em número de homens armados. Um grupo de guerrilheiros com aspecto muito jovem, pioneiros afro-ameríndios-descendentes (de indígena do continente americano) manda parar o carro. Apontam a lanterna para o rosto de Ernesto: - Onde tu tá pensando que vai?
:::::158 - Euclides mostra a carteira de jornalista. Estende-lhe uma nota de cinquenta reais. Seguem. Quinhentos metros à frente a estrada, está cortada por pneus, rolos de arame farpado, uma cancela improvisada. Cinco ou seis carros aguardam na fila a vez para passar. Do lado de cá, formou-se uma feira livre, com gente a assar frango, em largas grelhas de ferro, a vender pasteis e cachorro-quente, cerveja fria e água - uma por três reais e duas por cinco.
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Vários jovens candengues, quase todos com uma metralhadora ao colo, estão sentados no asfalto diante de uma televisão. Há gente a jogar às cartas como se nada se passasse de anormalidade. Do outro lado o rugido de um gerador, fazia-se ouvir por detrás dos mukifos, um zumbido que parecia meter pregos mas, que davam luz em holofotes resplandecendo dezenas de carrinhas da Policia, ambulâncias e quatro blindados.
:::::160 - Euclides, o benguelense jornalista, salta do carro. Sabe que embora a fila de carros seja curta, a negociação de paz entre o Governo Estatal e do Rio com o Comando vermelho, pode demorar. Dois soldados do morro discutem com um policial. Escassos metros os separam. Toda uma vida parada num ritual de passagem: - Nós não somos o inimigo, não, malandro. Tu és bem pretinho, tu és um fodinha, feito agente… Com fobia de ser mulato, o benguelense ouvia já na dúvida de se era bom ser assim – um preto*.
:::::161
- Calma aí! Sou negro mas não sou bandido não. Trabalho duro. Não me meto em baderna (amigo de farra, considerado um inútil, desclassificado…*). Um outro policial, um tipo muito alto, rosto coberto por um capuz preto, apenas com uma estreita abertura para os olhos, aproxima-se do primeiro segredando-lhe qualquer coisa ao ouvido. O soldado do Comando Negro provoca: - Vais ser sempre um pau mandado do branco!? Se liga, meu, tu tá combatendo tua própria gente. Não ouviu o que o teu chefe Weissmann anda dizendo, não? O cara quer mandar todos os crioulos para África…
:::::162 - O CV contínuo: - Teu chefe gweta vai ter de encontrar um barco do tamanho do Brasil… Dito isto ri com gosto levantando o punho esquerdo desenhando um “C” e o direito fazendo um “V”*. Euclides fica na dúvida pensando - este grunho dos CV deve se de Angola – fala de gweta cangundo como os da Luua**… E, assim no meio destas periclitãncias vê que o policial encapuzado reage enraivecido. Grita com um forte sotaque gaúcho, voz roca de muito “chá-mate”*: - Está rindo de quê seu banana!? Vou aí e quebro a tua cara, sua bicha*!...
:::::163
Bartolomeu Katiavela surge nesse momento, vestido com o uniforme de general do Exército angolano, repreende o rapaz. O policial governamental volta-se contra ele: - E tu, porque não vais fazer a guerra no teu país? Katiavala enfrenta-o. Está ali tão firme, tão íntegro, tão prepotente, que parece ter sido aparafusado ao chão. Entretanto ainda ouve o outro a dizer: - Quanto dinheiro esses filhos da puta*, esses marginais estão te pagando? A voz de Katiavala, límpida e sem esforço, assim como a de Net King Cole, sai com decibéis, sotaque coimbrão, acima do ronco do gerador Honda: - Porque não tira essa mascara? – Assim como está, parece um bandido.
( Continua…)
Notas: *Item da autoria de T´Chingange; **gweta é branco; cangundo é branco de baixa condição, do musseque…
O Soba T´Chingange
CONHECER O BRASIL – 24.02.2019
Brasil - Os Cortiços vieram a seguir às casas de Bangu e batuque – repotreando-me na minha cadeira de balouçar, rindo forte, e sem calar a boca, a camisa a espipar-se-me pela braguilha aberta e piscando o olho à Rita Baiana…
Por
T´Chingange – No Nordeste do Brasil
Cortiços - Tipos bastante variados de habitações colectivas que abrigavam os segmentos pobres da população urbana, moradores sobretudo do Rio de Janeiro e, a partir de meados do século XIX. O aumento populacional que se vinha incrementando desde 1808 com transferência da Corte portuguesa, tornava-se cada vez mais expressivo por via do aumento dos fluxos migratórios, sobretudo de portugueses.
Com a diminuição do número de escravos em função da extinção do tráfico africano, por volta de 1850, e apesar da crescente ampliação da estrutura urbana, as oportunidades de emprego mantinham-se reduzidas, agravando as condições de vida da maior parte da população. Em alguns lugares do Brasil, as coisas não mudaram tanto assim pois continuam a ver-se muitos camelós zurzindo suas vidas rebocando cangulos com cinco e mais caixas de isopor ou montras de muitos e fosfóricos óculos de sol, adstringentes e até fosforescentes…
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O fenómeno não era só brasileiro pois que em Argentina podia encontrar-se também esse mesmo tipo de habitação urbana. Em “El Caminito” de Buenos Aires havia o mesmo tipo de construção agregando gente que vinha da Europa na busca de uma nova vida; ainda hoje podemos ver a combinação de materiais adaptados à construção barata com varandas ripadas e cores variadas dando assim, mais harmonia ao conjunto habitacional, um amontoado de mukifos atravancados a eito. Ainda se vê disto em Viñas-del-Mar e Valparaiso.
El Caminito é uma rua-museu e um logradouro tradicional, localizado no bairro de La Boca (Do Boca Juñior Club), junto ao estádio de futebol na Cidade de Buenos Aires. O lugar adquiriu significado cultural devido a ter inspirado a música do famoso tango Caminito trazido pela comunidade italiana também em meados do século XIX. Tanto portugueses como Italianos vinham em vapores destinados a trabalhar nas fazendas de café ou canaviais a fim de substituir os negros escravos que por lei, iam sendo libertos.
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Para além das dificuldades de acesso à alimentação, o problema habitacional tornava-se cada vez mais grave. Em 1868 o Ministro dos Negócios do Império regista a existência de 642 cortiços na cidade do Rio, distribuídos por diversas paróquias. Em 1888, já existiam 1331 cortiços, alguns já com características de estalagem sendo que a maior concentração se verificava na paróquia de Santana.
Proliferavam assim estas habitações colectivas aonde residiam não só os livres e libertos pobres como e também, ganhões ou camelós que ganhavam a vida como ambulantes à mistura com emigrantes que iam chegando com uma mão à frente e outra atrás tendo de viver sobre si mesmos, vendendo o que desse e aprouvesse; costurando em plena rua e remendando os sapatos debaixo de um esporádico toldo ou mesmo a simples sombra de uma árvore…
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Em princípios da década de 1870, o termo cortiço adquiriu um sentido cada vez mais estigmatizador das habitações colectivas. Estas tornaram-se o alvo dos defensores do higienismo que determinaram por posturas proibir a construção em áreas nobres ou centrais do Rio de Janeiro. Isto veio a colidir com uma grande camada de pequenos investidores que controlavam as vendas a crédito, os donos das tabernas, tascas e quiosques que ali laboravam numa forma de consórcio ou rodízio. A vida ia rolando…
Os Cortiços estavam por assim dizer e, também associados à malandragem, às promiscuidades e epidemias com desordem social, locais privilegiados aos zeladores da trambicagem, quase tudo em igual como muitas das favelas actuais aonde fecundam as hordas de marginais que vivem de expedientes, vendendo gato por lebre ou dedicados ao jogo do bicho, ou outras manigâncias de obter dinheiro fácil.
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Era o lugar de mestiçar a raça numa miscigenação que provocou genericamente a raça humana, furta-cores que derivou a se acabar com as cores natas com o ADN do arco-íris perfeito preconizado por Thomas Robert Malthus no seu puritanismo de higienismo racial.
Um tal que foi considerado o pai da demografia por sua teoria para o controle do aumento populacional, conhecida como malthusianismo.
Felizmente que este Malthus não teve grande sucesso aqui no Brasil. Nos cortiços foram iniciados laços de solidariedade que preconizaram um modo de vida diferente dando origem a várias estratégias de resistência sem a necessidade de lamber a tão proclamada independência de outros povos que pela prática se vê hoje seguirem rumos de muito difícil adaptação aos conceitos da pele, originando preconceitos e paradigmas desvirtuastes; estou a referir-me à Angola que simplesmente rejeitou milhares de cidadãos que a ela pertencem por nascimento por via do “MATUMBISMO”…
Quem ler o Cortiço de Aluísio de Azevedo vai entender na perfeição as virtudes e desvirtudes dos conjuntos sociais que originaram a vida de hoje em condomínios fechados. Estou a ver-me já desengravatado e com os braços à mostra, dum vermelho lustroso de suor, intumecido de vinho do M´Puto, vinho já baptizado com água benta e cachaça, esperando o leitão no forno, repotreando-me na minha cadeira de balouçar, rindo forte e sem calar a boca, a camisa a espipar-se-me pela braguilha aberta e piscando o olho à Rita Baiana que canta ou tentava cantar o novo desfado; assim, a dar para os bestialógicos arremedos da minha santa terrinha.
O Soba T´Chingange
– COMUNICADO DO CV - Comando Vermelho -19.02.2019
O dirigente do Comando Negro veste uma camiseta do Clube militar de Luanda - CML
O ano dos COMUNICADOS em Luanda . 1975
Escrito por – José Eduardo Agualusa
Por
T´Chingange, vulgo António Monteiro . No Nordeste brasileiro
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Livros em cima do criado mudo (mesa da cabeceira)
1 - A minha Empregada - Editorial Estampa de - Maggie Gee
2 - O ano em que Zumbi tomou o Rio - Quetzal - José E. Agualusa
3 - O Último Ano em Luanda - ASA - Tiago Rebelo
4 - BURLA EM ANGOLA – Burla em Portugal - Guerra e Paz – Susana Ferrador
5 - História da riqueza de brasil – Estação Brasil – Jorge Caldeira
6 - GLOBALIZAÇÃO de Joseph E. Stiglitz
7 – VIDAS SECAS – Graciliano Ramos
8 - A viagem do Elefante – José Saramago – Da Caminho
9 - O Livro dos Guerrilheiros de José Luandino vieira - Da Caminho
Pude ler nas páginas 232 e 233 do livro de Agualusa uma réplica da proliferação de COMUNICADOS à imprensa de então no ano da Luua em 1975 e em Angola - emanados do COPLAD, do MFA, da FUA dos MOVIMENTOS de libertação para tranquilidade de toda a população. Foi de uma tranquilidade de espanto – a guerra do TUNDAMUNJILA…Sem aquela inquietude de afligir o próximo, ou ficar num estranho silêncio, esperamos as mudanças no tempo e suas modas adaptando-nos ao luto de preto, que faz muito tempo atrás era branco.
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Eu quis saber do porquê de cada homem ou de cada mulher, nascer com a verdade dentro de si e só para si! Assim e, porque cada homem é um mundo que se ao tempo der tempo, o tempo bastante, sempre o dia chega em que a verdade se tornará mentira e a mentira se fará verdade. Angola foi uma mentira, uma farsa, uma gigantesca farsa…
Julho de 1975 - Em Muquitixe estive encostado a um muro velho com minha sogra idosa! Fazia o percurso de Nova Lisboa (Huambo) para Luanda. Não se sabia o que poderia sair daqueles drogados que revistavam o autocarro aonde seguíamos. Podíamos ter sido ali, metralhados, como num filme de revolução, cuja morte parece sempre surgir junto a um já esburacado muro! Isto simplesmente, não aconteceu. Ninguém se culparia e nem haveria de jurar a alguém! Parecia não haver esse tal de alguém; simplesmente, assustador!
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Ouve combates no morro do Rio de Janeiro do Brasil e do livro do Zumbi: Mas que porra é aquela? Jararaca fala à imprensa em negociações! Vai dai elaboram um COMUNCADO «O Comando Negro exige do governo federal:
Ponto 1 – Uma ampla amnistia para os soldados sob sua direcção, (* -trata-se dos revoltosos do morro) aqueles que estão detidos, e todos os heróis que desceram hoje dos morros para combater a escravidão.
Ponto 2 – A imediata demissão do ministro da Defesa, general Mateus Weissmann.
Ponto 3 – Uma indemnização simbólica a todos os brasileiros de ascendência africana e um pedido público de desculpas pelos séculos de exploração e opressão.
Ponto 4 – A introdução de um sistema de cotas para afrodescendentes, nunca inferior a quarenta por cento, não apenas nas universidades e repartições públicas, mas também para cargos superiores na Polícia e no Exército, e candidatos a deputados estaduais e federais.
Ponto 5 - Durante as negociações com o Governo todas as unidades das Forças Armadas estacionadas no Rio de Janeiro devem recuar para fora das fronteiras do Estado e não interferir.»
O dirigente do Comando Negro veste uma camiseta do Clube Militar de Luanda. Jorge Velho reconhece os símbolos- o punho negro, a metralhadora, a estrela amarela sob fundo vermelho (* - A variante da Luua tinha uma roda dentada e uma catana em diagonal) -, porque já os viu inúmeras vezes em bandeiras e cartazes ou pintadas nas paredes das favelas (* - musseques), mas é incapaz de decifrar a sigla, CML.
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Jararaca, tem ao pescoço um colar de missangas vermelhas e negras… Olha de frente para o mundo. Conclui solene e desafiador: «Estamos voltando hoje uma página na História do Brasil. Este país nunca mais será igual. Bom dia, Liberdade!» Cala-te. Ouve-se alguém a gritar: «Corta, porra, corta logo!» (* -eram imagens para a TV). Ele levanta-se e a imagem desaparece. Surge uma fotografia com o clássico cartão postal, com o Pão de Açúcar em primeiro plano (* - fim de citação ao livro…).
Poderíamos perfeitamente dizer que assim se passava no dia-a-dia da Luua nos anos de 1974 e 1975, a Emissora Oficial de Angola a dar comunicados atrás de comunicados. Com eles soaram as cantigas de permeio recordando os heróis de Valódia, Monstro Imortal que os pioneiros cantavam nas ruas vezes sem conta; nas ruas de todas as cidades! Olhando o passado víamos ali “Nossos versos de Carnaval”. Entretanto havia filas quilométricas de refugiados que em alguns casos eram escoltados pelas tropas portuguesas e também do MPLA numa já perfeita parceria de zelo de Estado.
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Era criado ao acaso um autêntico corredor entre as cidades do Centro e Norte até Namacunde, no extremo sul do “Sambódromo Estado de Angola”- ao longo da estrada principal. A falta de gasolina, água e alimentos tornava-se cada vez mais dramática pela carência. Trocavam-se contos ao desbarato por tambores de gasolina. A tropa portuguesa assistia agora à fuga de milhares de ex-colonos e naturais com um sentimento de impotência, coisa confrangedora para alguns – não tanto para outros.
Não haveria desculpas para essa corja de militares de aviário, os cérebros do Concelho da Revolução e muitos civis que se ufanavam deste feito como sendo exemplar. Puta que os pariu! Prometi recordar estas tristes passagens, tempo de tão mau augúrio para um Império que ruiu da pior forma, sem dignidade; tudo feito por empedernidos fanáticos que a troco de uma centelha ideológica empederniam-se num regime despótico e anárquico entregando as gentes ao descaso, aos entretantos …Ou mato, ou morro!
Nota* - Esclarecimentos de T´Chingange
O Soba T´Chingange
RECORDAÇÔES ANGOLA
fogareiro da catumbela
aerograma
NAÇÃO OVIBUNDU
ANGOLA - OS MEUS PONTOS DE VISTA
NGOLA KIMBO
KIMANGOLA
ANGOLA - BRASIL
KITANDA
ANGOLA MEDUSAS
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NOTICIAS ANGOLA (Tempo Real)
PÁGINA UM
PULULU
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COMPILAÇÃO DE FOTOS
MOÇAMBIQUE
MUKANDAS DO MONTE ESTORIL
À MARGEM
PENSAR E FALAR ANGOLA