NAS FRINCHAS DO TEMPO . Espreitando pelo postigo da memória antropológica - 29.06.2019
Xicululu é mau-olhado, olho gordo e, normalmente invejoso…
Por
T´Chingange – No Algarve do M´Puto
Desde que me lembro de conhecer o mundo, cumprindo o curso da vida, obedeço sem outro querer à ordem astronómica dos astros que me regem. Que regem qualquer um por muito que se diga ser-se agnóstico, ateu ou de um sem numero de sinónimos enganadores. Com Deus ou com a Natureza vai-se definhando em rugas e surgem crateras apocalípticas de cores preocupantes e por vezes bem periclitantes. Num repente, deixa-se de ser o maior, cumprindo a profecia e, mesmo sem o querer, também nesse constante nascer e morrer, um susto, uma crise, um desenlace com um ái ou úi, num valha-me Deus
Na sequência normal de passarmos nesta trilha, o filho sepultará o pai depois de muitos e fartos dias de inquietação; sempre vai ser assim até à eternidade de cada qual, semelhante a um sopro, seus dias passarão como a sombra no tempo aonde só a memória é capaz de fazer mover e aproximar; animados a crescer o quanto se possa, dependendo claro, de terem o coração amargurado ou dócil e, na vil preocupação de ter os impostos em dia – um paradigma involuntário fabricado por nós para fazer vingar a democracia aonde uns saem mais bem fartos do que outros.
E, como diz a sombra esquerda de Saramago, o tempo não é uma corda que se possa medir nó a nó; é uma superfície oblíqua e ondulante, dependente da memória como já foi dito. O sol, o ar, a água, e a terra, têm de ser considerados permanentemente parte de nós. O sol é a verdadeira fonte da vida e, ao invés do que alguns conceituados doutorados dizem, ele não é prejudicial; não é o sol que provoca o câncer de pele mas sim os muitos venenos que ingerimos e que serão queimados ao serem expelidos por ela.
Numa tarde já descaindo para a noite, habilitando-me a ser ninguém entre tantas e curiosas vivências, gozava do sol morno na Ilha de Santa Maria dos Açores, a mais ocidental das nove ilhas Da esplanada do Hotel Cinco situado no alto da chapada, aprecio a manta de retalhos definindo os retalhos de terra. Terra de cada qual e, descendentes de Gonçalo Velho Cabral que em 1431 colonizou. Terá sido a primeira ilha dos Açores a ser avistada, por volta de 1427, pelo navegador português Diogo de Silves. Posteriormente, em Fevereiro de 1493, Cristóvão Colombo escalou esta ilha no regresso da sua primeira viagem à América; terá sido na Vila do Porto, o único da ilha aonde terá aportado. É daqui que falo, pisando a calçada desse Colombo!
Rodeados a muros de pedras vulcânicas, canas ou milho e pontículos de hortenses, é um rendilhado que nos consola. O mar divisa-se ao redor do lado esquerdo e, não muito longe e junto à costa acidentada ouvem-se tiros; pode perfeitamente ser de um caçador de coelhos porque aqui eles, são quase praga. Desde o aeroporto até à Vila pode ver-se terras trabalhadas com amor como quem faz filigranas entrecortados por fios verdes que descem as vertentes tapando linhas de água que as tornam encantos refrescantes.
Estávamos no penúltimo dia do mês de Julho de 2005, dia 24, sessenta anos feitos, dia de festejo a Santa Bárbara com cheio e sabores direccionados ao povo que por tradição levam a rigor o oferecimento das sopas do Santo Espírito. Fui ver os mistérios da Nossa Senhora dos Milagres e assistindo à missa, pude ver a coroação do Imperador e Imperatriz que irão coordenar as festas do ano seguinte, dar sopas ao povo até ao domingo de Pentecostes. Tinha tudo isto anotado em um papel timbrado pelo Hotel Cinco de Santa Maria e, já quase a rasgar inutilidades, ao reler, quis o destino ser fruto deste escrito passado que são catorze anos desse então.
Na procura de um porquê, uma vida cheia de entãos, o ser só agora, só posso dizer que é um fruto do acaso tal como um tesouro de vida e, como um milagre que sobe a rampa dum fim de Mundo, a mesma rampa que desce para o Porto da Vila lá embaixo, uma pequena e pedregosa enseada. Tenho anotado o nome do Padre Chaves que presidiu àquela missa e à margem uma indicação aos “Impérios Marianos”. Notei a forte presença de emigrantes açorianos vindos da América e Canadá – gente que perpétuo este oferecimento de comida e bebidas a custo zero – oferendas graciosas que fazem distinguir esta ilha de todas as demais. Uma experiência única, a dos cultos Marianos.
Ao que se diz este culto vem desde os milagres da rainha Santa Isabel, esposa de Dom Dinis que nos ofereceu o milagre das rosas e, que deu sequência a outros nomes como o de Nossa Senhora da Conceição. Os Impérios do Divino Espírito Santo são um dos traços mais marcantes da identidade açoriano, constituindo um culto que para além de marcar o quotidiano insular, determina traços identitários que acompanham os açorianos para todos os lugares onde a emigração os levou. Para além dos Açores, o culto do Divino Espírito Santo está hoje bem vivo no Brasil (para onde foi levado há três séculos) e na América do Norte. Não é por acaso que a Ilha de Florianópolis do Brasil, é considerada a décima ilha dos Açores…
Fui com Ibib a um cruzeiro visitar o pedaço mais pequeno de Portugal - as Ilhas Formigas! Não me lembro do nome do barco grande que nos levou lá, mas só posso dizer que ali ia a maioria do povo morador naquela Ilha de Santa Maria, demos uma volta ao farol daquele montículo de rochas no meio do mar agitado e azulissimo. Depois daquelas águas fundas com golfinhos a nos saudarem e já no regresso, quase noite, assistimos ao fogo-de-artifício ao largo da praia de São Lourenço. Para trás ficaram as Formigas, traiçoeiras ao ponto de provocar muitos naufrágios. Assim foi em tempos idos de quando as luzes não piscavam porque nem farol havia e, a espuma das ondas pretas ao bater nas fragas pretas, ficavam escuras…
Formigas era um sítio aonde os dias se cruzavam mal com as noites e, porque o nevoeiro assim originava, criar mistérios. Entre parreiras nas encostas trabalhadas na forma de curraletas, cheirei os vinhos, bebi verdelho e, assim num lugar aonde tudo parece ser uma outra coisa, deixei um pedaço de mim. Há ali, um claro permanecer de doutrinas esquecidas, inspirando manifestações religiosas e acções rituais e simbólicas que perduram até hoje. Talvez por influência dos franciscanos espiritualistas, que partilhando com os primeiros povoadores as agruras da colonização, o culto do Divino Espírito Santo que, por apagamento se deixou de ver na Europa – Pois! Porque cada homem é um mundo, tem que ao tempo, dar-se tempo…
O Soba T´Chingange
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