CONHECER O BRASIL – 05.03.2019
BRASIL – DIA DE CARNAVAL – Na passagem do primeiro para o segundo tempo* na vida do BRASIL, irei recordar o que são os TROPEIROS- parte UM …
Por
T´Chingange – No Nordeste do Brasil
Aqui na Mata Atlântica à beira mar, no Agreste e depois no Sertão, pode-se comer como acompanhamento a qualquer prato, a farofa, o pirão de mandioca aguado, arroz e feijão preto. Entre muitas das iguarias tem um especial acompanhamento que é o feijão tropeiro. Recentemente, provei um prato de costeletas de vaca ou boi como aqui se diz, feito bem à maneira tropeira. Só carne com salsicha na proporção de um para meio, feito na panela de pressão em vinte minutos.
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Convêm meter no fundo da panela umas quantas rodelas de cebola para não torriscar a carne em caso de descuido, cozida em lume brando e também para lhe dar um certo sabor. Em verdade pode-se acrescentar outros legumes para variar o gosto mas, este é o modo mais simples de se cozinhar. O tropa condutor de mulas não tinha muito tempo para cozinhar sofisticação; o lema dele era chegar ao destino no mínimo tempo levando seus muitos animais e sua carga variada, para as vendas de comerciantes situadas bem por detrás de morros, charcos ou serras medonhas difíceis de transpor.
Ora é por aqui que teremos de explicar o que é isso de TROPEIRISMO. Na historiografia o termo é referido por via dessa actividade estar relacionada desde o século XVIII, com tropas de mulas, animais criados nos campos do Rio Grande do Sul, onde havia uma salinização natural nos pastos, condição de sobrevivência para esta espécie existente tanto aqui nas pampas, terras de Cisplatina, de aquém rio da Prata, ou mais a norte, no Vale do Rio de São Francisco.
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As mulas xucras, percorriam em grande número, por vezes mais de dois mil quilómetros, passando por invernadas, sobretudo nos campos do Paraná, até chegarem às famosas feiras de Sorocaba, na região de São Paulo. No início do século XIX, calcula-se que cerca de vinte mil muares eram anualmente negociados em Sorocaba, passando para cerca de cem mil, na década de 1850 e, declinando para dez mil a partir dos anos 1880.
No ano de 1817 foram importadas cerca de doze mil bestas destas para Minas Gerais. O percurso era trabalhoso, e as tropas eram compostas pelo condutor-chefe, camaradas e cozinheiro, além de cães amestrados que evitavam a tresmalhação dos animais, bem à maneira dos cães da Serra da Estrela ou Caramulo do M´Puto que juntam o rebanho de ovelhas ou cabras. Éguas madrinhas, experientes, enfeitadas com arreios de prata de Cisplatina, guizos no peitoral e Chapéu de pluma na cabeça, dirigiam os lotes de muares.
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Os rebanhos de ovelhas em transumância entre as lezírias e pastos tipo savana do Alentejo, num Portugal de há setenta anos atrás, também eram enfeitados os animais mais nobres do rebanho. Levavam grandes chocalhos a fim de assinalarem o caminho na deslocação para as terras férteis mais a norte das Serras de Montemuro, Leomil, Lapa ou Marofa entre outras e, cada lote demarcado por sinais de ferro eram enfeitadas com duráveis serpentinas nos chifres, também no intuito de as distinguir; estas eram de fulano, aquelas eram de beltrano e as outras eram de sicrano…
A dieta dos condutores consistia fundamentalmente em carne seca, charque ou de sol, feijão, angu de milho, fuba – farinha de mandioca, café e açúcar, produtos transportados em sacolas de ráfia, piaçaba e outras fibras do mato, por mulas cargueiras. É assim que chegamos ao tão conhecido “feijão tropeiro” e o “ carreteiro de charque”. A cachaça sempre presente, era mais usada para evitar gripes do que propriamente para ser bebida avulso; tudo isto era consumido tendo no final uma passa de fumo, para falar bem à maneira moderna; fumo de rolo que funcionava como emplastro contra picadas de insectos e cobras.
A expressão “tropeiro” em verdade, abriga tipos sociais muito diferentes a saber: - o condutor de topas de mulas, eram assim chamados ou também de “peões de conduta” atrás descritos; o negociante era conhecido por isso mesmo, “negociante de tropa”, “solta” ou “carregada” – isto quer dizer que negociava toda a tropa com carga ou o animal solto de carga ou ainda, de só um ou mais animais com sua carga. Havia também o “dono de tropa de mulas” que cobrava pelo frete, assim como se fosse uma companhia moderna de ónibus, autocarros.
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Deveria ser uma vida bem difícil, andar dias e dias em sinuosas travessias e a partir das terras a Sul, terra de Gaúchos. Levar à semelhança dos pastores de ovelhas de Portugal agasalhos, mantas coloridas de Minde e ou mantas de trapos da Beira Alta, pesadas para xuxú, para resistirem às intempéries.
Água ardente feita do bagaço da uva para desinfectar a goela e as feridas. Levar chapéus-de-chuva ou capas feitas em palha para poderem prosseguir andamento debaixo de chuva, nevoeiro e assim aguentar os contratempos; largados das famílias por espaços longos no tempo. Recordo de ainda puto, candengue, pivete, rapaz, observar atrás dos muros, pequena fragas empilhadas a circundar caminhos poeirentos, na espreita a ver longos rebanhos que levantavam pó; levavam horas a passar, uma alegria diferente, com cheiro e sabor…
Eram chocalhos e guizos – eram gritos e apitos no meio dos pinhais das terras altas do M´Puto. Homens encorpados com vestes fortes levando aos ombros mais mantas e até por vezes um cordeiro de tenra idade, balindo por sua mãe no meio do rebanho. Cheiros tão antigos que já poucos se lembram – Tempo do Zé do Telhado lá no M´Puto e do Lampião aqui das terras do Nordeste. Em homenagem a estes homens ainda tomo uma pinga de cachaça no café Santa Clara, uma pinga de aguardente – Que sabor tão divino. Que o diga meu amigo Arrais de Bustos que por aqui anda à bem mais de uma vida vivida…
Nota*: O Brasil tem dois tempos distintos no ano: - Um ANTES e o outro DEPOIS do CARNAVAL… Bem dizia o Presidente De Gaulle: O Brasil não é para ser tomado a sério…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS CINZAS DO TEMPO – 01.12.2016 - Um homem sem religião é como um peixe sem bicicleta…
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Coma uma lesma viva de manhã e, nada pior lhe acontecerá nesse dia. É como a Lei de Murphy diz "se alguma coisa pode dar errado, assim será". Foi com estas duas ideias que comecei o dia caminhando. Eram cinco horas brasileiras quando me dispus ao caminho com mais um amigo que em tempos trabalhou na Usina Uruba. Ele recordou-me serem esses tempos idos de muita cachaça e, amiudadamente refere que graças a Deus esses tempos já não o são mais e, por graça da igreja que agora frequenta, evangélicos do sétimo dia.
E, como um homem sem religião é como um peixe sem bicicleta, também defini por mim próprio que um homem sem reais no bolso, nada pode comprar. A experiência de vida leva-nos a tirar conclusões rápidas tornando-nos quase sábios mas, com quarenta reais no bolso, botei meu boné amarelo com buracos de refrescamento e minhas botas de papa-léguas com pontas de aço. Com uma manga semi verde em cada mão por aí fomos.
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No refresco da manhã e, faltando vinte minutos para as seis da madrugada, chegamos à feirinha do “Cleto” situada num bairro entre a via expresso e a Avenida Fernandes de Lima de Maceió, que segue até ao aeroporto Zumbi dos Palmares e continua para Recife pela via BR-101. Aqui é um dia normal de quinta-feira mas no M´Puto é feriado, dia da restauração de Portugal.
Com os apetites afiados na vontade de querer, perguntei ao cara careca da banca do peixe se tinha sardinha e, respondendo-me afirmativamente mandei-lhe pesar 3 quilogramas e que por ali passaria a recolhê-la dentro de dez minutos. Recomendei que lhe tirasse a cabeça e tripas. A intenção era fazer uma caldeirada na panela de pressão com verduras de pimentão, maxixe, cebola, batata e couve.
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Sardinhas limpas, sacola num vai e vem da caminhada no rumo de regresso até Antares, bairro de caserio baixo e construção modesta. Percorremos ruas empedradas, asfaltadas e em terra bordeada a capim, cachorros espreguiçados nas ombreiras de portas desniveladas, pintos correndo em fila atrás da mãe pedrês e ciscando depois nas humidades de águas descuidadas, paradas na negrura saponácea das valetas.
Já banhado, flanelas frescas de limpas, calos raspados, tomo o café da manhã composto do meu milongo de abóbora com gengibre, queijo de búfala e pão com fermento biológico feito pela Margarida, a senhora da casa. E, vem a simpatia da dona na forma de banana comprida frita mais a tapioca e o mamão. Para terminar o café Santa Clara bebo-o com sorvos de prazer miudinho entretendo os entretantos com o linguajar nordestino entremeado pelas vidências do Carlinhos profeta.
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Lá fora no canto coberto e ventilado da casa, meu porta-aviões, espera-me a rede de esfregar preguiça e cochilo mas, entretanto juntei meus livros, meus caderno e lápis mais o ilustre computador para neste puxadinho alpendre e na mesa redonda com toalha de pano de cocô assentar meus pensamentos na forma de palavras baloiçadas. No jeito de amor que me é peculiar, boto falas atravessadas e canforadas no espirito de massajar os amigos sem a essência de terebentina.
Ligo o computador e, este não responde da forma habitual, lento, mas que se passa!? – Pergunto de mim para mim mesmo. Num liga e desliga, acciono o antivírus a fazer verificação completa pelo kaspersky. Neste meio tempo de espera, escrevo estas malambas e na forma de xicululu (olho gordo, feitiço) de modo a não ficar olhando as nuvens com um avião passando de quando em vez, saído do Zumbi.
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E, como meu próximo destino é o Uruguai, vou ao encontro da história para não chegar la vazio de sabedoria. Recorro assim aos meus anteriores escritos referentes ao tempo de D. João VI aquando por ali aquele se chamava de Banda Oriental e mais tarde de Cisplatina e, em que Frederico Lecor teve parte interveniente. Foi este que comandou o exército da tomada do Uruguai a Espanha que se encontrava nas mãos de Napoleão.
Nunca antes se tinha visto tamanho exército em terras Americanas tendo no seu comando homens de armas valorosos, que se tinham salientado em outras praças de guerra; o plano de ocupação da Cisplatina tinha um efectivo de pessoal a saber: 7 oficiais do Estado-maior de Divisão; 10 Oficiais do Estado-maior de Brigadas; quatro Batalhões de Infantaria com mais de 3600 homens.
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Cerca de 900 homens de Cavalaria; 252 artilheiros e 36 músicos. O então príncipe Dom João veio a ser aclamado rei a seis de Fevereiro de 1818. As solenidades de aclamação e coroação como Rei de Portugal, do Brasil e do Algarve, tiveram lugar no Rio de Janeiro tendo na concessão de várias mercês sido dado o título de Barão de Laguna ao General Francisco Lecor, Governador de Cisplatina e Comandante Supremo do exército ali estacionado.
O Soba T´Chingange
AS ESCOLHAS DO SOBA
“ Direito de sonhar”
Eduardo Hughes Galeano - É um jornalista e escritor uruguaio. É autor de mais de quarenta livros, que já foram traduzidos em diversos idiomas. Suas obras transcendem géneros ortodoxos, combinando ficção, jornalismo, análise política e História. Galeano iniciou sua carreira jornalística como editor do Marcha, influente jornal semanal. Em 1971 escreveu sua obra-prima As Veias Abertas da América Latina.
Uruguai
A utopia está no horizonte; quanto mais a buscarmos mais ela se afastará; nunca a alcançaremos. Que tal se nos fixarmos um pouco mais além para adivinhar outro mundo possível: O ar estará limpo de todo o veneno que não provenha dos humanos e das humanas paixões. Nas ruas os automóveis serão amachucados pelos cães; a gente não será manejada pelo automóvel nem será programada pelo ordenador nem será comprada pelo supermercado nem tão pouco será mirada pelo televisor. O televisor será tratado como o ferro de engomar ou máquina de lavar; a caixa da TV não será mais, o membro mais importante da família. Serão incorporados códigos penais do delito de estupidez que cometerem os erros da angustia no ter ou ganhar. Viver por viver, não mais como canta o pássaro sem saber que canta e como joga a criança sem saber que joga. Em nenhum país, os mancebos, serão presos por se negarem a cumprir o serviço militar a não ser os que a querem cumprir; ninguém viverá para trabalhar mas, trabalharemos para viver; os economistas, não chamarão nível de vida ao nível de consumo nem chamarão qualidade de vida às quantidades de coisas que se consomem; os cozinheiros não acreditarão que às lagostas “ les encanta” serem fervidas vivas.
Os historiadores não crerão que aos países “les encanta” serem invadidos; os políticos não crerão que aos pobres “les encanta” comer promessas. A solenidade deixará de acreditar que é uma virtude e nada, nada tomará a sério a nada que não seja capaz de tirar a morte e, nem por falecimento o canalha se converterá em virtuoso cavalheiro. O dinheiro perderá o mágico poder. A comida não será uma mercadoria nem a comunicação um negócio porque a comida e a comunicação são direitos humanos; ninguém morrerá com fome porque ninguém morrerá de indigestão; as crianças da rua não serão tratadas como lixo porque não haverá crianças de rua; os meninos ricos não serão tratados como se fossem dinheiro porque não haverá meninos ricos. A educação não será o privilégio de quem possa pagá-la e, a polícia não será a maldição de quem não possa comprá-la.
A justiça e a liberdade, irmãs siamesas condenadas a viver separadas deverão ajustar-se bem coladinha, costas com costas. Ninguém será castigado pela amnésia conveniente tornando-se um exemplo de sanidade mental. A santa madre da igreja corrigirá algumas erratas da tábua de Moisés e o sexto mandamento mandará festejar o corpo; a igreja também ditará outro mandamento: amarás a natureza; serão reflorestados os desertos do mundo e os desertos da alma. Os desesperados serão inspirados e os perdidos serão encontrados porque aqueles, se desesperaram de tanto esperar e, estes perderam-se por tanto buscar. Seremos compatriotas e contemporâneos de todos os que tenham vontade de vencer e vontade de justiça; tenham nascido ou tenham vivido aonde pouco importe quais as suas fronteiras no mapa e do tempo. Seremos imperfeitos, porque a perfeição será sempre um aborrecido privilégio dos deuses; Mas, neste mundo trapalhão e chato hodierno, teremos de ser capazes de viver cada dia como se fosse o primeiro e cada noite, como se fosse a última.
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
“ Campanha de Montevideu – Frutuoso Rivera”
Frutuoso Rivera
Frutuoso Rivera teve um percurso atribulado que o levou a batalhar, primeiro pela independência da Banda Oriental ao lado de José Artigas vindo a integrar-se depois no exército português de ocupação da Cisplatina (Uruguai). Na luta emancipalista contra os espanhóis destacou-se como um dos principais apoiantes do líder histórico José Artigas mas, ficou inscrito em nome grande devido aos enfrentramentos com as tropas espanholas a partir de 1811 e mais tarde, contra os Portugueses. Rivera foi o iniciador da luta de guerrilhas contra as forças ocupantes do General Frederico Lecor o que acabou por ser derrotado; aceitou a amnistia que lhe foi proposta abandonando Artigas, incorporando-se com as suas tropas ao exército português. Num movimento conhecido como a campanha dos 33 Orientais, Rivera aderiu aos antigos camaradas rompendo com as tropas brasileiras. Rivera demonstrou a sua coragem nas batalhas de Rincón de Sarandi da qual resultou a expulsão das forças brasileiras do território da Banda Oriental. D. Pedro foi forçado a assinar a paz com Rivera quando este invadiu o território de Missiones. Em 1828 foi proclamada a independência do Uruguai e, dois anos depois Frutuoso Rivera seria eleito o primeiro Presidente pela Assembleia Legislativa governando o país nos quatro anos seguintes.
BANDEIRAS DA BANDA ORIENTAL E DO ACTUAL URUGUAI
O Uruguai após esta data resvalou para uma guerra civil que se prolongou até 1851, período que ficou conhecido como a Guerra Grande da Sul América tendo envolvido tropas dos países vizinhos da Argentina e Brasil. Como estadista, Rivera, o primeiro presidente, não deixou obra marcante ficando dela a figura de um bom estratega e guerrilheiro de grande combatividade no campo militar. A maior tragédia contra os índios Charruas que foram objecto de massacre na sequência de uma cilada foi atribuída a Frutuoso Rivera. Termina assim, a descrição daquilo que foi o sonho Português da Cisplatina após a ocupação efectiva entre os anos de 1816 a 1823. Foi o princípio do fim do Segundo Império Tuga.
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
“ Campanha de Montevideu – José Artigas”
José Artigas
José Gervásio Artigas alimentando um sonho que resultaram numa vida intensa e dramática tornou-se o herói Nacional do Uruguai. A sua vida atribulada envolta em guerrilhas, traições e desencantos levou-o ao exílio no Paraguai aonde viveu os seus últimos trinta anos em solidão. Neto de um dos primeiros povoadores de Montevideu, após as primeiras letras no Convento de São Bernardo, submete-se à escola da vida com sinuosos caminhos de criador de gado, contrabandista, polícia de fronteira e comandante de muitas guerras ao lado de descontentes agricultores, escravos negros, gaúchos independentistas e Índios Charruas, lutando pela emancipação destes. Senhor conhecedor de gado e cavalos, correu a vasta região de fronteira com o Brasil explorando as rotas de contrabando no negócio de couros, carne de charque, gado bovino e muar para as tropas. Escondido numa vida de mistério, manteve uma relação com as gentes comparada ao “Che-Guevara” dos mais recentes tempos.
Da sua boa relação com os Índios Charrua resultou beneficiar do seu apoio nas sucessivas lutas com Espanhóis, Argentinos e Portugueses. José Artigas, por um indulto é incorporado no exército Espanhol combatendo as invasões Inglesas de 1806 e 1807 com o posto de Capitão. Com a ocupação de Espanha por Napoleão de França, Artigas adere aos revolucionários de Buenos Aires que se rebelam contra o domínio Espanhol em 1810. Conhecedor da terra e gentes subleva a Banda Oriental (Uruguai) do Rio da Prata contra as autoridades lealistas acantonadas em Montevideu. Promovido Tenente-coronel pela Junta Revolucionária, apoiado pelos Índios Charruas e Gaúchos distribui terras conquistadas aos espanhóis a camponeses consolidando-se na posição de chefe maior da Banda Oriental. Foi talvez a primeira iniciativa de reforma agrária na América. A sua agenda política era ambiciosa de mais para não suscitar os receios da aristocracia política e económica em Buenos Aires.
Índios Charruas
Sentindo-se atraiçoado por um armistício assinado sem seu conhecimento entre a Junta Revolucionária e o Governo de Montevideu, retirou suas tropas do cerco de Montevideu arrastando-se num êxodo para lá do Rio Uruguai em busca de refúgio seguro. Apesar do desaire, abandono e fuga temendo retaliação de seus pares da Junta, consolida posições de suas tropas rebeldes resistindo a várias ofensivas militares. O poder por contágio de sua política de reforma agrária que os dirigentes de Buenos Aires tanto receavam, mostrou ser um facto indesmentível.
Dois anos depois da sua chegada a Montevideu, mantendo-se em seu comando, Artigas foi obrigado a retirar-se da cidade perante a aproximação das tropas do General Carlos Frederico Lecor. Acossado pelos Portugueses e por Buenos Aires, Artigas passou à guerrilha mas, pouco a pouco foi perdendo apoio com a deserção de parte dos seus oficiais próximos como Frutuoso Rivera que se juntou aos portugueses. Em 1820 acompanhado por um restrito grupo de leais amigos, ruma em direcção ao Paraguai que lhe concede asilo político. Antes de partir para o exílio, entrega a um amigo de confiança o pouco dinheiro que lhe resta para ser utilizado em apoio dos soldados Orientais levados prisioneiros para o Brasil entre os quais Andresito, líder Índio Guarani e, seu filho adoptivo. Em 1855, cinco anos após a sua morte, os restos mortais de José Artigas foram transladados para o Uruguai, nação independente desde 1828, cinco anos depois da saída dos Portugueses. Foi esta a vida do Herói Nacional Uruguaio a que a história só lhe permitiu vitórias efémeras.
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
“ Campanha de Montevideu – Frederico Lecor”
Frederico Lecor
Carlos Frederico Lecor nasceu em Faro no ano de 1836. Nas batalhas das guerras peninsulares contra a França Napoleónica este cidadão de descendência francesa pelo lado do pai e alemã pelo lado da mãe, notabilizou-se pela sua braveza mas, foi como chefe do governo instalado em Montevideu que inscreveu o seu nome na história político-militar do século XIX. Quis o destino de Lecor que este se salientasse em seus feitos de armas; assim, no universo militar, fez um percurso ascendente que o levaram às, mais altas posições hierárquicas do exército. Tendo assentado praça no Regimento de Infantaria de Faro foi promovido a Sargento, chegando rapidamente ao posto de Capitão, preparando-se para as grandes batalhas que se avizinhavam na sequência da Revolução Francesa nomeadamente a campanha do Rossilhão no Sul de França aonde teve o seu grande baptismo de fogo, participando em duros combates.
MONTEVIDEU
Em 1807, perante a invasão de Portugal pelas tropas de Junot, Carlos Lecor combateu sem tréguas a ocupação francesa, chegando a chefiar uma divisão militar inglesa. Após o término da guerra, assumiu o lugar de Governador da Praça de Elvas com a patente de Tenente-General. Do Brasil, o príncipe D. João, convocou-o para uma nova missão além Atlântico: tomar a Banda Oriental do Rio da Prata e alargar assim a fronteira Sul do Brasil até às margens do grande rio. A Banda Oriental da Cisplatina, hoje Uruguai, estava nessa altura controlada pelas forças revolucionárias de José Artigas, neto de um dos primeiros povoadores de Montevideu. Artigas, que mantinha ideias independentistas, com a conivência de outros separatistas e os índios ”Charruas” era um bom conhecedor das rotas mercantis dos negociadores de gado, charque e couros.
A grande missão de Francisco Lecor em sua vida de militar surgiu com a formação da Divisão de Voluntários Reais que seguiu para o Brasil em 1814. Na incumbência de ocupar militarmente a Banda Oriental, o General Lecor, revelou surpreendentes qualidades políticas, destacando-se como astucioso diplomata na condução do seu governo. Lecor, com meticulosa estratégia na captação de simpatias, neutralizou as resistências existentes. Como força ocupante entre os anos de 1816 a 1823 Lecor, com sua argúcia, fez com que a população o aceitasse sem oposição de destaque; de salientar que após ter derrotado Frutuoso Rivera, um braço forte do chefe patriota José Artigas, levou-o a incorporar-se com suas forças ao exército português. Em 1830, Frutuoso Rivera veio a ser eleito presidente do Uruguai pela Assembleia Legislativa, tendo-se mantido no cargo por 4 anos.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
“ O Brasil após 1822”
Os historiadores por parte de Portugal, não deram a atenção merecida às questões relacionamento com o Brasil. Depois de Portugal ter perdido o controlo político da América do Sul, os únicos portugueses de que se faz menção, são os que se viam no Brasil, camponeses pobres e iletrados forçados a sobreviver vendendo carne de “charque” e leite de porta a porta e outras tarefas menos agradáveis. Durante anos verificou-se uma provocação com uma desusada descrição rebaixando a influência real que os Tugas continuavam a exercer na sua ex-colónia. É uma excrescência natural de quem ganha a emancipação e, essa rebeldia com laivos de desprezo veio a verificar-se em relação a Angola nos recentes anos, após 1975; Quantos Tugas estão em situação de desagrado com os políticos que ainda se pavoneiam por aí. Por via de um roubo a gente honesta, a que chamaram de descolonização, justificaram isso para nunca os ressarcirem do mal causado; Quanta injustiça praticada pelos políticos pavões que não tiveram o bom senso de falar verdade e defenderem o seu a seu dono, como lhes competia.
O Brasil conquistou sua independência sem violência notória mantendo os imperadores portugueses da Casa Real de Bragança tendo governado o país até à revolução de 1889. Não obstante Portugal só ter reconhecido a independência do Brasil em 1825, a poderosa comunidade mercantil Tuga, foi autorizada a permanecer no Brasil, apesar da hostilidade popular. Não é de admirar que o povo, desprovido de qualquer privilégio, por vezes, se tenha manifestado de forma violenta contra os Tugas ao longo do século XX. O mercantilismo de Portugal no Brasil, sobreviveu à abolição do tráfico de escravos especialmente das regiões de Rio de Janeiro, no Nordeste e em todo o Norte. No Amazonas, os Tugas foram os grandes beneficiados com o aumento das exportações da borracha controlando os transportes pelo rio Amazonas e as estruturas portuárias ligadas ao comércio. Foram os pioneiros na indústria têxtil do país, desenvolvendo formas mais rentáveis de produção e no emprego de novas fibras.
EMIGRANTES (António Rocco)
Os emigrantes Portugueses do Brasil tinham efectivamente mais hipóteses de sobreviver e enriquecer do que em outras colónias Africanas com governação portuguesa como Angola ou Moçambique; no Brasil, enriqueciam e, no continente negro arriscavam-se às insalubres terras de “matabranco” com malária num constante uso de medidas profilácticas como o quinino, camoquina ou rezoquina. A recessão económica de 1930, foi o corte brutal da ligação de Brasil com Portugal. O governo autoritário de então, tomou medidas severas para debelar a crise económica tendo diminuido drásticamente as importações de mercadorias e o protecionismo até então evidenciado; milhares de famílias que dependiam das remessas do Brasil, mergulharam na mais profunda miséria: Os bancos portugueses, um pouco por todo o Brasil faliram e as cpmpanhias de navegação suspenderam as suas operações no Atlântico Sul. Em realidade, foi em 1930 que Portugal perdeu o Brasil e não em1822; entretanto já se tinham passado 108 anos (duas gerações).
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
“Cisplatina. Uruguai” - LUSOFONIA . 3ª Parte
Cidade de Montevideu
Nunca antes se tinha visto tamanho exército em terras Americanas tendo no seu comando homens de armas valorosos, que se tinham salientado em outras praças de guerra; o plano de ocupação da Cisplatina tinha um efectivo de pessoal a saber: 7 oficiais do Estado-maior de Divisão; 10 Oficiais do Estado-maior de Brigadas; quatro Batalhões de Infantaria com mais de 3600 homens; cerca de 900 homens de Cavalaria; 252 artilheiros e 36 músicos. O príncipe Dom João veio a ser aclamado rei a seis de Fevereiro de 1818. As solenidades de aclamação e coroação como Rei de Portugal, do Brasil e do Algarve, tiveram lugar no Rio de Janeiro tendo na concessão de várias mercês sido dado o título de Barão de Laguna ao General Francisco Lecor, Governador de Cisplatina e Comandante Supremo do exército ali estacionado.
GAUCHOS NA CISPLATINA
Tudo isto revela bem a importância que D. João VI dava àquele acto de domínio territorial do Brasil. Não obstante, este monarca ser criticado, vilipendiado, rebaixado e objecto de muito escárnio por parte dos brasileiros, deve-se a ele o país que hoje é.
Tivesse ele, mantido no Brasil e, o Uruguai seria hoje um estado do Brasil. D. Pedro, seu sucessor por via da imposição do regresso de seu pai a Portugal, não dedicou a mesma atenção a Cisplatina por via das revoltas um pouco por todo o lado mas principalmente a conhecida Confederação do Equador, um movimento republicano fermentado em Pernambuco, que teve de ser reprimido.
FRUTUOSO RIVERA
D. João VI no meio do turbilhão de acontecimentos que antecedeu o seu embarque, procurou resolver o problema da Cisplatina evitando ao príncipe, seu filho D. Pedro, tão melindroso encargo. A 16 de Abril de 1821, oito dias antes do regresso a Portugal, adiantou-se a outros países reconhecendo a independência das Províncias do Reino da Prata e, remeteu ao Barão de Laguna, General Lecor as instruções relativas ao futuro do Uruguai (Banda Oriental). Caberá em próximas crónicas descrever com mais detalhe as figuras de Frederico Lecor, Rodrigo de Sousa Coutinho, Joaquim Xavier Curado, Dom Diogo de Sousa, Frutuoso Rivera e José Artigas, personagens intervenientes neste espaço de história que as memórias em duzentos anos trataram de omitir.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
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