NAS FRINCHAS DO TEMPO . Apalpando as medidas da natureza, sarar as feridas do corpo … Algures no rio Corgo no seio do Alvão…
Mukanda : É uma carta
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A terra desinquieta resolveu-se com boa paciência formar uma vala funda; entre rochas magmáticas remexidas que nos séculos formou o Rio Corgo. Com uma chuva de manso Outono, desci o empedrado da calçada do moleiro que me conduziu ao moinho de levada das hortas, feito destas rochas. Empilhadas ao longo dos tempos, assim aconteceu por muitas gerações. Nas mãos, fazia rolar um marmelo em cada, que por ali recolhi. Rodava-os em compasso de desentorpecer músculos fazendo-os ficar lisos pelo roce de seus fiapos de penugem que os cobriam. A água cantava no seu grato barulhar entre penedos visgosos formando corredoiros de muitos salpicos brancos; a rusticidade era preenchida por milhares de folhas caídas multicolores e nas formas mais diversas.
Os cheiros da natureza humidificavam-me as narinas, os sentidos, entrando assim em mim virgem, amargo e inebriante, aleijando-me o paladar. E eram tílias, faias, choupos, plátanos, cerdeiras e medronheiros, todos entrelaçados a envenenar-me os sentidos da visão, das tonturas e, já me via de repente em pensamento fazer uma salada de arroz de gato com malvas, fetos e rabaça ou fazer daquelas matizes um chá amarelado, mijo de burro, sumo de cor de cobre. Quando se caminha assim sozinhado com a natureza, o pensamento voa num segundo e, até molhamos a cuspo as palavras como uma criança, que saboreia moncos adocicados.
Já no sítio do complexo das piscinas, atravesso a ponte meio vandalizada, paro no meio, aprecio a cascata lá por debaixo e, sempre pensando no vazio das coisas, com as mãos em cima do parapeito, pude ver suas costas atravessadas também com veias azuis como este rio, a recordar-me que também sou velho como ele. Os meus olhos já não têem a pontaria de outros tempos, mas senti a felicidade de diferenciar bem as folhas caídas, amontoadas, coladas ao caminho, daquelas faias e choupos, caruma e até folhas de parra assolapadas nas encostas.
Comendo uns quantos medronhos bem vermelhos, detive-me a analisar este percurso geológico que por fusão consolidada, por aumento de pressão e temperatura, se tornaram em milhões de anos nestas rochas metamórficas ou sedimentares, passando de arenitos a quartzite e de calcário a mármore. A terra paciente conduziu as alterações mineralógicas, estruturais e texturais da rocha mãe. E, já vendo as pontes, nova e velha, pude relacioná-las com aquelas rochas que me ladeavam; rochas formando blocos saídos originalmente da fusão de minerais com sequente recristalização sob estas novas formas mineralógicas de corneanas e quartzitos. Já no topo entre caserio velho e o burgo moderno, pude ver imponente a pala do centro comercial Dolce Vita. Entre lajedos com fetos nas frinchas subi à avenida cruzando o centro histórico de Vila Real de Trás-os-Montes; pude assim compreender o abandono de espaços antes movimentados, que agora se deslocaram para as novas catedrais de consumo do outro lado do rio Corgo.
Tive pena de não ter encontrado sanchas ou míscaros que creio ser deste tempo mas, por fim já com duas horas de caminhada, pude apreciar a estátua imponente de Carvalho Araújo. O mesmo que na 1ª Grande Guerra Mundial ficou célebre por ter conseguido como 1º Tenente e, no comando do caça-minas NRP Augusto de Castilho, proteger o vapor São Miguel de ser afundado por um submarino alemão. Lothar von Arnauld de la Perière que comandava o submarino U-139, em 14 de Outubro de 1918 acaba por tecer as maiores considerações a este ilustre de Vila Real.
Andei só e taciturno, nada igual como o foi em Viseu de Viriato com a turma de Gumirães com a simpática companhia da professora Marisa Batista, suas medições de altos e baixos e até pulsações aeróbicas no sobe e desce da Igreja dos terceiros e a escalada para a Sé. Pois sim! Também na companhia das sobrinhas da Povoa mais a Anabela de Benguela, de pé meio chochinho a necessitar de condroitina, glucozamina e cartilagem de tubarão para esmerilar ossinhos perturbadores, e ainda a senhora Fátima. Sem a tal tecnologia do relógio espacial de Marisa, não sei quanta calorias perdi neste passeio, mas sei que transpirei vontade de perpetuar coisas que nos deviam ser sempre muito queridas, zelar pela natureza e apreciá-la com respeito, o quanto baste. Aqui ou ali, a vida pulsa, e temos de nos acomodar às agruras olhando a natureza que com sua dinâmica nos transcende, e nos transforma.
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO . Nem sempre é necessária a culpa para se ficar culpado… As silvas taparam-me a vontade… mas, no dia 16 de Outubro, já noite, queimei as angústias de heranças mal resguardadas.
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UM DIA DIFERENTE NA CAPITAL DAS DIREITAS - VISEU
Controlando minha missão de olhar as coisas herdadas, desloquei-me a Viseu e, disposto a não magoar a alma, vi o que tinha a ver e de triste pelo que vi, resolvi laurear a pevide, passear meu esqueleto XXL esquecendo por momentos isto, mais a austeridade e ainda o imbróglio das contendas de, ora sim ora não e, o governo que não surge! E a batota que estão a urdir que até me dão frieiras no moleirinha. Pelas 19.30 horas lá fui eu com traje de caminhar com minhas botas papa-léguas calcorrear a rua torta com nome de direita no centro deste bastião: Viseu tornada cidade por D. Sancho o Povoador em 1187 que é agora reconhecida como a capital das rotundas. Daqui saíram gentes a descobrir as índias, Brasis, Áfricas, Etiópia e Algarves formando um império que com o tempo, o deixou de ser, caducando-se molemente nas políticas do deixa andar.
E, aqui estou eu andando entre senhoras que lutam como eu para ficar esbeltas, consumindo calorias com a vigilância atenta de Marisa Batista uma professora apetrechada de tecnologia de ponta, um gps de medir alturas e desníveis, quilómetros esticados em vontade, com gráficos e mapas ligados ao espaço. Como ET´s espaciais rodamos o centro histórico, o Grão Vasco, a Igreja de Nossa Senhora de não sei quantos degraus e, sobe e desce, mais uma e outra vez e, contornarmos as ruas cheirosas de xixi de gato e mariolas que fora de horas ali entornam suas mágoas que de novo as bebem feitas cervejas e tintol do Dão sem esquecer a subida do bondinho, um eléctrico machimbombo que sobe até a Sé e o museu Grão Vasco.
A conversa com minha sobrinha Xana alonga-se com arfaduras entrecortadas ao longo do percurso e ri-se, e funga-se no entretanto do então pessoal, tudo bem! É Marisa que vai e volta e agora… Vamos aos quarteis do regimento, viramos à direita e no sentido inverso sem dizer vira à esquerda porque a fobia deste lado virou estibordo; aqui o pessoal quer andar às direitas sem esse retrocesso dos ponteiros no tempo. As minhas falas mais periclitantes sucederam com Alexandra e Ana Luísa, minhas sobrinhas netas com respectivamente 13 e 18 anos. Alexandra é assim quase da minha altura, a raiar um metro e setenta e picos, alimentada a redbull, olhar matreiro sempre picara e Ana um pouco mais sóbria mas também muito picara; até teve a desfaçatez de dizer que eu era assim um pouco desalinhado dos carretos, tinha os parafusos desajustados; eu, até gostei de ouvir essas verdades. Foi quando em casa no lugar de Póvoa dos Sobrinhos, a condizer com este caso e estando eu de meias, senti por debaixo algo e, eram meus parafusos feitos sementes de lírio trazidas no bolso do Amieiro; falando com ela neste jeito enigmático entreguei-lhe as três sementes duras dizendo-lhe para as enterrar num canteiro. Virão a ser lindos lírios amarelos e vermelhos; estes foram apanhados à revelia da Dona Aida de Cadima, disse eu a ela, a Ana Luísa.
Esta treta da fala ficou longa e terei de voltar ao itinerário da volta com 12 quilómetros; percorremos a via de circunvalação Sul com muitas rotundas até que, chegados ao lugar do Viso bem perto do jardim Fontelo, viramos a estibordo para Gumirães com mais uma subida e uf, uf, que estamos quase. Hó tio! -Replicou a Ana: -Você que traz um quico da SIC vai ter de descrever o filme desta volta! E, como ela foi tão peremptória, aqui descrevo no meu jeito.
Sim! Era verdade que levava um quico da SIC e até relembro que logo ao começo, fez menção de me dizer que não estava sol para usá-lo. Claro que tive de lhe explicar que eu não estava habituado a este frio nocturno das terras altas, que tal e coisa, minha clareira devia ser resguardada. Ela, a Ana, fez um jogo de ombros chamando-me de totó e tozé como ela gosta de dizer mas eu, um cota mais-velho até gostei desses mimos! E os nomes de Ranhados, Repeses, Barbeita, Rio-de-Loba, vieram à baila. Termino na forma de agradecimento por tão gradáveis companhias, mais o esmero cinco estrelas da agora minha amiga do FB Marisa Batista.
O Soba T´Chingange
TEMPOS CUSPILHADAS – Mordomos da Irmandade de Santo António com fraques de três botões dourados...
Mulungu: É uma arvore de grande porte com flores vermelhas,;existem no Brasil e em Angola; Um pouco por toda a África
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T´Chingange
Naquela aldeia da santa terrinha do M´Puto, terra Alta da Beira, as calçadas empedradas refletiam em ziguezague a luz amarelada dos lampiões. Àquela festa de Nosso Senhora do Parto, uma capelinha entre pinheiros na parte alta da povoação, ia chegando gente despejando alegrias entre beijos e abraços a familiares, compadres, amigos de borga. E, lá estavam também os festeiros da Irmandade de santo António com fraques de três botões dourados, lenços de seda debruadas na algibeira e largas gravatas de cambrais engomada. Na outra ponta do adro e campo de futebol, já rodava o fogo de artifício chegando até nós o cheiro de pólvora queimada misturado com outros de torresmos, batatas fritas e farturas. O clarão do archote preparado para fazer o balão subir crepitava sombras nas pontas espichadas sobre a brancura das lapelas dos mordomos de Santo António.
No escuro da noite, entre a fumaça colorida do arraial, podia ver-se também, lá longe, as luzes de Folgosinho, Mangualde e Seia na encosta Norte da Serra da Estrela. Eu era bem pequeno, mas poço recordar os tiques pretensiosos com um ar encalistrado e cheio de suados robores das moçoilas, moças ou raparigas bem epigadas. Destacavam-se os filhos e filhas dos ricos negociantes que por ali bem perto tagarelavam com patrícios vindos de França e Suíça à festa do 15 de Agosto, dia de Santa Maria, padroeira desta e muitas mais terras do M´Puto. O ambiente tremia no frouxo vozear de cochichos das meninas casadoiras que com risos delicados, faziam tilintar colares de filigrana e braceletes farfalhando saias em ondulados gestos.
Nesses antigos tempos, sendo eu gente pequena, animava s dias correndo pelos becos com pau no arco ou saltando de oliveira em oliveira como uma macaquinho; ainda não tinha sonhos nem sentia desesperos a ladrar-me por dentro. Todos os dias, tiritando de frio e com ar preguiçoso de como quem cumpre uma aborrecida tarefa lá ia eu para a escola de Barbeita com bata e tamancos trauteando aquelas graníticas pedras. Um certo dia, eu e Messias desmanchamos umas bombas de festa, despejamos a pólvora em umas quantas folhas de jornal e atiçamos fogo a uma das pontas.
O imperfeito rastilho não pegou de imediato e, de impaciência, lá vou eu soprar para atiçar e, eis que no momento exato que me debruço sobre a improvisada tocha de jornal amarrotado, dá-se o fenômeno ! Pum! Um fogo explodido lambe-me toda a cara, queima-me os cabelos e as pestanas! Ai Jesus, ai Jesus... Lá vai Messias aflitinho chamar a mãe Arminda! – Acude seu filho Tonito; ele está todo queimado! A explosão soprou-lhe na cara! E, lá foi meu tio "O Cristo" na bicicleta do meu outro tio "O Nosso Senhor" levar-me ao hospital. Pude ver-me mais tarde após a chegada do hospital, uma múmia enfaixada em gaze branco com dois olhos espreitando o futuro. Tem sempre um começo!
O Soba T´Chingange
MILONGOS CUSPILHADOS – Esgravatando o tempo com pasmos… XI
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Com pasmos regados de estranheza, carrego embaraçosos sorrisos polidos de condescendência; esgravatando o tempo, ajudo meu pai a montar armadilha de prender toupeiras num lugar de nome Cornelho, numa clareira entre pinheiros aonde o vento sopra frio, de engelhar dedos, de fazer frieiras nas orelhas e beiços, entorpecendo os dedos dos pés metidos em tamancos recobertos com pele crua de boi, pregado coma tachas de cabeça ovalada. Mover o corpo era a melhor forma de o aquecer mas, a alma da pura preguiça fica em frente da lareira da aldeia no beco do Rebelo.
Nos propósitos de agora com almas de um Novembro antigo e outonal, vi-me sentado num corrido mocho, já muito polido com corações nos topos, soprando sem pressa as brasas, remexendo as castanhas até as fazer saltitar de mão para mão. Surgia entretanto minha mãe a pôr umas brasas de pau de oliveira no café com mistura de cevada, desde esse então não mais senti um sabor igual e cheiro daquela mistura açucarada; O calor trepidava carícias entre luzernas, que aladas em ondas nos aquecia de ternura e, vinha a água-pé que meio doce, meia quente, escorria que nem ginjas como soe dizer-se.
Na procissão de pensamentos, são Martinho sempre presente surgia depois dos Santos, oferecendo-me um pífaro de barro comprado na feira de Mangualde; era o que me faziam acreditar para manter a tradição. O porco estirado em pendurão dum caibro da asna, escorria-se em pingos secando as carnes até se enxugarem; este bicho, ali sem pelo, desventrado, metia-me um medo do caraças; teria eu os meus cinco anitos. Eram dias de castanhas, sopas de água-pé, febras e torresmos entre batatas do Cornelho, da Pereira ou do Esperão, lugares com muitos pinheiros, de muitas sanchas e tortulhos de chapéu largo.
As couves lombardas ou tronchudas regadas a banha entravam quase sempre nas ementas. Um dia, no meio daquele frio de encarquilhar vontades, de se tornar gelo nos alguidares, estando eu Tonito guardando as chibitas que nos davam leite, a tia Micas gritou-me um também gelado grito e, de susto caí da figueira aonde estava empoleirado; as cabras comendo os rebentos novos da vinha dessa minha madrinha, tornaram-na fula e o grito transtornado saiu duma rusticidade cheia de rispidez. Caí de susto!
Cai de susto em cima de uma pedra, desse mau jeito parti o braço, não sei se o cúbito ou se o rádio, minha mão rodou 180 graus; eu aflito e, num ai-jesus de minha mãe Arminda, lá foi o padeiro com sua furgoneta até o Hospital de S. Teotónio; Meu osso, ao fim de algum tempo colou mas, sempre ficou um ligeiro desvio torto, neste braço esquerdo. Aquela queda e aquele caminho calhou que não foi o caminho do Céu mas, aquelas plantinhas silvestres escondidas no tufo da minha queda, seu delicado aroma de rosmaninhos com giesta ficaram agarradas ao meu sentido, um cheirinho de doçura das terras reverdecidas do M´Puto.
O Soba T´Chingange
“Pulhíticos”. Que teme Passos Coelho?
Por
Paulo Neto
Fonte: Rua Direita de Viseu
O primeiro-ministro de Portugal desinvestido na figura do presidente do PSD veio a Viseu às Jornadas Parlamentares (?) do seu partido. Com a pompa e circunstância habitual da empáfia arrogante que lhe estica a pele. Coisas da política e dos políticos. Desde o regicídio de Dom Carlos e o assassinato de Sidónio Pais que somos considerados, louvados e criticados pela excessiva brandura dos nossos costumes. Há quem lhe chame frouxidão e mesmo quem se alargue: “ Somos um país de frouxos!” Seremos…
Porém, num país de frouxos porquê tanto aparato policial com esta visita de Passos Coelho? Eles eram os “paisanas” com ar de operacionais da CIA (devem ter visto essas “coboiadas” no cinema); eles eram a PSP local com carros constantes a patrulhar o local e as imediações; eles eram a equipa de explosivos… Tal cerco de Estalinegrado! Um político “acagaçado”, é a imagem final que nos fica do ridículo anedotário de tais medidas. Parece que estamos numa ditadura sul-americana ou da república centro-africana. De que tem medo Passos Coelho?
Ele sabe, ele sente a animosidade ebuliente e crescente dos portugueses. Por isso, até para vir tomar chá a Viseu, com os seus sorridentes e felizes anfitriões e correligionários, ele tem necessidade de se sentir protegido. Seria este homem capaz de descer sozinho a Rua Direita durante o dia? Este é um efeito que tem várias causas. A mais notória é a de que ele tem absoluta consciência das malfeitorias feitas aos portugueses. E como diz prosaicamente o compadre Zacarias: “Quem tem cu tem medo!”.
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