Depois de uma larga ausência (desde 17.03.2020), volto de novo ao range rede, da minha preguiça! Já kota, balouço-me na estória da história sem esse tal de Pitu, mas com ciriguela na goela…
Por: T´Chingange (Otchingandji) - O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto
A Rússia desencadeou no Mundo, mais guerras do que qualquer outra potência contemporânea mas, impedindo também o domínio da Europa por uma única potência, opondo-se fortemente a Carlos VII da Suécia, a Napoleão Bonaparte de França e a Adolf Hitler da Alemanha, quando o já tinham sido elementos do equilíbrio continental. De Pedro, o Grande a Vladimir Putim, o aventureiro, as circunstâncias mudaram, mas o ritmo manteve-se com alguma coerência.
O absolutismo, a vastidão, as ambições de expansão mundial e as inseguranças, tudo na Rússia se ergue implicitamente como desafio ao conceito europeu de ordem internacional. Kiev, capital e centro geográfico do Estado de Ucrânia, continua a quase ser considerado unanimemente pelos russos como parte integrante e inalienável de seu património.
Numa encruzilhada de civilizações e rotas comerciais, a Rússia sempre se viu tentada a se expandir por medos contraditórios e, tendo convivido neste Império com os intrusos Vikings a norte, com o Império Árabe a sul, em expansão, e as Tribos Turcas a leste, metida neste permanente imbróglio enquanto a Europa Ocidental acolhia em sua sociedade, as novas perspectivas tecnológicas e intelectuais.
Forçosamente a Rússia que é mantida neste pendor oriental é também submetida por dois séculos e meio, à soberania Mongol entre os anos de 1237 a 1480. Enquanto isso, Portugal que já o era país bem definido, colocado no extremo Ocidental à entrada do Mediterrâneo, dá início à globalidade do Mundo - Os descobrimentos. E. em busca do conhecimento lança-se aos oceanos sem saber o que estaria mais álem.,
Numa epopeia de carregar a cruz de Deus em busca de glória, torna-se conhecedor dos ventos, das correntes e das marés proporcionando riqueza e nobreza às gentes ao redor do Mundo. Neste meio tempo, em que o Ocidente segue a via do renascimento, revolução científica e do iluminismo a Rússia formata-se na geopolítica de sua dura escola das estepes…
O saque, a escravidão dos povos, muitas tribos nómadas em um terreno vasto, aberto e sem fronteiras, as incursões em sua normalidade de vida, leva a Rússia a sempre se manter em um poder absoluto sobre seus vizinhos. As invasões, guerra civis e fomes, ceifaram literalmente um terço da população russa.
O expansionismo foi sempre uma constante de Moscovo; sua filosofia pode comparar-se a um rolo que tem de esmagar tudo o que lhe barre o caminho. E, surge um místico russo Grigori Rasputin em São Petersburgo, a Janeiro de 1869 que autoproclamado homem santo e filósofo aproxima-se da família do Czar Nicolau II, tornando-se uma figura politicamente influente no final do período imperial.
Aquele rolo ditatorial avançou primeiro para a Ásia Central, depois para Cáucaso e os Balcãs, a seguir vem a Europa Oriental, Escandinávia, mar Báltico e o Oceano Pacifico até às fronteiras da China e do Japão. A Rússia, em média expandiu-se 100.000 Km quadrados anualmente e, entre os anos de 1552 a 1917. A Europa, não pode por isso, ficar indiferente à Historia nem tao pouco pendente de outros – Os americanos da USA…
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Nota*: Com alguns extractos do livro “A Ordem Mundial” de Henry Kissinger
ADENDA : Por Josué Pedrosa
Política, aprendi ser "a arte de gerir consensos". Embora seja ligeiramente diferente, o sentido é o mesmo. Mas, não sabia que foi Bismarck, quem o disse. Quanto à relação Europa-EUA, mais tarde ou mais cedo os europeus vão aprender uma dura lição, eles não são confiáveis. Bill Clinton prometeu aos ucranianos que, se entregassem á Rússia as armas nucleares instaladas na Ucrânia, para serem destruídas, que os EUA defenderiam a Ucrânia contra qq agressão. A Rússia também o fez e a França e o RU, fizeram o mesmo, tendo a China mais tarde, também assinado esse documento/acordo/compromisso.
Desde que Putin chegou ao poder, logo no 1° encontro com A. Merkel, deixou claro que o desmembramento da URSS, tinha sido a maior tragédia do século XX, sua (dele) douta opinião, sendo certo que ninguém ligou "boia" ao que ele disse - europeus ou americanos.
Pouco depois foi posto em marcha o projecto de retomar a Crimeia e as quatro províncias ucranianas onde estava uma grande comunidade de origem russa, apesar de o seu número ser sensivelmente igual ao dos ucranianos. Ainda assim, quando do referendo sobre a independência da Ucrânia da URSS, a maioria - o que incluía a comunidade de origem russa - manifestou-se maioritariamente pela independência, o mesmo acontecendo com a Crimeia, aqui maioritariamente de população russa.
Ocupada a Crimeia e como o Ocidente fingiu que nada se passou, Putin mandou avançar com a estratégia para recuperar as províncias ucranianas, começando então o conflito. Ocupação dos parlamentos regionais e exigências de autonomia e referendos para a independência/integração na Rússia.
Os ucranianos sem forças armadas capazes, viram-se representados por inconformados nacionalistas - os Azov, que com a colaboração do exército ucraniano, iam resistindo como podiam. O derrube do avião da Malaysia Airlines, por um míssil russo já identificado por vários meios, incluindo a bateria que o disparou e quem a comandava, são provas irrefutáveis da actuação do exército russo naquela época. Uma vez mais o Ocidente fingiu que não viu, até que chegámos a Fevereiro de 2022 e á invasão da Ucrânia pela Rússia.
Os países que assinaram o documento de compromisso com a defesa da Ucrânia, não só não foram defender a Ucrânia, como, embora tendo vindo a fornecer algum equipamento militar, escondem e não dão o melhor e proibindo o melhor que dão de ser utilizado além das fronteiras ucranianas. É como dizer a uma das equipas: não podem atirar a bola para lá da linha do meio campo.
Entretanto, a Rússia investe tudo o que pode (o que não é pouco) em novo equipamento e substituição do que vai sendo destruído e, perante o olhar indiferente dos "aliados europeus" a Ucrânia vai-se defendendo como pode, perdendo homens cada menos substituíveis e território.
E assim vamos vivendo, preocupados com as medalhas que se vão ou não ganhar nos jogos olímpicos e com as incidências burlescas do Trump e da Kamala.
(Continua, com Viagens …)
O Soba T´Chingange
FRINCHAS DO TEMPO – NO DIA DE CAMÕES
– Crónica 3422 – 13.06.2023
MINHA SINGULARIDADE POR UM DIA - “T´CHINGANGE”
Por T´Chingange (Otchingandji) na Pajuçara de Maceió
Por um dia fui Camões! Posso explicar: O quinto Centenário da morte do Infante D. Henrique teve dez anos de festividades um pouco por todo o mundo da lusofonia que culminou a dois de Junho de 1960 o ano de seu falecimento, Foi neste ano que se instituiu a Ordem do Infante D. Henrique. Depois deste intróito relembro o ano de 1954, ano em que em Luanda, toda a mocidade estudantil do nível preparatório participou em sua comemoração na Escola Primária nº 8, junto à Liga Africana da Vila Alice. Creio que tinha os meus nove anos de idade e, quando a minha capital do Império era a MUTAMBA…
Teria os meus nove anos quando me escolheram para ser a figura principal do teatro escolar da Luua na Escola nº 8 da Vila Alice – a figura teatral era a do Infante Dom Henrique, o propulsor da navegação portuguesa. Estudava eu na Escola de Aplicação e Ensaios situada na rotunda de D, Afonso Henriques, situada bem em frente do Sindicato dos Metalúrgicos, início da Rua do Cazuno que ligava a Mutamba à Cidade Alta com o Palácio do Governador, passando pela Casa dos Rapazes; era também o início da Avenida Álvaro Ferreira, que passava mais acima pelo Cine Restauração e a Escola José Anchieta aonde estudou meu irmão Zé Kitunda e, tendo na parte posterior o belo jardim do Parque Heróis de Chaves. A mesma terminava no alto e de frente do Hospital Maria Pia
O Cine teatro Restauração passou a ser a Assembleia Nacional depois da independência a 11 d Novembro do ano de 1975. Bem perto ficava o Largo Serpa Pinto de onde saia uma rua que subindo, ia dar ao Liceu Salvador Correia, uma rampa bem acentuada e aonde os candengues da Maianga, iam fazer corridas de fórmula um de fingir em rodas de rolamentos. Esta Luanda antiga ainda só deveria ter uns 90.000 habitantes pois que todas as ruas da Maianga estavam por asfaltar desde o sinaleiro bem perto ao Colégio Moderno aonde também andei algum tempo.
Nesta escola ocorreu até então a maior concentração de alunos do ensino primário das escolas do distrito de Luanda da então Província Ultramarina de Angola. Sendo eu a figura de destaque em representação de Camões, tive de apresentar os vários cenários descritos na obra do maior poeta português. E, foram as cenas do Reino de Castela e de Leão, de Egas Moniz, do Adamastor com Bartolomeu Dias mais Vasco da Gama, da Índia e da Ilha dos Amores.
Os versos que já sabia de cor, fingia ler “As armas e os Varões assinalados, que da Ocidental praia Lusitana, por mares nunca dantes navegados, chegaram mais álem da Tapurbana”. O grande átrio da Escola nº 8, estava repleto de candengues de bata branca, batendo palmas, rindo e exercitando o conhecimento para lá dos horizontes da Mutamba. Posso ainda sentir o cheiro forte do grude da cola de marceneiro que colou ao meu rosto barbas e bigode, e também sentir o tecido branco de zuarte em foles, esticado com farinha de trigo e passado ao ferro de engomar; tecido teso que era a bonita coleira ondulada, que o poeta usava.
Involuntariamente, fui snifado com aquela cola que talvez evoluísse; contínuo sem saber se me alterou partículas dos músculos moles e, até do meu cerebelo. Ver o Tonito filho da Dona Arminda do Rio Seco da Maianga, vizinhos do Almeida das Vacas um antigo degredado colonial, naquele papel maior da história, era algo fora de previsão. Bom! Agora com os meus 78 anos de idade passo até recordar esse evento com um brilho no canto do olho. Ainda haverá gente por aí na diáspora que se lembrará desses idos tempos…
Nesse dia de festa, foi dado a cada um dos alunos assistentes ao teatro um saco de guloseimas e até houve distribuição de sapatos quedes, patrocínio de publicidade da fábrica Macambira. Gostava de usar estes quedes na gimnástica dada pelo Professor Montês na Escola Industrial de Luanda; em verdade sempre que se proporcionava, usava-os com agrado, pois eram leves e frescos.
E, porque pude ser lembrado por mais um dia das Comunidades, posso falar ao de leve o quanto senti ser desgarrado de uma terra que era minha e, só porque era filho de colonos idos pela Companhia Nacional de Navegação num barco de nome Mouzinho de Albuquerque e, também por ser branco fui quase obrigado a abandonar. Só ao de leve posso lembrar que anos mais tarde (1975), me ofertaram um bilhete de avião na ponte Luualix, só de ida para o M´Puto! Algo feio que os generais de aviário fizeram, numa visão tão contrária àquela epopeia de Camões. Não tinha de o ser assim, pois foi mau para quem foi e para quem ficou. Fui!
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DA KIZOMBA – “SONHAJANDO A VIDA”
TEMPOS CUSPILHADAS . O Espírito da China! Eles já chegaram …
Crónica 3398 – 19.05.2023 - (publicado um dia antes… estou viajando)
Por T´Chingange (Otchingandji) Na Pajuçara de Maceió do Brasil
Chegado recentemente a Portugal, vindo de Angola na ponte LUALIX no ano de 1975, 48 anos atrás, assisti em pleno Alentejo a uma acção da reforma agrária. Em casa de Maria, via seu marido atarefado andando nervoso de um para outro lado. Fui ficando por ali curioso - seria uma caçada à raposa, perdizes ou coelhos mas, apercebi-me bem rápido que não era nada disto. Era o chamado PREC – Processo de Revolução em Curso…
Ele e um grupo organizado desse tal de PREC, iam caçar fascistas nos montes vizinhos de Escanchados, Daroeira, Buena Madre entre outros montes e mesetas daquela estepe. Tudo era um espanto para mim, atordoado que andava com uma saída apressada da Luua e tendo só de património em mãos, uma máquina de costura Oliva. Sem sítio certo para ficar ali ficaram meus dois filhos até que eu e minha mulher tivéssemos nosso rumo de vida em acção!
Não vou entrar em muitos pormenores para me não magoar muito. Naquela acção de caça aos fascistas e depois de ter vivenciado coisas de esquecer, fiquei aturdido com esta pseudo milícia que de forma voluntária lá iam caçar gambuzinos com caçadeiras e máquinas subtraídas ao patrão; as máquinas retroescavadoras substituíam tanques de guerra – supunha eu inocente na condição de assim ser, por conveniência pois, de nada resolveria apagar qualquer fogo com um bochecho de angústia.
Interrogando-me do que poderiam ir fazer em prol duma mudança só desconsegui obter uma razão plausível. Estamos em 2023, 48 anos depois com um Portugal de uns dez milhões de cidadãos e o estado, continua sugado por políticos que usam a falácia para nos entorpecer. Mesmo sem haver esse tal de PREC sempre haverá um plano novo para dar directivas ao leque de ousadias, assim se chame um PRR - Plano de Recuperação e Resiliência.
Mas, como tudo está de bradar aos céus assim iremos ficar porque nem o Costa morre nem a gente almoça. Além do mais o presidente anda demasiado atarefado com sua colecção de selfies – por alguma razão todos o conhecem por Selfito. Não se nota desenvolvimento, uma lástima de saúde, administração desmilinguida e, educação aos gritos. Uma cambada de gente que nem sabe o que fazer com o dinheiro despifarrando as resiliências pelos amigos, compadres e filiados do partido que se chama de PS.
Naquele ano, as conquistas do vinticinco do povo pelo PREC foram direitinhas para o ralo; as chapadas de trigo, nos lameiros, os montes foram ficando desventradas, sem telhado, ruínas a gritar desespero aos vindouros. Uns fugiram para Trás-os-Montes, outos foram para o Brasil e alguns até escolheram a Argentina ou a Austrália para iniciar vida. Afinal, de nada valeu aquela caça aos fascistas da qual João Cailogo fez parte. Ainda hoje me arrepio de tal façanha.
Ultimamente deram guarida ao negócio de chineses! Agora queixam-se de que estes querem tomar conta não só de nós como de todo o Ocidente. Até há bem poucos anos atrás, o ocidente fechou as portas à possibilidade de compreender a China. Hoje, buscam formas de se entender diplomaticamente com estes, permitindo-lhes a entrada em seus territórios com obtenção de benesses e isenções em sua actividade comercial – vistos GOLD e outros edecéteras.
Tome-se em conta que o peso de impostos que os demais cidadãos nacionais são obrigados a pagar, é bem menos vantajoso do que o oferecido a estes empresários vindos do outro lado do mundo. Deduzir-se assim que os donos disto tudo, só o serão com os países de capital que nos compram divida. Um dia o futuro chega e quase sem se saber, as instituições que eram estatais formam-se de um conjunto de accionistas sem rosto e, dum qualquer país. Se neste futuro vamos ter de ficar entregues a um dragão, teremos de saber um pouco que seja, do que não nos une e divide!
O Soba T´Chingange
KILOMBO – NA FUNDAÇÃO DE ZUMBI DE N´GOLA
FALA KALADO NA SINGULARIDADE DOS KALUNDU**
"A história de um fracasso"- Crónica com ficção 3303 – 22ª de Várias Partes – 16.05.2022 – Republicação a 23.11.2022 na Lagoa do M´Puto
Por T´Chingange – Em Arazede de Coimbra do M´Puto
Voltando à singularidade do Nelito e de sua façanha em desviar um dacota da DTA para Brazaville na Republica Popular do Congo, diga-se: Numa altura em que Angola e os angolanos já não queriam mais viver sob domínio colonial português, não se compreende que o 4 de Junho de 1969 nunca tenha merecido a importância devida por parte da direcção do MPLA, porque foi uma iniciativa saída da sua base clandestina da Luua. Pois foi assim que apanhou completamente de surpresa os “camaradas” no bombom de Brazaville.
A PIDE fez circular nas instituições da governação Tuga, que “no dia 4/6/69, pelas 15.30, o avião C-3 matrícula CR-LCY, da DTA, da carreira Luanda/Sazaire, com 5 tripulantes e 12 passageiros a bordo, foi obrigado a mudar de rumo para Ponta Negra”. Aquela acção foi levada a cabo por três “criminosos armados”, a saber: -Luís António Neto, luandino, o “Lóló” Kiambata, luandino; Diogo Lourenço de Jesus, funcionário do Laboratório de Engenharia de Angola, Luandino e Manuel Caetano Soares da Silva, vulgo NELITO, luandino, solteiro e funcionário da Imprensa Nacional de Angola.
Dos três kamundongos nacionalistas que participaram nesta acção de luta contra o colonialismo português, apenas Luís Neto Kiambata se encontra vivo, tendo em Novembro de 2020 afirmado seu desencanto com o actual presidente João Lourenço subestimando-o com muxoxos no termo de matumbo; Diogo de Jesus e Nelito Soares, por ironia do destino, foram mortos pelas tropas Tugas, poucos anos depois e, em circunstâncias distintas.
O Diogo de Jesus, foi atingido por um obus no leste de Angola antes de 1974 e o segundo, Nelito Soares o FK* foi assassinado à queima-roupa na Vila-Alice pelos comandos Tugas já depois do 25 de Abril de 1974. Assim se pensava ter sido, até o misterioso encontro entre o T´Chingange Niassalês nos aeroportos Internacional e do Terminal Doméstico numero dois de Guarulhos. Foi, e ainda o é, graças ao “Morro da Maianga” que consegui descortinar um pouco mais a minha alhada… uma meia inventação saída do meu bairro…
Aqueles três Camundongos queriam vir a ser reconhecidos ao jeito de como o foi Ché Guevara na Ilha de Cuba. Também eu em candengue seguia de forma empolgada a estória quase épica duma tão lendária figura, descrita duma forma que o tempo desmanchou na verdade que conhecemos hoje; sabemos assim que de grandioso, este médico frustrado argentino só o foi na figura de livros de comiquitas tal como o foi “Lampião” do cangaço brasileiro, o Zé do Telhado do M´Puto ou o Bill Kid nos Estados Unidos da América.
E, é aqui que um ex-defunto de nome Nelito Soares e hoje, Ex-Coronel, recuperado em vivo como Fala Kalado se diz ter andado com o Che Guevara em um lugar perto de Ponta Negra com o nome de Luvungi da RPC- República Popular do Congo - lá para trás no tempo. E, foi exactamente no 25 de Abril de 65 que Nelito se encontrou nesse lugar com um grupo de 14 guerrilheiros; três dos quais, Ramón, Dreke e Tamayo saídos de Cuba com passaportes falsos e, desde Moscovo via Dar-es-Salam na Tanzânia com termino em Luvungi do Congo Braza.
Do grupo original formado pelos três idealistas internacionais Ramón, Dreke e Tamayo, nomes fictícios importados de Cuba por Fidel de Castro e a mando de Moscovo só “Dreke” liderou missões bem-sucedidas em África, a saber, nas guerras de libertação da Guiné/Cabo Verde e República da Guiné. Ficara acertado que, no início, Dreke se iria apresentar como o chefe; Guevara seria o "doutor Tatu", médico e tradutor…
Pois foi na chamada 2ª Região Militar, Zona B. que se deu o encontro de Ernesto «Che» Guevara com o MPLA de Brazzaville. Nelito aqui ficou, na designada “Base das Pacaças” - base guerrilheira do MPLA em território do Congo mas, supostamente designada de Cabinda - de 1965. Estavam lá, Henrique «Iko» Carreira, Daniel Chipenda, Jonas Savimbi, Tomás Medeiros, Nelito Soares, Jorge Serguera - o "Papito" e, o piloto cubano Samidey, Benigno Vieira Lopes «Ingo». Quanto a Ché e segundo um relato de Dreke: "Não ficou ali famoso como guerrilheiro, mas como médico. Como fazem os nossos na ilha em Cuba e outros países, saindo pela manhã, visitando os lugares e distribuindo os poucos medicamentos que tínhamos – kamoquina, rezoquina e bolachas amarelas de quinino"…
Notas: *Esta é uma estória inventada só no que concerne às mentiras…
**kalundu – É uma divindade ou espirito justiceiro, presente na natureza
(A entrevista com o Brigadeiro N´Dachala, continuará…)
O Soba T´Chingange
A ROLETA DA VIDA - Torcer enxugar e corar - Secando a palavra ao sol …
- …Engolir sapos vivos sem vomitar… 28.09.2019
Por
António José Canhoto - (James Spenser)
As escolhas do Kimbo
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Para todos aqueles pobres e remediados que passam toda ou parte das suas vidas a tolerar e engolir sapos vivos sem vomitar, ordens ou directrizes de terceiros sem tugir ou mugir, pois as necessidades da vida assim os obrigam e condicionam, vir a ser rico é um sonho e uma obsessão, por isso jogam semanalmente em lotarias, raspadinhas, totolotos e totobola. A sujeição permanente desses trabalhadores a ter de aceitar durante a vida jogar com quem dá as cartas marcadas ou lança os dados com pesos dentro para rolarem de forma a que o número 6 saia sempre, é uma situação de inferioridade, menoridade e submissão, é jogo que nunca ganharão. Estes, a partir do dia que aceitarem o seu primeiro emprego já estão vencidos e derrotados.
:::2
A roleta da vida dá muitas voltas e quando muitas vezes sentimos o peso do mundo que carregamos às costas, noutras mercê de circunstâncias inesperadas temos o privilégio de estarmos sentados confortavelmente no topo dele usufruindo de termos à nossa volta um batalhão de servos pagos para adivinharem e satisfazerem os nossos caprichos ou fantasias sonhadas. Anteriormente alguém ditava as regras do jogo que iríamos jogar, a partir de agora serão vocês a escolher os parceiros com quem quereis jogar divertir-se e gozar a vida, pois ganhar ou perder deixou de ser relevante.
::::3
Ser domador ou domado não são opções de vida onde a maioria das vezes não temos essa escolha, ser leão de circo treinado nunca é leão adulto e selvagem das savanas africanas, só acontece quando estes são apanhados em tenra idade; com os humanos acontece exactamente o mesmo. Estar na mó de cima ou na debaixo faz uma enorme diferença, menos para aqueles que nascem ricos e que desde o berço ditam as leis de como a roleta deve ser jogada, ou seja, quem vão ser os burros e quem se lhes vai por a carga em cima. Infelizmente a vida é mãe para uns e madrasta para outros, dependendo muito do tipo de berço onde nascemos. Se viemos ao mundo em África e mamamos directamente das tetas da cabra ou do camelo.
:::4
Mais tarde a qualidade da nossa instrução e educação depende se frequentamos escolas, universidades privadas ou públicas ou ficamos apenas pelo ensino básico. Existem hábitos diferentes entre ricos e pobres. Ricos vão a concertos de música clássica, enquanto que os pobres vão ver os artistas pimba da moda que cantam música a metro ou ao kilo. Ricos, ou brasonados falidos, têm mais de 10 longos e pomposos nomes começando por Dons enquanto que os pobres apenas se chamam Maria ou Manuel. Existe pois uma diferença mental, social, comportamental e idiossincrásica entre ricos e pobres, entre mandantes e mandados, leaders e seguidores, vencidos e vencedores.
:::5
Poderei dar exemplos de como se diferenciam os ricos dos pobres. Pobres não têm certezas, ricos são confiantes, estão focados, sabem o que querem, para onde vão e quando desejam chegar, os seus “timings” e decisões são pensados e cronometrados. Os pobres buscam desculpas; ricos procuram o sucesso. Pobres assumem, ricos têm a certeza. Pobres fogem às responsabilidades de assumirem as suas culpas, ricos aceitam os erros como lição e aprendizagem. Pobres vivem em função do dinheiro, os ricos investem no tempo para aprenderem e evoluírem.
:::6
Pobres fazem competição, apunhalam-se pelas costas e lançam cascas de banana para os colegas de trabalho escorregarem; tudo para se sobressaírem e ficarem bem vistos aos olhos dos chefes. Os ricos juntam-se no clube de golfe para fazerem 18 buracos, beberem uma cervejas frescas, falarem das suas amantes e sobre os seus mais recentes investimentos e sucessos financeiros. Pobres são por norma, descrentes, queixam-se de tudo e de todos, da mulher, do tempo, do chefe, do governo, do ordenado, dos colegas e do carro que guiam que está sempre avariado. As culpas dos insucessos dos pobres são deles mesmo.
:::7
Os ricos por outro lado estão gratos e felizes da vida que têm e apenas se queixam do dia chuvoso que não lhes permite jogar golfe com os amigos. Pobres quando desejam montar um negócio na sua área ou bairro procuram um já existente que seja bem-sucedido para o copiarem, ou então, se têm uma ideia diferente, buscam conselhos e opiniões de colegas, amigos fazem preces e orações aos seus deuses pedindo as suas graças para que as suas vidas mudem ou os seus negócios prosperem. Enquanto isso, os ricos procuram conselhos de profissionais, fazendo aquilo que se chama um estudo de mercado.
:::8
Estudo esse baseado nas seguintes premissas: Quais as suas capacidades empreendedoras e profissionais para ser bem-sucedido. Quais as suas fraquezas em relação aos seus concorrentes. Quais as ameaças dos competidores no mesmo ramo e qual o valor acrescentado que se poderá trazer a esse mercado e, nele inserir um nicho não explorado. Quais as tendências: a curto, médio ou longo prazo, pois o que é moda hoje pode ser mono amanhã. Pobres ou remediados compram televisão grande, ricos compram livros para enriquecerem o seu conhecimento. O pensamento das pessoas muito pobres está voltado para cada dia; o das pobres para cada semana; o da classe média, para cada mês; o das pessoas ricas, para cada ano e, o dos milionários, para cada década.
:::9
Ricos falam sobre ideias, pobres sobre coisas, pessoas, vizinhos, revistas cor-de-rosa ou novelas televisivas. Ricos são inspirativos, fazem o mundo girar, pular e avançar e as coisas acontecerem. A classe media fala sobre as coisas que os ricos promoveram e observam mudos e quedos os resultados, enquanto os pobres se limitam a perguntar “O que aconteceu.” Os ricos trabalham visando o lucro, os pobres trabalham visando a obtenção de um salário. Ricos investidores assumem um risco calculado, a classe media e pobre tem medo de investir, e, mesmo que fique rico da noite para o dia a sua mentalidade não está orientada de como gerir riqueza, mas sim para gastar e satisfazer caprichos e os sonhos de quando era pobre.
:::10
Ricos concentram a sua actividade para aumentar o seu património, pobres concentram-se, na expectativa de serem aumentados no seu salário. A ignorância dos pobres é aterradora e confrangedora. Basta abrir o Facebook no Feed Noticias e ver que há um elevado número de pessoas que compartilham publicamente as suas opiniões vazias e rasas ou fazem perguntas que um adulto culto e inteligente deveria saber e, caso não soubessem bastaria ir ao Google encontrar a resposta. São pessoas mentalmente preguiçosas vivem na mais profunda escuridão da ignorância, não progridem ou evoluem, pois, a sua mente está sempre engatada em marcha atrás. Os ricos usam o termo NÓS os pobres usam EU. O rico procura qualidade, o pobre procura preço, promoções, ofertas e descontos, esquecendo-se que quem compra barato compra duas vezes. Os pobres copiam e competem, os ricos criam negócios originais.
António José Canhoto - 28-9-2019
Ilustrações aleatórias de Costa Araújo – Escolhas de T´Chingange
UM CACTO CHAMADO XHOBA . XVI – 27.09.2019
TEMPOS DE DIPANDA NO OKAVANGO - Boligrafando estórias e missossos antes e depois do século XX – No rio Okavango, dou-me conta do quanto meu sovaco cheira a catinga… Nossas vidas têm muitos kitukus… um uuabuama da Dipanda*
Por
T´Chingange - No Algarve do M´Puto
:::::138
Indiferente ao tempo e às nossas vidas, estando num lugar chamado Algarve do M´Puto ou Miranda do Mukwé na Namíbia ou em Chaves de Trás-os-Montes, a maioria do povo bushmen – khoisan, o povo mais antigo do Mundo, continuará a viver em choças, cubatas ou libatas cobertas a capim e, em pequenos aglomerados; por vezes estes sítios encontram-se a centenas de quilómetros de distância da cidade mais próxima. Para sua execução juntam uma boa quantidade de paus direitos e de alguma flexibilidade que depois são curvados e enterrados no solo pelas extremidades.
:::::139
Estes são amarrados ao centro com mateba ou outras raízes que se rasgam dos caules, uma tira de casca retirada de uma árvore ou arbusto, mas e, também raízes soltas da areia e, que entrelaçada dela fazem cordame. Atravessando eu o Karoo a Sul do Botswana, no Kagalagedi Transfontir Park, cruzei com khoisans avermelhados e secos de pele, só com uma tanga e taparabo. Nem sei como conseguem aguentar tamanho frio que faz de noite naquele deserto aonde até o vento, nem se vê bulir. A temperatura baixa drasticamente assim que o Sol se põe, podendo ir abaixo dos zero graus.
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Depois de passar Askham ainda na África do Sul e, na estrada R31, pude apanhar um susto quando olhei para o conta-quilómetros e vi o ponteiro demasiado baixo; fiz contas e roguei que encontrássemos uma bomba de gasolina mas, nadica de nada, nem carros a cruzarem comigo! – Estamos tramados, disse ao resto dos passageiros, minha mulher, a enfermeira Tilinha e meus dois filhos na idade da felicidade. Não devia ter dito nada porque de repente todos estavam a fazer figas para que a gasolina desse até o purgatório; Desligando o carro nas descidas e balanceando-o na mente, Nosso Senhor, meu tio que está no Céu ajudou e bem até avistarmos a milagrosa bomba do cú do Mundo e onde Judas perdeu as botas…
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Creio que foi na Via C16 e perto de Aroab da Namíbia que respiramos fundo e de alívio pelo néctar do Nissan 1600. Nosso destino era o cruzamento de Keetmanshoop não muito distante da linha do Trópico de Capricórnio. Percorrendo o deserto do Karoo africano, normalmente vêem-se milhares de acácias com espinheiras do tamanho dum lápis mas, aqui elas eram escassas; havia sim, tufos de arbustos secos junto às pedras, pedregulhos e pedrinhas junto com cactos ressequidos, talvez e em um ou outro sítio a tal planta chamada de shoba…
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Podia ver em 350º, perto e longe morros suaves de um e outro lado da estrada mas, nada de casas, vestígios de gente. De muitos em muitos quilómetros víamos entre um tufo de vegetação, muxito verde, um moinho de vento, daqueles de retirar água do subsolo mas nem gado, nem animais selvagens – um desespero lunar com o calor a desprender-se em ondas do chão. Nestas condições de apaziguar rijezas adversas do mundo, relembro a minha própria singularidade ainda não totalmente definida fazendo-me também num seixo redondo no meio do nada – estou feito ao bife!
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Assim feito seixo embrutecido que rebola no tempo só quando levado pela enxurrada duma mulola penso nas finas e longas varas que formam os arcos daquelas cubatas choças dos bosquímanos, arcos que progressivamente ficam maiores até chegar ao chão. Paus tipo verguinhas mais finas e, que são amarrados aos outros mais grossos na vertical como se fossem os meridianos dum mapa feito mukifo. Na choça é deixado um pequeno rectângulo por forma a permitir a sua entrada e saída – é a porta! Dentro destas terão quando muito umas cabaças de água e umas poucas peles para se agasalharem; não pode ser muita tralha porque em curtos espaços de tempo, mudam de local – seguem o rumo da caça, da sobrevivência, da água e pouco mais para seu sustento.
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Os seus instrumentos são mesmo bem escassos; têm lanças com ponta de ferro como nossos primitivos ascendentes que envenenam com a banha de um verme que apanham ainda em casulo. Chegam a matar girafas com o uso de sua astucia e seu modo felino de andar na mata, pé ante pé e sempre nas mesmas pegadas sem fazer estalar qualquer tronco seco. É mais vulgar usarem lanças e arcos de flechas, transportando mantas para suportarem o frio já referido das noites que chega a graus negativos. Seus pratos são feitos de abóboras e os copos de massala ou maboque. São óptimos pisteiros e conhecedores de raízes cheias de água que espremem para vasilhas ou ovos de avestruz.
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Assim falando com Miranda na borda do Okavango, naqueles dias longos e quentes recordamos vidas e coisas depois das tarefas de todos os dias de malembelembe. Coisas de nossas caixinhas do tempo, muitas fotos, falando até dos bilhetinhos de amores, agora sem mambos nem rancores enferrujados ou bolorentos… Nestes estados de kotas, coleccionamos saudades com se fossem cromos engraçados da caricatura de Matateu, Yauca, do Zé do Telhado ou do Lampião e do Mandrak, mais o Homem de Borracha e o Fantasma. Neste tempo de estupor, terra do fiado “civilizado”, de sem respeito, currículo suspeito, como diz meu amigo Zeca: Oh! N´gana N´Zambi! Hoje nem quero falar da “Batalha do Kuito”…
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Estando eu no Reino Xhoba, reino sem rei com cerca de 100.000 súbditos, pertença de vários países de África não posso deixar de falar deles. Gente de palhotas coma a altura certa de uma pessoa no seu centro. Com tão pouco, pensamos loucuras que nem lhes passa a eles pela cabeça e, naturalmente devem ser felizes pois amam, kohisam e têm filhos e falam estalidos ou gesticulam sons guturais com guinchos e expressões milenares que nos fazem reflectir: -Os sentimentos mais genuinamente humanos sucumbem nas cidades; nelas existem milhares, milhões de seres que se tumultuam num sempre desejar sem nunca se fartarem, padecendo incessantemente de desilusão, de desesperança ou derrota sem se poderem libertar do bacalhau, do pastel de Nata e da televisão comandada por gente gira – gays e afins…
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E, Miranda do Mukwé ri-se que nem um perdido com os meus perfumosos linguajares, meus dissabores e muitas contrariedades dizendo: Tu não és deste Mundo! Deixa lá, eu também não sou - Ambos, somos lendas, remata! Undenge ami um moamba… E, Elisabette, sua esposa, dona das xirikwatas, ri-se com o riso mais lindo da savana. Enredos de uma sociedade de tradições, preceitos, etiquetas, cerimoniais, praxes, ritos e um sem fim de serviços e vaidades. Redobrando famílias, o homem vê na cidade a base de toda a sua grandeza e, em verdade, só nela tem a fonte de toda a sua miséria…
Nota: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes, durante os longos anos da crise Angolana, e após o Acordo de Paz e Reconciliação Nacional. Corresponde à diáspora de angolanos e afins espalhados por esse mundo.
Máscara de Costa Araújo
GLOSSÁRIO: Askham - povoação da África do Sul; Aroab, Keetmanshoop - Povoação da Namíbia Mwangolés – os donos de angola, os generais que se apossaram da Nação Angola por via de seu poder libertário; Muxoxo- expressão com som de língua com palato em forma de estalo em desdém pelo dito; Maka – confusão, rixa, alvoroça; Khoisan - bosquímano, homem do mato; Missosso – Conto breve de cariz popular em Angola; Kituku - mistério; Uuabuama - maravilhoso; Rundu – Cidade do Norte da Namíbia, fronteira com Angola no rio Okavango; Xirikwata – pássaro que come jindungo; Kuito: - Cidade de Angola, epicentro da guerra civil angolana… Taparabo -Tanga pequena; N´gana N´Zambi - Senhor, Deus; Malembelembe - muito devagar, com cautela; Undenge ami um muamba - minha infância de muamba; mulola – Linha de água que só leva água quando chove; muxito – concentração de árvores ou zona verde no meio de secura generalizada...
(Continua...)
O Soba T´Chingange
MU UKULU... Luanda do Antigamente – 10.09.2019
FEROMONAS DA VIDA - Saber do passado para melhor se entenderem os futuros...
Por
T´Chingange – No Alentejo do M´Puto
Luís Martins Soares – Falecido no Brasil em Julho de 2019 - (São Paulo)
Abrindo o livro Mu Ukulu na página 61, posso ler que na Luua, Luanda do antigamente, no jogo de saltar à corda, as meninas eram muito mais ligeiras que os rapazes; tinham graciosidade, leveza nas kinambas e até cantavam enquanto com um só pé ou com os dois juntos, pisavam a terra do pátio da escola ou o asfalto do largo fronteiro ao correr de casas do bairro e assim, galgando o fio grosso e normalmente de sisal balouçado por duas jovens ou candengues meninos, para um só lado faziam passar o tempo! Uma soma de intervalos, infantário, escola, família, a terra, a empresa e o abrigo da idade de kota.
O balanço, tanto podia ser para a esquerda como para a direita mas, sempre em sintonia de como se faz com a manivela de impulso, tal e qual como se fazia nos carros Ford, Bedford, Chevrolett ou Nesh naqueles modelos dos anos de 1945 a 1950. Os meninos candengues jogavam ao botão, ao pião ou à macaca; uns mais espevitados ficavam de lado a soprar vento com os olhos para ver as calcinhas das meninas, apostar de qual era a cor com confirmação da tal de Mariana ou da tal de Fátima.
Depois do despois, era assim como um campeonato - quando não havia calcinhas era “bingo” pró ganhador. Todos os outros tinham de fazer de burro e levar o ganhador laureado até ao pé de tamarindo; assim, um por um, até botarem seu ar de bofes inchados daquele vento de soprar nos olhos. As brincadeiras de antigamente não faziam as crianças reféns deles como os jogos electrónicos de hoje. Sem televisão e sem computadores, rádio insípido, tínhamos jogos para nos dar mobilidade para a vida de trabalho e social; jogávamos até à noite bem adentrada e até que lá da varanda ou muro viesse um grito grosso do pai ou num esganiçado som da Tia Micas: vem para casa menina - tomar banho, fazer xixi e cama!
As esteiras de loandos ou de caniço eram peças importantes nas casas dos remediados e pobres dos arrabaldes da Luua ou dos bairros periféricos como o Bairro da Vila Alice, Vila Clotilde, Bairro do Café, Bairro da Samba, Coqueiros ou Praia do Bispo entre muitos mais e, a sempre rainha da Luua - a Maianga do Malhoas com o Almeida das Vacas a terminar no Choupal das meninas do Kan-can lá no topo da Avenida António Barroso e que hoje se chama de Presidente Marien N´gouabi cruzando o nosso Rio Seco, uma mulola que nesse então era só areia para brincar, jogar à luta livre ou futebol de fintas n´areia…
Quantas e quantas vezes dormi na varanda, estendido num loando, apanhando o fresco do mar da Samba. Naqueles tempos ainda não havia ar condicionado; era tudo à unha, um abanador de palmeira a dar-a-dar feito leque, ou um ventilador daquelas pás de tecto rodando e guinchando chring…chring…chring…Esteiras e loandos eram peças indispensáveis em uma casa da Luua e, ora servia para nos sentarmos, ora era aonde o candengue filho da lavadeira dormia enquanto sua mãe esfregava as mãos na roupa dos patrões. Por vezes o nené ficava às costas da mãe gozando do balanço com esfrega e, num bate e, roda e …Pois! Era um carrossel bem melhor que a esteira.
Por vezes num quase sempre de costume, os vizinhos juntavam-se levando suas esteiras enroladas ou suas cadeiras articuladas com uma lona entalada a montante e jusante do sono, do abre boca, abrenuncia dum deus queira ensonado entre o bate-papo falando besteiras ou, entre longas e inspiradas dissertações, do tipo filosofias de cacaracá entre virgulas de muxoxo e cuspidelas raivosas para o pé do mamoeiro ou da árvore de mandioca. Esta, a dar sombra ao tanque de cimento ou selha com uma tábua com ranhuras feito do tipo reco-reco para roçar as cuecas acastanhadas do uso e, talvez duma amarelada bufa de sem querer, digo eu!
Comecei estas falas para recordar as farras de quintal, daqueles candengues e meninas que já com barbas e bigodes macios que nem bigodes enrolados de lontra, curtiam a semana falando daquele e tal e coisa e ou daquela garina (magana) e coisa com tal num vai daí não sei se… e como vai ser - No baile combino! Naqueles tempos de espigadissamento os candengues já com jeito de Alain Delon (Além Delon), banga no estilo de ninita, peritos ao salto da macaca, saltavam os muros para de raspão dar só um beijo na Milocas até fazer cantar os passarinhos, malditos periquitos e… num raspa que se faz tarde, um despois de só mais um… e vai daí o outro dia nascia sempre muito cheio de Sol e do lado Nascente.
Assim num pisca-pisca os mais novos, ouviam estórias, missossos dos mais velhos, da labuta dos seu dia, tesourando no patrão, no filho da caixa do capataz, no enrolamento das leis porque a bota não batia com a perdigota; num de estão a lixar-nos a vida eram dissolvidas nas vírgulas desportivas com cabrões e com golos fenomenais descritas ao pormenor que nem os comentaristas de hoje podem exemplificar. Já naquele tempo eram o Sporting, o Benfica mais o Belenenses. Pois! Porque sempre havia uns vocábulos mais fortes de sundiameno do árbitro e, o filho do bandeirinha, cabrão toparioba mesmo; vesgo dos olhos e sei lá mais o quê, o cambuta de merda! Já ao fresco das dez da noite, os loandos eram enrolados e seguiam seus destinos debaixo do braço e, um até amanhã…
Não nos esqueceremos dos bailes onde a farra da música a gira-discos ou até com um conjunto local pago na forma de vaquinha pelos amigos dos amigos, vizinhos e afins dominava nos fundos de quintal até lá pelas quatro da manhã; quintal alisado com cimento na sua pura cor e, mas também de terra batida, molhada para não levantar pó. Até as aduelas de barril e as chapas de zinco se curvavam ao merengue cheirado a catinga misturada com Old Spice e sabão de côco cheiroso, cuca ou nocal - por vezes Sbell na forma de bolunga de whisky da Luua feito na fábrica da Catumbela. Às tantas a mistura de cheiros já eram todas muito iguais…
As celhas ficavam a um canto cheias de gelo com pirulitos, canadá dry, mission, seven-up, laranjadas e cerveja. Havia sempre bolos, tortas, rissóis de camarão, bolos de bacalhau levados pelas mães que não perdiam pitada cochichando suas sempre belas filhas casadoiras e o fulano mais beltrano, filho deste e daquele, um director lá da FTU e outro neto do Deslandes, que falam ir ser governador e muitos edecéteras preenchendo num depois as conversas da semana. O ponto alto era mesmo o chás da cinco e das seis, como pretexto de colocar as noticias em dia. Tu já sabes, a Alice que trabalha na Maria Armanda (costureira de fama…) está grávida! Como é!? Pois e tal, vida da Luua era assim um diz que vai ser ou foi, há isso já é velho! Tenho de fazer a janta pró meu Zé, e lá ia a costurar ideias na mistura com seus ideais…
Sábados e domingos eram religiosamente reservados para assistir às cowboiadas e outros filmes; tudo começava nas matinés seguindo-se uma ida ao baleizão para retemperar o físico com uma girafa, canhângulo ou pata, comer um prego no pão ou uma grande salsicha enfiada num pão pré aquecido e com muita mostarda. Isso! Tipo cachorro quente mas, gigante e com o sabor do Tarik.
Minguito
Depois combinar com a malta e seguir o rumo do Marítimo da Ilha, Clube do ferrovia, Casa das Beiras ou do Minho no Largo Serpa Pinto ou no Sporting Clube da Maianga com as garinas mais lindas do planeta. Lá estava a família Araújo sentada no palanque de convivas vendendo empatia a quem viesse… E, vinham sorteios do par mais simpático, da rainha do baile com votos de canudinho, prendas ou leilões por vezes e… As meninas sentavam-se em cadeiras dispostas em mesas e nós os gandulos da farra dávamos um toque de farpela, um piscar de orelhas, um puxar de colarinho e a noite escorria numa felicidade perdida…
Glossário
Kinambas – pernas; Bingo - a sorte grande da roleta; Girafa – copo grande e esguio de cerveja; Canhângulo – copo tubular e alto com cerveja – como se fosse um cano estriado duma arma tipo pederneira, assim de carregar pregos e limalha para amaciar, como um antigo arcabuz; Pata – copo com forma de pata grossa de elefante; Luua - Luanda; loando – esteira feita de papiro (loando do rio) atado com mateba; espigadissamento - fusão de espiga com astucia; Garina – moça, menina jovem já quase mulher; Tarik – Dono do Baleizão (alcunha, creio!); Estilo ninita – uma banga de puxacarrijoduro (tudo junto), um jeito de calcinhas fazer estilo tipo pavão; Mulola – Linha de água de leito seco, que só é rio quando chove; Sbell – Wisky da Catumbela; Old Spyc – cheirinho cheiroso…
(Continua…)
Recordando o Século Kota Mwata Luís Martins Soares
O Soba T´Chingange
O CHOQUE DO PRESENTE SAÍDO DO PARALÉM – 18.08.2019
Num mundo muito redondo nos silêncios dos espaços largos, horizonte a perder de vista- Na Vila de Messejana com John Wayne…
Por
T´Chingange – Em Panoias do M´Puto
Num jeito estranho entre mim e as pequenas calemas espumantes da Praia de Messejana, um mar feito anhara com abetardas ao invés de garças, abutres ou gaivotas, um monangamba escuro que nem um tição, com trancinhas gordurosas e brinquinho, óculos encaixados nos rebeldes cabelos, assim de gingão olhando-me de frente num forma turva, quase uma assombração, deu-me o recado de que o John Wayne estava pedrado na tasca do Celestino no fim da rua do Outeiro. Não seria de admirar pois que pensando estar no seu far west selvagem, matava saudades bebendo cachaça como quem bebe água.
Agradeci tal recado chispando a mão bem à maneira dos desportistas seguido de mais dois toques bem à maneira das modernas rebaldarias dos bate-na-avô, jeito de murro e um V feito com os dedos indicador e o malcriado com a mão acachapada ao peito. Este carapinha da Guiné, nem sabe que após a Revolução Francesa, os Americanos não se sentiam obrigados a tirar o chapéu para ninguém, colocando-o sobre a sua própria cabeça. Seu revolver dava-lhe a segurança necessária e este sim, era tirado quando os limites estavam ao rubro.
Enquanto me dirijo à tasca do Celestino vou relembrando coisas vividas num além e a propósito recordando o próprio Abraham Lincoln que simbolizou isso de não se tirar o chapéu com o uso de uma alta cartola preta; não tinham ao invés dos povos da Europa, leis e decretos usurpando as liberdades do povo; ele, Lincoln, veio a ser assassinado em Abril de 1865 ficando na história como o mártir da democracia representado em um grande memorial em Washington .
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O Texas integrado nos Estados Unidos em 1845 era uma vasta área onde a dureza e a selvajaria competiam entre si. É entre imensos latifúndios com gado pastando à solta em fazendas algumas maiores que muitos países europeus que um tal de Roy Bean instala seu “saloom” na beira de um apeadeiro do caminho-de-ferro. Roy Bean que nem sabia lêr direito, tinha um livro de leis que sempre fingia estudar e, foi comissionado a fazer justiça num território maior que a Holanda. No seu pardieiro chamado de saloom colocou um cartaz que dizia “cerveja gelada e a lei a Oeste de Pecos”.
Naquela vastidão sem lei e sem Deus ele, Roy Bean, foi o único juiz entre os anos de 1880 e 1900; passava o dia sentado na porta do saloom com um rifle entre as pernas. O meu amigo Joh Waine usava-o com uma mão no gatilho com o cano apoiado no braço. Dentro do saloom construiu uma cadeia tendo um urso preto a vigiá-la. Falo disto porque conhecendo seu jeito pode mais logo fazer desacatos na tourada e depois deste chamado à tasca lá terei de ficar atento ao seu modo explosivo.
Aquele Juiz, nos rápidos julgamentos que fazia consultava ou fingia consultar o “The Book” e, rapidamente levava à forca o infeliz numa decisiva batida na mesa com o cabo do revólver; levou assim 170 condenados ao cruel nó da corda ensebada. Sempre com uma garrafa de wisky à sua frente, exigia dos presentes o tratamento por Sua Excelência. Bean, que foi juiz durante vinte anos e, tendo sido considerado uma instituição do Texas como “o Enforcador de Pecos” – “património imoral da humanidade”, fazendo fama em paralelo com Kit Karson, Billy the Kid ou Pat Garrett. Talqualmente como o “cante alentejano” ser agora um “Património Imaterial da Humanidade”.
Estas imagens de terra e gente bravia fizeram o deleite através de muitos filmes entre os anos cinquenta e oitenta do século passado. Já falei da interacção que os putos candengues da minha geração faziam nos filmes deste John Wayne nos Cines Tropical ou Colonial da Luua na Angola Colonial. Em verdade, ainda dá gosto ver aquelas áridas paisagens nos confins dum deserto, cactos empinados entre rochas e uma cascavel zunindo seu chocalho num primeiro plano; um tufo de erva seca que rebola levada pelo vento; um moinho decrépito que faz rodar a ferrugem trazendo água aos chacais.
Atão John que tal está a moenga! Acorda lá! Dito isto dei-lhe dois açoites com o meu chapéu de coiro de búfalo bem no seu de aba larga com uma cinta entrelaçada feita em pele de veado! Num desatino, quase deu um pulo, pegando no seu rifle de canos estriados bem entre as botas muito cheias de arabescos com cornos: - What the fuck is this? What was it? Calma, disse abrindo as mãos e tendo em atenção seu impulso de levar o dedo ao gatilho. Por fim amainou; tinha um bafo de onça carregado mas, dei-lhe um gim com água tónica para amansar os mosquitos e água das pedras. Mas, ele bravo disse: - Do you wanna drown me?
Os compadres já familiarizados com John Wayne e tolerantes como a cachaça, já sabiam que eu era um seu grande amigo, quase familiar e, em verdade notei que ficaram doidos por estarem assim tão de perto com uma celebridade! E, vestido daquela maneira com polainas a condizer com os homens espadas, faziam-lhe perguntas atrás de perguntas e ele, com seu português raspikui, motivado e traduzido por seu anjo Akasha, seu espaço com éter, assim correspondia com o pentagrama da 5º ponta (a ponta apontada para cima), aquela que representa o espírito do paralém... E, não é que se entendiam de maravilha!
A caminho da tourada do Rouxinol, foi-me dizendo querer ir a Paredes de Coura o WOODSTOCK TUGA. Para quem não sabe, o festival de Woodstock não foi nada mais, nada menos do que uma orgia á americana, um grito contra a guerra do Vietname e vai daí, este festival lá nos States de música onde se podia fumar uns charros á desbunda, fornicar até dizer chega e até podiam desafiar os padrões da época que eram entre muitos, andarem nus e fazerem amor com os negros (Foi o Luís de Magalhães que disse…). Sendo assim fiquei de pé atrás mas disse-lhe: - Yes! Na firme convicção de o mandar à fava, quem sabe? Talvez!…
Na tourada, foram o bom e o bonito! Fez um espalhafato de tanta alegria que só faltou saltar para a arena e dar um abraço àquela malta marada dos forcados! Os bois de quinhentos e tantos quilos foram difíceis de forcar! Ele saltava, dava vivas misturando asneira com alegrias e foi mesmo o escambau: Catch him like this, pega-lhe assim e assado, como se ele fosse um entendido, gritava! E, sabendo que ele só era bom no laço, demos-lhe o benefício da dúvida! E batia palmas aos forcados de São Manços.
E estrebuchava-se com a valentia dos forcados de Beja! Mas, o pior foi quando já na terceira tentativa o touro partiu a perna de um, o de caras. Vi-me aflito com O Wayne; queria saltar na arena e num vai e espuma raiva, pega na sua Winchester e… foi neste entretanto que virei a arma para o ar: PUM!...PUM!…PUM! … Três tiros memoráveis! Todo o mundo se levantou à volta da arena a bater palmas. Wayne, teve muita sorte não ser levado para a grelha pelo xerife, digo o sargento da GNR vestido a rigor ao lado do Director da Corrida de seis touros… Uf! Que alivio! Nem sei se irei ao tal de Woodstock Tuga nas Paredes de Coura…
O Soba T´Chingange na Messejana do M´Puto
TEMPOS QUENTES – NO PARALÉM
- EM PANOIAS COM JOHN WAYNE – 15.08.2019
O esquecimento existe mas, nós não somos só silêncios; de novo, John, surge para visitar seus parentes como se nunca daqui tivesse ido – Uma fricção diferente…
Por
T´CHINGANGE – Em Panoias do M´Puto.
John Wayne - Seu verdadeiro nome era Marion Michael Morrison. Ele detestava seu nome e ao entrar para o cinema mudou-o para John Wayne, que tinha mais a ver com um rapaz de 1,92 de ventas largas. Surgiu com destaque no cinema em 1930 em The Big Trail, faroeste dirigido por Raoul Walsh. Permaneceu vários anos estrelando filmes B até consagrar-se no papel de Ringo Kid em Stagecoach, clássico de 1939 de John Ford. A carreira de Wayne foi assim agraciada com esse divisor de águas inestimável, que o lançou ao estrelato. A relação com Panoias é mesmo só uma lenda. Esse filme tornou-se a obra que definiu todas as principais características do faroeste norte-americano.
Longe vai o tempo em que que eu e minha malta da Maianga, Vila Alice e Bairro do Café da Luua íamos ao cinema Colonial em São Paulo para gozarmos as cenas que se passavam dentro da sala de espectáculos. Todos fazíamos parte duma qualquer aventura que este astro levava até nós na pantalha gigante deste ou outro qualquer cine. Aqui era diferente, havia beatas feitas piriscas pelo ar para festejar cada uma das victórias deste nosso amigo fosse em duelos ou atrás duma bissapa aguardando em tocaia os vilões, ladrões de vacas.
Para além das piriscas havia avisos ao grande ídolo Wayne; Quando em surdina um bandoleiro com fúsil longo ou curto o queria apanhar, todos nós o avisávamos da tocaia: - Olha à tua trás! E, sempre ou quase sempre ele, virava-se com o revólver engatilhado e Pum, pum! Por vezes era sua Winchester que ele suportava entre os dois braços – o mauzão caía ali esparramado, gritando tardiamente o may good e, nós… Eu bem que lhe avisei e, num eu avisei primeiro, não! Fui eu! - Passava a outra cena e a festa continuava. Nós, candengues da Luua tinhamos essa peculiar cultura do cinema…
Aqui em Panoias, saí de mansinho da rua vinticinco do abril dez minutos para as sete; o silêncio rondava o lugar do Paralém e, nem o cão rafeiro da rua do Outeiro me ladrou, procedimento incomum, talvez por ser cedo ou por não querer mostrar seus caninos cariados e, voltei à esquerda na rua pisando o asfalto meio quente dos 33 graus, casas caiadas com barras azuis muito a condizer com o Paralém de Messejana, famosa por uma praia que nunca teve.
Passando o lugar aonde os tabaibos dão lugar aos eucaliptos cheiro as horas da manhã, batiam as sete badaladas no sino da igreja da Misericórdia, estando eu em frente do chafariz construído num ano em que quase estava para nascer mas que já não tem água - 1945. Via-se ao longe a ermida da Nossa Senhora de Assunção mas, meu destino era a Funcheira, o lugar da estação ferroviária e, aonde iria receber meu amigo da Luua, famoso John Wayne do Colonial, paredes meias com o B.O...
Pude ler no cruzamento que liga a Conqueiros um cartaz da CDU mencionando uma próxima festa do Avante na Atalaia e fazendo menção do PCP com uma estrela, uma foice e um martelo, e o PEV com um girassol. Eram coisas passadas que o muro exibia com agrados de comunas, socialistas e afins… Ouvi do lado sul e lá longe uns barulhos de petardo ecoando nos cabeços, talvez avisando da festa de Santa Luzia ou Garvão. Não seriam caçadores porque sendo hoje dia de Santa Maria os arcabuzes ficam trancados no mukifo dos fundos.
Um zumbido no ar e olhando o céu, lá estava o rasto dum avião nas alturas a caminho do Sul, Áfricas e, estando assim olhando o azul rasgado ouvi um convincente “Good Morning”… Como é possível, ele estar aqui e assim montado e tudo, estando eu a caminho da estação para o receber! Será ele? Estas coisas de gente que surge do paralém tudo é possível! Mas, que grande susto! Segundos antes não estava ali ninguém e, num repente, saído do nada ali estava o fulano vestido à vaqueiro com polainas, um autentico cowboy americano empanoiado de fantasma!
E, surpresa das surpresas… Ali estava este tal e qual John Waine, vestido como se aqui viesse fazer um western. Não te assustes, disse ele no seu jeito meio fanhoso: -Don´t be afraid! I heard gunshots and came to see!... Em inglês! E, perante o meu franzir de sobrolho continuou a falar, mas agora em português com sotaque de alentejano de Aljustrel, bem cantado e balouçado: - Foi quando falou: -Na minha anterior encarnação andei por aqui e venho agora matar saudades; tenho primos e afins mas quero que sejas tu a ajudar-me nos caminhos! É que isto está tudo bem diferente! Desta vez quero ir à tourada de Messejana.
Caramba! Num repentemente surgiu um puro lusitano a seu lado! Let's ride! Let´s let's go! Vamos, monta! Estava tolhido e, assim tremendo e com a sua ajuda pulei com alguma dificuldade para o lombo do lindo exemplar de cavalo com uma mancha branca na testa. E, lá fomos em direcção à Ermida de Nossa Senhora de Assunção… Foi neste entretanto que lhe dei a novidade de que recentemente roubaram os dois sinos grandes em bronze! Temos de procurar esses larápios, disse ele já espumando vontade de atirar. Calma, disse eu; isso já deve ter sido fundido e vendido! Isto está assim! Estás num M´Puto novo. A justiça anda de muletas…
Fiz um rodeio em direcção a Sargaçal porque sabia ir ali encontrar bois e, lá chegados vi o encanto nos olhos de John! Os bois com os rabos a dar e dar, um e outro lado afastando moscas enquanto a passo rápido se deslocavam da barragem de água para as gamelas de pasto com a suposta ração que nós lhe daríamos; pensaram que seriamos nós, seus cuidadores. Vou tentar reproduzir a imagem, o gado com crias seguiam o rumo da palha levantando o pó do chão, assim como uma mini boiada e mugidos de indicar presença aos bezerros e entretanto o moinho de vento rodando fazendo tric…tric…tric…tric…
Nas palhetas duma pá desmazelada, o vento já riscava com sons de gonzos uma tabuleta que teimava em amachucar um outra torta chapa pelo chik…chuk…chik…chuk, vento de sudoeste que entretanto se levantou! Era mesmo uma cena dum filme e, se gozei na imagem dos muitos filmes que me alegraram, olhos colados ao grande ecrã! Sim, sou mesmo da geração do cinema, das matinés de ver gado despencando com pó, rifles, ladrões e tiros de colt de rodar tambor ou winchester.
E curiosamente, o encanto não era só meu. John Wayne estava consolado! Sentia-se este mistério. A todo o momento recordava-me: - Já compraste o bilhete da tourada, desse tal de Rouxinol e dos Bastinhas mais os forcados de São Manços… Mas, como é que ele sabia serem estas as vedetas do dia quinze de Agosto!? – Tu nem necessitas de bilhete, disse eu! Notei por um muxoxo suave que só queria ter a sensação de estar vivinho da costa… Vou-vos dizer! Há coisas que nem contadas ao pormenor parecem ser verdadeiras, háka!…
(Talvez continue…)
O Soba T´Chingange
ANDO ENKAFIFADO – 06.08.2019
“A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para se dizer”. Cristóvão Colombo era um português de Cuba sim senhor!
Por
T´Chingange – Na Cuba de Colombo, no Alentejo
Meus amigos, devagar que tenho pressa! Recordo-me de no acampamento aonde dormi com meu pai quando e como brigadeiro, trabalhava na construção da ponte sobre o Rio Lucala no grande país que então era a Província Ultramarina de Angola. De ter ouvido hienas a chorar e urros distantes de leões; relembro os bidons ao redor do acampamento contendo tochas de fogo pela noite para as afugentar no distante ano de 1954, teria eu meus nove anos.
Nisto de recordações acabo por chegar ao conceito de se escrever ao jeito de Graciliano Ramos! “A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra (malamba) foi feita para se dizer”. Com esse condão de elaborar um trabalho colocando no papel tudo aquilo que consegui observar na terra e nas pessoas, tentarei mostrar a sociedade actual, gente simples mas muito cheia de curiosidades. Foi um pouco a partir do nada que trabalhei a curiosidade ao descrever assuntos banais. E, fiquei também ciente de que o que toca a imortalidade é a obra e não o ser humano que perdura.
Afinal Cristóvão Colombo deu a volta ao Mundo! Suas cartas, reparos e pergaminhos devem ter ficado em um qualquer sótão que o tempo amareleceu. Vejam aqui tal ironia em seus procedimentos de honestidade, o estudo dos ventos e nós nos cordames das velas, das madeiras dos mastros e dos muitos segredos para justificar tanto sacrifício; longe estava de imaginar que numa parte deste mundo tanta gente daqui saída que agora se recorda com um Ginga Malaia, tradição trazida do Planalto do Sul de Angola pelos Xi-Colonos do Reino de Maconge; um reino que só existe em sonhos de candengues e, que no tempo se tornaram gente adulta…
Assim andei no meio de uma festa festejando a alegria, curtindo a juventude que resta, lembrando as farras do fundo do quintal da Luua, na Associação de Estudantes do Lubango e, vendo os netos dos amigos rodopiando em graçolas e risos contagiantes fingindo beber tinto e, terminando o engulo com um Plim-Plau. Assim deixando o tempo abraçar os cabelos grisalhos e os sulcos dos anos, a conversa começa do nada com um senhor na Tabena do Monte Pedral. Mais tarde seguiram-se as quase conferências nas tabernas do Arrufo, das Febras e do Lucas.
Nos últimos anos surgiram novos livros de investigação com a tese de que Cristóvão Colombo era português - de Cuba, no Alentejo - e não genovês, como conta a versão "oficial" da história. Será mesmo assim? O Núcleo de Amigos de Cuba e a Câmara Municipal organizam uma tarde de conferências no centro cultural da vila. Aqui, o luso-americano Manuel da Silva Rosa residente nos USA, argumentou que o documento aceite como testamento de Colombo, de 22 de Fevereiro de 1498, é falso.
Ora, este documento, sublinha Rosa, é o único em que Colombo aparece descrevendo-se como um tecelão de Génova. "Todos os outros documentos que falam de Génova são de terceiros", diz Manuel Rosa. "Há 200 ou 300 anos que os historiadores se apoiam neste testamento como prova de que ele era um tecelão de Itália – Um Genovês." Rosa, não está nada convencido desta tese, e explica porquê: um dia antes de morrer, a 19 de Maio de 1506, na cidade espanhola de Valhadolid, Colombo mandou chamar o notário e várias testemunhas para fazer uma adenda a um testamento que tinha feito em 1502.
Pedido a um morto - A adenda de 1506 ainda existe, no Arquivo Geral das Índias, em Sevilha; o testamento de 1502 é que já desapareceu. Em seu lugar, surgiu uma cópia do suposto testamento de 1498, apresentada por um Baltasar Colombo, cidadão de Génova, que dizia ser familiar do explorador. Afinal, estava a decidir-se uma das maiores heranças do mundo, no processo judicial que se seguiu à morte de Colombo. No testamento de 1498, Cristóvão Colombo pede a alguém já falecido, o príncipe D. Juan, filho dos reis de Espanha, que faça cumprir o documento, uma vez que o posto de almirante fazia parte da herança e eram os reis quem controlavam esses cargos.
D. Juan morre a 6 de Outubro de 1497 - quatro meses e meio antes do testamento de 1498 ter sido escrito. "Se Colombo não soubesse que D. Juan tinha morrido, ficava a dúvida. Mas temos uma prova escrita de que ele sabia." Essa prova surgiu cerca de um mês depois da morte do príncipe: os filhos de Colombo, D. Fernando e D. Diego, tinham sido pajens de D. Juan, e existe o relato de um deles a dizer que o pai os enviou, a 2 de Novembro de 1492, para servir de pajens à rainha D. Isabel.
Portanto, conclui este historiador amador, Colombo soube da morte do príncipe pelo menos um mês depois e não iria assinar um documento três meses mais tarde a pedir a um morto para cumprir o testamento. Então, se não era de Génova, era de onde? "Com tudo o que sei hoje, só pode ter sido um nobre português ou estrangeiro que veio para Portugal muito novinho aprender a língua portuguesa como materna", diz Manuel Rosa. "Ele nunca escreveu em italiano. Escrevia em castelhano com palavras portuguesas. E quando escrevia para Itália, escrevia em castelhano."
Muitos mistérios em torno de Cristóvão Colombo continuam em aberto. Onde está sepultado - na República Dominicana? - É um deles. O que foi fazer para Espanha? Foi de facto trabalhar para os reis católicos, Fernando e Isabel? Ou era um agente secreto ao serviço do rei português D. João II, para desviar as atenções espanholas da costa africana e da descoberta do caminho marítimo para a Índia? Cristoval Colon, como era conhecido Colombo em Espanha, era o nome que inventou para se proteger?
Informático de profissão, a paixão de Manuel Rosa é investigar a vida do navegador. O resultado desse trabalho encontra-se nas 638 páginas da versão portuguesa do livro O Mistério Colombo Revelado (Ésquilo), publicado em 2006. Manuel Rosa continua na peugada de Colombo, e promete trazer alguns factos novos, numa nova edição do seu livro, mais concisa e clara. Esta tese sempre foi muito atacada, principalmente pelo facto de quem a investigou não ser licenciado em História. Também como ele estou convencido a "99 por cento" de que Colombo é português. Meus compadres assim confirmam.
O nome de Ilha de Cuba é em si uma razão de peso. Assim sendo, vou fazer mais o quê? As conversas das tabernas, misturam-se na memória e sai o que sai. O anteontem misturado com o amanhã num se Deus quiser. Hoje andam por aí feitos loucos procurando bichos chamados de pokémons debaixo dos chaparros esquecendo-se daquele grande navegador. Na excitação de contar coisas e partilhar ninharias, disparamos novas como se nos estivera, e está, na massa do sangue, o de sermos todos primos; as risotas por piadas de há muito repetidas; as promessas de esperanças que por décadas estão por realizar. Os sonhos das pradarias como palhas retesando-se ao vento…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
MULOLAS DO TEMPO - Fábrica de Letras do Kimbo com histórias da vida.
" D. Sebastião, esperado num dia de nevoeiro" algures numa mulola...
- Mulola é um leito que só é rio quando chove (África Ultramarina) … Paracuca é um doce feito de ginguba e açúcar, rijo como o torrão de alicante, só que não fica branco …
Por
T´Chingange - No M´Puto
Recentemente, visitei em Cuba do Alentejo a Quinta da Esperança e, em visita guiada por uma muito gentil menina, foi-nos explicando desde o pátio térreo junto ao aqueduto das águas aos quartos superiores da quinta-museu tudo o que de mais importante haveria a mostrar e a explicar. Dos muitos brasões que vi nos vários azulejos em fundo azul e baixos-relevos feitos em mármore e cantaria diversificada pude ver já na parte final um brasão com uma medalha por debaixo do mesmo, um prémio por ser aquela quinta a maior produtora de trigo.
Aquela medalha foi obtida pelo Conde Cavaleiro, co-proprietário da quinta, pertença de um antigo Morgado, já no tempo do António Salazar. Mas, há uma outra por sobre a coroa muito comum nos brasões e heráldicas daquele tempo: -Um braço alado segurando uma espada partida. Muitas vezes erramos, simplesmente por não acalentarmos o silêncio do bom censo não discernindo sobre a qual espírito pertencemos; Desta feita não achei nada lógica a explicação por ser muito desadequada mas, mantive-me calado para não ferir honrarias e posturas prazenteiras; já lá iremos!
Falando do que vi e que calei, por vezes enchemos-nos de cantos piedosos com fervor religioso omitindo-nos das cenas de extermínio na ânsia de sermos poupados á cólera, das visões fanáticas muito cheias de sofismadas verdades, razões de fé descabidas de sustentada razão, fanáticas até. Não podia ali explicitar minhas dúvidas para não criar a falsa ilusão de que eu, era o tal perito porque decerto ficaria ali exposto como um vaidoso de prosápia. Irão calmamente entender à primeira o que me apraz dizer.
Em idos tempos medievais as cruzadas furando o cerco a Jerusalém mataram setenta mil muçulmanos, ditos infiéis. Com a cruz alongada em forma de espada sangraram vidas arrebatando órgãos vitais que mumificados decoravam altares com a cruz de Jesus Cristo ali ao lado. Isto é tão plausível como a sopa de tengarrinhas que comi na seia com os Maconginos do Lubango, eu o Senhor dos anéis do Reino de Manikongo (gaba-te cesto…) gritando o Ginga Malaia…
Esta Quinta da Esperança situa-se em Cuba, Distrito de Beja do M´Puto. É uma casa senhorial datada do final do Século XVI (meados de entre 1555 e 1595; quase tão velha quanto a Sé de Braga). Toda a área em seu redor foi transformada com o tempo em um dos maiores campos de cultivo de trigo de Portugal. A partir de 1750 foi criando o Morgado da Esperança. Após vários casamentos com outras famílias oriundas de outros pontos do globo, como os Holandeses Braamcamp, e com a agregação dos apelidos Lobo, Gama, Fragoso, Cordovil, entre outros, é dado ao Sr. José Maria de Barahona Fragoso Cordovil da Gama Lobo, (primogénito do Capitão-Mor de Cuba, Francisco Cordovil de Barahona Fragoso da Gama Lobo de Brito), o título de 1º Conde da Esperança, criado por decreto de 22 de Setembro de 1878 do Rei D. Luís I de Portugal.
Não sei se é lenda mas logo na feitura desta quinta, em nome da Santíssima Trindade, D. Sebastião cheio de fervor religioso e militar, um pouco por todo o Portugal, incentivou os jovens a irem com ele à luta; através desta cruzada, dilatariam a fé e o império mais além das fronteiras da cristandade. E, foi no Alentejo que conseguiu reunir uma grande parte da força militar constituída por 17.000 homens, dos quais 5.000 eram mercenários estrangeiros. De Beringel, D. Sebastião levou toda a sua juventude, ficando ali, só os velhos.
Revivendo as glórias do passado, a armada de D. Sebastião, partiu de Lisboa a 25 de Junho de 1578, fez escala em Cádis, aportou em Tânger, seguindo depois para Arzila e Alcácer-Quibir. A vida na quinta teve sua labuta mas, entretanto num hino à liberdade vislumbrei que a vida não faz sentido sem se ter um espaço próprio, de mente liberta; foi ali em Alcácer Quibir que toda aquela gente, nata de nobres e da arraia-miúda do Alentejo foi destroçada perante um exército de 60.000 muçulmanos. A Beringel, regressou um braço conservado em sal, um claro aviso para não mais ali voltarem. Entenderão agora do porquê ficar taciturno ao ver aquele braço alado segurando uma espada quebrada.
Na linha tortuosa das ruas, casas com barras azuis a limitar em branco as portas, os indícios moçárabes perfilam sombras dos telhados lusos. No turbilhão da história com foices, defini os limites da ordem de Santiago com os cristãos fustigando mouros com suas espadas em forma de cruz. E, foi em Alcácer Quibir que se deu início ao reverso da história e, já lá vão 440 anos; Aqui, tal como em Beringel, por volta do meio-dia, os perfumes do campo de funcho, poejo e espargo silvestre, adensam seus cheiros a recordar tais nobres tropelias… (nem falo das foices abrilistas para não ferir meus compadres…)
Naquela Quinta a vida seguiu seu curso! Creio que por falta de gente tiveram de laborar com escravos e será essa razão porque tanta gente tem a alcunha ou nome de Carapinha. Na quinta inicia-se assim um condado de cinco gerações de Condes e Viscondes, existente até os dias de hoje. Por ser o imóvel uma habitação da nobreza, teve o privilégio de hospedar três elementos da família real: a Rainha D. Maria II, o Rei D. Pedro V ( O tal primo do Maximiliano, Imperador do México…) e o Rei D. Luís, aquando das suas deslocações à cidade de Beja.
Adquirida em 2015 por uma brasileira, naturalizada portuguesa, a casa actualmente encontra-se aberta ao público. Baseados em fotos, documentos e testemunhos, requalificam-na agora para que fique com a imagem que teriam na sua época áurea, no final do século XIX. São dezenas de painéis de azulejos, pintura mural a fresco, uma capela interna com talha Joanina e pinturas a óleo, uma nora funcional para tirar água do subsolo, método herdado dos árabes, aquedutos, entre outras curiosidades históricas. Um local que vale a pena visitar de forma a sentir o que era uma casa senhorial no Baixo Alentejo em meados de 1900. Disse o que queria dizer: Aquele braço alado é referente às mortes daqueles muitos mancebos – não encontrei outra explicação.
Ilustrações de Costa Araujo Araujo e Assunção Roxo
ADENDAS
- Do Professor Julio César Ferrolho:
Era costume os eis combaterem diretamente na batalha com uma tática defensiva claro. Nesta batalhe de Alcácer-Quibir combateram e morreram três reis como descrevo abaixo. É conhecido que 500 navios embarcaram as tropas do rei Sebastião em Lisboa. Fala-se sem certezas em 15.000 a 23.000 combatentes do lado português, o que daria uma média de cerca de 40 combatentes em cada navio, mais cavalos e materiais de guerra e equipamentos o que é razoável. Fala.se em 10.000 só cavaleiros do lado dos mouros não se informando quantos eram os combatentes a pé Mas deveriam ser outros tantos pelo menos, Forças em número equilibrado. Mas os portugueses chegaram ao local da batalha depauperados com fome e esgotados. Os mouros esperaram-nos em local que escolheram, logo grande vantagem à partida. Após 4 horas de combate a sorte de quem tinha vencido não estava declarada, Foi o desnorte e a falta de comunicação que levou os corpos do exército português a debandar desordenadamente com a completa derrota dos exércitos de D.Sebastião e do rei Abu Abdallah Mohammed II Saadi que lhe pedira apoio. Diz-se que, no conjunto dos três exércitos houve cerca de 9.000 mortos e 16.000 prisioneiros, nos quais se incluem grande parte da nobreza portuguesa. Talvez 100 sobreviventes tenham escapado, com custo, do local da batalha. Mulei Mohammed, aliado dos portugueses, tentou fugir ao massacre em que a batalha se convertera mas morreu afogado ao atravessar o rio Mocazim. O Sultão Abdal Malique (Mulei Moluco) que comandava as tropas dos mouros também morreu durante a batalha, mas de causas naturais, uma vez que o esforço da batalha foi demais para o seu estado, debilitado por um envenenamento que tinha sofrido uns meses antes. D. Sebastião, por sua vez, desapareceu liderando uma carga de cavalaria contra o inimigo, e seu corpo jamais foi encontrado...
- Em um esquema da disposição das forças do rei Sebastião na batalha aparecido numa publicação, é curioso verificar que havia uma secção de religiosos e outras pessoas que "não pelejavam".
O Soba T´Chingange em terras do M´Puto
UM CACTO CHAMADO XHOBA . VIII – 24.07.2019
MALAMBA NAS FRINCHAS DO TEMPO é a palavra com asas…
- Boligrafando estórias do ano de 1999, talvez 1997.
Por
T´Chingange - No Alentejo do M´Puto
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Numa idade própria para cultivar flores, falar com elas, gozar do seu perfume, trato de fazer novas conquistas entre pessoas. Em verdade é mais gratificante conquistar gente do que atormentá-las, banir a raiva, emoções de rilhar dente duma mórbida ansiedade. Longe dos amilongados uso fracassos passados para lapidar emoções, separando o trigo do joio, lutando no corredor do tempo contra a síndroma de pensamento acelerado.
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Na solidão do vento Kuvale árido, soprando florestas petrificadas dos pastos dos Himbas dou-me conta de quanto a mente é fundamental para se gerir na sobrevivência, lá em Swakopmund também as hienas castanhas, sorrateiramente usam sua mente para de forma fácil sobreviver com o lixo dos humanos. Não querendo perder a minha capacidade de analisar e criticar com consciência soluço fantasmas passados para tentar saber o que já sei…
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Percorrendo os caminhos do ser, um dia vulgar nas terras do fim do mundo entre Oshakati e as quedas do Cunene encontramos um muito kota Himba sentado em cima duma velha mala em sua simples palhota - O que tens aí nessa mala? Perguntou-se-lhe - O tempo! Respondeu ele – Patrão, nem sei mesmo, faz quanto tempo estou em cima desta velha mala! Acrescentou o Himba - Dá uma olhada insistiu meu filho M´Fumo Manhanga.
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O Himba resolveu abrir a mala enferrujada e, mal consegui acreditar ao ver que a velha mala estava cheia de pedras, chifres de bois e muitas ervas, uma fortuna para ele pois que negociava com a desavinda sabedoria dos demais. Ora bolas! Era mesmo um Kimbanda feito kianda. Demos ao homem uma gasosa, um monte de kwanzas, e ele simplesmente olhou de forma desinteressada como se fosse mesmo muito rico e nos prestasse um divino favor. Deve ter dito, mas que vou eu fazer com isto?
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Navegando assim a vida, percorremos milhas redescobrindo entretantos diferentes mas o episódio deu-nos volta no moleirinha. E, falando do amanhã para completar o tempo já rodeados de caserio fomos matabichar no Spur de Swakopmund; veremos o quanto já cresceu esta terra dum nada que o deserto teima em tapar. A visita não ficaria completa sem uma ida ao famoso Café Anton com seu “coffe and cake” e seus clássicos e deliciosos como Schwartzwalder Kirsahtorte , Florentier e Apfelstrudel.
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Nomes nada usuais nas nossas dietas feitas com salsaparrilha, beldroegas e jimboa - muamba de chuço ou capota do rust camp. Nas calmas vamos até Walvis Bay ver a waterfront e também a área da lagoa, seu elevado número de flamingos que ali se juntam alimentando-se de crustáceos. Um natural maternidade de dançarinos vestidos a cetim vermelho; espécies residentes que ali se abrigam, juntando-se estes um elevado número de aves migrantes do intra-africano e Palearctic.
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Boligrafando estórias por aqui mas pensando no Ondundozonanandana, das muitas anotações e escritos em registos de memória de meu safari Xirikwata por Namíbia, sempre ficam por publicar textos que aos poucos vou relembrando como estando no alpendre de soalho e tecto em madeira da Guest House Willtotop de Vanda Potgieter. Repensar nos fins de tarde entre Okavango na Faixa de Kaprivi e os desertos de Swakopmund qui descritos depois de passar as quenturas dos morros de Ozakos e Kiribib.
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Activar as falas de Elisabeth Miranda da faixa de Kaprivi que com entrecortados e bonitos risos, recordam seus passados dias do outro lado do rio Okavango, um lugar chamado de Dírico, em Angola. Foi possível reconhecer em mim neste roteiro cinco marcas de destino, surpresa, curiosidade, saudade, benevolência e alguma temeridade. Também senti um desassossego de excitação. África é imprevisível na soma de angústias, incêndios com sinais de pavor, traficâncias com segredos de podridão - coisas que só África nos transmite…
(Continua...)
O Soba T´Chingange
TEMPOS QUENTES – 23.07.2019
Em um dia antigo encontrei no M´Puto uma pedra-de-raio; uma pedra portadora de superstições vindas do tempo neolítico… Um raio que os parta
Por
T´Chingange – No Alentejo do M´puto
Envolto numa névoa de velhice, preencho os espaços da vida defuntando assuntos que já me não dão ânimo em falar. Num ápice, os n´guzos da juventude viram fenómenos, percorrendo-me a mente como se fosse um grande corredor feito varanda calçadão; já com pedras muito roçadas, sapateadas e dançadas na velocidade da luz, filósofo filmes que nunca antes tinha imaginado neste vácuo feito hiato como que para amainar ventanias ou anular rancores…
Muito depois dos Etruscos, Plínio, um antigo escriba romano, comungava da crença de que a pedra polida tinha alguma cousa divina afirmando que elas caíam do céu com os raios das chuvas. Isto embrulhou-se-me no pensamento até os dias de hoje com quenturas anormalmente altas de trovoada. Tenho uma pedra destas desde o ano de 1983 e, apanhada exactamente no sítio de Vale das Lousas, sete anos, sete meses e sete dias depois de sair da guerra do tundamunjila da Luua - de Angola.
Derrubando-me nas trevas do desconhecimento, olho e ouço pela caixa mágica da televisão choros verídicos e de cortar a alma entre outros carregados de fingidas mágoas e excrescências mal alinhavadas. Pois e, foi assim bem ao lado duma trilobite petrificada que troquei por um kispo em Tetouan, no Atlas do Norte de Marrocos que, entro nas superstições que dominam muitas mentes e, entre estas, a minha!
São legados de subconsciente sem se saber ao certo se saíram de cristãos, judeus, libaneses ou sírios ou mesmo palestinianos e também toledanos ou etruscos. O certo é que ainda hoje são estas pedras denominadas línguas de S. Paulo; pedras de sílex, lisas e em forma de ponta de flecha. Diz a lenda que quando um camponês romano encontrasse uma dessas pedras, se ajoelharia de imediato e que, com toda a devoção, a apanharia não com a mão mas com a língua que, depois a colocaria no lugar mais respeitoso de sua casa para se precaver dos raios da chuva.
Não querendo quebrar este paradigma, coloquei esta bem no parapeito decorativo em azinho da minha lareira do M´Puto – M´Putolândia dos Al-Garbes. Eu não fiz isto naquele ano de 1983, sete anos, sete meses e sete dias depois de chegar a terras de M´Puto vindo da Luua num voo grátis e nesse lugar de Vale das Lousas. Estava ainda por saber por desconhecimento da tradição com lenda; já lá vamos!
Por engano das leituras por paralaxe das estrelas, estava em crer que foi a partir desse dia que se deu início à minha própria lenda - Março de 1983 mas, agora que estou mais capacitado e entendido com os ET´s, vejo que a lenda vem de muito mais atrás, de quando nem pastoreava, nem era um projecto de vida. E, porque a tradição manda, assim procedi! Sem a lamber, afagando-a somente, resguardei-a do mau-olhado da trivial onda xicululu e da comum avareza das gentes, entre outras que tais.
E, assim fui sabendo de antemão e até antepé, estar a singularidade das coisas impregnada de ruins olfactos; mesmo estando assim como esta, uma pedra gasta e na forma de um raio-que-parta! Quantas mãos não teriam já manipulado esta, agora meu património, assim fosse para matar e cortar coelhos, cortar línguas e narizes e até sacrifícios nesses antigos tempos dos Etruscos, nossos primos afastadíssimos do tempo neolítico.
Do tempo do Ferro, do cobre ou do bronze. O progresso com novas descobertas relegam estes instrumentos à semelhança de muita estórias, para as prateleiras de caves escuras e solitárias dos museus. O desprezo por via do não uso dos modernos desumidificadores, mofou-as mesmo sendo naquele então um artefacto com tecnologia de ponta.
No meu jeito de ver, sinto que tenho o dever de a agraciar porque, depois duma abrilada peçonhenta na mistura duma guerra de tundamunjila (Ponte da LuaLix sem retorno, nem estorno – Angola via M´puto) só me resta esta postura erecta. Não há forças que destruam lendas… Aos velhos será cruel deixá-los privados de bom senso até, não se lhes fazer perguntas de passados não amistosos porque das muitas noites, das muitas injustiças pode sem se querer saírem à luz do tempo a mostrar gigantescas feridas.
Talvez daí venha o termo “um raio que os parta”. E, também daí, abrirem-se gavetas com alvissaras ranhosas, cuspidelas de heróis tísicos da cabeça, ou mesmo gavetões, com ossários feitos pó. Por vezes fico esgravatando meus neurónios, ponho as mãos na testa como um pensador e, o curioso, quando tapo esta, sempre se vê uma bola roxa no centro esbatendo-se na amplitude dos diâmetros sem bordas. Foi assim na meditação profunda que recebi o legado de como matar lacraus e cobras com enxofre… Isto ficará para outro xicululu…
O Soba T´Chingange
CICATRIZES DO TEMPO – 21.07.2019
-Mujimbos com borututu ou o interstício das falas… O drama da vida é a perspectiva mais comum da consciência – O sentido das palavras
Por
T´Chingange - No Alentejo do M´Puto
Falando de costumes, torna-se necessário tê-lo em conta para definir os parâmetros do carácter dos muitos povos com influência sobre as línguas. O sentido verdadeiro de certas palavras escapar-se-há sem este conhecimento! Há uma semântica a dar rumo a isto ou aquilo porque de uma língua à outra, a mesma palavra tem mais ou menos energia, pode ser uma blasfémia ou uma injúria em uma e, não significar o mesmo em outra.
Teremos por via disso de analisar segundo o texto para retirar a ideia certa que a ela se atribui. Assim que sermos todos idiotas não é mau porque temos ideias mas o caminho desta palavra foi sendo deturpado porque hoje há mais idiotas do que bons ideólogos. Nossas ideias terão este ou aquele sentido segundo o parecer de cada qual que as lê ou ouve.
Na mesma língua e, em países diferentes, certas palavras perdem seu significado alguns anos ou séculos depois. Uma tradução rigorosamente literal, não exprime sempre na perfeição um certo pensamento! É necessário por vezes empregar, não as palavras correspondentes, mas palavras equivalentes ou perífrases. Por vezes rebusco meu dicionário “on line” saindo daí mais espevitado do que o nosso estimado Suassuma que jorra sabedoria como uma cascata de água borbulhenta.
Em meus escritos, refiro-me por vezes a vidas periféricas em função dum estado de dependência, a vivências diferenciadas, conceitos entalados pela semântica no uso dessa palavra. Se não se levar em conta o meio, o tempo e o local na qual se vive ou se viveu, ficar-se-á exposto a equívocos. Uso em meus escritos palavras próprias do local em que a cena se passa e, quando é mais abrangente notar-se-á falas e linguajares com jeitos e trejeitos locais…
Não creio que virá daqui mal ao Mundo, a não ser que se ponha a vírgula no errado sitio ou mal estacionada como é vulgar vermos as patinetes silenciosas atiradas a eito por todo o lado, coisas sem lei nem roque – ideia de puros idiotas. Uma coisa são alhos e na outra já serão bugalhos mas, nem quero ir por aqui metendo-me voluntariamente numa guerra de palavras canibais...
Posso citar as muitas interpretações do livro maior chamado Bíblia mas, isto de recorrer à boca ou boligrafo dos outros é bem desprestigiante segundo se diz, por via desse tal de paradigma estabelecido na ética com plágio e, ou outras nuances que nem um credível ET - Extra Terrestre sabe discernir. Sabe-se que a língua hebraica não era rica e muitas das suas palavras tinham vários significados. Estou-me a lembrar do termo camelo que naqueles idos tempos se designava a um cabo (fio entrelaçado).
Nas fases da criação e em géneses um cabo como hoje conhecemos era feito de pelos de camelo entrelaçados e, daqui chamar-se ao pequeno fio de camelo; conhecer-se a alegoria do buraco da agulha ajuda a entender o que vulgarmente se consideram de ditos: “ É mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus”. Não posso assim reconhecer-me em mérito ou em plenitude se separar do aconchego da amizade, o entendimento das coisas! Não é esta a minha real afeição.
Quando digo em Portugal (M´Puto) que “a malta não gosta da bófia”, no Brasil não entenderão; irão pensar que me refiro a um grupo de gente bóia-fria (tarefeiros ou ganhões) que colocam carris ou solipas em um qualquer trem. O sentido vai assim para o brejo, o mesmo dizer-se que vai para o lixo ou para a basura. Estamos em permanente descoberta pois que só agora estão descobrindo que em nosso corpo há um novo órgão: o interstício, um espaço que incha e desincha, um grande órgão celular, sistema de comunicação que actua em órgãos diferentes como uma via de união entre todos os outros órgãos.
A partir de agora um inchaço será por culpa do interstício. Sem discutir as palavras, é aqui necessário procurar o pensamento que parece ser este com mais evidência: “Os interesses da vida futura sobrepõem-se a todos os interesses e todas as considerações humanas”. Por vezes largo meu corriqueiro linguajar, puxo pela memória e saem coisas ditas eruditas, com bom senso, dirão muitos alinhados e alinhavados em suas mentes. A mente e o corpo humano continuam a surpreender-nos.
O interstício já tinha sido definido como o “terceiro espaço”, mas nunca o tinham considerado um órgão. Cientistas, em pleno século XXI, propõem agora que o interstício, formado por um espaço com fluido em circulação, se torne um órgão do corpo humano. Eles, revelam-nos que temos um órgão que nunca tinha sido considerado como tal.
Chama-se interstício e é formado por um espaço com fluido que está nos tecidos conjuntivos por baixo da superfície da pele, reveste o tubo digestivo, os pulmões e o sistema urinário e rodeia as artérias, as veias ou a membrana entre os músculos – tudo numa única estrutura. Pela primeira vez, os cientistas descrevem este órgão e consideram-no um dos maiores do corpo humano. Coisa bem interessante.
Ilustração de Assunção Roxo
O Soba T´Chingange
MALAMBAS . CCXXVI
UM CACTO CHAMADO XHOBA . VI – 07.07.2019
– MALAMBA é a palavra
- Boligrafando estórias na cor antiga em Ondundozonanandana (Perto de Etosha). Estávamos em Sossusvlei, terra soprada com areia… Foi no ano de 1999 com texto agora reescrito em algumas partes...
Por
T´Chingange - No Algarve do M´Puto
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NAMIBIA, em dialecto Ovambo significa terra do nada. Foi aqui que vi as melhores paisagens nas minhas viagens por África. Saindo de Luderitz atravessei com o clã T´Chingange todo o Naukluft Park para chegar às grandes dunas do Sossusvlei; acampamos em duas tendas em um espaço próprio no início da zona interdita, activamos uma fogueira comunitária e deliciamos o ouvido com os sons da noite.
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As noites neste deserto, aliás como em todos outros, ficam frescas assim que o sol desaparece no horizonte. Aqueles montes enormes de areia deixam em nós a sensação estranha do quanto somos pequenos. Tivemos de preencher uns papéis para recebermos autorização de entrar no parque dos diamantes, não nos era permitido afastar-nos do trilho com outras recomendações a cumprir. Iriamos sair ainda de noite para chegarmos ao nascer do dia á duna nº 45.
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Saímos ainda noite em comboio de carros, jeeps 4*4 e, turismos como o nosso. A claridade ia surgindo e, apanhamos o nascer do sol a meio da subida nessa duna quarenta e cinco; em fila indiana gente de muitas latitudes, falando línguas diferentes estavam ali, tal como nós para saborear a natureza em toda a sua plenitude. O sol com o seu disco grande e amarelo ia subindo no horizonte do lado esquerdo; uns mundos de sombras movíveis rodeavam-nos como coisa galáctica; o amarelo das dunas contrastava com o preto das sombras.
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As figuras sinuosas a mudarem a todo o instante - algo nunca antes visto e em um palco de grande espaço, aonde também parecia nos movermos como numa ilusão sem infinito. Naquele dia casei com Sossusvlei; a fina cortina de areia desprendida pelo vento mais parecia uma seda ondulante de noiva roçando o meu rosto, os meus olhos, a minha boca. Beijei a areia feita um véu, como se fora um deus menor e os sinos das cigarras disseminadas em esqueletos de árvores perpetuaram para sempre ao meu ouvido aquele som.
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Ali era um bom sítio para entregar a alma ao criador. Foi sem dúvida a mais bonita catedral que já visitei. Se por ventura viver 333 anos, quero lá voltar na segunda metade do meu percurso. Ali, o feitiço tem mais encanto, coisas que não se apagam da retina. É esta, uma das imagens que afagamos nos dias de indulgência, nos dias de amarguras involuntárias, nos dias impregnados de incontidas revoltas. Valeu a pena subir aquele morro de areia ondulante – figuras sobre milhões de grãos de areia ora amarela ora avermelhada; levou talvez uma hora a chegar ao topo, dois pés para a frente deslizando um para trás.
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Ali, e naquele momento, aquilo era o céu. Envoltos em azul vivo, escorregávamo-nos no vermelho longínquo tremelicando a cércea no horizonte das terras altas, o amarelo ouro das dunas e o preto das sombras, cada um de nós se sentia "um senhor do mundo". Sossusvlei ficou para sempre gravado na nossa memória. Para trás (dias antes), ficava aquele pedaço de coisa caído do céu, uma bola de fogo rija como o titânio; o tal de Meteorit caído no meio do nada, como que uma pequena recepção feito bolo num imenso Calahári.
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Na Namíbia a distância não se mede em quilómetros, mas em tempo e, percorrer todas aquelas distâncias é como completar uma missão impossível. Após pagarmos uns poucos "Randes" a um homem fardado, entramos no tal lugar. Lá estava aquela coisa com 60 toneladas, uma liga de fusão vinda do Universo, dum infinito lugar. Meteorit era o nome indicado com a referência de Hoba West, não muito longe de Grootfontein (em África tudo fica perto, é ali mesmo patrão, mwadié).
:::::50 Meteorit (foto de foto)
Toquei aquele titânio rijo e frio, embasbacado sentei-me observando-o por algum tempo. Sentado na duna recordava os anteriores dias anoitecidos num universo de estrelas – ali a noite cai rápido. Posso imaginar quantos fotógrafos desejariam estar ali no Sossusvlei sem ninguém à volta por dezenas de quilómetros, sem qualquer ruído e acompanhados apenas pelo último raio de sol, pelas primeiras estrelas no céu imaculado da Namíbia e, o brinde no topo deste cenário, numa noite de lua cheia…
(Continua...)
O Soba T´Chingange
OS FALCÕES DE NOSSAS VIDAS - OS FALCÕES DAS MINHAS PRAIAS - 02.07.2019
FÁBRICA DE LETRAS DA KIZOMBA
Por
T´Chingange - Na Lagoa do M´Puto - Algarve
Envaidecendo-me entre tufos de aroeiras, de orelhas e nariz arregaçados, espaireço-me com tudo com mais os olhos de ver recordando que as raposas daqui (que aqui havia) escasseiam mas, ao invés disso no outro M´Puto - Portugal, as raposas crescem duma forma muito inaudita, ladinas como nunca visto, nem previsto.
Bufando minhas raivas pelos poros e no topo das falésias, olho e ouço barulhos de coelhos fintadores e assim num turbilhão de espairecer o físico e a mente, chego aos níveis de enriquecimento ilícito por via da corrupção. Portugal está negligenciando isto! Piso pedras agressivas neste caminho de sobe e desce pensando, quando só queria mesmo enxugar minhas lamurias por só ouvir tantas e demolidoras atitudes sem vislumbrar acções drásticas, o quanto baste.
Ao longo da minha vida gozei de muitas e belas praias; umas houve que ficaram no canto da retina, surgem às vezes em pensamentos ou sonhos. Em Angola a praia da Samba em Luanda aonde aprendi a nadar, a surfar, a pescar, a brincar às jangadas com bidons roubados nas obras públicas, coisas de candengue. Os falcões dali e agora, não são pássaros, são gente feitos “Falcão-kissonde”. Depois mudaram-se para o Mussulo, feitos já suas excelências com um pelotão de mocambos, auxiliares com bajulinhos embutidos em cheiro de aviário. Assim, vuzumunam ali a sua petulância, prepotência e poder com banga de mwngolé.
Da Praia do Francês em pleno Nordeste Brasileiro não há falcões na forma de pássaros; em sua substituição há urubus pela costa, nos coqueirais, como se fossem gaivotas. Mas, há muito mais pelas urbes grandes, pelos municípios e com suas duas pernas fazem fintas com cambalaxos no jeito de borralheiro dão bassulas - remendador de pneus, remendando nosso kumbú, nosso pilim, nosso suor feito dinheiro.
Em todo o lado parece ser assim! Maldita confraria de larápios, falsos falcões - falcões do M´Puto, de N´Gola ou dos Brasis - predadores. Bem, agora e aqui, aqui aonde calcorreio falésias, são mesmo pássaros; acompanham-me por vezes. Assim é na Praia do Carvoeiro do Algarve com sua recortada costa cársica e aonde nidificam, ora roubando os ninhos já feitos à outra passarada, ora construindo-o em ranhuras de rasos arbustos; limitando-se a pôr os ovos directamente sobre a plataforma escolhida; não é raro encontrar ninhos de Falcões em buracos de ruínas ou na própria falésia.
Pensando e circundando com os cuidado requeridos por via de pedras roliças penso na treta de "Presunção de inocência" e dessas saídas manhosas que os DDT usam com seus bandos de doutores advogados que tudo fazem para se guindar na vida nessa mesma forma corrupta - Falcões ou Corvos especialistas em subtrair nossas migalhas. Outras vezes esperam tanto que a propósito a lei tal e seus edeceteras, expiram... Os colarinhos brancos sempre se safam e, por isso recordo um linguajar de pergunta, ao jeito brasileiro "Mas, quando é que um RICO vai para a cadeia?
Iniciei esta crónica para falar dos falcões e acabei por me debruçar nos predadores feitos homens que surgidos de muitas latitudes da Globália também para aqui vieram; só que alguns têm as garras demasiado afiadas e, falar deles é só criar contratempos. Falando desta costa com praias de maravilha que são património vivo, seria muito bom ficarmos resguardados da malvadez, humana, e da sua utópica sustentabilidade tão apregoada. Aqui direi: " Quem tem dinheiro vê o mar"; quem o não tem fica "A ver navios"...
Passeando minha reforma entre carrascos, arruda, e espinheiras com arranha cão e quinambas, recolho espantos do mar vendo por vezes golfinhos entre os leixões ali tão perto; contornando algares sinto o restolhar de roedores, coelhos e perdizes que esgravatam entre as rosas- de-cão, orquídeas Ophrys lutea, speculum ou maios-roxos nos vales suspensos.
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Com mais tempo falarei destes caminhos dos promontórios e vales suspensos de carbonatadas rochas com mais de dezasseis milhões de anos e, do alvoroço das primeiras horas do dia. Das torres de vigia do tempo dos romanos Falarei entre coisas do nosso dia a dia com falcões de verdade ondulando o que seja com os cantares de rolas e pombos bravos, toutinegras, gralhas e até gaivotas.
No Torreão da Atalaia, a nostalgia estava escrita com rasgos na pedra; sicrano e fulana aos tantos de tal, estiveram aqui com todo o amor do mundo. Um lindo sítio para perpetuar aventuras, apalpar os dígitos das luzernas como um farol de vida desenhada assim porque, uma vida sem memória não é uma verdadeira vida! No final as cigarras, já fantasmavam minhas antigas alforrias.
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO . Espreitando pelo postigo da memória antropológica - 29.06.2019
Xicululu é mau-olhado, olho gordo e, normalmente invejoso…
Por
T´Chingange – No Algarve do M´Puto
Desde que me lembro de conhecer o mundo, cumprindo o curso da vida, obedeço sem outro querer à ordem astronómica dos astros que me regem. Que regem qualquer um por muito que se diga ser-se agnóstico, ateu ou de um sem numero de sinónimos enganadores. Com Deus ou com a Natureza vai-se definhando em rugas e surgem crateras apocalípticas de cores preocupantes e por vezes bem periclitantes. Num repente, deixa-se de ser o maior, cumprindo a profecia e, mesmo sem o querer, também nesse constante nascer e morrer, um susto, uma crise, um desenlace com um ái ou úi, num valha-me Deus
Na sequência normal de passarmos nesta trilha, o filho sepultará o pai depois de muitos e fartos dias de inquietação; sempre vai ser assim até à eternidade de cada qual, semelhante a um sopro, seus dias passarão como a sombra no tempo aonde só a memória é capaz de fazer mover e aproximar; animados a crescer o quanto se possa, dependendo claro, de terem o coração amargurado ou dócil e, na vil preocupação de ter os impostos em dia – um paradigma involuntário fabricado por nós para fazer vingar a democracia aonde uns saem mais bem fartos do que outros.
E, como diz a sombra esquerda de Saramago, o tempo não é uma corda que se possa medir nó a nó; é uma superfície oblíqua e ondulante, dependente da memória como já foi dito. O sol, o ar, a água, e a terra, têm de ser considerados permanentemente parte de nós. O sol é a verdadeira fonte da vida e, ao invés do que alguns conceituados doutorados dizem, ele não é prejudicial; não é o sol que provoca o câncer de pele mas sim os muitos venenos que ingerimos e que serão queimados ao serem expelidos por ela.
Numa tarde já descaindo para a noite, habilitando-me a ser ninguém entre tantas e curiosas vivências, gozava do sol morno na Ilha de Santa Maria dos Açores, a mais ocidental das nove ilhas Da esplanada do Hotel Cinco situado no alto da chapada, aprecio a manta de retalhos definindo os retalhos de terra. Terra de cada qual e, descendentes de Gonçalo Velho Cabral que em 1431 colonizou. Terá sido a primeira ilha dos Açores a ser avistada, por volta de 1427, pelo navegador português Diogo de Silves. Posteriormente, em Fevereiro de 1493, Cristóvão Colombo escalou esta ilha no regresso da sua primeira viagem à América; terá sido na Vila do Porto, o único da ilha aonde terá aportado. É daqui que falo, pisando a calçada desse Colombo!
Rodeados a muros de pedras vulcânicas, canas ou milho e pontículos de hortenses, é um rendilhado que nos consola. O mar divisa-se ao redor do lado esquerdo e, não muito longe e junto à costa acidentada ouvem-se tiros; pode perfeitamente ser de um caçador de coelhos porque aqui eles, são quase praga. Desde o aeroporto até à Vila pode ver-se terras trabalhadas com amor como quem faz filigranas entrecortados por fios verdes que descem as vertentes tapando linhas de água que as tornam encantos refrescantes.
Estávamos no penúltimo dia do mês de Julho de 2005, dia 24, sessenta anos feitos, dia de festejo a Santa Bárbara com cheio e sabores direccionados ao povo que por tradição levam a rigor o oferecimento das sopas do Santo Espírito. Fui ver os mistérios da Nossa Senhora dos Milagres e assistindo à missa, pude ver a coroação do Imperador e Imperatriz que irão coordenar as festas do ano seguinte, dar sopas ao povo até ao domingo de Pentecostes. Tinha tudo isto anotado em um papel timbrado pelo Hotel Cinco de Santa Maria e, já quase a rasgar inutilidades, ao reler, quis o destino ser fruto deste escrito passado que são catorze anos desse então.
Na procura de um porquê, uma vida cheia de entãos, o ser só agora, só posso dizer que é um fruto do acaso tal como um tesouro de vida e, como um milagre que sobe a rampa dum fim de Mundo, a mesma rampa que desce para o Porto da Vila lá embaixo, uma pequena e pedregosa enseada. Tenho anotado o nome do Padre Chaves que presidiu àquela missa e à margem uma indicação aos “Impérios Marianos”. Notei a forte presença de emigrantes açorianos vindos da América e Canadá – gente que perpétuo este oferecimento de comida e bebidas a custo zero – oferendas graciosas que fazem distinguir esta ilha de todas as demais. Uma experiência única, a dos cultos Marianos.
Ao que se diz este culto vem desde os milagres da rainha Santa Isabel, esposa de Dom Dinis que nos ofereceu o milagre das rosas e, que deu sequência a outros nomes como o de Nossa Senhora da Conceição. Os Impérios do Divino Espírito Santo são um dos traços mais marcantes da identidade açoriano, constituindo um culto que para além de marcar o quotidiano insular, determina traços identitários que acompanham os açorianos para todos os lugares onde a emigração os levou. Para além dos Açores, o culto do Divino Espírito Santo está hoje bem vivo no Brasil (para onde foi levado há três séculos) e na América do Norte. Não é por acaso que a Ilha de Florianópolis do Brasil, é considerada a décima ilha dos Açores…
Fui com Ibib a um cruzeiro visitar o pedaço mais pequeno de Portugal - as Ilhas Formigas! Não me lembro do nome do barco grande que nos levou lá, mas só posso dizer que ali ia a maioria do povo morador naquela Ilha de Santa Maria, demos uma volta ao farol daquele montículo de rochas no meio do mar agitado e azulissimo. Depois daquelas águas fundas com golfinhos a nos saudarem e já no regresso, quase noite, assistimos ao fogo-de-artifício ao largo da praia de São Lourenço. Para trás ficaram as Formigas, traiçoeiras ao ponto de provocar muitos naufrágios. Assim foi em tempos idos de quando as luzes não piscavam porque nem farol havia e, a espuma das ondas pretas ao bater nas fragas pretas, ficavam escuras…
Formigas era um sítio aonde os dias se cruzavam mal com as noites e, porque o nevoeiro assim originava, criar mistérios. Entre parreiras nas encostas trabalhadas na forma de curraletas, cheirei os vinhos, bebi verdelho e, assim num lugar aonde tudo parece ser uma outra coisa, deixei um pedaço de mim. Há ali, um claro permanecer de doutrinas esquecidas, inspirando manifestações religiosas e acções rituais e simbólicas que perduram até hoje. Talvez por influência dos franciscanos espiritualistas, que partilhando com os primeiros povoadores as agruras da colonização, o culto do Divino Espírito Santo que, por apagamento se deixou de ver na Europa – Pois! Porque cada homem é um mundo, tem que ao tempo, dar-se tempo…
O Soba T´Chingange
EXCESSO DE OPINIÃO – Parte DOIS – 27.06.2019
- O cerne da corrupção surge-nos na forma mais agravada em instâncias superiores. É aí, que as leis têm de ser mais efectivas sem se cair num vulgar descaso judicial dando contas à democracia …
Por
T´Chingange – No Algarve do M´Puto
É verdade que todos temos direito a uma opinião mas, uma partilha ou notícia em uma qualquer rede social tem de ser fundamentada. No mínimo, convêm fazer uma triagem através dos vários motores de busca conhecidos. Pois! Isso dá trabalho mas, aprende-se bastante. Muito do que se lê nas redes sociais terão de ser interpretadas como trocas de galhardetes porque é aqui nos novos meios de comunicação que se proporciona a oportunidade de se fazer brilhar a ignorância ou sapiência.
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O certo é que no tempo, tudo mudou e, muito rapidamente. O que interessa na mente de alguns utilizadores é a de “rasgar e ou esfolar”, com ou sem razão, com ou sem conhecimento, no intuito de se fazer notar. Não compreendo como é que não lendo, não interpretando e não pensando, se podem ter opiniões tão críticas e absolutas. Como sabemos, actualmente poucos lêem, poucos o fazem de cabo-a-rabo, pois isso dá trabalho e o tempo “ruge”.
Os motores de entretenimento e afins fazem quase tudo por nós e, basta o clicar em um rato para num repente sermos os donos do pedaço quando, em verdade somos tão só um veículo de propagação duma onda que nem sempre sabemos qual a sua origem. Na informação torna-se mais fácil ler só o título e, logo ali fica formada uma posição ou opinião sobre um qualquer assunto; em realidade teremos de usar os métodos de escrita usados em meados do século XX por Graciliano Ramos (1892-1953) o autor de Vidas Secas com episódios de superação à sobrevivência.
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Ao concebermos um texto, uma crónica ou um acontecido, teremos de primeiro esboçar, pôr de molho, ensaboar, depois lavar, colocar a corar, curtir, enxaguar, e fazer com que nosso sol se aconchegue na secagem, a ideia final. Antes de a colocar no ar, de a escrever ou de a publicitar, haverá que dar uma última leitura para que já tudo engomado se possa dobrar e arrumar na gaveta correspondente!
Infelizmente nada disto é observado e, é lamentável que não se leia um artigo de fundo, um esboço ou síntese de um livro de que se goste, coisas acreditadas por busca consciente via internet ou em páginas credíveis e com senso comum; assuntos mais alargados, mostrando o substancial que nos levem a dizer: Valeu a pena! Interpretar preto no branco o que é de justeza ou dissertar sobre uma palestra – enfim, com assuntos de interesse e sem uma qualquer gratuita agressividade.
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Estas duas crónicas versando o tema OPINIÃO surgem porque me cansa o excesso de “falas” e de sabedorias que por aqui e ali abundam. E, porque este assunto é deveras transcendente debruço-me neste tema que por vezes é mentira; assim, quase caindo do topo do cume, chego ao Imperador D. Pedro I, Imperador do Brasil e IV do M'Puto – Portugal, que fiquei a saber estar no cimo do galheteiro na Praça do Rossio de Lisboa. Pensava eu que era mesmo D. Pedro IV mas, este cara-de-pau feito bronze, é afinal esse tal de Maximiliano I, o imperador do México.
Faltou dizer que o Imperador Maximiliano I do México, era tão fajuto, um falsificado, de tão fraca qualidade que desmereceu confiança fazendo-o passar por um genérico! Não deve vir mal ao Mundo mas é queiramos ou, não uma falácia. Os Tugas não queriam gastar dinheiro e por isso a estátua ainda está por lá dando caldinhos de matumbo ao povão. Isto há coisas… Que tal seria a crise desse tempo para colocar em um lugar nobre alguém, e a custo baixo quem nada era no país da Lusofonia, dos PALOPS ou da CPLP- (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa). Talvez a gente desvenda com tempo estas bizarrias da governação daqueles idos tempos - fim de século XIX.
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Consultei o Mwata Januário Peter para entrelaçarmos estas fricções da história e também falar de um rei dono dum território chamado Estado Livre do Congo e, ele confirmou que aquele, era tempo de muito cacau no conhecido Zaire e, que por via dessa abastança, ofereciam mãos de chocolate uns aos outros. As efemérides na suposta metrópole que era a Bélgica era um procedimento normal. Um horror! Coisa assim, como de quem oferece um sapo feito de açúcar a um estudante! A Policia de Leopoldo recebia soldo extra por cada mão de fujões! Entenda-se por escravos os negros que se escapuliam dessas obrigatórias colheitas. Iremos com tempo, pormenorizar este trato tão vil…
Mas, era ver cestos de mãos... Coisa macabra mas real! O que nós vamos descobrir! Andamos a colocar flores no falso D. Pedro IV na praça Maior do Rossio e, afinal é aquele Maximiliano, Imperador do México que nasceu na Áustria, familiar do outro a quem D. João III ofereceu um elefante e que foi obra literária do Nobel Saramago! Esta crise, já vem de longe! Estes acontecidos são assim descritos porque o labirinto das verdades tem muito silvado e ao invés de as cortar com DDT e ou outros venenos, aproveito comer as amoras.
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A Kianda Roxo que se fez anunciar envolta em coloridas dúvidas de espanto confidenciou a mim e Januário estar muito intrigada nessas "trocas e baldrocas estatuárias" dizendo por fim: -São para mim, uma surpresa -"tadinho" do D. Pedro IV - trocado pelo Imperador do México... Ambos imperadores, ambos das Américas... "Prontus"- na viagem de barco trocaram tudo... SERÁ??!!! Mesmo sendo uma kianda Roxo confidenciou por fim que se a curiosidade matasse ela preferiria ser só uma assombração de Guaxuma aposentada.
Com o fim da Guerra Civil Americana em 1865, os Estados Unidos começaram a fornecer apoio directo e substancial ao Presidente deposto Juárez e seus comandados que as tropas francesas tinham apeado do poder. Já é o insigne professor Júlio da Figueira a falar seus conhecimentos, rematando: Os americanos do norte viam com muito maus olhos qualquer intervenção europeia em assuntos do continente americano e viam o México como parte vital da sua esfera de influência na região. Isso piorou consideravelmente a posição de Maximiliano I empossado por Napoleão e a situação começou a ficar insustentável a partir de 1866 quando as tropas franceses começaram a se retirar do México.
O império auto proclamado pelo Maximiliano rapidamente entrou em declínio e sem contar mais com apoio interno ou externo, foi capturado e executado por forças do governo republicano mexicano em 1867. Mas, coube-lhe a glória vã e falsa de ter merecido ser trocado pela estátua do rei Tuga e Imperador do Brasil e, ser ele e não o verdadeiro, que estaria bem lá no alto a olhar a baixa pombalina por cima do seu bem alto pedestal; Pois é! Este, chegou a estar sem estátua nenhuma ainda uns bons tempos aos que os lisboetas da época chamavam de "galheteiro"! Muito haverá a dizer mas fica para uma outra crónica; após esta intervenção graciosa do Profe, todos fomos ver a novela das oito – “Órfãos da Terra”…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
EXCESSO DE OPINIÃO – Parte UM - 23.06.2019
- As leis da natureza dizem que independentemente do estatuto parental, todos nascem pelo mesmo local: -Nus e ateus…
Por
T´Chingange – No Algarve do M´Puto
Entretido com a rega de minhas verduras espalhadas por aí a eito e sem jeito, salsa com jindungo e hortelã mais hortenses e boldo ao lado do doutorzinho, venho aos solavancos entre o tempo dado ou esquecido das nove tomas de rega, escrever algo entre o muito que desejo escrever antes que as ditas pensadas nuvens se esfumem num aquecimento ou puro esquecimento; Meus pensamentos por via de não o serem caligrafados ou psicografados de forma instantânea como o café mocambo, provocam atraso a tantas e, tantas estórias que me dá dó não o serem, contadas, xinguiladas! Nestas alturas queria mesmo ser um ET, carregar num botão só pensado e, logo num repentinamente, ver afluir como uma flor as notícias do T´Ching…
Foto: Angola - Revista 'NOTÍCIA', n. º 381, de 25 de Março de 1967 (A morte de João Charrula de Azevedo)
Umas inventações criam mofo no baú do meu sótão, outras surgem e logo desaparecem como obra do chifrudo com quem nem simpatizo que as leva para as catacumbas. O título destas crónicas começaram faz muito tempo pela mão de Charulla de Azevedo na revista Notícia da Luua – a Luanda doutros velhos tempos num Um Ukulu esquecido por muitos e, a propósito, para não ficarem aturdidos. Sim! Ficarem com ataques de asma e ou até caspa. Porque Charulla se afastou para parte incerta defuntando-se com seus dois elles, levando com ele sua sabedoria para a terra, tal como as sementes de orégão que por aí andei espalhando a eito. Venho assim e, a bem das gentes, muito sem peneiras e de uma forma aleatória botar falas, feitas faladuras, como um banal linguajar
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A opinião e o esclarecimento são principios da maior importância para uma qualquer sociedade que se preze ao desenvolvimento. Claro que todos deveríamos ter a capacidade de opinar com conhecimento e fundamentação mas, a realidade que nos é dada observar é bem diferente; em umas, a bota não bate com a perdigota mas, outras são falsas ou demasiado facilistas para um plausível entendimento – recomendo cuidados…
Isto leva-nos a fazer uma triagem sem contudo eliminarmos as subtilezas de cada interesse porque as facilidades imperam e outos vendem a alma ao tal diabo chifrudo para contento de sua malvadez ou e também para originar desvios ao pensamento alheio. Como manobras de diversão, andam muitos mentirosos ao nosso redor vendendo gato por lebre, criticando átoa e, outros se lhe seguem transmitindo ignorância. O partilhamento, está hoje disponível a um simples clicar e, até faz lembra as comadres da época quase medieval dum recanto interior, lugar aonde Judas perdeu as botas.
Comadres que com sua boca de trapo faziam de mulheres sérias umas putas de baixo coturno, baixo calibre ou desclassificadas. Isto poderá verificar-se nos dias de hoje pela boca de gente que deveria ser estadista mas, que com seus propósitos nos fazem inevitavelmente numa coisa nenhuma. Nenhures que nunca aceitarei porque não me quero mentir, simplesmente e assim tão só e sozinho sem recorrer a sofismas políticos, merdosos de cheirar mal às orelhas, irritar os entrefolhos do cerebelo e olear de mau cheiro nossos pelos. Cabelos e até pintelhos… É que nestas alturas apetece-me dizer asneiras fedorentas para que toquem no ponto nevrálgico da alma.
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É mesmo uma bosta; hoje as pessoas lêem cada vez menos, escrevem cadavez (cada vez) pior e sabem cadavez menos daquilo que é importante. Apesar disso têm mais opinião sobre tudo e são especialistas nas críticas com visão de ponta, afiadíssima. As redes sociais são o espelho mais fiel disso mesmo e o palco ideal onde os ignorantes, tudo criticam, quase nem sabendo escrever. Outros, baseados nestas falas, opinam construindo uma mentira porque nem sabem que a água ferve a 100 graus Celcius. Pópilas! Fervem-nos a mioleira a troco de vaidades, tropelias, enganos, engodos açucarados de mel ou simples matumbice…
As redes sociais são assim e inevitavelmente uma caldeirada de coisas más havendo no meio destas, umas muito poucas a assegurarem alguma coerência, sem essa desmedida venda de ilusões, invejas, negatividade entre outras arbitrárias. Desqualidades na mistura de sexo com religião e, como se essas suas fotografias do reviralho tipo conde de Ficalho, sempre fossem as mais credíveis – ora bolas: ir para a cama futricar até ver o São Arcanjo e depois dizer, este foi o melhor momento da minha vida; no outo dia é do mesmo e por esse desamor, assim descartam a alma em detrimento da felicidade. Cumcamano!
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Assim, numa troca de galhardetes e ou fantasias numa oportunidade de um agora, brilham sua ignorância sem saber que o Maximiliano Austríaco de nascença foi também o imperador do México e que por lá morreu encostado a um muro, fuzilado a bem da nação! Se um dia eu o T´Ching… vier a se presidente da NIASSALAND, não se admirem; já esteve mais longe! Isso! Maximiliano de Habsburgo-Lorena foi o único monarca do Segundo Império Mexicano. Ele era o irmão mais novo do imperador Francisco I da Áustria. O mesmo a quem e, em meados do século XVI o rei D. João III oferece a seu primo, o arquiduque Maximiliano da Áustria, genro do imperador Carlos V, um elefante indiano que já há dois anos se encontrava em Belém, vindo da Índia dos Tugas.
Com uma poderosa imaginação, José Saramago coloca nas nossas mãos essa fricção - obra excepcional que é “A Viagem do Elefante”. Ele, Saramago fez-nos olhar a humanidade neste campo tão vasto de ironia com sarcasmo, marcas da lucidez implacável dele, combinando com a compaixão o desamor com que o autor observa as fraquezas dos homens. Sabe-se que ele também tinha um diabinho feito peluche dentro dele. Estou-me perdendo no fio enleado da meada mas, convém dizer-se a jeitos de saber mais que, aquele mesmo território aonde Maximiliano foi Imperador, foi vendido à América – vulgo USA. Creio que por um tal de Antonio López de Santa Anna, o Rosa Coutinho lá do sítio sem Tapurbana nem rio Zaire de permeio nem ter passeado numa jaula como um macaco.
A Compra da Louisiana, concluída em 1803, foi negociada por Robert Livingston, durante a presidência de Thomas Jefferson, o território foi adquirido da França por US $ 15.000.000. Uma pequena parte deste território foi cedida ao Reino Unido em 1818 em troca da Bacia do Rio Vermelho. Mais desta área foi cedida à Espanha em 1819 com a compra da Florida, mas depois foi readquirida pela anexação do Texas e a Cessão Mexicana. Para terminar haverá a tecer duas importantes considerações a levar em conta: Fé e política, não se impõe nem se prescrevem porque mesmo recomendadas, ter-se-á em conta que ninguém que esteja privado de as possuir representará a verdade. É isto a democracia!... FUI!
(Continua…)
O Soba T´Chingange
UM CACTO CHAMADO XHOBA . V – 21 DE JUNHO - 2019
– MALAMBA é a palavra
- Boligrafando estórias na cor antiga em Ondundozonanandana (Perto de Etosha). Estávamos ainda em Luderitz, terra soprada a frio e com areia, por Nosso Senhor … Foi no ano de 1999
Por
T´Chingange - No Algarve do M´Puto
Aqui em Luderitz, como as horas acordam cedo desfazendo-se em minutos gélidos pelos sopros do mar, gozando mais regradamente os bens da inteligência e da vida, remexo a chávena com meu especial milongo de adstringir triglicéridos, uma cachaça, aguardente do M´Puto trazida em contrabando; assim feito muambeiro, tomei com um agrado, aquele agora da vida na forma de café arábico. Desolando-me numa sinceridade gemida de tudo o que é ilusão, indeferia-me nos contornos que se transportam sempre às costas, um pessimismo que sempre se enrola no soalho do cerebelo.
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Assim taciturno, com o kispo enfiado pelas orelhas, todos os cinco, fomos ver o padrão de Luderitz numa ponta pedregosa colocado pelos Tugas naqueles tempos de quando ainda se alimentavam sonhos de grandeza com Diogo Can. Sei o quanto é difícil ler o indecifrável mas soe dizer-se que a teoria do pessimismo quando implodida num deserto, é bem consoladora para os que sofrem e eu, com meus sessenta e quatro anos nesse então, já não tinha fornalha para alimentar lentas combustões. Isso - Na forma de chatice!
Necessitando de renovar minha paz por mais uns dias em país que não o meu, insurgia-me contra essa maçada de pagar expedientes ou emolumentos numa terra com padrões de meus ancestrais situados um pouco mais a Sul e no lugar de Elizabeth Bay. Foi quando vimos as duas hienas esgueirar-se na esquina salitrosa dum prédio roído pela maresia; chafurdavam em um conjunto de bidons contentores contendo restos. Neste encanto de desespero entre o mar e o deserto, rendilhamos nossos sonhos com muitas pedras roliças, daquelas que já andaram e desandaram milhares de vezes a recordar que somos uns nada comandados por mistérios…
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Mesmo que rumine uma harmonia que me favoreça a dormir embalado pela mão de Deus, esta paz fica-me cara porque aqui na terra, os homens pagam-se bem pelos expedientes. Regressando à teoria do pessimismo, terei de concordar que é certo o que se diz de que o que tiver que acontecer, acontece, e neste caso aproveitarei rever um oceano de acácias, desertos e bichos na firme vontade de não ser extorquido como um qualquer turista para ver pedras e ou atravessar uma curta ponte construída pelos colonos. Em áfrica tudo é possível (TIA - That is África).
Coabitando com este gozo de incertezas, preencho a inspiração sem doçura, um veludo negro cuspilhando-me num desconsolo na alma. Mas como “há males que vêem por bem” acoitei minha curiosidade em ver cavalos selvagens por esta grande área aonde as areias foram tomando conta das casas; eram em tempos cavalgaduras dos alemães até que um dia em que os diamantes de sonho deixaram de aparecer a brilhar, Também a guerra grande que chegou até aqui destroçou vidas com brilhos cintilantes como as estrelas do céu que aqui e de noite são aos triliões.
Sem me assustar com a calma tremeluzente que carrego, trotei como aqueles cavalos a sobreviver alvoroços e, daqui segui, seguimos para Windhoek feito um naco grande de sabão p´ra macaco com almofadinhas de chita branca, carteira com dólares verdes numa forma de amaciar minha rigidez branca. Em terras de negro que, só parecem querer meu kumbú, irei rever meu Rundu, meus amigos fujões do outro lado chamado de Calai no Okavango, um rio de maravilha que desagua numa lagoa grande chamada de Delta. Outra corrida! Outra viagem! A vida é assim mesmo, como um carrossel.
Recordar a estória do final do ano de 1975 de, quando um General de Pretória num dia intercalado das guerras independentistas, chega um indivíduo sem nome a Grootfontein; Este senhor levando um visto de trabalho em nome de João Miranda saído às pressas de Angola; um Hércules C-130, levou a família inteira para Pretória. João Miranda que tinha todos os seus bens em Dírico, não queria por nada ir para Portugal, seu Trás-os-Montes na Miranda do Douro. A este homem quase lendário, deram-lhe um apartamento do tipo T4 totalmente equipado; o General viu nele o perfil certo para ser integrado no batalhão Búfalo por ser um bom conhecedor do terreno e falar a língua local e dos bosquímanos, os Khoisans.
A companhia Búfalo estava a ser organizada já algum tempo no intuito de intervir em Angola salvaguardando investidas comunistas. Ovoboland seria um território tampão àquele avanço. Dizia-se que estavam ali em Windhoek os recrutadores de possíveis militares a integrar naquele batalhão, eis PIDE-DGS. Tudo dependeria da aptidão e vontade de vir a ser um soldado da fortuna, vulgo mercenário, segundo os pontos de vista diferentes e diferenciados dos “mãos-limpas”. Foi lá no Hotel Safari que me instalei em diferentes fases da independência de Angola. Pela primeira vez comi ostras no gelo; ali, iria recolher elementos junto a muitos refugiados, alguns deles, agentes da PIDE que tinham uma noção exacta das movimentações em curso. Recordo um tal de Rocha de Oshakati, que me fez o especial favor de me dar abrigo numa casa em que a porta era uma autêntica obra de arte – Um imponente búfalo.
(Continua...)
O Soba T´Chingange
UM CACTO CHAMADO XHOBA . IV – 21 DE JUNHO - 2019
– MALAMBA é a palavra
- Boligrafando estórias na cor antiga em Ondundozonanandana. Estávamos ainda em Luderitz, terra soprada a frio e com areia, por Nosso Senhor … Foi no ano de 1999
Por
T´Chingange - No Algarve do M´Puto
Com destino ao povoado de Ondundozonanandana, lugar perdido no Norte da Namíbia, não muito distante do Etosha Pan e marcado em círculo no mapa Michelin, lá prosseguimos viagem a partir de Ai-Ais do Fish River por estrada pavimentada rolando quilómetros na savana até Windhoek a capital da Namíbia. Era para assim ser mas, chegados ao cruzamento entre as estradas B1 e B4 em Keetmanshop, derivamos para Luderitz pela Estrada nacional B4.
Andando por este mundo, mares, desertos, matos, savanas, anharas e terras agrestes com matutos e mamelucos de outras latitudes, estava agora a tornar-me um mestiço mazombo viajando na terra e no tempo, ora sem GPS porque ainda não existia ora perguntando aqui e ali ou riscando o mapa com esboços, nomes e cópias destes borradas de café, lama e até sarapintados de cafufutila, esses salpicos salivados de euforia que descuidadamente saltam das nossas falas eufóricas, entusiasmáticas.
Na minha vontade, parecia só querer ser uma lenda a comparar com o feito de Amyr Klink que sozinho e num barco a remos atravessou o Oceano Atlântico percorrendo sete mil quilómetros. Foi o primeiro feito a ser amplamente divulgado na imprensa internacional que ocorreu entre 10 de Junho e 19 de Setembro de 1984, entre Luderitz, na Namíbia (África) e Salvador, na Bahia (Brasil) – quinze anos atrás. Foi um feito invulgar a mostrar o quanto a tenacidade pode vencer um sonho.
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Juro que eu, em plena consciência nunca faria isto, meter-me ao mar sem balizas firmes assentes em algo de referência, como os padrões semeados ao longo da costa pelos Tugas, vendo só o horizonte curvo a confundir-se com o céu do Nosso Senhor! Menos mal que nesse tempo de lá para trás só se cogitava que o Universo não tinha bordos, era uma fumaça sem fim. Agora tenho a certeza que vou terminar meus dias sem saber aonde fica esse tal de cu-de-judas do fim do Mundo.
O mundo continuou a girar como sempre e, não mudou por este feito mas seus “Cem Dias entre Céu e Mar” ficaram nos anais da coragem marítima. Comparar-me assim minuciosamente com tamanhas aventuras é consolar-me com alheios fumos, fumos de charutos como se fossem pensamentos num tom cor-de-rosa que s perfilam em matemática quântica. Desfalecido nos ombros, um pouco mais tolo e muito mais míope, agora, já com a audição a não ouvir cantares de galo, coxeio-me em vozeados ambientes de cochichos frouxos. Coitado de mim! Bom - prá frente. Em Keetmanshop, procuramos em arcas carne de caça para fazer um brai-churrasco e acabamos por encontrar uma carne escura; era de órix, esse belo animal que se podem ver fazendo pose nas dunas de areia vermelha lá no horizonte.
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A senhora bóher do armazém-venda, queria impingir-nos outra carne porque aquela era de caça mas, mal sabia ela que era isto que procurávamos. Em seu conceito, não era normal os turistas comerem bichos-do-mato. Como podem verificar, missionando o toutiço, perdi inteiramente as minhas belas cores europeias, a cara sarapintada de funchos, crateras com rugas extravagantes. Isto só pode fazer confusão a quem anda sempre teso, com seus colarinhos engomados, cheio de obséquios e unhas estimadas, sem nunca sentir os medos indefinidos que arrepiam as carnes como pés de galinha. Desfigurado pelo tempo, cheio de cãs, estonteado pelos muitos calores, passeio pelo mundo o meu isolamento procurando entreter-me cada vez mais só; metido entre meus botões…
Por vezes as companhias são obtusas e confusas, cheias de nove e onze horas como se fossem os donos de todos os relógios; já me aconteceu destas tormentas mas, agora interessa é falar de Luderitz. Chegamos ali ao fim duma tarde, um frio com vento de arrepiar para cima de nós; aqui nem pensar em ficar em camping. A areia era cuspida pelo Nosso Senhor como gente abençoada e, assim tinha sido até aqui na estrada que nos trouxe. Recolhemo-nos no Krabbehoft Guesthouse Catering e apartments embrulhados em nossos kispos tiritando das quinambas.
Tudo ao molhe e fé em Deus! Havia gente jovem de muitos lados e na confusão do meu Inglês raspikui misturava-se com o je suis e falas com tremas na vontade de “seja o que Deus quiser”- Saravá! Dizia eu para desatarraxar as encrencas. Afinal não éramos os únicos malucos a andar soprados ao vento da aventura. Ao chegar ali, os hóspedes têm a sensação de ter caído repentinamente nas páginas de um romance de Hemingway, talvez Papillon. Bem! Uma mistura de tudo… Um espírito e, um ambiente ultra "bush", uma caserna bechuanaland com gente estendida pelos corredores dormindo em sacos cama. Lá fora as hienas castanhas farejavam os bidons de lixo, os restos, assim mesmo como se fossem cães…
(Continua...)
O Soba T´Chingange
T´Chingange - No Algarve do M´Puto
Se bem conhecem, a história da coca-cola foi objecto de um filme em que uma garrafa destas caiu em pleno deserto do Calahári e que daí, provocou para além da curiosidade as vicissitudes do mundo ocidental, o mundo dito civilizado. Recordo que neste então e, descrevendo sumariamente o filme, uma criança viu-se acossada por umas quantas hienas. O candengue sabedor dos costumes da tribo pegou em um pau colocando-o na cabeça; assim parecendo mais alto, as hienas não se atreveram a atacar o candengue Bushmen.
Estes, não mais irão ter de correr atrás dos macacos para saber aonde beber; terão à mão um chinocas, uma venda, quiosque cuca-shop para lhes venderem água e cachaça… A Bushmanland não mais será a mesma! A cento e vinte quilómetros a sul do Orange, num local conhecido por Springbok, pernoitamos numa palhota do tipo em que vivem os Bosquímanos: com estrutura circular formada de paus vergados e enterrados na sua parte mais grossa, entrelaçavam-se entre si na parte mais alta sendo o restante amarrado com fios feitos de casca de arbustos locais.
Estas palhotas do Springbok tinham 1,80 metros na sua parte mais elevada, cobertas a palha presa aos paus com a mesma casca, tipo mateba, deixando uma abertura com uns sessenta centímetros de largura e noventa de altura. Após ter feito uma prévia inspecção ao local circundante enxotando lacraus, aranhas e carochas, derramei um fio de gasóleo na parte de fora. O gordo bóher dono do pedaço, nada me disse para além de afirmar que estávamos seguros mas, eu não me sentia assegurado, se não fizesse isto.
O sol ali não é dócil, pus o meu chapéu do Karoo, montamos o Toyota e, bem cedo seguimos à descoberta do Fish River mais a norte; fomos três a descer ao fundo do Canyon que parecia perto, era logo ali e, o que pensamos fazer em uma hora na descida e subida, levamos bem perto de quatro horas, Ufa!!! Eu, Tilinha e Marco M´Fumo Manhanga…Que calor! Mas, por sorte sempre havia uma fria windhoek lager à espera no restcamp… Que delicia! Uma vez na vida, experimentem atravessar um deserto para ter o prazer de beber uma fria na chegada.
Já no topo do Canyon do Fish River a adrenalina escorria-nos nas faces, os olhos tremiam como a neblina matinal e, as pernas abanavam sentidos incomuns à magnitude das vistas em banda larga com “óoos e áaais” de espanto. Era o Ai-Ais! Estou em crer que foram estes Ais de admiração que deram o nome ao acampamento desta canyon. Já dias antes, tinhamos subido a Brandberg a ver as acácias solitárias, entre pedras vermelhas sobrevivendo a um deserto impiedoso. Os dias terminavam com suspiros de plena satisfação em curtos goles de marula tree sobre um sorvete Dom Pedro ou umas pedras de gelo gratinado…
kilundu: cerimónia de chamar os espíritos ao culto.
O LEGADO DE PIETER - A bolunga de xylinoide -17.05.2019
O Cipaio Kukia Edu Mandinga em ALHAMBRA, assiste admirado à vassoura espacial a pairar no ar...
Por
T´Chingange - Em Coimbra
O desanoitecer estava a chegar num dia novo de guardar memória; uma noite de minha alma arrependida de pena com contributos sentados na pedra do chão polido, raspado por tanto sapato retocidos de Aladino; sonhos alheios de tudo o mais de quando só era e, mal guardados pelo Cipaio Mor de nome Kukia Mandinga que os deixava fugir porque não os via. Seu spray de contornar kiandas invisíveis estava passado na data - Quer-se-dizer, não tinha sido fiscalizado pela suprema ASAE - Autoridade de Segurança Astral e Económica da Torre de N´Zombo.
Foi quando aconteceu! Uma moderna trotinete feita vassoura, vinda do além, do futuro e, em turbo silencioso uma senhora chegou toda práfrentex, soprada por um vento cheiroso, sentou-se depois de encostar a mesma em lado nenhum seu estranho objecto parecido com uma vassoura de piaçaba; pairou assim no ar e ali ficou bem ao lado de sua dona como se fosse um cachorrinho amestrado. Chamaram por mim? Olhando-nos dissemos: Não! Dissemos em uníssono mas ela, nem ligou e começou a falar e assim, nos compenetramos em seus dizeres.
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Tinha pena desses alheios medos fragmentados em porções, feitos pó mas, a vida dum T´Chingange, zelador dele mesmo - Soba, tem dessas periclitantes passagens pois que um M´fumo não pode em caso algum ser uma galinha depenicada na vontade de pra-esquecer: Por isso toma bolunga xylinium “legado de Januário Pieter” um alto dignitário, mano-corvo Mwata.
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Falaram em bicharocos de Kombucha e, esse, foi um toque mágico que aqui me trouxe, disse Ela, a Maga Patalucha voadora. Acabamos por anuir, ouvi-la depois de nos dizer que alguém a tinha designado de Fada Makota MSJ - Maria João sacagami, senhora dos anéis e do batom mais espelho com Oxumaré esperneando com Orixá velho e babando. No discurso directo dissecou: - Posso dizer que na verdade mesmo quem espionava por detrás dos imbondeiros dos meus caminhos era Iansã. Este Iansâ, nós desconheciamos por inteiro.
Sim senhor, sou bem capaz de parar a chuva ou fazer chover - para gáudio e medinho de alguns que me chamam de macumbeira e nem sabem o tamanho da Minkisi ou de quem a acompanha! disse isto e riu-se, riu-se até quase entupir um canal estranho que lhe saía algures por detrás duma orelha que tremia na captação de sons e bactérias espaciais.
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E, é assim na directa fala de Majô:- As famílias de bactérias que só podem ser vistas ao microscópio são sobretudo a acetobactéria xylinium que a partir do sétimo dia começa a formar ácido acético, outras famílias xylinoides, a bactéria glucuranium e a acet ketogenum. Agora o milongo fica caté que parecido com uma kissangua de chá ehehehhehehehe tal como a kissangua pode ser mais doce, menos doce, com frutas ou não.
E, continuou: - A diferença é que tens (com nossos ouvidos escancarados na escuta, já ela a MJS, que nos tratava por tu...) que ter a tal da colónia dos bicharocos de Kombucha mais 100 mililitros da águeta onde os tios vivem para poderes criar tua mistela. Juntas teu chá (escolhes qual, pode ser kaxinde, chá branco, preto, mate, hibisco e verde). Daí podes juntar frutas ou especiarias do teu gosto - gosto de anis e canela, às vezes cardamomo ou um toque de noz moscada.
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E, continuou: - Pode ser também grãos de café. As frutas se forem na forma de suco tem que ser apenas 100 mililitros. Deixas em pote coberto com pano fechado com elástico em temperatura ambiente e na sombra. Dependendo da temperatura ambiente entre 5 a 15 dias vai haver mudança no sabor ficando bem menos doce mas não avinagrado. Tiras 90% do líquido para uma garrafa e juntas as especiarias e/ou frutas. Fechas bem, deixando-o no ambiente até ter pressão; quando estiver pronto para tomar, se não for de imediato, terás de o colocar na geladeira para consumir em até 10 dias.
O que fica no primeiro pote recebe mais chá. Se ficares cansado de tomar, juntas 500 mililitros de chá e deixas por até 2 meses na sombra fresca. Se ficar muito envinagrado, jogas fora 90% do chá e deixa-lo fermentar em menos tempo. Alerta para nunca se fechar o kombucha com rolhas; usa pano ou filtro de café com elástico. Ele, sem oxigénio morre! Usa açúcar daquele amarelinho. Se usares garrafa de vidro no processo final cuidado, porque tal como a kissângua, fermenta e explode.
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Ficamos todos encantados com tamanha explicação e nos detalhes meticulosos. Pois assim é disse Januário Pieter depois de agradecer sua vinda. Curiosamente até se curvou como se fosse uma "zeladora". Uma vez que Oxum fez vénia, só poderás entrar na estória como ZELADORA DOS ORIXÁS! E, coisa incomum, deu-lhe um beijo repuchado na mão direita... O Cipaio EDU - o lanceiro-poeta da Chibia, um branco de segunda de N´gola já de terceira geração, estava simplesmente abuamado, espantado, olhando sem pestanejar para aquela vassoura espacial a pairar no ar.
Januário acrescentou à coisa dita:- As famílias de bactérias que só podem ser vistas ao microscópio são sobretudo a acetobactéria xylinium que a partir do sétimo dia começa a formar ácido acético, outras famílias xylinoides, a bactéria glucuranium e a acet ketogenum. Também ele, feito Mwata era um entendido nisso, coisa que desconhecia. As fermentações são processos muito complexos em que a menor alteração do liquido, chá verde e chá preto, pode produzir resultados muito diferentes e, daí a grande variedade de cervejas, vinhos, cidras e outros alimentos fermentados como o kéfir, pikles, queijo, tempeh, cshoyu, etc,etc...
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O chá é portanto o elemento principal desse liquido com cerca de 350 compostos químicos, distribuídos em: - 40% de glúcidos , 20% de proteína com aminoácidos (teanina), 2% de gorduras , 9% minerais de manganésio, potássio, magnésio, flúor e vitaminas B, B1, B2, B3, B6, B12, C e P; 29% são polifenois, flavonoides e catequinas do chá preto... Na prática fazemos um chá com água e açucar em quantidade por forma a produzir levedura com os nutrientes desses três elementos.
Háka! A conversa já ia longa mas haveria que ouvir na especialidade como deve ser. Para fabricar as enzimas que vão desdobrar o açúcar em glucose e frutose, o tamanho da placa de cultura deve estar proporcional ao volume do liquido pois que este se for em excesso diminui a produção de CO2. Deve portanto utilizar-se 10% do liquido “starter”, (inicial) no fundo do frasco aonde existem muitas leveduras e poucas bactérias.
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As leveduras, sendo muitas, respiram o O2 (Oxigénio) do ar porque também estão à superfície do frasco e, por isso, produzem três vezes mais CO2 mas, nenhum álcool. Convém dizer que o chá verde tem 2% de cafeína e o preto 5% pelo que, as culturas crescem melhor no chá preto. A cafeína e a teofilina são purinas usadas na construção dos ácidos nucleicos daí resultando em microorganismos como fonte de nitrogénio. Bom! Isto já ia longo. Por isso despedimo-nos temporariamente... Que seca! Disse eu, muito baixinho... Dei um ultimo gole e bazei!
Continuaríamos neste “legado de Januário Pieter”- mais tarde
O Soba T´Chingange
TEMPOS CUSPILHADAS – 13.05.2019
MULUNGÚ COM LARANJA DO M´PUTO
Passeando o esqueleto no Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves mais África, um reino outrora Tuga... Dou-me conta que me roubam laranjas, que me impingem telas de falsas Monalisas...
Por
T´Chingange - Em Coimbra
Há uns tempos atrás e, estando eu no Brasil, pessoa amiga referiu-se ao facto de em Portugal país visitado por ele nesse então, as pessoas serem disciplinadas, não terem o apetite do roubo ou cobiçar o alheio. Isto passou-se em uma praça da pequena cidade de Lagoa do Algarve; ele reparou que as pessoas passavam por aquelas laranjeiras carregadas de bonitas laranjas e o estranho, era que ninguém tocava nelas. Tomara, eram azedas!
Lembro-me de ter dito: - No M´Puto tudo é muito sofisticado, até no roubo. Mansamente os bancos e afins destes, vendem-nos laranjas virtuais e endividando-se roubam-nos assim à socapa e, não é de repelão não! Num repentemente o governo passa nosso dinheirinho para esses salafrários Berardos e Salgados, que armados com grandes honorabilidades e honestidades, cortam-nos as gordurinhas feitas laranjas.
Não sei se ele, meu interlocutor, brasileiro meio doutor, meio matuto entendeu mas, não desentendido de todo, quis compreender meu ponto de vista porque ele mesmo, tem uma boquinha do PT. O certo é de que isto sucede no M´Puto com o beneplácito do governo e até do nosso Tio Célito que feito Presidente sacode o pacote e abana seu chapéu com solidária condescendência com o Salgado e afins kazukuteiros branquelas como eu; com essa malvada banca que nos dá 0,005% nas contas ao prazo de um ano!
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Não havia qualquer impedimento por qualquer resguardo para as não alcançar - as laranjas da Lagoa do Al-Garbe e, não obstante estarem gulosas, bonitas a solicitar-nos esticar as mãos e recolhe-las, ninguém o fazia! Eu com a sede que tinha (disse o cara, brasileiro de Gravatá de Pernambuco) de até me apeteceu agarrar uma mas, retive-me mais por poder parecer mal do que outra causa; fiquei inibido proceder desse jeito disse ele; bonitas e nada de ladrões!?
A pessoa em causa, um nordestino juiz da comarca invisível da boquinha do PT que descreveu isto, desconhecia que as laranjinhas eram ácidas, azedas como trovisco e, nem me dei ao trabalho de esclarecer para subsistir na mente deles; que os Tugas não roubavam como era tão habitual, assim como eles o fazem no seu Brasil! Por isso têm muitos e muitas laranjas a fingir que o são mas, tudo uma mentira! Folhas inteiras de laranjas-gente a comer do fisco! Dos municípios, das bancas e instituições daqueles que agora metralham o Bolsonaro...
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E, a propósito omiti a verdade porque já estava farto de tanto desaforo colocando os Tugas como os larápios da América, blá, blá, bla, do pau brasil e do ipê-roxo; coisa que insistentemente ouvia referindo tempos idos no roubo das matas, das muitas especiarias, ouro e prata, um sem fim de maleitas sociais do qual lhes foi legado!
Porque dizem: - Que chegavam da Metrópole com uma mão atrás e outra à frente e passado bem pouco tempo já tinham seu próprio posto de trabalho, sua padaria, borracharia ou sua própria venda. O escambau, como sempre referem.... Normalmente nem replicava porque também tinha as minhas próprias queixas por fruto de uma descolonização de tugi mas eles nem iriam entender...
Agora replico e até triplico e sextuplico minhas verdades para ver se os MADUROS de todo o Mundo caem de podres... Tal nefasta saga provocada por mariolas e traidores ao M´Puto e do M´Puto; desta feita contive-me para que ficassem com ideias edificantes sobre os Tugas e, que afinal, nem tudo neles era mau!
Quando tudo dava para o torto, simplesmente dizia que era Niassalêz, que tudo me passava ao largo mas, em verdade roía-me de pequenos ranhos moncosos de cor injustiçada. Para não ficarem na insolvência, nem me perguntavam que raio era isso de ser Niassalêz, só para não mostrarem sua ignorância endémica. De forma catedrática ia-lhes dizendo que o Brasil era quase um continente graças a terem sido um reino; que não foram desintegrados em vários países porque foram a sede do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. O Mundo é mesmo uma ervilha!
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E, mais, ... tendo D. João VI como o maior aglutinador dessa política; um estadista de valor e que eles sempre subestimaram e subestimam com charadas de mau gosto e desrespeito - o Rei das coxinhas de galinha. Que não obstante o Brasil já ser grande, invadiu a Cisplatina ficando alargado com o actual Uruguai a sul e o Guiana Francesa a Norte por estar em guerra com os franceses - A França de Napoleão.
E, quantas mais coisas tinham de ser ensinadas, porque infelizmente, mesmo gente formada a nível universitário, não tinham um perfeito conhecimento da real história. Fui eu a contar a muitos, as estórias do Caramuru, Do João Ramalho, do 1º Bispo do Brasil - da festa de arromba que aqueles índios Caetés fizeram em Julho de 1556 devorando Dom Pero Fernandes Sardinha e outros edecéteras.
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Agora, neste momento na minha roça de Coimbra, de doutorado faço jus às afirmações deles: - Conta mais Doutor! Imagina, eu um Niassalês contando coisas do Lampião, coisas que os caras desconheciam. Como não avera de ser Dôtor!? De tudo isto eu retirava ilações no fraco aprendizado nas escolas brasileiras!
Claro que os ladrões existem aqui e lá mas, nesta actualidade, nem digo nada para não amesquinhar aquele elogio das laranjas feito por um brasileiro das terras Tugas! Tomara que Bolsonaro extermine tanto LARANJA mentiroso, que rouba o povo
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Mulungu e Mulungú: É branco em língua Zulu; também é uma árvore de grande porte com flores vermelhas; existem no Brasil e um pouco por toda a África austral...
O Soba T´Chingange
O CHOQUE DO PRESENTE - COIMBRA...11.05.2019
Aonde quer que se seja, é mesmo bom não se fazer contas ao tempo porque o bicho pega!… Basta-nos os doze meses de socialismo, social socialismo, ou isso entremeado com geringonças e matraquilhos mais diabruras para espairecer molezas…
Por
T´Chingange - Em Coimbra...
É mesmo bom não se fazer contas ao tempo, aos meses, às horas e minutos, porque assim se tornam inexistentes, apreciando no seu melhor, as azáfamas dos outros ao nosso redor. Ouvir os "roncos - salvo seja" dos políticos feito barcos que sem os arrais de outrora, barulham os ares em tons diferentes aí Jesus que não há oiro! Pois! Lamberam-no todo. Se não for assim mais e desta forma e, tal e coisa, demito-me!
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Até já sinto casquilhas ou cosquilhas nos meus calcanhares!
E eu, curtindo o sol das doze horas ao toque das ave-marias que não o sendo agora, repicam na torre da Cabra desta tão bela Coimbra e aonde de tanto calcorrear me tornei doutor de bizarrias. Lembranças desse tempo de quando essas badaladas tinham som e até cheiro de bronze. Agora são fitas com musica a fingir que dão horas.
Basta-nos os doze meses de socialismo ou social socialismo, ou isso entremeado com diabruras capitalistas, mais pão com chouriço e pata negra para espairecer as molezas dos imperialistas que sempre deixam correr o tempo, quando o não faz sair de feição... Coisas demasiado salgadas para mim que recebo uma miséria de patacas.
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Assim, desajustados à economia, com os burocráticos vícios da democracia, dão-se voltas às vicissitudes das suaves ou suadas angustias dos demais refastelando-se em caldeirões moles, e amolecidos como convêm nas desvirtudes corruptas do engano.
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E nós na impaciência, por não haver oportunidades iguais para todos, refilamos verificando serem os profissionais da política com banqueiros e seus mais próximos, os seus maiores beneficiados. Como todo o fenómeno é temporário teremos de purificar nossas almas tormentosas ou atormentadas sem nos apegarmos a coisa alguma... Meu Rio virou mulola...
Não será portanto, caso de estranhar de muitos de nós andarem com um olho aqui e outro lá mais adiante, com a metade do raciocínio num sítio e a outra metade no ciberespaço. Com fenómenos de engenharia financeira dos bancos BPN ou BES entre outros, uns andarão muito cheios de fórmulas, outros simplesmente à boleia com vazios de ideias, enganados em tramóia de falácia mal explicadas.
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No meu caso muito pessoal, de tão inchado de espantos, desenho-me entre antigos esboços, revendo-me nos desenhos das sombras nos porões do meu Niassa, pois que sou Niassalês...
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Brincando até com o meu nariz achatado, relembro-me de que se de nada posso fazer de bom pelos meus mais próximos, também nada farei para os prejudicar. Não obstante terei de dizer aqui que o Senhor Costa, não nos será a salvação; não irei por isso e agora, vivinho e indisposto com muitas coisas querer guerras, fuzilar quem possa ter uma ideia mais original entre os diferentes deuses ou demónios.
Demónios dos também diferentes comunismos, socialismos ou mesmo uma terceira sensação desconhecida, chinguiços com estralhos enredados de zingarelhos e outros complicados artifícios. Sim! Vivemos numa permanente mentira e, assim irá continuar. Ainda se visse a justiça andar para a frente e não de lado, ou para trás como o caranguejo!?
O Soba T´Chingange
kilundu: cerimónia de chamar os espíritos ao culto.
O Cipaio Kukia Mandinga em ALHAMBRA, assiste ao pacto de Mano-Kilombelombe com Januário. Eu já era Mano-Corvo - Uma fusão de homem com pássaro do tipo Kwetzal (México) com Araújo...
NA LAGOA DO M´PUTO - 10.05.2019
Por
T´Chingange... No M´Puto - Na estepe Alentejana
Com a sensação de começar a penetrar na minha intranquila dependência da kianda, quase que me dou conta que meu pacto de sangue com o velho de mais de talvez 394 anos, começa a borbulhar-me no cocuruto da meninge. Os seguranças de serviço levaram-nos direitinhos à única entrada exterior do Palácio Nazarie.
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Tratados como mustáfas por via da indumentária de Januário Pieter e seu guardião - lanceiro, um espanto de nos fazer sentir os maiores privilegiados. O Cipaio Kukia Mandinga muito vaidoso, banga ultra moderna fardanda de zuarte amarelo, balalaica com muitos bolsos e uma catrefada de zingarelhos pendurados à mistura com pequenos chifres de porco do mato.
Coisas trazidas dos confins; lá duma terra chamada Mapunda e uma outra com nome de Chibia com nome de espantar pássaros xirikuatas. Cipaio Mandinga, direitinho que nem um fuso, a tudo olhava com vontade de saber. Muxuxou que era muita areia prá sua camioneta e que, teria de comer um chipe extra de memória e sistema integrado para fosforescer mais rápido na sabedoria.
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A partir daqui rodávamos a cabeça em todos os sentidos observando toda a beleza daquele conjunto palaciano com quartéis, estábulos, mesquitas, escolas, banhos, cemitérios e jardins. O escambau de coisas desanoitecidas já esquecidas ou penduradas por detrás das portas junto às muitas ferraduras de muares e outros bicharocos espinhosos.
O Palácio dos Nazaries, é em verdade um conjunto de residências principescas sem fachada, sem alinhamento de salas, com passeios e jardins interiores de grande frescura. Pode adivinhar-se as forças ingrávidas de arcos com paredes furadas de renda; portas, janelas e arcadas por onde a luz penetra na medida certa e, aonde parece não haver gravidade.
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Foi no Pátio dos Leões, a sala privada do Sultão em que eu T´Chingange e Pieter selamos o nosso mais verdadeiro pacto de sangue. Esse cipaio Kukia que anda por aqui, até pode nem se lembrar mas assistiu direitinho com sua lança, feito Massai da Corongosa; um jardim que havia lá perto de sua casa cubata no Lubango. Uma mistura na cabeça dele que faz pena. Nunca no Lubango ouve caserna de bichos desses e, com esse nome!?
Por medo, as pessoas passavam de largo como se nós também fossemos daquele muitos idos anos e muito cheios de caruncho. Tínhamos em frente um belo claustro formado por muitas colunas, o lugar mais Pambu N´gila de todos os lugares aonde estivemos antes. Este sítio era em verdade um sem número de flocos dourados caídos do Duilo.
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E, foi ali que ambos picamos o centro da palma da mão esquerda de onde saiu uma bolha de sangue. Eu T´Chingange cuspi na mão esquerda de Pieter dissolvendo-se no sangue e ele fez o mesmo na minha mão esquerda; com a mão direita ambos acariciamos as cabeças dos leões e, eu primeiro e depois Pieter, desferimos com a direita em cutelo na mão esquerda do outro um enérgico movimento fazendo chispar sangue e cuspo no ar.
Teve de ser ali porque o leão que pela boca deita água simboliza o Sol da qual brota a a vida. Os doze leões, são os doze Sois do Zodiaco, os doze meses que na eternidade existem em simultâneo. Eles, os leões sostêem a Kalunga como os doze torres de ferro no templo de Salomão. É este o depósito das águas celestes dessa Kalunga.
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Este simbolismo único, venera a água como a pura vida e, foi ali que também, ambos choramos lágrimas de prata polindo o chão do Califa para ficarmos Manos-Kilombelombe. O Cipaio vaidoso sempre em guarda, sorria de vez em vez, inadequado para ser uma testemunha com carisma de Xi-Colono de terceira geração.
Em realidade ele era mesmo um genuíno africano, embora branco, mas era!
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Januário Pieter falou de que quando ficasse um antigamente, de mais tarde, eu um mais kota, me iria recordar deste selo de Mano-Kilombelombe enquanto ele, lá na ilha da ensandeira do Kwanza, recordaria os espíritos dos M´fumos Kia-Samba e Manhanga como um minkinsi.
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Pieter recordava as minhas próprias brincadeiras com os candengues no mar da Samba, os pactos de amizade feitos a cuspo e bisgo da mulemba nos subúrbios da Lua. A Kianda Pieter sabia tudo! Sukuama!
- Deixa só, “ N´Zambi a tu bane n´guzu mu kukaiela”, Deus dá-nos força para seguir, disse eu batendo dedos no ar enxotando maus olhados.
Ilustrações aleatóias do mano Costa Araújo, nosso mestre
Glossário:
Pambu N´jila: - Agente de ligação entre o espaço físico e o místico; lugar de veneração ou peregrinação; Lugar predilecto Duilo: - Céu (em um amiente de espíritualidade)
kalunga: - espírito forte, divindade ou espírito das águas, iemanjá, mar, água no geral
Mano-Kilombelombe: - Mano-Corvo, Uma fusão de homem com pássaro do tipo Kwetzal ( México)
M´fumos : - Chefes
Kukia: - Sol, pô do sol
Samba: - Lugar ente a Quissala e Futungo (Belas da Luanda de antigamente)
Manhanga: - Bairro da Maianga, lugar de cacimba, nome antigo já esquecido.
Amazulu: - Dialeto Zulu
Minkisi: - agente de ligação entre o físico e o místico, tem poder nos elementos da natureza, (faz chover, faz trovoada), gente com mau-olhado
Sukuama!: - Caramba!; poça!; Cus diabos; Porra!
Bisgo: - Resina de mulemba usado para apanhar pássaros,da mulembeira (árvore de grande porte que dá uns figos pequenos)
Lua – Diminutivo de Luanda
(Continua ...)
O Soba T´Chingange
kilundu: cerimónia de chamar os espíritos ao culto.
O Cipaio Kukia Mandinga botou faladura : - O Mundo está todo esfrangalhado em toda a parte; estamos separados, mas sinto que somos feitos do mesmo loando. Ué... ele fala angolês!?.... Desta feita estávamos ainda em Granada..
NA LAGOA DO M´PUTO - 07.05.2019
Por
T´Chingange... No M´Puto - Estepe Alentejana
Na sequência duma estória não muito antiga, com a sensação de começar a penetrar na minha própria inconsciência, enrolando dedos e retesando músculos, cruzei o bairro mouro Albayzin bem cedo; de forma aleatória como um senhor dos caminhos minkisi cruzei ruelas estreitas de aroma de mijo ou tapetes molhados misturados com cheiros de churros.
Do outro lado do vale podia ver as muralhas e torres de Alhambra. O rio Darro, corria na depressão à semelhança dos meus pensamentos que rolavam entre mulheres jitanas guapas bailando o flamengo em as mil e uma noites e, em companhia de Aladino e N´si, o guardião negro da terra.
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Este carregado de espanta espíritos, vendia ternuras na forma de raminhos de alecrim e farrapos enternecidos de recordações. Tinha combinado encontrar-me de novo com Januário Pieter, um velho de trezentos e muitos anos e, aquele era um novo bom dia. Esta kianda itinerante da Globália, natural de Cabo Ledo, sítio distante da kalunga trazia com ele um moreno como guarda costas.
Sempre estranhei uma kianda ter necessidade de um guarda costas sem, em verdade, ter costas! Este novo personagem tinha o nome de Cipaio Kukia Mandinga; tinha um cofió vermelho com uns laçarotes a saírem do cucuruto do boné que mais parecia um vaso invertido e, trazia não uma adaga mas, uma lança como se tratasse um guardião vindo daquela Índia imperial.
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Terei tempo para descrever este cipaio vestido de zuarte amarelo com mais detalhes mas, por agora iremos continuar a estória base do meu calendário. Na lapela do lado esquerdo tinha um escudo meio surrado com as Letras EDU. O que poço adiantar é o de que este mafarrico se dizia ser branco de segunda mas, em realidade aparecia preto que nem um tição...
Cruzamos para Sul em ruas e avenidas modernas de patéticas angústias feitas estátuas! Íamos na busca do lugar mais próximo do "Arco de las granadas", o ponto nosso Pambu N´jila das antigas muralhas mouras; é ali que os espaços físico e e místico juntam simbis com gente de suko ou alucinados como nós.
Na "Calle Bodegoncillo", já um pouco encalacrado, entrei em "El Pátio Riconcillo" e, busquei acento apropriado; o lugar era arejado dando para a "Plaza Nueva" podendo até, ver mais acima a "Plaza de Santa Ana". As paredes estavam cobertas de cartazes anunciando espaços de "Flamenco" e cartazes de cores amarelecidas com datas ultrapassadas de eventos tauromárqicos.
Eram bestas de bois cornudos e esbeltos toureiros enfiados em apertados fato vistosos de lantejoulas zurzindo farpas ou bandarilhas coloridas; estavam encaixilhados em madeira sarapintada de minúsculos furos de térmitas, resquícios das pestes de Guernica.
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Foi assim já sentados com o Cipaio Kukia Mandinga que este falou pela única vez; antes só abanava sua cabeça ziguezagueando os penduricalhos do cofió. E, botando conversa de sábias palavras como que assim comesse delas num sempre mais constante do que o habitual, falou: - O Mundo está todo esfrangalhado em toda a parte; estamos separados, mas sinto que somos feitos do mesmo loando. Ué... ele fala angolês da Chibia!?
E, continuou: - Há um grito que ximbica no nosso coração de fazer missangas. É um sentimento, uma sensibilidade, o respeito pelo ser humano que se juntam e são banda que batucam nosso coração; uma fé que se abre na kubata do nosso coração; jura mesmo patrão, diz assim desta forma encavalitada na mistura de sabedoria virando-se para Januário Pieter.
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Intransmissível! Intransferível! Ele nem quer saber quem morreu, só chora num repentinamente… Assim, preocupado com a RAIZ que alimenta a árvore - o imbondeiro, muito cava para contar quantas são, como se alimentam, se são envenenadas por ervas daninhas que crescem do nada e fazem secar os seus veios de vida. Pópilas! Ele falava coisa sem coisar o que estávamos a viver... Mas, aqui tem touros, tem touradas meu! Porque estás falar só àtoa, fingir que não és matumbo. Cala-te! Disse perenptóriamente a Kianda Pieter...
GLOSSÁRIO
Minkisi: - Agente de ligação entre seres humanos e o físico, elementos de fogo, água, ar e terra; Jitanas guapas: - Ciganas bonitas; Aladino: O sábio árabe das lâmparinas; N´si: - Terra, o feiticeiro pintado com farinha vermelha (maiaca kianguim) que guarda os pórticos e permanece até o toque do medo, adrenalina, guardador de caminhos com saber do ontem, do hoje e do amanhã; Kianda: - Fantasma, assombração das águas das lagoas, rios e mares ou Kalungas; Kalunga: Junção de espíritos na forma de água, simplesmente água ou mar, espírito forte no reino dos mortos, divindade abstracta podendo ter a forma humana, quando alguém é levado pelo mar, foi Kalunga que lhe levou porque fez uafa, uafou (wafou= morreu); Globália. - O Mundo; Pambu N´Jila: Espaço físico em conjunção com o campo místico; Simbis: - Espírito ancestral de origem do Kikongo e àfrica central.
(Continua ...)
O Soba T´Chingange
kilundu: crimónia de chamar os espíritos ao culto.
Botando fumaça por meu arcabuz de outra geração chamado de canhangulo, fiquei assim matumbola mesmo .....
NA ILHA DO CARLITOS - 27.04.2019
Por
T´Chingange - No Nordeste brasileio
Estou contente de saber dos meus antepassados, disse Januário Pieter meu escolhido como kianda das mulolas espaciais. Já tinha dito isto em outras vezes mas, agora estava só a preparar um discurso. Agora só quero mesmo ficar no pé duma mulembeira, lá no meu kimbo de Cabo Ledo e, de vez em quando subir com os mwenangolas até Muxima ou Massangano.
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Sim, Ué... A esvoajar minha velhice; ir ao lugar do eco repartido, jangandeando com os maculos, perfurar outras sombras, outras kiandas desastradas que só fazem canvuanza, mesmo. Pópilas, estava falando pelos zingarelhos desconhecidamente familiares...
Pieter dava xinfrim de xoto em cima de mim, falando um amazulu impenetrável, banhos de àgua de defunto dum xova-xitaduma do Maputo; parecia ter saído dum d´jango esfumado em liamba com as lamparinas dum matumbola, que fica mesmo no corpo vazio ocupado por um ilundado; um grande chicoxana, mesmo.
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Mazé caté o Zeca Mamoeiro do Rio Seco vai ficar abuamado sem entender nadica de nada... Mas tu já és uma kianda,...meu! Disse eu falando das minhas verdades - É mesmo, mas, no entretanto, é tempo de começar a esquecer e ser esquecido. No futuro, serei lembrado como a kianda n´kuluculu mulungo de toda a kalunga.
Meio dia eram já quase, quando acabando de subir a rampa de “Gomerez” e, estavamos a passar a porta “Puerta de las granadas” quando desviei na conversa para um tás-a-ver de visão árabe, ali aonde que a conversa da manhã nos tinha empurrado nesse linguajar de espíritos,...
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Puxa catuta mesmo! Estamos esvoajando no tempo. Como então: Estão nos esperar dentro deste portão d´Alhambra, lugar de muitas sombras, espantos de califas. Chegados à “Puerta de la Justícia”, datada de 1348, reparamos que na pedra chave do primeiro arco estava gravada uma mão aberta chamada de “Al-Hanza”
Al-Hanza cujos dedos, significam os cinco fundamentos do Islão, a saber: - A crença de haver um só Deus em sua mensagem a Muhamad, a oração de cinco vezes ao dia, o imposto religioso (a limosna do dizimo), o jejum ou Ramadão e, a peregrinação a Meca ao menos uma vez na vida.
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Estou fodido! Nunca fui a Meca e vão-me zanguilar quando toparem que só sou mesmo um faz-de-conta. Assim branquela!
Esta porta aberta dava para uma outra fechada havendo no alto desta um espaço aberto de onde, em caso de cerco, os sitiados de “Al-Hamra” podiam fustigar, arrojando pedras, azeite fervente ou chumbo derretido em cima dos atacantes não dando assim, oportunidade a que forçasse a porta.
Esta originalidade da arquitectura Nazaríe explicada por mim a Pieter, fê-lo dar um estalido de lingua no céu da boca: - Sukwama! Mahezo!, grande muzua! De quilunza mesmo!
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Passamos ao lado de “La puerta del Vino” um lugar em que funcionava o mercado do vinho lá pelo ano de 1554 e, era em verdade uma fronteira entre o núcleo militar de “Alcazába” e a cidade medieval aonde, em esse tempo, viviam 2000 habitantes; uma porta policromada num intricado rendilhado.
Como mestre, continuei explicando:- Nesta terra de Árabes, Abd-Allah, instalou-se aqui no ano de 889 e por aqui permaneceram seus seguidores por 603 anos. Saíram ao fim desse todo tempo, quando governava o Califa Muhamad XII da dinastía Nasrí (Nazaríes) no tempo dos Reis Católicos de Espanha e Carlos VIII de França...
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Nota: Tenho de consultar minha fada madrinha de vassoura piaçaba.... Nem tomei nada, nem um pozinho, sequer...
Glossaário:
Mwenangola: - Donos de Angola; reis de N´gola
Maculo: - Antepassado
Canvuanzaa: - Confusão; luta; xinfrim
Xinfrim de xoto: - Confusão de bufa; peido doido
Amazulu: - Dialeto Zulu
Xova-xitaduma: - Condutor de cangulo (Moçambique); um monangambé proletário; Condutor de carro de mão
D´jango: - Casa comunitária; forum; sitio de assembleia do povo ou de reunião; sítio só p´ra falar mesmo, ou cachimbar
Mulungo - M´zungo; branco em Zulu
Matumbola: - Morto vivo, uma assombração; um deus-me-livre; alma penada
Ilundado: - Espírito superior
Chicoxana: - Século (Angola); ancião com sabedoria, Kota com suko
N´`kuluculu mulungo: - Deus branco (Zulu)
Al-Hamra: - Alhambra em árabe
Sukuama!: - Caramba!; poça!; Cós diabos; Porra!
Mahezo!: - Tenho dito!
Muzua: - Armadilha; artefacto de prisionar
Quilunza: - Arma de fogo
O Soba T´Chingange
N`ZINGA E O FALA KALADO
NA ILHA DO CARLITOS – 6ª de Várias Partes – 27.04.2019
Por
T´Chingange - (No Nordeste brasileiro)
Ele, Fala Kalado, quis ficar longe das vistas e já na Ilha do Carlitos foi-me dizendo que tem andado recatado, metido na sombra e no mato, para fugir de toda aquela vida de kazucuteiro, da venda e compra de armas. Kamanguista, já era - trespassei por bom dinheiro! Agora só quero mesmo gozar minha velhice com a tranquilidade permitida pelo reumático.
Quero ir à Serra da barriga depositar em selo, as vontades dos próceres matumbolas (mortos vivos) de N´Gola, N´Zinga, Hoji-ya-Henda e Monstro Imortal, heróis da guerra do Tundamunjila descansando sua eternidade junto dos seus antepassados, no Quilombo de Poconé; aliás já falei nisso! Pois, quero ir lá contigo porque sei que conheces bem, as antigas terras de Zumbi dos Palmares.
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Quer-se dizer, vais acabar cm a minha estória do Fala Kalado! disse-lhe eu. Tu é que sabes! Foi a resposta. Mas, há muito que contar - assim queiras, conclui... Por agora vou lá deixar as placas comemorativas, última vontade daqueles tais, para culminar esta etapa de familiaridade muito relegada no tempo.
T´Chingange fala: Tua vida tem sido complicada depois que o Mais-Velho Jonas te mandou "fazer a folha". Também, a desviares tanto "feijão branco", daquele jeito, só poderia dar nisso. Só quando te vi no terminal de Guarulhos é que fiquei a saber e, com muito espanto que estavas vivinho da costa. Para mim, tu já estavas no eternamente do mukifo do céu...
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Recordo-te quando nos vimos de relance em ótxicoto lake da Namibia, faz tempo, com um tal de Mike Guiver, angolano preto, mas depois escafedeste-te da minha memória - tua t´xipala ficou baça e grudada no cerebelo como torrão de alicante preto.
Durante algum tempo até recordei esse ximbicador de mambos, tocador de viola e baladas das anharas mas tudo se foi esbatendo. fazia-te morto naqueles confins, terras do fim do Mundo do Dirico, Divundu ou Rundu... Pois! Como disse (era o FK a falar) tu, T´Chingange ainda tens muito para contar pois que, foste Secretário de Informação e Propaganda naquela fase embrionária do Comité da Caála do Huambo aonde estava nosso comum amigo Kalacata.
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É verdade - falei eu: Nesse tempo ambos sonhávamos com imagens inteiras mas, depois nossos destinos foram-se fragmentando, tal e qual como aquelas molas helicoidais das granadas ofensivas.
Lembro, disse! Ficavam quase em nada quando estilhaçavam. Tal como nossas vidas, rematou FK. A conversa estava boa de lembranças recordando aquele passado feito "NADA" neste "TUDO" de agora a falar de outros tempos... Soube que o Mais-Velho Jonas, reformando o Comité da Caála deu-te novas funções de Secretário de Relações Publicas, que quase morreste em Kalukembe na curva da morte.
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Hó, se lembro! Desse tempo em que me mataram junto com o galo desenhado no capôt do meu renault major - em Kalukembe! Pensavas que eras o único morto nesta estória? Já relembrei por aqui e por ali o que foi essa minha vida; como dizes ainda haverá muito para dizer - de forma aleatória correndo no tempo para lá e para cá.
Afinal, ambos fomos abençoados. Estarmos aqui a contar isto que é uma estória quase igual à do Lampião, muito cheia de espinhos. Temos de andar com cuidado porque os cactos têm acerados picos, os mesmos que o cegaram sem nunca ter vingado a morte de seu pai Virgulino Ferreira. Virgulino, que nome mais traiçoeiro - cheio de virgulas...
O Soba T´Chingange
O LIVRO ESCOLHIDO:
1 - A minha Empregada - Editorial Estampa de - Maggie Gee ... 26.04.2019
Por
T´Chingange - No Nordeste brasileiro
Livros em cima do criado mudo (mesa da cabeceira)
1 - A minha Empregada - Editorial Estampa de - Maggie Gee
2 - O ano em que Zumbi tomou o Rio - Quetzal - José E. Agualusa
3 - O Último Ano em Luanda - ASA - Tiago Rebelo
4 - BURLA EM ANGOLA – Burla em Portugal - Guerra e Paz – Susana Ferrador
5 - História da riqueza de brasil – Estação Brasil – Jorge Caldeira
6 - GLOBALIZAÇÃO de Joseph E. Stiglitz
7 – VIDAS SECAS – Graciliano Ramos
8 - A viagem do Elefante – José Saramago – Da Caminho
9 - O Livro dos Guerrilheiros de José Luandino vieira - Da Caminho
10 -O CORTIÇO - Romance de Aluísio de Azevedo – IBEP – S. Paulo, Brasil.
11 - O Romance “A Pedra do Reino” – José Olympio editores …Ariano Suassumal.
12 - O PADRE CÍCERO que eu conheci - Olímpica editora de Juazeiro - Amália Xavier de Oliveira...
De epilogo em epilogo sigo-me como um sonho que ora está no M´Puto, ora está em Angola, ora está na Pajuçara do Brasil lambendo as águas como quem lambe o tempo. De cavandela em cavandela sempre me vai dando mais tempo para beber a minha estória e, com ou sem profundidade recordar alguns relâmpagos.
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Lá se vai o tempo de me preocupar com o jardim a ficar cheio de grama ruim, o mato a crescer, as amêndoas por apanhar, os arames a enferrujarem e o tecto do sótão a se desmanchar. Renovando tubos oxidados para no mínimo ter água corrente, reinventando isto e aquilo tal como eu, reformulando-me...
O esmalte lascado do lava louças com suas manchas a ficar amareladas por via desse tempo que não para de me atazanar com remendos enjorcados para durar um pouco mais, retirar as bikuatas sem uso que só juntam ratos. Essa mania de amontoar coisas que não mais se vão usar.
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Tenta-se que as coisas sejam diferentes mas, tudo custa dinheiro e, este, está cada vez mais caro. Sim! Tentei que as coisas fossem diferentes mas, no suficiente de entre todas as oportunidades, foi o melhor. Assim falando com a minha empregada Mery de Kampala, vou-lhe dizendo que o tempo anda atulhar-me de velhice...
Que para isso necessito espairecer bebendo sua estória aqui ou ali, aonde quer que esteja porque cada vez mais, menos vontade tenho de ir ao seu Uganda. Sei ver o quanto sou cansativo quando falo do ontem e no antes de anteontem, mesmo sem consultar qualquer terapeuta.
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Como é que ia dizer a ele, terapeuta, que nestes últimos dias tenho andado cheio de gases, gases de peidos com flatulência duvidosa e desclassificada. Assim fazendo da escrita remédio para substituir o aspirina 100, torno o sangue mais fluido fazendo dele, o peido, a ponte entre o êxito e os cruzados abismos, ou de outro jeito de entre o breve e o já partido.
De vez em quando falo com Mery: Eu (disse ela) andava na Universidade de Makerere, a melhor universidade de África; vim para aqui (Inglaterra) trabalhar porque foi através de um cartão que tomei contacto: «Família simpática precisa de mulher a dias qualificada» Qualificada? que quereria aquilo dizer?
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Eu era qualificada para ser professora ou mesmo escritora! Disse assim para mim na primeiríssima pessoa. O que não levei a sério foi essa de dizeres que Makerere é a melhor universidade de África! disse eu, acrescentado: - Claro que é o que todos dizem, sobretudo quem lá andou!
O sorriso de Mery disse quase tudo: - Olha! sempre concordo com quem diz isso mas, aquilo está a cair aos pedaços! Mas, uma empregada a valer tem de saber aonde ficam todas as porcarias para limpar, esses hábitos secretos de aonde deixam o ranho, o penso higiénico, a fruta que apodrece nos cestos deles, os da casa e destinados a papeis... Está bem! disse eu para terminar a conversa nada relevante.
(Continua...)
O Soba T´Chingange
TEMPOS QUENTES – 24.04.2019
MALAWI – NIASSA . No vale do Rift - 5º De várias partes
Por
T´Chingange - No Nordeste brasileiro
Mitologia de terremotos e vulcões ... Mitos, histórias e lendas sobre terremotos e vulcões de todo o mundo podem às vezes ser engraçados e elaborados. Antes da ciência moderna, os vulcões iriam explodir, as tempestades iriam romper-se e os terremotos tremeriam.
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Tais incidentes hipnotizavam as pessoas, pois não sabiam do por quê e como. Como resultado, histórias para expor esses fenómenos foram desenvolvidas. Portanto, pessoas de todo o mundo têm usado mitos, lendas e histórias para explicar sobre terremotos e vulcões.
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Essas crenças e normas culturais foram à sua vez, uma maneira de tentar entender os poderosos fenómenos naturais que poderiam afectar muito a vida das pessoas. Eles evoluíram ao longo de milhares de anos em várias culturas e foram transmitidos ao longo de gerações.
Em muitas culturas, no entanto, os animais, incluindo os seres sobrenaturais que vivem tanto na superfície da Terra como no subterrâneo, eram / são de se acreditar, estarem associados com terremotos e vulcões.
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Algumas culturas ampliaram esse tipo de história para incluir muitos animais que compartilham o fardo de carregar a terra. Em N´kwazi, rio Cubango, o Okavango da Namíbia, não muito longe do Rundu, pude saber esta interligação cultural pois que este nome corresponde a uma ave pesqueira e, tem o significado de liberdade.
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Um peixe-gato gigante encontra-se enrolado sob o mar com uma ilha apoiada nas costas. O bagre, gostava de fazer brincadeiras e só podia ser contido por uma deusa chamada Kashima.
Enquanto Kashima mantivesse uma rocha poderosa com poderes mágicos sobre o peixe gato, a terra estava parada. Mas quando ele relaxou sua guarda, o peixe-gato se debateu, causando terremotos.
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A terra é considerada um disco plano, sustentado por uma enorme montanha a oeste e por um gigante a leste. A esposa do gigante segura o céu. a terra treme quando ele pára para abraçá-la. ´esta uma das lendas da África Ocidental.
Em Afar, o Vale da Fenda é todo coberto de pedras vulcânicas, o que indica que a litosfera é tão fina que pode estar a ponto de romper. Quando isso acontecer, um novo oceano começará a se formar pela solidificação do magma no espaço criado pelas placas quebradas.
Eventualmente, em um período de dezenas de milhões de anos, o oceano vai se espalhar por todo o Vale. Por fim, a África ficará menor, e uma ilha gigante surgirá no Oceano Índico. Embora o processo seja acompanhado de terremotos, na maior parte do tempo ele se dará de forma silenciosa, sem que ninguém se aperceba.
(Continua...)
O Soba T´Chingange
CINZAS NO TEMPO - 23.04.2019
Todos somos actores num palco... Num grande palco da vida. O importante é inventar diferentes cenários sem nunca perder o fio à meada.
Por
T´Chingange - No Nordeste brasileiro
A maioria das pessoas prefere interpretar a historia como o desenrolar de um desígnio sobrenatural, tendo por norma sempre um ou mais autores a quem referenciamos. Esta nem sempre reconfortante interpretação, foi-se tornando menos sustentável à medida que o conhecimento do mundo real se foi dilatando.
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O conhecimento cientifico em particular, quando medido pelo número de cientistas e, de publicações cientificas, tem no decorrer de mais de um século, vindo a duplicar a cada dez ou vinte anos. Nas explicações tradicionais do passado, as estórias religiosas da criação, têm sido combinadas com as humanidades para atribuir sentido à existência da nossa espécie. Em cada época, sua exigência!
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E, tendo neste agora só o planeta terra para coabitarmos, teremos de dar sentido ao que falta desenvolver. Neste passo de nossa viagem, pretendido na condição humana, precisamos de uma definição de história bem mais ampla do que aquela que convencionalmente é usada; daqui a se poder dizer: Apenas a sabedoria baseada numa autocompreensão, e não a piedade, nos salvará (uma forma de falar...)
Sendo assim não se explica por que razão temos esta natureza especial e não outra qualquer de entre um vasto número de possíveis naturezas. Neste sentido as humanidades não alcançaram e, jamais alcançarão uma compreensão total no sentido da existência da nossa espécie.
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Tendo nós humanos a capacidade de nos exprimirmos nas artes criativas, deleitamo-nos de maneira instintiva com os relatos de estórias de ou acerca de terceiros, actores imaginados em um palco albergado em nosso interior, nossa ilusão.
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Nossos vastos "bancos de memoria" podem ser activados sem grande dificuldade conseguindo combinar o passado, o presente ou o futuro permitindo-nos até avaliar possibilidades de criarmos vínculos afectivos, promover rivalidades, fomentar o ódio e até o amor, enganos, lealdades ou traições.
Na sequência de um desenvolvimento mental incessantemente dinâmicos, há sem duvida comportamentos dissonantes expressas em competição, cooperação ou ódios. Será necessário ter uma memória suficientemente boa para analizar as intenções de outros.
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Outros, pertencentes a um grupo social; prever as suas reacções num processo constante de suficiente plasticidade, ou maleabilidade.
Ensaiar ou inventar diferentes cenários sem perder o fio nas interacções que se seguem, como se diz, o fio à meada. Tudo isto para afirmar que todos somos actores num palco... Num grande palco da vida e, aonde é a conversar que a gente se desentende...
O Soba T´Chingange
MU UKULU...Luanda do Antigamente – 22.04.2019
MUXIMA DA MAIANGA . FEROMONAS DA VIDA
- Saber do passado para melhor se entender o futuro...
Por
T´Chingange – No Nordeste do Brasil
Luís Martins Soares – No Rio de Janeiro - Brasil
Jose Santos - No M´Puto...
Não estava destinado hoje falar de FEROMONAS DA MAIANGA mas, e porque recebi uma Mokanda escrita na forma daqueles idos tempos, não resisto transpô-la para aqui porque isto era, foi o nosso Mu Ukulu da Luua. Na forma de introdução direi que mais de 99 por cento das espécies de animais, entre estes nós humanos, plantas, fungos e micróbios dependem exclusivamente ou quase, de uma série de substâncias químicas chamadas de FEROMONAS, para comunicar com membros da mesma espécie.
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Assim agradecendo falei: Meu kamba-maior de coração invulgar num nome comum de Jose Santos, tuas amêndoas são sempre gostosas... Pena que andas sempre nos Kissama estudando os carrapatos do salalé e vires aqui mais vezes saudar teu mano! Catravês ficas na desculpa porque és meu ávilo de candengue do tempo tão antigo que nem a Joana Maluca recorda mais lá no seu cúbito do céu... Ver-te-ei com muita brilhantina na TiMatilde...
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A mokanda começa assim e no respectivamente, continua:
TONITO (soeu)......No meu mukifo, aproveito desta tua uuaba Moamba....te mando minhas amêndoas de múkua...para tu bué chupar...como nos mu ukulu dos candengue...porque os kumbu, malé dos amêndoas dos pula....Tambula conta! Xé! É meu agrado pra teu Dia de Páscoa com Ibib, teus monas teus ávilos keridos...
Teu mano ZECA nos Kissama, nos estudo pra os creme da pakassa para os salalé dos longevidade dos kota....mazé cheio dos comichão que os tuje faz bué...e borta kubata.....
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TONITO...UUABA PESSOA!!!. Tu num fica zangado com soeu porcauso do meu paragem dos escrito comentário, gosto e dos kandandu? Agora me dá n´guzu te pescar o teu peixinho os MISOSO os cacusso e botar na minha lagoa!!!
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Te confesso....mazé cadavez os meu inama, os mãos....os n´guzo nos escrito os misoso dos face mazé é desigual do igual dos antigamente malé mesmo, porcauso os vapor nos inicio do Kurikutela butava fumaça bué! Aiué deixou de passar na cidade alta do nosso bairro da Mayanga, os território sagrado dos nossa uuabuama n´denge!
Então, duns tempo para cá....te digo que todos tão nos mesa dos concertação....dos sindicato nos tactoatacto, matacocommatako matacusentado! Ué! Te digo os lápis, os caneta e também os tinta qué nos tinteiro dos porcelana da Anchieta, colégio moderno, colégio João das Regras, katé os pequeno barril acabou....! Agora todos botaram essa confusão e ameaçam ir no palácio mostrar os indignação..!
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Os tuje querem mais cumbu e diz que tão sem os proveito dos fazer face nos custo dos vida. Assim, diz que nos bolso os cumbu baza logologo acabou katé num dá pra beber copinho do abafado no Rato, Morais, Hernãni da minina Alice ou no Reinaldo...!!! Malé, mesmo...
Cigarros francês
Então me diz..., tu licenciado katedrático do Rio Seco, Rua dos José Maria Antunes, que ainda continua a ser, se os despesa kiavuluvulu aguenta sem os produção num aumenta kiavulu....Tu sabes, o meu edição, já não tem os subsidio de produção do antigamente...! Tambula conta! Katé escapei katé os camenemene bué de vezes os dias meses anos, fazer o uafo..., porcauso os rolamento dos mutue os esferinha começou a sair, como diz os pula especializado na oficina do Baleizão do ávilo Taric..., diz que diz, ficou gripado!!! Tó lixado...
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Então, me diz só, como os quê ah vou voltar!, Ah! Há os budget assimassim e não podem na Rebita do Deve/Haver ter os massemba nas inana das barona dos bife dos profit...? Então assim num dá para aguentar os despesa .....porque os lucro baixou....porque Lello, os ávilo agora nos moda dos época vem pra fora fumar átoa os negrita, caricoco e deixa as beata pirisca no chão...,
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Falta só mesmo átoa pra ir no kinaxixi buscar os mercearia; batatadoce, peixe seco, óleo palma, quiabos, jindungu, sal do Cacuaco, azeitonas da Leba.... Agora tu tens os meu parabéns....tu tens o teu n´guzu de torresmo de lagartinha Mopane....,e todos dias botas cada misoso bué comprido....!
Zeca com Mano T´Chingange - TiMatilde
Amam´iéé! Tu como consegues ter tanto n´guzu...., os vontade de encher na Kizomba os teu misoso os escrito mais os foto bonitinha....?! Então tu "esqueleto pessoa, menos barriga de ginguba" és igual soeu!!!! Me diz só; tu fumas macanha, bebes maluve, marufu, botas gemadas de avestruz com os aguardente Pitu velho Chico 1935?
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Temos de combinar de novo ir no Pica no Chão da Libata de granito de Póvoa de Lanhoso...., com os nosso kerido ávilos do Rio Seco...Então, faz tempo, e num quero chorar mais dos pensamento dos cagaço..., meu olhos tão seco....
BOA PÁSCOA ABRIL 2019
Kandandu Zeca 20190421
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Eu, logologo, respondi respeitosamente ligeiro de reco-reco de saudade: Tu - José Santos de um paludismo especial da Jihenda kaluanda - N´zimbos de fabricar missangas como sótumesmo sabes fabricar... que sótu sabes fazer. Te formaste na Universidade do Rio Seco da Luua. Meu mano de matar matrindindis zarolhos quando sóeramos matumbos do primeiro circulo...Aiué...
Zeca fazendo banga
Vou-te falar nos finalmente: Se a cultura é uma invenção, ou uma construção de actos históricos, nós gente do Rio Seco, feito mulola, katedráticos de muitas estrelas, podemos afirmar que nossas falas, têm de ser colocadas no mausoléu sputnik do nosso Mar da Samba. Isso! Na gaveta mitologia antropológica, porque nós merecemos generalato! - Muito mais que as matubas do mais-velho de Catete. Juro! Vou te botar na estória do MU UKULU como o maior missangueiro do reino da Matamba...
Igual a tu, só TU... um T´CHIKUKUVANDA ...
GLOSSÁRIO:
Mokanda - Carta...Kamba- amigo...Kissama- parque ou reserva animal...Salalé- formiga térmita...Catravês- então; por conseguinte...ávilo-amigo...Candengue moço, rapaz, pivete...Cúbito- lugar...Mukifo-quarto, recanto, lugar íntimo...Uuaba - assombrosa, espectacular... Moamba- condimentos, comida...Múkua- fruto do imbondeiro... kumbu-dinheiro... Malé - nenhum, nada..Xé- admiração...kandandu- saudação, abraços... N´Guzu-força, potência... Pacassa- búfalo, boi...Pula- português, do M´Puto...Baza- vai embora, foge, afasta-se...Tambula- toma atenção, anota, repara...Konta- atençaõ, ficar de olho...Missosso - conto curto, pequena estória, crónica...n´denge- carinho...espaço mítico...Mazé- expressão de talvez com admiração e dúvida... Cacussu- peixe do rio...Kurikutela- comboio fumaça a apitar, lançar fagulha...Mataco, Rabo, cú, bunda...Ué- exprssão de admiração, é possível?...Tuge-meda, excremento de pessoa...Kiavuluvulu-aumentando, crescendo,subindo...Camenemene- abandonados, relegados...Mutue - de motor com biela e segmentos...Massemba - jeito, trejeito forma de tocar... Inama, perna...Barona- mulher de destaque, m´boa...
Mopane-lagarta...Átoa- de qualqueR modo...Macanha- maconha, liamba, fumo forte, canábis...Marufu-vinho de palmeira...Libata-casa...reco-reco- raspando, instrumento de fazer barulho...Kaluanda- de Luanda...N´Zimbo-concha, bivalve sem bicho...Jihenda- saga, luta, forma de acção...Matrindindi- tipo de gafanhoto...Matumbo-burro, no sentido de inculto, tapado...Sputnik - monumento do Agostinho presidente dos mwngolês, gracioso quanto ao desplante ...Missangueiro- que trabalha com missangas...Matamba- Reino antigo de N´Dongo....T´chikukuvanda- lagarto de cores várias
Soba T´Chingange
Dizem que já estamos no século XXI... 15.04.2019
”Esta gente foi a gente com quem me fiz gente. Hoje, não há gente… é tudo transgénico . "Quando os meninos me pediam "papel macio pró cu e roupa boa prá gente"…
TEXTO DE UMA PROFESSORA DE NOME LOURDES DOS ANJOS ...
Moamba é cozido de galinha feito com azeite dendem
As escolhas do Soba . No Nordeste do Brasil
Aqui se transcreve um texto que me fez lembrar o tempo... Curiosamente, em Rio de Moinhos, muito próximo de Rio Mau... perto do Porto... Um dos textos que mais me custou a escrever e por isso tem mais lágrimas do que palavras. Estávamos ainda no século XX, no longínquo ano de 1968, quando a vida me deu oportunidade de cumprir um dos meus sonhos: ser professora. Dei comigo numa escola masculina, ali muito pertinho do rio Douro, na primeira freguesia de Penafiel, no lugar de Rio Mau.
Era tão longe, da minha rua do Bonfim, não podia vir para casa no final do dia, não tinha a minha gente, e eu era uma menina da cidade com algum mimo, muitas rosas na alma, e tinha apenas 18 anos. Nada me fazia pensar que tanta esperança e tanta alegria me trariam tanta vida e tantas lágrimas. Os meninos afinal eram homens com calos nas mãos, pés descalços e um pedaço de broa no bolso das calças remendadas.
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As meninas eram mulheres de tranças feitas ao domingo de manhã antes da missa, de saias de cotim, braços cansados de dar colo aos irmãos mais novos, e de rodilha na cabeça para aguentar o peso dos alguidares de roupa para lavar no rio ou dos molhos de erva para alimentar o gado.
As mães eram mulheres sobretudo boas parideiras, gente que trabalhava de sol a sol e esperava a sorte de alguém levar uma das suas cachopas para a cidade, “servir” para casa de gente de posses. Seria menos uma malga de caldo para encher e uns tostões que chegavam pelo correio, no final de cada mês. Os homens eram mineiros no Pejão, traziam horas de sono por cumprir, serviam-se da mulher pela madrugada, mesmo que fosse no aido das vacas enquanto os filhos dormiam (quatro em cada enxerga).
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Cultivavam as leiras que tinham ao redor da casa, ou perto do rio e nos dias de invernia, entre um jogo de sueca e duas malgas de vinho que na venda fiavam até receberem a féria, conseguiam dar ao seu dia mais que as 24 horas que realmente ele tinha. Filhos, eram coisas de mães e quando corriam pró torto era o cinto das calças do pai que “inducava” … e a mãe também “provava da isca” para não dizer amém com eles…
E os filhos faziam-se gente. E era uma festa quando começavam a ler as letras gordas dum velho pedaço de jornal pendurado no prego da cagadeira da casa…o menino já lia.. ai que ele é tão fino… se deus quiser, vai ser um homem e ter uma profissão! Ai como a escola e a professora eram coisas tão importantes! A escola que ia até aos mais remotos lugares, ao encontro das crianças que afinal até nem tinham nascido crianças…eram apenas mais braços para trabalhar, mais futuro para os pais em fim de vida, mais gente para desbravar os socalcos do Douro, mais vozes para cantar em tempo de colheitas.
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E os meninos ensinaram-me a ser gente, a lutar por eles, a amanhar a lampreia, a grelhar o sável nas pedras do rio aquecidas pelas brasas, a rir de pequenas coisas, a sonhar com um país diferente, a saber que ler e escrever e pensar no é coisa para ricos mas para todos, para todos. E por lá vivi e cresci durante três anos e por lá fiz amigos e por lá semeei algumas flores que trazia na alma inquieta de jovem que julgava conseguir fazer um mundo menos desigual.
E foi o padre António Augusto Vasconcelos, de Rio Mau, Sebolido, Penafiel, que me foi casar ao mosteiro de Leça do Balio no ano de 1971 e aí me entregou um envelope com mil oitocentos e três escudos (o meu ordenado mensal) como prenda de casamento conseguida entre todos os meus alunos mais as colegas da escola mais as senhoras da Casa do
Outeiro. E foi na igreja de Sebolido que batizou o meu filho, no dia 1 de janeiro de 1973.
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E é deste povo que tenho saudades. O povo que lutou sem armas, que voou sem asas, que escreveu páginas de Portugal sem saber as letras do seu próprio nome. Hoje, o povo navega na internet, sabe a marca e os preços dos carros topo de gama, sabe os nomes de quem nos saqueia a vida e suga o sangue, mas é neles que vai votando enquanto continua á espera de um milagre de Fátima, duns trocos que os velhos guardaram, do dia das eleições para ir passear e comer fora, de saber se o jogador de futebol se zangou com a gaja que tinha comprado com os seus milhões, e é claro de ver um filmezito escaldante para aquecer a sua relação que estava há tempos no congelador.
Seus génios, os pequenos / grandes ditadores que até são seus filhinhos gente que vende aulas aqui, ali e acolá, os papás são todos doutores da mula russa e sabem todas as técnicas de educação mas deseducam os seus génios, os pequenos /grandes ditadores que até são seus filhinhos e o país tornou-se um fabuloso manicómio onde os finórios são felizes e os burros comem palha e esperam pelo dia do abate.
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Sabem que mais?! Ainda vejo as letras enormes escritas no quadro preto da escola masculina, ao final da tarde de sábado, por moços de doze e treze anos com estes dois pedidos que me faziam: “Professora vá devagar que a estrada é ruim, e não se esqueça de trazer na segunda-feira, papel macio pró cu e roupa boa dos seus sobrinhos prá gente”. Esta gente foi a gente com quem me fiz gente.
Hoje, não há gente… é tudo transgénico. O povo adormeceu à sombra do muro da eira que construiu mas os senhores do mundo, estão acordadinhos e atentos, escarrapachados nos seus solários “badalhocamente” ricos e extraordinariamente felizes porque inventaram máquinas e reinventaram novos escravos.Dizem que já estamos no século XXI...”
Ilustrações de Costa Araujo Araujo
Li com prazer : O Soba T´Chingange
MU UKULU...Luanda do Antigamente – 14.04.2019
MUXIMA E MASSANGANO - Uma visita à Fortaleza de S. Miguel. Saber do passado para melhor se entender o futuro...
Por
T´Chingange – No Nordeste do Brasil
Luís Martins Soares – No Rio de Janeiro - Brasil
Li uma tese da análise da Unicamp em Brasil e achei interessante continuar este tema sobre a instalação de uma fábrica de ferro na região da Ilamba, no interior de Angola. Na segunda metade do século XVIII, a partir do ponto de vista das sociedades africanas, as mudanças nas relações de trabalho foram bem impactantes. Acabaram assim, por deslindar haver modos de exploração do trabalho dos Ambundos, para além do da escravidão.
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O estudo das faces normativa e prática dessas transformações impostos desde a conquista, trazem para o centro da narrativa os problemas de se ser subalterno a um processo alheio à sociedade. Os representantes da elite política africana, reivindicavam seu estatuto de vassalos para denunciar abusos que sobre eles cometiam.
Outros aspectos das relações coloniais manifestos durante a construção da fundição de Nova Oeiras foram os conflitos em torno de minas e terras mais o controle da fabricação e comercialização de objectos de ferro. Esses recursos naturais e utensílios de ferro, tinham já para os africanos significados distintos do económico.
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Os ferreiros e fundidores da Ilamba produziam um ferro de alta qualidade em fornos baixos, com seus instrumentos rústicos. Sua trajectória, enquanto grupo de artesãos, foi o fio condutor da pesquisa, pois permitiu compreender as disputas, e conflitos de poder. Costumes e tradições envolvendo tanto as estratégias do domínio colonial português, quanto as formas de resistência a ele. Daí a invenção de novas práticas, com elaboração de discursos articulados subjacentes à sua emancipação.
Nota-se que as determinações locais tiveram peso tão ou mais significativo nas decisões tomadas na sede do Império em Lisboa. As ideias surgem ilustradas na principal fortaleza colonial para marcarem esse período. Fortaleza de São Miguel, baluarte de poderio Luso. Como podem deixar agora arrefecer estes relacionamentos que determinaram a nação presente. Como podem agora desclassificar e menosprezar a gesta Lusa que também foi heróica. Aqui se forjaram ideias e ideais que simplesmente não podem ser arredados.
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Os embates entre as personagens do Sertão de Angola - sobas, os filhos, capitães-de-mato, ilamba, imbari, negociantes, pumbeiros, ferreiros e fundidores - todos, guiaram as directrizes governativas em Luanda e enfatizam, talvez sem o saber as complexas redes hierárquicas nas relações de domínio, embora o sendo no auge do negócio negreiro .
Por fim, na base de uma leitura das fontes que privilegia o ponto de vista africano, propõe-se uma nova interpretação sobre as narrativas dos fracassos de Nova Oeiras, considerando que os Ambundos elaboraram estratégias bem-sucedidas para manter em seu poder os conhecimentos e os benefícios que a metalurgia lhes conferia.
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Haverá dignidade na menção, porque em pleno século XX o Governo de Lisboa ainda tinha aversão a tudo o que fosse cultura em Angola. O revolucionário empreendimento de Inocêncio de Sousa Coutinho, foi liminarmente abandonado, e intencionalmente esquecido. Em Novembro de 1772, após 8 anos fecundos e únicos na governação de Angola, depois da sua partida para Portugal o que o sucedeu; o Governador António de Lencastre, simplesmente, ignorou toda a sua obra.
A fundição de Nova Oeiras, uma homenagem ao primeiro ministro de Portugal Conde de Oeiras depois Marquês de Pombal, acabou por se transformar num local turístico que desperta nostalgia a todos os estudiosos e desejosos de verem aquela terra como sendo de todos que nela nasceram sofrendo também tantas tragédias, abandonos e descaso ao ponto de serem relegados a coisa nenhuma.
Esta fundição foi a primeira em África, à frente de quase todos os países europeus. E, ainda existem canhões fundidos naquele tempo para falar verdades de trovão; a pura palavra de se dizer: A verdadeira vontade de fazer progredir Angola. Não basta dizer que a cerca de 150 km do Dondo entramos no reino da Rainha Ginga . Nossa memorias vão mais além dessa sintetica negritude que por ironia, nos querem tatuar na pele para enfatizar...
NOTA FINAL AO JEITO DE COMENTÁRIO
-Sempre vinco o direito da nacionalidade como nascimento ou por obras meritosas feitas e para Angola! Ao invés de proporcionarem este principio, os ditos angolanos "genuínos" que se dizem ser no topo da escala, desmereciam ser angolanos porque açambarcaram para além do poder a economia roubando desmedidamente.
Houvesse gente interveniente aqui que não se limitasse a dizer "esta bem" ou clicar no "gosto" para se apelar ao governo de Angola que: - Eram mais merecedores serem angolanos aqueles colonos que tanto labutaram, do que estes ladrões que açambarcaram por graciosidade de Portugal tamanha responsabilidade.
Quisesse eu ser um sociólogo, pegaria nisto para me tornar doutor por tese. Talvez Fernando Vumby na Diáspora possa pegar nesta matéria e dar-lhe o devido relevo... Ou também o professor Júlio César Ferrolho ou Edgar Neves entre outros .... GENTE DE CRÉDITOS E ACREDITADA...
O Soba T´Chingange
N`ZINGA E O FALA KALADO – 4ª de Várias Partes – 10.04.2019
Por
T´Chingange - (No Nordeste brasileiro)
Nélito Soares foi assassinado à queima-roupa na Vila-Alice pelos comandos Tugas já depois do 25 de Abril de 1974, ainda debaixo da Administração de Portugal. Assim se pensava ter sido até o misterioso encontro entre o T´Chingange e o tal de FALA KALADO no aeroporto Internacional e do Terminal Doméstico numero DOIS de Guarulhos de São Paulo.
E, graças ao “Morro da Maianga” consegui descortinar um pouco mais a minha alhada aqui comentada no meio de uma fricção ficcionada… Uma meia inventação em que só o tempo descortinará como verdadeira, essa morte do Nélito Soares, o mesmo FALA KALADO dos MISSOSSOS a virar lenda.
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Quanto ao Coronel FK, aparecerá nos próximos episódios mas em tempo de malembe malembe e da frente para trás porque os acontecimentos andaram muito mais rápidos do que a minha escrita e, recordar o passado, é forçosamente como fazer reverdecer erva sintética - uma trepanação complicada.
Nesta tarefa de dar vida aos matumbolas plastificados, só mesmo o MPLA se pode considerar perito de primeira. Naquele então de 1974 e 1975 estes e os Tugas foram especialistas de dez estrelas. Mas, e, também porque nossas vidas assim foram determinadas, andarem para trás como o caminhar dum caranguejo robotizado. E, há muitos que continuam assim, robotizados, amaciando a podridão duma nação...
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Assim, só poderei dizer que FK (Fala Kalado) ingressou na UNITA posteriormente à sua própria morte (aparente) e tomou o nome de Fala Kalado (Fala como agradecimento às Forças Armadas de Libertação de Angola - FALA e Kalado por ser sua condição "sine qua non" secreta).
Ainda não eram seis horas da manhã, o sol estava erguendo-se ao nível do horizonte mas ia já nas silhuetas dum sexto andar e, eu na água fazendo exercícios. Hoje excepcionalmente fui abordado pelas alforrecas, águas vivas roçando seus fios raivosos nas minhas duas quinambas; coisa suportável e, segundo se diz benéfica para reduzir a artrite.
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Estive bem perto de duas horas dentro de água falando com um casal vindo de Pacatu de Minas Gerais, enquanto me mexia. Já sentado no banco corrido de cimento cru e à sombra dos coqueiros do calçadão, bebo minha água de coco comprada ao Jefferson. É bom lembrar aqui que este cidadão antes de iniciar suas tarefas e ainda, estando eu na água, correu a dar um mergulho de corpo inteiro.
Jefferson após o mergulho levantou as mãos em adoração para o céu, orou ao seu Deus, ou ao paínho Cisso cantando um oração; de onde eu estava os dizeres eram monossilábicos, parecendo uma zoada carregada de muitos amém e estando eu assim pensativo nestas minudências da vida, aproximou-se um senhor já velho, camisa florida, cor e jeito de um cubano Caribenho.
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O chapéu de matuto do sertão não lhe conferia um esmerado gosto; fazia rodar em sua mão esquerda umas missangas feitas de pequenos búzios; Era assim pró moreno e dum perfil ginasticado, embora um pouco encarquilhado no rosto e na orelha esquerda. Sentado a meu lado e depois de uns curtos suspiros pude ouvir: Têm noticias de Kalacata? Não havendo mais ninguém ao nosso lado, deduzi que a pergunta era para mim.
Num repentemente minha massa encefálica, despertou meu astigmatismo e como um raio lazer caiu na realidade do nome afiando-me os olhos num só. Kalacata foi alguém de minha intimidade de quando eu fui Secretário de Informação e Propaganda do Comité da UNITA na Caála, também chamada de Robert Williams. Assim brutefeito, olhei para ele mais de frente e, tive um susto: - Era ele, o FK!
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Ambos nos levantamos e, sem nada dizer, nos apertamos num longo abraço. Minha cabeça convulsionava-se em desespero para entender este encontro assim tão inesperadamente esperado - tão súbito! Em verdade, sempre o seria em qualquer momento - estava ali a fera! O FK...
Titubeamos aos poucos as falas, assim como um motor com falta de ar no carburador e, desengasgando coisas recentes falamos coisas menores, como que a apalpar terreno e, lá me pediu desculpa por não me dar a atenção devida no aeroporto de Guarulhos. Disse-lhe que isso não era assim tão importante.
Em realidade mentia, agora com a fera ali tudo era importante. E, com tanta coisa para dizer, saímos dali para dar continuidade em outro lugar. Não é de admirar que estejam curiosos porque eu, também estou - e muito!
(Continua...)
O Soba T´Chingange
MIAÍ DE CIMA . CORURIPE - 27.03.2019
Lugar aonde os índios Caetês comeram o primeiro bispo do Brasil - SARDINHA! - Também com este nome!? - estava a pedi-las...
Por
T´Chingange - No Nordeste brasileiro
Livros em cima do criado mudo (mesa da cabeceira)
1 - A minha Empregada - Editorial Estampa de - Maggie Gee
2 - O ano em que Zumbi tomou o Rio - Quetzal - José E. Agualusa
3 - O Último Ano em Luanda - ASA - Tiago Rebelo
4 - BURLA EM ANGOLA – Burla em Portugal - Guerra e Paz – Susana Ferrador
5 - História da riqueza de brasil – Estação Brasil – Jorge Caldeira
6 - GLOBALIZAÇÃO de Joseph E. Stiglitz
7 – VIDAS SECAS – Graciliano Ramos
8 - A viagem do Elefante – José Saramago – Da Caminho
9 - O Livro dos Guerrilheiros de José Luandino vieira - Da Caminho
10 -O CORTIÇO - Romance de Aluísio de Azevedo – IBEP – S. Paulo, Brasil
11 - O Romance “A Pedra do Reino” – José Olympio editores … Ariano Suassuma...
12 - O PADRE CÍCERO que eu conheci - Olimpica editora de Juazeiro - Amália Xavier de Oliveira
:::::174 - O Bispo Sardinha caricaturizado pelos seus, no Vaticano
Estávamos a 24 de Março deste ano de 2019 - um dia calorento, sem brisa, nem cheiro dela! Recordo! Fui em tempos como romeiro a Juazeiro e até se deu um milagre... dele falarei lá mais para a frente. Posso adiantar que havia no meio da clareira uma mulher integralmente nua, de cabelos pretos escorridos pelas costas e até quase à cintura. De cor morena e olhos de uma grandeza impressionante que rodava sua juventude.
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Assim esbelta girava ao redor do único salão disponível; talvez uma clareira, um simples terreiro. Não pode ser! Havia bananeiras a contornar a natureza. Só poderia ser mesmo um salão de um imenso tamanho, do tamanho do Mundo. No encontro da noite com a manhã, um "bem-te-vi", despertou-me da realidade ou para a realidade. Aquela mistura maluca de seiva de cacto com jenipabo fez-me viajar por muitos e variados lugares como um supremo e eterno jogo de amor, nuvem com donzela parda do Agreste. Pópilas, era mesmo vontade de mijar! Para vocês, desconsigo mentir - acontece!...
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Foi assim que sucedeu com todos os portugueses. Os Caetês comeram o primeiríssimo bispo do Brasil com o nome de Sardinha. Pode existir assimilação mais completa, pode!? Aplicando todos os impensáveis princípios de fraternidade, Sardinha e mais de oitenta marinheiros naufragados nesta costa aonde me encontro, foram comidos depois de esbracejarem auxilio aos índios. Eu nunca li assim deste jeito uma tão tamanha fraternidade. Agora, bem que poderíamos ser, todos uma única raça: -Brasileiros.
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Pois! Os Portugueses iniciaram este país, afinal, deixando-se jantar pelos índios. Pela quantidade foi mais que um jantar, um café da manhã com almoço prolongado e ceia lá pela noite adentro. Depois disto fomos nos comendo uns aos outros e, eu acho lindo! Mas, sabe o que aconteceu? Alguns de entre nós descobriram-se negros e desataram a reclamar da cor. De repente cada qual começou desatando seu pavio e rápidamente já eram todos a reclamar casa, bolsa família e o escambau!
:::::177 - Pioneiros do MPLA - 1975
Os negros reclamavam de que não os deixavam ser brasileiros: Jacaré por exemplo veste uma camiseta preta com a inscrição "100% Negro". Euclides, o benguelense, pensando nisto,fala missangas com o General Catiavala. Este, vestido com o uniforme camuflado do Exército Angolano, suspira: - O senhor conhece Benguela de antigamente? Eu agora vivo só de lembranças, sabe? Já somos dois! ... os passeios nocturnos à Massangarala, ao Bairro do Benfica, ao luar - Tudo era bonito naquele tempo...
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Até o Salão Azul dos cubanos e o Lanterna Vermelha, o dancing do Quioche. Sabe aonde havia a melhor quissângua de Benguela? Euclides fala, fala sem obter qualquer muxoxo, qualquer resposta audível e plausível. Um dialogo chato de se fazer. Pois eu por detrás do bairro do caminho de Ferro, quando a gente ia na escola...lembra! Sem resposta, o jornalista ia ficando no pensamento dos tamarindeiros em flor...
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Morrendo apenas, é que tudo acaba. O carro desliza através da tarde imóvel. Ao jornalista benguelense parece-lhe que estão parados - que é a cidade que desfila diante deles - um filme mudo. O Cristo Redentor de braços abertos continua de costas. Vai se entretendo a ler as placas das lojas e restaurantes: - Mocotô de Caetês,... grão de bico com bacalhau do M´Puto,... Sardinha grelhada à Coruripe.
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Pensa em outras tardes semelhantes àquelas, no Huambo, no Alto Hama ou em Benguela, assim mesmo de quando o tempo se aquieta no silêncio vastíssimo ou no meio da poeira vermelha da picada, apenas de onde o vento vira a curva, vindo de muito longe; lugar aonde se ouve o desespero dum motor, uma GMC ou Magiros, Scânia ou até uma Ural feia de assustar crianças. O desespero de um camião na picada.
:::::181 - Soldados do MPLA - 1975
Porém, o país que amas, talvez já nem exista mais. Neste item, pode-se-lhe adivinhar os pensamentos na perfeição. - Você não tem saudade dos passarinhos, das flores da nossa terra? Isto da "nossa" é uma forma de dizer mas, lembro-me sim, dos rabos-de-junco, dos bicos-de-lacre, das celestes,, canários viuvinhas ou dos plim-plau cantando nas acácias rubras da minha rua. Às tantas nem sei se o cara fala comigo ou se só pensa.
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Eram tempos do visgo da mulembeira que a gente punha nas figueiras, umas palhinhas a colar as patas dos bichinhos - os siripipis de Benguela. Um dia, quando voltarmos, se voltarmos algum dia, haverá ainda acácias rubras florindo nos quintais? Ou estará tudo feito um cortiço de gente entaipada àtoa. Recordo ainda a fúria que esperava por alguém numa esquina. Não importa qual a esquina e quem era! Era alguém que na Luua, escuta violento rebentamento, violento estilhaçar de vidros e, logo a seguir a massa convulsa dos jovens pioneiros que gritam ódio.
:::::183 - Jonas Savimbi - morto
Gente que faz tiros, que leva as balas directamente do produtor ao consumidor. Depois! Depois surge um homem ajoelhado no asfalto. Para aqui! Um adolescente alto e magro, de bermudas, uma camiseta com o rosto de jacaré e o título de seu disco - duma canção que editou "Preto de nascença". O candengue alto e magro, de bermudas descoloridas, sapatos quede, encosta uma pistola à cabeça do gordo e, dispara...
O Soba T´Chingange
TEMPO DE CINZAS NO MIAÍ DE CORURIPE – MALAMBA é a palavra – 26.03.2019
- Boligrafando estórias em cor vermelha…1ª de várias partes
Por
T´Chingange - No Miaí de Coruripe - Nordeste brasileiro
Eram umas cinco horas e trinta minutos do dia 23 de Março, um Domingo. Fui fazer o café da avó bem à maneira da roça da Ti Jacira, uma encantadora senhora com 87 anos. Ti Jacira levou toda a vida dedicada aos filhos e netos de outros mas, que se tornaram dela. Ela nunca se casou mas, como uma assistente social que era, levou tão a peito sua actividade que assumiu ao longo da vida filhos de outros progenitores sem fazer triagem de sua perfeição; conheci-a assim nesta graça de vida feita uma senhora Madre Jacira de Miaí de Cima.
Dedicada a rezas do terço, no fazer de qualquer coisa, acalenta sempre seu final com um Graças a Deus e se Deus quiser. Ás tantas em suas falas o Nosso Senhor é uma virgula em suas missangas Assim diz: Amanhã, se Deus quiser, vamos à praia, se Deus quiser, a chuva não vai chegar e, se Deus quiser, almoçaremos peixada no restaurante da Dona Maria, se Deus quiser, na sua graça.
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O café "Santa Clara" bem à maneira do Sertão, foi lançado na água quente e quase fervente na cafeteira. Três colheres para a quantidade volumétrica do termo e, assim que despencou a subida, meti na espuma cheirosamente castanha a colher de aço frio com cabo de pau-ferro; contida a subida desliguei o fogão e esperei um pouco que assentasse.
Depois foi só entornar o mesmo para a garrafa de termo. Não! Em uma outra pequena panela de cabo comprido fervi água para desinfectar o coador em linho - uma espécie de meia suportada em um aro enfiado em um cabo de madeira antiquíssimo. Por via de grandes ausências, estes procedimentos são de extrema importância por ali andarem cobras, morcegos e calangos - uns mini crocodilos de uma cor de argila verde com sarapintas escuras; assim parecidos com as iguanas, isso, com seus lombos em forma de serrilha- feios pra burro!
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O cheiro subiu até aos aposentos do andar superior dando ênfase ao término da dormida - noite quente - talvez uns trinta e dois graus; o raio do ventilador ficou lento a noite toda. Escandalosamente lento a fazer romrom que nem um gato com asma tuberculina - a velocidade era só a que tinha: uma - a primeira! Tive de dormir na varanda a sorver com stress o vento mais frio vindo do lado do mar cercano com os sancudos e pernilongos a azucrinar os ouvidos; a pele macia a desfazer-se em pupias untosas de ADN encardido.
Vou-vos contar! É um negócio meio gozado! Pimenta no cu dos outros é refresco, mesmo! Aqui as falas começam e terminam com esse negócio; fácil de falar assim aonde tudo se chama do mesmo jeito num vocabulário mais restrito que a lua nova: - Oi -passa aí esse negócio! Isto pode ser tanto uma cadeira como um lápis ou fita adesiva.
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No topo do décimo sexto degrau mais um mocho a dar altura ao primeiro, ouço um doce bom dia! Bem! Eram já bem à vontade umas sete e trinta horas. Era a Doce Senhora Ti Jacira a dar vivas ao meu cheiros café da manhã. Mas, não desceu logo - ainda se manteve pelo primeiro piso até bem às oito horas. Entretanto já tinha saído à rua, um largo beco com dois metros e oitenta de largura e, ido à padaria situada bem no meio da calçada, do lado inverso que dá para a Igreja de São João Baptista - rezas ao cuidado do padre Severino da Paróquia de Coruripe.
Bem! Chegado à padaria com uns quantos reais no bolso da sunga larga, feita calção de tomar banho, de dormir e bundear preguiça na rede, depois de passar a urbe dormida na tepidez matinal - assim num chegar, chegando dou um bom dia arrastando o "d" de dia parecendo estar a enxotar a galinha, sotaque bem da terra: Bôjia! Ué! O negão de ventas largas que se assome na porta lateral responde: Bôjia mê imão! De dentro vinha um cheiro doce de pastel, queijo de coalho e outras guloseimas.
(Continua...)
O Soba T´Chingange
MU UKULU...Luanda do Antigamente – 21.03.2019
Estas lavadeiras tinham o hábito de fumar um tabaco artesanal, viscoso e de cheiro intenso que era manufacturado a partir de um entrançado de folhas de tabaco, parecido como uma rodilha…
Por
T´Chingange – No Nordeste do Brasil
Luís Martins Soares – No Rio de Janeiro - Brasil
Na Luanda antiga, as máquinas de lavar roupas eram desconhecidas e o emprego da selha ou do tanque de lavar eram acessórios indispensáveis a qualquer lar. Os barris de vinho importados de Portugal, eram cortados a determinada altura da base mantendo no mínimo duas a três aduelas de chapa de ferro para manter sua estabilidade, obtendo assim a selha usada com uma tábua solta de lavar, adicional; nesta, eram feitas as ondulações necessárias para nela se esfregar a roupa ensaboada.
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Consoante a sujeira da roupa, operações diversas eram praticadas para lhes dar o acabamento final de roupa bem lavada e cheirosa. O sabão mais usado era o azul ou branco da Congeral que todos conheciam por sabão macaco. Mais tarde surgiu a marca clarim, um sabão com outro potencial de cloro e usado na lavagem de roupa oleosa, fatos-macacos e outra de trabalhos oficinais; Era feita uma barrela ou posta a corar, sendo necessário um coradouro. Este era construído em madeira em um espaço de quintal solarengo, um quadrado do tamanho de quanto bastasse com rede de galinheiro.
Ali era estendida a roupa a ser corada; o conjunto era suportado por caibros que apoiando no chão dando consistência ao andor de forma horizontal ou inclinada a gosto e em conformidade com a incidência do sol. Par evitar que a roupa secasse alguém da casa deveria regá-la de vez em quando, evitando que a mesma secasse ensaboada. Claro que esta tarefa era por norma feita pela mãe de família, cultura ancestral reservada à mulher que para além disto tinha a tarefa de cuidar dos filhos, assim como fazer comida para todos.
As mulheres brancas ou de um estrato social mediano, tinham uma lavadeira que fazia este serviço por ela a troco de um salário normalmente baixo; estas, comiam normalmente do rancho da família ou levavam consigo alguma funje ou milho cozido no carolo para se alimentar; por vezes faziam-se acompanhar de um filho de tenra idade que nas costas dormitava conforme o movimento de esfrega-esfrega, da mãe. Por vezes levava mais um ou dois filhos por não ter com quem ficarem lá no musseque.
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Estas lavadeiras tinham o hábito de fumar um tabaco artesanal, viscoso e de cheiro intenso que era manufacturado a partir de um entrançado de folhas de tabaco, parecido como uma rodilha. Para que estes charutos durassem, fumavam com o lume para dentro. De quando em vez lançavam uma baforada de cheiro intenso que se impregnava nas roupas no nariz; creio que isto afugentava os mosquitos que eram muitos lá pelos anos ou até 1950.
O Município de Luanda, por esta altura tinha várias equipas técnicas a lançar fumo DDT por todos os bairros periféricos e também no centro da cidade; os candengues conheciam o trabalhar dos carros-do-fumo TIFA que surgiam periodicamente. As donas de casa abriam janelas e portas para que este fumo se entranhasse por tudo quanto era canto e refúgio dos pernas-longas que provocavam o paludismo.
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As roupas já secas eram recolhidas e, na varanda ou em um espaço anexo, eram passadas a ferro. Antes do surgimento da corrente eléctrica, eram usados uns ferros fundidos ou forjados para passar lençóis e, toda as outras peças de vestuário. Estes ferros na forma de uma caixa pequena de sapatos terminando em quilha como se um barco fosse; embora pequeno, tinham superiormente uma tampa pivô que permitia a alimentação com carvão vegetal que depois de acesos aqueciam a base bem mais grossa que o resto do corpo.
Estes artefactos com uso até a metade do século XIX, tinham umas quantas aberturas para manter viva a queima dos tições de carvão e, de vez em quando a engomadeira – lavadeira soprava por aí para avivar as brasas. Sua base era bem lisa. Na tampa existia um pegador tipo asa que servia para transportar e fazer correr o ferro para a frente e para trás no acto de engomar. Havia quem usasse um abanico de mateba para assoprar as brasas em substituição do sopro que por vezes intoxicava as mucosas e os olhos provocando um choro fungoso de como quem tem uma rinite persistentemente chata.
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Nos modelos mais avançados, tipo xis-pê-tê-hó para a época, tinham na parte frontal um tipo de chaminé de boca larga, o suficiente para que ao abanar o mesmo num vaivém balançado no ar, este, entrasse pela frente mantendo as brasas ao rubro e soltasse as cinzas acumuladas. Este objecto pesado requeria do manobrador alguma habilidade no seu manuseia. Era assim usada uma chapa suficientemente arejada para os descansos e entretantos parados do artefacto. A tarefa era bem cansativa.
Haveria que se ter em atenção não deixar as brasas cair na roupa pois que obviamente as poderiam queimar. Havia necessidade de se calcular a temperatura ideal para passar cada tipo de roupa e, a técnica empregada, era passar rapidamente o dedo indicador pela base do ferro; nesta operação deveria sempre, molhar-se o dedo, na língua – é obvio que sem qualquer cuspo a humedecer o dedo, este se poderia queimar. Por vezes até se sentia o frigir das borbulhas como coisa crocante.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
ONGWEVA DO TEMPO - KIANDA ROXO – 20.03.2019 - 22ª Parte
Kiandas e calungas! A mesma Kianda Roxo e sua mana Oxor que nasceu em Harare nas coordenadas de 17° 50' S 31° 03' às margens do lago Chivero…
Por
T´Chingange – No Nordeste brasileiro
Sêlo da Niassalândia
Seu António, Seu António! Era para mim, só podia! Ouvi o chamado saído bem junto à rede de Futvolei encostado à barraca da Kanoa. Ginasticando minha hidroginástica, levantei os dois braços com o punho fechado e com os polegares saídos para cima como quem diz “gosto” no Facebook – estou aqui. Era meu conhecido Álvaro, um jovem ainda, a caminho de ser coroa, que aqui vem assiduamente à praia da Pajuçara zelar pelo seu físico.
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Álvaro é filho de um português saído da cidade dos três efes – forte, formosa e fria; trata-se da Guarda nas alturas da Serra da Estrela, Beira Alta. Nesta minha praia, quando não apareço, dizem-me: Anda sumido cara!? Cheguei – digo com o polegar levantado – Tudo bem, beleza! Cheguei chegando -Tudo jóia! Já à sombra do chapéu verde e branco e bem sentado no sítio habitual, sempre no furo mole da areia, fronteira da maré de lua minguante, acompanho a azáfama do pescador de cerco de nome José Santiago.
José Santiago que para além de jangadeiro também é pescador de maré rasa, surge de bicicleta vermelha pela areia molhada. Esta bike é bem sofisticada pois que tem artefactos pouco convencionais com dois pneus extras aparafusados nas partes dianteira e traseira. Na parte de trás situa-se um bidom de secção quadrangular de cor azul e dentro dele, Seu José retira uma rede de uns 40 metros de comprimento e talvez dois de largo.
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Depois de estabilizar a bike por meio dum suporte feito zingarelho de não enterrar na areia, retira a tal rede que enrolada ao seu jeito fica com os dois paus dos estremos da dita cuja bem montadas em seu ombro, assim feito lombo, tal o tamanho da carga. Espeta um dos paus na beirada, água pelo joelhos e vai andando em circulo mar adento largando o bagulho de rede de nylon. Em cima, tona de água, pode ver-se as missangas feito bóias esparsas e pelo certo, o outro lado mais pesado roçará o chão muito cheio de sargaços.
Depois de quase fechar o circulo espeta o segundo pau e começa a barafustar com a água: enquanto salpica o espelho de água vai-se aproximando do centro parecendo enchutar algo. Trata-se de afugentar os peixes para assim ficarem aprisionados na rede. Carrega tudo isto embrulhado e desmancha o monte com mestria, fazendo sair de repelão as algas aprisionadas na rede. Ora apanha alguns peixes, ora pouco trás mas, sempre parece dar-lhe para o sustento.
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Pude observar que nesta tarefa era ajudado por dois seres de algum volume e um tanto gelatinosos como as medusas, também conhecidas por alforrecas ou águas-vivas assim muito semelhantes a cavalos marinhos de grande porte. Eram duas sereias – kiandas que de um e outro lado faziam deslizar o cerco da rede de forma mais célere. Acreditem ou não eram as perpetuas kiandas Roxo e mana Oxor, já nossas conhecidas por via de tantas vivências aqui contadas.
Uma relação que já vem da praia de Guaxuma e em outras paragens distantes como os lagos ao longo do vale do Rift tais como o lago Niassa de onde são originárias,Tanganica, os estuários do kwanza e rio Kongo ou Zaire. Isto é tão fantástico que fiquei na dúvida de se José Santiago as via assim como eu, porque outros, sei de antemão que não as viam. Sei porque isto se tem passado em outras paragens tais como os lagos Victoria e o Eduard no Uganda. Lá terei de falar com a minha empregada Mery de Campala acerca disto.
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Hoje mesmo e a propósito falei com o jangadeiro Santiago sobre se as via ao que me respondeu: Dôtor…faz tempo que elas andam por aqui. Mais ninguém as vê a não ser eu e graças a Deus, tudo ficará assim porque é Ele que assim quer – mas ninguém acredita, sabe! – por isso nem falo!... Ele, Santiago, também não ficou a saber que eu as via e, assim vai ficar…Quando levo turistas às piscinas do recife, acrescenta, são elas também que enxotam os peixes coloridos até eles.
Uma belezura! Ganha-se pouco mas a vida corre, graças a Deus. Ficam encantados dando-lhe miolo de pão; um paraíso! Disse. Estas ilhas em realidade são parte do recife que provoca a calma espelhada nestas águas da praia. Fiquei muito contente de as ver por aqui – fico sempre! Pena não termos por perto o Zé Peixe a completar o quadro da “kalunga”. Num jeito de seriedade lá terei de pedir à sereia- kianda feita gente Assunção, que faça um quando o mais fiel possível disto para que os anais da estória não passe ao lado.
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Na ultima parte do mussendo, 15º episódio, falei do porquê esta kianda Roxo de Guaxuma andar assim tanto de um para outro lado irrequieta, sem saber no consciente desta sua dupla vida, compartilhando xispanços de tinta com particular maestria e, do porquê das cores cibernéticas confundindo-nos com holografias psicorroxas. Um dia pedirei a M. J. Sacagami que as defina ao seu geito astrofísico… Mas, já sabemos que nasceu às margens do lago Chivero. Aqui recordo de novo para que não haja duvidas em futuros arquivos.
Sabemos que sua mãe, também kianda de tez negra foi Redufina Kabasa Tsvangirai que se umbigou com um tal de Morgan Tsvangirai. Que nasceu em Harare nas coordenadas de 17° 50' S 31° 03' às margens do lago Chivero, lugar que fazia fronteira com a fazenda farm de MorganTsvangirai seu pai. Que por via da política teve de abandonar aqueles paragens deslocando-se para o Kwanza, ali bem perto de Massangano, lugar de muita magia por ser um pambu-n´jila especial com Muxima. Talvez ela agora, eu se encontra na Luua, se veja kianda no Mussulo depois dum repasto de catato, o tal mopane especial…FUI!
(Continua…)
O Soba T´Chingange
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