NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3512 – 06.11.2023
“Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata” Às margens do Cubango
- Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
N´Zambi a tu bane n´guzu mu kukaiela”, Deus dá-nos força para seguir… Cidade de MALANGE- Cem mortos, é assim que o Furriel de Transmissões Agostinho Pinto, colocado em Malange encabeça a descrição de seus dias ali passados: “No dia 28 de Maio de 75, estando em escuta via rádio com os meus homens, o malanjino Abílio Araújo mais o Luís Nabais Moreno, acontece pelas 16h30 horas ouvirem-se as primeiras morteiradas. Pode ver-se por cima dos telhados, Malanje começar a arder…
Aconteceu no trajeto curto para o quartel naquele dia, sermos revistados por guerrilheiros do MPLA, armados de kalashnikov, crianças – algo insólito! Naquele cenário de guerra desregada e louca, tudo poderia acontecer. Senti-me o militar mais inútel, tão diminuído e baralhado nesta confusa ficção. Tudo acabou por se resolver com uns maços de tabaco e alguns angolares. Em nossos postos, só conseguimos sair da escuta por volta das dezanove horas.
Porque o recolher obrigatório estava instalado, já não fui para o meu quarto alugado da cidade, aonde vivia; ali já não havia, condições de segurança. Do batalhão (BART 6323), desloquei-me à CCS. Pela primeira e única vez passámos fome; na messe de sargentos só havia bolachas e chá, pois o comércio estava fechado, a farinha tinha esgotado, não havia pão e os trabalhadores do comércio e serviços, dada a situação de guerra civil, poucos arriscavam sair de casa.
Era mais que evidente não estarem reunidas as mínimas condições de segurança para o povo e por precaução evidente, o recolher obrigatório era para respeitar. No dia seguinte já se contabilizavam para cima de 100 mortos e desalojados sem fim. Estávamos na messe dos sargentos em pleno recolher obrigatório e, de repente, vejo um jovem africano, que não teria mais de 15/16 anos, a correr, desrespeitando o recolher obrigatório para ir para a sua casa, no bairro da Catepa, quando ouço uma voz da FNLA a perguntar: "quem vem lá?".
Suponho que era a voz do mercenário “Passarão”, assim era conhecido o terror rambo da FNLA, que andava à civil e, de metralhadora kalashnikov, de boina e cabelo comprido. O miúdo respondeu "é camarada", o que foi a resposta errada, no sítio errado, à hora errada… O termo camarada era sentença de morte, cheirava a MPLA. Ouve-se uma rajada e o rapaz caiu de imediato, assassinado a sangue frio.
E, nós, militares, impotentes! Podem calcular a revolta que todos sentimos, mas não havia ordem para actuarmos descontentando-nos no vexame de cobardes; o mínimo que fizemos por aquele adolescente foi chamar a ambulância para levantar o corpo que jazia inerte. Essa imagem, que tenho gravada na minha memória, vai acompanhar-me até ao resto dos meus dias.
A partir dessa noite, a nossa primeira tarefa do dia – minha, do Abílio, Araújo e do Luís Nabais Moreno – era ir todos os dias às sete da manhã à morgue ver quantos brancos e conhecidos tinham morrido na noite anterior. Um ritual macabro, eu sei, mas era mesmo assim. A cidade estava totalmente desventrada dos bombardeamentos. A 12 de junho de 1975, parti na coluna militar para Luanda, tendo regressado a Lisboa no dia 24 Junho de 1975” (fim de citação).
Entretanto, seu chefe supremo, o Coronel de aviário, Otelo Saraiva de Carvalho, chefe do COPCOM e influenciador do PREC, estava em Cuba preparando o discurso do grande dia de Cuba a 26 de Julho, data do assalto ao Quartel de Moncada, com o tradicional comício presidido por Fidel Castro. Otelo, falou, para 600 mil pessoas, segundo números oficiais, numa fala de 20 minutos. Mais tarde fez questão de assinalar: ”Destaquei a importância da liberdade de escolha do povo e da sua capacidade de intervenção política”. O discurso foi transcrito, na íntegra, no Gramma, jornal oficial do PC cubano, ao lado de Fidel, que durou uma hora e vinte minutos.
(Continua…)
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