NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA*“ - Crónica 3578 – 18.05.2024
“FRACCIONISTAS DO MPLA DA LUUA – O 27 DE MAIO DE 1977” - Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto
Meu pai Manuel, passou coisas inimagináveis em Angola e, já kota, teve de voltar ao M´Puto com a vontade de ficar, por força desse dia 27 de Maio no ano de 1977. Estava pintado de manchas já negras de sangue, guiado por duas canadianas. Assim o vi, no aeroporto da Portela de Lisboa (actual Humberto Delgado), perna pendurada e ainda com uma bala junto à rótula do joelho.
Lá na Luua os mortos eram tantos e, por tantos lados, que o médico Boavida do Banco de Angola o mandou para o M'Puto; não fossem os pseudo médicos cubanos cortarem átoa a mesma! E foi no Hospital de Torres Novas do M´Puto que tirou a dita cuja - a bala! Teve a sorte de não gangrenar!
E li algures de que «As forças de segurança prenderam muita gente jovem que, na manhã de 27 de Maio de 1977, andava nas ruas de Luanda. Centenas deles foram levados para um Centro de Instrução Revolucionária na Frente Leste e os dirigentes locais assassinaram-nos friamente.» - Nas Faculdades desapareceram cursos inteiros. No Lubango, dirigentes e quadros da juventude foram atados de pés e mãos e atirados do alto da Tundavala.»
Os tamancos de pinho do M´Puto de meu pai, não eram suficientemente quentes para animar o dia que se seguia naquela terrinha chamada de Barbeita e, vai daí, meu pai tentou a Venezuela e o Uruguai mas as facilidades só lhe surgiram para a África - Terras Ultramarinas de Portugal. Deram-lhe passagem de colono após preenchimento de impressos timbrados com a esfera armilar.
Através da Companhia Nacional de Navegação zarpou no tal vapor Mouzinho de Albuquerque por volta do ano de 1950. Nós, família, ficamos a morar no Rio Seco da Maianga da Luua, início do Catambor. Nos fios de gastas crenças, tão corcovado, tão enrodilhado em suas macias filosofias de mineiro de volfrâmio, recordo meu pai Manuel, suspirando baixinho…
Revendo sua miúda indecisão de viver, vendendo volfrâmio para dar rijeza aos canhões de Hitler, assim - para sobreviver na “graça de Salazar”, guerra acabada, houve necessidade de mudar o rumo à vida. Um dia, com um trejeito de esforço, endireitou-se emperrado e cresceu! E, falou: - Amanhã vou à Companhia Colonial de Navegação inscrever-me - Vou para Angola! E, foi…
Ora sucede que passados muitos anos, nesse 27 de Maio de 77, veio da Luua inchado de porrada e com uma bala nos joelhos. E, vêm agora tornar heróis os Otelos e tantos guedelhudos a fingir que nos libertaram no VINTICINCO. Não posso entender o significado de nossas vidas, fingindo ou imaginando ter sido assim como um colchão coberto de cravos vermelhos num caixão e rosas, porque Cristo nos chama para às mais exigentes e ousadas periclitãncias como a sempre desconhecida morte! E, as FP-25 - Que negócio foi esse?
Esperei-o no Aeroporto. Seguro por duas muletas parecia um Cristo! Tirou essa bala e, não mais voltou… Impôs-se assim uma forçada regra de vida: - A liberdade de sermos saudáveis ou morrer por coisas impensáveis… Sim! Meu pai padecia ser um matumbola (morto vivo) e, até me belisquei para ter a certeza de que isto não era só um suspiro. Em verdade, eu também sabia bem que João Jacob Caetano, o lendário Monstro Imortal, tinha morrido com um garrote do n´guelelo, um triste fim de um herói…
Nota1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto…
(Continua…)
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