FÁBRICA DE LETRAS DA KIZOMBA
– Na piscina da Pajuçara, tive a companhia de uma tartaruga com bem um metro de diâmetro…
Crónica 3431 – 07.07.2023
PorT´Chingange (Otchingandji) – Na Lagoa do M´Puto
Em minha hidroginástica matinal na piscina da Pajuçara, tive a companhia de uma tartaruga com bem um metro de diâmetro, tomando em conta que sua cabeça que emergiu várias vezes, era do tamanho de um coco de meio porte. Foi a única parte de seu corpo que emergiu da água bastante turva. E, por a água estar turva, não deu para ver o corpo integral a uns escassos 4 metros. O turbilhão de ondas que batem no recife, tornam a água muito cheia de pequenas partículas que se soltam de entre as rochas dando a cor esverdeada à água.
A cabeça desta tartaruga parecia um camuflado castanho os quais se salientavam os olhos por serem grandes e luzidios. Este acontecimento deu-se em cinco dias alternados perfazendo nove aparições e sempre emitindo um som forte de aspiração de água ou o enchimento de seus pulmões – um sopro que me meteu medo pela primeira vez pois que estava sem pé na altura de água e também o foi novidade.
Entretanto chega o pescador de bicicleta andando na areia compactada de molhada e, por ali estacionou perto do meu local com o património do Conde do Grafanil, composto de uma cadeira inclinável e o chapéu-de-sol e chuva quando ela cai molhada; claro que também ali estavam meus chinelos de pé, a mochila, a flanela, a chave do mukifo - tudo tapado com a toalha mexicana. Chegado ali pelas 5 e 50 horas dou assim abertura à praia ainda deserta de chapéus e gente.
Por vezes cai um cacimbo que aqui tem o nome de garoa; nestes dias mais chuvosos esta chuva de molha-tolos dá algum desconforto mas não demora muito o sol desponta inchado de 27 ou 28 graus e, que em certos dias de verão pode mesmo ir até aos 32 graus. Quando a água está quase um espelho é muito agradável andar na água sem pé para lá e para cá ora fazendo de rã ora fazendo de jacaré e por vezes de hipopótamo. Assim e lentamente faço percorrer o chapéu branco com riscas verdes do Palmeiras Futebol Club treinado pelo português Abel Ferreira, ora indo para poente ora para nascente.
O pescador, senhor Zeverino do Jaraguá, entra na água com sua rede de cerco com os seus cem metros; assim enrolada dum certo jeito, espeta um pau comprido na areia que tem o início da rede e, andando com água acima do peito vai dispondo a rede paralelamente à borda água fechando-a mais à frente nesses tais cem metros. Vejo esta tarefa mais ao largo distinguindo a rede pelas bolas brancas de esferovite que proporcionam o boiar da rede. Do fundo os chumbos dispostos ao longo da mesma rede veda por assim dizer a zona do cerco.
A finalidade é fazer com que os peixes ali fiquem presos; para esse efeito Zeferino bate na água fazendo com que o peixe se enfie na rede; Não tem sido muito feliz nos dias que tenho observado sua tarefa e por vezes vêm caranguejos chamados de ciris. Mesmo que nada pesque, ginastica seu físico dando vida à sua hora extra. A operação de bater a água é feita simultaneamente com o fecho da rede de forma lenta e na forma circulada de caracol até que já junta é carregada aos ombros para a areia aonde com gestos certos a vai dispondo em monte sacudindo as alas e retirando o pescado quando o há.
Um Trabalho que nem sempre o é eficaz mas, que traduz a verdadeira lei da vida, mexer-se recolhendo o proveito e em simultâneo absorvendo a seda da água com o iodo matinal e a tal de vitamina D com outros sais que nem é necessário enumerar, ressarcindo vontades de resiliência na nata do batom branco das ondas que não muito longe batem nos recifes, formando uma linha branca que confrontar mais álem o horizonte com o azul escuro da água e o escuro azul do céu.
Lá pelas nove horas, com chapéus de todas as cores dispostos ao longo da praia desde a Ponta dos Corais até o Jaraguá com seu Porto Açucareiro, é a hora certa para regressar ao mukifo. É a partir das nove horas que chegam os vendedores ambulantes com panos galhardos de cor, redes, ostras no gelo, camarão ou skol fria – espigas de milho cozido, óculos de sol, bolas e bóias e toda a catrefada de coisas que se possam imaginar. A vida, não é assim tão fácil para estes camelós…
O Soba T´Chingange
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