NAS ADUELAS DO BAÚ
DOS TEMPOS DE DIPANDA * - MEMÓRIAS DE UM GUERRILHEIRO – COM ABEL CHIVUKUVUKU
- Crónica 3664 – 15.02.2025
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Arazede do M´Puto
O bloqueio era mesmo um inferno! Balas rompiam vidros e metal enquanto a viatura chocava com cortinas de pneus empilhados e encastrados em troncos, vigas e vigotas de cimento, botijas de gaz descartadas e farpas de todo o tipo de material encontrados pelas milícias nas últimas horas; todo o tipo de bugigangas que podessem ser utilizadas como obstáculo…
Abel, apenas sentia um gelo terrível nas pernas; rastejou até à porta da casa mais próxima que a custo, abriu a porta e entrou. Despiu a camisa e o colete à prova de balas rasgou a camisa, e com o tecido desta improvisou garrotes para controlar a hemorragia em ambas as pernas, abrigando-se em seguida debaixo de uma cama.
Morre kwacha, morre kwacha! Morre! Foi o que atemorizado, ouviu vindo do lado de fora, com gritos, muitos gritos entrecortados por tiros, ora esporádicos ora de rajada. Na eternidade de um segundo, pela mente de Chivukuvuku passavam imagens da Missão do Dondi com seus mestres, o capitão Vinama Chendovava. Também recordou Kalakata, seu mestre fintador na arte de guerrilha.
Despertou com uma violenta explosão provocada por uma granada que estrondou na sala… Ouviu então: Tragam gasolina - vamos queimar o gajo! Eu vou, chefe Zé Mulato, estou indo… Foi neste então que que Abel Chivukuvuku gritou com toda a sua força, quase como um ultimo grito. João Mulato! Não queimem a casa! Sou o Abel Chivukuvuku.
Após um silêncio ouviu-se: Seu kwacha de merda, eu não sou João, sou Zé! Novo silêncio. Alguém sussurrou ao chefe ser mesmo a voz desse tal Chivukuvuku, um grande da UNITA, e veio então a resposta: És mesmo tu, Abel Chivukuvuku?! Sim, foi a resposta, sou eu! Pois então, sai com as mãos no ar! Não consigo, foi a resposta de Abel.
Fui atingida nas duas pernas! Sai, filho da puta, kwacha sundiameno… por fim, apoiando-se a uma das paredes, num gigantesco esforço, conseguindo ficar de pé a muito custo gritou: Zé Mulato já estou na sala de pé! Ele, Epalanga Chivukuvuku descendente em linha directa do grande rei Ekuikui II estava cercado por uma algazarra de ébrios milicianos emepelistas de fitinhas coloridas, parecendo talibãs…
Estava a ficar longínquo o tempo, quase uma miragem de quando era um promissor jovem que fazia renascer a UNITA das cinzas – um “jovem intelectual” saído daquela missão do Dondi no Andulo. Tinha então 19 anos e, dando novas perspectivas ao Galo Negro… O Abel Chiukuvuku que na base “Quadrado”, esteve à frente dos Serviços de Inteligência, Informação e Contra-informação era agora, um farrapo de gente a ser levado para o Hospital Militar de Luanda.
E, foi Zé Mulato, comandante das milícias do Sambila (Sambizanga) a relembrar a seu modo, o que por ali se passou, naquela noite de 1 para 2 de Novembro de 1992: No Sambila estávamos todos armados; as entidades superiores do governo do MPLA, deram-nos arma AK, DKM e muitas granadas e, também material de comunicação. Inicialmente, erguemos barricadas para impedir que os homens da UNITA fugissem para Kikolo ou para a mata.
Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota 2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e livro de Vidas e Mortes de Abel Chivukuvuku escrito por Eduardo Agualusa.
(Continua...)
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