MALAMBAS DAS FRINCHAS DO TEMPO – No Okavango River e o risco ou o rego que, por coisa pouca muda nossas vidas…
Crónica 3443 – 22.07.2023 - MALAMBA: É a palavra.
Por T´Chingange (Otchingandji) – Em Amieiro do M´Puto
Se a vida é uma sentença com um princípio e um fim, não conseguiremos ouvir o grito da vida se sentirmos remorsos daquilo que não fizemos, ou daquilo que poderíamos ter feito; não podemos assumir a culpa dos pais, nem dos pais de outros pais. Na percepção parcial das vitais contingências, tecidas e compostas nas coincidências de que a vida é feita, encontraremos o rigoroso sentido do passado, por fortuitos efeitos que determinaram o futuro próximo e mais distante.
Cada um de nós foi o que foi por uma coisa pequena, que sem se lembrar do primeiro choro, outros choros se lhe seguiram e, como um risco feito no chão, nem sempre se escolheu dedo ou arado nem por onde fazer o rego que por coisa pouca mudou nossas vidas. Sem perder tempo com enigmas, aceitei o convite da Ana Maria para passear ao longo do Kavango até quase o Botswana a visitar rápidos e remansos das chanas deste, já com as águas do Kuito, águas escuras que vão inundar o Delta do Okavango.
Um mar muito antigo a dar vida aos muitos N´dovus ou jambas que conhecemos por elefantes, entre hipopótamos búfalos e, outras variadas espécimes. Pela picada de macadame encrespada de ondinhas já para lá do Divundo, dos vários cuca-shops* e cola-colas dos chineses, passamos locais de kimbos dispersos e lodges junto ao rio como o Rainbow Lodge, Nunda River, Ngepi Camp, Ndhovu Safari, mas foi no Mahango Safari Lodge escondido no denso arvoredo verde e bem na margem do rio, aonde subimos numa barcaça…
Mesa posta supimpa, para as catorze almas e alminhas do clã Miranda degustarem um bem surtido e nutrido breakfast com iguarias de crepes e outras ternuras mais adultas. Já de regresso, de novo nos internamos numa sinuosa picada de areia a visitar um lugar já conhecido como Suclabo Lodge propriedade duma madame de nome Suzi mas, agora com o nome de Divava Okavango Lodge e Spa, cinco estrelas de “elegant style and luxury”.
Cumcatano, disse eu depois de pisar o paradisíaco sítio cheio de coisas “good” logo a seguir a cubatas feitas de barro e capim com dois por dois metros, e muito matutar de como caberia ali um par de gente sem os pés encolhidos. Eu, João, Bruno e seu tio Alemão Franz lá fomos em uma pequena balsa com motor à popa e um bafana enfarpelado de caqui, seu chapéu de carcamano do Divava, um surtido de águas, refrescos e cervejas na caixa térmica.
Entre margens de exuberante verde, altas árvores, chegamos á base dos rápidos do Popa Falls. Naquela turbulência e com nossas canas de carretos, zingarelhos e estralhos, amostras bizarras e bizarrocas, farfalhudas com penas ou reluzentes, atiramos e recolhemos, atiramos e recolhemos e, por aí, repetido sem nada pescar e, eis que o campeão João num truz recolhe um peixe tigre cheio de dentes pontiagudos aí com uns dois quilos que, foi tudo na soma da pescaria, um tigre e três nadas.
E porque é vulgar dizer-se que os gestos não totalmente sinceros vão sempre atrasados, agradeci logo tais luxuriosas horas de lazer a Ana Maria e seus dois filhos quase carcamanos, mas com rusticidade na traça mirandesa, bragançana ou transmontana em seus sotaques, falas e cantorias. Soe dizer-se que todo o acto humano interfere com a vontade de Deus por mais insignificante que seja e, neste dia de Domingo, quatro de Janeiro do ano da graça de 2015 assim foi…
Só fui livre para poder ser castigado na míngua da pesca com um escassíssimo nada. Também nisto, não posso ter remorsos! Um dia de cada vez com encontros decisivos de nula ou muita importância, um simples dia de vida com rooibos tea and rusk bread, Windhoek lager, biltong bóher e bacorinho no espeto, assado pelo Thinus de Outjo, o mais genuíno carcamano bóher da família Miranda.
(Continuarei pelo Okavango – Terras do fim do mundo, Rundu em dialecto Ovambo…)
Bibliografia: Cuca-chopes: - Muito pequenas bodegas; vendas à margem das estradas que têem cerveja e bolachas já fora de tempo, Coca-Cola e fuba; Kavango: - Rio que faz fronteira entre a Namíbia e Angola, que deu o nome à região; Bafana: - natural da região, normalmente negro na cor; Zingarelhos e estralhos: - apetrechos de pescador; Rooibos: Chá de capim do Calahári; Bóher: de origem Holandesa saído da colonização da Companhia das Índias Orientais…
Nota: Com um levado agradecimento à familia Miranda que no Divundo da Namíbia,me deram guarida grátis! Terra de xirikwatas, um pássaro que come jindungo - foi Dona Elisabette , recenteente falecida que me deu ese conhecimento com o mais bonito riso que senti naquelas terrs do fim-do-mundo... Ao amigo Miranda um abraço XXL...
O Soba T´Chingange.
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