Segunda-feira, 22 de Julho de 2019
XICULULU . CXIX
PANOIAS VII - TEMPOS DORMIDOS20.07.2019
DE AL-CALÁ A BADAJAM
Por

soba15.jpg T´Chingange – No Alentejo do M´Puto

araujo88.jpg Revendo sempre estações da vida na ânsia de satisfazer desejos como um Aladino que busca uma lâmpada mágica, também me revi como filho dum alfaiate de nome Mustafá. Como coisa concertada dispus-me a seguir os escritos que não sendo secretos aludem a feitos de magos, feiticeiros ou bruxos. Em tempos de Mouros ir de Al-calá a Badajam a pé ou a cavalo seria em tempos idos uma aventura perigosa, não só pela inexistência de bons caminhos mas também pelos predadores, lobos e homens salteadores, flibusteiros que então existiam. Hoje existem outro tipo de salteadores como que vindos de lado nenhum mas, e curiosamente escolhidos por nós para usar suas supostas boas qualidades de novos magos.

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Não, não estamos em terras longínquas do Curdistão; estes eram os topónimos de então e, que agora têm o nomes de Castro da Cola e Beringel. Efectivamente alguns de nossos ancestrais já foram mouros. Eu mesmo casei com uma senhora de nome Ibib que em árabe corresponde a criança. Mas, falando dos topónimos e coisa e tal, direi que Castro da Cola (Al-Calá) fica não muito longe e a sul de Ourique; desenvolveu-se na bacia de meandros do rio Mira enquanto Beringel (Badajam), se situa na extensa planície de Beja, tendo a ribeira de figueira a uni-la ao rio Sado.

araujo68.jpg Desconseguindo fortuna, coçando-me de incertezas aos sons graves de uma melodia sertaneja do Nordeste brasileiro, procuro aqui acerto de ideias; alando-me em quenturas, voo para norte fugindo à agitada borda mar Algarvia. Metido num pego do leito do rio Mira, mergulhado até ao pescoço, quase chafurdando, observo refrescado lá no alto a fortaleza da Cola e a torre da ermida da Senhora do Castro da Cola. Mesmo ao lado já sem uso pode admirar-se um moinho de levada que com as suas duas bocas feitas a pedra xistosa espera recuperação ou morte desmoronada. Vi ali um potencial sítio para se dar a conhecer pedagogia do que era aquele rio em anos longínquos, vida que se desenvolvia com a moagem dos cereais entre os quais o milho e mais tarde o trigo; milho que era britado para matar a fome a muita gente.

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No labor de muitos ciclos, famílias sobreviveram anos e anos amanhando a terra que agora se vê estéril, quase só com estevas. Nas reminiscências do tempo, torrentes de água vergaram ali o destino aconchegado das gentes do Neolítico até à idade média. Daquela casa xistosa mais atrás, saíam noutros tempos cheiros fortes de combinações, mezinhas de carqueja, toucinho defumado, rezas e manigâncias impregnadas a manjerico e poejo; como eu imagino aqueles odores intensos!
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E, da figura grande de barranco quando por torrente virava rio! Saído dali voei, voei como um peneireiro... E, naquela paisagem de planície agreste, em tempos profundamente marcada pelo homem, embrenhado de visão, vi-os agricultando, pastoreando, pescando, caçando e explorando recursos minerais. Passando pelas idades do Bronze e Ferro, nos 2º e 3º milénio a. C. encontram-se necrópoles com nomes de Nora Velha, Alcaria e Atalaia, fundações de povoados em Fernão Vaz e Porto das Lajes ou monumentos funerários em Pego da Sobreira.
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Aladroei estes conhecimentos básicos dum prospecto caído no adro da ermida. Nele, diz ser aquele povoado de Castro da Cola uma fortificação medieval Islâmica e Cristã dos séculos X a XIII havendo referências a antigos escritos que mencionam o nome de Marachique como sendo a interpretação correcta de raiz árabe hispânica.

araujo 25.jpg Porque o meu destino era Beringel, rumei para ali mas, pouco a pouco fui-me transformando num braço alado à semelhança do braço doiro do brasão de lá; e de espada na mão cortei o ar num ápice, passando por terras de Messejana, Ervidel e Mombeja e, de novo, feito homem poisei ali. Terão de ver em mim uma kianda fantasma que num ápice, ora está aqui ou já se foi pró álem. Já em Beringel, como um alfarrabista iluminado, fiquei a saber que foi D. Dinis que deu a primeira carta de Foral a esta terra, tendo passado a vila por segundo foral no ano de 1519 no reinado de D. Manuel I.

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Liberto de alforrias, uni Castro da Cola a Beringel por setenta e seis quilómetros; a razão de ser desta ligação é, que neste espaço territorial e no ano de 1580, muitos jovens saídos daqui seguiram o também jovem rei D. Sebastião a fim de realizar seus sonhos africanos. Animados de incontida vontade para grandes feitos, rei e súbditos esbarraram com hordas de mouros e,... A refrega da batalha culminou no completo desastre em Alcácer Quibir.

araujo1.jpg A mira de prodigiosas riquezas em sonhos cristãs, desvaneceu ao encontrar oposição de magos portadores doutras vontades e, das mil e uma noites desejadas, num indefinido alvorecer, por lá ficaram desmembrados os jovens Lusos; morreram com o rei, numa expedição estúpida de vontade imberbe. Também por ideias sebastianistas andei numa guerra de tuji (merda) por vontade alheia de novos sebastianistas gwetas (brancos) como eu. Queriam coisas e desconseguiram tornando-me um participante porque era filho duma Nação. Nação que afinal nem era minha e feito tolo, assim andei quatro anos de minha juventude – Para nada!

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Em Alcácer Quibir, foi um mar de sangue! E, foi aqui o começo do declínio destas terras Ibéricas entre o rio Mira e a ribeira de Figueira, afluente do Sado; empapando de vermelho o chão quente do norte de África, a juventude daqui ficou toda lá. A recordá-la ficou o tal brasão d´armas, um braço doiro com asas, empunhando uma adaga, tendo como fundo um campo vermelho encimado por arabescos. Algures por estes sítios, creio haver um secreto esconderijo subterrâneo com uma lâmpada mágica. É só procurar um tal de Aladino! E, aqui estou eu em terras do M´Puto, espreitando pelo postigo da memória antropológica. Desde que me lembro de conhecer o mundo, cumprindo o curso da vida, obedeço sem outro querer à ordem astronómica das leis que me regem.Mas, era suposto não estar aqui…
Ilustrações de Costa Araújo
O Soba T´Chingange
 


PUBLICADO POR kimbolagoa às 05:16
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Temos um Hino, uma Bandeira, uma moeda, temos constituição, temos nobres e plebeus, um soba, um cipaio-mor, um kimbanda e um comendador. Somos uma Instituição independente. As nossas fronteiras são a Globália. Procuramos alcançar as terras do nunca um conjunto de pessoas pertencentes a um reino de fantasia procurando corrrigir realidades do mundo que os rodeia. Neste reino de Manikongo há uma torre. È nesta torre do Zombo que arquivamos os sonhos e aspirações. Neste reino todos são distintos e distinguidos. Todos dão vivas á vida como verdadeiros escuteiros pois, todos se escutam. Se N´Zambi quiser vamos viver 333 anos. O Soba T'chingange
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