Na minha frente tenho dois tocos de charutos meio fumados aonde se pode ler “connectu” - 28-10-2018
São pertença do “bife-gringo” que veio até áfrica caçar um búfalo…
Por
T´Chingange – Em Inhassoro de Moçambique
Porque cada homem é um mundo, tem que ao tempo, dar-se tempo… O homem, feito de sobrancelha grande e grave, também gordo, deve ser dono dos petróleos lá nas terras do Alasca porque do que se soube, foi aos mesmos lugares que nós fomos, só que, de avião! Pode notar-se, serem desses tais ricos pra xuxú pois que andam aos saltos folgando-se das odisseias das fronteiras e dos milhões de buracos das estradas.
Delta do Okavango em Maun, Casane do Choba, Victoria Falls e agora, aqui pescando nos mares de Inhassoro em rápidos gasolinas. Estando aqui refastelado, parece ser tudo seu e, afinal, é um turista como nós só que se supõe ter guita - têm um casal de jovens sul-africanos aqui radicados para lhe fazerem a papinha, traduzir dissabores com grossos trocados de notas verdes.
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Hoje é ainda quinta-feira e estamos no Yellowlin Lodge; sairemos amanhã para Vilanculo e aí, talvez possamos ir de barco até à ilha de Bazaruto ou uma outra que ao largo da costa aguarda a chegada de corsários turistas; daqui podem ver-se os morros carecas da ilha de Santa Catarina com manchas verdes em suas encostas e vales.
Ibib está preparando os três quilos de mexilhões que comprei a um conhecido de Sebastião, o fiel depositário e guarda-mor dos bungalows dum patrão sul-africano. Há certos lugares que traduzem certos pensares nos quais nem a decadência é sincera, lugares em que as folhas viram sujeira e até se traduzem num cardápio de bizarras esculturas pintadas no lado menos positivo – é só um estado de espírito…
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Também os mwangolés brancos de angola, t´chinderes perdidos numa ficção de sonhos de conhecimento na diáspora, se vão transferindo com devaneios ou arrogância, num raiar de petulante envaidecimento; a falar é que muitas vezes nos desentendemos e, nem sempre me sinto destribalizado no humor que sempre, quando negro, me arranha os neurónios, assim como um buzio que sempre tem cheiro de sapato se não for bem lavado com água sanitária.
Deitado de barriga virada ao tecto a osga gorda estuda-me com seus olhos oblíquos. Acena por várias vezes, parece cuspir qualquer coisa e depois refugia-se no escuro ficando a espreitar entre a esteira do tecto e o pau avermelhado da asna tecto de capim. Ainda não eram horas de dormir mas estava relaxando ainda do almoço feito de chocos e mexilhões apanhados entre Inhassoro e o matope da lagoa.
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Não sei nem porquê, aquela osga era-me familiar porque, num repentemente dei-me conta de que só ela sabia alguma coisa da minha origem. Sim! Quase percebi, chamar-me de Niassalês – sentia-me reduzido a um ponto de interrogação; acho mesmo que aquela gorda osga via pessoas que mais ninguém via ou conseguiria ver. Nesta questão de instantes o tempo murchou-me a vontade de entender se o pior era eu não suportar o balanço das potholes ou as quezílias de gémeos.
Dos longos silêncios remoídos na sustentação das mentiras ou verdades sobre africanos, sua terra e sua origem, gente sem nenhures; como entender tudo numa longínqua aridez de secura, um investimento de leveza desocupada, fazendo nada ou parecendo nada fazer. E assim ia ficando meio anestesiado, ficando osga com jeito de pessoa que mais ninguém conseguia vislumbrar…
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Foi então que vi um sujeito mulatão de nome comum de Zé Manel, meio a dar para indiano, um meio monhê a viver de expedientes na cidade do Chimoio; com colares de missangas penduradas ao pescoço e um cofió colorido – enfim, um mwadié fantasiado de africano a repetir-me: - Só quem anda por gosto, não descansa! Isto, foi quando me queixei com azedume dos muitos buracos.
Vissapa - o comandante, ainda lhe disse que era angolano de gema, que edecéteras e tal e, até lhe mostrou o bilhete de identidade. Era um branco, sim senhor mas genuinamente africano! Ele, filho dum acaso mal feito, torceu seu nariz achatado, deu uma baforada com rolos de índio no ar no bar K.2 do senhor Couto. Filosoficamente disse que aqui em áfrica tudo é de todos, menos dos brancos. E, assim, engolindo desaforos ficávamos num nada, feitos genéricos. Menos mal que eu só era mesmo – sou Niassalês…
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O filho da mãe, negociante de diligências, vendedor de picos de acácia, pelos vistos não podia conceber um índio sem uma zarabatana na mão! Virou-se para Vissapa e disse assim como cuspindo vinagre feito bolinha de visgo: - Tu, branco, quereres ser africano!? Isso é uma tua miragem, meu! Eram horas de bazar, nossas mulheres esperavam-nos no Bidjou Vermelho de Chimoio; ali mesmo ao lado da linha do caminho-de-ferro. Já em casa, de papo para o tecto pisco o olho àquela gorda osga…
O Soba T´Chingange
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